Você está na página 1de 44

UNIDADE II

Capítulo III – Da Periclitação da Vida e da Saúde


🞆 Perigo de Contágio Venéreo - Art. 130

🞆 Perigo de Contágio de Moléstia Grave - Art. 131

🞆 Perigo para a Vida ou Saúde de Outrem - Art. 132

🞆 Abandono de Incapaz - Art. 133

🞆 Aumento de Pena - Art. 133, § 3º

🞆 Exposição ou Abandono de Recém-Nascido - Art. 134

🞆 Omissão de Socorro - Art. 135

🞆 Condicionamento de Atendimento Médico-Hospitalar Emergencial - Art.


135-A

🞆 Maus-Tratos - Art. 136

Art. 130 – Perigo de Contágio Venéreo

Art. 130 - Expor alguém, por meio de relações sexuais ou qualquer ato
libidinoso, a contágio de moléstia venérea, de que sabe ou deve saber que está
contaminado:

Pena - detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, ou multa.

Sujeito ativo – Pessoa portadora de moléstia venérea.

Obs.: Há discordância se é crime comum (qualquer pessoa) ou próprio por necessitar


da condição especial de portar doença venérea, esta última é majoritária.

Sujeito passivo – Qualquer pessoa não contaminada pela doença venérea.

Objeto jurídico – A incolumidade física e a saúde, alguns autores incluem a vida,


como Nucci e Magalhães Noronha.

Objeto material – É a pessoa que manteve a relação com quem estava contaminado.

Elementos objetivos do tipo

Expor alguém – Colocar em perigo, criar a possibilidade de ocorrência do dano.

Por meio de relação sexual – Limita-se a cópula entre pênis e vagina.

Ou qualquer outro ato libidinoso

A contágio de moléstia venérea


De que sabe ou deve saber que está contaminado – Ao saber, temos o dolo de
perigo. Em “devendo saber”, temos o dolo eventual, assumindo o risco de transmitir a
doença.

§ 1º - Se é intenção do agente transmitir a moléstia – Aqui não tem dolo de perigo,


mas sim dolo de dano, intenção de transmitir a moléstia (dolo direito). Por isso pena
mais grave.

Elemento subjetivo – Dolo de perigo no caput. Dolo de dano no §1º. A expressão


“de que sabe” indica dolo direto, e “deve saber”, dolo eventual.

Classificação – Próprio (há quem entenda como crime comum); formal; de forma
vinculada; comissivo; instantâneo; de perigo abstrato; unissubjetivo; plurissubsistente.

Tentativa – É admissível, por ser plurissubsistente. Mas há quem entenda como


impossível a tentativa, por se tratar de crime de perigo.

Consumação – Se dá com o contato sexual entre agente e vítima, por relação sexual
ou ato libidinoso, independente do resultado naturalístico!

Forma qualificada

§ 1º - Se é intenção do agente transmitir a moléstia – Aqui não tem dolo de perigo,


mas sim dolo de dano, intenção de transmitir a moléstia (dolo direito). Por isso pena
mais grave.

Obs.: Aqui também não é necessária a transmissão da moléstia para configurar o


crime, bastando apenas a configuração da intenção.

Obs2.: Contudo se a moléstia é transmitida e vem gerar lesão, poderá responder por
lesão corporal grave, gravíssima, ou até lesão corporal seguida de morte.

Obs3.: Se houver relação sexual ou ato libidinoso e a criação do risco se tornar


impossível, como ao utilizar preservativo, o crime se torna impossível.

Ação penal cabível

§ 2º - Somente se procede mediante representação.

O crime é de ação penal pública condicionada à representação da vítima.

Art. 131 – Perigo de Contágio de Moléstia Grave

Art. 131 - Praticar, com o fim de transmitir a outrem moléstia grave de que está
contaminado, ato capaz de produzir o contágio:

Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa


Sujeito ativo – Pessoa contaminada por doença grave contagiosa.

Sujeito passivo – Qualquer pessoa, que não esteja com a mesma doença.

Objeto jurídico – A incolumidade física e a saúde, alguns autores incluem a vida,


como Nucci e Magalhães Noronha. Aqui abrange não só moléstias venéreas, mas
todas moléstias graves.

Objeto material – A pessoa que sofre o contágio ou o risco de se contagiar.

Elementos objetivos do tipo

Praticar – Aqui é qualquer ato, não só relação sexual ou ato libidinoso como no artigo
anterior.

Com o fim de transmitir – Intenção de transmitir.

Moléstia grave – É qualquer doença grave contagiosa (curável ou não), não só doença
venérea. Não há um rol fechado sobre quais seriam essas moléstias.

Ato capaz de produzir o contágio – Se o ato não for capaz, temos crime impossível.

Obs.: Se pessoa usa objeto (seringa), para contaminar outrem de doença que não
está contaminado, teremos o crime do art. 132, ou mesmo lesão corporal.

Obs2.: Aqui o delito será consumado com o perigo de dano, não sendo necessário a
consumação da transmissão da moléstia. Crime formal.
Elemento subjetivo – Dolo de dano, pois o agente age com intenção de produzir a
infecção.

Classificação – Próprio; formal; de forma livre; comissivo; instantâneo; de perigo


abstrato; unissubjetivo; unissubsistente ou plurissubsistente.

Tentativa – É admissível, na forma plurissubsistente.

Consumação – Se dá com a prática do ato capaz de transmitir a doença,


independente do resultado naturalístico.

O ato pode ser direto (contato físico entre os sujeitos) ou indireto (sem contato
físico, transmitindo-se por objetos).

Obs.: Por haver tipo penal específico, o STF, no HC 98.712/SP, contrariando o


posicionamento pacífico do STJ, desclassificou de tentativa de homicídio para
perigo de contágio de moléstia grave o ato de portador de vírus HIV omitir
doença da parceira.

Art. 132 – Perigo para a vida ou para a saúde de outrem

Art. 132 - Expor a vida ou a saúde de outrem a perigo direto e iminente:


Pena - detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, se o fato não constitui crime
mais grave.

Parágrafo único. A pena é aumentada de um sexto a um terço se a exposição da


vida ou da saúde de outrem a perigo decorre do transporte de pessoas para a
prestação de serviços em estabelecimentos de qualquer natureza, em
desacordo com as normas legais. (Acrescentado pela L-009.777-1998)

Sujeito ativo – Qualquer pessoa (crime comum).

Sujeito passivo – Qualquer pessoa, desde que contra pessoa certa e determinada.

Obs.: Se for contra número indeterminado de pessoas, responderá pelos crimes de


perigo comum, Art. 250 e seguintes do CP).
Objeto jurídico – A saúde e a vida da vítima.

Obs.: É visível a natureza subsidiária desse delito, aplicando-se nas hipóteses em que o
comportamento do agente não constitui crime mais grave.

Objeto material – É a pessoa que corre o risco.

Elementos objetivos do tipo

Expor – Colocar em perigo a vida ou saúde de outrem.

Perigo direto ou iminente - Risco palpável, deve haver situação de risco real (não
presumível).

Se o fato não constituir crime mais grave – Caráter subsidiário do crime, ocorrendo
outro mais grave, por este responderá.

Elemento subjetivo – Dolo de perigo.

Classificação – Crime comum; formal; de forma livre; comissivo; instantâneo; de


perigo concreto; unissubjetivo; plurissubsistente.

Obs.: Pode ocorrer a forma omissiva. Ex.: Deixar de fornecer aparelhos de proteção a
funcionários.

Tentativa – É admissível, na forma plurissubsistente.

Consumação – Ocorre com a prática do ato capaz de expor a perigo a vida ou a saúde,
independentemente do resultado naturalístico.

Obs.: Há quem entenda (Bitencourt e outros) que com ação única o agente criar
situação de perigo a várias pessoas determinadas, teríamos concurso formal de
crimes. Porém, se com mais de uma conduta, criar situação de perigo a mais de uma
pessoa, individualizáveis, teremos concurso material de crimes.
Causa de aumento de pena
Parágrafo único. A pena é aumentada de um sexto a um terço se a exposição da
vida ou da saúde de outrem a perigo decorre do transporte de pessoas para a
prestação de serviços em estabelecimentos de qualquer natureza, em desacordo
com as normas legais. (Acrescentado pela L-009.777-1998)

Eleva-se a pena de 1/6 a 1/3 se a exposição ao perigo decorre do transporte de


trabalhadores, devendo os empregadores garantir a segurança destes.

Busca combater o transporte clandestino e indevido de trabalhadores.


Art. 132 e o disparo de arma de fogo

O crime de “disparo de arma de fogo”, tipificado no art. 15 da Lei 10.826/03


(Estatuto do Desarmamento) atribui pena muito mais alta (reclusão, de 2 a 4
anos) do que a do art. 132 do CP (detenção, de 3 meses a 1 ano).

Art. 15. Disparar arma de fogo ou acionar munição em lugar habitado ou em suas
adjacências, em via pública ou em direção a ela, desde que essa conduta não tenha
como finalidade a prática de outro crime:

Aqui, pela especialidade em especificar o meio de expor a perigo, por disparo


de arma de fogo, prevalece a aplicação do art. 15 do Estatuto do
Desarmamento..

Art. 133 – Abandono de Incapaz

Art. 133 - Abandonar pessoa que está sob seu cuidado, guarda, vigilância ou
autoridade, e, por qualquer motivo, incapaz de defender-se dos riscos resultantes
do abandono:

Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 3 (três) anos

Sujeito ativo – Aquela pessoa que tem a vítima sob seu cuidado, guarda, vigilância ou
autoridade, também chamado de garantidor do incapaz.

Obs.: Caso o sujeito ativo não seja o garantidor, o crime é de omissão de socorro
(Art. 135, CP)

Sujeito passivo – Pessoa de qualquer idade. A incapacidade aqui é ampla, é


qualquer pessoa sobre o resguardo em situação de incapacidade de se defender dos
riscos do abandono. Ex.: Abandonar adulto, enfermo, durante o sono em hospital
durante incêndio.

Objeto jurídico – A vida e a saúde (integridade físico-psíquica da vítima).

