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1) BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal. Parte Geral.

Volume 04
2) GONÇALVES, Victor Eduardo Rios. Direito penal parte especial 10
3) DELMANTO, Celso. Código Penal Comentado
4) ESTEFAM, André. Direito Penal. Parte Especial. Vol. 03
5) JESUS, Damásio E. Direito Penal. Parte Especial. Vol. 03
6) MASSON, Cleber. Direito Penal Esquematizado. Vol. 03. Parte Especial
7) MIRABETE, Júlio Fabbrini. Manual de Direito Penal. Vol. 02
8) NUCCI, Guilherme de Souza. Código Penal Comentado
9) PRADO, Luiz Regis. Curso de Direito Penal Brasileiro

REVISÃO
CONCURSO MATERIAL
- Art. 69, CP
“Quando o agente, mediante mais de uma ação ou omissão, pratica dois ou
mais crimes, idênticos ou não, aplicam-se cumulativamente as penas
privativas de liberdade em que haja incorrido. No caso de aplicação
cumulativa de penas de reclusão e de detenção, executa-se primeiro aquela.
§ 1º - Na hipótese deste artigo, quando ao agente tiver sido aplicada pena
privativa de liberdade, não suspensa, por um dos crimes, para os demais será
incabível a substituição de que trata o art. 44 deste Código.
§ 2º - Quando forem aplicadas penas restritivas de direitos, o condenado
cumprirá simultaneamente as que forem compatíveis entre si e
sucessivamente as demais.”

- É a mesma coisa que concurso real ou cúmulo material


- Exemplo: indivíduo entra em um sítio com a intenção de praticar um roubo.
Chegando lá, saca uma arma e ameaça a proprietária do sítio, subtraindo
todos os itens de valor da casa. Depois de ter colocado todos os bens no
carro, volta e estupra a vítima, que já estava imobilizada. Indo embora,
encontra o marido da vítima, então saca a arma e o mata
- No exemplo acima, o indivíduo cometeu 3 crimes, com 3 ações distintas:
roubo, estupro e homicídio, todos em um mesmo contexto fático
- Por serem de características diferentes, chamamos de concurso material
heterogêneo
- Para concurso material, na dosimetria da pena, somam-se as penas dos 3
crimes

CONCURSO FORMAL
- Ao contrário do concurso material, no concurso formal existe apenas uma
ação, que resulta em dois ou mais crimes
- O exemplo mais comum é o de atropelamento a embriaguez
- Exemplo: homem sai de balada embriagado, atropela e mata dois ciclistas
que estavam indo trabalhar. Aqui há dois crimes: homicídio (Art. 121/CP) e
embriaguez ao volante (Art. 306/CTB)
- Pega-se a pena mínima de um desses crimes e coloca um acréscimo, de
acordo com a regra de exasperação
- Concurso formal perfeito ou próprio: agente agiu com culpa, não queria
produzir os resultados, então aplica-se a exasperação
- Concurso formal imperfeito: agente age com dolo, queria produzir os
resultados. Nesse caso, não se aplica a regra de exasperação das penas,
mas sim somam-se as penas

CRIME CONTINUADO
- Mais de uma ação ou omissão, dois ou mais crimes
- Benefício penal, reconhecimento de uma regra de humanidade
- Esses crimes estão ligados uns aos outros, por terem conexão
- Exemplo: no espaço de uma semana, um único indivíduo conseguiu furtar
100 steps de pneus de veículos, em dias e horários diferentes
- Pega-se a pena de um crime e adiciona a majorante do art. 71
“Quando o agente, mediante mais de uma ação ou omissão, pratica dois ou
mais crimes da mesma espécie e, pelas condições de tempo, lugar, maneira
de execução e outras semelhantes, devem os subsequentes ser havidos
como continuação do primeiro, aplica-se-lhe a pena de um só dos crimes, se
idênticas, ou a mais grave, se diversas, aumentada, em qualquer caso, de um
sexto a dois terços.
Parágrafo único - Nos crimes dolosos, contra vítimas diferentes, cometidos
com violência ou grave ameaça à pessoa, poderá o juiz, considerando a
culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e a personalidade do
agente, bem como os motivos e as circunstâncias, aumentar a pena de um só
dos crimes, se idênticas, ou a mais grave, se diversas, até o triplo,
observadas as regras do parágrafo único do art. 70 e do art. 75 deste
Código.”
- A problemática aqui é reconhecer se o crime cumpre os requisitos objetivos,
onde TODOS devem estar presentes, chamada de teoria ùnica/pura
(concomitantes):
a) Crime da mesma espécie (tipo) = mesmas características e mesmo bem
jurídico protegido
b) Conexão modal = o modo de execução do crime deve ser igual
c) Conexão temporal = tem que estar no mesmo intervalo de tempo, não
podendo ultrapassar 30 dias
d) Conexão espacial = deve acontecer na mesma região, no mesmo local
- Brasil adota a teoria objetivo subjetiva (teoria mista): define que deve
haver, além dos requisitos acima, uma unidade de desígnio, chamada de dolo
único, caso contrário, não há continuidade delitiva.
- Exemplo: preciso de 100 steps, esse era o meu objetivo desde o começo
- Se não houver o dolo único alguns juízes entende que não houve crime
continuado
- Até 1984 não se admitia crimes continuados em crimes violentos, dolosos,
graves, hediondos (§ único art. 71), após a reforma começou a ser admitido

CRIME FORMAL E CRIME MATERIAL


● Crime formal
- O crime formal não precisa de um resultado naturalístico (alteração no mundo
real) para acontecer
- Ou seja, não exige a produção do resultado para a consumação do crime,
ainda que possível que ele ocorra
- Exemplo: ameaça - o crime de ameaça apenas prevê a conduta de quem
ameaça, não importando se o resultado da ameaça aconteceu, tão pouco se
a pessoa se sentiu constrangida ou ameaçada

● Crime material
- O crime material só se consuma com a produção do resultado naturalístico
- Se não ocorrer um resultado, não houve consumação, apenas tentativa
- Exemplo 1: estupro - é um crime material porque precisa de um resultado
naturalístico
- Exemplo 2: homicídio - precisa haver morte para se consumar

CRIME FORMAL CRIME MATERIAL

Não precisa de resultado para se Precisa de resultado para se


consumar consumar

Exemplo: ameaça - basta conduta Exemplo: homicídio - precisa do


do agente resultado morte
TIPO MISTO ALTERNATIVO E TIPO MISTO
CUMULATIVO
- Tipo misto alternativo = crimes de ação múltipla que, se praticados no
mesmo contexto fático, caracterizam somente um delito
● Exemplo: crime de estupro (art. 213)
- Tipo penal prevê várias condutas, vários verbos
- Exemplo de tipo simples: crime de furto (1 verbo)
- Exemplo de tipo misto: art. 122, CP - crime de induzimento, instigação ou
auxílio material ao suicídio ou automutilação (3 verbos)
- Tipo misto cumulativo = previsão de várias condutas, onde cada uma
compõe um bem jurídico alternativo, cada conduta envolve um
comportamento autônomo independente. As penas se cumulam
● Exemplo: abandono material (art 244) e omissão de socorro (art. 135)

CONCURSO DE AUTORES
- Autor = é aquele que executou o crime, que realiza a conduta, movimentando
o núcleo do tipo
- Coautor = auxilia na execução do crime, movimentando o núcleo do tipo
- Porém, autor e coautor podem trabalhar juntos
- Partícipe = é aquele que, de alguma forma, contribuiu com o crime, mas não
movimenta o núcleo do tipo, ou seja, não executa o crime, tendo um
comportamento acessório (não põe a mão na massa)
- Autoria mediata = é quando o autor se vale de uma pessoa sem
discernimento ou sem capacidade, podendo estar coagida, para que esta
execute o crime em seu lugar. Essa pessoa não tem culpabilidade, pois não
age com voluntariedade

07/02

CRIMES CONTRA A DIGNIDADE SEXUAL


NOÇÕES PRELIMINARES DOS CRIMES CONTRA A
DIGNIDADE SEXUAL
- Evolução normativa do tema:
a) Quando o CP/1940 (Dec. Lei 2848/40) foi criado, o crime de estrupro se
chamava “crimes contra a vida”, em decorrência do tabu da época sobre o
sexo
b) Moral sexual tradicional, ou seja, havia um machismo presente no código
- CF de 1988: trouxe o princípio da dignidade da pessoa humana, trazendo
direitos iguais para homens e mulheres, fazendo o sexo deixar de ser um
tabu ligado ao plano moral (liberdade sexual)
- Moral sexual tradicional: Código Penal extremamente machista
- Constituição Federal 1988: art. 1° III - Princípio da Dignidade da Pessoa
Humana
- Art. 59 | - Homens e Mulheres: direitos iguais
- Sexualidade: passa a ter um "valor jurídico"
- Proteção da Dignidade Sexual: direito de liberdade sexual (objetividade
jurídica dos crimes sexuais)
- Sexo passa a ser um valor jurídico que necessita de tutela do direito penal
- Liberdade sexual = direito de dispor do próprio corpo para fins sexuais
- Estupro viola essa liberdade sexual, forçando a vítima e contrariando sua
vontade

PRINCIPAIS ALTERAÇÕES NORMATIVAS RECENTES


,

- Lei nº 12015/2009: procedeu inúmeras modificações nos delitos sexuais


(estupro, estupro de vulnerável, lenocínio, etc)
- Lei n° 13.718/2018: criou tipos penais novos, tais como a importunação
sexual (art. 215-A) a pornografia de vingança (art. 218-C), o estupro coletivo -
quando várias pessoas estupram a mesma vítima - (art. 226, IV) dentre outros
- Lei n° 13.344/2016: Tráfico Internacional de Pessoas para fins de exploração
sexual
- Lei n° 13.772/2018: Crime de registro não autorizado da intimidade sexual,
etc
- Lei n° 13.694/2019: Pacote Anticrime - modificações na Lei dos Crimes
Hediondos, alterando questões relativas aos condenados por estupro

