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TEORIA DA PENA

Do concurso de pessoas e do
concurso de crimes

CRISTIANO BATISTA MOTTA


Concurso de Pessoas (concursus delinquentium)
Duas ou mais pessoas concorrem, em união de vontades (identidade de propósito),
para a prática de uma infração penal (crime ou contravenção).
Art. 29, CP
• Requisitos
I. Pluralidade de Pessoas e de Condutas: é necessário o envolvimento de mais de um
sujeito na infração penal.
II. Relevância Causal de cada Conduta: as condutas de todos os agentes devem ser
minimamente relevantes para que eles possam ser considerados autores ou partícipes. A
Lei brasileiro não pune a colaboração inócua.
III. Liame Subjetivo: deve haver um vínculo psicológico entre os concorrentes da infração
penal. Trata-se da consciência ostentada por cada um dos agentes de que todos eles estão
colaborando para um fim proibido penalmente.
IV. Identidade de Infração Penal: todos os envolvidos devem praticar o mesmo tipo penal.
Assim, se todos agentes praticaram um crime de roubo, todos eles responderão pelo
crime, sendo eles necessariamente enquadrados no tipo penal do art. 157, CP.
Teorias dos Concursos de Pessoas
I. Teoria Monista ou Unitária: há a prática de um só crime por todos os
concorrentes, independentemente se eles forem autores ou partícipes.

II. Teoria Dualista: existem crimes que só podem ser cometidos por
autores (protagonistas – crime X), e outros que só podem ser
cometidos por partícipes (meros auxiliares à prática de infração penal
– Crime Y).

III. Teoria Pluralista: cada concorrente pratica um crime diferente.

• A Lei Brasileira adotou como regra a Teoria Monista, utilizando a


Teoria Pluralista excepcionalmente (Teoria Monista Mitigada ou
Temperada), art. 29, §1º, CP.
Teorias dos Concursos de Pessoas

➢ Dependendo do delito praticado, haverá a relativização da Teoria Monista


em Monista Mitigada/Temperada:

Crime de roubo (art. 157, CP), um dos agentes efetivamente ameaçar a vítima para
que ela lhe passe o dinheiro de sua carteira e o outro agente apenas emprestar
voluntária e conscientemente uma faca para que o roubo fosse bem-sucedido,
ambos os agentes respondem pelo crime de roubo.

O crime de descaminho (art. 334, CP), é imputado àquele que iludir, no todo ou em
parte, o pagamento de direito ou imposto devido pela entrada, pela saída ou pelo
consumo de mercadoria estrangeira.
O servidor público que eventualmente ajude o autor do crime de descaminho a
iludir o devido tributo, comete um crime distinto, que é o de facilitação ao
descaminho (art. 318, CP). Assim, ao servidor público, partícipe ao crime de
descaminho, é cominado um crime diferente, com pena diferente.
Autoria (teorias)
I. Teoria Subjetiva ou Unitária: não há distinção entre autoria
e participação, há uma equivalência, onde todos que contribuírem
para o ilícito são autores.
II. Teoria Extensiva da Autoria: aqui, também não há distinção entre
autoria e participação. A diferença é que a Teoria Extensiva permite o
estabelecimento de graus diversos de autoria, com a previsão de
causas de diminuição conforme a relevância de sua contribuição.
III. Teoria Objetiva ou Restritiva: Autor é quem pratica a conduta típica
de uma infração penal (contribui de maneira mais eficaz à consumação
da infração penal) e o partícipe é quem concorre de qualquer outra
forma para a mesma infração (contribui de maneira menos relevante
para a realização do resultado típico).
Autoria (teorias)
IV. Teoria Objetivo-Subjetiva (ou do Domínio do Fato): o autor
de um delito é quem possui o domínio do fato criminoso, a execução
do crime está em suas mãos (possui poder de decisão sobre a
realização do tipo penal).