Objeto material – A pessoa que sofre o abandono.

Elementos objetivos do tipo


Abandonar pessoa que está sob seu cuidado, guarda, vigilância ou autoridade –
Deixar só, sem a devida assistência pessoa sob sua tutela, não de forma imaterial
(moral), mas de forma física.

Obs.: Se o abandono é moral (não físico), podemos ter crime contra a assistência
familiar (Arts. 244 a 247 do CP).

Obs2.: Em caso de abandono em local totalmente deserto, praticamente


impossível a possibilidade de socorro, pode aceitar a possibilidade de dolo
eventual de homicídio se o agente aceita a possibilidade de resultado fatal.
Elemento subjetivo – Dolo de perigo.

Classificação – Crime próprio; formal; de forma livre; comissivo; instantâneo; de


perigo concreto; unissubjetivo; plurissubsistente.

Tentativa – É admissível, por ser plurissubsistente.

Consumação – Ocorre com a prática do abandono, independentemente da ocorrência


de resultado naturalístico.

O abandono se caracteriza em deixar de guardar e assistir a vítima (incapaz no sentido


amplo), por tempo juridicamente relevante, suficiente a colocar o incapaz em
risco.

Obs.: Se o incapaz tiver como se defender dos riscos que o cercam, inexistirá o
delito.

Obs2.: Se a vítima é abandonada em local rodeado de assistência como um abrigo


ou hospital, não há perigo concreto, inexistindo o delito.
Formas qualificadas pelo resultado

§ 1º - Se do abandono resulta lesão corporal de natureza grave:

Pena - reclusão, de 1 (um) a 5 (cinco) anos.

§ 2º - Se resulta a morte:

Pena - reclusão, de 4 (quatro) a 12 (doze) anos.

Obs.: Aqui temos o preterdolo (dolo na conduta de abandono, e culpa na lesão ou


morte).

Causa de aumento de pena

§ 3º - As penas cominadas neste artigo aumentam-se de um terço:

I - se o abandono ocorre em lugar ermo;


II - se o agente é ascendente ou descendente, cônjuge, irmão, tutor ou curador
da vítima.

III – se a vítima é maior de 60 (sessenta) anos.

Art. 134 – Exposição ou abandono de recém-nascido

Art. 134 - Expor ou abandonar recém-nascido, para ocultar desonra própria:

Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos.

Sujeito ativo – Em regra, a mãe (filho fora do casamento), pois o tipo visa “ocultar
a desonra própria”. Mas entende-se que o pai (filho fora do casamento ou
incestuoso) também pode praticar o crime.

Obs.: É possível o concurso de pessoas (coautoria e participação).

Sujeito passivo – Recém-nascido filho do sujeito ativo.

Objeto jurídico – A vida e a saúde (integridade físico-psíquica da vítima).

Objeto material – É o recém-nascido (ser humano que acabou de nascer com vida).

Obs.: Termo recém-nascido – Desde a primeira respiração até os primeiros dias de


vida (quinto ou sexto dia, ao cair o resíduo do cordão umbilical). Pierangeli, Nucci.

Elementos objetivos do tipo

Expor – Ação – Colocar em perigo, levá-la a ambiente hostil

Abandonar – Omissão – Largar ou deixar de dar assistência.

Recém-nascido – Vida extrauterina logo após o parto, e por alguns dias.

Para ocultar desonra própria – A desonra é da mãe, segundo a doutrina, contudo,


aceita-se que o pai também pode ser sujeito ativo.

Obs.: Marido de mulher infiel que abandona recém-nascido adulterino não pratica o
crime do art. 134, visto que a desonra é da mulher (terceiro). Nesse caso o crime é o
abandono de incapaz (Art. 133 do CP).

Elemento subjetivo – Dolo de perigo.

Classificação – Crime próprio; formal; de forma livre; comissivo; instantâneo; de


perigo concreto; unissubjetivo; plurissubsistente.

Tentativa – É admissível, por ser plurissubsistente.

Consumação – Se dá com a prática da exposição ou abandono, independente do


resultado naturalístico.
Formas qualificadas pelo resultado

§ 1º - Se do fato resulta lesão corporal de natureza grave:

Pena - detenção, de 1 (um) a 3 (três) anos.

§ 2º - Se resulta a morte:

Pena - detenção, de 2 (dois) a 6 (seis) anos.

Obs.: Aqui temos o preterdolo (dolo na conduta de abandono, e culpa na lesão ou


morte).

Formas qualificadas pelo resultado

§ 1º - Se do fato resulta lesão corporal de natureza grave:

Pena - detenção, de 1 (um) a 3 (três) anos.

§ 2º - Se resulta a morte:

Pena - detenção, de 2 (dois) a 6 (seis) anos.

Obs.: Aqui temos o preterdolo (dolo na conduta de abandono, e culpa na lesão ou


morte).

Art. 135 – Omissão de Socorro


Art. 135 - Deixar de prestar assistência, quando possível fazê-lo sem risco
pessoal, à criança abandonada ou extraviada, ou à pessoa inválida ou ferida, ao
desamparo ou em grave e iminente perigo; ou não pedir, nesses casos, o socorro
da autoridade pública:

Pena - detenção, de 1 (um) a 6 (seis) meses, ou multa.

Sujeito ativo – Qualquer pessoa.

Sujeito passivo – Pessoa inválida ou ferida, criança abandonada ou extraviada.


Objeto jurídico – A vida e a saúde (integridade físico-psíquica da vítima).

Objeto material – A pessoa inválida ou ferida em situação de desamparo ou em


perigo, bem como a criança abandonada ou extraviada em risco.

Elementos objetivos do tipo

Deixar de prestar assistência – Deixar de socorrer no momento da constatação do


risco a terceiro. Assistência imediata.

Quando possível sem risco pessoal – Se houver risco, não há como ser punido pela
omissão. Contudo ainda deve comunicar a autoridade pública.

Obs.: Risco pessoal é sobre a integridade física, e não moral ou patrimonial.

Criança – Pessoa com 12 anos incompletos segundo o ECA.

Pessoa inválida – Deficiente físico ou mental, ou decorrente de idade avançada ou


doença, que a incapacite de se defender.

Grave e iminente perigo – O mais correto seria perigo atual, pois iminente conota
possibilidade de acontecer.

Não pedir socorro a autoridade pública – É ação subsidiária, se pode prestar o


socorro, deve fazê-lo, não pode escolher apenas pedir socorro a autoridade.
Assistência mediata.

Elemento subjetivo – Dolo de perigo.

Classificação – Crime comum; formal; de forma livre; omissivo; instantâneo; de


perigo concreto; unissubjetivo; unissubsistente.

Tentativa – É inadmissível, por ser unissubsistente (aquele realizado por ato único).

Consumação – Ocorre com a prática da omissão, independentemente do resultado


naturalístico.

Obs.: A assistência tardia será apenas uma assistência aparente (simulada),


equivalendo a uma omissão de socorro.

Obs2.: Deixar de prestar assistência a idoso (60 anos ou mais), responde pelo crime do
Art. 97 do Estatuto do Idoso.
Causa especial de aumento de pena

Parágrafo único - A pena é aumentada de metade, se da omissão resulta lesão


corporal de natureza grave, e triplicada, se resulta a morte.

Obs.: Caso o omitente tenha intenção ou assumido o risco de provocar o


resultado morte ou lesão grave na vida periclitante, teremos os crimes de
homicídio e lesão corporal grave ou gravíssima pela omissão.
Ponto relevante

Recusa ao socorro por parte da vítima

1. Se a vítima está visivelmente lúcida e consciente a ponto de buscar ajuda


sozinha, não se pode configurar aqui omissão de socorro diante da recusa.

2. Contudo, se a vítima está visivelmente moribunda, em consciência


alterada, ou debilidade física, e mesmo assim se recusando, até desejando a
própria morte, deve o indivíduo prestar socorro, ou avisar autoridade
pública.
Omissão de socorro e acidente de trânsito

1. Homicídio culposo em acidente de trânsito (Art. 302, PU, III, CTB) – Será
causa especial de aumento de pena.

Parágrafo único. No homicídio culposo cometido na direção de veículo automotor, a


pena é aumentada de um terço à metade, se o agente:

III - deixar de prestar socorro, quando possível fazê-lo sem risco pessoal, à vítima do
acidente;

2. Lesão culposa em acidente de trânsito (Art. 303, PU, CTB) – Será causa
especial de aumento de pena

Parágrafo único. Aumenta-se a pena de um terço à metade, se ocorrer qualquer das


hipóteses do parágrafo único do artigo anterior.

3. Omissão de socorro no trânsito (Art. 304, CTB) – Crime próprio

Condutor de veículo não causador do acidente que não prestar assistência imediata
ou mediata.

4. Omissão de socorro (Art. 135, CP) – Crime comum.

Art. 135-A– Condicionamento de Atendimento Médico-Hospitalar Emergencial


Art. 135-A. Exigir cheque-caução, nota promissória ou qualquer garantia, bem
como o preenchimento prévio de formulários administrativos, como condição
para o atendimento médico-hospitalar emergencial: (Acrescentado pela Lei
12.653/12).

Pena - detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, e multa.

Sujeito ativo – Diretor do estabelecimento ou qualquer outro gestor que imponha


essas condições.

Sujeito passivo – O paciente que necessita do atendimento médico de emergência.


Objeto jurídico – A vida e a saúde.

Objeto material – A pessoa que necessita do atendimento e de que é exigidas as


garantias.

Elementos objetivos do tipo

Exigir cheque-caução, nota promissória ou qualquer garantia – Impor, ordenar,


condicionando o atendimento a garantia.

Preenchimento prévio de formulários administrativos – Aqui se proíbe o


preenchimento como garantia prévia ao atendimento, que por ser emergencial, se
torna desmedido.

Como condição para o atendimento médico-hospitalar emergencial – O crime é


impor essas condições a um atendimento de emergência, e não de qualquer
atendimento hospitalar.

Elemento subjetivo – Dolo de perigo.

Classificação – Crime próprio; formal; de forma vinculada; comissivo; instantâneo;


unissubjetivo; unissubsistente.

