Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
CONCEITO
Art. 29 - Quem, de qualquer modo, concorre para o crime incide nas penas a
este cominadas, na medida de sua culpabilidade.
Crime é toda ação ou omissão causado por um agente que produz resultado
ilícito sobre um bem tutelado, comumente os crimes descritos no Código Penal
referem-se aos delitos cometidos por apenas uma pessoa, entretanto, o fato
punível também pode ser cometido por duas ou mais pessoas, todas
contribuindo para a obtenção de um resultado. A essa cooperação chamamos
de Concurso de Pessoas.
São diversos os motivos que podem impelir o indivíduo a se associar a outro
para a realização de um crime, como por exemplo: garantir o êxito do delito,
garantir a impunidade, proveito coletivo do resultado do crime. A cooperação na
prática do delito pode acontecer desde a elaboração intelectual até a
consumação do fato. Respondem “pelo ilícito o que ajudou a planejá-lo, o que
forneceu os meios materiais para a execução, o que intervém na execução e
mesmo os que colaboram na consumação do ilícito” ¹.
A partir deste ponto podemos levantar as seguintes questões: “a) como deve
ser valorado o fenômeno delitivo quando participam vários agentes, e b) como
deve ser valorada a conduta individual de cada um” ². Diferenciar as várias
espécies de conduta no crime – indução, autoria colateral, participação etc e
definir a culpabilidade individual torna-se o cerne da questão. Devemos
ressaltar que as condutas realizadas após a consumação do crime não entram
nesse âmbito, configurando crime autônomo.
É importante esclarecermos que o concurso necessário, nos crimes que só
podem ser cometidos por duas ou mais pessoas, como bigamia, rixa etc., não
serão aqui examinados. Só iremos tratar do concurso eventual, crimes que
podem ser executados por apenas uma única pessoa, ou seja, o concurso de
pessoas é a vontade voluntária de participação de duas ou mais pessoas em
uma infração penal.
2
a) Pluralística
Segundo essa teoria cada um dos agentes participantes do crime tem
uma conduta própria com um resultado igualmente particular. Ou seja, a
pluralidade de agentes relaciona-se com a pluralidade de crimes
cometidos, com diversidade de condutas, ainda que provocando apenas
um resultado.
b) Dualística
De acordo com essa teoria existem dois crimes, um para os autores,
aqueles que realizam a atividade principal, e outro para os partícipes, os
que desenvolvem uma atividade secundária. Dessa forma os autores
praticam o crime principal, durante a fase executória, constituindo a
autoria, enquanto os partícipes colaboram na fase preparatória ou
mesmo na executória, porém contribuindo com conduta de menor
importância.
c) Unitária ou monística
Para essa teoria existe um só crime e todos os participantes respondem
pela mesma infração penal, existindo, portanto, unidade do título de
imputação. Essa é a teoria adotada, como regra, pelo nosso Código
Penal, conforme descrito no art. 29, caput.
3
a) Pluralidade de participantes e condutas
Sendo esse o requisito básico do concurso eventual de pessoas o
concurso de mais de uma pessoa na execução da infração penal. A
participação de cada um e de todos colaboram para o crime, não o
fazendo, necessariamente, da mesma forma e nas mesmas condições.
4. AUTORIA
O conceito de autoria pode compreender todos os partícipes no crime se
considerarmos o sistema unitário de autor, ou pode ficar restrito à conduta dos
agentes principais se considerarmos o sistema diferenciador de autor.
4
dos demais partícipes, por não fazerem parte da conduta típica, são
relevantes e puníveis. O conceito restritivo de autor precisa ser
complementado por teorias de participação para que a conduta destes
seja identificada e determinada sua punição.
a) Teoria objetivo-formal
Essa teoria atém-se a literalidade da descrição legal, sendo o autor
aquele que realiza a conduta típica descrita na lei, e o participe o que
concorre de qualquer outro modo para o resultado delitivo.
A princípio com grande aceitação até a década de 60, passou a ser
duramente criticada pois não foi capaz de demonstrar que elemento
material do tipo identifica a conduta do autor e do coautor.
b) Teoria objetivo-material
A teoria objetivo-material procurou suprir as falhas da objetivo-formal
ao considerar a maior perigosidade e maior relevância da
contribuição causal do autor com relação ao partícipe. Porém, ao
desconsiderar o aspecto subjetivo e a tentativa de estabelecer
diferenças objetivo-materiais com base na causalidade conduziram
essa teoria ao fracasso.
5. AUTORIA MEDIATA
O autor mediato realiza a ação típica através de outrem, como instrumento
para a prática da infração penal, valendo-se de pessoa que atua sem
5
responsabilidade. As hipóteses mais comuns de autoria mediata são em virtude
de erro, de coação irresistível, obediência hierárquica e do uso de inimputáveis
para a prática de crimes.
Todas as hipóteses fundamentais de punibilidade devem se encontrar na
pessoa do “homem de trás”, no autor mediato e não no executor, autor
imediato. Pode-se encontrar autoria mediada em crimes especiais ou próprios,
desde que o autor mediato reúna as condições necessárias do tipo. Já nos
“crimes de mão própria” é impossível que haja a figura do autor mediato.
6. COAUTORIA
Nada mais é que a realização conjunta, por mais de uma pessoa, de uma
mesma infração penal. É desnecessário um acordo prévio, bastando a
consciência de cooperar na ação comum. A coautoria é fundamentada no
princípio da divisão do trabalho, em que todos tomam parte, atuando em
conjunto na execução da ação típica, de tal modo que cada um pode ser
chamado de autor.
