Você está na página 1de 16

UNIVERSIDADE PÚNGUÈ

DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS

CURSO DE LICENCIATURA EM DIREITO

2º Ano – Pós-laboral

Trabalho da cadeira de Direito Penal

EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA TEORIA DO CRIME

Chimoio, Julho de 2021


André António Ferro
Crizalda Cármen Estevão André
Ernesto Gabriel
Esmeralda Joaquim Guamba
Jaime Nhamposse

Tema: EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA TEORIA DO CRIME

Trabalho de caracter avaliativo a ser


apresentado no Departamento de
Ciências Sociais na cadeira de Direito
Penal, sob orientação do Docente
Leopoldo Pantie Manico.

Universidade Púngué

Chimoio, Julho de 2021


Índice
1.0. Introdução...............................................................................................................1
1.1. Objectivos...........................................................................................................1
1.1.1. Objectivo geral............................................................................................1
1.1.2. Objectivos específicos.................................................................................1
2.0. A EVOLUÇÃO HISTORICA DA TEORIA DO CRIME.....................................2
2.1. Conceitos de crime e contravenção....................................................................2
2.2. Elementos subjetivos do crime...........................................................................2
2.2.1. Culpa e Dolo................................................................................................3
2.3. Diferença no Código Penal entre os países.........................................................3
2.4. Teorias do crime.................................................................................................4
2.4.1. Teoria causalista..........................................................................................4
2.4.2. Teoria finalista.............................................................................................6
2.4.3. Teoria funcional...........................................................................................8
2.5. Aceitabilidade e terreno jurídico.........................................................................9
2.6.1. Legítima defesa...........................................................................................9
2.6.2. Inimputabilidade por idade..........................................................................9
2.6.3. Inimputabilidade pela condição mental.....................................................10
3.0. Conclusão.............................................................................................................11
4.0. Bibliografia...........................................................................................................12
1.0. Introdução

Os critérios de acusação são realistas e devem ser orientados pelos custos e benefícios
das sanções penais. Não se admite o emprego da lei penal a condutas que efetivamente
não representam dano social. O direito penal não pode ser usado para respeitar as ideias
morais, religiosas ou filosóficas. Em uma sociedade democrática e pluralista, os
criminosos precisam não só corresponder aos conceitos e valores do grupo legislativo,
mas também encontrar apoio no consenso geral.

Obviamente, uma das questões mais complexas da doutrina criminal é divulgar os


elementos comuns a um determinado episódio para declarar explicitamente um crime.
Na Teoria Geral da Criminologia, todos os advogados mais famosos e formados estão
interessados em estudar, compreender, verificar e interpretar aspectos comuns dos mais
diversos criminosos. Sem dúvida, a Teoria do Crime, é essencialmente abstrato e geral,
e certamente uma parte central do direito penal.

É importante ressaltar que a teoria do crime visa examinar os elementos que constituem
cada tipo de sintoma, com atenção especial ao tipo de crime, pois as teorias contribuem
para a demonstração de vontade e ação.

1.1. Objectivos
1.1.1. Objectivo geral

O principal objectivo do presente trabalho é de avaliar a Evolução da Teoria do Crime.

1.1.2. Objectivos específicos


 Identificar os conceitos de crime e contraversões;
 Caracterizar e descrever as teorias do crime;
 Mencionar e descrever os elementos subjectivos do crime;
 Falar da aceitabilidade e terreno jurídico.

1
2.0. A EVOLUÇÃO HISTORICA DA TEORIA DO CRIME
2.1. Conceitos de crime e contravenção

Em primeiro lugar, é fundamental definir o que é crime perante a lei. O crime é o acto
ilícito de maior gravidade, por ser amplamente prejudicial a outros indivíduos e à
sociedade (DA COSTA, 2007).

