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DA PERICLITAÇÃO DA VIDA E DA SAÚDE (ARTS.

130 A 136)

São todos crimes de perigo (não se exige a efetiva lesão ao bem jurídico
penalmente protegido). Significa que não precisa haver dano, apenas a mera
exposição do bem jurídico à probabilidade de dano para a consumação do
delito.

Ainda, na periclitação da vida e da saúde são todos crimes de perigo individual


(atingem um número determinado de pessoas).

PERIGO DE CONTÁGIO VENÉRIO

Art. 130 - Expor alguém, por meio de relações sexuais ou qualquer ato libidinoso, a
contágio de moléstia venérea, de que sabe ou deve saber que está contaminado:

Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa.

§ 1º - Se é intenção do agente transmitir a moléstia:

Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.

§ 2º - Somente se procede mediante representação.

ESPÉCIES

Do caput: forma simples. § 1º: forma qualificada

CLASSIFICAÇÃO DOUTRINÁRIA

Crime próprio e de mão própria, simples, de perigo presumido ou abstrato


(caput) ou de perigo com dolo de dano (§ 1.º), comissivo, de forma vinculada,
formal, unilateral (em regra), plurissubsistente e instantâneo.

OBJETO JURÍDICO

A incolumidade física da pessoa em sentido amplo (incluindo a vida e a saúde).

Objeto material: a pessoa da vítima.

NÚCLEO DO TIPO

Expor: colocar alguém sob perigo de contaminação da moléstia.


Ato libidinoso: qualquer prática que satisfaça o desejo sexual (incluindo a
relação sexual). OBS: A doutrina majoritária entende que necessariamente deve
haver o contato físico.

Moléstia venérea: toda doença que se contrai pelo contato sexual.

CONSUMAÇÃO

Dá-se com a prática da relação sexual ou do ato libidinoso, não importa se


houve a contaminação.

Tentativa: é cabível.

SUJEITOS

Ativo: somente aquele que tem moléstia venérea. Não admite coautoria, mas
participação sim.

Passivo: qualquer um.

ELEMENTO SUBJETIVO

Forma simples: há o dolo de perigo (vontade de praticar a conduta capaz de


transmitir a doença). Esse dolo pode ser direto (o agente sabe que tem a doença)
ou eventual (o agente deve saber que está contaminado).

Forma qualificada: há dolo de dano (de transmitir a moléstia), embora o crime


seja de perigo.

AIDS

A doutrina não entende a Aids como moléstia venérea, porque ela pode ser
transmitida por outros modos (ex: seringa). Então se deve considerar o dolo do
agente (ex: transmite a Aids com intenção de matar = homicídio doloso).
Porém, na situação em que o sujeito sabe que tem a doença, mas oculta de seus
parceiros e mantém relação sexual sem preservativo, o STF decidiu afastar o
homicídio, mas não se manifestou por qual tipo penal o sujeito responderá.

CONSENTIMENTO DA VÍTIMA

Deve-se olhar para este tema sob o enfoque da disponibilidade ou não do bem
jurídico protegido. Para Rogerio Greco, a integridade corporal é bem disponível,
então o consentimento excluiria o crime desde que a lesão fosse leve, que a
vítima tivesse capacidade para consentir e que o consentimento fosse prévio ou
concomitante ao ato. Porém, para Nelson Hungria o bem jur. seria indisponível,
pois se trata de interesse público (é importante para a sociedade que essas
moléstias sejam combatidas antes que alcancem dimensões alarmantes).

DIFERENÇA DA LESÃO CORPORAL


Se o agente de fato contamina sua vítima, há 5 possiblidades:

a) na modalidade do caput, também está cometendo lesão corporal culposa, mas


há exaurimento, pois a pena do art. 130 é maior.

b) na modalidade qualificada, se resulta:

b.1) lesão corporal leve, o sujeito responde pelo art. 130.

b.2) lesão corporal grave/gravíssima, o agente responde por esta.

b.3) lesão corporal seguida de morte, se o agente agiu culposamente quanto a


morte, responderá por esse tipo de lesão.

b.4) na morte da vítima, quando o agente tinha intenção de matar, responderá


por homicídio.

AÇÃO PENAL

Pública condicionada à representação

COMPETÊNCIA

Forma simples: Jecrim

Forma qualificada: possibilidade da suspensão condicional do processo

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