Tentativa – É inadmissível (Bitencourt, Greco, Nucci) por ser unissubsistente


(aquele realizado em ato único).

Obs.: Há parte da doutrina (minoritária) que considera ser possível a tentativa


(Sanches e Masson).

Consumação – Se consuma com o ato de exigir qualquer das garantias ou


preenchimento dos formulários administrativos como condição prévia ao
atendimento emergencial, independentemente do resultado naturalístico
(entrega da garantia ou preenchimento dos formulários).
Causa especial de aumento de pena

Parágrafo único. A pena é aumentada até o dobro se da negativa de


atendimento resulta lesão corporal de natureza grave, e até o triplo se resulta a
morte.

Obs.: Caso o omitente tenha querido ou assumido o risco de provocar o


resultado morte ou lesão grave na vida periclitante, teremos os crimes de
homicídio e lesão corporal grave ou gravíssima pela omissão.

Art. 136 – Maus-Tratos

Art. 136 - Expor a perigo a vida ou a saúde de pessoa sob sua autoridade, guarda ou
vigilância, para fim de educação, ensino, tratamento ou custódia, quer privando-a de
alimentação ou cuidados indispensáveis, quer sujeitando-a a trabalho excessivo ou
inadequado, quer abusando de meios de correção ou disciplina:
Pena - detenção, de 2 (dois) meses a 1 (um) ano, ou multa.

Sujeito ativo – Pessoa responsável por outra que é mantida sob sua autoridade, guarda
ou vigilância.
Sujeito Passivo – Pessoa que está sob autoridade, guarda ou vigilância de outrem, para
fim de educação, ensino, tratamento ou custódia.
Objeto jurídico – A vida e a saúde.
Objeto material – É a pessoa sob autoridade, guarda ou vigilância de outrem.

Elementos objetivos do tipo


Expor a perigo a vida ou as saúde – Colocar em risco.
Pessoa sob sua autoridade, guarda ou vigilância – Há uma responsabilidade de cuidado
sob a possível vítima.
Para fim de educação, ensino, tratamento ou custódia – Estabelecimentos de ensino,
hospitalares, prisionais, etc.
Privação de alimentos ou cuidados indispensáveis – Conduta omissiva. Em relação aos
alimentos pode ser total ou parcial, desde que gere perigo a vítima. Cuidados
indispensáveis são aqueles necessários ao desenvolvimento regular de quem está sendo
educado, tratado ou custodiado. Ex.: Higiene.
Sujeição a trabalho excessivo ou inadequado – Deve ser considerado as condições
físicas da vítima. Excessivo, é o desumano, e inadequado o impróprio.
Abuso de meio corretivo ou disciplinar – Não é punido o meio corretivo ou disciplinar,
mas o seu abuso. Pode ser tanto físico quanto moral.

Maus-tratos não se confunde com o crime de tortura (Art. 1º, II da Lei 9.455/97).
Na tortura é necessário submeter a vítima a “intenso sofrimento físico ou mental”, e
nos maus-tratos basta a provocação simples de perigo. Na tortura o agente visa gerar
sofrimento, nos maus-tratos temos uma situação de abuso do exercício de um direito
regular.

Elemento subjetivo – Dolo de perigo.

Obs.: Além da vontade de praticar a exposição a perigo, o agente deve ter


consciência que o faz mediante abuso, senão carecerá de potencial consciência da
ilicitude.

Classificação – Crime próprio; formal; de forma vinculada; comissivo ou omissivo;


instantâneo; de perigo concreto; unissubjetivo; plurissubsistente.

Tentativa – É admissível na forma comissiva.

Consumação – Ocorre com a prática da exposição ao perigo, independentemente


de resultado naturalístico.
Formas qualificadas pelo resultado

§ 1º - Se do fato resulta lesão corporal de natureza grave:

Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos.

§ 2º - Se resulta a morte:

Pena - reclusão, de 4 (quatro) a 12 (doze) anos.

Obs.: Aqui temos o preterdolo (dolo na conduta de abandono, e culpa na lesão ou


morte).

Causa de aumento de pena

§ 3º - Aumenta-se a pena de um terço, se o crime é praticado contra pessoa


menor de 14 (catorze) anos.

Obs.: Se a vítima for idoso (60 anos em diante), responde pelo Art. 99 do Estatuto do
Idoso.

rixa

Art. 137 - Participar de rixa, salvo para separar os contendores:

Pena - detenção, de 15 (quinze) dias a 2 (dois) meses, ou multa.

Sujeito ativo – Qualquer pessoa. Trata-se de crime de concursos necessário


(plurissubjetivo), necessitando envolver pelo menos 3 pessoas, que podem ser
inimputáveis, pessoas não identificadas ou que tenha morrido durante a briga.

Sujeito passivo – Qualquer pessoa envolvida na rixa.

Obs.: Entende a doutrina, que pessoa que não participara da rixa, limitando-se a
assistir o combate, pode figurar como sujeito passivo do tipo.

Objeto jurídico – É a incolumidade física.

Objeto material – É a pessoa que sofre a agressão.

Elementos objetivos do tipo

Trata-se de um tipo aberto que dependerá da interpretação do juiz.


Participar de rixa – Associar-se, tomar parte, de briga ou desordem, contendo no
mínimo 3 pessoas valendo-se de agressões mútuas de ordem material (não
moral), sem nenhuma premeditação.

Obs.: Se identificáveis grupos contrários lutando entre sí ou vítima


determinada (3 contra 1), teremos lesão corporal ou outro crime.

Salvo para separar contendedores – Aquele que visa separar a briga não responde
pelo crime.
Elemento subjetivo – Dolo de perigo.

Classificação – Crime comum; formal; de forma livre; comissivo; instantâneo; de


perigo concreto; plurissubjetivo; unissubsistente (Mirabete, Sanches) ou
plurissubsistente (Noronha, Hungria e Nucci).

Tentativa – É admissível se for preordenada (Noronha, Hungria e Nucci). Se nascer


de improviso, torna-se inviável a forma tentada.

Obs.: Parte moderna da doutrina, entende ser impossível, pois a hipótese de


vislumbrar tal ocorrência, seria de dois grupos premeditarem a rixa, e serem
impedidos, por exemplo, pela polícia, e aqui estaríamos punindo atos preparatórios,
e não executórios.

Consumação – Ocorre com a prática dos atos de agressão desordenada,


independentemente do resultado naturalístico.
Rixa qualificada (Art. 137, parágrafo único, CP)

Parágrafo único - Se ocorre morte ou lesão corporal de natureza grave, aplica-se,


pelo fato da participação na rixa, a pena de detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois)
anos.

Para maioria da doutrina (mesmo não sendo pacífico sob pena de bis in idem)
entende-se que se participante da rixa que seja identificado como causador da
lesão corporal ou morte, responderá também pela lesão ou morte.

Obs.: O participante que sofreu a lesão também será punido pela qualificadora.

Obs.: Se agente tomou parte na rixa e saiu antes da morte da vítima, responde pelo
crime qualificado, pois sua condição anterior criou condições para o desfecho morte.

Obs.: Ocorrendo várias mortes teremos apenas uma rixa qualificada.


Rixa e legítima defesa

Não há solução pacífica.

A regra é que não há legítima defesa, pois na rixa não há agressores e agredidos,
todos são agressores.

Contudo, quem entende ser possível, cita duas possibilidades:


1ª possibilidade – A legítima defesa de terceiro dentro da rixa. Ou seja, alguém de
fora, entra com intuito de defender terceiro. Contudo, ao adentrar na rixa, será
também coautor da mesma;

2ª possibilidade – As agressões da rixa, em tese, seguem uma proporcionalidade de


agressões (socos, chutes, etc.), se em dado momento, um deles passa a utilizar arma,
ultrapassa-se a proporcionalidade, cabendo legítima defesa à partir dessa agressão
desproporcional. Essa possibilidade é mais aceitável.

UNIDADE III
Capítulo V – Dos crimes contra a honra

🞆 Calúnia - Art. 138

🞆 Exceção da Verdade - Art. 138, § 3º

🞆 Difamação - Art. 139

🞆 Exceção da Verdade - Art. 139, Parágrafo único

🞆 Injúria - Art. 140

🞆 Disposições Comuns - Art. 141

🞆 Exclusão do Crime - Art. 142

🞆 Retratação - Art. 143, Art. 144, Art. 145

Art. 138 - Calúnia


Art. 138 - Caluniar alguém, imputando-lhe falsamente fato definido como
crime:

Pena - detenção, de seis (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa.

§ 1º - Na mesma pena incorre quem, sabendo falsa a imputação, a propala ou


divulga.

§ 2º - É punível a calúnia contra os mortos.

Sujeito ativo – Qualquer pessoa.

Obs.: Senadores, deputados e vereadores (dentro do município que atuam)


possuem inviolabilidade no exercício regular de suas atividades. Advogados não!

Sujeito passivo – Qualquer pessoa, inclusive jurídica desde que a imputação seja
pela prática de crime ambiental.

Obs2.: Entende-se majoritariamente que pode ser sujeito passivo o menor.

Obs3.: É possível também a calúnia contra os mortos, contudo o sujeito passivo


serão os seus parentes vivos. (Art. 138, §2º).
Objeto jurídico – É a honra objetiva (reputação ou imagem da pessoa diante de
terceiros).

Objeto material – É a reputação da pessoa.

Elementos objetivos do tipo

Caluniar – É fazer acusação falsa, denegrindo a credibilidade de uma pessoa


perante o meio social, imputando-lhe fato definido como crime.

É uma espécie de difamação qualificada, por denegrir atribuindo a vítima o


cometimento de ato criminoso.

Obs.: O agente deve saber que que o fato imputado é falso.

Elemento subjetivo do tipo – É a vontade específica de macular a imagem de


alguém.

Obs.: Entende-se majoritariamente que brincadeiras, simples fofocas e meras


opiniões sobre alguém não devem ser punidas penalmente.
Elemento subjetivo do crime – É o dolo.

