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Apontamentos Ano Passado

Direito Penal I (Universidade Portucalense Infante D. Henrique)

A Studocu não é patrocinada ou endossada por alguma faculdade ou universidade


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Ana Margarida de Almeida – Direito Penal I

Conteúdo
Direito Penal.................................................................................................................................2
Definição e designação.............................................................................................................2
Qual é a finalidade do direito penal?.......................................................................................2
O que é o Direito Penal?...........................................................................................................2
O que são crimes públicos e semipúblicos?.........................................................................3
Direito penal vs constitucional.................................................................................................4
Direito Penal objetivo vs Direito Penal subjetivo......................................................................4
Como são definidos os crimes?................................................................................................5
Direito Penal em sentido formal...............................................................................................5
Princípios do Direito Penal.......................................................................................................6
Princípio da unidade da ordem jurídica................................................................................6
Principio da fragmentaridade penal – 1º grau e 2º grau......................................................6
Legitimidade material da incriminação (artigo 18º/2CRP) – conceito material de crime.........7
Porquê que a lei penal precisa de estabilidade?.......................................................................8
Penas/sanções = consequências jurídico criminais...................................................................8
Medidas de segurança..............................................................................................................9
Fins das penas – artg. 40ºCP..................................................................................................12
A pena como instrumento de prevenção geral vs especial.....................................................14
Finalidades da medida de segurança......................................................................................16
Duração máxima das Penas e Medidas de Segurança............................................................17
Penas relativamente indeterminadas e Vicariato na execução...............................................17
Vicariato na execução – artigo 99ºCP.................................................................................18
Pena Relativamente Indeterminada – artg. 83º e ss CP......................................................19
Direito Penal e Direito de Mera Ordenação Social.................................................................21
Princípio da legalidade criminal – artg. 1º do CP + 29ºCRP....................................................24
Aplicação da lei no tempo......................................................................................................27
Aplicação da lei penal no espaço............................................................................................30
CASOS PRÁTICOS........................................................................................................................36
Vicariato na execução e PRI....................................................................................................36
Aplicação da lei penal no tempo............................................................................................47
Aplicação da lei penal no espaço............................................................................................56

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Ana Margarida de Almeida – Direito Penal I

Direito Penal
Definição e designação

É o conjunto de normas jurídicas que ligam a certos comportamentos humanos, nomeadamente


os crimes, consequências jurídicas especificas. A mais importante destas consequências é a
pena, que só pode ser aplicada ao agente que tenha atuado com culpa.

Ao lado da pena o direito penal prevê consequências jurídicas de outro tipo, nomeadamente as
medidas de segurança, as quais não supõem a culpa do agente, mas antes a sua perigosidade.
Assim, as medidas de segurança ligam-se a comportamentos levados a cabo sem culpa, ou em
todo o caso independentemente da consideração dela.

Qual é a finalidade do direito penal?

A finalidade do direito penal é a proteção subsidiária dos bens jurídicos essenciais (ex.
direito à vida).

Trata-se de uma proteção especial , uma vez que o direito penal só intervém quando os outros
ordenamentos jurídicos não são capazes de resolver o problema em questão.

Sendo assim, o direito penal é um direito de ultima ratio / subsidiário / atua em último lugar.

Muitos autores chamam ao direito penal uma normativa lacunosa e imperfeita – porque não
consegue proteger todos os bens jurídicos.

Art. 272º e ss CP – Crimes de perigo comum

São crimes suscetíveis de afetar bens jurídicos de diversas naturezas, quer em qualidade quer
em quantidade. Ex. crime de incendio.

O que é o Direito Penal?

É um ramo de direito público, cabendo ao Estado a aplicação da sanção e não aos privados.

Trata-se de uma relação triangular :

1ºEstado : exercício do poder judicial (MP e Magistrado Judicial)

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Ana Margarida de Almeida – Direito Penal I

2ºAgente : não podemos julgar uma pessoa incerta

3ºVitima : em determinados crimes poderá ser difícil identificar a vitima ; em função do tipo de
crime a vitima está mais ou menos presente no processo.

O que são crimes públicos e semipúblicos?

Quando o preceito que prevê o tipo de crime nada refere, o crime em apreço é público; quando
se indica que o procedimento criminal “depende de queixa” estamos perante um crime semi-
público; quando a lei refere que o procedimento criminal depende de “acusação particular”
[além da queixa], o crime é particular.

Crime público é um crime para cujo procedimento basta a sua notícia pelas autoridades
judiciárias ou policiais, bem como a denúncia facultativa de qualquer pessoa.
Basta a noticia dos crime para que o MP avance.
Nos crimes públicos o processo corre mesmo contra a vontade do titular dos interesses
ofendidos.

Crime semipúblico é um crime para cujo procedimento é necessária a queixa da pessoa com
legitimidade para a exercer (por norma o ofendido ou seu representante legal ou sucessor).
As entidades policiais e funcionários públicos são obrigados a denunciar esses crimes, sem
embargo de se tornar necessário que os titulares do direito de queixa exerçam tempestivamente
o respetivo direito (sem o que não se abrirá inquérito).
Nos crimes semipúblicos é admissível a desistência da queixa.

Crime particular é um crime cujo procedimento depende da prévia constituição como assistente
da pessoa com legitimidade para tal (normalmente o ofendido com a prática do crime, ou seu
representante ou sucessor) e da oportuna dedução da acusação particular por essa pessoa.
Os mais divulgados são os crimes contra a honra (injúria e difamação, bem como alguns crimes
contra a propriedade entre pessoas com laços de parentesco próximo).

Consoante o tipo de crime temos uma maior ou menor evidência do caráter público do direito
penal.
Apesar do que foi dito, o legislador aplica também a legitima defesa, que acaba por ser uma
proteção privada.

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Direito penal vs constitucional


Existem coisas protegidas na CRP que não são diretamente refletidas
no direito Penal, como por ex. a CRP tem um artigo que protege a Direito penal
terceira idade, e no CP quem comete crime de violação contra alguém
- Substantivo: trata-se da
da terceira idade tem pena agravada. Assim, o d. penal protege a 3ª parte geral , define as
idade, não com um artigo especifico, mas deste modo. penas, os pressupostos, os
crimes…etc…

- Adjetivo: é o processo
Direito Penal objetivo vs Direito Penal através do qual comprovo
subjetivo que a pessoa é o agente e
como se aplica a sanção
(d. processual penal)
 Objetivo (regra): conjunto de normas jurídicas , presentes no
- Execução das penas:
código penal e legislação avulsa , que liga determinados
trata o problema das
comportamentos humanos (crimes) a determinadas pessoas que já estão
consequências jurídicas , que se chamam penas. presas.
No entanto há uma exceção, isto porque os pressupostos do - Criminologia : trata de
crime são a tipicidade, ilicitude, culpa e punibilidade, mas por estudos contabilísticos.

vezes existem casos em que o agente pratica um facto


qualificado na lei como crime, mas pratica-o sem culpa, como
por exemplo no caso dos inimputáveis.

A inimputabilidade pode ser em razão da idade (ex. menor de 18 anos) ou devido a


anomalia psíquica (ex. cleptomaníaco, é inimputável para o crime de furto, mas não é
porque tem doença mental que pode praticar qualquer crime, até porque no caso do
cleptomaníaco, já não é considerado inimputável se cometer crime de homicídio.
Artigo 20ºCP) A inimputabilidade poderá ser originaria, no caso de o sujeito já nascer
com a mesma, ou adquirida, no caso de o sujeito a adquirir ao longo da sua vida. É de
ter também em atenção que o facto de o sujeito ser considerado inimputável em
determinado momento da sua vida, não significa que o seja para sempre. Artigo 74º CP
No caso da inimputabilidade, a perigosidade do agente consiste na prova em tribunal de
que o agente, devido à sua inimputabilidade, tem seria probabilidade de cometer outros
atos ilícitos .

 Subjetivo : Direito de punir do Estado resultante da sua soberana competência para


considerar como crimes certos comportamentos humanos e ligar-lhes sanções
especificas. Pode afirmar-se que o direito penal objetivo é expressão ou emanação do
poder punitivo do Estado.

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Ana Margarida de Almeida – Direito Penal I

É a possibilidade de o Estado definir o que são crimes e as penas para esse mesmo
crime. (IUS PUNIENDI- prorrogativa que o Estado tem de sancionar, ou seja de definir
o que é crime e qual a pena a aplicar.)

Como são definidos os crimes?

O Direito criminal defende o que é um bem essencial para a nossa sociedade. Os bens
essenciais presentes na constituição, são defendidos pelo legislador no direito penal.

(O direito Penal não obedece só à CRP, pois tem alguma autonomia, mas em regra obedece-lhe)

(Referente constitucional – artg. 18º CRPortuguesa).

Cabe ao Estado escolher quais os bens mais importantes e a melhor forma de os proteger.

Direito Penal em sentido formal

Em sentido formal o direito penal é então constituído pelo conjunto de normas jurídicas que
definem os comportamentos humanos que o legislador considera criminosos e também as
respetivas molduras penais.

O direito penal compõe-se de uma parte geral, na qual se definem os pressupostos da aplicação
da lei penal, os elementos constitutivos do conceito de crime e as consequências gerais que da
realização de um crime derivam: as penas e medidas de segurança (contém normas genéricas
que podem ser aplicadas a todo e qualquer crime); e de uma parte especial, na qual se
estabelecem os crimes singulares e as consequências jurídicas que à prática de cada um deles
concretamente se ligam.

Norma incriminadora = norma que define o crime (tipo legal). Estas não preveem penas fixas,
uma vez que perante cada crime se aplica uma pena diferente, senão as penas seriam sempre
as mesmas.

Os crimes podem ser praticados por ação , quando o agente faz o contrário do que a lei permite,
ou por omissão, quando a lei prevê que o agente faça algo e ele não faz.

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Ana Margarida de Almeida – Direito Penal I

Princípios do Direito Penal

Princípio da unidade da ordem jurídica

O direito penal não se encontra nos mesmos patamares dos outros, pois em mais nenhum é
possível privar o direito à liberdade. (ex. o juiz aplica pena de multa, se não pago hã conversão
para pena de prisão).

Uma vez que este é o direito mais gravoso, pois a pessoa pode até ser presa, se algo é
considerado ilícito para o direito penal, todos os restantes ramos de direito irão ter de o
considerar ilícito. Já ao contrário o mesmo não acontece, por ex. conduzir com álcool de 1.1. é
ilícito mas não dá pena de prisão; celebro um ct promessa de compra e venda e fujo com o
dinheiro, não vou presa mas antes sou executada para que devolva o dinheiro.

O princípio da unidade da ordem jurídica significa que tudo o que é ilícito para o direito
penal é necessariamente ilícito para os restantes ramos de direito. Mas nem tudo o que
ilícito para os outros ramos do direito tem de ser proibido para o Direito Penal. 1

Princípio da fragmentaridade penal – 1º grau e 2º grau

Significa que nem todas as lesões a bens jurídicos protegidos devem ser tuteladas e punidas pelo
direito penal.

Fragmento é apenas a parte de um todo, razão pela qual o direito penal deve ser visto, no campo
dos atos ilícitos, como fragmentários, ou seja, deve ocupar-se das condutas mais graves,
verdadeiramente lesivas à vida em sociedade, passíveis de causar distúrbios de monta á
segurança pública e à liberdade.

Pode-se, ainda, falar em fragmentariedade de 1º grau e de 2º grau.

A primeira refere-se à forma consumada do delito, ou seja, quando o bem jurídico precisa ser
protegido na sua integralidade, como por ex. A agride B, é uma ofensa à integridade física que
precisa de ser protegida pelo direito penal.

A segunda trata-se das bagatelas nas ofensas dos bens jurídicos em que não faz sentido que o
direito penal intervenha , como por ex. vou a sair pela porta e magoo uma colega, ela não pode
abrir um processo crime por causa disso (ofensa à integridade fisica).

1 Por exemplo, sou senhoria e recebi um montante a título de renda, mas não permito o usufruto
a título de renda – isto é proibido no Direito Civil mas não se transporta para o Direito Penal.
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Legitimidade material da incriminação (artigo 18º/2CRP)


– conceito material de crime

1- Perspetiva positivista legalista


Tenta dar uma explicação à legitimidade material mas não consegue. Esta diz que ~e
crime tudo o que a lei disser que é crime.

2- Perspetiva positivista sociológica


Diz que o crime há-de corresponder ao que a sociedade considera comportamentos
danosos para a mesma. Mas o que acontece é que as condutas podem ser danosas , mas
podem não ser condutas criminosas, como por ex. mentir pode ser uma conduta com
efeitos sociais gravosos; ou não pagar uma divida pode ter uma conduta social gravosa,
mas não significa que seja criminosa.

3- Perspetiva moral social


Diz que tudo o que foge aos parâmetros da maioria podem ser incriminados, mas esta
permite que o estado criminalize o que entender. Ex. punição por adultério

4- Perspetiva racional: tutela subsidiária ou de “ultima ratio” dos bens jurídicos


Diz que o d. penal existe para proteger bens jurídicos que existem para que a sociedade
viva bem e em harmonia, sendo que o direito tem que os proteger. Aplica-se quando as
outras ordens jurídicas são insuficientes porque há milhares de ilícitos, mas só há alguns
ilícitos penais.
Quando já não é possível mais nada, o direito penal intervém, protegendo o que são
considerados como bens jurídicos essenciais, como por exemplo o d. a vida.
-Dignidade penal
Trata-se da conduta humana inqualificável/intolerável para a sociedade.
-Danosidade social
O dano causado à vitima , bem como às vitimas indiretas (todos nós), pois pode tornar a
sociedade insegura, por nos fazer sentir menos seguros, menos livres. Trata-se do
próprio choque que causa nas pessoas.
-Carência ou necessidade de tutela penal
Está preenchido quando chegamos à conclusão que sem a punição penal aquele bem
jurídico não consegue estar suficientemente protegido. Ex. a proteção à vida no c.civil
sem a proteção penal não ia estar bem protegida.

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Ana Margarida de Almeida – Direito Penal I

Porquê que a lei penal precisa de estabilidade?

Se a lei penal estiver em constante alteração, a certa altura já ninguém sabe das ilicitudes que
estão a praticar. Os crimes precisam de certa vigência para que as pessoas interiorizem aquela
conduta como sendo um crime (até para que esta informação passe de geração em geração).

Assim, o d. penal pode eventualmente sofrer alterações na medida do estritamente necessário.

Ex. bullyng - já há normas que o incriminam – não necessitamos de outra.

O direito deve ser de aplicação fácil para que seja eficiente.

Faz confusão que hajam duas normas relativamente ao mesmo facto. Até porque se acontece, as
soluções podem acabar por ser diferentes. Não vale apena criar normas para coisas que já estão
reguladas por lei.

“Ne bis in idem” – o agente não pode ser julgado mais do que uma vez perante o mesmo facto –
artg. 29º/5 CRP.

Penas/sanções = consequências jurídico criminais

Podem ser :

1- Pena prisão
2- Pena de multa
3- Medidas de segurança

Artigo 40º e ss CP

Para que seja aplicada uma pena , é necessária a culpa do agente. Esta pode ser dolosa (vontade
do agente) ou por negligencia (deriva da violação do dever de cuidado mas o agente não tinha
vontade de cometer o crime). No entanto, só na existência de culpa dolosa é que se aplicam
penas, a não ser que a lei se expresse de forma contrária quando aos crimes negligentes. (art.
13ºCP)

Para que estejamos perante um crime, é necessário que se verifiquem os seguintes elementos:

1- Ação humana (em sentido amplo) ou omissão humana;


2- Ilicitude – o facto tem de constituir um ilícito penal típico , pois caso não se encontre
tipificado na lei, chamamos de conduta atípica e não constitui crime;

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Ana Margarida de Almeida – Direito Penal I

3- Culpa – tem de se provar que o agente é culpado;


4- Punibilidade

Assim, a culpa é o pressuposto para a aplicação de uma pena, sendo que se a culpa não for
provada , não há pena. No entanto, pode o agente ser culpado e não haver pena, tal como
resulta do art. 74ºCP.

De acordo com o artg 70º, o tribunal dá preferência à pena de multa, mas apenas se esta for
suficiente (art. 47ºCP).

Ex.

No artg. 212ºCP, devemos ler “quem destruir, com dolo…” (art.13ºCP),


isto porque não está tipificado para a negligencia, presumimos que se
está tipificado terá de ser dolosamente. Assim, no caso do agente destruir
com negligencia, não comete um crime porque não está tipificado (trata-
se de conduta tipica).

A medida da pena determina-se de acordo com o art. 71º, sendo que o tribunal escolhe a
medida da pena dentro da moldura penal abstratamente prevista. (ex. al. f): se o agente tortura a
pessoa que mata iremos considerar que é uma pessoa fria, a pena será mais alta .)

Medidas de segurança

O tribunal aplica MS quando:

1-O agente é inimputável (menor de 16 anos, ou maior de 16 anos com anomalia psiquica);

2-A inimputabilidade tem de ser a causa determinante da prática do facto ilícito típico;

3-Perigosidade do agente , que advém da gravidade do facto praticado + natureza da


perturbação + fundado receio do cometimento de futuros factos da mesma espécie/natureza (art.
91º/1 CP)

Atenção às exceções dos artg 24º CRP + 30º e 30º/2 CRP

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Inimputáveis por anomalia psíquica – artg. 20ºCP

Um sujeito inimputável trata-se de um sujeito que não pode ser responsabilizado por um facto
punível por lei, por se considerar que não possui as faculdades mentais necessárias para avaliar
o ato quando o praticou. Esta pressupõe a falta de um destes elementos:

1- Discernimento
2- Vontade

A inimputabilidade pode ser originária (a pessoa já é assim desde nascença), ou adquirida


(quando adquire aquela anomalia ao longo da vida ou durante certo período na sua vida).

