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de 1886
Benja Satula*
1. Introdução
Neste gesto que nunca substituirá tudo o que o Professor Adérito
Correia fez por mim e pela FDUCAN e pelo ensino do Direito em
Angola, rendo a minha homenagem refletindo sobre a comparticipação
criminosa e todos os «institutos» relevantes a ela inerente, com maior
realce em relação à instigação.
A instigação à instigação tem sido controversamente debatida na
doutrina e na jurisprudência diversa, daí revestir-se de grande interesse.
Porque começa a ganhar maior acuidade e grande interesse teórico-prático
na nossa ordem jurídica, justificou a minha abordagem.
A fim de darmos maior consistência ao trabalho, percorremos os
diversos autores portugueses que, tendo convivido com o CP de 1886,
assistiram à reforma e discutiram a teoria da comparticipação à luz
do Código Penal Português (Código Penal de 1982) e assim faremos
uma abordagem dos traços comuns da Teoria Geral da Comparticipa-
ção Criminosa, com realce para as diferentes conceções de autor e as
consequências da sua adoção nos ordenamentos jurídicos. Na fase final
analisaremos, opinando, a problemática da existência ou não de uma
instigação à instigação.
2. Teoria da comparticipação
É múltipla e plurissignificativa a terminologia utilizada, quer na dou-
trina quer nas legislações1 quanto aos agentes do crime. O Código Penal
de 1886 estratifica-os em participação principal (autores), participação
secundária (cúmplices) e participação por aderência (encobridores), artigos
19.º, 20.º, 22.º e 23.º O Código Penal Português desde 1982 utiliza por
sua vez a terminologia «comparticipação», englobando quer os autores
quer os cúmplices.
São agentes aqueles que participam no facto criminoso punível, assim
os agentes podem ser ou autores ou cúmplices. Sendo que a figura do
encobridor autonomizou-se desta epígrafe. Os casos de encobrimento, real
ou pessoal são, agora, tratados na maioria dos ordenamentos jurídicos,
autonomamente, constituindo desta feita o crime de recetação.
A pluralidade de agentes no crime não se verifica apenas como forma
do crime; tal só sucede quando o crime é incriminado como monossub-
jetivo e pode acidentalmente ser realizado com a participação de vários
agentes2/3.
A propósito distingue-se os crimes de participação facultativa e os
crimes de participação necessária.
Os primeiros, também conhecidos como «monossubjetivos», podem
ser cometidos por vários agentes a título de mera participação facultativa.
Em geral, os crimes são previstos nas normas incriminadoras da
Parte Especial do Código Penal, como monossubjetivos; mas os crimes
monossubjetivos são suscetíveis de realização por uma pluralidade de
agentes. Sendo que a técnica utilizada é a de a incriminação da Parte
Especial confinar à definição do autor singular do crime, e mediante uma
norma da parte geral se procede à extensão da incriminação à realização
do crime por uma pluralidade de agentes.
Os crimes plurissubjetivos são aqueles que só podem ser realizados
com a participação de vários agentes e em que a pluralidade de agentes
é essencial.
Verbo, 1988, p. 315. O Código Penal Italiano fala de «concurso de pessoas no crime»
ao passo que o Código Penal Brasileiro designa por «concurso e agentes».
2 Idem.
3 No mesmo sentido cfr. Germano Marques da Silva, Direito Penal Português, Parte
Geral II, Teoria Do Crime, Editorial Verbo, 2.ª Edição Revista e Atualizada, Lisboa,
2005, p. 290.
DA AUTORIA À CUMPLICIDADE NO CÓDIGO PENAL DE 1886 13
Giuseppe Bettiol, Direito Penal, Parte Geral, Tomo III, Coimbra Editora, Coimbra,
4
1973, pp. 207 a 281, afirma: pensamos que está mais de acordo com a letra e com o espírito
da legislação vigente a noção restritiva de autor. Esta nossa afirmação irá escandalizar
DA AUTORIA À CUMPLICIDADE NO CÓDIGO PENAL DE 1886 15
aqueles que insistem unicamente sobre a lesão do bem jurídico, em nome de um rígido e
mecânico princípio de causalidade, mas não se deve esquecer que, mesmo no âmbito de
um sistema teleológico, o ilícito é sempre ainda um ilícito típico, no sentido de que não
é suficiente a lesão de um bem ou de um interesse da vida social tutelado pelo direito,
mas é necessário que essa lesão seja o produto de uma atividade que se apresenta com
determinadas modalidades, de contrario, porém, iria deparar-se-nos o grave inconveniente
de sacrificar no altar de uma presumida justiça substancial os critérios gerais da certeza
e da segurança, mais do que nunca prementes no campo do direito penal.