6
4. Damásio E. de Jesus, Direito Penal, v. 1, p 377-378.
b) Teoria do favorecimento ou da causação
O fundamento para a punição do participe, para essa teoria, reside
no fato de ter favorecido ou induzido o autor a praticar ato típico e
antijurídico que seja socialmente intolerável. O agente é punido pois
sua ação ou omissão contribuíram para que o crime fosse cometido.
8
Trata-se aqui do participe em sentido estrito e não do coautor,
reconhecida a participação de menor importância, a redução se impõe,
porém é facultativo ao juiz reduzi-la em maior ou menor grau.
13.2 Cooperação dolosamente distinta
Onde um dos concorrentes “quis participar de crime menos grave”.
Nesse caso, a pena será a do crime que idealizou. Se for previsível ao
participante o resultado mais grave, a pena que lhe será aplicada
consistirá naquela cominada ao crime menos grave que idealizou,
aumentada até a metade.
15. JURISPRUDÊNCIA
Superior Tribunal de Justiça STJ - 2011/0249384-0
RECURSO ESPECIAL. PENAL. ACUSAÇÃO QUE IMPUTOU A AMBOS OS
RÉUS, EM COAUTORIA, A PRÁTICA DO CRIME DE HOMICÍDIO DOLOSO.
PARTICIPAÇÃO EM DISPUTA AUTOMOBILÍSTICA ILÍCITA ("PEGA"), COM
VELOCIDADE EXCESSIVA E MANOBRAS ARRISCADAS, QUE
OCASIONOU A MORTE DA VÍTIMA. CARACTERIZAÇÃO DO DOLO
EVENTUAL. TRIBUNAL DO JÚRI. CONSELHO DE SENTENÇA QUE
RECONHECEU, NA LINHA DA TESE DEFENSIVA, A INEXISTÊNCIA DO
CHAMADO "PEGA". CONDENAÇÃO DE UM RÉU POR HOMICÍDIO
CULPOSO ( CTB, ART. 302) E O OUTRO POR HOMICÍDIO DOLOSO ( CP,
ART. 121). IMPOSSIBILIDADE. FATO ÚNICO. CRIME PRATICADO EM
CONCURSO DE PESSOAS. AUTORIA COLATERAL. NÃO
OCORRÊNCIA. VIOLAÇÃO À TEORIA MONISTA. ART. 29 DO CÓDIGO
PENAL. EXTENSÃO DA DECISÃO QUE CONDENOU O CORRÉU POR
HOMICÍDIO CULPOSO AO RECORRENTE.
9
1. Hipótese em que o Ministério Público denunciou o recorrente e outro corréu
como incursos nos arts. 121, § 2º, inciso I, e 129, caput, na forma dos
arts. 29 e 70, todos do Código Penal, porque, ao realizarem disputa
automobilística ilícita, vulgarmente conhecida como "pega" ou "racha",
causaram a morte de uma vítima e lesão corporal em outra, concluindo a
acusação pela presença do dolo eventual, porquanto ambos assumiram o
risco de causar o resultado. Esses fatos foram ratificados na sentença de
pronúncia, no acórdão confirmatório, bem como no libelo acusatório.
2. Na sessão plenária do Tribunal do Júri, o Conselho de Sentença, na linha
do que sustentara a defesa desde o inquérito policial, entendeu que os réus
não participavam, por ocasião dos fatos delituosos, de nenhuma corrida ilícita,
como deduzido pela acusação. Todavia, mesmo entendendo dessa forma,
desclassificou o crime apenas em relação ao corréu Bruno, sendo condenado
por homicídio culposo na direção de veículo automotor ( CTB, art. 302),
concluindo quanto ao recorrente Thiago que este assumiu o risco de produzir
o resultado morte na vítima, ou seja, que agiu com dolo eventual.
3. Tratando-se de crime praticado em concurso de pessoas, o nosso Código
Penal, inspirado na legislação italiana, adotou, como regra, a Teoria Monista
ou Unitária, ou seja, havendo pluralidade de agentes, com diversidade de
condutas, mas provocando um só resultado, existe um só delito.
4. Assim, denunciados em coautoria delitiva, e não sendo as hipóteses de
participação de menor importância ou cooperação dolosamente distinta,
ambos os réus teriam que receber rigorosamente a mesma condenação,
objetiva e subjetivamente, seja por crime doloso, seja por crime culposo, não
sendo possível cindir o delito no tocante à homogeneidade do elemento
subjetivo, requisito do concurso de pessoas, sob pena de violação à teoria
monista, razão pela qual mostra-se evidente o constrangimento ilegal
perpetrado.
5. Diante da formação da coisa julgada em relação ao corréu e considerando
a necessidade de aplicação da mesma solução jurídica para o recorrente, em
obediência à teoria monista, o princípio da soberania dos veredictos deve, no
caso concreto, ser aplicado justamente para preservar a decisão do Tribunal
do Júri já transitada em julgado, não havendo, portanto, a necessidade de
submissão do recorrente a novo julgamento.
BIBLIOGRAFIA
BITENCOURT, Cezar Roberto, Tratado de Direito Penal, Parte Geral (arts. 1º
a 120), 29º ed, Saraiva, 2023.
DAMÁSIO, de Jesus, Direito Penal 1, Parte Geral, 37º ed, Saraiva, 2020.
10
CUNHA, Rogério Sanches, Manual de Direito Penal, Parte Geral (arts. 1º a
120), 5º ed, Jus PODIVM, 2017.
11