Classificação – Crime comum; formal; de forma livre; comissivo; instantâneo;


unissubjetivo; unissubsistente ou plurissubsistente, conforme o caso.

Tentativa – É admissível na forma plurissubsistente (forma escrita).

Consumação – Ocorre no momento em que a imputação falsa chega a conhecimento


de terceiros (pode ser uma pessoa), independentemente de resultado naturalístico
(dano a honra).

Obs.: Pratica calúnia tanto quando o fato imputado nunca ocorreu (sobre o fato),
e se o fato ocorreu, mas a pessoa imputada não foi o autor (sobre autoria).

Obs2.: O §1º equipara quem cria a falsa imputação a conduta de quem sabe que é
falsa a imputação e a propaga ou divulga.

Exceção da verdade (Art. 138, §3º, CP)

§ 3º - Admite-se a prova da verdade, salvo:

I - se, constituindo o fato imputado crime de ação privada, o ofendido não foi
condenado por sentença irrecorrível; É incabível imputar crime se nem há
sentença.

II - se o fato é imputado a qualquer das pessoas indicadas no nº I do Art. 141;


Presidente da República ou chefe de governo estrangeiro.

III - se do crime imputado, embora de ação pública, o ofendido foi absolvido


por sentença irrecorrível. É incabível imputar crime a pessoa já absolvida.

Aqui o suposto caluniador busca provar a veracidade do que alegou (incidente


processual ), não podendo fazer nas situações dos incisos I, II e III.

Art. 139 - Difamação


Art. 139 - Difamar alguém, imputando-lhe fato ofensivo à sua reputação:

Pena - detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, e multa.

Sujeito ativo – Qualquer pessoa.

Obs.: Os advogados são invioláveis no exercício da atividade profissional (Art. 7,


§2º do EOAB), bem como, os parlamentares.

Sujeito passivo – Qualquer pessoa. A maioria da doutrina entendem que pode


também a pessoa jurídica.

Obs.: Menores e loucos também podem ser sujeitos passivos.

Obs2.: Diferentemente da calúnia, não se pune difamação contra os mortos.

Objeto jurídico – É a honra objetiva (reputação ou imagem da pessoa diante de


terceiros.

Objeto material – É a reputação da pessoa.

Elementos objetivos do tipo

Difamar – Significa macular a reputação de uma pessoa, imputando algo ofensivo à


sua reputação perante a sociedade, seja falso ou verdadeiro.

Obs.: Não estão abrangidos a imputação de fato criminoso e a vinculação de


falsidade ou veracidade dos fatos (Calúnia).

Elementos subjetivo do tipo – Macular a imagem de alguém.

Elemento subjetivo do crime – É o dolo.

Classificação – Crime comum; formal; de forma livre; comissivo; instantâneo;


unissubjetivo; unissubsistente ou plurissubsistente, conforme o caso.

Tentativa – É admissível na forma plurissubsistente (forma escrita).

Consumação – Ocorre no momento em que a imputação chega a conhecimento de


terceiros (pode ser 1), independentemente de resultado naturalístico (dano a honra).
Obs.: Quem imputa contravenção penal a alguém comete o crime de difamação.

Obs.: Mesmo não contendo expressamente a previsão em punir quem “propala


ou divulga” a difamação como na calúnia, se a pessoa também visa macular a
imagem de terceiro, será punida.

Exceção da verdade

Parágrafo único - A exceção da verdade somente se admite se o ofendido é


funcionário público e a ofensa é relativa ao exercício de suas funções.

O acusado de difamação busca comprovar o alegado demonstrando ser a pretensa


vítima (funcionário público, no exercício da função) realmente autora do fato.
Aqui é uma situação excepcional em relação a calúnia. Ex.: Desídia; má conduta
durante o exercício das funções.

Obs.: É possível a alegação da “exceção de notoriedade” (fato de amplo domínio


público).

Art. 140 - Injúria


Art. 140 - Injuriar alguém, ofendendo-lhe a dignidade ou o decoro:

Pena - detenção, de 1 (um) a 6 (seis) meses, ou multa.

Sujeito ativo – Qualquer pessoa.

Obs.: Os advogados são invioláveis no exercício da atividade profissional (Art. 7,


§2º do EOAB), bem como, os parlamentares.

Sujeito passivo – Qualquer pessoa física capaz de compreender as ofensas


(menores e doentes mentais devem ser analisados no caso concreto).

Objeto jurídico – É a honra subjetiva (Autoimagem da pessoa, isto é, a avaliação que


cada um tem de si mesmo).

Objeto material – É a autoestima da pessoa.

Classificação – Crime comum; formal; de forma livre; comissivo, excepcionalmente de


forma omissiva; instantâneo; unissubjetivo; unissubsistente ou plurissubsistente,
conforme o caso.

Tentativa – É admissível na forma plurissubsistente (forma escrita).

Consumação – Ocorre no momento em que a imputação chega ao conhecimento do


ofendido, independentemente de resultado naturalístico e da ciência de
terceiros.
Obs.: Pode ocorrer por omissão. Ex.: Ignorar cumprimento.

Obs2.: Ocorre tanto por palavras (faladas ou escritas) como por gestos.

Não se admite a exceção da verdade, nem exceção de notoriedade! Visto que


atinge honra subjetiva, sendo incabível comprovar veracidade.
Perdão judicial

§ 1º - O juiz pode deixar de aplicar a pena:

I - quando o ofendido, de forma reprovável, provocou diretamente a injúria;

II - no caso de retorsão imediata, que consista em outra injúria.

Obs.: Para maioria da doutrina o juiz não tem a faculdade em aplicar o perdão
judicial, mas a obrigatoriedade caso comprove um dos incisos.

Inciso I – Refere-se ao revide a qualquer provocação (criminosa ou não) da vítima.

Inciso II – Refere-se a injúria decorrente de injúria proferida pela vítima.

Injúria Real (Art. 140, §2º, CP) - Qualificadora

§ 2º - Se a injúria consiste em violência ou vias de fato, que, por sua natureza ou


pelo meio empregado, se considerem aviltantes:

Pena - detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, e multa, além da pena


correspondente à violência.

Ultrapassa as palavras ou gestos ofensivos, aqui decorre de violência corporal


(sem ofender integridade física ou psicológica) no sentido de humilhar. Ex.:
Puxão de orelhas, cusparada na cara, leve tapa na cara, etc.
Injúria qualificada pelo preconceito (Art. 140, §3º)

§ 3º Se a injúria consiste na utilização de elementos referentes a religião ou à


condição de pessoa idosa ou com deficiência: (Redação dada pela Lei nº 14.532, de
2023)

Pena - reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa. (Redação dada pela Lei nº 14.532, de
2023)

Obs.: Parte da antiga tipificação passou a ser tratada como racismo (Lei 7.716/89),
quando a injúria é proferida contra raça, etnia e nacionalidade (Lei 14.532/23),
com pena de 2 a 5 anos.

Art. 141/145 – Disposições Comuns


Causas de aumento de pena

Art. 141 - As penas cominadas neste Capítulo aumentam-se de um terço, se


qualquer dos crimes é cometido:
I - contra o Presidente da República, ou contra chefe de governo estrangeiro;

II - contra funcionário público, em razão de suas funções, ou contra os Presidentes


do Senado Federal, da Câmara dos Deputados ou do Supremo Tribunal Federal;

III - na presença de várias pessoas, ou por meio que facilite a divulgação da


calúnia, da difamação ou da injúria.

IV - contra criança, adolescente, pessoa maior de 60 (sessenta) anos ou pessoa


com deficiência, exceto na hipótese prevista no § 3º do art. 140 deste
Código. (Redação dada pela Lei nº 14.344, de 2022) .

Art. 141 – Causas de Aumento de Pena


Inciso I – Contra Presidente da República ou chefe de governo estrangeiro –
Tanto aumenta a pena se o crime for contra nosso presidente ou chefe de outro
governo em nosso país. Pune-se mais gravosamente em razão da alta
representatividade destes.

Inciso II – Contra funcionário público, em razão de suas funções, ou contra os


Presidentes do Senado Federal, da Câmara dos Deputados ou do Supremo
Tribunal Federal – Aqui pune-se mais gravosamente pois o agressor não atinge
apenas a honra do funcionário vítima, mas também a Administração e o
funcionamento das atividades

Obs.: Se a ofensa for contra o funcionário, mas não em razão das suas funções, não
incide o aumento de pena.

Inciso III – Na presença de várias pessoas, ou por meio que facilite a divulgação
da calúnia, difamação ou injúria – Fundamenta-se a majorante pela potencialização
do dano.

Obs.: Há divergência quanto seria essas várias pessoas, há quem sustente duas ou mais
(Bento de Faria), ou pelo menos três pessoas (Nelson Hungria), sem contar com autor
e vítima(s).

Obs.: A facilitação de divulgação pode ocorrer por qualquer meio de imprensa,


internet, cartazes, etc.

Inciso IV – Contra maior de 60 anos ou portadora de deficiência, exceto no caso


de injúria – Excetua-se a injúria pois já há qualificadora específica no Art. 140, §3º.
Causa de aumento de pena específicas

§ 1º - Se o crime é cometido mediante paga ou promessa de recompensa,


aplica-se a pena em dobro.

Aqui temos a também chamada “ofensa mercenária”. Situação de ofensa de motivação


torpe.

§ 2º Se o crime é cometido ou divulgado em quaisquer modalidades das redes sociais


da rede mundial de computadores, aplica-se em triplo a pena.
Art. 142 – Causas de Exclusão do Crime

Art. 142 - Não constituem injúria ou difamação punível - Só incide sobre a


injúria e a difamação

Inciso I - ofensa irrogada em juízo, na discussão da causa, pela parte ou por seu
procurador – É a chamada “imunidade judiciária”, e atinge as partes e seus
procuradores (advogados e promotores) em discutir amplamente a causa sem incidir
nesses crimes.

Inciso II - opinião desfavorável da crítica literária, artística ou científica, salvo


quando inequívoca a intenção de injuriar ou difamar – Não seria cabível punir
opinião. A não ser que se comprove a intenção em ofender.