• Tipos de Domínio do Fato


a) Domínio da Ação: autoria imediata/direta. O autor controla a
própria ação física do crime, praticando diretamente o verbo núcleo do
tipo penal.
b) Domínio da Vontade: autoria mediata/indireta. O autor controla a
vontade de uma terceira pessoa, utilizando-a como instrumento para a
prática de uma infração penal.
Autoria (teorias)
b) Domínio da Vontade
o Modos de Domínio da Vontade
1) erro determinado pelo autor mediato, quando o autor induz terceiro a
erro de tipo (art. 20) ou de proibição (art. 21) para que pratique uma
conduta ilícita penalmente;
2) coação moral irresistível (art. 22), quando o terceiro usado como
instrumento age sob excludente de culpabilidade - inexigibilidade de
conduta diversa - pelo fato de o autor tê-lo ameaçado gravemente a fim de
força-lo à prática do delito;
3) aparato Organizado de Poder, quando o autor se serve de uma
organização verticalmente estruturada e apartada da ordem jurídica,
emitindo uma ordem específica para que outros pratiquem a conduta
descrita no tipo penal a seu comando;
4) inimputabilidade, o autor usa um inimputável para a prática de um
delito.
Autoria (teorias)
c) Domínio Funcional do Ato: é o caso da coautoria, quando os
autores são um conjunto de pessoas que se unem e atuam
coordenadamente em prol da prática de uma infração penal,
imputando-se reciprocamente a responsabilidade penal.

➢a doutrina majoritária entende não ser possível a aplicação da Teoria


do Domínio do fato em relação aos crimes de mão própria
(personalíssimo, não há coautoria), crimes culposos (não há fato
ilícito sem que haja dolo) e crimes omissivos (controle ativo da
causa).
Participação
é a contribuição dolosa em crime alheio. É ação essencialmente
acessória e secundária à prática do crime.

A participação pode se dar pela modalidade moral ou material


• Moral:
Induzimento (o partícipe faz nascer na cabeça do autor a ideia e a vontade
inédita de praticar um crime)
Instigação (o partícipe reforça uma intenção delitiva pré-existente na mente do
autor)
• Material:
o partícipe fornece algum bem material para auxiliar o autor ao
cometimento do crime (Ex.: Alguém empresta voluntária e
conscientemente um revólver para que outra pessoa cometa um
homicídio).
Punição da Participação
I. Teoria da Acessoriedade Mínima: para que seja configurada a
participação, basta que a conduta do autor seja Típica.
II. Teoria da Acessoriedade Limitada: configura-se a participação
quando a conduta do autor é Típica e Ilícita.
Essa é a teoria adotada no Direito Penal brasileiro. Assim, dispensa-se a culpabilidade do
autor na prática do crime para que a participação configure. Nesse caso, é possível que
haja participação de um indivíduo maior de idade com um outro indivíduo menor de 18
anos (ou seja, inimputável).
III. Teoria da Acessoriedade Máxima: configura-se a participação
quando a conduta do autor é Típica, Ilícita e Culpável.
IV. Teoria da Hiperacessoriedade: configura-se a participação quando a
conduta do autor é Típica, Ilícita, Culpável e Punível
Concurso de Crimes
Ocorre quando um ou mais agentes praticam dois ou mais crimes
(idênticos ou diferentes) num mesmo contexto temporal, através de várias
ou uma só conduta, de modo a determinar a espécie de concurso de crimes.

Forma de aplicação da Pena (Sistemas)


I. Sistema do Cúmulo Material → Somam-se as penas de forma
independente para cada crime para se chegar a um valor total de pena
concreta. (concurso material art. 69, CP) e (concurso formal
impróprio/imperfeito art. 70, segunda parte, CP).
II. Sistema da Exasperação → Ordena que se aumente a pena do crime mais
grave, para se obter a quantia total de pena. (concurso formal
próprio/perfeito (art. 70, primeira parte, CP) e (crime continuado art. 71,
CP).
Concurso Material (art. 69, caput, CP)
ocorre quando o agente, por meio de várias condutas independentes,
cometer dois ou mais crimes, que podem ser iguais (homogêneo) ou
diferentes (heterogêneo), sendo que, em ambas as hipóteses, utiliza-se o
sistema de cúmulo material.
Requisitos: Pluralidade Condutas + Pluralidade de Crimes.
➢ Em caso de haver penas de reclusão e detenção, as penas de reclusão
serão cumpridas primeiramente.
➢ Quando forem aplicadas só penas restritivas de direito, cumprem-se
simultaneamente as que forem compatíveis e sucessivamente as que não
forem (art. 69, §2º, CP).
➢ Se uma das penas privativas de liberdade for suspensa, as outras penas
privativas de liberdade podem ser substituídas por penas restritivas de
direitos (art. 69, §1º, CP)
Concurso Formal (art. 70, CP)
Quando o agente, mediante uma só ação ou omissão, pratica dois
ou mais crimes, idênticos ou não, aplica-se-lhe a pena mais grave, ou,
se iguais, somente uma delas, aumentada, de um sexto até metade. As
penas aplicam-se, entretanto, cumulativamente, se a ação ou omissão
é dolosa e os crimes concorrentes resultam de desígnios autônomos.

