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1.

CONCEITO

Art. 29 - Quem, de qualquer modo, concorre para o crime incide nas penas a
este cominadas, na medida de sua culpabilidade.

Crime é toda ação ou omissão causado por um agente que produz resultado
ilícito sobre um bem tutelado, comumente os crimes descritos no Código Penal
referem-se aos delitos cometidos por apenas uma pessoa, entretanto, o fato
punível também pode ser cometido por duas ou mais pessoas, todas
contribuindo para a obtenção de um resultado. A essa cooperação chamamos
de Concurso de Pessoas.
São diversos os motivos que podem impelir o indivíduo a se associar a outro
para a realização de um crime, como por exemplo: garantir o êxito do delito,
garantir a impunidade, proveito coletivo do resultado do crime. A cooperação na
prática do delito pode acontecer desde a elaboração intelectual até a
consumação do fato. Respondem “pelo ilícito o que ajudou a planejá-lo, o que
forneceu os meios materiais para a execução, o que intervém na execução e
mesmo os que colaboram na consumação do ilícito” ¹.
A partir deste ponto podemos levantar as seguintes questões: “a) como deve
ser valorado o fenômeno delitivo quando participam vários agentes, e b) como
deve ser valorada a conduta individual de cada um” ². Diferenciar as várias
espécies de conduta no crime – indução, autoria colateral, participação etc e
definir a culpabilidade individual torna-se o cerne da questão. Devemos
ressaltar que as condutas realizadas após a consumação do crime não entram
nesse âmbito, configurando crime autônomo.
É importante esclarecermos que o concurso necessário, nos crimes que só
podem ser cometidos por duas ou mais pessoas, como bigamia, rixa etc., não
serão aqui examinados. Só iremos tratar do concurso eventual, crimes que
podem ser executados por apenas uma única pessoa, ou seja, o concurso de
pessoas é a vontade voluntária de participação de duas ou mais pessoas em
uma infração penal.

2. TEORIAS SOBRE O CONCURSO DE PESSOAS

Existem principalmente três teorias que buscam elucidar a ocorrência da


codelinquência. São elas:

1. Julio Fabbrini Mirabete, Manual de Direito Penal, Atlas, 1985, v. 1, p. 225.


2. Cezar Roberto Bitencourt, Tratado de Direito Penal, Saraiva, 2023, v.29, p539.

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a) Pluralística
Segundo essa teoria cada um dos agentes participantes do crime tem
uma conduta própria com um resultado igualmente particular. Ou seja, a
pluralidade de agentes relaciona-se com a pluralidade de crimes
cometidos, com diversidade de condutas, ainda que provocando apenas
um resultado.

b) Dualística
De acordo com essa teoria existem dois crimes, um para os autores,
aqueles que realizam a atividade principal, e outro para os partícipes, os
que desenvolvem uma atividade secundária. Dessa forma os autores
praticam o crime principal, durante a fase executória, constituindo a
autoria, enquanto os partícipes colaboram na fase preparatória ou
mesmo na executória, porém contribuindo com conduta de menor
importância.

c) Unitária ou monística
Para essa teoria existe um só crime e todos os participantes respondem
pela mesma infração penal, existindo, portanto, unidade do título de
imputação. Essa é a teoria adotada, como regra, pelo nosso Código
Penal, conforme descrito no art. 29, caput.

A Reforma Penal de 1984 repetiu a redação do Código Penal de 1940


acrescentando a parte final “na medida da sua culpabilidade”, procurando
atenuar o rigor e distinguir a punibilidade do autor e do partícipe, ou seja,
quanto a valoração das condutas, foi adotado um sistema diferenciador,
permitindo uma adequação na dosagem da pena de acordo com a efetiva
participação da conduta de cada participante, de forma individualizada. Os
parágrafos do art. 29 introduziram uma “cláusula salvatória” contra os excessos
que poderiam ocorrer na interpretação literal do caput.
§ 1º. Se a participação for de menor importância, a pena pode ser diminuída de
um sexto a um terço.
§ 2º. Se algum dos concorrentes quis participar de crime menos grave, ser-lhe-
á aplicada a pena deste; essa pena será aumentada até a metade, na hipótese
de ter sido previsível o resultado mais grave.