Inciso III - conceito desfavorável emitido por funcionário público, em


apreciação ou informação que preste no cumprimento de dever do ofício – Não
será punido o funcionário que emitir parecer desfavorável, inclusive moral ou
socialmente, visto que ele está no interesse da administração pública.

Parágrafo único - Nos casos dos ns. I e III, responde pela injúria ou pela
difamação quem lhe dá publicidade.

Art. 143 - Retratação


Art. 143 - O querelado que, antes da sentença, se retrata cabalmente da calúnia
ou da difamação, fica isento de pena.

Essa retratação não significa negar ou confessar a prática da ofensa, mas se desculpar
buscando retirar do mundo do aquilo que alegou, e demonstrar
arrependimento.

É causa de extinção da punibilidade. Contudo não afasta a possibilidade de ação


civil de indenização.

Esse ato é unilateral, dispensa a concordância do ofendido.

É de caráter subjetivo, não se estende a outros ofensores que não se retrataram.

Obs.: O prazo final é a sentença de primeira instância.

Obs2.: Não cabe contra a injúria.

Parágrafo único. Nos casos em que o querelado tenha praticado a calúnia ou a


difamação utilizando-se de meios de comunicação, a retratação dar-se-á, se assim
desejar o ofendido, pelos mesmos meios em que se praticou a ofensa.
(Incluído pela Lei nº 13.188, de 2015)
Art. 144 – Pedido de Explicações
Art. 144 - Se, de referências, alusões ou frases, se infere calúnia, difamação ou
injúria, quem se julga ofendido pode pedir explicações em juízo. Aquele que se
recusa a dá-las ou, a critério do juiz, não as dá satisfatórias, responde pela
ofensa.

É uma medida preparatória e facultativa para o oferecimento de queixa, em


virtude dos termos empregados não serem precisos de haver a ofensa, gerando
dúvida, se o ofensor se recusar, ou se o juiz achar que as justificativas não
foram satisfatórias, responderá pela ofensa.

Obs.: Não pode o juiz obrigar o requerido a dar as explicações pretendidas.

Obs2.: Caso o ofensor falte ou não dê as referidas explicações na audiência de


instrução, não cabe ao juiz designar outra audiência para explicações do interpelado,
sob pena de constrangimento ilegal (STF, HC, RT 579/412).

Art. 145 – Ação Penal

Art. 145 - Nos crimes previstos neste Capítulo somente se procede mediante
queixa, salvo quando, no caso do Art. 140, § 2º, da violência resulta lesão corporal
(Injúria real).

Parágrafo único. Procede-se mediante requisição do Ministro da Justiça, no caso


do inciso I do caput do art. 141 deste Código (Contra presidente ou chefe de
governo estrangeiro), e mediante representação do ofendido, no caso do inciso II
do mesmo artigo (Contra funcionário público, em razão de suas funções), bem
como no caso do § 3º do art. 140 deste Código (Injúria qualificada pelo
preconceito).

Ação penal privada. Essa é a regra geral dos crimes contra a honra - Crimes que se
procedem mediante queixa (Art. 145, caput, primeira parte)

Ação penal pública incondicionada – Crimes que se procedem mediante denúncia


do MP independente de representação do ofendido (Art. 145, caput, segunda parte –
Injúria real).

Ação penal pública condicionada a requisição do Ministro da Justiça – (Art. 141,


I)

Ação penal pública condicionada a representação do ofendido - Crimes que se


procedem mediante representação do ofendido (Art. 141, II; e Art. 140, §3º).
STF Súmula nº 714 - Legitimidade Concorrente - Ação Penal por Crime Contra a
Honra de Servidor Público - Exercício de Suas Funções

É concorrente a legitimidade do ofendido, mediante queixa, e do Ministério


Público, condicionada à representação do ofendido, para a ação penal por crime
contra a honra de servidor público em razão do exercício de suas funções.
Capítulo VI – Dos crimes contra a liberdade individual (art. 146/154-A)
🞆 Dos Crimes Contra a Liberdade Pessoal (146 a 149)

🞆 Constrangimento Ilegal - Art. 146

🞆 Ameaça - Art. 147

🞆 Perseguição (Stalking) – Art. 147-A

🞆 Violência psicológica contra a mulher - Art. 147-B

🞆 Sequestro e Cárcere Privado - Art. 148

🞆 Redução a Condição Análoga à de Escravo - Art. 149

🞆 Dos Crimes Contra a Inviolabilidade do Domicílio (150)

🞆 Violação de Domicílio - Art. 150

🞆 Dos Crimes Contra a Inviolabilidade de Correspondência (151 a 152)

🞆 Violação de Correspondência - Art. 151

🞆 Sonegação ou Destruição de Correspondência - Art. 151, § 1º

🞆 Violação de Comunicação Telegráfica, Radioelétrica ou Telefônica - Art. 151,


II

🞆 Correspondência Comercial - Art. 152

🞆 Dos Crimes Contra a Inviolabilidade dos Segredos (153 a 154)

🞆 Divulgação de Segredo - Art. 153

🞆 Violação do Segredo Profissional - Art. 154

🞆 Invasão de dispositivo informático - Art._154-A, Art._154-B

Constrangimento ilegal
Art. 146 - Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, ou depois de
lhe haver reduzido, por qualquer outro meio, a capacidade de resistência, a não
fazer o que a lei permite, ou a fazer o que ela não manda:

Pena - detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, ou multa.

Sujeito ativo – Qualquer pessoa.

Obs.: Funcionário público agindo desta forma no exercício de sua função, pode-se
caracterizar o crime de abuso de autoridade (Art. 350, CP).

Sujeito passivo – Qualquer pessoa capaz (exclui pessoas de capacidade reduzida).

Objeto jurídico – A liberdade individual.

Objeto material – A pessoa que sofreu o constrangimento.


Elementos objetivos do tipo

Constranger – Forçar alguém a fazer ou deixar de fazer algo.

Mediante:

• Violência – Agressão física;

• Grave ameaça – Violência moral (mal injusto grave);

• Após haver reduzido capacidade de resistência (violência imprópria –


Impedir a resistência contra agressão).

A:

• Não fazer o que a lei o que a lei permite – Coíbe a liberdade de agir
licitamente.

• Fazer o que a lei não manda – Obriga a agir licitamente.


Elemento subjetivo do crime – É o dolo.

Classificação – Crime comum; material; de forma livre; comissivo (em regra);


instantâneo; de dano; unissubjetivo; e plurissubsistente.

Tentativa – É admissível, por ser plurissubsistente.

Consumação – Ocorre com a efetiva inibição da vítima a fazer ou deixar de fazer algo.
Causas de aumento de pena

§ 1º - As penas aplicam-se cumulativamente e em dobro, quando, para a


execução do crime, se reúnem mais de três pessoas, ou há emprego de armas.

§ 2º - Além das penas cominadas, aplicam-se as correspondentes à violência.

Obs.: Armas se entende no sentido amplo. Tanto as fabricadas para fins bélicos
(próprias), quanto não bélicos (impróprias) mas usadas com a finalidade de agredir.

Obs2: A súmula 174 do STJ foi revogada. Não mais se utiliza como majorante o uso de
réplica de arma de fogo, mas pode ser utilizada para o cálculo da pena.

§2º - Possibilidade de concurso material (2 ou + ações – 2 ou + crimes). Ex.:


Constrangimento + Lesão corporal.
Excludentes de tipicidade

§ 3º - Não se compreendem na disposição deste artigo:

I - a intervenção médica ou cirúrgica, sem o consentimento do paciente ou de


seu representante legal, se justificada por iminente perigo de vida;

II - a coação exercida para impedir suicídio.

Intervenção médico-cirúrgica – Mesmo sem o consentimento da pessoa ou de seu


representante legal, será justificada pelo risco a vida do paciente.

Obs.: Não se trata de constrangimento ilegal, pois a vida é bem indisponível.

Coação exercida para impedir suicídio – Segue os mesmos moldes acima, gera
atipicidade de conduta.

Art. 147 – Ameaça


Art. 147 - Ameaçar alguém, por palavra, escrito ou gesto, ou qualquer outro
meio simbólico, de causar-lhe mal injusto e grave:

Pena - detenção, de 1 (um) a 6 (seis) meses, ou multa

Parágrafo único - Somente se procede mediante representação.

Sujeito ativo – Qualquer pessoa.

Sujeito passivo – Qualquer pessoa que compreenda a ameaça proferida.

Objeto jurídico – A liberdade individual ameaçada pela promessa de realização de


um mal injusto e grave. Perturba sua tranquilidade, sua livre disposição de ir e vir.

Objeto material – A pessoa que sofreu a ameaça.


Elementos objetivos do tipo

Ameaçar – Procurar intimidar alguém, anunciando-lhe a ocorrência de mal futuro,


ainda que próximo.

A ameaça pode ser:

• Explícita – Clara e induvidosa.

• Implícita – De forma velada.

• Direta – Visa atingir a vítima da ameaça.


• Indireta – Visa atingir terceira pessoa.

• Incondicional – Não depende de acontecimento futuro.

• Condicional – Depende de acontecimento futuro..


Elementos objetivos do tipo

Mal injusto e grave – Se a ameaça for de mal justo (legítimo), como entrar com ação,
protestar cheque, solicitar abertura de inquérito, não haverá crime. Quanto a
gravidade deverá ser analisada no caso concreto em relação a vítima.

Elemento subjetivo do crime – É o dolo.

Classificação – Crime comum; de forma livre; comissivo (em regra); instantâneo;


unissubjetivo; unissubsistente ou plurissubsistente conforme o caso.

Tentativa – É admissível apenas na forma plurissubsistente (forma escrita


interceptada).

Consumação – Ocorre com a realização do ato ameaçador, independentemente de


qualquer resultado naturalístico.
Obs.: Para maioria da jurisprudência, o estado de embriaguez avançado não
descaracteriza a ameaça.

Obs2.: Utilizar na cobrança de dívidas, de ameaça, coação, constrangimento físico


ou moral, afirmações falsas, incorretas ou enganosas ou de qualquer outro
procedimento que exponha o consumidor, injustificadamente, a ridículo ou interfira
com seu trabalho, descanso ou lazer, será punido nos termos do art. 71 da Lei 8.078/90.
Isso vale tanto para a ameaça, quanto para o constrangimento ilegal!