DO ESTUPRO - ART 213 CP


Art. 213 - “Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a ter
conjunção carnal ou a praticar ou permitir que com ele se pratique outro ato
libidinoso:
Pena - reclusão, de 6 (seis) a 10 (dez) anos
§ 1o Se da conduta resulta lesão corporal de natureza grave ou se a vítima é
menor de 18 (dezoito) ou maior de 14 (catorze) anos:
Pena - reclusão, de 8 (oito) a 12 (doze) anos.
§ 2o Se da conduta resulta morte:
Pena - reclusão, de 12 (doze) a 30 (trinta) anos.”
EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO CRIME DE ESTUPRO
- "Stuprum": vem do latim e significa relação sexual violenta, forçada, imposta
- Povos antigos: Hebreus, Egípcios, Gregos, usavam punição com pena de
morte (castracão/mutilação)
- Até então, nos tempos antigos, o estupro era tratado como um crime cuja a
vítima era apenas o homem (castração, etc.)
- Direito Romano: "Crien Vis" (crime comum): a violência contra a pessoa que
era considerada, não o ato sexual. "Stuprum Violentum": conjunção carnal
ilícita, profanação, desrespeito, violação (Crime carnal - "Delicta Carnis")
- A partir desse período, passaram a considerar apenas a mulher como vítima
- Direito Medieval: "Jus Primae Noctes" - estupro era um “direito”, já que o
senhor feudal tinha o direito de passar a noite de núpcias com a mulher do
vassalo (núpcias da 1º noite)
- Direito Canônico: "Stuprum Proprium" - necessidade da existência do
"defloramento", ou seja, só havia o crime de estupro se a mulher fosse virgem
e tivesse sido deflorada
- Percebe-se que a visão do referido crime foi se alterando ao longo do tempo,
passando a ser um direito apenas depois de muitos anos, mas ainda assim
restaram-se resquícios machistas
- BRASIL: Livro V - Ordenações Filipinas (Título XVIII) - punição com pena de
morte, castração, açoite ou degredo
a) Estupro era chamado no passado de ROUÇO ou FORÇAMENTO (forçar,
violentar, raptar, troca de contato íntimo)
b) Código Penal do Império (1830) e Código Penal Republicano (1890):
nomenclatura de ESTUPRO (previsão de defloramento também) - Penas
de desterro e prisão de 03 a 12 anos
c) Código Penal de 1940 (Dec Lei 2848/40): "Crimes contra os Costumes" -
estupro e atentado violento ao pudor
d) Lei 12015/09 - crime de estupro passa a ser chmado de "Crimes contra a
dignidade Sexual"

MODIFICAÇÕES DECORRENTES DA LEI N° 12015/09


- Estupro e a antiga figura do Atentado Violento ao Pudor (art. 214 do CP)

CONCEITO DE ESTUPRO
- "Consiste na infração penal em que o agente obriga a vítima, através de
violência física ou de grave ameaça, a ter com ele conjunção carnal, ou,
ainda, a praticar ou permitir que com ele se pratique, qualquer outro ato de
natureza libidinosa"
- Conjunção carnal = penetração do pênis na vagina
- Ato libidinoso = qualquer outro tipo de relação sexual que não caracterize a
conjunção carnal, como o sexo oral e anal, por exemplo
- O crime pode acontecer de várias formas, incluindo o uso de objetos para sua
concretização, ou até mesmo que o agente não chegue a tocar a vítima, de
modo a se utilizar da internet, por exemplo

ESTRUTURA TIPOLÓGICA DO CRIME DE ESTUPRO


- Faz referência à estrutura do artigo e sua interpretação
- §1º: se refere ao crime de estupro qualificado pela lesão corporal de
natureza grave, em sua primeira parte, e pela idade da vítima, na segunda
parte
- §2º: se refere ao estupro seguido de morte

OBJETIVIDADE JURÍDICA
- Todo crime protege algo importante, um valor jurídico
- Estupro é um crime pluriofensivo, pois existem vários bens jurídicos sendo
tutelados, sendo eles:
a) LIBERDADE SEXUAL = do homem e da mulher
b) INTEGRIDADE FÍSICA = violência corporal
c) INTEGRIDADE PSICOLÓGICA = violência moral
d) VIDA = na modalidade qualificada, resultando na morte da vítima

10/02
NATUREZA HEDIONDA DO DELITO
Art. 1° - “São considerados hediondos os seguintes crimes, todos tipificados
no Decreto-Lei n° 2.848, de 7 de dezembro de 1940 - Código Penal,
consumados ou tentados:
V - estupro (art. 213, caput e §§ 1° e 2°);
VI - estupro de vulnerável (art. 217-A, caput e § 19, 2°, 39 e 49).”
- Natureza hedionda: o crime de Estupro possui natureza hedionda em sua
totalidade, desde o caput até os parágrafos
- Direito Comparado: estupro em outros países
<

- Criminologia e Direito Penitenciário: o tratamento dos condenados por


estupro dentro dos presídios é diferente, sendo um crime abominado pelos
próprios companheiros de cela (subcultura carcerária)
- Debate jurídico: castração química e direitos humanos;
- Casos emblemáticos: Roger Abdelmassih; João de Deus; Mariana Ferrer;
Robinho e Daniel Alves
- Os estupradores, em sua maioria, são pessoas consideradas “normais” no
que se refere à saúde mental, visto que o percentual gira em torno de 85%,
enquanto os outros 15% se refere às pessoas enquadradas como psicopatas
- Castração química: alguns países utilizam esse método, onde o Estado
impõe um tratamento hormonal que vai diminuir a libido

ESTUDO DOS ELEMENTOS OBJETIVOS DO TIPO


- Crime material: o estupro é um crime material, pois a consumação ocorre
com a conjunção carnal ou com a prática de atos libidinosos. Toques lascivos
antecedentes à penetração já são suficientes à consumação
- Ação nuclear: constranger (obrigar, coagir, forçar, tolher a liberdade);
- Modo de execução: existem dois tipos
a) Violência física = "vis corporalis" - é a violência real, força física, a energia
corporal do agente;
b) Violência psicológica = "vis compulsiva" - é a coação, grave ameaça de
um mal grave;
- Em alguns casos, apenas o ato de estuprar não é suficiente para o agente do
crime, sendo necessário o uso da violência para que possa se satisfazer
- Elementar implícita: é o dissenso da vítima, ou seja, no crime de estupro
não precisa ter um “não” explícito da vítima, basta que ela não tenha
consentido a relação
- A “ameaça de um mal grave” serve também para casos que se caracterizam
um crime, pois ela AJUDA o agente a cometer o crime
Exemplo: traficante ameaça outra traficante ameaçando delatá-la se a mesma
não tiver relações sexuais com ele. Aqui, mesmo que a conduta da vítima
seja tipificada como um crime, não torna válida a conduta do agente de usar o
fato como um MEIO para que o mesmo consume o crime de estupro
- O consentimento voluntário afasta a tipificação do crime
- O dissenso cronológico: momento do "sim" ou do "não" - a não concordância
da vítima pode ocorrer antes ou durante o desenvolvimento da ação
- A não concordância da vítima é determinante para caracterizar tal crime,
independente do momento em que ela ocorra
- Exemplo: casal de namorados resolve ter relação sexual voluntariamente,
entretanto em determinado momento a mulher não quer mais dar sequência
ao ato e seu parceiro a obriga a continuar (se enquadra como estupro,
mesmo que o ato tenha começado com consentimento de ambos)
- Exceção: Estupro de vulnerável (art. 217-A do CP)
a) "Inotentia Consilli" = é o consentimento inocente, utilizado no caso de
crianças ou adolescentes menores de 14 anos e pessoas com enfermidade
mental
b) Mesmo que haja o consentimento voluntário da vítimal, ainda se
caracteriza como estupro
c) Exemplo 1: indivíduo de 18 anos e menina de 13 anos resolvem juntos,
com consentimento de ambos, manterem relações sexuais. Nesse caso,
mesmo que haja consentimento ainda é considerado estupro
d) Exemplo 2: menino de 17 anos e menina de 13 anos resolvem juntos, com
consentimento de ambos, manterem relações sexuais. Nesse caso, mesmo
que o menino seja menor de idade ainda há o estupro
e) Exemplo 3: menino de 13 anos e menina de 13 anos resolvem juntos, com
consentimento de ambos, manterem relações sexuais. Nesse caso, há um
estupro bilateral, pois o consentimento voluntário de ambos não tem
validade jurídica (discussão jurídica atual)

“CONJUNÇÃO CARNAL” E “ATO LIBIDINOSO”


- Definições: terminologias presentes na Medicina Legal (sexologia -
Genival Veloso França)
- Conjunção carnal: é a penetração do pênis na vagina, seja ela completa ou
incompleta (cópula vagínica)
<

- Coito normal: Homem x Mulher - relação sexual tradicional


a) Apenas a mulher seria vítima, em um primeiro momento, quando o homem
é o sujeito ativo
b) Mas o homem também pode ser vítima quando a mulher estiver no polo
ativo (estupro masculino)
- Ato libidinoso: é qualquer ato de cunho sexual, destinado a satisfazer a
lascívia (concupiscência), diverso da conjunção carnal
- Coito anormal: Homem x mulher - Homem x homem- Mulher x mulher
("Felação")
- "Cunnilinguis" = sexo oral, coito anal, etc
STF E STJ
- Ocorreu a revogação formal do dispositivo (art. 214 não existe mais)
- Ocorreu “abolitio criminis” do crime de atentado violento ao pudor?
R: STF e STJ argumentaram que não ocorreu a “abolitio criminis”, pois o
crime apenas mudou de artigo, o que é chamado atualmente de princípio da
continuidade normativo típica
- Continuidade normativo típica: é quando o crime continua existindo, apenas
muda sua localização no artigo, ou seja, ocorre apenas a revogação formal
do dispositivo
- Referida decisão dos órgãos jurisdicionais gerou uma problemática de
interpretação, dividindo as decisões sobre o crime de estupro em:
1. Antes da Lei 12015/09 = concurso material de crimes, as penas são
somadas (condutas autônomas e dolos diversos), ou seja, junta-se o 213 +
214 (penas cumuladas)
2. Depois da Lei 12015/09 = a doutrina se dividiu em duas posições
a) 1º Estupro como crime único - tipo misto alternativo (é quando um
crime tem várias condutas, como o art. 122 do crime de estupro - induzir,
instigar, auxiliar - se alguém comete os 3 atos, ainda assim será apenas
um crime)
b) 2º Estupro como concurso de crimes - tipo misto cumulativo (as
condutas são somadas)
POSIÇÃO PREDOMINANTE NA DOUTRINA E
JURISPRUDÊNCIA DA ATUALIDADE
- Art. 213 do CP (com redação dada pela Lei n° 12.015/09): "tipo misto
alternativo" - 69 Turma STJ - (HC 144.870 - DF/ HC 167.517 - SP - HC
129.398-RJ)
<

- Decisão: nesses casos, seria um crime único - tipo misto alternativo


(mesmo contexto fático)
- Descompasso normativo: legislador criou um tipo penal na intenção de
ajudar, mas acabou prejudicando, pois isso foi benéfico para os estupradores,
já que a pena foi reduzida pela metade com a decisão de que seria um crime
único, sendo feita, inclusive, a diminuição da pena sem a necessidade de
revisão criminal
Atentado Violento ao Pudor no art. 233 do CPM (Dec. Lei 1001/69)
,

- As alterações da Lei 1215/09 ocorreram apenas dentro do CP, mas não


alcançaram leis especiais que tratam sobre crimes sexuais, como o Dec. Lei
1001/69 - art. 233 do CPM (Código Penal Militar) - reformatio in melius
<<

a) Art. 233 do CPM (Código Penal Militar) - crime de Atentado violento ao


pudor - pena mínima de 2 anos
b) Art. 232 do CPM - crime de estupro
c) Inconstitucionalidade = o crime de Atentado violento ao pudor é
inconstitucional por ferir a proporcionalidade das penas, já que sua pena é
menor do que a do crime de estupro