Assim, o d. penal dá-nos as medidas de segurança (art. 91º e ss), que são reações aplicadas a
pessoas que praticam factos qualificados na lei como crimes, mas que no caso delas não são
crimes por não serem praticados com culpa.

No caso das medidas de segurança, o pressuposto não é a culpa, mas antes a perigosidade do
agente. Esta consiste na prova em tribunal de que o agente, por causa da sua inimputabilidade
(anomalia psíquica) existe séria probabilidade de o agente cometer outros atos ilícitos iguais.

Deve ser apreciada a inimputabilidade do agente, bem como a gravidade


do ato ilícito praticado por este. NOTA: No caso dos
inimputáveis, estes
Art. 20º CP- Temos de ter em consideração o tipo de inimputabilidade
não praticam um
do agente, uma vez que no caso de um sujeito esquizofrénico que ouve
crime, mas antes um
vozes para que cometa um homicídio , e este rouba um carro, será crime.
facto ilícito tipificado
Isto porque a sua anomalia psíquica não justifica o facto de ter roubado o
no CP como crime.
veiculo, ou seja, não pode ser considera como uma desculpa para tudo.

Art. 20º/4 CP
Exemplo: o agente está preordenado a cometer crime, é imputável, e coloca-se em situação
de inimputabilidade para cometer o crime , pensando que não irá responder criminalmente
(ex. ingere substancias ilícitas.)
Art. 295º CP
Ex: Este art pune quem comete estas substancias e acaba por cometer facto ilícito típico,
não por ter planeado o crime, mas por ter cometido crime por estar em estado inimputável.
Ou seja, aqui ele não se coloca propositadamente em estado de inimputabilidade para
cometer o facto ilícito típico, mas por estar nesse estado acaba por o cometer.

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Inimputáveis por menoridade – artg. 19ºCP

 Até aos 12 anos de idade

Se o menor tiver menos de 12 anos, e comete um facto ilícito típico considerado no CP como
crime, ser-lhe-á aplicado o regime e proteção de menores, que tem como objetivo um sentido
reeducativo daquele menor, uma vez que se considera que é nesta idade que começamos a
definir a nossa personalidade, e desta forma tentam reeducar o menor.

 Entre os 12 e 16 anos de idade (incompletos)

Os sujeitos maiores de 16 anos de idade são imputáveis (16 anos já feitos na data do crime).

Se o sujeito for menor de 16 anos é inimputável, sendo que se pratica um facto ilícito típico, ser-
lhe-á aplicada a LEI TUTELAR EDUCATIVA (lei 166/99), e o seu caso será apreciado pelos
tribunais de família e menores. Esta tem uma finalidade educativa e não punitiva, sendo que se
baseia numa tentativa de recuperar o menor para a sociedade, sendo que no seu artg. 4º estão
elencados os castigos que poderão ser aplicados ao menor, do menos grave ao mais gravoso.

Os menores de 16 anos não praticam um crime porque não são suscetíveis de um juízo de
culpa (art. 1ºLTE).

 Entre os 16 e os 21 anos de idade (incompletos)


Nestes casos já não falamos de inimputabilidade, pois após os 16 anos os agentes já são
imputáveis quanto à prática de um crime.

É nesta faixa etária que a personalidade se está a moldar, o individuo está em formação ou a
tomar carreira ativa no trabalho , sendo esta uma fase importante para determinar o seu futuro.

A pena privativa de liberdade tem sempre efeitos negativos para o futuro destes jovens (ex.
podem ficar sem trabalho, sem apoio da família, sem namorada), tendo esta lei um carater
ressocializador).

O art. 4º do dl 401/82 de 23 setembro, prevê uma atenuação especial da pena (art. 72ºCP +
73ºCP), sendo que neste caso temos de ver se será mais benéfico atenuar a pena do jovem, ou
até se a pena é necessária.

Esta situação não é de aplicação automática, mas a possibilidade está prevista, sendo que o
tribunal tem de avaliar a situação em concreto.

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Fins das penas – artg. 40ºCP

Ao longo dos seculos a teoria da retribuição e a teoria da prevenção foram-se alternando.


Mesmo hoje em dia, há quem defenda finalidades diferentes para as penas, mesmo tendo em
conta o mesmo código penal.

Não há soluções melhores, há soluções diferentes.

Teoria Absoluta/ Ético-retributiva

Para quem a defende, a essência da pena criminal reside na retribuição, reparação ou


compensação do mal do crime e nesta essência se esgota. Ou seja, mesmo que a pena aplicada
desta forma assumisse efeitos socialmente relevantes, nenhum deles contenderia com a sua
essência/natureza, nem se revela suscetível de a mudar , pois a teoria absoluta visa a justa paga
do mal que com o crime se realizou, trata-se do justo equivalente do dano do facto e da
culpa do agente. Assim, a medida concreta da pena não pode ser encontrada em função de
outros pontos de vista, que não sejam o da correspondência entre a pena e o facto (Principio
do talião).

Esta teoria não será a aplicada por nós, uma vez que não é uma teoria dos fins da pena, pois visa
o contrário, ou seja, trata a pena como uma entidade independente de fins, não tendo na verdade
efeitos relevantes na e para a vida em comunidade.
A teoria absoluta assenta na ideia de que o delinquente deve sofrer uma pena equivalente ao mal
causado com a prática do crime. Trata-se de uma ideia de vingança, sendo que quem faz o mal,
recebe o mal proporcional à culpa do agente. Ex. pena de morte para quem mata
Aqui a aplicação da pena não visa um fim útil, apenas se aplica porque sim, sendo que a
sociedade não ganha nada com isto, porque não nos vamos sentir mais seguros. Assim a única
função é reprimir o acontecimento passado , castigando o agente, sendo esta a grande critica a
esta teoria.

Aqui a pena não ultrapassa a medida de culpa do agente , pois o agente recebe uma pena igual à
sua culpa. As teorias da retribuição contribuíram para o que é o principio da culpa.
Neste caso estamos perante o principio da bilateralidade da culpa, em que sempre que existe
culpa, existe pena, e a pena era decidida pela culpa.

A culpa é:

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1- Fundamento: a razão de ser (facto de o agente atuar com culpa)


2- Pressuposto: Só há pena quando há culpa do agente
3- Medida: a pena é exatamente igual ao grau de culpabilidade do agente
4- Limite: Nunca deve ser aplicada pena superior à culpa do agente.

Hoje em dia a culpa não é fundamento nem medida , é o pressuposto e limite. (Principio da
unilateralidade da culpa).

Teoria Relativa/utilitária

Contrariamente às teorias absolutas, as teorias relativas são teorias de fins. Estas também
reconhecem que, segundo a sua essência, a pena se traduz num mal para quem a sofre. Mas
como instrumento politico-criminal destinado a atuar no mundo, não pode bastar-se com essa
característica, sendo que, usa esse mal para alcançar a finalidade precípua de toda a politica-
criminal, a prevenção criminal. Isto significa que se relaciona com um fim social útil (para o
delinquente e para a sociedade)2.

Neste caso atua o principio da unilateralidade da culpa, em que a culpa é (art.40º/2):


1- Limite
2- Pressuposto

Neste caso não se pune para retribuir o mal causado. Não há pena sem que haja culpa, mas pode
haver culpa e não haver pena (art. 74ºCP), o que significa que a culpa não é medida da pena,
pois se assim fosse não poderia existir a dispensa de pena.

Assim, a culpa é o limite da pena , sendo que esta pode ser inferior ou até inexistente.

Ser condenado e dispensado da pena é diferente de ser absolvido da pena.


No primeiro caso, há prova de que é culpado, é condenado, mas dispensam a pena, ou seja, apesar
da culpa não é necessário o cumprimento da pena.
No segundo, não é condenado porque não se provou a culpa, logo não há pena.

2 A critica geral , proveniente dos adeptos das teorias absolutas, é a de que, aplicando-se as penas aos seres humanos em nome
de fins utilitários que pretendem alcançar no contexto social, eles transformariam a pessoa humana em objeto, dela se serviriam
para a realização de finalidades heterónomas e, neste medida, violariam a sua eminente dignidade – pois o homem não pode
nunca ser utilizado meramente como meio para os propósitos de outro e ser confundido com os objetos do direito das coisas
(Kant).

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O que é a culpa?
A culpa é o limite da pena, pois não pode ser aplicada uma pena superior ao grau de culpa, ou
seja, a pena pode ser mais baixa ou inexistente mas nunca maior; e é também o pressuposto da
pena porque sem culpa não há pena.

A pena como instrumento de prevenção geral vs especial

 Prevenção geral:
Destina-se a atuar (psiquicamente) sobre a generalidade dos membros da comunidade,
afastando-os da prática de crimes através da ameaça penal estatuída pela lei, da
realidade da sua aplicação e da efetividade da sua execução.

o Negativa:
A pena é concebida, como forma estatalmente acolhida de intimidação das
outras pessoas através do sofrimento que com ela se inflige ao delinquente e
cujo receio as conduzirá a não cometerem factos puníveis.
Trata-se da intimidação da comunidade que viu o agente a praticar o facto, para
que esta se abstenha de o praticar também.
Neste caso a pena maior ou menor não atende ao agente, mas antes ao tipo de
comunidade onde está inserido.
Ex. se é comunidade medrosa, a pena pode ser mais branda; já se a comunidade
for pior, a pena deve também ser pior.

o Positiva:
A pena é concebida como forma de que o Estado se serve para manter e reforçar
a confiança da comunidade (continuamos atentos à comunidade e não ao agente
em si) na validade e na força de vigência das suas normas de tutela de bens
jurídicos e, assim, no ordenamento jurídico penal (visa em último termo a
restauração da paz juridica). Destina-se a revelar perante a comunidade a
inquebrantabilidade da ordem jurídica , apesar de todas as violações que tenham
lugar e a reforçar, por esta via, os padrões de comportamento adequado as
normas.
Continuamos atentos à comunidade e não ao agente. Trata-se da integração da
norma jurídica violada no ordenamento jurídico (ex. se a norma for

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constantemente violada e não lhe é aplicada consequência, achamos que pode


ser violada. Assim, deve ser aplicada uma sanção sempre que for incumprida).
Trata-se da realização contra fática de valor da norma, ou seja, com uma pena
para aplicar aquele facto , damos mais valor à norma.

 Prevenção especial:
Têm em comum a ideia de que a pena é um instrumento de atuação preventiva sobre a
pessoa do delinquente com o fim de evitar que, no futuro, ele cometa novos crimes.
Deve falar-se de uma finalidade de prevenção de reincidência.

o Negativa:
Trata-se de alcançar um efeito de pura defesa social, através da separação ou
segregação do delinquente, assim procurando atingir-se a neutralização da sua
perigosidade social.
Ex. Fruteira – se alguém erra é como se se trata-se de fruta podre, ou a
mantemos junto à sociedade ou a isolamos para que se preserve a integridade da
sociedade.
Preserva a integridade da sociedade e do agente, embora este último
negativamente pois querem afastá-lo.
Não tem vocação positiva – por ex. prender as pessoas sem qualquer tipo de
convívio.

o Positiva/ ressocialização:
Em definitivo, do que deve tratar-se no efeito de prevenção especial é, bem
mais modestamente de – com respeito pelo modo de ser do delinquente, pelas
suas conceções sobre a vida e sobre o mundo, pela sua posição própria face aos
juízos de valor do ordenamento jurídico – criar as condições necessárias para
que ele possa , no futuro, continuar a viver a sua vida sem cometer crimes.
Neste último sentido, podendo afirmar-se com justeza de que a finalidade
preventivo-especial da pena se traduz na prevenção da reincidência.
Todas estas doutrinas se irmanam, todavia, no propósito de lograr a reinserção
social, a ressocialização do delinquente (ou em bom rigor: a inserção social, a
socialização, pois pode tratar-se de alguém que foi desde sempre um
dessocializado).
Aqui , a pessoa enreda no mundo da delinquência, mas tentamos ressocializá-
lo , sendo um direito do condenado e um dever do Estado.

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É preciso ter em especial atenção de que não podemos obrigar ninguém a


ressocializar-se mas, se o condenado o quiser, o Estado tem de proporcionar os
meios para a ressocialização (embora que na pratica não sejam dadas muitas
oportunidades aos condenados, pois são apenas depositados na prisão e perdem
a sua liberdade e outros direitos – privacidade , dignidade).

Segundo o art. 40ºCP, o legislador definiu:


- proteção dos bens jurídicos – teoria relativa geral positiva
-reintegração do agente – teoria relativa especial positiva

Finalidades da medida de segurança

As penas e as medidas de segurança são sanções penais distintas.


As medidas de segurança visam a finalidade genérica de prevenção do perigo de cometimento,
no futuro, de factos ilícitos típicos pelo agente. Estas podem ser privativas da liberdade
(internamento) ou não privativas de liberdade (art.100º e 101ºCP); se for possível o
tratamento em meio aberto, a lei dá preferência à MS não privativa da liberdade.

São por isso orientadas por uma finalidade de prevenção especial da repetição da prática de
factos ilícitos típicos, visando obstar, no interesse da segurança da vida comunitária , à prática
de factos ilícitos-tipicos futuros através de uma atuação especial-preventiva sobre o agente
perigoso. Esta prevenção ganha uma dupla função: por um lado a função de segurança e por
outro de socialização. (Prevenção especial positiva – para que o agente venha a integrar a
sociedade sem cometer factos ilícitos típicos).

Já é questão complexa saber qual destas duas funções deve assumir a primazia. Exato é que o
propósito socializador deve, sempre que possível, prevalecer sobre a finalidade de segurança, e
consequentemente, a segurança só pode constituir finalidade autónoma da medida de segurança
se e onde a socialização não se afigure possível. Até porque através da segurança como tal não
se torna possível lograr a socialização; enquanto esta, quando tenha lugar no quadro de uma
medida privativa da liberdade, arrasta consigo um elemento de segurança pelo tempo de
internamento respetivo.

No entanto, no artigo 91º/2 CP, verificamos uma situação de prevenção geral positiva, pois em
casos mais graves, mesmo que as exigências da prevenção especial sejam zero, cumpre no
mínimo três anos de internamento. (Neste art. a p. geral é mais importante que a p. especial,
porque se trata de uma situação tão grave que conduz o legislador a proteger a sociedade).

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Assim, na medida de segurança as finalidades de prevenção especial (socialização e segurança)


assumem um lugar dominante, não ficando todavia excluídas considerações de prevenção geral
de integração. Ou seja, as finalidades das medidas de segurança são iguais às das penas, mas em
sentido invertido, pois nas penas a prevenção especial positiva é secundária, enquanto que nas
MS é primária.

Duração máxima das Penas e Medidas de Segurança

De acordo com o artg. 41º/1, em regra, a pena de prisão tem a duração máxima de vinte anos,
sendo alargada para vinte e cinco anos nos casos previstos na lei.

Já a medida de segurança, em regra, não pode exceder o limite máximo da pena correspondente
ao tipo do crime cometido pelo inimputável, segundo o art. 92º/1CP, com exceção do nrº 3 do
mesmo art. que prevê que o limite nos casos referidos não existe.

Penas relativamente indeterminadas e Vicariato na


execução

As medidas de segurança são indispensáveis, fazendo-se isto sentir ao nível do tratamento


jurídico dos inimputáveis. Assim, quem comete um facto ilícito típico mas é inimputável –
incapaz de culpa – não pode ser sancionado com uma pena , mas se o facto praticado pelo
agente e a sua personalidade revelarem a existência de uma grave perigosidade, o sistema
sancionatório criminal não pode deixar de intervir, sob pena de ficarem por cumprir tarefas
essenciais de defesa social que a uma politica criminal racional e eficaz sem duvida incumbem.

Um outro nível – mais duvidoso – é o seguinte: mesmo que o facto ilícito típico tenha sido
praticado por um imputável (capaz de culpa), pode suceder que os princípios que presidem à
culpa e, por via desta, ao limite máximo de medida da pena, sejam insuficientes para ocorrer a
uma especial perigosidade resultante das particulares circunstâncias do facto ou da
personalidade do agente. Neste âmbito fica próxima a ideia de complementar a aplicação da
pena , limitada pela culpa, com a aplicação de uma medida de segurança dirigida à especial
perigosidade do agente.

Sistema monista: Se ao mesmo agente e pelo mesmo facto se aplica uma pena de prisão
(imputáveis) OU uma medida de segurança (inimputáveis).

Sistema dualista: Aplicação cumulativa ao mesmo agente, pelo mesmo facto, de uma pena E
uma medida de segurança.

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Pode um sistema ser considerado como dualista porque conhece , no seu arsenal sancionatório
criminal, não somente penas como medidas de segurança. Não é este porém, o entendimento
que deve estar em causa quando se afronta a questão monismo vs dualismo do sistema. Se este
conhece a existência de medidas de segurança, mas as aplica apenas a inimputáveis, bem pode
afirmar-se que nem por isso o sistema perde a sua característica monista. Aqui, a pena e a MS
têm os seus campos de aplicação a priori e diferentemente definidos, de tal modo que não existe
sobreposição entre eles. E não existe ainda mesmo quando ao mesmo agente possa aplicar-se
uma pena e uma medida de segurança, se bem que por factos diferentes.