Sobre este aspeto, a conceção restritiva corresponde a uma posição mental liberal.
Aliás, que seja necessário um critério formal para determinar a qualidade de autor, pode,
também, deduzir-se do autorizado parecer de Manzini, que na primeira parte da definição
põe em destaque o elemento substancial que está, ou que deve sempre estar na base da
noção de autor, e na segunda parte da definição é oportunamente esclarecido o elemento
formal o da correspondência da ação com as modalidades da fattispecie abstrata. Podemos,
por conseguinte, considerar autor «quem realiza culpavelmente com o seu comportamento
um facto previsto como crime por uma lei incriminadora e determina, desse modo, a
lesão efetiva ou potencial de um bem tutelado».
Causalidade e tipicidade não se contrapõem como critérios que determinam duas
conceções do autor inconciliáveis entre elas, antes acabam por fundir-se numa conceção
que de extensiva utiliza, nos limites do possível, o requisito da causalidade, e à restritiva
vai pedir o indispensável requisito da correspondência do comportamento do autor com
o modelo legislativo abstrato
5 Para Cavaleiro de Ferreira, a comparticipação supõe sempre uma pluralidade de
agentes que nela participam. Os agentes do crime são participantes, apenas o modo de
participação é que difere. Há uma participação mais grave, participação principal, que
o Código designa por «autoria», e uma participação secundária, que o Código Penal
designa por «cumplicidade». Os agentes do crime podem ser, assim, autores ou cúmplices.
O artigo 26.º refere-se aos autores como agentes responsáveis pelo crime, como o artigo
27.º se refere aos cúmplices como agentes responsáveis pelo crime.
O Código Penal, ao definir os autores no artigo 26.º, utilizou o conceito de «autoria
mediata», prescindindo de uma definição direta dos autores que o conceito engloba.
E haverá que descobrir o seu real significado na sua interpretação.
6 Conceito extensivo de autoria. Efetivamente, as normas penais descrevem certos
tiver dado causa. Por outras palavras: será autor de um delito aquela pessoa ou pessoas
que tiverem levado a cabo qualquer comportamento que esteja num nexo de causalidade
com o preenchimento do respetivo tipo legal.
Assim, como quer GETZ, para fundamentar a punição das várias pessoas que cola-
borem e deem causa a um facto criminoso, não seriam necessárias quaisquer normas da
parte geral dos códigos penais: os tipos legais de crimes, ao estatuírem que quem fizer
isto e aquilo será punido desta e daquela maneira, contem implicitamente o fundamento
e a razão de ser da punição de todos os indivíduos que derem causa à sua realização.
Um tal conceito não poderia abranger e deixaria por isso impunes – a não haver
normas da Parte Geral dos Códigos Penais que alargassem o domínio das pessoas a
quem se estende a punição –, deixaria impunes, dizíamos, todos os casos em que, entre
comportamento de um comparticipante e o resultado criminoso, se coloca uma atividade
de outrem.
Efetivamente, sendo esta atividade livre, não poderá dizer-se que o participante
cause o facto punível, já que justamente a liberdade do agente intermediário quebra,
interrompe o nexo de causalidade.
Por outro lado, acrescenta-se: não é exato pretender-se que a descrição do tipo
legal de crime abrange qualquer atividade que direta ou mediatamente produza o seu
preenchimento.
Na verdade, ela só abrange os efetivos atos de execução. Ora, justamente muitos
dos chamados «actos de participação» não são atividades executivas, constituindo, antes,
tão-só meros atos preparatórios, como tais não puníveis.
De resto, que assim é, resulta do reconhecer-se o próprio princípio de acessoriedade,
segundo o qual a punição dos atos dos comparticipantes está dependente da prática do
facto típico, ou seja, da sua execução por outrem, pelo menos na forma de tentativa.