14/02
DESENVOLVIMENTO DO CRIME DE ESTUPRO

● Estupro na modalidade de ato libidinoso


- “Permitir que com ele se pratique” = vítima é forçada ao papel passivo
- “Praticar” = vítima é forçada ao papel ativo
- Via de regra, a vítima tem sempre um envolvimento corporal de cunho sexual
com o estuprador. Ela é obrigada a “fazer” ou “deixar fazer” (seu corpo é
tocado) (nelson hungria: o estupro acontece através de um ato realizado
"pela" vítima, "com" a vítima ou "sobre" a vítima coagida)
● É possível haver estupro sem contato corporal?
R: Sim, em situações excepcionais, a vítima pode não ter um contato corporal
diretamente com o estuprador, mas sim com terceiros ou ser forçada a ter
uma atitude sexual com ela mesma, chamada pela doutrina de estupro
através de autoria mediata
- Autoria mediata = é quando o sujeito ativo se vale da própria vítima ou
executa a ação típica através de um terceiro sem culpabilidade (pessoa sem
discernimento, sem capacidade, ou coagida) ou de um objeto, para cometer o
estupro. Esse terceiro não tem culpabilidade, pois não age com vontade ou
está em absoluto erro. O autor usa ele como ferramenta para cometer o crime
- “Estupros virtuais” = quando o autor obriga a vítima a fazer atos sexuais
através de veículos de internet. Exemplo: o agente, mediante ameaça, obriga
a vítima a se masturbar na sua frente; o agente obriga a vítima a manter
conjunção carnal com um indivíduo portador de enfermidade mental, obriga a
introduzir um objeto em sua própria vagina ou ânus.
- Casos reais: (Piauí - 2017 - Rio Grande do Sul - 2020): imprensa denominou
de "estupro virtual" (ocorridos através da internet via web cam)

CONTEMPLAÇÃO LASCIVA
- É o ato de obrigar alguém a despir-se sem que o autor realize algum
comportamento carnal com a vítima e nem obrigar a mesma a realizar ato
libidinoso com ela mesma
- A contemplação lasciva não caracteriza estupro, mas sim outros tipos de
crimes
● Apenas "olhar" uma pessoa, sem tocá-la ou sem obrigar a mesma a ter
uma atitude corporal de cunho sexual, pode caracterizar estupro ?
R: Não, mas, dependendo da hipótese, pode configurar o crime de
IMPORTUNAÇÃO SEXUAL - art. 215-A do CP
- Exemplo: caso em que o agente se masturba sobre a vítima em um ônibus
coletivo
- Outras situações (Jurisprudência - TISP/TURJ - STI-STF): O agente impõe à
vítima a obrigação de "tirar" a roupa (apenas para observar ela nua, sem ter
atitude sexual em face dela)
a) Se tiver 14 anos ou mais, caracteriza constrangimento ilegal (art.146 do
CP)
b) Se tiver menos de 14 anos, pode caracterizar o crime do art. 218-A (na
hipótese de satisfação da lascívia)
c) Se o agente tem a intenção de tirar fotos, filmar, registrar por qualquer
meio, etc. pessoa menor de 18 anos, caracteriza o delito de PEDOFILIA -
arts. 240 e seguintes do ECA - Lei n° 8.069/90)
d) Se maior de 18 anos pode caracterizar o art. 216-B do CP - registro não
autorizado da intimidade sexual
- Pedofilia = nome dado pela imprensa, nem todas condutas relacionadas às
crianças caracteria pedofilia
Art. 240 - “Produzir, reproduzir, dirigir, fotografar, filmar ou registrar, por
qualquer meio, cena de sexo explícito ou pornográfica, envolvendo criança ou
adolescente”
● Forçar uma pessoa a beijar, pode ser caracterizado como crime de
estupro?
R: Depende do beijo
Beijo casto: selinho, beijo furtivo (roubado), não caracteriza estupro, mas
antes caracterizava crime - art. 61 da LCP ( Dec. Lei 3688/41 - contravenção
penal de importunação ofensiva ao pudor)
Com o advento da Lei 13.718/2018, temos duas posições:
a) 1ª corrente = fato atípico, sendo desproporcional a pena
b) 2ª corrente = art. 215-A do CP - importunação sexual (prevalece)
Beijo lascivo: agressivo, de natureza libidinosa, que demonstra luxúria,
caracteriza "estupro" na modalidade ato libidinoso (análise de caso:
Marcelinho Paraíba - jogador de futebol-2011)
Jurisprudência - STJ-STF: aplicar o princípio da proporcionalidade /
razoabilidade - analisando o desvalor da conduta.
Observação: se o beijo tinha por intenção humilhar a vítima, caracteriza
injúria real - crime contra a honra (art. 140 § 2° do CP).

CASUÍSTICAS
- Agente que se esfrega na vítima em lugares lotados (ex: ônibus, metrô,
etc.) =caracteriza (Frotteurismo - França) importunação sexual (art. 215-A
do CP) - da mesma forma, "passar a mão"
“Praticar contra alguém e sem a sua anuência ato libidinoso com o objetivo de
satisfazer a própria lascívia ou a de terceiro:
Pena - reclusão, de 1 (um) a 5 (cinco) anos, se o ato não constitui crime mais
grave.”
- Práticas sexuais com animais (Zoofilia) = caracteriza o crime ambiental de
Maus-Tratos aos animais (art. 32 da Lei 9.605/98)
“Praticar ato de abuso, maus-tratos, ferir ou mutilar animais silvestres,
domésticos ou domesticados, nativos ou exóticos: Pena - detenção, de três
meses a um ano, e multa.”
- Práticas sexuais com cadáveres (Necrofilia) = caracteriza crime de
vilipêndio ao cadáver (art. 212 do CP)
“Vilipendiar cadáver ou suas cinzas:
Pena - detenção, de um a três anos, e multa.”
- Práticas sexuais com pessoas menores de 14 anos, inconscientes ou
com enfermidades mentais = caracteriza estupro de vulnerável (art. 217-A
do CP)
“Ter conjunção carnal ou praticar outro ato libidinoso com menor de 14
(catorze) anos:
Pena - reclusão, de 8 (oito) a 15 (quinze) anos.”
- Filmar ou fotografar uma pessoa "nua" sem sua autorização =
caracteriza o crime de registro não autorizado da intimidade sexual (art.
216-B)
“Produzir, fotografar, filmar ou registrar, por qualquer meio, conteúdo com
cena de nudez ou ato sexual ou libidinoso de caráter íntimo e privado sem
autorização dos participantes:
Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 1 (um) ano, e multa.”
- Divulgar na internet fotos ou cenas de estupro, nudez ou de sexo de
certa pessoa sem sua autorização = caracteriza o crime do art. 218-C,
chamado "Divulgação de cena de estupro ou de cena de estupro de
vulnerável, de cena de sexo ou de pornografia"
“Oferecer, trocar, disponibilizar, transmitir, vender ou expor à venda, distribuir,
publicar ou divulgar, por qualquer meio - inclusive por meio de comunicação
de massa ou sistema de informática ou telemática -, fotografia, vídeo ou outro
registro audiovisual que contenha cena de estupro ou de estupro de
vulnerável ou que faça apologia ou induza a sua prática, ou, sem o
consentimento da vítima, cena de sexo, nudez ou pornografia:
Pena - reclusão, de 1 (um) a 5 (cinco) anos, se o fato não constitui crime mais
grave.”

SUJEITOS DO CRIME
- Sujeito ativo: qualquer pessoa (crime comum)
- Sujeito passivo: qualquer pessoa (crime comum)
- Tanto homem quanto mulher podem ser vítimas e autores
● Marido pode estuprar a própria mulher?
R: Sim. Violação da liberdade e dignidade sexual (Lei 13.718/18 - majorante
art. 226, lI do CP)
“De metade, se o agente é ascendente, padrasto ou madrasta, tio, irmão,
cônjuge, companheiro, tutor, curador, preceptor ou empregador da vítima ou
por qualquer outro título tiver autoridade sobre ela.”
● Mãe pode responder como partícipe de crime de estupro praticado pelo
pai ou padrasto?
R: Sim. Art. 13 § 2° CP - chamado de crime omissivo impróprio, sendo
conivente com a conduta abusiva ou, por um acaso vc teria carregador ai?
de celular kk
“§ 2º - A omissão é penalmente relevante quando o omitente devia e podia
agir para evitar o resultado. O dever de agir incumbe a quem:
a) tenha por lei obrigação de cuidado, proteção ou vigilância;
b) de outra forma, assumiu a responsabilidade de impedir o resultado;
c) com seu comportamento anterior, criou o risco da ocorrência do resultado”
- Tudo isso pq a mãe tem a obrigação de comunicar às autoridades, visto que
tem o dever de cuidar do filho
- Desse modo também será réu do processo junto com o infrator
● Homem pode ser estuprado pela mulher?
R: Sim, é que vem sendo denominado de "estupro masculino" pela doutrina.
Nesse caso é mais comum o estupro de vulnerável

17/02
● Se um homem é estuprado por uma mulher, e essa vem a engravidar, ele
pode exigir que ela aborte?
R: Existem duas correntes, uma que diz que seria permitido e outra que
discorda. A corrente que prevalece é a de que isso não é permitido, levando
em consideração a dignidade da pessoa humana (não da pra obrigar ela) e a
ausência de previsão legal. No âmbito civil, o genitor poderia pedir ausência
de responsabilidade paterna.

RELEVÂNCIA DA IDADE DA VÍTIMA

VÍTIMA ENQUADRAMENTO PENA


Igual ou maior de 18 anos Art. 213 caput - “Estupro 06 a 10 anos de reclusão
simples”

Menor de 18 ou maior de Art. 213 par 1º (primeira 08 a 12 anos de reclusão


14 anos parte) - Estupro
qualificado pela idade
da vítima

Menor de 14 anos Art. 217-A - Estupro de 08 a 15 anos de reclusão


vulnerável
- Acima de 14 e abaixo de 18: é um estupro qualificado pela idade, pois o
legislador entende que a vítima, em decorrência da sua ajuventude, se
encontra em uma posição ainda mais vulnerável
- Menor de 14 anos: maior reprovabilidade ainda, entrando na categoria de
estupro de vulnerável
- Entre a modalidade “menor de 14 anos” e “acima de 14 anos” existe uma
lacuna na lei, pois a vítima não teria nem uma e nem outra idade, mas
exatamente 14 anos, logo, surge a pergunta:

● E se a vítima fosse estuprada no “exato” dia do seu aniversário de 14


anos?
R: Existem dois posicionamentos doutrinários, sendo mais doutrinários do que
jurisprudenciais:
1. Posição = o agente responderá por ESTUPRO SIMPLES - art. 213 "caput"
CP - Interpretação restritiva, vedada a "analogia in malam partem", ou seja,
deve interpretar somente o texto da lei, aplicando o mais favorável para o
réu, que é o caput
2. Posição = o agente responderá por ESTUPRO QUALIFICADO - art. 213
"caput" CP - "mens legis" prevalece, ou seja, a vontade do legislador -
Proibição da proteção deficiente - com base no ativismo judicial,
entende-se a possibilidade da interpretação teleológica, onde se atrai o
espírito da lei
- Posição que prevalece: 1ª Corrente - inclusive no STJ e STF
- Falha legislativa, aplicar de acordo com a proporcionalidade
- Não dá pra usar o artigo “menor de 14 anos” do 217-A
- “Mens legislatoris" = lei pronta
- “Mens legis” = vontade do legislador