No ordenamento jurídico Português somos tendencialmente monistas, porque o legislador


não permite que pelo mesmo facto se aplique uma pena e uma medida de segurança.

Vicariato na execução – artigo 99ºCP

É perfeitamente possível que, por ex., o agente de um crime de violação, a que se seguiu o
roubo da vitima, venha a ser declarado inimputável relativamente à violação (porque atuou sob
influencia de uma neurose grave, determinante de uma tara de natureza sexual), mas que já seja
considerado imputável relativamente ao roubo.
Caso em que lhe deverá ser aplicada uma pena pelo roubo e, eventualmente , uma medida de
segurança pela violação.

Ainda aqui o monismo do sistema não será afetado, porque não existe uma acumulação da
pena com a medida de segurança como formas de reação contra a criminalidade.
Aqui, ao mesmo agente será aplicado, relativamente a dois factos distintos, uma medida de
segurança de internamento e pena de prisão, devido a ter praticado um facto pelo qual é
considerado inimputável, e outro considerado como imputável , respetivamente.

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Exemplo: se o agente é condenado a 3 anos de MS internamento + 3 de pena de prisão,


segundo o artg.99º/1 , irá cumprir em primeiro lugar a MS e já não irá cumprir a pena de
prisão.
Exemplo: artigo 99º/2 CP

Internamento Prisão O que cumpre


3 3 3+0
ANOS 4 7 4 + 3 (0?)*
1 3 1 + 2 (1/2) ? *
5 2 5+0
*pode ser posto em liberdade se cumprir as exigências de
defesa do ordenamento jurídico e paz social

Exemplo: art. 99º/3 CP


Se o agente for condenado a 1 ano de internamento + 3 de pena de prisão , cumprirá 1 ano
internamento + ½ ou prestação de trabalho.

O Vicariato na execução não põe em causa o sistema monista porque é relativo a dois factos
distintos praticados pelo mesmo agente.

Pena Relativamente Indeterminada – artg. 83º e ss CP

A verdadeira dúvida entre o monismo e dualismo surge quando se pergunta se o sistema é um


tal que permite a aplicação cumulativa, ao mesmo agente, pelo mesmo facto, de uma pena e de
uma MS.
A PRI, do ponto de vista formal é uma pena, e do ponto de vista material é um misto entre pena
e medida de segurança. Estas surgiram da necessidade de sancionar as pessoas em função de
serem perigosas para a sociedade, por seguirem um percurso reiterante desviante.
Conforme se pode analisar nos artgs. 83º e ss CP, os agentes já cumpriram penas ao longo do
seu percurso, mas estas não serviram para cumprir o objetivo pretendido porque continuam a ser
delinquentes. Assim, a PRI irá aplicar-se a agentes perigosos imputáveis, delinquentes por
tendência, que persistam na vontade de delinquir.

Para que a PRI seja aplicada, devem ver-se cumpridos todos os pressupostos dos artg. 83º e ss,
não obstante ser reincidente. Assim, se não se mostrarem cumpridos os pressupostos, aplicar-se-
á o artg. 75ºCP.

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Esta tem um mínimo e um máximo definidos, mas entre estes não se sabe quantos anos o agente
vai cumprir, pois irá depender deste.

Artigo 83º regime geral


São requisitos cumulativos:
 Factos:
-1 crime doloso a que devesse aplicar-se prisão efetiva por mais de 2 anos
-ter cometido anteriormente: 2 ou mais crimes dolosos + todos com prisão efetiva por +
de 2 anos
 + Personalidade: o agente deve ter uma personalidade de delinquente por tendencia

A PRI trata-se de uma moldura, como por ex.:

Se a pena concreta é de 12 anos (determinada segundo o artg.71º), segundo o artg. 83ºCP:

Minimo = 2/3 da pena (12) = 8 anos


Máximo = (12) + 6 = 18 anos

Assim, o agente só sabe que no minimo tem de cumprir 8, e no máximo 18 anos. É em função
do seu comportamento que cumpre X número de anos.

Devemos ter em atenção que a moldura penal NÃO pode exceder os 25 anos no total.

No caso em concreto acima descrito, dos 8 até aos 12 anos (pena concreta) existe culpa (pois a
culpa é o limite da pena). E dos 12 aos 18, como se justifica?
O legislador diz que é devido à personalidade do agente , e não quanto à sua perigosidade. Se
fosse devido à sua perigosidade teriamos de dizer que eramos dualistas , porque ao mesmo
agente e por um só facto aplicariamos uma pena e uma medida de segurança, mas no sistema
portugues somos tendencialmente monistas, pois é a personalidade do agente que justifica o
aumento (12 aos 18 anos).
Assim, a PRI até aos 12 anos trata-se de uma pena (justifica-se com a culpa), e dos 12 aos 18 é
aplicada devido à personalidade do agente.

A PRI tem características de pena e MS, mas no nosso sistema não somos dualistas.
O que sucede é que, para contornar o dualismo, dizemos que a PRI se trata se um terceiro tipo
de reação criminal. (Penas ; MS; PRI).

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Somos tendencialmente monistas, e não monistas puros, porque as PRI são penas que não são
puras.

Artigo 84º CP
Pressupostos:
1- Crime doloso c/ prisão efetiva , independentemente do tempo.
2- + Anteriormente:
a. 4 ou + crimes dolosos cada um com pena de prisão efetiva
b. + personalidade delinquente por tendência

Ex.: se a pena concreta é de 12 e se verificam os restantes pressupostos:


Minima: 2/3 (12)= 8 anos
Máxima (12) + 4 = 16 anos

Artigo 85º CP
Pressupostos:

1-Agente tem de ter menos de 25 anos


2-Tem de ter cumprido pelo menos 1 ano de prisão
3-Devem estar reunidos os pressupostos dos artg.83º e 84º e será calculada a diferença

Direito Penal e Direito de Mera Ordenação Social

Direito penal primário, de justiça ou constitucional

Contém normas incriminadoras que protegem bens jurídicos que correspondem aos direitos ,
liberdades e garantias que estão previstos na CRP, como por ex. o direito à vida.

Onde o legislador constitucional aponte expressamente a necessidade de intervenção penal, para


tutela de bens jurídicos determinados, tem o legislador ordinário, de seguir esta injunção e
criminalizar os comportamentos respetivos.

Direito penal secundário

Contém normas incriminadoras que protegem bens jurídicos atinentes aos direitos económicos,
sociais e culturais previstos na CRP.

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Por ex. se forem violadas regras urbanísticas

A maioria destas normas não se encontram no CP, mas antes em legislação


avulsa/complementar. Estas não são tão importantes relativamente ao direito penal primário.

Nestes casos, desconhecendo a norma incriminadora , pode não haver acusação como culpados,
porque a norma pode ser recente e as pessoas ainda não a conhecem.

Ilícito de mera ordenação social ou contraordenacional

Por razões económicas , sociais , politicas e culturais bem conhecidas – que geraram as duas
Grandes Guerras – a administração transforma-se numa “administração conformadora”. No
Estado Social, as penas criminais apresentam-se como medidas coativas dotadas de particular
efetividade, tornando-se inevitável a tendência para as fazer intervir sempre que se julgava
necessário revestir os imperativos estaduais de uma particular força de vigência (mesmo os de
caráter administrativo). O legislador foi-se deixando seduzir pela ideia de pôr o aparato das
sanções criminais ao serviço dos mais diversos fins de politica social, dando enfâse ao
fenómeno da hipercriminalização e ao surgimento daquilo que se chamou o direito penal
administrativo.

Tal situação não podia persistir à luz de uma politica criminal como a dos nossos dias, que é
comandada pelo movimento da descriminalização. Assim, a consequência foi de se levar a cabo
uma distinção fundamental, no âmbito do direito penal administrativo:

 consoante as condutas por ele proibidas devessem ainda considerar-se relevantes à luz
de uma qualquer valoração prévia de caráter ético-social – manter-se-iam dentro do
domínio do direito penal, e na verdade, como constitutivas do que se veio a chamar de
direito penal secundário;
 ou, pelo contrário, devessem considerar-se ético-socialmente neutras, com a respetiva
ilicitude só constituída materialmente pela proibição – caso em que elas foram
retiradas para fora do direito penal e consideradas constitutivas de um ilícito
administrativo. Assim surgiram as contraordenações, que no seu conjunto,
conformavam o que passou a chamar-se o direito de mera ordenação social
(administrativo, não penal!).

Podemos dizer que , quando o direito penal se generaliza a todo e qualquer comportamento,
as pessoas deixam de dar tanta importância , acabando por perder o respeito pelo direito
penal. Este deve ser de ultima ratio. Assim, os ilícitos contraordenacionais surgiram do

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processo de descriminalização de certas condutas, mas foi entendido que estas deveriam ser
punidas de outra forma.

De natureza administrativa, atualmente, o direito de mera ordenação social encontra-se


consagrado no DL 433/82 de 27/10.

Serão raros os domínios da vida social e económica que escapam a uma regulação
contraordenacional.

Os fundamentos para a autonomização do direito de mera ordenação social e para a sua


consideração substancial como direito administrativo, antes que como direito penal,
permanecem intocados na sua essência: seja relacionado com a natureza do ilícito, com a
natureza da sanção, ou especificidades processuais.

Segundo o disposto no art 1º/1 do DL 433/82 : “constitui contraordenação todo o facto


ilícito e censurável que preencha um tipo legal no qual comine uma coima”. Assim, se o
legislador considera que um certo facto deve constituir uma contraordenação , tem
forçosamente de lhe aplicar como sanção: a coima.

Assim, a natureza da sanção das contraordenações é a coima, sendo esta uma sanção
exclusivamente patrimonial (art. 17º DL 433/82). Tal como na pena criminal, também na
coima o pensamento da retribuição não tem qualquer papel, pelo que em questão podem
estar as finalidades preventivas. Ao contrario da pena , a coima não se liga à personalidade
do agente e à sua atitude interna, antes serve como mera admonição , como reprimenda
relacionada com a observância de certas proibições ou imposições legislativas.

A falta de pagamento da coima tem como efeito a execução da soma devida (89º do DL), e
NUNCA a sua conversão em prisão subsidiaria (49ºCP).

Esta proibição , constitucional (27ºCRP), de sanções contraordenacionais privativas de


liberdade, constitui uma das traves estruturantes do direito de mera ordenação social
português, desde sempre salientada pelas doutrinas nacionais, com uma fundamental marca
de diferenciação face ao d. penal.

Podemos concluir que os ilícitos penais são mais gravosos que as contraordenações (ex.
conduzir embriegado é mais grave do que estacionar mal). No entanto o CP é de aplicação
subsidiária ao regime de MOS – artgs 32º + 41º

As diferenças entre d. penal e d. de mera ordenação social são:

 Quanto à sanção:

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- Penal:
Pena (juízo de censura/ética);
São os tribunais as entidades competentes para a aplicar;
Trata-se de uma multa – se não pago , converte-se em prisão subsidiária – artg.49ºCP

- DMOS:
Coima (neutralidade pois não se faz um juízo de valor sobre a forma como incumpriu a
norma);
São as entidades administrativas as competentes para as aplicar (ex.policia) , bem como
os tribunais;
A coima é de natureza meramente pecuniária – se não pago, e caso não tenha nada para
executar , não fico privada da liberdade.

 Aplicação da lei no espaço:

- Multa (Penal) :
Artg. 5ºCP
Em regra = territorialidade
Mas possui exceções

- Coima (DMOS) :
Artg. 4ºCP?
Território

 Responsabilidade das pessoas coletivas:

No D. Penal:
A responsabilidade é limitada – artg 11ºCP

No DMOS:
A responsabilidade é irrestrita , pois foi criado para responsabilizar as entidades
coletivas

Princípio da legalidade criminal – artg. 1º do CP +


29ºCRP

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“O principio NULLUM CRIMEN, NULLA POENA SINE LEGE”

O p. do Estado de Direito conduz a que a proteção dos direitos, liberdades e garantias seja
levada a cabo não apenas através do d.Penal, mas também perante o d.Penal. Isto porque a
eficaz prevenção do crime, que o d.Penal visa em último termo atingir, só pode pretender êxito
se à intervenção estadual forem levantados limites estritos, em nome da defesa dos direitos,
liberdades e garantias das pessoas, perante a possibilidade de uma intervenção estadual
arbitrária ou excessiva.

Assim, surge como forma de garantia dos cidadãos, para que quando fossem incriminados não o
fossem injustamente por não saberem que a conduta que cometeram se tratava de um crime.

Assim, a intervenção penal submete-se a um rigoroso principio da legalidade, cujo conteúdo


essencial se traduz em que não pode haver crime, nem pena que não resultem de uma lei prévia,
escrita, estrita e certa.

O p. da legalidade da intervenção penal tem vários fundamentos, de entre eles o facto de não se
poder esperar que a norma cumpra a sua função motivadora do comportamento da generalidade
dos cidadãos , se estes não puderem saber , através de lei anterior, escrita e certa, por onde passa
a fronteira que separa os comportamentos criminalmente puníveis ou não puníveis. Não seria
também legitimo dirigir a alguém censura por ter atuado de certa maneira se uma lei com
aquelas características não considerasse o comportamento respetivo como crime.

Isto significa que, por mais socialmente nocivo e reprovável que se afigure um comportamento,
tem o legislador de o considerar como crime – descrevendo-o e impondo-lhe como
consequência jurídica uma sanção criminal – para que ele possa ser punido. Esquecimentos ,
lacunas , deficiências de regulamentação ou redação funcionam por isso sempre contra o
legislador e a favor da liberdade , por mais que seja evidente que foi intenção daquele abranger
a punibilidade também certos comportamentos.

Desta forma, não há crime, nem medidas de segurança, sem lei prévia que o preja como tal.

A lei deve ser:

1- Prévia –Principio da irretroatividade da lei penal in malem partem


Art. 1º/1 CP + 1º/2 CP +29º nº1 a 4 CRP
Pode suceder que após a prática de um facto , que ao tempo não constituía crime, uma
lei nova o venha a criminalizar; ou sendo o facto já crime ao tempo da sua prática , uma

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lei nova venha a prever para ele uma pena mais grave (ex. pena de prisão quando era
pena de multa; ou prisão até 8 anos quando era somente até 5 anos).´
Assim, verifica-se a proibição da retroatividade em tudo quanto funcione in malem
partem, sendo que se satisfaz a exigência constitucional e legal de que só seja punido o
facto descrito e declarado passível de pena por lei anterior ao momento da prática do
facto.
Pressuposto de atuação do p. da irretroatividade é a determinação do momento da
prática do facto (art.3ºCP).
A consequência teórica do p. segundo o qual a proibição da retroatividade só vale contra
o agente e não a favor dele , consubstancia –se no p. da aplicação da lei mais favorável
ao agente (art. 29º/4 CRP + 2º/4CP).

2- Estrita – Principio da proibição do recurso a anologia in malem partem


Art. 1º/3 CP
Analogia trata-se da aplicação de uma regra jurídica a um caso concreto não regulado
pela lei, através de um argumento de semelhança substancial com os casos regulados.
Esta tem em direito penal de ser proibida , por força do conteúdo de sentido do
principio da legalidade , sempre que ele funcione contra o agente e vise servir a
fundamentação ou agravação da sua responsabilidade.
Desta forma, o legislador penal é obrigado a exprimir-se através de palavras. Assim, o
aplicador encontra-se inserido já no domínio da analogia proibida, sendo esta o limite
da interpretação admissível em direito penal.
Fundar ou agravar a responsabilidade do agente em uma qualquer base que caia fora do
quadro de significações possíveis das palavras da lei não limita o poder do Estado e não
defende os direitos, liberdades e garantias das pessoas.
A proibição da analogia vale relativamente a todos os elementos , quaisquer que seja a
natureza, que sirvam para fundamentar a responsabilidade ou para a agravar , a
proibição vale pois contra reum ou in malem partem, não favore reum ou in bonam
partem (analogia utilizada para atenuar ou excluir a responsabilidade criminal, ex. matar
em legitima defesa).
A analogia pode então ser utilizada? Depende se é “in bonem partem ou in malem
partem”.

3- Escrita – P. da reserva de lei formal


Art. 165/1 al. c) CRP
Neste plano, o p. conduz à exigência de lei formal: só uma lei da AR, ou por ela
competentemente autorizada pode definir o regime dos crimes, das penas e das medidas

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de segurança e seus pressupostos. Isto porque é ela que, em principio , representa a


comunidade a quem se dirige aquelas normas.
A AR legisla no sentido de abranger tanto a função de criminalização, como a de
descriminalização.
Assim, a AR é o órgão legislativo por excelência, e o Governo só o poderá fazer com
autorização legislativa.