3. REQUISITOS DO CONCURSO DE PESSOAS


Para que aconteça o concurso de pessoas é necessária a existência de
elementos objetivos e subjetivos, são eles:

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a) Pluralidade de participantes e condutas
Sendo esse o requisito básico do concurso eventual de pessoas o
concurso de mais de uma pessoa na execução da infração penal. A
participação de cada um e de todos colaboram para o crime, não o
fazendo, necessariamente, da mesma forma e nas mesmas condições.

b) Relevância causal de cada conduta


A conduta de cada participante deve integrar-se de tal forma que seu
comportamento tenha eficácia causal, provocando, facilitando ou
estimulando a conduta principal. Não pode ser considerado partícipe
aquele que tenha tido um comportamento irrelevante no crime, ou seja,
sem qualquer eficácia causal.

c) Vínculo subjetivo entre os participantes


Deve haver entre os participantes a compreensão de que estão
participando de uma obra comum, a ausência dessa percepção quebra o
concurso eventual de pessoas, transformando cada conduta em uma
atividade isolada e autônoma.

d) Identidade de infração penal


Para que o resultado da ação de vários partícipes possa ser atribuído a
todos, é necessário que se consista em algo juridicamente unitário.
Segundo Damásio “não é propriamente um requisito, mas consequência
jurídica diante das outras condições”. ³

4. AUTORIA
O conceito de autoria pode compreender todos os partícipes no crime se
considerarmos o sistema unitário de autor, ou pode ficar restrito à conduta dos
agentes principais se considerarmos o sistema diferenciador de autor.

4.1 Conceito extensivo de autor


Tem como fundamento a ideia de equivalência de condições, onde não
se diferencia a autoria da participação, todo aquele que contribui com
alguma causa para o resultado é considerado autor. Dessa forma tanto
o instigador, quanto o cúmplice são considerados autores, já que não
existe distinção da importância da contribuição de um ou de outro.

4.2 Conceito restritivo de autor


O ponto de partida vem do entendimento de quem nem todos os
participes são autores, o autor sendo o agente que realiza a conduta
típica descrita na lei, cabendo ao legislador determinar se as condutas

3. Damásio E. de Jesus, Direito Penal, v. 1, p 366.

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dos demais partícipes, por não fazerem parte da conduta típica, são
relevantes e puníveis. O conceito restritivo de autor precisa ser
complementado por teorias de participação para que a conduta destes
seja identificada e determinada sua punição.

a) Teoria objetivo-formal
Essa teoria atém-se a literalidade da descrição legal, sendo o autor
aquele que realiza a conduta típica descrita na lei, e o participe o que
concorre de qualquer outro modo para o resultado delitivo.
A princípio com grande aceitação até a década de 60, passou a ser
duramente criticada pois não foi capaz de demonstrar que elemento
material do tipo identifica a conduta do autor e do coautor.

b) Teoria objetivo-material
A teoria objetivo-material procurou suprir as falhas da objetivo-formal
ao considerar a maior perigosidade e maior relevância da
contribuição causal do autor com relação ao partícipe. Porém, ao
desconsiderar o aspecto subjetivo e a tentativa de estabelecer
diferenças objetivo-materiais com base na causalidade conduziram
essa teoria ao fracasso.

4.3 Teoria do domínio do fato


É a teoria que distingue com clareza autor e partícipe, admitindo a figura
do autor mediato, além de possibilitar melhor compreensão da
coautoria. Segundo essa teoria, autor é aquele que possui o domínio
final sobre o fato e tem o poder de decisão sobre a realização do fato,
autor, portanto, não é somente aquele que realiza a conduta típica como
também aquele que se utiliza de outra pessoa como instrumento para a
execução da infração penal.
Essa teoria tem as seguintes consequências: 1º) a realização pessoal e
plenamente responsável de todos os elementos de tipo fundamenta a
autoria; 2º) é autor quem executa o fato utilizando outrem como
instrumento (autoria mediata); 3º) é autor o coautor que realiza uma
parte necessária do plano global (domínio funcional do fato).