TIPICIDADE SUBJETIVA
- DOLO: é a vontade livre e consciente de constranger a vítima à conjunção
carnal ou à prática de ato libidinoso; O agente tem consciência de que pratica
um ato sexual violento e de que contraria a vontade (ou passou por cima
dessa vontade) da vítima
- Sobre a existência ou não de dolo específico, existem dois posicionamentos:
1. Tradicionalista: o dolo tinha que ser específico, ou seja, só existia estupro
se o ato fosse voltado para a satisfação da libido
2. Contemporâneo: não há dolo específico, o dolo é genérico, pois o
constrangimento sexual pode ser voltado para qualquer finalidade
(vingança, humilhação, desprezo ou qualquer outro motivo torpe)
- Obs 01: alguns posicionamentos teóricos singulares acreditam que o dolo
específico envolve o constrangimento para o ato sexual (conjunção carnal e
ato libidinoso)
- Obs 02: não existe estupro culposo
- Estupro corretivo: estuprador comete a conduta se justificando estar
“corrigindo” algo que ele mesmo julga errado por meio do crime]
- Obs 03: tortura na região genital é diferente de estupro (alteração de tipo)

Estudo de caso: "Caso Mariana Ferrer”


Estudo de caso: "Escola de Base" (1994)

CONSUMAÇÃO E TENTATIVA
● CONSUMAÇÃO
- Se dá com a introdução do pênis na vagina (conjunção carnal) ou com a
execução do ato libidinoso (sexo oral, anal, etc.)
- Crime material = o estupro é um crime material, pois a consumação ocorre
com a conjunção carnal ou com a prática de atos libidinosos
- Toques lascivos antecedentes à penetração já são suficientes à consumação
- Exemplo: João obriga a vítima a se despir e começa a lhe apalpar as partes
íntimas para se excitar. Antes da penetração, é surpreendido pela polícia.
Não houve a conjunção carnal, porém o delito já se consumou com a prática
dos atos libidinosos anteriores

● TENTATIVA
- É quando o estuprador não consegue consumar o crime em decorrência de
alguma interrupção alheia a sua vontade (fuga da vítima; flagrante)
- Porém, é preciso que fique demonstrada a intenção de praticar o referido
delito
- Crime plurissubsistente = a conduta envolve a prática de mais de um ato
- Exemplo 1: João, mediante grave ameaça, determina que a vítima o
acompanhe até local ermo. Lá chegando, começa a se despir e determina
que a vítima faça o mesmo, momento em que é surpreendido pela polícia e
não consuma o ato - responde por tentativa de estupro (intenção de
praticar)
- Exemplo 2: João, mediante grave ameaça, determina que a vítima o
acompanhe até local ermo. Ainda no trajeto, é surpreendido pela polícia -
responde por constrangimento ilegal (crime subsidiário), pois não é
possível identificar a especial finalidade/intenção do agente

● DESISTÊNCIA VOLUNTÁRIA (art. 15, CP)


- É quando o estuprador, voluntariamente, desiste de estuprar a vítima por
vontade própria, ou seja, a não consumação do crime diz respeito às
vontades do agente
- Nesse caso, se o agente desiste voluntariamente de prosseguir na execução
do crime, só responderá pelos atos praticados
- Porém, se tais atos praticados já configurarem o crime de estupro, o
agente não será beneficiado pela desistência
- O estupro é um crime que progride durante sua consumação, visto que é uma
progressão de conduta criminosa (o gente começa o crime por meio de atos
libidinosos, como passar à mão, beijar, tudo para que chegue até a conjunção
carnal), sendo assim todos os atos que antecedem à conjunção carnal
configuram atos libidinosos que se enquadram na disposição de estupro
- Desse modo, a depender do caso, não é estupro tentado, mas sim
consumado, justamente por enquadrar também os atos libidinosos e não
somente a conjunção carnal
- Entendimentos antes da Lei 12.015/09: Tentativa de Estupro / Estupro
consumado: crime progressivo - "Prelúdio do Coito"; Impossibilidade desse
entendimento nos tempos atuais

A QUESTÃO PROBATÓRIA NOS CRIMES SEXUAIS


- Há uma dificuldade prática nos crimes sexuais (problema probatório)
- Meios de prova: testemunhal, pericial ou técnica (imagens de câmeras por
exemplo)
- Laudo de exame de corpo de delito: exame de conjunção carnal e de prática
de ato libidinoso
- Devem ser comprovadas: violência física, ameaça e a prática do ato sexual
- PALAVRA DA VÍTIMA: tem especial importância nos crimes sexuais (maior
valor probatório) - tem maior relevância nesse tipo de crime, visto que nos
outros tem caráter relativo por conta do contexto do delito
- ERRO JUDICIÁRIO: muito comum nos crimes sexuais por causa da
precariedade da prova
- Psicologia Forense: Síndrome da mulher de Potifar (caso do presidiário da
penitenciária de Junqueirópolis - SP)

24/02
ALGUNS CASOS DE CONCURSO DE CRIMES
- Torpeza do agente, crime grave, violento, hediondo, causa dano físico e
psicológico na vítima
- Estupro e cárcere privado: se existir privação momentânea da liberdade:
crime único de estupro (princípio da consunção); se manter a vítima por
considerável espaço de tempo em situação de restrição de liberdade -
concurso material de crimes: estupro (213) + 148 § 1° V do CP
- Estupro e lesão corporal: lesão simples (art 129 "caput" do CP) é absorvida
pelo estupro; lesão grave ou gravíssima (art. 129 §1°, 2° do CP): Estupro
Qualificado (art. 213 § 1° do CP)
- Estupro e homicídio: O agente quis matar a vítima (agiu com "animus
necandi"): Estupro (213) + Homicídio (121 § 2°, V) em concurso material; O
agente matou a vítima do estupro culposamente (agiu com culpa) - Estupro
qualificado pela morte da vítima (art. 213 § 2° CP)
- Aqui pode ser preterdoloso, onde o agente mata a vítima a título de culpa,
sem vontade de causar o resultado final morte
- Estupro e vilipêndio ao cadáver: o agente estupra e mata a vítima, depois
pratica atos sexuais no cadáver: responde no mesmo contexto acima, com
acréscimo da figura do art. 212 do CP (vilipêndio ao cadáver) - Caso
"Maníaco do Parque"
- “Sexopatas”
- Após a morte não há estupro, e sim vilipêndio ao cadáver (necrofilia)
- Para tanto é necessário auxílio da perícia para que se comprovem tais
práticas

ESTUPRO QUALIFICADO
Art. 213, CP - “Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a
ter conjunção carnal ou a praticar ou permitir que com ele se pratique outro
ato libidinoso:
Pena - reclusão, de 6 (seis) a 10 (dez) anos.
§1° Se da conduta resulta lesão corporal de natureza grave ou se a vítima é
menor de 18 (dezoito) ou maior de 14 (catorze) anos:
Pena - reclusão, de 8 (oito) a 12 (doze) anos.
§2° Se da conduta resulta morte:
Pena - reclusão, de 12 (doze) a 30 (trinta) anos.”

ESTUPRO QUALIFICADO PELA LESÃO CORPORAL DE


NATUREZA GRAVE
- Estupro qualificado pela lesão corporal de natureza grave
- Aplica-se o art. 213 § 1°
a) Primeira parte - pena de 08 a 12 anos de reclusão: quando a vítima sofre
lesões graves ou gravíssimas, que geram incapacidade para ocupações
habituais por mais de trinta dias, perigo de vida, perda de membro, sentido
ou função, deformidade permanente, etc.
b) Exemplo: o agressor derruba a vítima no chão para praticar o estupro e a
vítima tem uma fratura no braço;
c) Obs: lesões simples são absorvidas pelo crime do "caput" do 213 do CP
- A violência deve ser desenvolvida contra a vítima e não contra terceiros:
nesse caso o agente responderia por Lesão Corporal (129) + Estupro (213)

ESTUPRO QUALIFICADO PELA IDADE DA VÍTIMA


- Aplica-se o art. 213 § 1°
a) Segunda parte - pena de 08 a 12 anos de reclusão: quando a vítima é
menor de 18 e maior de 14 anos;
b) Motivo: desvalor da conduta / maiores danos físicos e psicológicos na
vítima;
c) Prova da idade: se faz por via documental (certidão de nascimento) ou por
outros meios;
- Vítima idosa (Gerontofilia): incide a circunstância agravante genérica do art.
61, II, "h" do CP - não é qualificadora

ESTUPRO QUALIFICADO PELA MORTE


- Aplica-se o art. 213 § 2° (pena de 12 a 30 anos de reclusão) quando a vítima
sofre lesões que geram sua morte
- Essa figura é essencialmente PRETERDOLOSA, ou seja, dolo na conduta
do agente e culpa no resultado morte
- Exemplo: o agressor amordaça a vítima com um pano nas vias respiratórias
que a leva a um processo de asfixia, matando-a;
- A morte deve recair sobre a vítima e não em face de terceiros
a) Exemplo: agente que mata o namorado para praticar estupro contra a
vítima responderá por Estupro (213) + Homicídio Qualificado (121 § 2°, V)
do CP
b) Estudo de Caso: Caso Champinha - Liana Friedenbach e Felipe Caffé
(2003), onde o agressor matou o namorado (Felipe) da vítima (Liana) para
se livrar dele, abusando sexualmente da menina posteriormente

- Se o agente estuprar e matar "dolosamente", como em uma queima de


arquivo, responderá por Estupro (213) + Homicídio Qualificado (121 § 29,
V) do CP, em concurso material (art. 69 do CP)
- Competência processual:
a) 1° Caso = a competência é do Juiz singular
b) 2° Caso = a competência é do Tribunal do Júri (homicídio)

AÇÃO PENAL
- Redação original do CP: Regra- Ação Penal Privada;
- Lei n° 12.015/09: Regra - "Ação Penal Pública Condicionada" (polêmicas -
Adin - 4301)
- Lei n° 13.718/18 (vigência atual) todos os crimes do Capítulo I e II do Título
VI: "Ação Penal Pública Incondicionada (art. 225 do CP)”
- Estudo paralelo: A questão da sobrevitimização nos crimes de natureza
sexual (Criminologia - Vitimologia)

VIOLAÇÃO SEXUAL MEDIANTE FRAUDE - ART. 215


- Crime de menor potencial (gravidade) frente ao estupro, mas aqui a vítima
também é abusada sexualmente
- O agente muda a forma de atuação, no estupro ele era agressivo, violento,
nesse caso o agente engana a vítima, situação ilusória
- Aqui a violência e ameaça são substituídas pela fraude
- “Estelionato sexual”

BASE NORMATIVA
- Violação sexual mediante fraude
Art. 215, CP - “Ter conjunção carnal ou praticar outro ato libidinoso com
alguém, mediante fraude ou outro meio que impeça ou dificulte a livre
manifestação de vontade da vítima:
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos.
Parágrafo único. Se o crime é cometido com o fim de obter vantagem
econômica, aplica-se também multa.”