Art. 147-A – Perseguição (Stalking)


Art. 147-A. Perseguir alguém, reiteradamente e por qualquer meio,
ameaçando-lhe a integridade física ou psicológica, restringindo-lhe a
capacidade de locomoção ou, de qualquer forma, invadindo ou
perturbando sua esfera de liberdade ou privacidade. (Lei 14.132 de 31 de
março de 2021).

Pena - reclusão, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa.

§ 2º As penas deste artigo são aplicáveis sem prejuízo das correspondentes


à violência.

§ 3º Somente se procede mediante representação.

Sujeito ativo – Qualquer pessoa;

Sujeito passivo – Qualquer pessoa;

Objeto jurídico – A liberdade individual ameaçada pela reiteração de atos


que caracterizem a perseguição;

Objeto material – A pessoa perseguida.

🞆 Elementos objetivos do tipo

- Perseguir alguém reiteradamente - Comportamento repetitivo,


obsessivo, exige a reiteração;

Obs.: uma única vez seria atípico. Ex.: seguir durante uma mesma noite em
uma festa;

- Ameaçando-lhe a integridade física ou psicológica – Gera na vítima um


desconforto, uma perturbação contínua, até mesmo um pânico sobre
sua continuidade;

- Restringindo-lhe a capacidade de locomoção

- Invadindo ou perturbando sua esfera de liberdade ou privacidade –


Seja ao se fazer em espaço físico, virtual (internet / cyberstalking), ou
por ligações. Bem como por meio simbólicos, parar o carro em locais
que possa ser visto, deixar flores, cartas ou qualquer objeto em locais
que sejam encontrados e proporcionem o mesmo desconforto.
- Elemento subjetivo do crime – Dolo;

- Classificação – Crime comum; material; de forma livre; comissivo;


permanente; unissubjetivo, e; plurissubsistente.

- Tentativa – É possível mais de difícil configuração. Ex.: Buscar enviar


reiteradas cartas, porém interceptadas por terceiro.

- Consumação – Se consuma com a reiteração de atos que


caracterizem a perseguição.

- Causas de aumento de pena

- § 1º A pena é aumentada de metade se o crime é cometido:

- I - contra criança, adolescente ou idoso;

- II - contra mulher por razões da condição de sexo feminino, nos termos


do § 2º-A do art. 121 deste Código;
- III - mediante concurso de 2 (duas) ou mais pessoas ou com o emprego
de arma.

Art. 147-B – Violência psicológica contra a mulher


Art. 147-B. Causar dano emocional à mulher que a prejudique e
perturbe seu pleno desenvolvimento ou que vise a degradar ou a
controlar suas ações, comportamentos, crenças e decisões, mediante
ameaça, constrangimento, humilhação, manipulação, isolamento,
chantagem, ridicularização, limitação do direito de ir e vir ou qualquer
outro meio que cause prejuízo à sua saúde psicológica e
autodeterminação: (Incluído pela Lei nº 14.188, de 2021).

Pena - reclusão, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa, se a conduta


não constitui crime mais grave. (Incluído pela Lei nº 14.188, de 2021).

Sujeito ativo – Qualquer pessoa (crime comum).

Sujeito passivo – Mulher.

Objeto jurídico – A liberdade individual afetada pelos danos emocionais


causados a vítima.

Objeto material – A pessoa que sofre a violência psicológica.

🞆 Elementos objetivos do tipo

Causar dano emocional à mulher que a prejudique e perturbe seu pleno


desenvolvimento ou que vise a degradar ou a controlar suas ações,
comportamentos, crenças e decisões - Ações que visam o controle
exacerbado sobre a mulher.

mediante ameaça, constrangimento, humilhação, manipulação, isolamento,


chantagem, ridicularização, limitação do direito de ir e vir ou qualquer outro
meio que cause prejuízo à sua saúde psicológica e autodeterminação – São
as formas como esse controle pode ser exercido.

Obs.1: Seu maior objetivo é coibir as violações mais leves e reiteradas (slow
violence), que dificilmente seriam tipificadas como criminosas, que
cumulativamente vão restringindo a autonomia da mulher.

Obs.2: É um tipo penal de natureza subsidiária. Porém crimes menos graves,


como a injúria, serão absorvidos pelo art. 147-B.

🞆 Elemento subjetivo do crime – Dolo;

🞆 Classificação – Crime comum; material; de forma livre; comissivo;


unissubjetivo, e; plurissubsistente.

🞆 Tentativa – É possível, porém de difícil configuração.

🞆 Consumação – Ocorre com a provocação do dano emocional a


vítima.

Obs.: Não exige uma habitualidade na conduta, uma reiteração, vários atos
distintos, desvinculados, ou mesmo um ato isolado por caracterizar a
consumação do crime.

Art. 148 – Sequestro e Cárcere Privado


Art. 148 - Privar alguém de sua liberdade, mediante sequestro ou cárcere
privado:

Pena - reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos.

Sujeito ativo – Qualquer pessoa.

Obs.: Quando praticado por funcionário público no exercício de suas funções,


teremos o crime de abuso de autoridade.

Sujeito passivo – Qualquer pessoa.

Obs.: O consentimento da vítima, desde que consciente e válido, exclui o crime.

Objeto jurídico – A liberdade individual.

Objeto material – A pessoa que sofreu a privação da liberdade.

Elementos objetivos do tipo

Privar – Tolher; impedir; desapossar, etc.

Obs.: Essa privação deve perdurar por um lapso temporal razoável (crime
permanente)

Alguém de sua liberdade – Liberdade física e não intelectual.


Mediante sequestro – Retirar a liberdade de alguém. (Conduzir forçadamente a outro
lugar)

Ou cárcere privado – Prisão promovida por particular. (Impedir de sair)

Elemento subjetivo do crime – É o dolo.

Classificação – Crime comum; material; de forma livre; comissivo (como regra);


permanente; unissubjetivo; e plurissubsistente.

Obs.: Por omissão pode ocorrer cárcere privado de médico que não libera paciente já
curado, dentre outros.

Tentativa – É admissível na forma plurissubsistente, porém de difícil configuração.

Consumação – Ocorre com a perda da liberdade de ir e vir.

Formas qualificadas

§ 1º - A pena é de reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos:

I - se a vítima é ascendente, descendente, cônjuge ou companheiro do agente


ou maior de 60 (sessenta) anos.

II - se o crime é praticado mediante internação da vítima em casa de saúde ou


hospital;

III - se a privação da liberdade dura mais de 15 (quinze) dias.

IV - se o crime é praticado contra menor de 18 (dezoito) anos;

V - se o crime é praticado com fins libidinosos.

Obs.: Este inciso foi adotado após a revogação do crime de rapto (Art. 219). Não
houve abolitio criminis, este apenas foi deslocado de tipo específico para uma
qualificadora de outro tipo penal.
Formas qualificada pelo resultado

§ 2º - Se resulta à vítima, em razão de maus-tratos ou da natureza da detenção,


grave sofrimento físico ou moral:

Pena - reclusão, de 2 (dois) a 8 (oito) anos.

Grave sofrimento físico ou moral – Decorre do sequestro ou do cárcere. Ex.: Houver


maus tratos, passar fome, ficar em local sem higiene, etc.

Obs.: Havendo lesões corporais cabe a possibilidade de responder por concurso de


crimes.

Art. 149 – Redução a condição análoga de escravo


Art. 149 - Reduzir alguém a condição análoga à de escravo, quer submetendo-o a
trabalhos forçados ou a jornada exaustiva, quer sujeitando-o a condições
degradantes de trabalho, quer restringindo, por qualquer meio, sua locomoção
em razão de dívida contraída com o empregador ou preposto:

Pena - reclusão, de dois a oito anos, e multa, além da pena correspondente à


violência.

§ 1º Nas mesmas penas incorre quem:

I – cerceia o uso de qualquer meio de transporte por parte do trabalhador, com


o fim de retê-lo no local de trabalho;

II – mantém vigilância ostensiva no local de trabalho ou se apodera de


documentos ou objetos pessoais do trabalhador, com o fim de retê-lo no local
de trabalho

Sujeito ativo – Qualquer pessoa, contudo em regra, deva ser o empregador ou


preposto.

Sujeito passivo – Somente pode ser o empregado. Antes da lei 10.803/03 era qualquer
pessoa.

Objeto jurídico – A liberdade individual.

Objeto material – O empregado que sofreu a privação da liberdade.


Elementos objetivos do tipo

Submeter alguém a trabalhos forçados ou jornada exaustiva – Trabalhos acima da


capacidade física e temporal de exercê-los.

Sujeitá-lo a condições degradantes de trabalho – Higiene, segurança,


alimentação...

Restringir, por qualquer meio, sua locomoção em razão de dívida contraída


com o empregador ou preposto.

Cerceamento do uso de qualquer meio de transporte por parte do trabalhador,


com o fim de retê-lo no local de trabalho.

Manutenção de vigilância ostensiva no local de trabalho, com o fim de retê-lo


no local de trabalho.

Apossamento de documentos ou objetos pessoais do trabalhador, com o fim de


retê-lo no local de trabalho.
Elemento subjetivo do crime – É o dolo.

Classificação – Crime comum; material; de forma vinculada; comissivo; permanente;


de dano; unissubjetivo; e plurissubsistente

Tentativa – É admissível, mas de difícil configuração.

Consumação – Ocorre com a perda da liberdade de ir e vir.


Causas de aumento de pena

§ 2º A pena é aumentada de metade, se o crime é cometido:

I – contra criança (até 12 anos incompletos) ou adolescente (entre 12 e 18 anos


incompletos);

II – por motivo de preconceito de raça, cor, etnia, religião ou origem.

Obs.: Nucci e Mirabete entendem que nesse caso o crime seria imprescritível e
inafiançável pois refere-se a uma discriminação de qualquer pessoa que faça
parte de um desses grupos.