Em contrapartida, segundo da Costa (2007) “temos a contravenção penal, como um acto


ilegal de menor gravidade”. E segundo o artigo 14.º do Código Penal, é considera-se
contravenção o facto voluntário punível que unicamente consiste na violação ou na falta
de observância das disposições preventivas das leis e regulamentos, independentemente
de toda a intenção maléfica. Assim, a contravenção é punida com medidas mais
brandas, como multas e prisão simples, a chamada detenção. E o crime, além de multas,
é punido com medidas restritivas de liberdade, como:

 A reclusão, que é cumprida em penitenciárias (ao contrário da detenção, que é


cumprida em esquadras policiais);
 O regime semi-aberto, quando há restrição para sair da cidade, e o indivíduo
cumprindo pena pode trabalhar durante o dia, mas deve apresentar-se todas as
noites;
 O uso da tornozeleira eletrônica, que permite rastrear em tempo real o paradeiro
do autor de um crime.

Este último não se encontra no nosso país (Moçambique), pois essa medida em muito
vigente nos países desenvolvidos com capacidade para arcar com os custos do mesmo.
E vale salientar que no Código Penal moçambicano, há previsão de redução de pena
com o cumprimento de serviços comunitários, tanto para contravenções quanto para
crimes.

2.2. Elementos subjetivos do crime

Conforme mencionado anteriormente, para melhor compreender a teoria do crime, é


essencial construir conhecimento sobre os elementos subjetivos do crime: dolo (má
conduta intencional) e culpa (negligência) (DOS SANTOS T. C., 2019).

2
2.2.1. Culpa e Dolo

Segundo Cunha (2016, p.199) crime culposo “consiste numa conduta voluntária que
realiza um evento ilícito não querido ou aceito pelo agente, mas que lhe era previsível
ou excepcionalmente previsto e que podia ser evitado se empregasse a cautela
esperada”.

E o artigo 13.º do Código Penal, ilustra ainda que, age com negligência quem, por não
proceder com o cuidado a que, segundo as circunstâncias, está obrigado e de que é
capaz de representar como possível a realização de um facto que preenche um tipo de
crime, mas actuar sem se conformar com essa realização; ou não chegar sequer a
representar a possibilidade de realização de um facto que preenche um tipo de crime.

Dolo, conforme ensina Dos Santos em seu Dicionário Jurídico, é a “má-fé, logro,
fraude, astúcia, maquinação; consciência do autor de estar praticando ato contrário à lei
e aos bons costumes; intencionalidade do agente, que deseja o resultado criminoso ou
assume o risco de produzir” (2001, p. 85). E o artigo 12º do Código Penal fundamenta
ainda que age com dolo quem, representando um facto que preenche um tipo legal de
crime, actuar com intenção de o realizar.

Assim, de maneira simplificada, a culpa ocorre nas situações em que o autor do ilícito
não tinha a intenção de causar o facto compreendido como crime, e o dolo quando a
ação é cometida propositalmente. No entanto, já existe jurisprudência no sentido de
entender como dolo situações em que o autor deu causa ao ilícito por vontade própria,
ainda que indiretamente. Isso pode ocorrer, por exemplo, em crimes de trânsito.

Se um motorista embriagado causa um acidente com morte, embora não fosse sua
intenção matar, pode haver o entendimento de que houve dolo, pois ele assumiu as
consequências de fazer uma ação de alto risco. É o chamado dolo eventual (DOS
SANTOS, 2019).

O dolo e a culpa são considerados tipicidades subjetivas, assim como a imprudência, a


negligência e a imperícia.

2.3. Diferença no Código Penal entre os países

3
Ao contrário de Moçambique, alguns países adotam um terceiro conceito, além de crime
e contravenção, que é o delito. Essa concepção vem do Código Penal francês de 1791,
que tem base na Revolução Francesa e na Declaração de Direitos do Homem do
Cidadão (CAPEZ, 2011).

Nessa acepção, o que consideramos crime é dividido em dois grupos: os crimes que
atentam contra a vida, a dignidade e os direitos naturais do ser humano, e os delitos, que
são as infrações de alta gravidade, mas que se originam de contratos sociais, relações
comerciais entre outros.

Outros países que adotam somente os conceitos de crime e contravenção são Itália,
Alemanha e Portugal.

2.4. Teorias do crime

Após um breve estudo sobre os principais pontos do dolo e da culpa, finalmente passar-
se-á, neste tópico, a discorrer sobre as principais teorias da ação. Tais teorias buscam
definir a conduta penalmente relevante. Pois, segundo Dos Santos (2019) nas diferenças
entre os países, podemos observar três abordagens quanto aos factos do crime: a teoria
causal, a teoria finalista e teoria funcional.