4- Certa – P. da determinabilidade
Não tem fundamento legal, mas antes fundamenta-se na doutrina.
Importa que a descrição da matéria proibida e de todos os outros requisitos de que
dependa em concreto uma punição seja levada até a um ponto em que se tornem
objetivamente determináveis os comportamentos proibidos e sancionados.
Assim, o agente , através da lei, começa a entender o que é crime de forma clara.
Deste modo, se é inevitável que a formulação dos tipos legais não consiga renunciar à
utilização de conceitos indeterminados, é indispensável que a sua utilização não impeça
a determinabilidade objetiva das condutas, sendo que, sempre que possível estes
conceitos indeterminados devem ser abolidos , de modo a que os tipos legais
classificados como crimes sejam claros e precisos, para que não suscitem duvidas
(devem fazer as normas de forma a chegarem a todos , isto é, da forma mais clara
possivel).
Contudo, há certos crimes em que o legislador é mais vago, como por ex. art. 132ºCP,
pois se não utilizasse um conceito indeterminado, certas condutas que até são mais
graves do que as que estão aqui previstas cairiam no art. 131º , o que não é justo.

Aplicação da lei no tempo

O pressuposto de atuação do p. da irretroatividade é a determinação do momento da prática do


facto (“tempos delieti”) – artg. 3º CP, sendo decisivo para a determinação do momento a
conduta , e não o resultado. Ex. mesmo que a vitima morra 3 meses depois do agente a ter
esfaqueado, considera-se o momento em que o agente pratica o crime. Ex. se a pessoa fica em
coma 2 anos, o agente é condenado por homicídio na forma tentada, porque o homicídio não foi
consumado.

Principio da irretroatividade da lei penal – A lei penal só pode ser aplicada a factos que
ocorram após a sua entrada em vigor.

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A proibição da retroatividade funciona apenas a favor do agente e não contra ele, sendo que se
lhe deve ser aplicada a lei mais favorável.

Assim, segundo o artg. 2º/1 CP, em regra deve ser aplicada a lei do momento da prática do
facto, embora esta contenha exceções, em que será retroativamente aplicável a lei mais
favorável ao agente (29º/4 CRP – fundamento legal):

 Art. 2º/2 – Descriminalização


 Uma lei posterior à prática do facto deixa de considerar este como
crime, sendo que , mesmo que já tenha havido condenação (e até se esta
já tiver transitado em julgado), cessam a execução e os seus efeitos
penais.
 Descriminalizar = eliminar uma incriminação que até à data existia, ou
torna aquele crime um ilícito de mera ordenação. Assim, deixa de
constituir crime à luz do direito penal, não existindo pena pois foi
despenalizada.
 Consequências:
 Se o processo está ainda na fase de investigação criminal –
profere despacho de arquivamento;
 Se estiver na fase de instrução – profere despacho de não
pronuncia e não submete o arguido a julgamento;
 Se estiver perto do julgamento – é dada sem efeito a data de
julgamento;
 Julgamento – não condena, absolve com base na
descriminalização;
 Se já se encontra a cumprir pena – não vale apena continuar a
cumprir a pena , pois ele não irá cometer mais este crime ,
porque já não o é; e a sociedade também não o irá cometer,
pois já não é crime.

Se o agente pratica um facto, punível com pena até 3 anos ou multa até 3000€, e à data do
julgamento o mesmo facto é considerado uma contraordenação, a que é aplicável uma coima de
1000 a 5000€, a aplicação da contraordenação ao crime cometido anteriormente – art.3/1 – viola
o principio da irretroatividade.
Art. 165 al a) e d) – reserva da lei formal
Mesmo que existisse uma disposição transitória , seria inconstitucional porque violava o
principio da legalidade, porque seria aplicada a algo que ocorreu anteriormente.

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 Art 2º/4 – Despenalização


 Quando a nova lei atenua as consequências jurídicas que ao facto se
ligam, nomeadamente a pena, a medida de segurança ou os efeitos
penais do facto. Também neste caso a lex melhor deve ser
retroativamente aplicada e deverá selo ainda que a condenação tenha
transitado em julgado (art. 2º/4CP).
 No artigo 2º/4, 1ª parte, encontramos previsto o que se chamam de leis
intermédias. Estas , são leis que entram em vigor posteriormente à
prática do facto, mas já não vigoravam ao tempo da apreciação judicial
deste (ex. a punição vigente no momento do delito foi substituída por
uma menos grave, mas esta foi, antes da sentença, revogada por
entretanto se ter considerado que era demasiado leve e reposta a
punição anterior).
Esta solução é completamente coberta pela letra tanto do art. 29º/4, 2ªp
da CRP, como do artg. 2º/4, 1ªp do CP, e justifica-se porque com a
vigência da lei mais favorável – intermédia – o agente ganhou uma
posição jurídica que deve ficar a coberto da proibição de retroatividade
da lei mais grave posteior.
Resumindo, são leis que ainda não estavam em vigor no momento da
prática do facto e já não estão em vigor no momento do
julgamento.
Ex:
L1 L2 L3 L4 L5
Se o facto ocorrer quando a L1 está em vigor, e o julgamento for
quando L4 está em vigor , a L2 e 3 são leis intermédias. No caso
poderíamos aplicar a L1, 2, 3 ou 4. Assim, todas as leis intermédias são
posteriores à prática do facto, mas nem todas as leis posteriores são
intermédias (L5 não é). Mas , no entanto, por vezes podemos aplicar
uma lei posterior mais favorável, em casos excecionais.
Temos de ter em atenção que no art. 2º/4 refere “concretamente mais
favorável”, o que significa que tem de ser aplicado o que para aquele
arguido em concreto se considera ser o mais favorável.
 No artigo 2º/4 , 2ª parte, resulta que haja a reabertura do processo para
nova determinação da pena concreta no quadro da nova moldura penal
aplicável, mas somente um limite à execução da pena concreta aplicada
na condenação transitada em julgado, que coincide com o limite

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máximo da pena aplicável pela lei nova mais favorável (371º-A do


CPP).
Exemplo: crime com moldura penal de 1-8 , e é aplicada pena concreta
de 6 anos. Está no 5º ano, e a lei posterior condena até 5 anos, então o
arguido já não cumpre os 6, pois já cumpriu o limite máximo da pena
da nova lei. Esta situação não é aplicada automaticamente, pois a
audiência tem de ser aberta para que seja avaliada a pena (não se volta a
produzir prova nem a avaliar os factos).
Aqui, a pena não é totalmente eliminada, mas antes, temos uma
moldura penal menos gravosa; se estiver em causa o quantum da pena ,
por ex. antes era aplicada pena privativa de liberdade e depois é
aplicada pena não privativa de liberdade – a pena continua pois o facto
continua a constituir crime.

Assim, podemos dizer que atualmente é utilizado o sistema em bloco.


De acordo com o art.71º, para determinar o quantum da pena, o tribunal
tem que determinar a medida da pena de cada uma das leis intermédias,
para depois ver qual será a mais favorável ao agente.

 Art. 2º/3 – leis temporárias (estado factual de exeção)


Trata-se de uma exceção ao principio da aplicação da lei mais favorável. Estas são leis
ultrativas, pois são aplicáveis mesmo que em rigor já não se encontrem vigentes.

São criadas em circunstancias anómalas ou extraordinárias , cujo período de vigência é


mais curto que as outras.

Leis temporárias devem considerar-se apenas aquelas que, a piori, são editadas pelo
legislador para um tempo determinado:

- lei temporária propriamente dita , é aquela em que sabemos qual a data de inicio e de
fim . ex. competição desportiva de 2004
- lei de emergência , é aquela cuja data de inicio conhecemos , mas não a data de fim .
ex . leis da pandemia.
Nestas, é comum a circunstancia de a lei cessar automaticamente a sua vigência uma
vez decorrido o período de tempo para a qual foi editada, isto é, deixam de estar em
vigor quando são substituídas por outras ou quando acaba o estado factual de exceção.

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A razão que justifica o afastamento da aplicação da lei mais favorável reside em que a
modificação legal se operou em função não de uma alteração da conceção legislativa,
mas unicamente de uma alteração das circunstancias fácticas que deram base á lei.
Assim, quando cessa a vigência da norma, esta continua a aplicar-se aos factos
praticados quando esteve vigente.

A sucessão de leis pode ocorrer por:


1- Alteração das circunstâncias dentro do mesmo estado factual – deve ser aplicada a
lei do momento da prática do facto;
2- Mera alteração da conceção da legislador , pois este vai olhando para o facto de
maneira diferente – deve ser aplicada, de entre as leis temporárias, a mais favorável
(pois, por ex. se o legislador acha que colocou uma pena muito pesada, para a
mesma conduta irá aplicar uma mais leve).

Aplicação da lei penal no espaço

Artigo 4ºCP
A generalidade dos sistemas legislativos penais dos nossos dias assume como principio basilar
de aplicação da sua lei penal no espaço o principio da territorialidade, não o da nacionalidade.

Se a aplicação espacial da lei penal nacional é rigorosamente demarcada por sobre as fronteiras
de cada estado, e se a generalidade dos Estados aceita este princípio, está descoberto o melhor
caminho para que não se gerem conflitos internacionais de competência interestadual, sejam
eles positivos (quando mais do que um estado se julga competente para julgar determinada
situação), ou negativos (quando nenhum dos países quer julgar).

Assim, a lei penal Portuguesa aplica-se a todos os factos cometidos em território nacional,
independentemente da nacionalidade do agente e da vítima.

No artigo 4º al b), encontramos uma extensão para além do espaço físico português , sendo este
denominado de Critério do pavilhão.

Art 7ºCP

Para determinação do lugar do delito, rege o artigo 7º que devemos ter em consideração o lugar
da prática do facto.

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Assim:

 Se o facto for praticado em Portugal = aplicamos o artigo 4º (p. da territorialidade),


sendo este julgado em Portugal por tribunais portugueses. O cidadão , neste caso, só
será extraditado caso haja algo mencionado num tratado.
 Se o facto for praticado fora de Portugal = Pode ser julgado cá , segundo o artigo 5º,
mas apenas o será se o art. 6º não impedir a aplicação da lei portuguesa (direito penal
português aplicável).

Desta forma, segundo o princípio da Ubiquidade (artg.7º), o lugar da prática do facto


considera-se:

1- O lugar da ação (critério da ação) ou omissão (critério da omissão); OU


2- O lugar onde o resultado se verificou (critério do resultado)

Ex. Na fronteira entre PR e ESPANHA, o agente dispara um tiro de PT para ES. A ação tem lugar
em PT, o resultado verifica-se em ES. Considera-se praticado em PT.

Se um Espanhol dispara para PT , e se verifica o resultado em PT, o facto é praticado em PT.

O IMPORTANTE é que a ação OU o resultado se verifiquem em solo português.

Ex 2: A encomenda a B a morte de C. A é autor moral, B é Espanhol e C está em Marrocos. A


combinação foi feita em PT, o local da prática do facto foi em PT.

Artigo 7º/2 – um crime tentado é aquele que não se verifica por factos alheios à vontade do
agente (critério do resultado esperado). Ex. alguém envia por correio bolos com veneno para a
namorada que está em PT. Ela sabe que ele não é de confiança , leva a caixa à PJ, e verifica-se
que houve um crime de homicídio na forma tentada. Ia verificar-se em PT , sendo que teríamos
de ter em conta o lugar da ação ou onde o resultado se verificaria.

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Artigo 5º CP

O artigo 5º refere-se aos factos praticados fora do território Português. Em todas as alíneas do
artg. a lei penal é aplicada de forma supletiva, por forma a evitar que os agentes fiquem impunes
pela lei onde ocorreu a prática do facto não quere ou dever aplicar-se. Em regra, Portugal não se
relaciona com a situação, pois cada um julga os factos que ocorrem no seu país. Mas, como
exceção à regra, há crimes que pela sua tipologia, natureza, bem jurídico lesado, não ficamos
indiferentes.

 Alinea a) : Interesses nacionais

Trata-se da especifica proteção que deve ser concedida a bens jurídicos portugueses,
independentemente da nacionalidade do agente, de os crimes terem sido cometidos no
estrangeiro e mesmo do que a seu respeito disponha a lei do lugar.

O bom fundamento de uma tal extensão do ius puniendi nacional reside em que o próprio agente
estabeleceu a relação com a ordem jurídico-penal portuguesa ao dirigir o seu facto contra
interesses especificamente portugueses. Além disso, o Estado em cujo território o crime foi
praticado pode não se encontrar em condições de perseguir os infratores , ou pode mesmo não
ter vontade de o fazer, pelo que o Estado Português deve munir-se dos instrumentos necessários
à defesa própria dos seus interesses essenciais.

 Alinea b) : Principio da nacionalidade

Trata-se de uma extensão do princípio da nacionalidade que deriva da alínea e), segundo a qual
a lei penal portuguesa é ainda aplicável a factos cometidos fora do território nacional “contra
portugueses, por portugueses que viverem habitualmente em Portugal ao tempo da sua prática e
aqui forem encontrados”. Justificada com a consideração de que importaria impedir a
impunidade nos casos em que um português se dirige ao estrangeiro para aí cometer um facto
que, se bem que licito segundo a lex loci, constituí crime segundo a lex patrioe, com a agravante
de um tal crime ser cometido contra um português, e em que, uma vez cometido o crime, o
agente volta a Portugal provavelmente para aqui continuar a viver tranquilamente.

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 Alinea c) : Principio dos interesses universais

Visa permitir a aplicação da lei penal portuguesa a factos cometidos no estrangeiro que atentam
contra bens jurídicos carecidos de proteção internacional ou que, de todo o modo, o Estado Pt se
obrigou internacionalmente a proteger.

O principio deve valer independentemente da sede do delito e da nacionalidade do agente.

Trata-se do reconhecimento do caráter supranacional de certos bens jurídicos e que por


conseguinte apelam para a sua proteção a nível mundial.

 Alinea d) : Proteção dos menores (também é um interesse universal)


 Alinea e): Principio da nacionalidade

Crimes cometidos por PT contra PT ou estrangeiros ; OU por estrangeiros contra PT ,


desde que se verifiquem os três requisitos referidos na alínea.

A complementaridade do p. da nacionalidade relativamente ao p. da territorialidade não


pretende obviar a todo e qualquer crime cometido por um português fora do seu país. Assim,
apenas se reconhece existirem casos perante os quais , se tudo repousasse no p. português da
territorialidade, poderiam abrir-se lacunas de punibilidade indesejáveis para uma politica
criminal internacional concertada e eficiente.

Tudo isto porque existe uma máxima, aceite pelo direito internacional, relativa a factos
cometidos por um seu nacional no estrangeiro: a máxima da não-extradição de cidadãos
nacionais. Se os não extradita, então os princípios da convivência internacional devem conduzir
a que, uma vez que eles se encontrem de novo no país da nacionalidade, o Estado nacional os
puna:

- O Estado ou extradita (entrega);

- Se não extradita, deve punir (julgar).

Assim, se o agente é português (p. da personalidade ativa) e pratica um facto no estrangeiro, OU


se no estrangeiro forem cometidos factos por estrangeiros contra portugueses (p. da
personalidade passiva), será aplicada a lei penal portuguesa.

O que oferece fundamento ao p. da personalidade passiva é a necessidade, sentida pelo Estado


Português, de proteger os cidadãos nacionais.

- Que o agente seja encontrado em Portugal (al i))

- Que o facto seja também punível pela legislação do lugar em que tiver sido praticado (al. ii )):
é a condição materialmente mais importante da aplicação do p. da nacionalidade, pois não seria

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em regra razoável estar a submeter ao poder punitivo alguém que praticou o facto num lugar
onde ele não é considerado penalmente relevante e onde, por isso , não se fazem sentir
quaisquer exigências preventivas, pelo menos no que tange o p. da personalidade ativa, pois
relativamente à personalidade passiva, torna-se menos claro, pois o que está em causa é a
proteção de interesses especificamente nacionais.

- Que o facto constitua crime que admita extradição e esta não possa ser concedida ou seja
decidida a não entrega do agente: Trata-se aqui de uma reafirmação da conceção do legislador
segundo a qual o p. da territorialidade deve não apenas no aspeto nacional, mas internacional
constituir o p. base, e o p. da nacionalidade deverá ser um complemento. Se a extradição for
jurídica e facticiamente possível ela deveria ser concedida e o p. pessoal deveria regredir.

Se estiver em causa o p. da nacionalidade ativa (agente PT), a extradição só é possível nos


apertados limites do regime previsto no art. 33º/3 CRP.

São crimes que admitem extradição qualquer um à exceção dos previstos no art. 7º al. a) e b) da
Lei da Cooperação Judiciária internacional, sendo que , se o crime é passível de extradição ,
pode esta todavia não ser concedida, seja porque, pura e simplesmente não foi requerida; seja
por efeito das normas em matéria de extradição.

 Alinea f): Principio complementar da administração supletiva da justiça penal

Esta norma veio colmatar uma lacuna do sistema de aplicação da lei penal no espaço até aí
existente. Com efeito, podia suceder que um cidadão estrangeiro , tendo praticado um crime,
grave, no estrangeiro, viesse buscar refugio a PT, onde, por um lado, não podia ser julgado, dada
a ausência de uma conexão relevante com a lei PT, e de onde, por outro lado, não podia ser
extraditado, dadas as proibições de extraditar e, função da gravidade da consequência jurídica
impostas pelo sistema nacional. Esta lacuna, conjugada com o aumento exponencial da
mobilidade das pessoas nos últimos anos, sobretudo dentro da UE, fazia PT incorrer no risco de
se transformar num valhacouto de criminosos estrangeiros.

Assim, esta norma trata-se de uma supletividade na administração da justiça , de atuação do juiz
nacional em vez ou em lugar do juiz estrangeiro mas nem por isso deixando de aplicar a ordem
jurídico-penal nacional.