Art. 149-A – Tráfico de Pessoas


Art. 149-A. Agenciar, aliciar, recrutar, transportar, transferir, comprar, alojar ou acolher
pessoa, mediante grave ameaça, violência, coação, fraude ou abuso, com a finalidade
de:

I - remover-lhe órgãos, tecidos ou partes do corpo;

II - submetê-la a trabalho em condições análogas à de escravo;

III - submetê-la a qualquer tipo de servidão;

IV - adoção ilegal; ou

V - exploração sexual.

Pena - reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa.

Obs.: Revogou os artigos 231 e 231-A do CP.

Sujeito ativo – Qualquer pessoa.

Sujeito passivo – Qualquer pessoa.


Objeto jurídico – A liberdade individual.

Objeto material – A pessoa humana.

Elementos objetivos do tipo

Agenciar, aliciar, recrutar, transportar, transferir, comprar, alojar ou acolher


pessoa, mediante grave ameaça, violência, coação, fraude ou abuso, com a
finalidade de:

I - remover-lhe órgãos, tecidos ou partes do corpo;

II - submetê-la a trabalho em condições análogas à de escravo;


III - submetê-la a qualquer tipo de servidão;

IV - adoção ilegal; ou

V - exploração sexual.
Elementos subjetivo do crime – É o dolo, não admite a forma culposa.

Classificação – Crime comum; formal; de forma livre; comissivo; instantâneo


(agenciar; aliciar; recrutar, e; comprar) ou permanente (transportar; transferir; alojar, e;
acolher); plurissubsistente

Tentativa – É admissível, porém de difícil configuração.

Consumação – Ocorre com a prática da violência, coação, fraude ou abuso no intuito


de vir a traficar pessoas, independentemente do resultado naturalístico.
Causas de aumento de pena

§ 1º A pena é aumentada de um terço até a metade se: (Incluído pela Lei nº 13.344, de
2016)

I - o crime for cometido por funcionário público no exercício de suas funções ou a


pretexto de exercê-las;

II - o crime for cometido contra criança, adolescente ou pessoa idosa ou com


deficiência;

III - o agente se prevalecer de relações de parentesco, domésticas, de coabitação,


de hospitalidade, de dependência econômica, de autoridade ou de
superioridade hierárquica inerente ao exercício de emprego, cargo ou função; ou

IV - a vítima do tráfico de pessoas for retirada do território nacional.


Causa de diminuição de pena

§ 2º A pena é reduzida de um a dois terços se o agente for primário e não integrar


organização criminosa. (Incluído pela Lei nº 13.344, de 2016)

⮚ Organização criminosa – Art. 1º, § 1º da Lei 12.850/2013 – Associação de 4


(quatro) ou mais pessoas, de forma estruturada, para prática de crimes com
penas máximas superiores a 4 (quatro) anos, ou que sejam de caráter
transnacional.

Dos Crimes contra a Inviolabilidade de Domicílio


Violação de domicílio

Art. 150 - Entrar ou permanecer, clandestina ou astuciosamente, ou contra a


vontade expressa ou tácita de quem de direito, em casa alheia ou em suas
dependências:
Pena - detenção, de 1 (um) a 3 (três) meses, ou multa

Sujeito ativo – Qualquer pessoa.

Obs.: O proprietário do imóvel pode ser sujeito ativo, desde que não esteja na posse
do imóvel naquele momento.

Sujeito passivo – Qualquer pessoa que tenha a posse direta do imóvel.

Obs.: Empregado doméstico pode recusar a entrada ou permanência de estranhos


em seus aposentos, menos o proprietário. Contudo, a sua permissão de entrada
ou permanência de estranhos do dono no domicílio, é fato típico.

Art. 150 – Violação de Domicílio

Objeto jurídico – A inviolabilidade do domicílio.

Objeto material – A casa invadida.

Elementos objetivos do tipo

Entrar – Ação de ir de fora para dentro.

Permanecer – Inação. Deixar de sair. Fixar-se no domicílio. O agente sabe que deve
sair e fica no local por tempo além do permitido.

Clandestina – Às ocultas, sem se deixar notar.

Astuciosamente – Agir fraudulentamente, criando subterfúgio para adentrar de


má-fé.

Contra a vontade de quem de direito – Clandestina e astuciosamente.

Em casa alheia ou suas dependências


Conceito de casa

Conceito positivo

§ 4º - A expressão "casa " compreende:

I - qualquer compartimento habitado;

II - aposento ocupado de habitação coletiva;

III - compartimento não aberto ao público, onde alguém exerce profissão ou


atividade.

Conceito negativo

§ 5º - Não se compreendem na expressão "casa":


I - hospedaria, estalagem ou qualquer outra habitação coletiva, enquanto
aberta, salvo a restrição do n.º II do parágrafo anterior;

II - taverna, casa de jogo e outras do mesmo gênero


Conceito de casa

O §4º constitui um rol meramente exemplificativo, servindo apenas de norte para a


jurisprudência.

CASA – Não é apenas o recinto onde alguém permanente ou transitoriamente mora.


Também compreende:

• Construção aberta ou fechada;

• Imóvel ou móvel – Ex.: Trailer;

• Individual ou coletiva – Ex.: Alojamento;

Obs.: Habitações coletivas quando abertas não são passíveis de violação. Ao serem
fechadas ao público, passa a se punir a violação.

Dispensa a presença, no momento da violação, dos moradores.

Obs.: Quem invade casa desabitada, vazia, à venda, não pratica o crime.

Elemento subjetivo do crime – É o dolo.

Classificação – Crime comum; de mera conduta; de forma livre; comissivo ou


omissivo, conforme o caso; instantâneo na forma “entrar”, e permanente na forma
“permanecer”; unissubjetivo; unissubsistente ou plurissubsistente, conforme o caso.

Tentativa – É admissível nas formas comissivas e plurissubsistente.

Consumação – Quando a conduta (entrar ou permanecer) é praticada,


independentemente de resultado naturalístico.

Forma qualificada

§ 1º - Se o crime é cometido durante a noite, ou em lugar ermo, ou com o


emprego de violência ou de arma, ou por duas ou mais pessoas:

Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, além da pena correspondente


à violência.

Elementos objetivos do tipo

Durante a noite – Para uns é o período entre às 18 e às 06 horas. Para outros,


consideram o período de escuridão (Nucci).

Lugar ermo – Local pouco habitado.


Emprego de violência – Violência física contra pessoa e não contra a coisa.

Arma – Tanto as próprias quanto impróprias.


Causas excludentes de ilicitude

§ 3º - Não constitui crime a entrada ou permanência em casa alheia ou em suas


dependências:

I - durante o dia, com observância das formalidades legais, para efetuar prisão
ou outra diligência;

Obs.: Aqui a diligência pode ser judicial, policial ou administrativa.

II - a qualquer hora do dia ou da noite, quando algum crime está sendo ali
praticado ou na iminência de o ser.

Obs.: Aqui temos a autorização para prisão em flagrante pelas autoridades ou


qualquer um do povo.

Obs2.: Além dessas hipóteses específicas de excludentes de ilicitude, temos as


hipóteses genéricas do art. 23 do CP (legítima defesa; estado de necessidade;
estrito cumprimento de dever legal; e exercício regular de direito) e do art. 5º,
XI da CF (em caso de desastre ou para prestar socorro).

Dos Crimes Contra a Inviolabilidade de Correspondência


Violação de correspondência

Art. 151 - Devassar indevidamente o conteúdo de correspondência fechada, dirigida a


outrem:

Pena - detenção, de 1 (um) a 6 (seis) meses, ou multa.

Sonegação ou destruição de correspondência

§ 1º - Na mesma pena incorre:

I - quem se apossa indevidamente de correspondência alheia, embora não fechada e,


no todo ou em parte, a sonega ou destrói;

§ 2º - As penas aumentam-se de metade, se há dano para outrem.

Lei 6.538/78

Art. 40º - Devassar indevidamente o conteúdo de correspondência fechada


dirigida a outrem:

Pena: detenção, até seis meses, ou pagamento não excedente a vinte


dias-multa.

§ 1º - Incorre nas mesmas penas quem se apossa indevidamente de


correspondência alheia, embora não fechada, para sonegá-la ou destruí-la, no
todo ou em parte.

§ 2º - As penas aumentam-se de metade, se há dano para outrem.

Sujeito ativo – Qualquer pessoa.

Sujeito passivo – Qualquer pessoa. Contudo temos dupla subjetividade passiva, entre
o remetente e o destinatário.

Obs.: Um deles autorizando a violação, não teremos crime.

Objeto jurídico – A inviolabilidade de correspondência.

Art. 5º, XII, CF - é inviolável o sigilo da correspondência e das comunicações


telegráficas, de dados e das comunicações telefônicas, salvo, no último caso,
por ordem judicial, nas hipóteses e na forma que a lei estabelecer para fins de
investigação criminal ou instrução processual penal.

Objeto material – A correspondência violada.


Elementos objetivos do tipo

Revogação do art. 151, caput, §1º e §2º - Ambos encontram-se disciplinados no art.
40 da Lei 6.538/78.

Devassar – Penetrar e descobrir conteúdo de algo sem a anuência das partes.

Obs.: Pode ocorrer sem “abrir” a correspondência, desde que consiga conhecer seu
conteúdo. Ex.: Colocar envelope contra luz.

Correspondência - Não abrange somente papéis, mas cds, dvds e quaisquer outras
mídias que contenham arquivos pessoais.
Obs.: A carta deve ser destinada a pessoa certa. Ex.: Carta lançada ao mar em
garrafa; Meros escritos achados.

Obs2.: Deve haver atualidade. Não haverá crime em carta devassada de décadas ou
centenas de anos atrás.

Se apossar indevidamente de correspondência alheia, embora não fechada,


sonegando-a (ocultação) ou destruindo-a

Obs.: Se antes de destruir, toma conhecimento do conteúdo, comete o crime do


caput, sendo a destruição mero exaurimento.
Elemento subjetivo do crime – É o dolo.

Classificação – Crime comum; de mera conduta; de forma livre; comissivo;


instantâneo; unissubjetivo; plurissubsistente.

