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Perigo de contágio venéreo

Art. 130 - Expor alguém, por meio de relações sexuais ou qualquer ato
libidinoso, a contágio de moléstia venérea, de que sabe ou deve saber que
está contaminado:

Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa.

§ 1º - Se é intenção do agente transmitir a moléstia:

Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.

§ 2º - Somente se procede mediante representação.

O sujeito ativo pode ser qualquer pessoa, independente de gênero,


desde que seja portadora de doença venérea (condição particular). Dentro
desse universo, inclui-se desde o cônjuge até eventual profissional do sexo.
O conceito de doenca venérea pode ser compreendido a partir da ideia de
doença trasmissível através de contato sexual, dependendo portanto o tipo
de especificação própria por parte do ministério da saúde. A medicina exclui,
por exemplo, do brocado “doença venerea”, a AIDS, pois entende que esta
pode ser transmitida ainda por outras formas que não contato sexual.
O termo “relação sexual” é entendido pela doutrina marjoritária nesse
caso, em sentido estrito, ou seja como coito propriamente dito; já o referido
“ato libidinoso” possui limites mais tênues e abstratos, podendo-se falar, em
geral, em ação que dá ao autor prazer e satisfação sexual.
O núcleo do tipo se encontra na propria ideia de “colocar em perigo” o,
expresso na palavra “expor”. A doutrina predominante indica a não existência
do tipo na forma culposa. Bittencourt 1 assevera a existência das duas
espécies de dolo (direto e eventual). Quanto ao dolo eventual, pode estar
presente tanto na hipótese de plena consciencia do seu estado como
contaminado, (“sabe”) quanto no hipotese em que ha duvida sobre a
possibilidade de estar contaminado (“deve saber”). Na hipotese de saber de
sua condicao de doente, aplica-se ao tipo a caracteristica de dolo eventual

1
Pg 231
quando entender-se que o agente é capaz de prever o contagio da doenca
mas não tem certeza de que a molestia é contagiosa.
O dolo direto, ou seja, os casos em que a vontade do autor é dirigida à
realizacao do fato tipico, só é possivel quando consideramos as hipoteses em
que o autor sabe da doenca, pois a partir do vocabulo “deve seber” excluimos
a necessaria consienca do autor sobre a situacao, que caracteriza o dolo. A
partir do dolo direto, podemos ainda subdividi-lo nas hipoteses de dolo de
primeiro e segundo grau,: quando o autor tem como objetivo principal passar
a doença (primeiro grau) ou quando o autor não tem como objetivo a
transmissão da doenca, mas conscientemente e voluntariamente expoe a
vítma ao perigo (segundo grau). A utilizacao de preservativos é suficiente
para desconfigurar o delito, uma vez que, como crime de perigo concreto,
depende da concretizacao do nucleo “expor”.
É caso de ação penal pública condicionada, como informa o parágrafo
segundo, dependendo portanto, para instauração do inquérito policial, de
manifestção inequívoca da vítma.

Perigo de contagio de molestia grave:

Art. 131 - Praticar, com o fim de transmitir a outrem moléstia grave de que
está contaminado, ato capaz de produzir o contágio:

Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.

Alguns doutrinadores2 defendem que o delito tipificado neste artigo


seria uma hipótese de tentativa de lesão corporal alocada erroneamente no
capítulo destinado a crimes de perigo. A maior parte da doutrina, contudo,
não entende desta forma, como bem expõe Cezar Roberto Bitencourt:

“(...) a ocorrência da ‘própria lesão’, isto é, ainda


que o contágio se concretize, não alterará a
tipificação da conduta, pois representará o simples

2
A exemplo de: GRECO, Rogério. Curso de direito penal. 2009, p. 325.
exaurimento do crime definido no art. 131 (e não se
poderá afirmar que seja uma tentativa sui generis)”.