REDAÇÃO ORIGINÁRIA DO CP (1940)


- Resultou na soma de dois crimes do passado
- Alterada posteriormente à lei 12.015/09
- Posse sexual mediante fraude
Art. 215 - “Ter conjunção carnal com mulher honesta, mediante fraude:
Pena - reclusão, de um a três anos.
Parágrafo único. Se o crime é praticado contra mulher virgem, menor de
dezoito anos e maior de quatorze anos:
Pena - reclusão, de dois a seis anos.”
- Atentado ao pudor mediante fraude
Art. 216 - “Induzir mulher honesta, mediante fraude, a praticar ou permitir que
com ela se pratique ato libidinoso diverso da conjunção carnal:
Pena - reclusão, de um a dois anos.
Parágrafo único. Se a ofendida é menor de dezoito e maior de quatorze anos:
Pena - reclusão, de dois a quatro anos.”

LEI N° 12.015/09
- Procedeu a alteração dos dois delitos, unificando a "Posse Sexual Mediante
Fraude" (art. 215) e o "Atentado ao Pudor Mediante Fraude" (art. 216):
criando a figura da "VIOLAÇÃO SEXUAL MEDIANTE FRAUDE": art. 215 CP-
atual
- Princípio da continuidade normativo típica. Crime único, posição
predominante na doutrina e jurisprudência
- Exemplo: médico que diz examinar paciente, mas na verdade está praticando
ato sexual sem nem a vítima perceber
CONCEITO
- "Consiste na infração penal em que o agente, objetivando a conjunção carnal
ou o ato libidinoso diverso, emprega algum tipo de fraude, levando a vítima ao
engano quanto a identidade do agente ou quanto à legitimidade da relação
sexual, ou ainda, quando o autor do crime emprega qualquer outro meio que
dificulte a livre manifestação da vítima" ("'Stuprum per fraudem" - Nelson
Hungria)
- "Estelionato sexual"
- Bem jurídico tutelado: liberdade sexual
<

- Não se equipara aos crimes hediondos


- No crime de violação sexual mediante fraude, a fraude é utilizada para induzir
a vítima a praticar o ato sexual, de forma voluntária

28/02
ELEMENTOS OBJETIVOS
- Núcleos da conduta:
a) "TER": conseguir, obter, possuir, receber, usufruir (conjunção carnal)
b) "PRATICAR": realizar, levar a efeito ou efetivar (ato libidinoso)
c) "MEDIANTE "FRAUDE": meio enganoso, ardil, engodo, estratégia para
enganar, cilada, armação (manha para enganar - sagacidade)

- No tipo objetivo (como o crime se desdobra), a fraude poderá recair sobre


duas situações:
a) Ou pode se dar através da falsa percepção quanto à LEGITIMIDADE DO
ATO SEXUAL (conjunção carnal ou ato libidinoso)
b) Pode se dar através do engano da vítima quanto à IDENTIDADE DO
AGENTE

● Fraude quanto à legitimidade do ato sexual


- A vítima se engana quanto ao próprio ato sexual (achando que o ato é para
alguma finalidade diversa) ou não tem ciência de que está sendo vítima de
um ato sexual em decorrência da "fraude" aplicada
- Exemplo: médico se utiliza de sua posição para manter relação sexual com a
vítima, dizendo que se trata de um procedimento médico de tratamento
- Estudo de casos: "Caso Roger Abdelmassih" e "Caso João de Deus"
- Estudo paralelo: criminologia/vitimologia - Crimes sexuais e profissionais da
medicina e da religião

● Fraude no tocante à identidade do agente


- A vítima se engana quanto à pessoa que está praticando do sexo (toma uma
pessoa pela outra)
- Exemplo: irmão gêmeo, durante a lua de mel, se aproveita dessa condição
genética para manter relação sexual com sua cunhada, que é induzida ao
erro

● Meio que impeça ou dificulte a livre manifestação de vontade


- É mais uma forma de praticar o crime de violação sexual mediante fraude
- Quando o agente cria uma situação para deixar a vítima vulnerável, a fim de
conseguir manter relação sexual com ela
- Porém, nessa modalidade, o legislador não se refere à situação em que a
vítima não consegue oferecer resistência física ao ato, pois, nesse caso, seria
estupro de vulnerável (exemplo: boa noite cinderela)

SUJEITOS
- Sujeito ativo: qualquer pessoa (crime comum)
- Sujeito passivo: qualquer pessoa, inclusive menor de idade (crime comum)
- Observação 1 = se a vítima for menor de 14 anos, incorre em estupro de
vulnerável
- Observação 2 = Na redação originária do CP 1940: apenas a "MULHER
HONESTA" - poderia figurar no POLO PASSIVO: Se fosse "virgem"(ou menor
de 18 anos) teríamos a incidência da circunstância qualificadora - (Pena de
01 a 03 era elevada para 02 a 06 anos) - no passado só era vítima desse
crime a mulher que era recatada, submissa, virgem, vinculada a uma família,
pois caso ela não fosse honesta não seria vítima desse crime, exemplo:
prostituta, que frequentava bares, mãe solteira, sem vínculo familiar estável.
Atualmente isso não é mais discutido, qualquer um pode ser vítima
- Configuração atual: qualquer pessoa pode ser vítima (inclusive
garotas/garotos de programa)
- Objetividade Jurídica: Liberdade Sexual (a fraude vicia o consentimento da
vítima para o ato)

ELEMENTO SUBJETIVO
- Consumação: é caracterizada com a prática do ato sexual
- Por ser um crime sexual, sendo possível dividi-lo em etapas, aceita-se a
existência da tentativa
- Porém, a doutrina entende que o ato libidinoso ou a conjunção carnal, ainda
que incompletos (tentados), caracterizam a consumação do crime
,,

- Sucessão de atos sexuais: a successão de atos sexuais, no mesmo contexto,


caracterizam crime único
- Exemplo: no caso do irmão gêmeo que se utiliza dessa condição para se
relacionar com sua cunhada, se o mesmo pratica o crime várias vezes no
mesmo dia, se caracteriza como um crime único. Porém, se ele realiza o
crime repetidas vezes na semana, já se tornam crimes diferentes <
FORMA QUALIFICADA
- Quando o ato busca também vantagem econômica é adicionada multa à pena
- Exemplo: indivíduo que pratica ato sexual dizendo à vítima que vai curá-la e
ainda a cobra pra isso

ASPECTOS POLÊMICOS
- Embriaguez/droga: a embriaguez da droga, quando não praticada pelo
agente, não caracteriza o crime em questão (caracterizando fato atípico)
- Promessa de casamento:
- Fraude grosseira:

Vai falar do 215-A?

03/03
ASSÉDIO SEXUAL
Art. 216-A - “Constranger alguém com o intuito de obter vantagem ou
favorecimento sexual, prevalecendo-se o agente da sua condição de superior
hierárquico ou ascendência inerentes ao exercício de emprego, cargo ou
função.
Pena – detenção, de 1 (um) a 2 (dois) anos.
(vetado parágrafo único)
§ 2o A pena é aumentada em até um terço se a vítima é menor de 18
(dezoito) anos.”
- Frente ao crime de importunação sexual, que se assemelha ao de assédio e
tem pena de reclusão de 1 a 5 anos, a pena para esse crime é praticamente
irrisória
- PL n° 2254, de 2021: projeto de lei em tramitação para aumentar a pena do
crime de assédio sexual de um a dois anos de detenção para dois a quatro
anos de reclusão; e cria causa de aumento de pena se o crime é cometido
pela internet ou em ambiente virtual

CONCEITO
- Em um ambiente de trabalho, o agente se utiliza da sua posição hierárquica
para obter vantagem sexual
- "Relação hierárquica": posições, graus, postos funcionais diferentes
- É um crime que ocorre no ambiente profissional (laboral)
- Crime formal, pois aqui basta o constrangimento, independentemente do
aceite da vítima, ou seja, o agente não precisa chegar ao ponto de obter a
vantagem sexual para consumar o crime, basta que a vítima se sinta
constrangida
- Crime próprio: não é qualquer pessoa que pode ser sujeito ativo e sujeito
passivo, pois existe o requisito do vínculo hierárquico entre ambos, devendo o
agente estar em posição superior (domínio) e a vítima em posição inferior

BEM JURÍDICO TUTELADO


- O que está sendo tutelado é a liberdade sexual e também as relações de
emprego
- Requisito: hierarquia
- Se não houver hierarquia para que o agente possa constranger a vítima, não
se enquadra no crime de assédio sexual
- Exemplo: estagiário não se encontra em uma posição hierárquica para
conseguir constranger a promotora

TIPO OBJETIVO
- “Constranger alguém” = o assédio sexual pode ser um crime apenas
verbalizado (mas pode enquadrar situações com toque físico), bastando o
constrangimento sexual
- Não é necessário a existência do ato libidinoso ou conjunção carnal para que
o crime seja consumado
- Diante da situação, pergunta-se: “O agente constrangeu a vítima?”; “O agente
tinha posição hierárquica superior à da vítima?”; “Existia o dolo para obter
favorecimento sexual?”
- Exemplo: e-mail, mensagem, propostas indecentes, comentários sobre a
roupa da funcionária, ter toque físico extravagante
- Dolo especial = é necessário que haja um dolo de cunho sexual (se não
houver, não enquadra ação criminal, no máximo cível)

SUJEITOS
- Crime bipróprio: o assédio é um crime bipróprio, pois deve ter uma
característica específica tanto no polo ativo (superioridade hierárquica)
quanto no polo passivo (posição subalterna)
- O crime de "assédio sexual" exige um vínculo de subordinação entre sujeito
ativo e sujeito passivo
- Ausente esse elemento, afasta-se essa tipificação jurídica

● Sujeito ativo
- Qualquer pessoa que seja superior hierárquico
- Exige-se uma condição fático-jurídica do agente: ser superior hierárquico da
vítima ou possuir ascendência inerente ao emprego, cargo ou função
- Superior hierárquico: é a pessoa que detém um PODER JURÍDICO
(promover, demitir, instaurar sindicância, etc.) sobre o subalterno em razão do
emprego, cargo ou função que exerce
,

- Ascendência funcional inerente ao emprego, cargo ou função: é um


PODER DE FATO que uma pessoa detém sobre a outra por causa do
emprego, cargo ou função, onde o agente exerce, poder, domínio ou
influência, mesmo sem graus ou postos hierárquicos definidos (sem linhas
nítidas de superioridade hierárquica)
- EMPREGO: vínculo de natureza trabalhista (CLT)
- CARGO: investidura por concurso público ou nomeação (estatuto)
- FUNÇÃO: exercício de atividade tipicamente pública que decorre de lei ou
ato administrativo

● Sujeito passivo
- É o “subalterno”, o “inferior hierárquico"
- Vítima menor de 18 anos causa aumento de pena
- Se a vítima for menor de 14 anos, pode ser caracterizado como estupro de
vulnerável

