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Concurso de pessoas.

Adriel Natã de Magalhães 1.

Resumo

Esse trabalho tem como objetivo trazer a luz quais são os elementos do concurso de
pessoas e como eles entram em sinergia, trazendo dentro do ato ilícito as
características dos participantes do mesmo e de que forma reflete dentro do
processo penal. A metodologia de pesquisa implementada dentro do trabalho será a
de pesquisas em sites (internet).

Introdução

O concurso de pessoas é o cometimento da infração penal por mais de uma pessoa.


Tal cooperação da prática da conduta delitiva pode se dar por meio da coautoria,
participação, concurso de delinquentes ou de agentes, entre outras formas. Para a
caracterização de um ilícito penal, é necessário, primeiramente, uma conduta
humana, positiva ou negativa, cometida por uma ou várias pessoas, não sendo todo
comportamento do homem um delito, em face do princípio de reserva legal onde
somente os que estão tipificados pela lei penal podem assim ser considerados como
delitos.

Alguns apontamentos sobre o concurso de pessoas


Quando temos dois ou mais agentes cometendo um crime juntos, enfrentamos o
concurso de pessoas, conforme estabelecido nos artigos 29, 30 e 31 do Código Penal,
todas as leis penais, comumente conhecidas como CP. O direito penal, para
reconhecer o concurso de pessoas, segue o que se chama de monismo temperado. O
monismo temperado diz que quem está envolvido em um crime de qualquer forma é
responsável por esse crime na medida de sua culpa. Quando se caracteriza o
consentimento humano, cada criminoso será responsável pelo crime na proporção
de suas ações, ou seja, o agente será responsável pelo mesmo crime, mas a punição
não será (não necessariamente) a mesma.
São requisitos imprescindíveis à formação do concurso de pessoas:
I. Pluralidade de condutas: cada indivíduo pratica certo ato a fim de alcançar o
objetivo criminoso. Tem-se a divisão das tarefas necessárias à execução do crime.
Todos os participantes de um evento criminoso não o fazem necessariamente da
mesma forma, nas mesmas condições e nem com a mesma importância, mesmo que
contribuindo livre e espontaneamente para o seu resultado. Enquanto alguns
praticam o fato material típico, representado pelo verbo núcleo do tipo, outros se
limitam a instigar, a induzir, a auxiliar moral ou materialmente o executor ou
executores praticando atos que, em si mesmos, seriam atípicos.
II. Relevância causal entre as ações: as condutas devem estar ligadas, de modo a
completarem-se no sentido da consumação do crime. A disputa de agentes
configuradores não satisfaz a diversidade de agentes e condutas, sendo ainda
necessário cometer crimes por meio de condutas que possam vislumbrar a relação
causal entre eles e os resultados obtidos. Portanto, na cadeia causal de eventos, cada
comportamento deve estar associado a uma contribuição objetiva para o crime. O
comportamento típico ou atípico de cada ator é irrelevante se não pertencer à
cadeia causal que determina o resultado. Claramente, a conclusão é que nem todos
os comportamentos serão característicos de participação, pois ao menos é
necessário estimular, induzir ou facilitar o comportamento criminoso. Nesse sentido,
condutas irrelevantes ou ineficazes para a existência do crime serão desprezadas e
nem mesmo constituirão participação criminosa.
III. Liame subjetivo entre os agentes: deve haver a ligação entre as vontades dos
agentes, as condutas, no concurso de pessoas, são previamente combinadas e não
podem fugir do acordado, configurando, portanto, um desígnio comum. Nesse
sentido a jurisprudência:

E M E N T A – APELAÇÃO CRIMINAL – ROUBO QUALIFICADO


PELO CONCURSO DE PESSOAS – CONFIGURADO -
AFASTAMENTO INCABÍVEL – DESPROVIDO. O depoimento da
vítima e o relato do próprio réu dando conta de que este agiu em
companhia de outro agente na prática do roubo, impossibilita o
afastamento da causa de aumento de pena relativo ao concurso de
pessoas.
(TJ-MS 00639075320118120001 MS 0063907-53.2011.8.12.0001,
Relator: Des. Paschoal Carmello Leandro, Data de Julgamento:
06/06/2017, 1ª Câmara Criminal). Disponível em: https://tj-
ms.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/510086322/639075320118120
001-ms-0063907-5320118120001/inteiro-teor-510086340.
Para se efetuar o concurso de pessoas, vários agentes devem atuar em conjunto.
Deve haver uma relação subjetiva entre os participantes do crime, caso contrário, as
diversas ações podem ser isoladas, autônomas ou até desprezíveis. Portanto, deve
haver vínculos psicológicos e normativos entre os diferentes autores do crime para
analisar esses atos como um todo e tornar possível a arte aplicada. Portanto, deve
haver participação voluntária na competição, mas a vontade de consentir
antecipadamente não é condição necessária para a existência da competição. A
adesão deve ser antes ou durante a execução do crime, não depois.
No crime doloso, basta que o agente cumpra a vontade da outra parte, devendo os
participantes agir com vontade unânime, pois todos pretendem cometer o mesmo
tipo de crime. A existência de vínculo subjetivo não implica a necessidade de ajuste
prévio (pactum sceleris) entre os infratores, havendo, no caso de crimes culposos,
divergência doutrinária. Antigamente, se pesava a possibilidade de concurso de
agentes, porém, atualmente tem se admitido, até com certa tranquilidade que
alguém possa conscientemente contribuir para a conduta culposa de terceiro. Aqui,
deve-se verificar o elemento vontade na realização da conduta, mas não na
produção do resultado. Diferentemente do concurso de pessoas no crime doloso, a
consciência e vontade não conectam para um objetivo de prática criminosa, mas sim
de realizar a conduta culposa pela imprudência, negligência ou imperícia.
IV. Identidade do fato: a pluralidade de pessoas, configurado do concurso de
pessoas, deve ter suas condutas direcionadas à prática do mesmo crime. Deve-se
existir, portanto, uma unidade da infração penal, requisito básico para concurso de
pessoas e produto lógico-necessário em face do concurso de agentes. Essa infração
penal deverá ser ao menos tentada, bem como dispõe o art. 31 do Código Penal, em
casos de impunibilidade de ajuste, determinação ou instigação e o auxílio, salvo
disposição expressa em contrário.

Teorias
A) Teoria Monista/temperada: Quando mais de um agente concorre para cometer
uma infração penal, mas cada um realiza uma ação diferente, mas alcança um único
resultado. Neste caso, haverá apenas um delito. Portanto, todos os agentes
enfrentam a mesma infração penal. O Código Penal adota tal teoria.
B) Pluralismo: Quando há vários agentes, todos agem de forma diferente, e mesmo
que se obtenha apenas um resultado, todos serão responsáveis pelo crime. Essa
teoria foi adotada pelo Código Penal ao tratar do aborto, pois as gestantes eram
punidas pelo art. 124. Se for cultivado por outros, será punido pelo art. 126. O
mesmo processo ocorre na corrupção ativa e passiva.
C) Dualismo: De acordo com essa teoria, quando há múltiplos agentes com
comportamentos diversos que geram resultados, coautores e participantes devem
ser separados, e cada “grupo” é responsável pelo crime.

Teoria adotada pelo Código Penal:

No Brasil, o monismo temperado é usado para explicar o consentimento das pessoas


e a atribuição de responsabilidade criminal, nesse contexto, entendendo que autores
e participantes responderão por um único crime de acordo com seu grau de
culpabilidade. A teoria do monismo se desenvolveu ao longo do tempo, em um
primeiro momento, adotou o sistema monolítico clássico, que não distinguia entre
infratores e participantes, todos os indivíduos envolvidos em um crime eram
infratores, e não distinguia entre aqueles que cometeram o cerne do crime e aqueles
que participaram de outro crime. Com a evolução do monismo veio o sistema de
distinção, segundo o qual o autor e os participantes teriam responsabilidades
diferentes e competiriam de forma diferente na execução do crime, e é por isso que
recebeu o nome de sistema de distinção, para distinguir o tratamento e diferenciar
aqueles que serão autores e aqueles que serão participantes.
Isso não significa, porém, que não possa haver diferenças de punição para os agentes
que contribuem para o mesmo fato, conforme art. O artigo 29 do Código Penal
reserva em sua última parte que toda pessoa receberá a pena atribuída ao crime
"nos limites de sua culpa", o que permite, quando a pena for aplicada, punir
justamente o crime, analisando-se o concurso de pessoas à luz do dolo e da culpa,
bem como da censurabilidade da conduta. Além disso, existem múltiplas exceções
que exigem punição por crimes diferentes, mesmo que todos contribuam para os
mesmos fatos (por exemplo, um particular concede uma vantagem indevida a um
funcionário público para decidir que ele não exerce suas funções, e o funcionário
público aceita a proposta – Existem dois crimes: corrupção ativa e corrupção
passiva).

Conclusão

Após discussão, conclui-se sobre a importância do estudo do concurso de pessoas e


de suas particularidades. Saber quem cometeu o núcleo do crime e quem participou
da execução e consumação do crime é a condição primordial para alcançar a punição
mais efetiva para cada sujeito. Os operadores do Direito devem estar atentos aos
detalhes aqui colocados ao processar, defender, realizar a dosimetria e aplicação da
pena, pois vários fatores influenciam e complicam essas tarefas. Resta mostrar que
autoria e participação são instituições especiais e, portanto, merecem atenção
especial sob a ótica da Teoria Geral da Pena, pois definirão a responsabilidade penal
de cada agente em função de sua culpa.

Referências:

Concurso de pessoas: aspectos gerais. Oliveira, Matheus. Disponível em:


https://jus.com.br/artigos/39373/concurso-de-pessoas-aspectos-gerais.
Concurso de pessoas na teoria geral do crime: breves considerações. Nogueira, Bárbara.
Disponível em: https://conteudojuridico.com.br/consulta/Artigos/27954/concurso-de-
pessoas-na-teoria-geral-do-crime-breves-consideracoes#:~:text=Conclus%C3%A3o.&text=O
%20concurso%20de%20pessoas%2C%20ou,pessoas%2C%20com%20um%20prop
%C3%B3sito%20comum.
Certo ou errado? Tendo o CP adotado a teoria monista, não há como punir diferentemente
os que participam da ação criminosa. Disponível em:
https://meusitejuridico.editorajuspodivm.com.br/2019/02/09/certo-ou-errado-tendo-o-cp-
adotado-teoria-monista-nao-ha-como-punir-diferentemente-os-que-participam-da-acao-
criminosa/#:~:text=O%20C%C3%B3digo%20Penal%20adota%2C%20efetivamente,qualquer
%20distin%C3%A7%C3%A3o%20entre%20os%20sujeitos.
Teoria Monista e Requisitos - Concurso de Pessoas. Disponível em:
https://trilhante.com.br/curso/concurso-de-pessoas-e-autoria-imediata/aula/teoria-
monista-e-requisitos-concurso-de-pessoas.
Direito Penal: requisitos do concurso de pessoas. Disponível em:
https://ebradi.jusbrasil.com.br/artigos/446697450/direito-penal-requisitos-do-concurso-de-
pessoas.
Concurso de pessoas: conceito, teoria e requisitos caracterizadores. Oliveira, Larissa.
Disponível em: https://jus.com.br/artigos/38444/concurso-de-pessoas-conceito-teoria-e-
requisitos-caracterizadores.
Concurso de Pessoas: Resumo TJDFT. Carmo, Victor. Disponível em:
https://www.estrategiaconcursos.com.br/blog/concurso-de-pessoas-resumo-tjdft/.
Concurso de pessoas. Disponível em:
https://www.direitonet.com.br/resumos/exibir/352/Concurso-de-pessoas.

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