Embora considere como crime de perigo, Bitencourt 3 afirma entretanto,


tratar-se de dolo de dano, seja ele: o agente quer transmitir a molestia.
Entende-se ser um tipo que apenas adimite dolo direto, pois pressupoe, no
entendimento da doutrina marjoritaria, o elemento cognitivo (consiencia) e o
elemento volitivo (vontade). Assim tambem nao admite a versão culposa, no
entanto, em tese é possivel que seja praticado na forma tentada.
Constam como sujeitos ativo do tipo o portador de molestia grave. O
sujeito passivo pode vir a ser qualquer outro, desde que já não seja portador
da mesma doença. O objeto juridico protegido é o mesmo do artigo
antecedente, ou seja, a vida e a saude da pessoa humana.
O termo moléstia grave é considerado pela doutrina 4 como elemento
normativo do tipo, ou seja, implica em uma atividade valorativa por parte do
juiz, um juizo de valor. Não se trata de tipo penal em branco pois sua
definicao não depende de vinculacao a regulamento do Ministerio da Saude,
por exemplo, pois a identificacao de uma molestia grave e contagiosa é
perfeitamente possivel sem o auxilio medico. A acao penal tambem é publica
e condicionada.

Perigo para a vida ou saude de outrem:

Art. 132 - Expor a vida ou a saúde de outrem a perigo direto e iminente:


Pena - detenção, de três meses a um ano, se o fato não constitui crime mais
grave.
Parágrafo único. A pena é aumentada de um sexto a um terço se a
exposição da vida ou da saúde de outrem a perigo decorre do transporte de
pessoas para a prestação de serviços em estabelecimentos de qualquer
natureza, em desacordo com as normas legais.

3
pg245
4
bittencourt pg 241
Da mesma forma que o tipo anterior é necessaria a demonstracao do
perigo concreto pela vitma. O artigo ainda faz alusao a perigo concreto e
iminente, não deixando duvidas sobre tratar-se de caso de perigo concreto. O
delito é tambem explicitamente subsidiario ou tipo de reserva, ou seja,
entende-se que só é possivel utilizar o artigo 132 caso nao incida sobre o fato
outro tipo de maior gravidade. O tipo não demanda sujeito ativo qualificado
ou especial, portanto, trata-se de crime comum de mesmo objeto que os tipos
anteriores.
É causa de aumento de pena o disposto na lei 9777/98, que embora
delito de transito, se encontra no codigo penal. A ideia é evidentemente punir
mais severamente os proprietarios de veiculos que transportam trabalhadores
sem a devida seguranca.
5
A doutrina ainda aponta um conflito com o art 15 do estatuto do
Desarmamento, que apresenta uma regra especial mais grave que a figura
prevista no codigo penal:

Art. 15. Disparar arma de fogo ou acionar munição em lugar habitado ou em


suas adjacências, em via pública ou em direção a ela, desde que essa
conduta não tenha como finalidade a prática de outro crime:

Pena – reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa.

Parágrafo único. O crime previsto neste artigo é inafiançável.

Entende-se que embora o direito penal se paute sempre por procurar a


alternativa mais benéfica para o réu, o artigo 132, como já foi referido, só
atua em caráter subsidiário e expressamente só se aplica se o fato não
constituir delito mais grave, sendo assim, a incidencia do art 15 afasta o art.
132 do codigo penal.

Omissao de socorro:

5
Nucci pg658
Art. 135 – Deixar de prestar assistencia quando possivel faze-lo sem risco
pessoal a crianca abandonada ou extraviada ou a pessoa invalida ou ferida,
ao desamparo ou em grave e iminente perigo, ou nao pedir, nesses casos, o
socorro da autoridade publica.
Pena – detencao de 1 (um) a 6 (seis) meses, ou multa.
Paragrafo unico: A pena e aumentada de ½ (metade), se da omissao resulta
lesao corporal de natureza grave, e triplicada, se resulta a morte

Nesse caso, e importante ressaltar que quem nao comunica a autoridade


uma ocorrencia que demande sua pronta interferencia esta, tambem,
omitindo socorro.