2.4.1. Teoria causalista

Tendo surgido no início do século XIX, a teoria causalista foi elaborada por Franz von
Liszt, Ernst von Beling e Gustav Radbruch. Conforme ensina o professor Rogério
Cunha, esta teoria “faz parte de um panorama científico marcado pelos ideias
positivistas que, no âmbito científico, representavam a valorização do método
empregado pelas ciências naturais, reinando as leis da causalidade (relação de causa-
efeito) ” (2016, p. 178).

Sobre este momento da história, que foi um período em que o positivismo influenciou
significativamente nas ciências penais, expõe Juan Ferré Olivé, Miguel Nunez Paz,
William Terra de Oliveira e Alexis Couto de Brito:

“O auge do positivismo nas ciências penais foi provocado por uma crise de
acontecimentos que se sucederam na Europa em meados do século XIX. As
transformações políticas, a Revolução Industrial e em geral a efervescência

4
social da época, intensificaram mudanças nas diversas ordens da vida.
Fomentaram-se os estudos científicos, porque se confiava na ciência como uma
espécie de tábua de salvação que permitiria ao ser humano evoluir superando
todas as suas penúrias. Mas o ponto de partida foi justamente reapresentar o
conceito de ciência, reservando-o para aquelas parcelas de conhecimento que
servissem ao progresso da humanidade. Deste ponto de vista, prevaleciam as
matemáticas e as ciências naturais, porque eram exatas e podiam ser observadas
pelos sentidos” citado por Cunha (2016, p. 178).

O crime, para o pensamento causalista, “não é uma estrutura lógico-objetiva


axiologicamente indesejável, ou seja, algo que qualquer pessoa normal considera mal e
pernicioso. Crime é aquilo que o legislador diz sê-lo e ponto final” (CAPEZ, 2011, p.
139). Percebe-se, então, que o crime, sob a ótica causalista, independe de elementos
externos à lei, concedendo-se, com isso, poderes extremos ao legislador. A visão
causalista vigorou nas ciências penais até meados do século XX, quando, então,
começou a perder cada vez mais espaço (CAPEZ, 2011, p. 138).

De acordo com a concepção causalista clássica, nos ensinamentos de Gulherme Nucci


(2011), a conduta é o movimento humano voluntário produtor de uma modificação no
mundo exterior. Nota-se que os defensores desta teoria eram intolerantes quanto aos
sentidos normativos, enaltecendo apenas as modificações externas.

A vontade, para a teoria causalista, é formada por dois aspectos: um externo, que é o
movimento corporal do agente; e um interno, que é a vontade de fazer ou não fazer.
Todavia, deve-se ressaltar que a vontade, aqui, não está ligada à finalidade do agente,
que será analisada somente na culpabilidade. (CUNHA, 2016, p.178).

Para teoria causalista, o dolo e a culpa não se situam na conduta, mas sim na
culpabilidade. Nas palavras de Nucci (2011, p.205) “para essa visão [causalista], não se
inclui a finalidade na sua conceituação, pois é objeto de estudo no contexto da
culpabilidade, em que se situa o elemento subjetivo do crime (dolo e culpa)”.

Assim, é possível que, sob a ótica causalista, haja conduta e, consequentemente, um


facto típico mesmo na ausência de dolo ou culpa, uma vez que, como já exposto
anteriormente, estes só serão analisados na culpabilidade, que é o terceiro elemento no
conceito analítico do crime.

5
Por fim, vale mencionar que esta visão causalista clássica foi alvo de inúmeras críticas,
como bem expõe o professor NUCCI (2011), a concepção clássica recebeu inúmeras
críticas no que diz respeito ao conceito de ação por ela proposto, puramente natural,
uma vez que, embora conseguisse explicar a ação em sentido estrito, não conseguia
solucionar o problema da omissão.

Diante dessas críticas, foi inevitável que a concepção causalista clássica de conduta
evoluísse para uma mais elaborada, que conseguisse tratar também da conduta omissiva.

E assim, vale ressaltar que os sistemas penais que adotam a teoria causal consideram
que o ilícito é absoluto, ou seja, a única coisa a ser levada em conta é o resultado das
ações praticadas.