CONSUMAÇÃO E TENTATIVA
- Crime formal: se consuma sem a necessidade de produção de um resultado
naturalístico (alteração no mundo real)
● Consumação: consuma-se com o ato de CONSTRANGER independente do
agente obter a vantagem ou o favorecimento sexual (que consiste no
exaurimento do crime)
- O assédio consuma-se com um ÚNICO ATO
- CRIME FORMAL (não há resultado naturalístico material)
- NÃO EXIGE-SE HABITUALIDADE: apesar de existir uma aparência de crime
habitual, tal circunstáncia não é exigida para a configuração do delito de
assédio sexual - CRIME
- INSTANTÂNEO (Posições divergentes: Rogério S. Cunha, Rodolfo Pamplona
Filho)
● Tentativa:
- Admite tentativa (em tese), porém é difícil na prática
- É um crime plurissubsistente, ou seja, em regra a conduta envolve a prática
de mais de um ato).
- Exemplo: agente envia carta para a vítima praticando assédio, mas, por
circunstâncias alheias à vontade do agente, a carta é extraviada

POLÊMICAS DA DOUTRINA E JURISPRUDÊNCIA


- E se o assédio sexual ocorrer entre "Professor(a) x Aluna(o)" ? Existe a
tipificação do art. 216-A do CP?
● Primeira posição - NÃO HÁ ASSÉDIO
- O art. 216-A do CP não se aplica à esses casos
- Ausência do requisito fático jurídico: não há superioridade hierárquica
entre professor e aluno
- O mesmo se aplica para: líder religioso e membros da igreja; prefeito e
munícipes, etc.
- Alunos não são "funcionários" do professor
- Corrente adotada por: Masson, Damásio, Rios Gonçalves, etc.
- Corrente majoritária

● Segunda posição - HÁ ASSÉDIO SEXUAL


- O professor possui uma ascendência que decorre de sua profissão em face
do aluno: pode reprovar, perseguir, dar nota baixa, etc.
- Detém um poder de fato sobre o aluno
- Corrente adotada por: André Estefam, Renato Marcão, Régis Prado, etc.
- Corrente minoritária

ATITUDE SEXUAL INDIRETA


- Exemplo: patrão que quer a filha da empregada
- A vítima é um terceiro que não está na corrente de subordinação em
decorrência do emprego, mas ainda assim é assédio pois o agente detém
domínio sobre ela

BASE NORMATIVA
- O “constranger” do estupro se difere do “constranger” do assédio sexual:
a) Estupro: constranger tem carater violento, de ameaça
b) Assédio sexual: constranger tem carater de incomodo, molestia,
incomodo, importunação

NÚCLEO DA CONDUTA
- “Constranger”: incomodar, molestar, embaraçar, envergonhar, etc. (Elemento
normativo do Tipo)
- O “constranger” do estupro se difere do “constranger” do assédio sexual:
a) Estupro: constranger tem carater violento, de ameaça
b) Assédio sexual: constranger tem carater de incomodo, molestia,
incomodo, importunação
- “Elogios” em ambiente de trabalho, se forem incômodos e vexatórios para a
vítima, pode se enquadrar no crime de assédio
- Porém, se envolver uma ameaça explícita, já perde o caráter do crime de
assédio e se torna estupro

CRIME DE AÇÃO LIVRE


- A lei não especifica formas de execução: pode ser gestos, situações
humilhantes, cantadas, abordagens grosseiras, propostas indecorosas, etc.

TIPICIDADE SUBJETIVA
- Dolo específico: o assédio é feito com a intenção de obter vantagem sexual
- Se o agente não tem a intenção de obter vantagem sexual, o crime muda e
não é mais assédio, podendo ser, por exemplo, um crime de stalker
- DOLO: vontade livre e consciente de constranger a vítima prevalecendo-se
de sua superioridade hierárquica; DOLO ESPECÍFICO: especial fim de agir-
obter vantagem ou favorecimento sexual.
- Não havendo dolo específico, não existe o crime do art. 216-A do CP
(podemos ter a configuração de Crime contra a honra - Calúnia, Injúria,
Difamação, etc. -art. 138, 139 e 140 do CP - Crime de perseguição - art.
147-A CP)
- Obs: se a intenção do agente é rebaixar, humilhar ou desprezar a vítima,
teremos o ASSÉDIO MORAL.

DESENVOLVIMENTO DO CRIME DE ASSÉDIO SEXUAL 216-A DO CP

- Observação 1 = pode existir outros ilícitos penais nesses contextos: estupro


(art. 231); importunação sexual (art. 215-A); constrangimento ilegal (art. 146),
etc
- Observação 2 = não existe assédio sexual se autor e a vítima estiverem no
mesmo plano hierárquico - podendo acontecer outros delitos sexuais

COAUTORIA OU PARTICIPAÇÃO DE INFERIOR HIERÁRQUICO


ATITUDE SEXUAL INDIRETA

ASPECTOS FINAIS
● Causa de aumento de pena
- Se a vitima tem menos de 18 (dezoito) anos a pena aumenta em 1/3 (um
terço) - art. 216-A 5 28 - CP
● Distinção do crime de importunação sexual (art. 215-A)
- No assédio sexual o agente deve se prevalecer da superioridade hierárquica
(ou ascendência)
- Na importação sexual esse elemento não existe
- Crítica da doutrina quanto a desproporcionalidade das penas:
a) Importunação Sexual = pena: reclusão de 01 a 05 anos - mais elevada
b) Assédio Sexual = pena: detenção de 01 a 02 anos) - violação da
proporcionalidade das penas
● Assédio fora das dependências físicas do trabalho
- Admite-se, desde que o assediador venha a se valer da prerrogativa de
superior hierárquico (vínculo de subordinação)
- Não é necessário que seja no ambiente físico de trabalho em si, pois o que
conta é a utilização do poder hierárquico
● Aspectos probatórios
- É um crime problemático na prática, onde predomina a palavra da vítima
- Comum gravações telefônicas ou ambientais de imagens e voz (teses de
ilicitude de prova); aceitação do STJ/STF - princípio da proporcionalidade
- Muitas vítimas não denunciam por medo
- Ação Penal: Pública Incondicionada (art. 225 do CP) - corre em Segredo de
Justiça - art. 234-B do CP
,

“Nos crimes definidos nos Capítulos I e II deste Título, procede-se mediante


ação penal pública incondicionada.”
“Os processos em que se apuram crimes definidos neste Título correrão em
segredo de justiça.”

- TEMA PARA PESQUISA: Projeto de Lei 5016/20 - Cria o Assédio sexual


nas Forças Armadas e aumenta a pena do crime de assédio sexual no
Código Penal

IMPORTUNAÇÃO SEXUAL - art. 215-A


- É um crime relativamente novo: nasce com a Lei nº 13.718/18
- Importunação: sentido de insistir, molestar, etc.

Art. 215-A, CP - ”Praticar contra alguém e sem a sua anuência ato libidinoso
com o objetivo de satisfazer a própria lascívia ou a de terceiro:
Pena - reclusão, de 1 (um) a 5 (cinco) anos, se o ato não constitui crime mais
grave.”

REDAÇÃO ORIGINÁRIA DO ART. 61 DA L.C.P.


- Antes de 2018, o crime de importunação sexual se enquadrava como
“importunação ofensiva ao pudor
- Dec Lei n° 3.688 de 1941 - dispositivo revogado pela Lei n° 13.718/18
Art. 61 - “Importunar alguém, em lugar público
ou acessível ao público, de modo ofensivo ao
pudor: Pena - Multa de 200 mil a 02 contos de réis.”
- 2017 - Antes da mudança da lei, ocorreram dois casos em que o mesmo
agente se masturbou e ejaculou nas vítimas no transporte público. Porém,
quando levaram o caso à polícia, não prenderam o agente em flagrante, pois
a pena para tais atos era, até então, apenas multa. Com a pressão midiática,
a discussão em torno disso cresceu, resultando na modificação da lei
,

- Procedeu à revogação formal do art. 61 da LCP, transformando o ato


contravencional em "crime" com o advento do art. 215-A do CP
- "Importunação Sexual" - Pena: 01 a 05 anos de reclusão
- Princípio da continuidade normativo típica
- Posição predominante na doutrina e jurisprudência: Reformatio in pejus
- Análise de caso: "Caso da masturbação no ônibus da Av. Paulista - Agosto
2017"

CONCEITO
- Consiste no crime em que o agente, pratica, sem a permissão da vitima, um
ato libidinoso, com o objetivo de satisfazer seu desejo sexual ou de terceira
pessoa

SUJEITO
SUJEITO ATIVO
- Qualquer pessoa (crime comum)

SUJEITO PASSIVO
- Qualquer pessoa (crime comum);
- Observação 1 = Se a vítima for menor de 14 anos, configura-se o crime do
art. 218-A do CP (satisfação da lascívia na presença de criança e
adolescente) ou, dependendo da situação, o estupro de vulnerável - art.
217-A do CP
- Observação 2 = o crime exige "sujeito passivo determinado" (ou seja, uma
pessoa certa - ou algumas pessoas certas) o dispositivo fala "contra alguém".

OBJETIVIDADE JURÍDICA
- Liberdade Sexual: protege-se a capacidade de autodeterminação da vítima
sob o prisma sexual

DIFERENÇA ENTRE ATO OBSCENO E IMPORTUNAÇÃO SEXUAL


- Se o agente praticar algum ato libidinoso contra um número indeterminado de
pessoas (sujeitos passivos vagos) teremos o crime de "Ato Obsceno" (art.
233 do CP):
“Praticar ato obsceno em lugar público, ou aberto ou exposto ao público:
Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa.”
- A diferença entre o crime de ato obsceno e o crime de importunação sexual
se encontra na determinação da vítima:
a) Ato obsceno: vítima incerta e indeterminada
b) Importunação sexual: vítima certa e determinada
- Exemplo: masturbação em lugar público pode configurar ato obsceno quando
não tem uma vítima determinada

07/03
ELEMENTOS OBJETIVOS DO TIPO
NÚCLEO DA CONDUTA
a) "Praticar" = realizar, executar, fazer, levar a efeito ou efetivar
b) "Ato libidinoso" = é um ato erotizado, que visa a satisfação da lascivia do
agente (lascivo, erótico, voluptuoso)
- Exemplo: esfregar o pênis na vítima, apalpar seios ou nádegas, cabelo,
beijo (não lascivo), ejacular na vítima, etc.
- Obs: o "ATO LIBIDINOSO" é um "elemento normativo do tipo", ou seja,
demanda um juízo de valor do magistrado que aplicará razoabilidade e
proporcionalidade

● Diferença entre “ato libidinoso” na importunação sexual e no estupro

- O ato libidinoso da importunação sexual é mais leve:


a) A vítima não é tocada (não há envolvimento corporal)
b) Média para leve potencialidade
c) Não há violência ou grave ameaça