Tentativa – É admissível.

Consumação – Quando ocorre a devassa da correspondência.


Causa de aumento de pena - §2ª - As penas aumentam-se de metade, se há dano
para outrem.

Forma qualificada (crime próprio) - § 3º - Se o agente comete o crime, com abuso


de função em serviço postal, telegráfico, radioelétrico ou telefônico:

Pena - detenção, de 1 (um) a 3 (três) anos.


Não haverá crime nas seguintes hipóteses:

1) A lei de falência e recuperação judicial (Lei 11.101/2005) autoriza a abertura


pelo síndico, de correspondência endereçada ao falido, desde que presente o
interesse da massa falida;

2) O diretor de prisão em relação à correspondência remetida ao preso, desde


que motivadamente;

3) O art. 240, §1º, f, do CPP autoriza a abertura pela autoridade policial ou


judicial “quando haja suspeita de que o seu conteúdo possa ser útil à
elucidação do fato”;

4) O curador também está autorizado a tomar conhecimento do conteúdo de


correspondência endereçada ao interditado por incapacidade absoluta;

5) Pode haver devassa de correspondência pelos pais ou tutor em relação aos


menores sob o poder familiar ou tutela.
Ponto relevante

Violação de correspondência entre cônjuges (2 correntes)

1º - Não há crime – “A vida em comum produz tal comunhão de interesses, de


intimidade entre os cônjuges, que é incorreto afirmar-se existir delito quando,
por exemplo, a mulher lê uma carta dirigida ao marido. Pode ser um ato
indelicado, mas não criminoso” (Damásio, Hungria, Nucci)

2ª - Há crime – “Aníbal Bruno parece-nos ter a opinião mais aceitável, ao afirmar


que ‘em condições normais de convivência é de presumir-se entre os cônjuges
um consentimento tácito, que justificaria o fato’, mas, inexistindo a presunção e
não abrindo mão o cônjuge do direito disponível de sigilo de correspondência,
vedado é o devassamento pelo outro” (Mirabete, Bruno)
Ação Penal

§ 4º - Somente se procede mediante representação, salvo nos casos do § 1º, IV, e


do § 3º.

Regra – Ação Penal Pública condicionada a representação da vítima.

Exceção – Ação Penal pública incondicionada.

Art. 152 – Correspondência Comercial


Art. 152 - Abusar da condição de sócio ou empregado de estabelecimento
comercial ou industrial para, no todo ou em parte, desviar, sonegar, subtrair ou
suprimir correspondência, ou revelar a estranho seu conteúdo:

Pena - detenção, de 3 (três) meses a 2 (dois) anos.

Parágrafo único - Somente se procede mediante representação.

Sujeito ativo – Sócio ou empregado da empresa (crime próprio).

Sujeito passivo – A pessoa jurídica referente a empresa ou indústria.

Objeto jurídico – É a inviolabilidade de correspondência.

Objeto material – A correspondência violada.


Elementos objetivos do tipo

Correspondência comercial – Cartas, bilhetes e telegramas de natureza mercantil,


relativa a atividade de comércio.

Obs.: Difere da violação de correspondência do art. 151, pois o sujeito ativo


deste é qualquer pessoa.

Abusar da condição de sócio ou empregado – Utilizar de modo exorbitante.

Desviar – Afastar de seu destino original.

Sonegar – Ocultar, esconder.

Subtrair – Furtar ou fazer desaparecer.

Suprimir – Destruir, eliminar.

Revelar a estranho seu conteúdo

Elemento subjetivo do crime – É o dolo.

Classificação – Crime próprio; formal; de forma livre; comissivo; instantâneo;


unissubjetivo; unissubsistente ou plurissubsistente.
Tentativa – É admissível na forma plurissubsistente.

Consumação – Ocorre com a violação da correspondência comercial.

Ação penal – Pública condicionada a representação.

Dos Crimes Contra a Inviolabilidade dos Segredos


Divulgação de segredo

Art. 153 - Divulgar alguém, sem justa causa, conteúdo de documento particular
ou de correspondência confidencial, de que é destinatário ou detentor, e cuja
divulgação possa produzir dano a outrem:

Pena - detenção, de 1 (um) a 6 (seis) meses, ou multa.

Sujeito ativo – É o destinatário ou possuidor legítimo da correspondência cujo


conteúdo é sigiloso.

Sujeito passivo – É a pessoa que pode ser prejudicada pela divulgação do segredo.

Objeto jurídico – É a inviolabilidade da intimidade.

Objeto material – É o documento particular ou a correspondência violada.

Art. 153 – Divulgação de Segredo


Elementos objetivos do tipo

Divulgar – Dar conhecimento ou tornar público.

Sem justa causa, conteúdo de documento particular – Sem motivo, revelar a


terceiros, fatos que podem gerar efeitos jurídicos.

Ou correspondência confidencial – Cujo conteúdo não deve ser revelado a terceiros.

Destinatário – É possuidor legítimo, mas comete o crime ao revelar o segredo.

Detentor – Não se confunde com o destinatário. É a pessoa que tem a posse do


documento.

Obs.: Caso o documento esteja lacrado, e para divulgar o segredo o detentor o viole
(Art. 151), tal conduta será absorvida pela divulgação do segredo. (Art. 153)
Elemento subjetivo do crime – É o dolo.

Classificação – Crime próprio; formal; de forma livre; comissivo; instantâneo;


unissubjetivo; unissubsistente ou plurissubsistente.

Tentativa – É admissível na forma plurissubsistente.


Consumação – Ocorre com a divulgação do segredo, sem justa causa.

Ação penal:

• Regra - § 1º - Somente se procede mediante representação.

• Exceção - § 2º - Quando resultar prejuízo para a Administração Pública, a


ação penal será incondicionada.

Forma qualificada

§ 1º-A - Divulgar, sem justa causa, informações sigilosas ou reservadas, assim


definidas em lei, contidas ou não nos sistemas de informações ou banco de
dados da Administração Pública:

Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.

Nesse caso temos crime comum. A vítima é o Estado. Não necessitando que a
indevida divulgação do segredo cause dano a outrem, bastando sua mera revelação.

Art. 154 – Violação do Segredo Profissional


Art. 154 - Revelar alguém, sem justa causa, segredo, de que tem ciência em razão
de função, ministério, ofício ou profissão, e cuja revelação possa produzir dano
a outrem:

Pena - detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, ou multa.

Parágrafo único - Somente se procede mediante representação.

Sujeito ativo – É a pessoa que exerce uma função, ministério, ofício ou profissão,
sendo detentor de um segredo.

Ex.: Funcionário revelar a fórmula produzida por colega de trabalho.

Obs.: Admite-se coautoria e participação.

Sujeito passivo – Qualquer pessoa sujeita a sofrer um dano em razão da divulgação


do segredo.

Objeto jurídico – É a inviolabilidade da intimidade.

Objeto material – É o assunto transmitido em caráter sigiloso.

Elementos objetivos do tipo

Revelar – Desvendar, contar a terceiro, delatar.


Sem justa causa, segredo – Assunto ou fato que não deve ser divulgado a pessoas não
autorizadas.

Que tenha ciência em razão de função – Particular, privada. Se for função pública o
crime é do art. 325 do CP.

Ministério – Atividade religiosa.

Ofício – Ocupação manual ou mecânica.

Profissão – Atividade especializada.

Cuja revelação produza dano a outrem.


Elemento subjetivo do tipo – É o dolo.

Classificação – Crime próprio; de forma livre; comissivo; instantâneo; unissubjetivo;


unissubsistente ou plurissubsistente.

Tentativa – É admissível na forma plurissubsistente (forma escrita).

Consumação – Ocorre com a efetiva violação do segredo profissional. Eventual dano


ocorrido será mero exaurimento.

Art. 154-A – Invasão de Dispositivo Informático


Art. 154-A. Invadir dispositivo informático alheio, conectado ou não à rede de
computadores, mediante violação indevida de mecanismo de segurança e com o
fim de obter, adulterar ou destruir dados ou informações sem autorização expressa ou
tácita do titular do dispositivo ou instalar vulnerabilidades para obter vantagem
ilícita: (Acrescentado pelo L-012.737-2012).

Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa. (Alterado pela Lei nº 14.155/2021)

§ 1º Na mesma pena incorre quem produz, oferece, distribui, vende ou difunde


dispositivo ou programa de computador com o intuito de permitir a prática da
conduta definida no caput.

Sujeito ativo – Qualquer pessoa.

Sujeito passivo – Qualquer pessoa.

Hipóteses de aumento de pena

§ 2º Aumenta-se a pena de 1/3 (um terço) a 2/3 (dois terços) se da invasão resulta
prejuízo econômico.

§ 5º Aumenta-se a pena de um terço à metade se o crime for praticado contra:

I - Presidente da República, governadores e prefeitos;

II - Presidente do Supremo Tribunal Federal;

III - Presidente da Câmara dos Deputados, do Senado Federal, de Assembleia


Legislativa de Estado, da Câmara Legislativa do Distrito Federal ou de Câmara
Municipal; ou

IV - dirigente máximo da administração direta e indireta federal, estadual, municipal


ou do Distrito Federal.

Qualificadora

§ 3º Se da invasão resultar a obtenção de conteúdo de comunicações eletrônicas


privadas, segredos comerciais ou industriais, informações sigilosas, assim
definidas em lei, ou o controle remoto não autorizado do dispositivo invadido:

Pena - reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa.

Aumento de pena da qualificadora

§ 4º Na hipótese do § 3º, aumenta-se a pena de um a dois terços se houver


divulgação, comercialização ou transmissão a terceiro, a qualquer título, dos
dados ou informações obtidos.

Art. 154-B – Ação Penal do 154-A

Art. 154-B. Nos crimes definidos no art. 154-A, somente se procede mediante
representação, salvo se o crime é cometido contra a administração pública direta ou
indireta (incondicionada) de qualquer dos Poderes da União, Estados, Distrito Federal
ou Municípios ou contra empresas concessionárias de serviços públicos. (Acrescentado
pelo L-012.737-2012)

Você também pode gostar