No caso de um homicídio, por exemplo, os únicos fatores que importam são que um
indivíduo cometeu determinada ação e que um segundo indivíduo foi levado a óbito em
decorrência daquela ação.

Se o resultado de uma ação ocasiona algo considerado ilegal no país, conclui-se que foi
cometido um crime, sem que nenhum outro critério seja avaliado.

2.4.2. Teoria finalista

Abandonando de vez a concepção causalista, foi desenvolvida a teoria finalista, que


promoveu uma grande evolução na análise da conduta e dos demais elementos do crime.
Sobre a teoria finalista, expõe o professor Rogério Sanches Cunha:

“Criada por Hans Welzel em meados do século XX (1930-1960), a teoria


finalista concebe a conduta como comportamento humano voluntário
psiquicamente dirigido a um fim. A finalidade, portanto, é a nota distintiva entre
esta teoria e as que lhe antecedem. É ela que transformará a ação num ato de
vontade com conteúdo, ao partir da premissa de que toda conduta é orientada por
um querer. Supera-se, com esta noção, a “cegueira” do causalismo, já que o
finalismo é nitidamente ‘vidente’” (2016, p. 182 e 183).

De acordo com a concepção finalista, o dolo e a culpa deixam a culpabilidade e passam


a integrar a própria conduta. Dessa forma, os elementos subjectivos são analisados já no
fato típico. Isso significa que, caso não haja dolo ou culpa, o fato será atípico por

6
ausência de conduta. Nesse sentido, ensina Capez (2011) que diferenciou-se a finalidade
da causalidade, para, em seguida, concluir-se que não existe conduta típica sem vontade
e finalidade, e que não é possível separar o dolo e a culpa da conduta típica, como se
fossem fenômenos distintos.

Assim, tem-se que, sob a ótica finalista, a conduta típica deve, necessariamente, estar
revestida de uma finalidade, diferentemente do que sustentava a concepção causal, que
analisava, na conduta, a mera relação de causa-efeito.

Quanto a essa finalidade, ela pode ser tanto ilícita quanto lícita. Será ilícita nos casos de
crimes dolosos, v.g., quando o agente praticar a conduta com a intenção de cometer o
crime. Por outro lado, o fato poderá ser típico ainda que a finalidade da conduta seja
lícitas, que são as hipóteses de crimes culposos, isto é, quando agir com negligência,
imprudência ou imperícia (GRECO, 2014, p. 157). Nesse mesmo sentido:

“Se, num crime doloso, a finalidade da conduta não esteja dirigida ao resultado
lesivo, o agente pratica ato típico, por não ter levado em conta, no seu
comportamento, os cuidados necessários para evitar o fato. Para a teoria
finalista, se o agente aperta o gatilho voluntariamente e atinge uma pessoa que
vem a morrer, somente terá praticado um fato típico se tinha, como finalidade,
tal resultado, ou se assumiu, conscientemente, o risco de produzi-lo (homicídio
doloso), ou se não tomou as cautelas necessárias ao manejo da arma (homicídio
culposo)” (ACQUAVIVA, 2011, p. 833).

Diante disso, pode se dizer que, para a teoria finalista, conduta “é a ação ou omissão,
voluntária e consciente, implicando em um comando de movimentação ou inércia do
corpo humano, voltado a uma finalidade” (NUCCI, 2011, p. 204).

Pois, esta teoria é utilizada pela maioria dos países hoje em dia, inclusive o
Moçambique. A teoria finalista leva em conta as motivações, a existência ou não de
dolo, os agravantes e os atenuantes da ação ilícita.

Apesar de a teoria finalista ser mais humanizada, os seus críticos apontam que ela causa
maior lentidão no sistema penal devido à avaliação caso a caso.

7
2.4.3. Teoria funcional

A teoria funcionalista ganhou força na década de 70, especialmente na Alemanha, e que


busca compatibilizar a dogmática penal extremamente formalista com as funções do
Direito Penal (CUNHA, 2016, p.186).

