Você está na página 1de 5

Para incidência da qualificadora, portanto, é essencial que o animal seja de pro-

UNICESUMAR
dução; assim, o furto de animais, como cachorro e gato, não são tutelados por
essa qualificadora.
Por produção deve ser entendido não somente o comércio de carne animal,
mas, também, seus derivados destinados à alimentação humana, além de não
consumíveis, que tenham valor econômico, como ocorre com a ovelha, que é
subtraída para que dela se retire a lã (GRECO, 2017).
Entretanto se o animal de produção for furtado, mas não for usado para fins de
produção, mas como animal de estimação, não incidirá a presente qualificadora.

Furto de substâncias explosivas ou de acessórios

Esta qualificadora é uma recente inserção no Código Penal e, também foi incluí-
da pela Lei n. 13.654/2018(BRASIL, 2018). Portanto, trata-se da já mencionada
novatio legis in pejus, ou seja, seus efeitos serão produzidos apenas após a pro-
mulgação do referido parágrafo.
Substância explosiva é aquela capaz de provocar detonação, estrondo, em
razão da decomposição química associada ao violento deslocamento de gases
(GRECO, 2017).
A inserção deste dispositivo no Art.155 trouxe tanto controvérsia quanto a
inclusão do inciso §4º. Explica Rogério Sanches([2019], on-line)¹.:

““
Imaginemos, com efeito, que um grupo criminoso tenha adquirido
dinamite para em seguida empregá-la no furto de caixas eletrônicos em
uma agência bancária. A posse da dinamite deve ser imputada em con-
curso com o furto qualificado pelo emprego do artefato, ou este último
absorve o primeiro? A nosso ver, desde a edição da Lei 13.497/17 - que
tornou hediondo o crime do Art. 16 do Estatuto do Desarmamento -, é
inadequado aplicar o princípio da consunção para que o crime patri-
monial absorva o crime hediondo, razão pela qual devem ser aplicadas
as regras relativas ao concurso de delitos .

Assim, o objetivo desse parágrafo é trazer severidade aos crimes praticados com
acessórios explosivos ou similares, diante da gravidade e consequências que oca-
sionam na prática.
31
FURTO DE
UNIDADE 1

COISA COMUM

No Art. 156 do Código Penal(BRASIL, 1940), tem-se a conduta praticada entre


o condômino, co-herdeiro ou sócio. Caso algum destes furtar, para si ou para
outrem, coisa de quem, legitimamente, é responsável pela posse, a pena prevista
é de seis meses a dois anos ou multa.
Detalhe: condômino é o conjunto de proprietários que dividem o domínio
da mesma coisa com outras pessoas. Esses proprietários fazem uma reunião, me-
diante contrato, na qual consta a obrigação de combinar esforços ou bens, para
a consecução de objetivos comuns. Ela aproxima-se do condomínio, como se vê
do Art. 1.013 e 1.015 do Código Civil(BRASIL, 2002), em que cada sócio pode
servir-se das coisas pertencentes à sociedade, desde que lhes dê o seu destino,
isto é, conforme os interesses da sociedade. Distingue-se do condomínio porque,
neste, a destinação determina-se pelos costumes ou pela natureza das coisas, ao
passo que, na sociedade, ela é determinada pelo contrato. No condomínio, “o só-
cio pode usar de seu direito, não tolhendo aos outros exercício de direito igual”
(NORONHA, 2003. p. 241).
Ressalta-se que o Código Civil não define o que vem a ser a subtração de coisa
comum fungível, como móveis ou objetos que podem ser, facilmente, substituíveis
por outro da mesma espécie, cujo valor não exceda a quota que o agente tem direito.
O sócio é o membro de uma sociedade qualquer, definida pela reunião de
duas ou mais pessoas que, mediante contrato, obrigam-se a combinar seus esfor-
ços ou bens para a consecução de fins comuns. Por outro lado, haverá o delito em
32
estudo se a coisa for infungível, ou seja, a que não pode ser substituída por outra.

UNICESUMAR
No crime de furto comum, o sujeito ativo será, somente, o condômino, coer-
deiro ou sócio, ou seja, aqueles que compartilham a propriedade ou a posse da
coisa móvel. No mesmo sentido, o sujeito passivo poderá ser o condômino, o
coerdeiro, o sócio ou, ainda, um terceiro que detém legitimamente a coisa, com
exceção do agente (BARBOSA, 2017, on-line)1.
No crime de furto comum, a ação pública é condicionada, ou seja, procede-se,
somente, mediante representação do ofendido, pois é considerado uma infração
de menor potencial ofensivo sujeita às normas da Lei n.9.099/1995 - a Lei dos
Juizados Especiais(BRASIL, 1995).
Ademais, tendo em vista que o crime de furto comum trata-se de crime pró-
prio, as circunstâncias se comunicam em caso de concurso de pessoas. Assim,
caso um amigo me ajude a retirar a TV do prédio e levar até o meu apartamento,
responderá pelo crime de furto comum juntamente comigo.
O que caracteriza o crime de furto comum é o dolo, ou seja, a vontade livre
e consciente do agente agir com o fim de subtrair a coisa comum para si ou para
outrem. Além do dolo, o tipo penal exige, segundo a doutrina majoritária, um cha-
mado especial fim de agir, caracterizado pela expressão para si ou para outrem.