Devemos ressaltar que o Código Penal brasileiro adota a teoria


restritiva, alinhada com a teoria objetivo-formal, distinguindo o autor e o
participe, porém a teoria do domínio do fato vem obtendo a preferência
da doutrina e de parcela da jurisprudência.

5. AUTORIA MEDIATA
O autor mediato realiza a ação típica através de outrem, como instrumento
para a prática da infração penal, valendo-se de pessoa que atua sem

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responsabilidade. As hipóteses mais comuns de autoria mediata são em virtude
de erro, de coação irresistível, obediência hierárquica e do uso de inimputáveis
para a prática de crimes.
Todas as hipóteses fundamentais de punibilidade devem se encontrar na
pessoa do “homem de trás”, no autor mediato e não no executor, autor
imediato. Pode-se encontrar autoria mediada em crimes especiais ou próprios,
desde que o autor mediato reúna as condições necessárias do tipo. Já nos
“crimes de mão própria” é impossível que haja a figura do autor mediato.

6. COAUTORIA
Nada mais é que a realização conjunta, por mais de uma pessoa, de uma
mesma infração penal. É desnecessário um acordo prévio, bastando a
consciência de cooperar na ação comum. A coautoria é fundamentada no
princípio da divisão do trabalho, em que todos tomam parte, atuando em
conjunto na execução da ação típica, de tal modo que cada um pode ser
chamado de autor.

7. PARTICIPAÇÃO EM SENTIDO ESTRITO


Embora o Código Penal brasileiro não defina o que deve ser entendido por
participação, isso não impede que a doutrina reconheça a distinção que deve
haver entre as condutas principais e as secundárias. Para que a contribuição
do participe ganhe relevância jurídica é indispensável que o autor ou coautores
iniciem a execução da infração penal.
7.1 Espécies de participação
A participação pode dar-se de diversas formas: instigação,
determinação, chefia, organização, cumplicidade, etc, contudo, o Código
Penal brasileiro não estabeleceu as espécies de participação, nem sua
forma de realização. Para se configurar essa participação, é
indispensável a presença de dois requisitos: eficácia causal e
consciência de participar na ação de outrem. “É insuficiente a
exteriorização da vontade de participar. Não basta realizar a atividade
de participe se esta não influir na atividade final do autor”. ⁴

7.2 Fundamento da punibilidade da participação


Existem duas teorias que procura explicar o fundamento da punibilidade
da participação, são elas:
a) Teoria da participação na culpabilidade
Para essa teoria o participe age corrompendo o autor, tornando-o
culpável e merecedor de pena. Essa teoria foi rechaçada pois a
culpabilidade é uma questão pessoal de cada participe,
independente dos demais.

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4. Damásio E. de Jesus, Direito Penal, v. 1, p 377-378.
b) Teoria do favorecimento ou da causação
O fundamento para a punição do participe, para essa teoria, reside
no fato de ter favorecido ou induzido o autor a praticar ato típico e
antijurídico que seja socialmente intolerável. O agente é punido pois
sua ação ou omissão contribuíram para que o crime fosse cometido.

7.3 Princípio da acessoriedade da participação


Da análise da punibilidade do participe chaga-se a conclusão de que a
participação é uma atividade secundária, que adere a outra principal.
Algumas teorias procuram limitar o alcance da acessoriedade de
participação, destacando-se:

a) Teoria da acessoriedade extrema


Por essa teoria, se o autor for inimputável o partícipe seria impunível.
Dessa forma, a acessoriedade de participação seria absoluta,
estando condicionada à punibilidade da ação principal.

b) Teoria da acessoriedade mínima


Essa teoria encontra-se em outro extremo, sendo a ação principal
típica como suficiente sendo indiferente a sua juridicidade. Isso
equivale afirmar que uma ação justificada para o autor constitui
crime para o partícipe.

c) Teoria da acessoriedade limitada


A teoria da acessoriedade limitada exige que a conduta principal seja
típica e antijurídica, sendo a participação acessória da ação
principal, mas também dependendo desta até certo ponto.