- Já o ato libidinoso do estupro possui uma potencialidade lesiva maior:


a) A vítima é tocada (envolvimento corporal)
,

b) Alta potencialidade (máxima lesividade)


c) Tem violência e/ou grave ameaça

CRIME DE AÇÃO LIVRE


- Pode ser praticado por qualquer meio possível
- Não se exige mais a "publicidade" da contravenção do art. 61 LCP:
“Importunar alguém, em lugar público ou acessível ao público, de modo
ofensivo ao pudor: Pena - multa, de duzentos mil réis a dois contos de réis.”
- Ou seja, o crime pode se consumar em lugares públicos ou privados

INEXISTÊNCIA DE VIOLÊNCIA OU GRAVE AMEAÇA


- Na importunação sexual, em nenhum momento o agente agride ou ameaça a
vítima
- Caso isto aconteça, teremos o crime de estupro (art. 213 CP)

DISSENSO DA VÍTIMA
- O tipo exige que a vítima NÃO CONCORDE com a prática do ato libidinoso,
não haja de forma recíproca ao ato de cunho sexual
- Dissenso = não precisa ser declarado e formal, basta a não concordância,
que pode até mesmo ser manifestada através de gestos e postura
- Muitas vezes o sujeito passivo nem sabe que está sendo vítima deste crime
- O dissenso da vítima é uma "elementar explícita" da importunação sexual
- Se a vítima concordar = o fato se torna atípico, salvo se for menor de 14
anos ou portadora de alguma enfermidade mental - estupro de vulnerável (art.
217-A CP)

PRINCÍPIO DA SUBSIDIARIEDADE EXPLÍCITA


- A importunação sexual é um crime subsidiário, com previsão expressa no
texto do art. 215-A do CP
- Se o fato constituir crime mais grave (estupro, estupro de vulnerável, etc), a
tipificação ocorrerá em face desses delitos
- Estudo paralelo: criminologia/vitimologia - Parafilias e Frotteurismo

VERBALIZAR OBSCENIDADES CARACTERIZA IMPORTUNAÇÃO


SEXUAL?
- É quando o agente importuna a vítima, abordando-a com palavras obscenas,
de cunho sexual
- A doutrina entende que só vai configurar o art. 215-A se o agente tiver esse
comportamento de cunho sexual
- Nesse caso, a obscenidade por si só não configura o crime de importunação
sexual
- Logo, a resposta é: Não, pois não existe a prática de um "ato libidinoso" que
configure uma manifestação corporal. Também não é "ato obsceno" (233 CP)
pois exige-se manifestação corporal. Assédio sexual (art. 216 CP) somente
se configura no exercício da atividade laborativa (cargo, emprego ou função).
Também não é caso de crime contra a honra. Nessa hipótese, pode
configurar a criminalização da Perseguição Abusiva "Stalking"
Art. 147-A - “Perseguir alguém, reiteradamente e por qualquer meio,
ameaçando-lhe a integridade física ou psicológica, restringindo-lhe a
capacidade de locomoção ou, de qualquer forma, invadindo ou perturbando
sua esfera de liberdade ou privacidade.
Pena – reclusão, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa.“

TIPICIDADE SUBJETIVA
- Dolo = o agente deve ter vontade livre e consciente de praticar o ato
libidinoso (passar a mão, se esfregar, masturbar-se, etc.)
- Elemento subjetivo do injusto = satisfação da própria lascívia ou a lascívia
de terceiro
- Dolo específico
- Observação: não existe modalidade culposa para o delito

CONSUMAÇÃO E TENTATIVA
● Consumação
- O crime se consuma com a execução do ato libidinoso (esfregar na vítima,
apalpar partes pudicas da vitima, masturbação, etc.);
● Tentativa
- Admite tentativa, pois é um crime plurissubsistente (várias condutas)
- Difícil acontecer no aspecto prático
- Exemplo: a vítima percebe que o agente vai começar a se masturbar e grita
dentro do ônibus.

IMPORTUNAÇÃO SEXUAL
- É um crime material
- Ou seja, precisa de resultado para se consumar, caso contrário se
caracteriza como tentativa

ASPECTOS FINAIS
- Ação Penal: é ação Pública Incondicionada (art. 225 do CP)
- Corre em Segredo de Justiça - art. 234-B do CP
- Prisão = após o advento da Lei n° 13.718/18 admite-se "prisão em flagrante"
do autor da importunação sexual (crime com pena de reclusão de 01 a 05
anos)
- Observação: admite-se fiança (presentes os requisitos art. 321 do CP)
- Admite-se o "sursis processual" (pena mínima de 01 ano de reclusão)
REGISTRO NÃO AUTORIZADO DA
INTIMIDADE SEXUAL (216-B)
Art. 216-B - “Produzir, fotografar, filmar ou registrar, por qualquer meio,
conteúdo com cena de nudez ou ato sexual ou libidinoso de caráter íntimo e
privado sem autorização dos participantes:
Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 1 (um) ano, e multa.
Parágrafo único. Na mesma pena incorre quem realiza montagem em
fotografia, vídeo, áudio ou qualquer outro registro com o fim de incluir pessoa
em cena de nudez ou ato sexual ou libidinoso de caráter íntimo.”
- Esse dispositivo foi incluído em 19 de dezembro de 2018 pela Lei n° 13.772,
sendo um crime relativamente novo
- É um crime de violação da privacidade, da intimidade da pessoa
- Procedeu a criação do Capítulo 1-A no Título VI do Código Penal, capítulo
chamado DA EXPOSIÇÃO DA INTIMIDADE SEXUAL, criando o delito de
Registro não autorizado da Intimidade Sexual (art. 216-B do CP)
- Antecedentes: Caso "Blue Moon e Blue Sky" - ilha Porchat (2018)
- Novatio Legis Incriminadora = é uma nova lei incriminadora, um novo crime
- Finalidade = coibir exposição não autorizada da intimidade das pessoas -
Crime que decorre do avanço tecnológico

CONCEITO
<

- Consiste na infração penal onde o agente captura através de qualquer


meio (fotografia, filmagem ou qualquer outro registro) conteúdo com cena de
nudez ou de ato sexual ou libidinoso, de natureza íntima ou particular da
vítima, sem a sua devida autorização
<

- Crime de indiscrição, onde o agente invade a seara de intimidade sexual da


pessoa

● Observação 1 = pornografia de vingança é o ato de divulgar, sem


autorização, cenas de nudez ou atos sexuais de outra pessoa
- Já o crime de registro não autorizado da intimidade sexual diz respeito à
obtenção não autorizada de imagens da vítima
- Se o agente obteve imagens “pornográficas” sem autorização da vítima e
depois as divulgou, ocorre o concurso de crimes - registro não autorizado
da intimidade sexual + pornografia de vingança

SUJEITOS
SUJEITO ATIVO
- Qualquer pessoa: homem ou mulher (crime comum)
SUJEITO PASSIVO
- Qualquer pessoa: homem ou mulher (crime comum)

● Observação 2 = filmar vítima menor de 18 anos (criança ou adolescente)


constitui crime (tipificação) de PEDOFILIA (art. 240/241 e seguintes do ECA-
Lei né 8069/50)

OBJETIVIDADE JURÍDICA
- Proteção da liberdade sexual (autonomia) e da intimidade da vítima (direito de
proteção dos aspectos íntimos - art. 52 X da CF)
Art. 52 - “Compete privativamente ao Senado Federal:
X - suspender a execução, no todo ou em parte, de lei declarada
inconstitucional por decisão definitiva do Supremo Tribunal Federal”

● Observação 3 = existe a discussão acerca da aplicação do art.216-B nos


casos em que a suposta vítima estaria realizando os atos libidinosos em local
público, de livre acesso
- Nesses casos, dependendo do cenário, o próprio ato de realizar esses atos
libidinosos poderia se encaixar como crime de ato obsceno

ELEMENTOS OBJETIVOS DO TIPO


NÚCLEOS DA CONDUTA
- É um tipo misto alternativo (crime de conteúdo variado)
- Se praticar mais de uma conduta no mesmo contexto fático, teremos crime
único
- Produzir = criar, dar origem, levar a efeito, fazer
- Fotografar = obter a imagem estática pelo recurso da câmera fotográfica ou
aparelho similar (câmera digital, analógica, profissional, aparelho celular,
etc..)
- Filmar = obter a imagem em movimento, capturar a cena em filme,
utilizando-se de recursos técnicos para tanto (de longe, perto, em
determinado ângulo, através de tecnologia para tanto)
- Registrar = terminologia genérica envolvendo a obtenção da Imagem através
de qualquer outro recurso tecnológico. Ex: Imagem 3D, câmera noturna,
câmera que filma embaixo da água, etc
- Todos esses atos estão relacionados com o conteúdo de nudez, ato sexual ou
libidinoso de caráter íntimo ou privado

CENA DE NUDEZ, ATO SEXUAL OU LIBIDINOSO DE


CARÁTER ÍNTIMO OU PRIVADO
CENA DE NUDEZ
- Cena em que a pessoa esteja sem qualquer vestimenta, nua, desnuda, com
exposição de suas partes íntimas ou não (vítima"pelada")
- Discussão sobre a aplicação do tipo penal no caso em que a vítima está
"parcialmente nua" (ex: lingerie, camisola, cueca, calcinha, biquíni, pijama,
etc.)
R: Nudez parcial (seminudez) caracteriza o crime, ou seja, tipifica a
conduta, pois leva em conta a proporcionalidade/razoabilidade ("obtenção
da imagem envolvendo a erotização") - STF/STJ

CENA DE ATO SEXUAL OU LIBIDINOSO


- Cena de conjunção carnal ou de ato libidinoso diverso (sexo oral, coito anal,
dança erótica, pose erótica, etc.)

DE CARÁTER ÍNTIMO OU PRIVADO


- O delito de indiscrição (invade a privacidade/intimidade da vítima) viola sua
particularidade/subjetividade (proteção do art. 59 X da CF/88)
- Exemplo: a vítima é filmada nua dentro de sua casa; banheiro; quarto do
apartamento ou de hotel/motel; interior do carro - violando-se a intimidade
(pudor pessoal - invasão de privacidade)

- E se a vítima estiver em algum lugar público? Ex: piscina pública, praia,


interior de um coletivo? Caracteriza o crime?
R: Sim (posição majoritária)
Ex: filmar as partes íntimas de uma pessoa tomando banho de sol ou alguém
que esteja sentado no ônibus coletivo
STF/ST: imagem que invade a intimidade (independente do local ser privado)
Aplicação da proporcionalidade: em certos casos, o conceito de intimidade
pode ser questionado
Intimidade = é um bem disponível, ou seja, pode-se abrir mão dela
Entendimento jurisprudencial e doutrinário: entendem que, em
determinados locais públicos, existe a violação da intimidade, ainda que seja
público, quando o agente utiliza estratégias para furar o bloqueio de
privacidades que a vítima estabelece no próprio local público
O fato de ser local público não afasta a tipicidade do crime, pois leva-se em
consideração se o agente ultrapassa esse limite individual da intimidade da
vítima

SEM AUTORIZAÇÃO DOS PARTICIPANTES


DISSENSO DA VÍTIMA
- É a elementar explícita
- Não há o consentimento da vítima
- A vítima não pode concordar com a fotografia, filmagem, etc.
- A "intimidade" e a "privacidade" são bens jurídicos disponíveis, ou seja, se
a vítima concordar afasta-se a tipificação do crime
- Obs: a vontade não pode estar viciada (erro, coação, etc.)