 Alinea g): Equivalência da nacionalidade das PC


Deriva do principio da nacionalidade, sendo a conexão da sede , em território
português, das pessoas coletivas, autoras ou vitimas do crime praticado no estrangeiro.

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O artigo 5º tem de ser conjugado com o artigo 6º, pois só pode ser aplicado nos casos em
que o agente ainda não foi julgado; OU foi julgado mas não cumpriu a pena na totalidade.

Trata-se aqui, antes demais, de respeitar o principio jurídico-constitucional de que ninguém


pode ser julgado mais do que uma vez pela prática do mesmo crime – artg. 29º/5 CRP- valendo
esta garantia para todas as pessoas e para todos os tribunais. Trata-se também de traduzir a ideia
segundo a qual o critério da territorialidade deve, segundo a nossa constituição politico-
criminal, constituir efetivamente o principio prioritário e todos os outros assumirem a veste de
princípios meramente complementares, supletivos.

Prova definitiva do caráter subsidiário dos princípios de extraterritorialidade é que, nos termos
do artg. 6º/2 , o facto deva ser julgado pelos tribunais PT, segundo a lei do país em que tiver
sido praticado sempre que esta seja concretamente mais favorável ao delinquente. Trata-se por
isso, verdadeiramente , de aplicação da lei penal estrangeira pelo tribunal PT.

CASOS PRÁTICOS
Vicariato na execução e PRI

1. A, que sofre de uma anomalia psíquica que o impede de controlar os impulsos sexuais
para visionar filmes pornográficos com crianças e adultos com aparência de criança, foi
condenado a um internamento de dois anos por factos praticados nesse contexto. Na
mesma altura, no entanto, A havia furtado um computador de uma superfície comercial,
precisamente com o intuito de poder satisfazer os seus desejos. O computador foi avaliado
em 1600 euros e A foi condenado por um crime de furto, numa pena de prisão de três anos.
Quid iuris quanto à forma de execução destas sanções? Justifique.

O sistema penal Português caracteriza-se como tendencialmente monista, pois ao mesmo agente
e pelo mesmo facto será aplicada uma pena de prisão (no caso dos imputáveis), ou uma medida
de segurança de internamento (no caso dos inimputáveis).

Analisando o caso prático acima descrito, A comete dois factos, sendo que relativamente à sua
anomalia psíquica lhe é aplicada uma medida de segurança de internamento de dois anos, por se
tratar de um inimputável, logo incapaz de juízo de culpa; e relativamente ao crime de furto lhe é

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aplicada uma pena de prisão de três anos, pois perante este facto A é considerado imputável,
sendo por isso passível de culpa.

Desta forma, estamos perante o vicariato na execução, previsto no art. 99ºCP. Assim, cabe-me
realçar que sendo aplicada uma medida de segurança e uma pena ao mesmo agente, esta
situação não coloca em causa o monismo tendencial do sistema português , pois neste caso A
pratica dois factos distintos, em que para um é considerado inimputável e lhe é aplicada uma
medida de segurança (devido à sua anomalia psíquica, visualiza pornografia de menores); e para
o outro é considerado imputável (crime de furto) e por isso lhe é aplicada uma pena de prisão.

Assim, de acordo com o artigo 99º/1º CP, a medida de internamento será cumprida antes da
pena de prisão, sendo que, no caso concreto, A irá ter de cumprir 2 anos de internamento. No
entanto, como podemos verificar pelo referido artigo in fine, os 2 anos de internamento serão
descontados na pena de prisão, sendo que A, após cumprir os dois anos de internamento, teria de
cumprir apenas 1 ano de pena de prisão.

No entanto, o artigo 99º/2 CP prevê que, quando cesse a medida de internamento, se se


encontrar cumprido o tempo correspondente a metade da pena, o tribunal coloca o agente em
liberdade condicional, se isto se revelar compatível com a defesa e da ordem jurídica e da paz
social. Desta forma, uma vez que A já cumpriu internamento de 2 anos, e a metade da pena de
prisão é um ano e meio no seu caso, então poderia ser colocado em liberdade se cumprir as
restantes condições, pois já cumpriu o tempo correspondente a mais de metade da pena.

Contudo, segundo o nrº4 do mesmo artigo, no caso de não ser colocado em liberdade na
situação anteriormente referida, uma vez que já cumpriu dois terços da pena, pois cumpriu 2
anos de medida de internamento, poderá ser colocado em liberdade.

2. Considere que:

A cumpriu uma pena de 10 anos de prisão efetiva por violação.

A cumpriu uma pena de 11 anos de prisão efetiva por homicídio.

A pagou uma pena de multa no valor de 2000 euros por um crime de Injúria.

A é conhecido por ameaçar e agredir de forma gratuita.

A praticou no mês passado um crime de burla, pelo qual deverá ser-lhe aplicada pena de
prisão efetiva de 3 anos.

a) Refira-se à possibilidade de A ser punido com uma PRI. Em que termos? Justifique a
sua resposta.

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O sistema penal Português caracteriza-se como tendencialmente monista, pois ao mesmo agente
e pelo mesmo facto será aplicada uma pena de prisão (no caso dos imputáveis), ou uma medida
de segurança de internamento (no caso dos inimputáveis).

Analisando o caso acima descrito, para que A possa ser punido com uma PRI, devem verificar-
se cumpridos os pressupostos do artigo 83ºCP. Assim, segundo o referido artigo A tem de ter
praticado um crime doloso a que se deva aplicar concretamente prisão efetiva por mais de 2
anos, o que se verifica , pois praticou um crime de burla pelo qual deverá ser-lhe aplicada pena
de prisão efetiva de 3 anos; tem de ter cometido anteriormente dois ou mais crimes dolosos em
que a cada um dos quais tenha sido aplicada prisão efetiva por mais de dois anos, o que também
se verifica; e além destes factos, a personalidade do agente deve revelar uma acentuada
inclinação para o crime, o que também se verifica.

Desta forma podemos concluir que , sim a PRI aplica-se ao caso em concreto. Assim, segundo o
nº 2 do artigo 83º, a PRI terá um mínimo correspondente a dois terços da pena de prisão que
caberia ao crime cometido, no caso seriam 2 anos ; e um máximo correspondente a esta pena
acrescida de seis anos, que no caso seriam 9 anos. No caso concreto a PRI teria um mínimo de 2
anos e um máximo de 9 anos.

A verdadeira dúvida entre o monismo e dualismo surge quando se pergunta se o sistema é um


tal que permite a aplicação cumulativa, ao mesmo agente, pelo mesmo facto, de uma pena e de
uma MS.
A PRI, do ponto de vista formal é uma pena, e do ponto de vista material é um misto entre pena
e medida de segurança. Estas surgiram da necessidade de sancionar as pessoas em função de
serem perigosas para a sociedade, por seguirem um percurso reiterante desviante.
Conforme se pode analisar nos artgs. 83º e ss CP, os agentes já cumpriram penas ao longo do
seu percurso, mas estas não serviram para cumprir o objetivo pretendido porque continuam a ser
delinquentes. Assim, a PRI irá aplicar-se a agentes perigosos imputáveis, delinquentes por
tendência, que persistam na vontade de delinquir.
O legislador diz que é devido à personalidade do agente , e não quanto à sua perigosidade. Se
fosse devido à sua perigosidade teriamos de dizer que eramos dualistas , porque ao mesmo
agente e por um só facto aplicariamos uma pena e uma medida de segurança, mas no sistema
portugues somos tendencialmente monistas, pois é a personalidade do agente que justifica o
aumento ( 3 aos 9 anos).
Assim, a PRI até aos 3 anos trata-se de uma pena (justifica-se com a culpa), e dos 3 aos 9 é
aplicada devido à personalidade do agente.

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b) Considere agora que A foi condenado em todas aquelas três primeiras penas, mas ainda
não as cumpriu, por não ter tido tempo útil para tal, na medida em que tem apenas 23
anos. Quid iuris?

Uma vez que o agente ainda não completou os 25 anos de idade, o disposto no artigo 83º só
seria aplicado se o agente tivesse cumprido prisão no mínimo de um ano (artigo 85ºCP). Assim,
considerando que o agente cumpriu já um ano de prisão, ao agente seria aplicada uma PRI
conforme previsto no artigo 85º/2 CP.

Desta forma, seria de aplicar ao agente uma moldura de PRI , entre 2 anos (minimo) e 7 anos
(máximo), isto porque, segundo o artigo 85º/2 CP, o limite máximo da PRI corresponde a um
acréscimo de quaro anos à prisão que concretamente caberia ao crime cometido, que no caso
são 3 anos.

c) Considere agora que, pelo crime de burla, A deveria ser condenado numa pena de 1 ano
de prisão. Poderá ser punido com uma PRI? Justifique.

Não. Isto porque, ao analisarmos os artigos 83º e 84º do CP, concluímos que não se encontram
preenchidos os pressupostos para que possam ser aplicados.

Relativamente ao artigo 83º CP, o crime doloso cometido pelo agente A teria de ser punível
com uma pena de prisão efetiva por mais de dois anos, o que já não se verifica pois, segundo o
enunciado só foi condenado a 1 ano de prisão.

Já no referente ao artigo 84º, A teria de ter cometido anteriormente quatro ou mais crimes
dolosos, o que também não se verifica.

Assim, não poderia ao caso em concreto ser aplicada uma PRI. Desta forma, ser-lhe-á aplicada
uma pena concreta de um ano.

3. A, cleptomaníaco, furtou uma carteira no dia 3 de Dezembro de 2019. Dois dias depois,
na sequência de uma violenta discussão com um vizinho, A acabou por matá-lo com uma
facada no peito. Sabendo que A está hoje a ser julgado pelos factos acima referenciados,
diga como poderá o juiz apreciar a situação do agente. Justifique.

O sistema penal Português caracteriza-se por ser tendencialmente monista, pois ao mesmo
agente e pelo mesmo facto será aplicada, ou uma pena de prisão (no caso dos imputáveis), ou
uma medida de segurança de internamento (no caso dos inimputáveis).

Analisando o caso prático acima descrito, A comete dois factos, um furto e um homicídio.

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Uma vez que A é cleptomaníaco, sofre de uma anomalia psíquica, relativamente ao furto este é
considerado como inimputável, tratando-se de um sujeito que não pode ser responsabilizado por
um facto punível por lei, por se considerar que não possui as faculdades mentais necessárias
para avaliar o ato quando o praticou. Assim, o d. penal dá-nos as medidas de segurança (art.
91º e ss), que são reações aplicadas a pessoas que praticam factos qualificados na lei como
crimes, mas que no caso delas não são crimes por não serem praticados com culpa. Desta forma,
deverá ser-lhe aplicada uma medida de segurança de internamento relativamente a este facto.

Relativamente ao homicídio, A é considerado como imputável, pois o facto de ser


cleptomaníaco nada se relaciona com o facto de matar alguém. Assim, perante o crime de
homicídio , A deve ser punido com uma pena de prisão , pois é suscetível de culpa, e só na
existência de culpa dolosa é que se aplicam penas, a não ser que a lei se expresse de forma
contrária quando aos crimes negligentes. (art. 13ºCP)

Desta forma, estamos perante o vicariato na execução, previsto no art. 99ºCP. Assim, cabe-me
realçar que sendo aplicada uma medida de segurança e uma pena ao mesmo agente, esta
situação não coloca em causa o monismo tendencial do sistema português , pois neste caso A
pratica dois factos distintos, em que para um é considerado inimputável e lhe é aplicada uma
medida de segurança (devido à sua anomalia psíquica); e para o outro é considerado imputável
(crime de homicidio) e por isso lhe é aplicada uma pena de prisão.

Assim, de acordo com o artigo 99º/1º CP, a medida de internamento será cumprida antes da
pena de prisão, sendo que, no caso concreto, A irá ter de cumprir os anos de internamento que
lhe forem atribuidos. No entanto, como podemos verificar pelo referido artigo in fine, os anos
de internamento serão descontados na pena de prisão, sendo que A, após cumprir os anos de
internamento, terá de cumprir a diferença em prisão efetiva.

No entanto, o artigo 99º/2 CP prevê que, quando cesse a medida de internamento, se se


encontrar cumprido o tempo correspondente a metade da pena, o tribunal coloca o agente em
liberdade condicional, se isto se revelar compatível com a defesa e da ordem jurídica e da paz
social.

Contudo, segundo o nrº4 do mesmo artigo, no caso de não ser colocado em liberdade na
situação anteriormente referida, se já se encontrarem cumpridos dois terços da pena, poderá ser
colocado em liberdade.

E ainda, segundo o nrº3 , cessando a medida de internamento, e se ainda não tiver decorrido o
tempo correspondente a metade da pena, pode o condenado requerer que se substitua o tempo
de prisão que faltar para metade da pena , até ao máximo de um ano, por prestação de trabalho a
favor da comunidade.

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4. A, acusado em Janeiro de 2020 por um crime de ofensa à integridade física grave, conta
já, no seu registo criminal, com duas condenações por roubo, tendo-lhe sido, nestas,
aplicada uma pena de 3 e outra de 5 anos de prisão efetiva. Tendo em conta que o juiz do
processo está, neste momento, convicto que a culpa do agente pelo crime de que vem
acusado se situa nos 6 anos, mas também que A não mantém uma conduta fiel ao
direito, quid iuris quanto às possíveis soluções apresentadas pelo ordenamento jurídico
português para este caso? Justifique.

O sistema penal Português caracteriza-se como tendencialmente monista, pois ao mesmo agente
e pelo mesmo facto será aplicada uma pena de prisão (no caso dos imputáveis), ou uma medida
de segurança de internamento (no caso dos inimputáveis).

Analisando o caso acima descrito, para que A possa ser punido com uma PRI, devem verificar-
se cumpridos os pressupostos do artigo 83ºCP. Assim, segundo o referido artigo A tem de ter
praticado um crime doloso a que se deva aplicar concretamente prisão efetiva por mais de 2
anos, o que se verifica , pois praticou um crime de ofensa à integridade fisica pelo qual deverá
ser-lhe aplicada pena de prisão efetiva de 6 anos; tem de ter cometido anteriormente dois ou
mais crimes dolosos em que a cada um dos quais tenha sido aplicada prisão efetiva por mais de
dois anos, o que também se verifica; e além destes factos, a personalidade do agente deve
revelar uma acentuada inclinação para o crime, o que também se verifica segundo o enunciado.

Desta forma podemos concluir que , sim a PRI aplica-se ao caso em concreto. Assim, segundo o
nº 2 do artigo 83º, a PRI terá um mínimo correspondente a dois terços da pena de prisão que
caberia ao crime cometido, no caso seriam 4 anos ; e um máximo correspondente a esta pena
acrescida de seis anos, que no caso seriam 12 anos. No caso concreto a PRI teria um mínimo de
4 anos e um máximo de 12 anos.

A verdadeira dúvida entre o monismo e dualismo surge quando se pergunta se o sistema é um


tal que permite a aplicação cumulativa, ao mesmo agente, pelo mesmo facto, de uma pena e de
uma MS.

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A PRI, do ponto de vista formal é uma pena, e do ponto de vista material é um misto entre pena
e medida de segurança. Estas surgiram da necessidade de sancionar as pessoas em função de
serem perigosas para a sociedade, por seguirem um percurso reiterante desviante.
Conforme se pode analisar nos artgs. 83º e ss CP, os agentes já cumpriram penas ao longo do
seu percurso, mas estas não serviram para cumprir o objetivo pretendido porque continuam a ser
delinquentes. Assim, a PRI irá aplicar-se a agentes perigosos imputáveis, delinquentes por
tendência, que persistam na vontade de delinquir.
O legislador diz que é devido à personalidade do agente , e não quanto à sua perigosidade. Se
fosse devido à sua perigosidade teriamos de dizer que eramos dualistas , porque ao mesmo
agente e por um só facto aplicariamos uma pena e uma medida de segurança, mas no sistema
portugues somos tendencialmente monistas, pois é a personalidade do agente que justifica o
aumento ( 6 aos 12 anos).
Assim, a PRI até aos 6 anos trata-se de uma pena (justifica-se com a culpa), e dos 6 aos 12 é
aplicada devido à personalidade do agente.

5. A, que está a ser jugado por um crime de dano, previsto e punível nos termos do artigo
213.º/2, a), do Código Penal, praticado no passado mês de Outubro de 2020, é uma pessoa
conhecida pela sua conflitualidade permanente, facilmente perdendo as estribeiras e
agredindo quem o contrarie. Na realidade, tem passado grande parte do tempo da sua
vida adulta na prisão. Com apenas 30 anos, já cumpriu duas penas, de 3 anos cada, por
crimes de ofensa à integridade física qualificada (um ocorrido em 2012 e outro em 2016), e
várias outras, de menor duração, por crimes de injúria e furto. Supondo que é o/a juiz(a)
do caso, qual lhe pareceria a melhor sanção a aplicar a A, tendo em conta que,
considerando conjuntamente a culpa do agente as exigências de prevenção, a pena a
aplicar a este crime, isoladamente considerado, deveria ser de 6 anos de prisão efetiva?
Justifique.

O sistema penal Português caracteriza-se como tendencialmente monista, pois ao mesmo agente
e pelo mesmo facto será aplicada uma pena de prisão (no caso dos imputáveis), ou uma medida
de segurança de internamento (no caso dos inimputáveis).