8. CONCURSO EM CRIME CULPOSO


A doutrina alemã não admite a possibilidade de coautoria nos delitos culposos,
quando houver a cooperação imprudente de vários autores a contribuição de
cada um deve ser avaliada separadamente, pois cada um será autor acessório.
Já a doutrina espanhola não só admite a coautoria nos crimes culposos, como
também a participação em sentido estrito.
A doutrina brasileira, à unanimidade, admite a coautoria em crime culposo,
rechaçando, contudo, a participação. Os que cooperam na causa, isto é, na
falta do dever de cuidado objetivo, agindo sem a atenção devida, são
coautores.

9. CONCURSO EM CRIMES OMISSIVOS


É impossível a existência de participação omissiva em crime omissivo sob a
modalidade de instigação, por absoluta falta de eficácia causal dessa
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inatividade. Se o agente estiver igualmente obrigado a agir, não será participe,
mas autor ou coautor.

10. AUTORIA COLATERAL


Existe autoria colateral quando dois agentes, desconhecendo a conduta um do
outro, agem objetivando a mesma infração penal. A ausência de vínculo
subjetivo entre os agentes é o elemento que caracteriza a autoria colateral.
Se não é possível apurar qual dos agentes cometeu aa infração penal, estamos
diante da autoria incerta.

11. MULTIDÃO DELINQUENTE


Os linchamentos em praça pública, invasões de propriedades, saques
cometidos por grandes grupos, são exemplos de atividade criminosa de
multidão delinquente, essa forma de concurso de pessoas pode tingir
proporções graves, pela facilidade de manipulação da massa em momentos de
grandes excitações. A prática coletiva do delito não afasta a existência de
vínculos psicológicos entre os integrantes, caracterizando concurso de
pessoas.

12. PARTICIPAÇÃO IMPUNÍVEL


Alguns são os requisitos para configuração de participação em crime e a
consequente punição: eficácia causal e consciência do participe, por outro lado
sabe-se que o crime não será punido se não for, pelo menos, tentado. Insto é,
as duas primeiras fases do inter criminis, elaboração mental e preparação no
crime, não são puníveis.

13. PUNIBILIDADE DO CONCURSO DE PESSOAS


O Código Penal brasileiro segue a teoria monística, ou seja, em regra, todos os
intervenientes do fato devem responder pelo mesmo crime, adota, contudo, a
teoria restritiva do autor, distinguindo autor de participe cuja punibilidade irá
variar de acordo com o grau de participação.

13.1 Participação de menor importância


Se a participação for de menor importância, a pena pode ser diminuída de
um sexto a um terço (art. 29, §1º, do CP).

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Trata-se aqui do participe em sentido estrito e não do coautor,
reconhecida a participação de menor importância, a redução se impõe,
porém é facultativo ao juiz reduzi-la em maior ou menor grau.
13.2 Cooperação dolosamente distinta
Onde um dos concorrentes “quis participar de crime menos grave”.
Nesse caso, a pena será a do crime que idealizou. Se for previsível ao
participante o resultado mais grave, a pena que lhe será aplicada
consistirá naquela cominada ao crime menos grave que idealizou,
aumentada até a metade.

14. COMUNICABILIDADE DAS CIRCUNSTÂNCIAS, CONIDÇÕES E


ELEMENTARES
A comunicabilidade ou incomunicabilidade das circunstancias que envolvem
autor e crime tem sido um dos maiores problemas de responsabilidade penal.
Circunstancias são dados, fatos e elementos que apenas cercam o fato
principal, não integram a figura típica, contudo, podem contribuir para aumentar
ou diminuir sua gravidade.
As circunstâncias objetivas dizem respeito as condições da vítima, tempo,
lugar, modo e meios de execução do crime, já as circunstâncias subjetivas se
referem ao agente.
O art. 30 do código penal determina que as circunstâncias de caráter pessoal
não se comunicam entre autores e participes, por expressa determinação legal
e as circunstâncias objetivas e elementares do tipo só se comunicam se
entrarem na esfera de conhecimento dos participantes.