O elemento subjetivo do tipo do tipo e o dolo de perigo. Nao ha elemento


subjetivo especifico e nem se pune a forma culposa. Quanto ao fator perigo,
ressalta Nucci que:

‘’ Nao se pode aceitar a posicao dos penalistas que sustentam serem de


perigo abstrato todas as figuras deste tipo penal, exceto aquela concernente
a pessoa em ‘grave e iminente perigo’, que seria perigo concreto. Cremos
que todas as formas deste tipo penal espelham situacoes de perigo concreto,
que se exige seja devidamente investigado e provado. Nao e qualquer
crianca abandonada ou extraviada que esta em perigo – ainda que se trate
de infante superprotegido pela familia. Pode ocorrer, o que nao e raro nos
dias atuais, que a crianca, pela sua propria vivacidade, nao encontrando
imediato socorro de terceiros, encontre, sozinha, o caminho de sua casa ou
do local onde se encontram seus pais. Nesa situacao, ainda que esteja,
inicialmente, perdida, por exemplo, salvou-se sozinha e nenhum perigo
concreto adveio. Punir quem lhe negou auxilio e pura responsabilidade penal
sem nexo com o resultado produzido, visto que nenhum risco ocorreu a sua
integridade. No mesmo caso estao os demais (invalido ou ferido) que tenha
encontrado meios de solucionar os seus respectivos problemas. Quando o
tipo penal faz nitida referencia a expressao ‘sem risco pessoal’ (que vale para
todas as situacoes), esta indicando que o perigo ha de se rconcreto, pois o
perigo presumido nem sempre espelha situacao de risco de dano iminente.
Alem disso, nao e por mero acaso que a lei iguala, no mesmo escudo
protetor, a crianca abandonada ou extraviada, a pessoa invalida ou ferida
desamparada e a pessoa saudavel em grave e iminente perigo. Ora, todos,
em ultima analise, estao no mesmo patamar: precisam sofrer algum perigo
cocreto.’

Por fim, ressalta-se que quando o perigo for causado por condutor de veiculo
automotor que deixa de socorrer a vitima, aplica-se o art. 304 do Codigo de
Transito Brasileiro.

Maus-tratos

Art. 136. Expor a perigo a vida ou a saude de pessoa sob sa autoridade,


guarda ou vigilancia, para fim de educacao, ensino, tratamento ou custodia,
quer privando-a de alimentacao ou cuidados indispensaveis, quer sujeitando-
a a trabalho excessivo ou inadequado, quer abusando de meios de correcao
ou disciplina:
Pena – detencao de 2 (dois) meses a 1 (um) ano, ou multa.

Paragrafo 1o Se do fato resulta lesao corporal de natureza grave


Pena – reclusao de 1 (um) a 4 (quatro) anos.

Paragrafo 2o Se resulta a morte:


Pena – reclusao de 4 (quatro) a 12 (doze) anos.

Paragrafo 3o Aumenta-se a pena de um terco, se o crime e preticado contra


pessoa menos de 14 (catorze) anos.

A doutrina classifica o delito como crime de perigo concreto, doloso, de forma


vinculada, plurissubsistente, nao transeunte, de acao multipla ou conteudo
variado.

O delito se consuma com a criacao de perigo para a vid aou saudo do sujeito
passivo, e deve ficar demonstrada no caso concreto. Segundo Bitencourt
‘ Trata-se de crime de perigo concreto, cuja ocorrencia deve ser comprovada,
sendo inadmissivel mera presuncao. A conduta descrita no art. 136 do CP
pretende punir quem coloca em risco a vida ou a saude de alguem
subordinado nas condicoes ali especificadas para uma daquelas finalidades`.

Aqui, a tentativa e possivel, em casos nos quais se possa concluir que o


agende deu inicio aos atos de execucao de um delito de maus-tratos, que
nao foi consumado por circunstancias diversas de sua vontade (tais como se
este foi impedido por terceiros).

O artigo referenciado admite apenas a modalidade dolosa, seja o dolo direto


ou eventual, de perigo ou de dano. Admite-se tanto a forma comissiva como
a omissiva – tendo como respectivos exemplos o abuso de meios de
correcao ou disciplina e a privacao de alimentos.

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