Analisando o caso acima descrito, para que A possa ser punido com uma PRI, devem verificar-
se cumpridos os pressupostos do artigo 84ºCP. Assim, segundo o referido artigo A tem de ter
praticado um crime doloso a que se deva aplicar concretamente prisão efetiva, o que se verifica ,
pois praticou um crime de dano qualificado punido com pena de prisão de dois a oito anos; tem
de ter cometido anteriormente quatro ou mais crimes dolosos em que a cada um dos quais tenha
sido aplicada prisão efetiva, o que também se verifica, pois o enunciado refere que cumpriu
várias penas, o que nos dá a entender que este pressuposto está cumprido; e além destes factos,
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a personalidade do agente deve revelar uma acentuada inclinação para o crime, o que também se
verifica.

Desta forma podemos concluir que , sim a PRI aplica-se ao caso em concreto. Assim, segundo o
nº 2 do artigo 84º, a PRI terá um mínimo correspondente a dois terços da pena de prisão que
caberia ao crime cometido, no caso seriam 4 anos ; e um máximo correspondente a esta pena
acrescida de quatro anos, que no caso seriam 10 anos. No caso concreto a PRI teria um mínimo
de 4 anos e um máximo de 10 anos.

A verdadeira dúvida entre o monismo e dualismo surge quando se pergunta se o sistema é um


tal que permite a aplicação cumulativa, ao mesmo agente, pelo mesmo facto, de uma pena e de
uma MS.
A PRI, do ponto de vista formal é uma pena, e do ponto de vista material é um misto entre pena
e medida de segurança. Estas surgiram da necessidade de sancionar as pessoas em função de
serem perigosas para a sociedade, por seguirem um percurso reiterante desviante.
Conforme se pode analisar nos artgs. 83º e ss CP, os agentes já cumpriram penas ao longo do
seu percurso, mas estas não serviram para cumprir o objetivo pretendido porque continuam a ser
delinquentes. Assim, a PRI irá aplicar-se a agentes perigosos imputáveis, delinquentes por
tendência, que persistam na vontade de delinquir.
O legislador diz que é devido à personalidade do agente , e não quanto à sua perigosidade. Se
fosse devido à sua perigosidade teriamos de dizer que eramos dualistas , porque ao mesmo
agente e por um só facto aplicariamos uma pena e uma medida de segurança, mas no sistema
portugues somos tendencialmente monistas, pois é a personalidade do agente que justifica o
aumento ( 6 aos 10 anos).
Assim, a PRI até aos 6 anos trata-se de uma pena (justifica-se com a culpa), e dos 6 aos 10 é
aplicada devido à personalidade do agente.

6. A furtou a carteira de B no final de Agosto. Precisamente no mesmo dia, A foi mandado


parar pela GNR, tendo-se verificado que conduzia com 1,5 g/l de alcoolemia. Sabendo
que A está a ser julgado quer pelo furto (art. 203.º), quer pela condução em estado de
embriaguez (art. 292.º) e sabendo ainda que A tem sido acompanhado em consultas de
psiquiatria por ter sido diagnosticado com cleptomania, diga como poderá o juiz proceder
relativamente à responsabilização por estes factos. Justifique a sua resposta.

O sistema penal Português caracteriza-se por ser tendencialmente monista, pois ao mesmo
agente e pelo mesmo facto será aplicada, ou uma pena de prisão (no caso dos imputáveis), ou
uma medida de segurança de internamento (no caso dos inimputáveis).

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Analisando o caso prático acima descrito, A comete dois factos ilicitos, um furto e condução de
veiculo em estado de embrieguez.

Uma vez que A é cleptomaníaco, sofre de uma anomalia psíquica, relativamente ao furto este é
considerado como inimputável, tratando-se de um sujeito que não pode ser responsabilizado por
um facto punível por lei, por se considerar que não possui as faculdades mentais necessárias
para avaliar o ato quando o praticou. Assim, o d. penal dá-nos as medidas de segurança (art.
91º e ss), que são reações aplicadas a pessoas que praticam factos qualificados na lei como
crimes, mas que no caso delas não são crimes por não serem praticados com culpa. Desta forma,
deverá ser-lhe aplicada uma medida de segurança de internamento relativamente a este facto.

Relativamente à condução de veiculo sob estado de embrieguez, A é considerado como


imputável, pois o facto de ser cleptomaníaco nada se relaciona com o facto de conduzir
embriegado. Assim, perante este crime , A deve ser punido com uma pena , pois é suscetível de
culpa, e só na existência de culpa dolosa é que se aplicam penas, a não ser que a lei se expresse
de forma contrária quando aos crimes negligentes. (art. 13ºCP)

Desta forma, estamos perante o vicariato na execução, previsto no art. 99ºCP. Assim, cabe-me
realçar que sendo aplicada uma medida de segurança e uma pena ao mesmo agente, esta
situação não coloca em causa o monismo tendencial do sistema português , pois neste caso A
pratica dois factos distintos, em que para um é considerado inimputável e lhe é aplicada uma
medida de segurança (devido à sua anomalia psíquica); e para o outro é considerado imputável
(crime de condução sob emrieguez) e por isso lhe é aplicada uma pena.

Assim, de acordo com o artigo 99º/1º CP, a medida de internamento será cumprida antes da
pena de prisão, sendo que, no caso concreto, A irá ter de cumprir os anos de internamento que
lhe forem atribuídos. No entanto, como podemos verificar pelo referido artigo in fine, os anos
de internamento serão descontados na pena de prisão, sendo que A, após cumprir os anos de
internamento, terá de cumprir a diferença em prisão efetiva.

No entanto, o artigo 99º/2 CP prevê que, quando cesse a medida de internamento, se se


encontrar cumprido o tempo correspondente a metade da pena, o tribunal coloca o agente em
liberdade condicional, se isto se revelar compatível com a defesa e da ordem jurídica e da paz
social.

Contudo, segundo o nrº4 do mesmo artigo, no caso de não ser colocado em liberdade na
situação anteriormente referida, se já se encontrarem cumpridos dois terços da pena, poderá ser
colocado em liberdade.

E ainda, segundo o nrº3 , cessando a medida de internamento, e se ainda não tiver decorrido o
tempo correspondente a metade da pena, pode o condenado requerer que se substitua o tempo

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de prisão que faltar para metade da pena , até ao máximo de um ano, por prestação de trabalho a
favor da comunidade.

7. Considere que:

A foi condenado a 1 mês de prisão efectiva por um crime de injúria em 2011.

A foi condenado a 6 meses de prisão efectiva por condução em estado de embriaguez em


2015.

A foi condenado a pagar uma coima de 120 euros por ter estacionado o carro num local
destinado a portadores de deficiência em 2016.

A foi condenado a 1 ano de prisão efectiva por violação de domicílio em 2016.

A foi condenado a 1 ano de prisão efectiva por sequestro em 2017.

A está a ser julgado, desde Setembro, por um crime de tráfico de órgãos, pelo qual deveria
ser-lhe aplicada uma pena de prisão efectiva de 6 anos.

a) Diga se e em que termos poderá ser aplicada ao agente, em vez desta última pena, de 6
anos, uma PRI.

O sistema penal Português caracteriza-se como tendencialmente monista, pois ao mesmo agente
e pelo mesmo facto será aplicada uma pena de prisão (no caso dos imputáveis), ou uma medida
de segurança de internamento (no caso dos inimputáveis).

Analisando o caso acima descrito, para que A possa ser punido com uma PRI, devem verificar-
se cumpridos os pressupostos do artigo 83ºCP ou 84ºCP.

Assim, segundo o artigo 83ºCP, A tem de ter praticado um crime doloso a que se deva aplicar
concretamente prisão efetiva por mais de 2 anos , o que se verifica , pois praticou um crime de
tráfico de órgãos pelo qual deverá ser-lhe aplicada pena de prisão efetiva de 6 anos; tem de ter
cometido anteriormente dois ou mais crimes dolosos em que a cada um dos quais tenha sido
aplicada prisão efetiva por mais de dois anos, o que não se verifica, sendo que o artigo 83º CP já
não se aplicaria.

No referente ao artg. 84ºCP, A tem de ter praticado um crime doloso a que se deva aplicar
concretamente prisão efetiva o que se verifica; tem de ter cometido anteriormente 4 ou mais
crimes dolosos em que a cada um dos quais tenha sido aplicada prisão efetiva , o que se
verifica , pois o disposto no artg. 84º/3 não ocorre por entre as práticas dos crimes não passarem

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mais de 5 anos; e além destes factos, a personalidade do agente deve revelar uma acentuada
inclinação para o crime, o que também se verifica.

Desta forma podemos concluir que , sim a PRI aplica-se ao caso em concreto. Assim, segundo o
nº 2 do artigo 84º, a PRI terá um mínimo correspondente a dois terços da pena de prisão que
caberia ao crime cometido, no caso seriam 4 anos ; e um máximo correspondente a esta pena
acrescida de 4 anos, que no caso seriam 10 anos. No caso concreto a PRI teria um mínimo de 4
anos e um máximo de 10 anos.

A verdadeira dúvida entre o monismo e dualismo surge quando se pergunta se o sistema é um


tal que permite a aplicação cumulativa, ao mesmo agente, pelo mesmo facto, de uma pena e de
uma MS.
A PRI, do ponto de vista formal é uma pena, e do ponto de vista material é um misto entre pena
e medida de segurança. Estas surgiram da necessidade de sancionar as pessoas em função de
serem perigosas para a sociedade, por seguirem um percurso reiterante desviante.
Conforme se pode analisar nos artgs. 83º e ss CP, os agentes já cumpriram penas ao longo do
seu percurso, mas estas não serviram para cumprir o objetivo pretendido porque continuam a ser
delinquentes. Assim, a PRI irá aplicar-se a agentes perigosos imputáveis, delinquentes por
tendência, que persistam na vontade de delinquir.
O legislador diz que é devido à personalidade do agente , e não quanto à sua perigosidade. Se
fosse devido à sua perigosidade teriamos de dizer que eramos dualistas , porque ao mesmo
agente e por um só facto aplicariamos uma pena e uma medida de segurança, mas no sistema
portugues somos tendencialmente monistas, pois é a personalidade do agente que justifica o
aumento ( 6 aos10 anos).
Assim, a PRI até aos 6 anos trata-se de uma pena (justifica-se com a culpa), e dos 6 aos 10 é
aplicada devido à personalidade do agente.

b) Supondo que o crime de condução em estado de embriaguez foi cometido por


negligência, comente, sob essa nova perspectiva, a possibilidade de aplicação de uma PRI
ao caso.

Para que seja aplicada uma pena , é necessária a culpa do agente. Esta pode ser dolosa (vontade
do agente) ou por negligencia (deriva da violação do dever de cuidado mas o agente não tinha
vontade de cometer o crime). No entanto, só na existência de culpa dolosa é que se aplicam
penas, a não ser que a lei se expresse de forma contrária quando aos crimes negligentes. (art.
13ºCP)

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No entanto, no caso do artg. 292º, relativo à condução de veiculo em estado de embriaguez,


considera-se que mesmo que o crime seja praticado por negligencia, é punido com pena de
prisão até um ano ou pena de multa até 120 dias. Assim, podemos concluir que , mesmo por
negligencia poderia ser aplicada uma pena de prisão ao agente , sendo que em nada alteraria na
aplicação da PRI.

Aplicação da lei penal no tempo

1. A e B, naturais do Porto, foram casados durante 10 anos, tendo em conjunto o


filho C, nascido em 2014. Divorciados desde 2019, A e B chegaram a acordo sobre a
regulação do exercício das responsabilidades parentais relativamente ao seu filho
C, tendo este ficado a residir com a mãe, A, mas recebendo visitas frequentes do
seu pai B, que acabou por se mudar para o Algarve mas vem frequentemente ao
Norte. Numa das visitas do B ao seu filho C, em Maio de 2021, tendo ambos saído
para passear por Serralves, B acabou por agredir com violência C, depois de este
lhe ter revelado que muito certamente não passaria de ano. Para o efeito, B usou,
entre outras coisas, o seu cinto, o que provocou em C dores fortes e equimoses
variadas. Ao saber do episódio, A apresentou queixa contra B, por um crime de
violência doméstica relativamente ao filho de ambos, C, mas B acabou acusado
apenas por ofensas à integridade física, na medida em que não se preencheu o
elemento típico da coabitação entre agente e vítima para que se pudesse falar, no
caso, em crime de violência doméstica. Sabendo que pela lei 57/2021, de 16 de
Agosto, se prescindiu daquele elemento típico quando está em causa a violência
praticada sobre descendente, diga se B, que está hoje a ser julgado, pode ser
punido nos termos do art. 152.º do CP. Justifique.

A lei penal só pode ser aplicada a factos que ocorram após a sua entrada em vigor, sendo que,
desta forma, vigora o principio da irretroatividade da lei penal. O pressuposto de atuação do p.
da irretroatividade é a determinação do momento da prática do facto (“tempos delieti”) –
artg. 3º CP, sendo decisivo para a determinação do momento a conduta , e não o resultado.

De acordo com o artigo 3ºCP, o facto considera-se praticado no momento em que o agente
atuou, sendo que, no caso concreto foi em Maio de 2021. Assim, conforme o disposto no artigo
2º, as penas são determinadas pela lei vigente no momento da prática do facto (ofensa à
integridade fisica).

No entanto, em Agosto de 2021, surgiu uma lei (57/2021, 16 de Agosto), que prescinde do
elemento da coabitação entre agente e vitima para que se possa tratar de crime de violência

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doméstica praticada sobre descendente, sendo que , após Agosto de 2021, o crime que B
cometeu já seria tratado como crime de violência doméstica.

Contudo, a proibição da retroatividade funciona apenas a favor do agente e não contra ele,
sendo que se lhe deve ser aplicada a lei mais favorável. Assim, segundo o artg. 2º/1 CP, em
regra deve ser aplicada a lei do momento da prática do facto, embora esta contenha exceções,
em que será retroativamente aplicável a lei mais favorável ao agente (29º/4 CRP –
fundamento legal).

Assim, segundo o art. 2º/4, quando as disposições penais vigentes no momento da prática do
facto forem diferentes das estabelecidas em leis posteriores, é sempre aplicado o regime que
concretamente se mostrar mais favorável ao agente, sendo que, no caso concreto o crime de
violência doméstica é mais desvantajoso para o agente, portanto ser-lhe-á aplicado o regime da
ofensa à integridade física, por esta ser a lei mais vantajosa e , posto isto, a regra mantém-se.

2. A perseguiu B, atriz revelação de uma novela da TVI, de Abril de 2013 a Fevereiro de


2014, aparecendo-lhe de surpresa nos estúdios de gravação, dando-lhe presentes,
comparecendo em todos os eventos públicos em que B participava, referindo-se-lhe
exaustivamente em publicações de Facebook e no seu blog “B – um amor para toda a
vida”. B, profundamente inquieta com toda esta situação, apresentou queixa contra A em
Janeiro de 2014, mas o processo acabou arquivado na medida em que não foi possível
subsumir as condutas de A nem nos crimes contra a honra, nem nos crimes contra a
reserva da vida privada. Sabendo que, pela Lei 83/2015, de 5 de Agosto, o CP português
passou a prever, no seu artigo 154.º - A, o crime de “Perseguição”, diga se é possível
condenar, depois disso, A, pelos factos cometidos. Justifique.

A lei penal só pode ser aplicada a factos que ocorram após a sua entrada em vigor, sendo que,
desta forma, vigora o principio da irretroatividade da lei penal. O pressuposto de atuação do p.
da irretroatividade é a determinação do momento da prática do facto (“tempos delieti”) –
artg. 3º CP, sendo este decisivo para a determinação do momento a conduta , e não o resultado.

De acordo com o artigo 3ºCP, o facto considera-se praticado no momento em que o agente
atuou, sendo que, no caso concreto foi em Abril de 2013 a Fevereiro de 2014,. Assim, conforme
o disposto no artigo 2º, as penas são determinadas pela lei vigente no momento da prática do
facto, sendo que neste tempo não existia lei que punisse este tipo de factos.

No entanto, em Agosto de 2015, surgiu uma lei (83/2015, 5 de Agosto), que passa a prever o
crime de Perseguição.

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Contudo, a proibição da retroatividade funciona apenas a favor do agente e não contra ele,
sendo que se lhe deve ser aplicada a lei mais favorável. Assim, segundo o artg. 2º/1 CP, em
regra deve ser aplicada a lei do momento da prática do facto, embora esta contenha exceções,
em que será retroativamente aplicável a lei mais favorável ao agente (29º/4 CRP –
fundamento legal).

Assim, segundo o art. 2º/4, quando as disposições penais vigentes no momento da prática do
facto forem diferentes das estabelecidas em leis posteriores, é sempre aplicado o regime que
concretamente se mostrar mais favorável ao agente, sendo que, no caso concreto a lei da
perseguição é-lhe mais desvantajoso, portanto não lhe será aplicada.

3. Suponha que em Agosto de 2020 A praticou o facto X, que constituía um crime, punível
com pena de prisão até 3 anos. Julgado e condenado por esse facto, A começou a cumprir
uma pena de um ano de prisão no dia 18 de Outubro do mesmo ano. No entanto, uma
alteração ao Código Penal de Janeiro de 2021 revogou a norma que previa aquele crime.
Quid iuris?

A lei penal só pode ser aplicada a factos que ocorram após a sua entrada em vigor, sendo que,
desta forma, vigora o princípio da irretroatividade da lei penal. O pressuposto de atuação do p.
da irretroatividade é a determinação do momento da prática do facto (“tempos delieti”) –
artg. 3º CP, sendo este decisivo para a determinação do momento a conduta , e não o resultado.