Requisitos: Unidade Conduta + Pluralidade de Crimes.


a) Concurso Formal Perfeito ou Próprio → uma só conduta, gerando 2
ou mais resultados, iguais (concurso formal perfeito homogêneo) ou
diferentes (concurso formal perfeito heterogêneo), porém com
unidade de desígnio, um só dolo ou uma única culpa, gerando vários
resultados típicos. (exasperação)
Concurso Formal (art. 70, CP)
b) Concurso Formal Imperfeito ou Impróprio → com uma só conduta, o
agente produz vários resultados típicos, com desígnios autônomos, ou
seja, vários dolos independentes que podem produzir cada um dos
resultados. (cúmulo material)
Teoria Geral da Pena
sanção penal (poder/dever) imposta pelo Estado, mediante o
devido processo legal, ao um autor, pela prática de uma infração penal,
como uma retribuição pelo ato penalmente ilícito e prevenção contra
delitos futuros.
• sanções penais: penas - privativa de liberdade, restritiva de direitos,
multa ou medidas de segurança.

• Princípios da Pena
I. Princípio da legalidade: (art. 1º, CP), não permite que exista uma
pena sem a sua prévia cominação legal.
a) Princípio da Anterioridade: a aplicação de uma pena só pode acontecer se
estiver em vigor previamente à ação ou à omissão do agente.
Teoria Geral da Pena
• Princípios da Pena
I. Princípio da legalidade:
a) Princípio da Anterioridade:

b) Princípio da Reserva Legal: a aplicação de uma pena só pode estar prevista em lei
em sentido formal e escrita (ordinária ou complementar) (costumes e/ou outros
tipos de atos normativos).
c) Princípio da Taxatividade: a previsão de uma pena por meio de lei deve ocorrer de
modo taxativo, preciso e sem uso de conceitos vagos. (ver arts. 62, § 1º, I, ‘b’ e 22, I,
CF)

II. Princípio da Pessoalidade ou da Intranscendência da pena (art. 5°, XLV,


CF): se traduz no fato de que as penas são personalíssimas, não passando
da pessoa do apenado/condenado.
Reparação do dano? Multa?
Teoria Geral da Pena
• Princípios da Pena
III. Princípio da Individualização da Pena (art. 5°, XLVI e XLVIII, CF): Em
razão da doutrina majoritária brasileira, tal princípio deve ser analisado
sob três aspectos:
Legislativo: se traduz na obrigação de que sejam criadas penas
cominadas em proporção à gravidade dos crimes e com o
estabelecimento de penas mínimas e máximas para cada tipo penal,
incluindo-se os casos de aumento e diminuição (estabelecem uma
referência fracionária ou numeral a uma pena preexistente) e
majorantes e atenuantes (arts. 61/62, CP).
Teoria Geral da Pena
• Princípios da Pena
III. Princípio da Individualização da Pena (art. 5°, XLVI e XLVIII, CF)
Judicial: impõe a necessidade de que o juiz, ao realizar a dosimetria da
pena, analise todas as previsões legais que atuem diretamente nas
circunstâncias do crime, a fim de adequá-la ao máximo às
peculiaridades do caso concreto e às características pessoais do réu.

Administrativa: se dá na fase de cumprimento da pena declarada pela


autoridade judicial em sentença transitada em julgado. Assim, a
execução da pena também deve ser individualizada.
Teoria Geral da Pena
• Princípios da Pena
IV. Princípio da Inderrogabilidade da Pena: desde que presentes os seus
pressupostos, a pena deve ser obrigatoriamente aplicada e cumprida.
Perdão Judicial (art. 107, IX, CP)? Faculdade/direito público subjetivo de liberdade,
concedida ao juiz de, comprovada a prática de uma infração penal, deixar de aplicar
a pena imposta pela lei em face de justificadas circunstâncias excepcionais (Ex.: arts.
121, § 5º, 129, § 8º, e 140, § 1º, CP)
VI. Princípio da Vedação ao Bis in Idem:
a) viés processual: Ninguém pode ser processado duas vezes pela prática de uma
mesma infração penal;
b) viés material: Ninguém pode ser condenado mais de uma vez em razão da mesma
infração penal;
c) viés execucional: ninguém pode ser executado e, portanto, cumprir pena duas
vezes por condenações relacionadas à mesma infração penal.
• Penas proibidas: art. 5º, XLVII, CF

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