Tentativa e Consumação

A tentativa ocorrerá quando a coisa comum não chegar a sair da esfera de dis-
ponibilidade do ofendido por circunstâncias alheias à vontade do condômino,
herdeiro ou sócio. Exemplo: resido em um prédio e estou retirando uma TV,
que fica disponível na área de lazer, para minha residência, pois a minha parou
de funcionar, mas sou surpreendido por outro morador.
Em sentido oposto, consumação se dará quando a coisa comum sair da es-
fera de proteção do sujeito passivo. Passa o agente a ter posse tranquila da coisa
comum, ainda que por um curto período de tempo. Seguindo o mesmo exemplo,
o crime de furto comum teria se consumado caso eu tivesse conseguido retirar a
TV da disponibilidade comum e levado até minha residência, mesmo que, depois,
após análise das câmeras de segurança, constatarem que eu havia furtado a TV e
fossem até meu apartamento para pegar de volta. Mesmo com a posse temporária
do objeto, responderia pelo crime, pois estaria consumado.

33
CONSIDERAÇÕES FINAIS
UNIDADE 1

Buscou-se explanar, amplamente, o conceito do crime de furto, bem como


suas vertentes. Pudemos analisar os institutos da tentativa e consumação, que
são reflexos extremamente importantes à aplicação da pena quanto ao seu
cumprimento. Por óbvio, a definição e progressão de regime são determina-
dos pelo juízo ao julgar um processo envolvendo a referida prática delitiva.
Embora pareça irrelevante, o simples ato de furtar um veículo e trans-
portá-lo para outro Estado poderia trazer qualidades mais graves, como uma
majoração de pena. Da mesma forma, aplica-se a substâncias explosivas ou
outras características tipificadas no Código Penal.
A partir de uma análise político-criminal, é possível constatar que a majo-
ração de determinadas condutas tem dois fundamentos: o primeiro é quanto
à gravidade do ato praticado ou à finalidade nociva a que ele se destina. O
segundo é a reiterada prática, sendo a pena um instrumento de caráter pe-
dagógico, como uma forma de coibir a prática delitiva, garantindo, assim, a
ordem pública.
É importantefrisar que, para que a pena aos crimes abordados nesta uni-
dade sejam aplicados, é necessário que o agente delitivo preencha todos os
elementos do tipo penal, pois, do contrário, ficaria, apenas, no campo da ten-
tativa, o que, consequentemente, reduziria a pena entre um a dois terços.
Pode-se falar em aplicação da lei penal nos crimes de furto apenas quando
o agente chega ao menos a dar início à fase de execução de um crime, tendo
em vista que as fases anteriores - cogitação e preparação - não são puníveis.
O delito de furto é um dos mais corriqueiros na sociedade. Contudo o
crime de furto de objetos de uso comum, muitas vezes, passa despercebido
do cotidiano, tendo em vista que é praticado por pessoas próximas à vítima,
como herdeiro, condômino ou sócio. Em diversas ocasiões, inclusive, ele dei-
xa de chegar a conhecimento das autoridades policiais. Assim, é importante
que você tenha conhecimento acerca desse delito, para evitar que injustiças
se perpetuem em nossa sociedade.

34
na prática

1. Quando uma pessoa usa de meio para iludir outra e, com isso, prticar uma subtra-
ção, há a tipificação de uma conduta de:

a) furto qualificado pelo ardil.


b) furto simples.
c) furto qualificado pelo uso de técnica ou instrumentos.
d) furto simples - só há qualificação pelo repouso noturno.
e) furto simples - só se entende o uso de técnica ou ardil quando a conduta é pra-
ticada por mais de duas pessoas.

2. Para o entendimento de furto de semoventes, a lei penal trata os seguintes animais:

a) Animais selvagens e microorganismos.


b) Animais selvagens (répteis e mamíferos.)
c) Aves, gado, cavalos e outros animais desde que domesticáveis e de produção.
d) Animais e, por interpretação além, insetos (para fins de venda.)
e) Animais de produção penas.

3. Assinale a alternativa correta quanto ao furto de coisa comum (Art. 156, CP).

a) É um delito no qual a vítima é o proprietário, e, somente ele, da coisa.


b) A coisa, para haver este delito, deve ser comum, entendida como pertencente a
uma pessoa e, eventualmente, utilizada por outras pessoas.
c) A conduta não basta subtrair a coisa, mas vende-la, tirar proveito econômico
irregular ou ilícito.
d) Entende-se por coisa comum a coisa que pertence ao sujeito passivo e ao sujeito
ativo (casos de condomínio, herança e sociedade.)
e) A modalidade de furto (de coisa comum) é uma forma de furto qualificado.

35

Você também pode gostar