De acordo com o artigo 3ºCP, o facto considera-se praticado no momento em que o agente
atuou, sendo que, no caso concreto foi em Agosto de 2020. Assim, conforme o disposto no
artigo 2º, as penas são determinadas pela lei vigente no momento da prática do facto, e ao A foi
aplicada uma sanção de pena de prisão.

No entanto, a norma que previa aquele crime foi revogada em Janeiro de 2021. Desta forma,
segundo o previsto no artigo 2º/2, quando uma lei posterior à prática do facto deixa de o
considerar como um crime, cessam a execução e os seus efeitos penais, mesmo que já tenha
havido condenação e até se esta já tiver transitado em julgado. Assim, uma vez que A já foi
julgado e se encontra a cumprir pena, é libertado, não vale apena continuar a cumprir a pena ,
pois ele não irá cometer mais este crime , porque já não o é; e a sociedade também não o irá
cometer, pois já não é crime.

Isto acontece porque a proibição da retroatividade funciona apenas a favor do agente e não
contra ele, sendo que se lhe deve ser aplicada a lei mais favorável. Assim, segundo o artg.
2º/1 CP, em regra deve ser aplicada a lei do momento da prática do facto, mas esta contém

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exceções, em que será retroativamente aplicável a lei mais favorável ao agente (29º/4 CRP –
fundamento legal).

4. Durante um período de grande perturbação nos transportes públicos, e por essa


circunstância, foi aprovada uma lei que punia com prisão até seis meses quem circulasse
naqueles transportes sem bilhete para o efeito. A, indivíduo avesso a regras, decidiu fazer
uma viagem de Coimbra para Lisboa, no Intercidades, sem comprar bilhete, passando
toda a viagem a tentar esconder-se do responsável pela verificação dos bilhetes, B. Perto
de Vila Franca de Xira, B encontra finalmente A e, depois de se envolverem numa grande
discussão, B faz A sair nesta estação. Seis meses depois, quando a situação já é mais calma,
é aprovada nova lei que vem agora punir com coima quem circule em transporte público
sem bilhete para o efeito. Sabendo que, no momento em que A é levado a julgamento, já
está em vigor a lei nova, diga se e como será punido A. Justifique a sua resposta.

A lei penal só pode ser aplicada a factos que ocorram após a sua entrada em vigor, sendo que,
desta forma, vigora o principio da irretroatividade da lei penal. O pressuposto de atuação do p.
da irretroatividade é a determinação do momento da prática do facto (“tempos delieti”) –
artg. 3º CP, sendo decisivo para a determinação do momento a conduta , e não o resultado.

De acordo com o artigo 3ºCP, o facto considera-se praticado no momento em que o agente
atuou, sendo que, no caso concreto foi em no dia em que A efetuou a viagem sem o bilhete
obrigatório. Assim, conforme o disposto no artigo 2º, as penas são determinadas pela lei vigente
no momento da prática do facto.

Mais tarde, quando a situação já está mais calma, é aprovada uma nova lei, que no caso seria
mais vantajosa para o agente.

No entanto, no caso concreto estamos perante uma lei temporária, prevista no artigo 2º/3 CP,
sendo estas criadas em circunstancias anómalas ou extraordinárias , cujo período de vigência é
mais curto que as outras, ou seja, leis temporárias devem considerar-se apenas aquelas que, a
piori, são editadas pelo legislador para um tempo determinado.

No caso concreto estamos perante uma exceção ao principio da aplicação da lei mais favorável
(29º/4CRP), sendo uma lei ultrativa, pois é aplicável mesmo que em rigor já não se encontre
vigente, pois a razão que justifica o afastamento da aplicação da lei mais favorável reside em
que a modificação legal se operou em função não de uma alteração da conceção legislativa, mas
unicamente de uma alteração das circunstancias fácticas que deram base á lei. Assim, quando
cessa a vigência da norma, esta continua a aplicar-se aos factos praticados quando esteve
vigente.

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Posto isto, uma vez que a sucessão de leis ocorreu por alteração das circunstâncias dentro do
mesmo estado factual, deve ser aplicada a lei do momento da prática do facto, ou seja, deve ser-
lhe aplicado até 6 meses de prisão, pois a situação era muito grave quando o facto foi praticado.

5. Em virtude de um período de sucessivas greves na CP, foi aprovada uma lei que punia
com pena de prisão até seis meses quem circulasse naqueles transportes sem bilhete para o
efeito. A decidiu, ainda assim, viajar num comboio para o qual já não existiam bilhetes
disponíveis e fazer, de pé, a viagem entre Coimbra e Braga. Três meses depois foi aprovada
uma nova lei, segundo a qual a circulação sem bilhete passou a ser punida com pena de
prisão de seis meses a um ano. Sabendo que, no momento em que A é levado a julgamento,
está em vigor a lei nova, diga como será punido A. Justifique a sua resposta.

A lei penal só pode ser aplicada a factos que ocorram após a sua entrada em vigor, sendo que,
desta forma, vigora o princípio da irretroatividade da lei penal. O pressuposto de atuação do p.
da irretroatividade é a determinação do momento da prática do facto (“tempos delieti”) –
artg. 3º CP, sendo decisivo para a determinação do momento a conduta , e não o resultado.

De acordo com o artigo 3ºCP, o facto considera-se praticado no momento em que o agente
atuou, sendo que, no caso concreto foi no dia em que A efetuou a viagem sem o bilhete
obrigatório. Assim, conforme o disposto no artigo 2º, as penas são determinadas pela lei vigente
no momento da prática do facto, que seria a pena de prisão até seis meses.

Mais tarde, é aprovada uma nova lei, segundo a qual a circulação sem bilhete é punida com
pena de prisão de seis meses a um ano. Uma vez que estamos perante leis temporárias, em
virtude de um período de sucessivas greves na CP, devemos aplicar o artigo 2º/3 CP.

As leis temporárias são criadas em circunstancias anómalas ou extraordinárias , cujo período de


vigência é mais curto que as outras, ou seja, leis temporárias devem considerar-se apenas
aquelas que, a piori, são editadas pelo legislador para um tempo determinado.

Assim, relativamente ao caso concreto, se estivermos perante uma alteração de circunstâncias


aplicaremos a lei do momento da prática do facto (até 6 meses de prisão – lei 1), sendo esta uma
exceção ao principio da aplicação da lei mais favorável (29º/4CRP), pois é aplicável mesmo que
em rigor já não se encontre vigente. A razão que justifica o afastamento da aplicação da lei mais
favorável reside em que a modificação legal se operou em função não de uma alteração da
conceção legislativa, mas unicamente de uma alteração das circunstâncias fácticas que deram
base á lei. Assim, quando cessa a vigência da norma, esta continua a aplicar-se aos factos
praticados quando esteve vigente.

No entanto, se considerarmos que a alteração da lei se deveu à mera alteração da conceção do


legislador , então será de aplicar a lei temporária mais favorável, que o caso seria a lei 1.

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6. Suponha que, em Abril de 2020, e tendo em conta a situação de pandemia que se


começara a viver, foi aprovada uma lei segundo a qual passou a ser punido com pena de
prisão até um ano “quem, intencionalmente, tossir sem máscara e num espaço fechado”.
Em Julho, e por causa do abrandamento da taxa de contágio, foi aprovada uma nova lei
pela qual aquele comportamento passou a ser punido com pena de multa. Em Outubro,
numa fase de novo aumento do número de casos de infectados em Portugal, foi aprovada
uma terceira lei, fixando como pena para aquela conduta prisão até 6 meses. Todas as leis
fixavam o seu período de vigência desde a data da publicação até ao final da pandemia. A
tossiu, sem máscara, dentro de uma sala de aula, no dia 8 de Maio de 2020 e é julgado em
Novembro deste mesmo ano. Qual a lei aplicável ao caso? Justifique.

A lei penal só pode ser aplicada a factos que ocorram após a sua entrada em vigor, sendo que,
desta forma, vigora o princípio da irretroatividade da lei penal. O pressuposto de atuação do p.
da irretroatividade é a determinação do momento da prática do facto (“tempos delieti”) –
artg. 3º CP, sendo decisivo para a determinação do momento a conduta , e não o resultado.

De acordo com o artigo 3ºCP, o facto considera-se praticado no momento em que o agente
atuou, sendo que, no caso concreto foi no dia em que A tossiu sem máscara em Maio 2020.
Assim, conforme o disposto no artigo 2º, as penas são determinadas pela lei vigente no
momento da prática do facto, que seria a pena de prisão até um ano (Lei 1).

Mais tarde, é aprovada uma nova lei (Lei 2) em Julho, e uma terceira lei (Lei 3) em Outubro.
Uma vez que estamos perante leis temporárias, em virtude da situação da pandemia, devemos
aplicar o artigo 2º/3 CP.

As leis temporárias são criadas em circunstancias anómalas ou extraordinárias , cujo período de


vigência é mais curto que as outras, ou seja, leis temporárias devem considerar-se apenas
aquelas que, a piori, são editadas pelo legislador para um tempo determinado.

Assim, relativamente ao caso concreto, estamos perante uma alteração de circunstâncias, sendo
que aplicaremos a lei do momento da prática do facto (lei 1), sendo esta uma exceção ao
principio da aplicação da lei mais favorável (29º/4CRP), pois é aplicável mesmo que em rigor já
não se encontre vigente. A razão que justifica o afastamento da aplicação da lei mais favorável
reside em que a modificação legal se operou em função não de uma alteração da conceção
legislativa, mas unicamente de uma alteração das circunstâncias fácticas que deram base á lei.
Assim, quando cessa a vigência da norma, esta continua a aplicar-se aos factos praticados
quando esteve vigente, devido ao facto ser muito grave quando foi praticado.

7. Em Abril de 2018 foi aprovada uma lei (1) segundo a qual passavam a ser punidos, com
pena de prisão até três anos, todos aqueles que ateassem fogueiras ao ar livre e em zona de

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palha seca. Em Julho, a referida lei foi substituída por outra (2), passando aquele
comportamento a ser punido com pena de prisão até dois anos. Mas, em Agosto, a pena de
prisão passou para até quatro anos (3). Em Outubro, porém, uma quarta lei (4) veio fixar
para aquele mesmo comportamento, novamente, a pena de prisão até três anos. B ignorou
todos os avisos da protecção civil e resolveu fazer uma queimada no seu quintal, com palha
seca, no dia 3 de Junho de 2018. Supondo que B está hoje a ser julgado, diga qual a lei
aplicável ao caso. Justifique.

8. Suponha que A praticou determinado facto em Setembro de 2020, numa altura em que
este facto era punido com prisão até 1 ano (Lei 1). Entretanto, em Janeiro deste ano,
entrou em vigor uma lei (Lei 2) que passou a punir o facto X com uma coima. Desde
Agosto, porém, o facto X, devido à aprovação de uma nova lei (Lei 3), é punido com
multa. A está hoje a ser julgado. Refira, justificando legal e doutrinalmente a sua
resposta, qual a lei aplicável.

Caso de aplicação da lei penal no tempo. A lei do momento da prática do facto (art. 3.º)
considera que o agente praticou um crime, existe uma lei intermédia que considera o facto
uma contraordenação e é a lei mais favorável. Problematização das diferentes soluções a que
se chega consoante a posição defendida. Embora se trate de dois ramos distintos do direito,
poderá afirmar-se um juízo de continuidade entre a ilicitude de mera ordenação social e a
ilicitude penal e o agente deve ser punido pela lei mais favorável (art. 2.º, n.º 4); ou direito
penal e direito de mera ordenação social são ramos distintos do direito, não se podendo
afirmar um juízo de continuidade da ilicitude. Não se verificando aqui uma verdadeira
sucessão de leis penais, a solução terá de ser a não condenação do agente – este não poderá
ser punido nem pelo crime, uma vez que o facto foi descriminalizado (art. 2.º, n.º 2), nem pela
contraordenação, uma vez que o facto ainda não era punido como tal ao tempo da sua
prática e isso redundaria numa aplicação retroactiva da lei, desfavorável ao agente e,
portanto, não permitida.

9. A, de 25 anos, abusou sexualmente da sua vizinha B, de 5, durante o período em que esta


passou a viver apenas com a avó, na sequência da emigração dos seus pais. Os factos
remontam aos meses de Março, Abril e Maio de 2017. Julgado e condenado em Dezembro
de 2018, B cumpre, neste momento, pena de 9 anos de prisão. Supondo que o legislador

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português tivesse aprovado uma lei, em Julho deste ano, segundo a qual o crime em causa
passaria, no máximo, a ser punido com uma pena de prisão até 7 anos, diga em que termos
poderá esta alteração influenciar a situação prisional de A. Justifique.

10. Quid iuris se A, B e C, julgados e condenados respectivamente a 6, 12 e 14 anos de


prisão em 2015, vêem, hoje, o tipo legal de crime no qual foram subsumidas as suas
condutas ser alterado no sentido de prever como pena máxima 6 anos de prisão?
Justifique.

11. Em 2014, A e B cometeram em co-autoria o crime X. Suponha que nessa data tal crime
era punido com pena de prisão de 2 a 8 anos. Perseguidos pelas autoridades, só A foi
encontrado e levado a julgamento, tendo B fugido para o estrangeiro. Em 2016, A foi
condenado numa pena de prisão de 7 anos, não tendo interposto recurso. Em 2020 a pena
aplicável ao crime cometido por A e por B passou a ser de prisão de 2 a 6 anos. Em 2020 B
foi finalmente encontrado, julgado e condenado.

a)Por que lei deve B ser punido?

Lei de 2020, mais favorável (2.º/4)

b) Poderá A beneficiar do regime mais favorável da nova lei?

Sai aos 6, mesmo tendo havido trânsito em julgado (2.º/4); Dependendo do momento em que
se perfazem os 6 anos, pode ou não haver interesse no 371.º-A CPP

c) Mas imaginemos agora que B tinha afinal sido encontrado, julgado e condenado em
2019, numa pena de prisão de 4 anos. Poderá beneficiar, de algum modo, da
despenalização que entretanto se verificou?

371.º-A CPP

1) Ana praticou determinado facto em Novembro de 2019, quando este facto era punido
com pena de prisão. Suponha que, em Fevereiro de 2021, foi aprovada uma lei pela qual o
mesmo facto passou a ser punido com coima e que, no passado dia 5 de Abril, entrou em
vigor uma última lei prevendo que o facto seja punido com pena de multa. Ana está hoje a
ser julgada. Indique, justificando, qual a lei aplicável ao caso.
Artigo 3º - momento da prática do facto
Lei intermédia – temos de colocar as duas hipóteses
Artg 2º/4 – aplicação da coima é o regime mais favorável – prof moreira dias
Art. 2º/2 – descriminalização – foi descriminado, não podemos punir como crime ; à data ainda
não era contraordenação – posição da jurisprudência

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2) Em 2010, António cometeu um crime de contrabando, punível com prisão até 2 anos
(L1). Em 30 de Novembro de 2012, o contrabando foi descriminalizado (L2). Em 2014,
entrou em vigor uma nova lei que voltou a punir o contrabando, agora com prisão até 1
ano (L3). Esta última lei continha uma norma segundo a qual as suas disposições
retroagiam os seus efeitos a a 1 de Dezembro de 2012. O processo-crime relativo ao crime
praticado por António atingiu a fase de julgamento em 2015, encontrando-se então em
vigor L3.
Suponha que é o/a juiz/juíza a quem cabe elaborar a decisão do caso e pronuncie-se,
fundamentadamente, sobre qual das leis deve ser aplicada ao caso e quais as respectivas
consequências.
Artigo 3º - 2010 , em principio seria de aplicar a L1
A L3 vem criminalizar um facto que tinha sido descriminalizado com a L2. Viola o principio da
legalidade por violar o p. de irretroatividade, logo viola o p. da legalidade , sendo
inconstitucional.
Artg. 2º/2 , 1ª parte é que aplicamos.

3) Em Dezembro de 2020, Beatriz, regressando a casa, no seu automóvel, depois de um


jantar em casa de amigos, foi mandada parar numa operação stop. Soprado o balão,
acusou uma taxa de álcool no sangue de 1,1 g/l. Por isso, foi-lhe aberto um processo de
contra-ordenação, com vista a sancioná-la pela prática da infracção contra-ordenacional
de condução em estado de embriaguez. No dia 1 de Janeiro de 2021 entrou em vigor nova
legislação rodoviária, que passou a qualificar como crime a condução de veículo em via
pública com uma taxa de álcool no sangue igual ou superior a 1 g/l. Logo após a entrada
em vigor desta nova lei, a Autoridade Nacional de Segurança Rodoviária remeteu o
processo de Beatriz para o Ministério Público, para que este acusasse Beatriz por crime de
condução de veículo em estado de embriaguez. Quid juris?
Artigo 3º - momento da prática do facto – contraordenação
Violação do p. de legalidade pois estamos a falar de uma criminalização, então não podem
enviar o processo para que lhe seja aplicado um crime.
Artigo 2º/1

Aplicação da lei penal no espaço

1) Durante o mês de Agosto, A, casado com B, envenenou a mulher com intenção de a


matar durante as férias que gozavam no Funchal. Detido imediatamente pelas
autoridades, A foi acusado do crime de homicídio qualificado na forma tentada pois B
acabou por sobreviver.