15. JURISPRUDÊNCIA
Superior Tribunal de Justiça STJ - 2011/0249384-0
RECURSO ESPECIAL. PENAL. ACUSAÇÃO QUE IMPUTOU A AMBOS OS
RÉUS, EM COAUTORIA, A PRÁTICA DO CRIME DE HOMICÍDIO DOLOSO.
PARTICIPAÇÃO EM DISPUTA AUTOMOBILÍSTICA ILÍCITA ("PEGA"), COM
VELOCIDADE EXCESSIVA E MANOBRAS ARRISCADAS, QUE
OCASIONOU A MORTE DA VÍTIMA. CARACTERIZAÇÃO DO DOLO
EVENTUAL. TRIBUNAL DO JÚRI. CONSELHO DE SENTENÇA QUE
RECONHECEU, NA LINHA DA TESE DEFENSIVA, A INEXISTÊNCIA DO
CHAMADO "PEGA". CONDENAÇÃO DE UM RÉU POR HOMICÍDIO
CULPOSO ( CTB, ART. 302) E O OUTRO POR HOMICÍDIO DOLOSO ( CP,
ART. 121). IMPOSSIBILIDADE. FATO ÚNICO. CRIME PRATICADO EM
CONCURSO DE PESSOAS. AUTORIA COLATERAL. NÃO
OCORRÊNCIA. VIOLAÇÃO À TEORIA MONISTA. ART. 29 DO CÓDIGO
PENAL. EXTENSÃO DA DECISÃO QUE CONDENOU O CORRÉU POR
HOMICÍDIO CULPOSO AO RECORRENTE.

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1. Hipótese em que o Ministério Público denunciou o recorrente e outro corréu
como incursos nos arts. 121, § 2º, inciso I, e 129, caput, na forma dos
arts. 29 e 70, todos do Código Penal, porque, ao realizarem disputa
automobilística ilícita, vulgarmente conhecida como "pega" ou "racha",
causaram a morte de uma vítima e lesão corporal em outra, concluindo a
acusação pela presença do dolo eventual, porquanto ambos assumiram o
risco de causar o resultado. Esses fatos foram ratificados na sentença de
pronúncia, no acórdão confirmatório, bem como no libelo acusatório.
2. Na sessão plenária do Tribunal do Júri, o Conselho de Sentença, na linha
do que sustentara a defesa desde o inquérito policial, entendeu que os réus
não participavam, por ocasião dos fatos delituosos, de nenhuma corrida ilícita,
como deduzido pela acusação. Todavia, mesmo entendendo dessa forma,
desclassificou o crime apenas em relação ao corréu Bruno, sendo condenado
por homicídio culposo na direção de veículo automotor ( CTB, art. 302),
concluindo quanto ao recorrente Thiago que este assumiu o risco de produzir
o resultado morte na vítima, ou seja, que agiu com dolo eventual.
3. Tratando-se de crime praticado em concurso de pessoas, o nosso Código
Penal, inspirado na legislação italiana, adotou, como regra, a Teoria Monista
ou Unitária, ou seja, havendo pluralidade de agentes, com diversidade de
condutas, mas provocando um só resultado, existe um só delito.
4. Assim, denunciados em coautoria delitiva, e não sendo as hipóteses de
participação de menor importância ou cooperação dolosamente distinta,
ambos os réus teriam que receber rigorosamente a mesma condenação,
objetiva e subjetivamente, seja por crime doloso, seja por crime culposo, não
sendo possível cindir o delito no tocante à homogeneidade do elemento
subjetivo, requisito do concurso de pessoas, sob pena de violação à teoria
monista, razão pela qual mostra-se evidente o constrangimento ilegal
perpetrado.
5. Diante da formação da coisa julgada em relação ao corréu e considerando
a necessidade de aplicação da mesma solução jurídica para o recorrente, em
obediência à teoria monista, o princípio da soberania dos veredictos deve, no
caso concreto, ser aplicado justamente para preservar a decisão do Tribunal
do Júri já transitada em julgado, não havendo, portanto, a necessidade de
submissão do recorrente a novo julgamento.

BIBLIOGRAFIA
BITENCOURT, Cezar Roberto, Tratado de Direito Penal, Parte Geral (arts. 1º
a 120), 29º ed, Saraiva, 2023.
DAMÁSIO, de Jesus, Direito Penal 1, Parte Geral, 37º ed, Saraiva, 2020.

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CUNHA, Rogério Sanches, Manual de Direito Penal, Parte Geral (arts. 1º a
120), 5º ed, Jus PODIVM, 2017.

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