Conceito restritivo de autoria. De tudo isto conclui-se que o fundamento da punição
das atividades que colaboram na produção de um facto criminoso, mas não o executam,
não pode encontrar-se nas normas que descrevem os tipos legais de crime, mas antes
no alargamento da punição – por força de certas disposições da parte geral dos Códigos
Penais – outras formas de colaboração no facto criminoso, que não são autoria.
Desta forma, parte-se de um conceito restritivo do autor. Alargando a responsabilidade
a outras atividades de colaboração ou participação no crime, quais sejam a instigação e
a cumplicidade, ex vi de certas disposições gerais.
Por isso mesmo, a punição destas formas de participação seria tão-só acessória,
resultando do alargamento a outras pessoas, que não são autores, da imputação, supondo,
ou melhor, exigindo sempre, portanto, a existência e a prática de um facto principal, ou
seja, a existência da autoria donde deriva a sua criminalidade.
Crítica: a construção que acabámos de expor parece não deixar de ter certas vantagens.
Crimes próprios. Efetivamente, por exemplo, não sendo autores os instigadores e
os cúmplices, não seria necessário que estes reunissem as qualidades que a lei descreve
como elemento constitutivo de certos tipos legais de crimes, chamados próprios, v. g.,
o funcionário. Assim o extraneus, que não reúne certas qualidades típicas não podendo
ser autor, poderia ser punido como cúmplice ou instigador de tais crimes.
DA AUTORIA À CUMPLICIDADE NO CÓDIGO PENAL DE 1886 17
pp. 454 ss: A questão fundamental, para a nossa lei e concetualmente, é a distinção entre
autores e cúmplices. Isto é, entre a autoria e a cumplicidade.
Deixando agora entre parêntesis uma terceira possibilidade que é a instigação –
que na nossa lei é consagrada como forma de autoria, mas que teoricamente será mais
rigoroso considerar que é uma forma de participação ao lado da cumplicidade, porque,
assim como os cúmplices, também os instigadores, no fundo, participam num crime que
fundamentalmente é de outra pessoa, essa sim, o verdadeiro autor.
Para além desta questão, que é uma das dificuldades reais e fundamentais da teoria
da participação, a distinção entre autoria e cumplicidade, ou autoria e participação, quais
são as figuras que parece correto distinguir, e qual a terminologia que parece correto
usar dentro da teoria da participação?
Dentro da autoria há que distinguir entre a autoria imediata, a coautoria e a autoria
mediata. E dentro da participação há que distinguir entre cumplicidade e instigação (ou
instigação e cumplicidade por grau decrescente de gravidade…).
Encontramos na doutrina portuguesa uma grande flutuação de terminologia e de
conceitos.
Por exemplo, Figueiredo Dias, por razões de lei escrita, acaba por meter a instigação
na autoria, mas a certa altura já está a tratá-la como forma de participação e torna-se
um pouco confuso.
O professor Cavaleiro de Ferreira diz que não faz sentido no direito português falar
em autoria mediata. Considera que esse conceito não tem interesse, que situações desse
tipo estão no art. 20.º como qualquer forma de autoria.
O prof. Eduardo Correia fala em autoria moral e refere-se dentro dela a autoria
mediata e a instigação.
18 BENJA SATULA
possa estar uma diversidade de ideologia política, visto a noção extensiva de autor parecer
mais de acordo com uma conceção autoritária do Estado, que no campo penal – indepen-
dentemente de considerações formais – pretenda aplicar sanções penais a toda e qualquer
causa de eventos ilícitos. Parece-nos, porém, mais prementes as considerações de técnica
legislativa e hermenêutica legal. As consequências que resultam da natureza das normas
sobre a participação são diversas conforme se aceite a noção extensiva do autor ou a
restritiva. Se for autor todo o sujeito que se encontre em qualquer relação causal com o
evento lesivo é, na verdade, suficiente a norma particular da Parte Especial do Código
para incriminar penalmente a atividade de qualquer indivíduo que tenha cooperado para
a produção da mesma lesão. Deixa de haver uma razão lógica para distinguir entre autor
e participante, e as normas sobre a participação – quando o legislador não tenha querido
renunciar a elas – seriam supérfluas se não admitissem um diferente tratamento penal
para os participantes, ou apresentariam o caráter de normas restritivas da punibilidade,
e o legislador tivesse previsto um tratamento mais benévolo para os participantes.