Para o professor Fernando Capez, a teoria funcional não é uma teoria da conduta, pois
tem como objecto a finalidade do Direito Penal (2011, p. 156 e 157). Todavia, ela é
analisada pela doutrina juntamente com as demais teorias da ação, tendo em vista que
afeta diretamente o conceito de conduta. Conforme ensina o professor Rogério Sanches
Cunha, para esta teoria, a conduta “deve ser compreendida de acordo com a missão
conferida ao Direito Penal” (2016, p. 186).

A teoria funcional se subdivide em duas correntes:

a) Funcionalismo teleológico, dualista, moderado ou da política criminal; e


b) Funcionalismo radical, sistêmico ou monista.

O funcionalismo teleológico, como o próprio nome já remete, sustenta que o sistema


penal deve ser organizado de forma a possibilitar que suas finalidades sejam atendidas.

Pois, Segundo Capez (2011) a função maior do direito penal é a de proteger a


sociedade, de modo que todas as soluções dogmáticas incompatíveis com tal escopo
devem ser afastadas, mantendo-se apenas as de ordem político-criminal. A finalidade
reitora é extraída do contexto social e visa a propiciar a melhor forma de convivência
entre os indivíduos.

Com isso, de acordo com essa primeira corrente, a conduta deve ser entendida como
“comportamento humano voluntário, causador de relevante e intolerável lesão ou perigo
de lesão ao bem jurídico tutelado pela norma penal” (CUNHA, 2016, p. 187). Em outras
palavras, não basta a tipicidade formal, devendo haver também a lesão ou perigo de
lesão ao bem jurídico protegido.

O funcionalismo sistêmico, portanto, repousa sua preocupação na higidez das normas


estabelecidas para a regulação das relações sociais. Assim, havendo frustração da norma

8
pela conduta do agente, impõe-se a sanção penal, uma vez que a missão do direito penal
é assegurar a vigência do sistema” (CUNHA, 2016, p. 187).

2.5. Aceitabilidade e terreno jurídico

Na Teoria do Crime, a aceitabilidade de conduta e a observação do terreno jurídico são


duas das mais importantes tipicidades objectivas. Pois na hora de definir a gravidade de
um ato ilícito, deve-se levar em conta, em primeiro lugar, o terreno jurídico (DOS
SANTOS, 2019). Isso significa que, se foi cometido um ato ilegal devido a uma
situação excepcional, ela deve ser levada em conta.

Por exemplo, se um indivíduo comete uma infração de trânsito pela urgência de dirigir-
se a um hospital, e sua infração (excesso de velocidade, por exemplo) não faz nenhuma
vítima, não é razoável puni-lo com a mesma severidade que seria o usual.

Da mesma forma, vislumbramos a aceitabilidade social: em esportes, há certo grau de


violência que é considerado normal. Porém, essas mesmas atitudes, se ocorressem na
rua, poderiam ser um crime ou contravenção.

2.6. Exceções à ilicitude

Na teoria finalista, existem algumas circunstâncias pelas quais, apesar do ilícito, pode
haver absolvição total do réu. Vejamos a seguir quais são as principais (DOS SANTOS,
2019):

2.6.1. Legítima defesa

Quando o autor do ilícito usou força proporcional para defender-se, evitando ser vítima
de outro crime. É importante frisar que o conceito de força proporcional é subjectivo,
cabendo ao julgador designado dar o seu entendimento conforme como vem descrito no
artigo 185.º do Código Penal.

2.6.2. Inimputabilidade por idade

Quando o autor do ilícito é menor de idade, em Moçambique ele é considerado incapaz


de responder pelos seus actos. Pois, segundo o artigo 131.º do Código Penal, no seu
número 3 defende que os menores de 16 anos de idade estão sujeitos à jurisdição dos

9
tribunais de menores e, em relação a eles, só podem ser tomadas medidas de assistência,
educação ou correcção previstas na legislação especial.

Porem, vale salientar que, alguns países, podem responder criminalmente menores de
idade que tenham cometido crimes hediondos. Em outros, a idade mínima para todos os
crimes é 16 anos. Há também lugares onde não há maioridade penal.

2.6.3. Inimputabilidade pela condição mental

Se há diagnóstico e laudo no sentido de atribuir doença mental incapacitante ao autor de


um crime ou contravenção, segundo o artigo 50.º do Código Penal ele pode ser eximido
de responder pelo crime, como aconteceria normalmente.