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a) Sabendo que ambos são alemães, poderá A ser julgado pelos tribunais portugueses?
Será a lei penal portuguesa aplicável ao caso?

O principio da territorialidade prevê que a lei penal Portuguesa se aplica a todos os factos
cometidos em território nacional, independentemente da nacionalidade do agente e da vítima.

De acordo com o artigo 7º, o facto considera-se praticado em Portugal, por ser o lugar em que o
agente atuou (critério da ação). Desta forma, sendo o facto for praticado em Portugal , será de
aplicar o artigo 4º al. a) (principio da territorialidade), sendo A este julgado em Portugal por
tribunais portugueses. Contudo, A só não será julgado em Portugal , caso haja algum tratado ou
convenção internacional que diga o contrário , segundo a parte inicial do art. 4º.

b) E se, em vez disso, A enviou um manuscrito envenenado, ainda na Alemanha, para o


hotel onde se hospedaria com a mulher e com a indicação de que lhe fosse entregue no
segundo dia de estadia, o que veio a acontecer, tendo B, no entanto, ainda assim,
sobrevivido graças à rápida intervenção de um médico que se encontrava no mesmo
hotel?

O principio da territorialidade prevê que a lei penal Portuguesa se aplica a todos os factos
cometidos em território nacional, independentemente da nacionalidade do agente e da vítima.

De acordo com o artigo 7º/2, o facto considera-se praticado em Portugal, por ser o lugar em que
o resultado se deveria ter produzido (critério do resultado esperado). Desta forma, sendo o facto
for praticado em Portugal , será de aplicar o artigo 4º al. a) (principio da territorialidade), sendo
A este julgado em Portugal por tribunais portugueses. Contudo, A só não será julgado em
Portugal , caso haja algum tratado ou convenção internacional que diga o contrário , segundo a
parte inicial do art. 4º.

2) A português viaja numa aeronave portuguesa com destino a Espanha. Após aterrar
em Madrid, A, ainda a bordo, agride B, espanhol, causando-lhe ofensas à integridade
física graves (art. 144º CP). Podem os tribunais portugueses julgar este facto?

O principio da territorialidade prevê que a lei penal Portuguesa se aplica a todos os factos
cometidos em território nacional, independentemente da nacionalidade do agente e da vítima.

De acordo com o artigo 7º, o facto considera-se praticado em Portugal, por ser o lugar em que o
agente atuou (critério da ação) e onde o resultado se produziu (critério do resultado). Desta
forma, sendo o facto praticado a bordo de uma aeronave portuguesa, será de aplicar o artigo 4º
al. b) (critério do pavilhão), sendo A julgado em Portugal por tribunais portugueses. Contudo, A
só não será julgado em Portugal , caso haja algum tratado ou convenção internacional que diga
o contrário , segundo a parte inicial do art. 4º.

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3) A, espanhol, e B, portuguesa, comemoravam mais um aniversário de namoro, em


Paris, quando se envolveram numa violenta discussão, tendo B acabado por esbofetear
A com violência. Sabendo que ambos regressaram a Portugal dois dias depois do
episódio de violência, diga em que condições poderão os tribunais portugueses ser
competentes para julgar a situação.

O principio da territorialidade prevê que a lei penal Portuguesa se aplica a todos os factos
cometidos em território nacional, independentemente da nacionalidade do agente e da vítima.

De acordo com o artigo 7º, o facto considera-se praticado fora de Portugal, por ser o lugar em
que o agente atuou (critério da ação) e onde o resultado se produziu (critério do resultado).
Desta forma, sendo o facto praticado em Paris, será de aplicar o artigo 5º /1 al. e) (p. da
nacionalidade ativa – o agente é português), pois é um facto praticado por um Português contra
um estrangeiro, e se verificam cumpridos os requisitos: o agente é encontrado em Portugal; o
facto é crime em Portugal e em França; e não hã extradição segundo o art. 33º/3CRP.

Assim, uma vez que o agente ainda não foi julgado, segundo o artigo 6º/1 a aplicação da lei PT
ao caso em concreto poderá aplicar-se mas, no entanto, temos de observar o disposto no nrº2
que prevê que seja aplicada a lei mais favorável ao agente.

4) A, francês, cometeu 3 homicídios qualificados em França. A polícia francesa andava


à sua procura para o prender, mas A conseguiu fugir para Portugal. Sabe-se que as
vítimas são portuguesas e que em França o delinquente seria punido com pena de
prisão perpétua. Uma vez em Portugal, A pode ser julgado pelos tribunais
portugueses?

O principio da territorialidade prevê que a lei penal Portuguesa se aplica a todos os factos
cometidos em território nacional, independentemente da nacionalidade do agente e da vítima.

De acordo com o artigo 7º, o facto considera-se praticado fora de Portugal, por ser o lugar em
que o agente atuou (critério da ação) e onde o resultado se produziu (critério do resultado).

Desta forma, sendo o facto praticado fora de PT, poderia aplicar-se o artigo 5º /1 al. e) (p. da
nacionalidade passiva – vitimas portuguesas), pois é um facto praticado por um estrangeiro
contra um Português, e se se verificassem cumpridos os requisitos: o agente é encontrado em
Portugal; o facto é crime em Portugal e em França (dupla incriminação); e a extradição só

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poderia ocorrer se fosse garantido que não lhe aplicavam a pena perpetua , sendo que, se não
aplicassem poderia ser julgado no seu país, e se aplicassem poderia ser julgado cá.

Assim, considerando que o agente já foi julgado, mas fugiu, não cumprindo pena nenhuma,
segundo o artigo 6º/1 a aplicação da lei PT ao caso em concreto poderá aplicar-se mas, no
entanto, temos de observar o disposto no nrº2 que prevê que seja aplicada a lei mais favorável
ao agente. Assim, seria de aplicar a lei PT por ser a mais favorável ao agente.

5) Na sequência de uma mega investigação, encontraram-se várias provas de que A,


português, residente no Líbano, se havia juntado a um grupo armado que projetava
vários ataques suicidas na Europa, revelando documentos dos Serviços Secretos
portugueses, relativos à salvaguarda da população em território nacional. Refira-se à
possibilidade de este ser punido pela lei penal portuguesa (art. 316.º - violação de
segredo de Estado)?

O princípio da territorialidade prevê que a lei penal Portuguesa se aplica a todos os factos
cometidos em território nacional, independentemente da nacionalidade do agente e da vítima.

De acordo com o artigo 7º, o facto considera-se praticado fora de Portugal, por ser o lugar em
que o agente atuou (critério da ação).

Desta forma, sendo o facto praticado fora de PT, seria de aplicar-se o artigo 5º /1 al. a) (p.
interesses nacionais), sendo que o agente ainda não foi julgado e, segundo o artigo 6º/1 a
aplicação da lei PT ao caso em concreto poderá aplicar-se mas, no entanto, temos de observar o
disposto no nrº2 que prevê que seja aplicada a lei mais favorável ao agente. Contudo, seria de
aplicar a lei Portuguesa e não a mais favorável, devido ao disposto no nrº3 do artigo 6º.

6) A, realizador francês, mas residente em Portugal, viajou para França com o intuito
de concluir uma nova curta metragem. Nesta, usou B, jovem francesa de 14 anos. A
voltou para Portugal. Sabendo que a curta metragem em causa era de conteúdo
pornográfico e que a jovem B foi usada como protagonista, diga em que termos
poderão os tribunais portugueses julgar A pelo crime previsto e punível nos termos do
artigo 176.º/1,b) do CP. Justifique a sua resposta.

O princípio da territorialidade prevê que a lei penal Portuguesa se aplica a todos os factos
cometidos em território nacional, independentemente da nacionalidade do agente e da vítima.

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De acordo com o artigo 7º, o facto considera-se praticado fora de Portugal, por ser o lugar em
que o agente atuou (critério da ação).

Desta forma, sendo o facto praticado fora de PT, seria de aplicar-se o artigo 5º /1 al. d) nr ii)
(proteção de menores – interesses universais). Assim, sendo que o agente ainda não foi julgado
e, segundo o artigo 6º/1 a aplicação da lei PT ao caso em concreto poderá aplicar-se mas, no
entanto, temos de observar o disposto no nrº2 que prevê que seja aplicada a lei mais favorável
ao agente.

7) A, americano, cometeu no seu país um crime punido com pena de morte e refugiou-
se em Portugal. Será a lei penal portuguesa aplicável a este caso?

O principio da territorialidade prevê que a lei penal Portuguesa se aplica a todos os factos
cometidos em território nacional, independentemente da nacionalidade do agente e da vítima.

De acordo com o artigo 7º, o facto considera-se praticado fora de Portugal, por ser o lugar em
que o agente atuou (critério da ação) .

Desta forma, sendo o facto praticado fora de PT, poderia aplicar-se o artigo 5º /1 al. f), pois
trata-se de um crime praticado fora de PT e o agente estrangeiro é encontrado em PT, e
considerando que a extradição foi requerida, esta não pode ser efetuada porque no país do
agente o crime concreto é punido com pena de morte (art. 33º/6 CRP + 6º lei cooperação
judiciária).

Assim, considerando que o agente não foi julgado, segundo o artigo 6º/1 a aplicação da lei PT
ao caso em concreto poderá verificar-se mas, no entanto, temos de observar o disposto no nrº2
que prevê que seja aplicada a lei mais favorável ao agente. Assim, seria de aplicar a lei PT por
ser a mais favorável ao agente.

8) A bordo de uma aeronave espanhola e na sequência de um desentendimento durante


o voo, A, italiano, matou B, português. Assim que a aeronave aterrou em Madrid, A foi
detido pelas autoridades. Julgado e condenado em Espanha, A começou a cumprir a
sua pena de 10 anos de prisão em Março de 2012. No passado mês de Dezembro, A,
porém, conseguiu evadir-se da prisão, refugiando-se num monte alentejano,
propriedade de um amigo alemão. Serão os tribunais portugueses competentes para
julgar A? Poderá a lei penal portuguesa aplicar-se ao caso?

O principio da territorialidade prevê que a lei penal Portuguesa se aplica a todos os factos
cometidos em território nacional, independentemente da nacionalidade do agente e da vítima.

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De acordo com o artigo 7º, o facto considera-se praticado fora de Portugal, por ser o lugar em
que o agente atuou (critério da ação) .

Desta forma, sendo o facto praticado fora de PT, poderia aplicar-se o artigo 5º /1 al. e) (p. da
nacionalidade passiva – vitima portuguesa), pois é um facto praticado por um estrangeiro contra
um Português, e se se verificassem cumpridos os requisitos: o agente é encontrado em Portugal;
o facto é crime em Portugal e em Espanha (dupla incriminação); a extradição não foi
concedida , art 33º/3 CRP.

Assim, considerando que o agente já foi julgado, mas fugiu, não cumprindo 1 ano e 3 meses que
faltavam, segundo o artigo 6º/1 a aplicação da lei PT ao caso em concreto poderá aplicar-se,
devendo ser-lhe sempre aplicada a lei mais favorável segundo o art. 6º/2CP.

Contudo, segundo o art. 82ºCP, teria desconto na medida processual.

(Por exemplo, se a pena aplicada em PT fosse 9 anos, era a mais favorável (art .6º/2) e só teria
de cumprir 3 meses; já se aplicássemos a pena mínima de 8 anos, não teria de cumprir nada.)

1) Belmiro, português emigrante no Luxemburgo, veio a Portugal no passado mês de


Agosto, para passar umas férias com a sua família. Preocupado com a situação de
desemprego do seu irmão Carlos, convence-o a ir consigo para o Luxemburgo, onde
acredita que poderá ser mais fácil procurar um novo emprego nesta fase difícil que o
mundo atravessa. Carlos nunca antes saíra de Portugal, mas, embora receoso, acabou por
aceitar o desafio do irmão. Já no Luxemburgo, e não se adaptando à sua nova vida
naquele país, Carlos desentende-se com Belmiro e pede-lhe dinheiro emprestado para
regressar a Portugal. Como Belmiro não acede àquele seu pedido, Carlos aproveita um
momento em que o irmão não está em casa e, conhecendo o segredo do cofre da casa, tira
15.000 euros que Belmiro ali tinha guardados. Carlos acredita que, com esse dinheiro,
poderá viver uns tempos de modo confortável em Portugal e procurar mais calmamente
um novo emprego. Carlos regressa a Portugal a 15 de Outubro. Belmiro, inconformado
com o sucedido, cortou relações com o irmão e pretende saber se o irmão pode ser punido
em Portugal pelo crime que cometeu. Supondo que é advogado e que Belmiro o procura,
como caracterizaria juridicamente a situação ao seu cliente? Justifique a sua resposta.

Artigo 7º - quer pelo critério da ação ou do resultado, o facto está praticado fora de PT

Artigo 5º al. b) – o facto de ele ir 2/3 semanas a um sitio não afeta a residência habitual –
aplicavamos a PT (art. 6º/3).

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Podiamos considerar a alínea e) , mas não era tao certa. Os requisitos estavam verificados,
mesmo o iii) pois so extraditamos PT em caso de terrorismo. Aqui podia ter de aplicar a lei
luxemburguesa, devido ao art. 6º, nunca temos a certeza se será a lei PT a aplicar.

2) José, português emigrante em França, recebeu a notícia de que a sua mãe, residente
numa aldeia do alto Minho, havia sido insultada, nesse mesmo dia, por um seu vizinho,
Manuel. Muito agastado com o sucedido, José ligou de imediato aos seus irmãos Pedro e
Xavier e convenceu-os que a afronta à mãe não podia passar sem resposta, devendo ser
dada uma lição a Manuel, instigando-os a dar-lhe uma sova. Animados pela instigação de
José, Pedro e Xavier fizeram uma espera a Manuel, agredindo-o a murros e pontapés
durante cerca de 10 minutos. Regressado a Portugal, para celebrar a época de Natal, José
foi detido por suspeita de instigação dos seus irmãos na agressão de que foi vítima Manuel.
Confrontado com esta suspeita, José defendeu-se alegando que não pode ser processado
em Portugal já que à data dos factos se encontrava em França, onde reside. Quid juris?

Art . 7º . Portugal

José pode ser julgado cá – pelo critério da ação que pode ser por qualquer forma de
participação, sendo o critério da ação total ou parcial e José instiga ao crime.

Art. 4º - julgado em PT , salvo tratado ou…

Explicar pq que a regra é o p. da territorialidade: Mais fácil produzir prova onde o facto tem
lugar(ordem processual); e é aqui que a proteção do bem jurídico se faz sentir (ordem material)

3) A, chileno, assaltou um banco no Japão. Descoberto o facto, A é julgado e condenado


naquele país a uma pena de prisão perpétua. Ao fim do primeiro ano de cumprimento da
pena, A evade-se para Portugal. Em que circunstâncias poderá A ser julgado no nosso país
pela prática do referido crime? À luz de que lei? Terá alguma relevância o facto de o
agente ter cumprido um ano de prisão no Japão? Justifique a sua resposta, mobilizando os
elementos legais e doutrinais relevantes.

Art. 7º - Japão , onde ate já iniciou cump. De pena

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Art. 5º al. f) – a extradição tem de ser requerida , como não temos garantias se não lhe será
aplicada a pena perpetua julgamos em PT

Art. 6º/1 , 2ªp - podemos julgar ? sim, vamos julgar novamente e descontamos o que já cumpriu.

Art 6º/2 – lei PT por ser a mais favorável

4) Bernardo é proprietário de uma empresa sediada na Guarda. Certo dia, tem uma
reunião com Paco nas instalações dessa empresa, destinada a persuadir este cidadão
espanhol a investir no seu negócio, que se encontra a braços com grandes dificuldades
financeiras. Para esse efeito, Bernardo apresenta a Paco relatórios e contas falsificadas,
que levam Paco a acreditar na boa situação financeira e económica da empresa. Já em
Espanha, Paco faz uma transferência de 100.000 euro da sua conta bancária espanhola
para a conta de Bernardo. Logo que recebe os fundos, Bernardo utiliza-os para pagar
dívidas pessoais, causando assim um grave prejuízo a Paco e cometendo, dessa forma, um
crime de burla, previsto e punido pelo art. 217.º do CP. Ao ser julgado pelo crime
cometido, Bernardo argumenta que lhe deve ser aplicável a lei espanhola, por lhe ser
concretamente mais favorável, visto que, entretanto, os crimes de burla haviam sido
amnistiados naquele país.

Pronuncie-se sobre a pretensão de Bernardo, justificando a sua resposta no plano legal e


doutrinal.

Art. 7º - o facto considera-se praticado em PT , critério da ação pq se apropria do dinheiro em


PT

Art. 4º - p. da territorialidade – Bernardo não pode ser julgado pela lei mais favorável. É o
artigo 6º que aplica a lei mais favorável, mas este não se aplica com o artigo 4º , e apenas se
aplica com o 5º

5) A e B, italianos residentes em Portugal, enviam de um correio de Lisboa uma


encomenda armadilhada para C, também italiano, residente em Itália, com intenção de o
matar. A encomenda acaba, porém, por extraviar-se e nunca chegar ao seu destino.

Diga se e em que termos A e B poderão ser julgados em Portugal. Justifique legal e


doutrinalmente a sua resposta.

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Artigo 7º /1 – embora seja tentativa , os factos remetem nos para o critério da ação porque é
o que nos permite aplicar a lei PT – so vamos para o 7/2 quando queremos tentar arranjar
forma de que PT seja competente para julgar.

Art. 4º

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