Se, pelo contrário, se adota a noção restritiva do autor, pela qual só é autor quem realiza
a ação típica, as normas sobre a participação assumem o caráter de normas extensivas da
punibilidade, porque a atividade do participante, dado que é logicamente diversa da do
autor e na medida em que essa diversidade lógica se projeta sobre o esquema jurídico,
DA AUTORIA À CUMPLICIDADE NO CÓDIGO PENAL DE 1886 19
não pode ser abrangida pela norma incriminadora principal, mas postula – com base
no princípio da legalidade – a existência de uma norma secundária que, dessa maneira,
alarga a esfera de influência da norma principal.
Aceitando-se a noção restritiva do autor, devemos admitir que as normas sobre o
concurso têm a natureza de normas complementares extensivas da incriminabilidade da
norma principal, no sentido de que «a norma incriminadora especial descreve o crime e
comina a pena para aquele que o realiza, e a norma complementar aumenta a previsão
daquela, e torna, dessa maneira, possível que as suas disposições sejam referidas também
àqueles que, embora não tendo realizado materialmente o crime, contribuíram, porém,
para a sua produção».
10 Cavaleiro de Ferreira, ob. e pp. cits.
20 BENJA SATULA
Idem, p. 284.
11
13 Idem.
22 BENJA SATULA
a) Autor
Aos autores, como participantes principais, do art. 20.º, se contrapõem
os cúmplices, participantes secundários (art. 22.º), o CP integrou de forma
expressa a instigação na autoria (n.º 4 do artigo 20.º).
i) Autores materiais
São autores «os que executam o crime, ou tomam parte direta na
execução».
O autor singular também entra em comparticipação com outro ou
outros agentes na medida em que participam no crime autores morais
ou cúmplices. E essencialmente as disposições dos artigos 19.º, 20.º e
22.º referem-se à incriminação da pluralidade de agentes, um dos quais
pode ser o único executor material.
O significado da distinção que a norma habilitada faz entre aquele
que executa o crime por si mesmo e aquele que o executa por intermédio
de outrem.
«Na coautoria material […] cada coautor “toma parte direta na exe-
cução”. Da forma como está redigido o texto, parece resultar que se
refere exclusivamente ao executor ou autor material, direto ou indireto,
imediato ou imediato – e o coautor seja definido como tomando parte
direta ou imediata na execução, com exclusão dos casos em que tome
parte mediata na execução.»
O esclarecimento deste ponto é fundamental para a caraterização da
categoria dos autores que executam o facto por intermédio de outrem,
que foram intercalados.
DA AUTORIA À CUMPLICIDADE NO CÓDIGO PENAL DE 1886 23
Na verdade, aquele que executa o facto por intermédio de outrem não “executa”
o facto – não é executor, nem imediato, nem mediato – antes determina outrem
a executá-lo.
A diferença com a instigação ou determinação de outrem ao crime constante
da parte final do artigo 26.º está em que muitas vezes o executor pode não ser
imputável ou não ter culpa.
A noção de execução é correspetiva da noção de executor, e há, por isso, que
ponderar a noção de execução que nos fornece o próprio artigo 26.º A noção de
execução serve, no artigo 26.º, igualmente para definir os coautores materiais (os
que tomam parte na execução) e é ainda usada neste ao condicionar a punição do
instigador (autor moral) à “execução ou começo de execução” do facto por outrem.
Não parece de admitir uma diversa noção de execução no âmbito do mesmo
artigo; e, ainda mais, uma noção que possa estar em manifesta contradição com
a noção que nos é dada no seu lugar próprio – na definição de tentativa (artigo
22.º) – e que é uma definição com base no elemento objetivo do facto.
Ora, precisamente na mesma frase, o artigo 26.º estaria a empregar a expressão
execução de modo a abranger a determinação de inimputáveis ou executores
sem culpa, considerando executor o agente que determina outrem à execução,
e a empregar esse mesmo conceito, quanto à coautoria material, considerando
exclusivamente coautores os que, diretamente, por si mesmos, executam o crime.