Nesse caso, é determinada a internação do indivíduo em instituição para tratamento de


transtornos mentais e, às vezes, a interdição, ou seja, ele não pode mais responder
legalmente pelos seus atos, devendo ter um representante para todos os atos da vida
social e jurídica.

10
3.0. Conclusão

Como vimos no tópico anterior, esta pesquisa buscava compreender cada uma das
principais teorias do comportamento. Mais especificamente, essas são as definições que
as pessoas têm de actividade criminosa. É claro que todas as teorias apresentadas
aplicam a tríade de conceitos de análise criminal. Assim, o crime é conceituado como
uma prática típica ilegal e negligente. Porém, mesmo que a estrutura criminal seja a
mesma, os componentes de cada um desses factores podem ser substituídos. Eles
merecem ser discutidos neste estudo, pois as principais mudanças decorrem
inevitavelmente da intenção e da culpa.

A primeira teoria estudada, a causalidade, afirma que a malícia e a culpa não fazem
parte do comportamento, de forma que mesmo que o sujeito aja sem um fator objectivo,
os eventos podem ser típicos. De acordo com essa teoria, a intenção e a culpa são
analisadas apenas na área de responsabilidade. Ou seja, depois que os eventos se
tornaram típicos e ilegais. Por privilégio causal, a teoria causal não pode explicar a
crítica principal do sofrimento, a inação.

Sendo a teoria adotada pelo Código Penal moçambicano vigente, a teoria finalista
revolucionou o conceito de conduta. Isso se deve, principalmente, ao facto de deslocar
os elementos subjectivos (dolo e culpa) para a conduta, que por sua vez integra o facto
típico. Com isso, sob a ótica finalista, o sujeito que age sem dolo ou culpa não pratica
uma conduta penalmente relevante, sendo, portanto, o fato considerado atípico.

Por fim, analisou-se a teoria funcionalista, que, assim como a anterior, critica o
formalismo da teoria finalista. Porém, para os defensores desta teoria, diferentemente da
teoria da adequação social, para que haja conduta é imprescindível que se considere a
finalidade, a missão, a função, do Direito Penal. Para uma primeira corrente, essa
finalidade seria a tutela de bens jurídicos relevantes, enquanto para outra seria a
assegurar a vigência do sistema penal (corrente teleológica e corrente sistêmica,
respectivamente).

Considerando tudo isso, à medida que cada teoria se desenvolve, as principais


contradições entre cada teoria podem ser observadas de forma clara e directa. Também é

11
possível examinar a relevância de cada contribuição para a análise comportamental e o
assunto para a investigação do direito penal.

12
4.0. Bibliografia

ACQUAVIVA, M. C. (2011). Dicionário Jurídico Acquaviva (5 ed.). São Paulo:


Rideel.

CAPEZ, F. (2011). Curso de Direito Penal: parte geral. (15 ed., Vol. I). São Paulo:
Saraiva.

CUNHA, R. S. (2016). Manual de Direito Penal: parte geral (4 ed.). Salvador:


JusPODIVM.

DA COSTA, K. M. (2007). A EVOLUÇÃO DA TEORIA GERAL DO DELITO. Brasília:


DF.

DOS SANTOS, T. C. (2019). Teorias da Ação: a evolução das diferentes concepções


de conduta. Obtido em 13 de Julho de 2021, de Ambito Juridico:
https://ambitojuridico.com.br/cadernos/direito-penal/teorias-da-acao-a-evolucao-
das-diferentes-concepcoes-de-conduta/

DOS SANTOS, W. (2001). Dicionário Jurídico. Belo Horizonte: Del Rey.

MOCAMBIQUE, ASSEMBLEIA DA REPUBLICA DE. (2019). BOLETIM DA


REPÚBLICA: Lei de revisão do Código de Processo Penal, Lei n.º 25/2019 de
26 de Dezembro. Maputo: IMPRENSA NACIONAL DE MOÇAMBIQUE, E.P.

NUCCI, G. d. (2011). Manual de Direito Penal: parte geral e parte especial (7 ed.).
São Paulo: Editora Revista dos Tribunais.

13

Você também pode gostar