Idêntica discrepância se observa na parte final do artigo 26.º
A execução ou começo de execução que condiciona a punibilidade do instigador
é a execução e começo de execução consoante vêm definidos no artigo 22.º Se
pudesse antecipar-se o começo de execução para o momento em que o instigador
determina outrem à prática do facto, como também para o momento em que o
autor mediato constrange ou engana outrem, todos os autores morais seriam
puníveis por tentativa de instigação como autores do crime, independentemente
da prática por outrem de qualquer ato de execução.
Uma tentativa de autoria moral (de autoria mediata, segundo o Código Penal)
seria já tentativa punível, ultrapassando os limites da incriminação da tentativa
no artigo 22.º
Parece, assim, mais curial entender que a execução por intermédio de outrem é
ainda execução por outrem, execução direta como na coautoria, e que, adotando
a terminologia da doutrina e legislação alemãs, o CP apenas quis adotar uma
terminologia “mais moderna” sem alterar a noção de execução do crime.
A única restrição – e essa criticável por desconforme com a restante regulamen-
tação – é a que consta da definição do instigador ou, melhor dizendo, de uma
espécie dentro da categoria dos autores morais.»15
15 Idem.
DA AUTORIA À CUMPLICIDADE NO CÓDIGO PENAL DE 1886 25
ou instigação sem a qual não teria sido cometido (na definição legal do
Código de 1886) e aos casos em que a determinação de outrem respeita
a executores imputáveis e culpados, bem como os casos de determinação
do executor inimputável ou não culpado (como autores mediatos).
b) Cumplicidade
A comparticipação é constituída pela participação de vários agentes
e é resultado da obra de todos os agentes, artigos 19.º e 22.º do CP.
Denomina-se cumplicidade participação secundária para acentuar a
sua menor gravidade objetiva. Não é de confundir este caráter secundário
com a acessoriedade na comparticipação criminosa, por isso que a aces-
soriedade conota – quando devidamente entendida – a interdependência
ou confluência de todas as participações na comparticipação.
i) Cumplicidade material
Nos termos do artigo 22.º do Código Penal a cumplicidade traduz-
-se num conselho ou instigação não determinantes (1.º) ou em atos de
facilitação ou preparação dispensáveis (2.º, 22.º), «auxílio material».
Adotando assim, o legislador, uma concisa definição de cumplicidade
material, mas manteve-a com clareza e através dos mesmos conceitos:
atos de preparação e atos de facilitação da execução.
c) Instigação
17 Idem.
18 Maria da Conceição S. Valdágua, Do Início da Tentativa na Coautoria, 2.ª Edição,
Lex – Edições Jurídicas, Lisboa, 1993, pp. 111 a 136.
19 Eduardo Henriques da Silva Correia, Direito Criminal, Edição autorizada pelo
apesar de não ser a sua posição, também consentiu ao afirmar «quanto a exigir-se que
determinação seja dolosa, parece, com isto, ir-se ao encontro da melhor doutrina: não
porque, como querem alguns, seja impensável uma determinação por negligência»; in
BMJ n.º 144, p. 44.
30 BENJA SATULA
32 Simas Santos e Leal Henriques, Código Penal Anotado, I Volume, Editora Rei
3. Conclusão
É nosso entendimento que em homenagem ao princípio da unidade
jurídica e nos termos da hermenêutica jurídica, o intérprete deve presumir
que o legislador consagrou as soluções mais acertadas e soube exprimir
o seu pensamento em termos adequados e interpretar de acordo com o
espírito do sistema.
A exigência da imediatividade entre o instigador e o instigado cons-
tituiria um rombo de vulto na interpretação do disposto no artigo 26.º
do Código Penal Português (sendo certo que é aplicável de forma mais
nítida ao artigo 20.º do CP): «… e ainda quem, dolosamente, determinar
outra pessoa à prática de um facto, desde que haja execução ou começo
de execução». Parece-nos que deve ser exigido única e simplesmente
que o facto típico praticado pelo autor seja, ipis verbis, aquele a que o