MENOR DE 18 ANOS
- O consentimento não tem validade jurídica, tipificam-se os delitos de
PEDOFILIA (art. 240 e seguintes do ECA- Lei 8069/90)

MANIFESTAÇÕES ARTÍSTICAS
- Podem excluir a ilicitude do fato, ou seja, não há crime
- Ex: nudez artística, fotos e filmes eróticos ou pornográficos, peças teatrais,
etc
- Observação: nesses casos, não pode existir o envolvimento de menores de
18 anos ou enfermos mentais

ESTUDO DE CASOS
- "Caso Xuxa Meneguel" - Filme "Amor Estranho Amor" (1982)
- "Caso do artista nu” - Peça de teatro do MAM São Paulo - (2017)

FIGURA EQUIPARADA
216-B - Parágrafo único. “Na mesma pena incorre quem realiza montagem
em fotografia, vídeo, áudio ou qualquer outro registro com o fim de incluir
pessoa em cena de nudez ou ato sexual ou libidinoso de caráter íntimo.”
- Não é o registro verdadeiro da imagem, é uma "adulteração" (processo de
montagem)
- Observação: são os casos de montagem de vídeo ou de foto, utilizando-se
de recursos tecnológicos para a produção de uma foto ou filmagem (ex:
photoshop, slideshow maker, etc.) Trata-se de uma outra pessoa (não é a
vítima verdadeira....)

QUESTÕES
● E se o autor, além de filmar a imagem, faz a divulgação das cenas na
internet?
R: Ele irá responder por DOIS CRIMES em concurso material: 216-B
(Registro não autorizado da Intimidade Sexual - Pena: 06 meses a 01 ano de
detenção) + 218-C do CP (Divulgação de cena de estupro, estupro de
vulnerável, cena de sexo, nudez ou pornografia - Pena: 01 a 05 anos de
Reclusão)
● E se o agente fizer uma "montagem" do vídeo e divulgar na internet? Ex:
pega o rosto de certa pessoa (recorta) e inclui em uma cena de sexo e
divulga na internet.
R: Nesse caso, o agente responderá pelo 216-B, parágrafo único (Registro
não autorizado da Intimidade Sexual Equiparado - Pena: 06 meses a 01 ano
de detenção) + 218-C do CP (Divulgação de cena de estupro, estupro de
vulnerável, cena de sexo, nudez ou pornografia - Pena: 01 a 05 anos de
Reclusão)
Efeito "extra penal": Indenização por Danos Morais (imagem)

TIPICIDADE SUBJETIVA
- Dolo = é a vontade livre e consciente de produzir, registrar, fotografar, filmar,
conteúdo com cena de nudez ou ato sexual ou libidinoso de caráter Íntimo e
privado, estando ciente da falta de autorização dos participantes
- Dolo genérico = tanto faz se é para satisfazer a lascívia, para se divertir,
para humilhar a vítima, vender para terceiros, extorquir a vítima, etc
- Não detém dolo específico - SALVO Exceção da figura equiparada
- Figura equiparada = a figura do 216-B exige DOLO ESPECÍFICO, pois o
dispositivo narra: adulterar para o fim de incluir a pessoa em cena de nudez
ou ato sexual ou libidinoso de caráter íntimo

CONSUMAÇÃO E TENTATIVA
CONSUMAÇÃO
- Crime formal = não precisa produzir resultado para se consumar
- Se consuma com o efetivo registro, produção, com a obtenção da fotografia
ou da filmagem
- No momento em que a foto é "batida" ou a imagem é "gravada",
independentemente do fim a ser alcançado (divulgar, satisfazer lascívia,
vender, etc)

TENTATIVA
- Apesar de ser formal, é admissível a tentativa, pois se trata de crime
plurissubsistente, ou seja, um crime de muitas ações
- Exemplo: o agente inicia a gravação da cena, mas por circunstâncias alheias
à sua vontade, não consegue obter a imagem (problemas no aparelho,
descoberta da vítima, etc.)

ASPECTOS FINAIS
- Distinção da "Lei Carolina Dieckmann": não confundir o art. 216-B do CP, com
o crime de "Invasão de Dispositivo Informático" - art. 154-A § 1° do CP (Lei n°
12.737/12) onde o agente "invade" um computador ou qualquer outro
dispositivo câmera digital, banco de dados da internet, etc.) para "subtrair"
imagens íntimas da vítima, sem a sua autorização
- Aspectos Probatórios: há necessidade de perícia na imagem pelo Instituto
de Criminalística - I.C. - art. 159 do CPP - Cadeia de Custódia da Prova -
Núcleo de Perícia em Imagens e Sons
- Modificações na Lei n° 11.340/06 "Lei Maria da Penha": a Lei 13.772/18
modificou a Lei Maria da Penha quanto às formas de violência doméstica (art.
7°, II - Lei n° 11.340/06) - A "violação da intimidade" é uma forma de agressão
psicológica à mulher, caracterizando violência doméstica
- Ação Penal: é Pública Incondicionada (art. 225 do CP) e corre em Segredo
de Justiça, pois envolve questão de intimidade - art. 234-B do CP
- Crime de pequeno potencial ofensivo: art. 216-B prevê pena de Detenção
de 06 meses a 01 ano - cabe aplicação dos benefícios da Lei 9099/95 -
Transação Penal (art. 76) e Sursis Processual (art. 89)
- Estudo de Caso: "Caso Carolina Dieckmann - 2012"

ESTUPRO DE VULNERÁVEL - art. 217-A


Art. 217-A - “Ter conjunção carnal ou praticar outro ato libidinoso com menor
de 14 (catorze) anos:
Pena - reclusão, de 8 (oito) a 15 (quinze) anos.
§ 1o Incorre na mesma pena quem pratica as ações descritas no caput com
alguém que, por enfermidade ou deficiência mental, não tem o necessário
discernimento para a prática do ato, ou que, por qualquer outra causa, não
pode oferecer resistência.
§ 2o (VETADO)
§ 3o Se da conduta resulta lesão corporal de natureza grave:
Pena - reclusão, de 10 (dez) a 20 (vinte) anos.
§ 4o Se da conduta resulta morte:
Pena - reclusão, de 12 (doze) a 30 (trinta) anos.
§ 5º As penas previstas no caput e nos §§ 1º, 3º e 4º deste artigo aplicam-se
independentemente do consentimento da vítima ou do fato de ela ter mantido
relações sexuais anteriormente ao crime.”
- Vulnerável = sentido sexual, de vulnerabilidade sexual
- Se o indivíduo tem alguma condição que lhe retira o discernimento para a
prática do ato sexual, também será vulnerável
- § 1º: não importa a idade para essas vítimas, podendo inclusive ser maior de
14 anos

ANÁLISE PRELIMINAR DA CONDUTA


FORMAS DE EXECUÇÃO DO ESTUPRO DE VULNERÁVEL:
1. Com violência ou grave ameaça: o agente aplica o mesmo "modus
operandi" do estupro normal, aplicando a violência física ou a violência ou
moral (semelhante ao estupro comum) - possibilidade de incidência do art.
217-A § 3° 4° do CP
2. Sem violência ou grave ameaça: o agente pratica o crime SEM a violência
física ou a violência moral (com o consentimento da vítima que NÃO DETÉM
VALIDADE JURÍDICA) - incidência do art. 217-A § 5° CP
- Observação = o "consentimento" para o SEXO passa a ter validade à partir
dos 14 anos (antes disso, o sexo não é permitido - a Lei não autoriza o sexo
com aqueles que ela considera vulneráveis). No entanto, vários outros crimes
podem envolver o "maior de 14 anos e o menor de 18 anos" (art. 218-B CP,
240 e seguintes do ECA - Lei 8069/90, dentre outros)
O fato de a vítima ser maior de 14 anos e menor de 18 não isenta o agente
da ilicitude, podendo enquadrar nos outros artigos citados acima, de acordo
com o caso em concreto
Art. 218 - “Induzir alguém menor de 14 (catorze) anos a satisfazer a lascívia
de outrem: Pena - reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos.“

- Críticas doutrinárias em razão da abrangência do delito: combate à


prostituição infantil
- Também temos estupro de vulnerável quando ocorre a conjunção carnal
com crianças ou adolescentes menores de 14 anos
- Observação 2 = se há prática sexual de dois menores de idade, há um
estupro bilateral, pois no ponto de vista jurídico ambos estão se estuprando.
Aqui há ilicitude, pois o fato é ilícito, mas não há culpabilidade pois ambos
são menores e são isentos de pena. Tudo isso a depender das circunstâncias
do crime, dos detalhes, principalmente se há o uso de agressão física de um
dos menores ou se há a participação dos pais (como por exemplo para
incentivar)
- Observação 3 = se há prática sexual de maiores de 14 anos, mas menores
de 18 (a partir da data do aniversário) não há o crime de estupro bilteral

MUDANÇAS DO SISTEMA PELA LEI N° 12015/09


- Redação originária do CP (1940):
● Estupro (art. 213) Atentado Violento ao Pudor (art. 214) e o art. 224 do CP:
Norma de extensão: "Presunção de Violência" - Estupro Ficto (ou fictício,
pela presunção de agressividade) - era uma norma geral de extensão, que
se aplicava a todos os crimes sexuais, bem como em outros crimes fora do
capítulo dos crimes sexuais) - (Em 2005 - revogação do crime de "sedução" -
Lei n° 11.106/05)
● Lei n° 12015/09: criou um CRIME AUTÔNOMO - "Estupro de Vulnerável" -
art. 217-A CP, revogando-se o sistema de "presunção de violência"

ENTENDIMENTO DA JURISPRUDÊNCIA DO PASSADO -


ESTUPRO FICTO
- Tema controvertido: Natureza jurídica da presunção de violência no "Estupro
Ficto"
- Discussão quanto a incidência do art, 127 nos casos em que não há a
presunção de inocente:
1. Primeira posição = presunção Absoluta; passaram a entender de maneira
majoritária de que aplicaria-se o 127 quando tivesse maturidade
2. Posição = presunção Relativa
- Tanto o STJ como o STF: tinham entendimentos (embora não predominantes
nas Cortes Superiores) de que a "presunção de violência" contida na regra
do art. 224 do CP, era RELATIVA
- Ou seja, se a vítima tivesse praticado o ato de maneira "consentida", mesmo
com idade inferior a 14 (catorze) anos (com experiência sexual comprovada),
NÃO TÍNHAMOS A APLICAÇÃO DA PRESUNÇÃO DE VIOLÊNCIA: o réu
era absolvido (STE, HC 73.662, Rel. Min. Marco Aurélio, J.21.05.96)
- Observação = Em todo caso, o entendimento do STF era de que o
ESTUPRO FICTO não era crime hediondo (quando era reconhecido como
crime)
- Quando não há essa presunção de inocência, tanto o STJ quanto o STF
passaram a entender de maneira majoritária de que aplicaria-se o 127
quando tivesse maturidade

REDAÇÃO ORIGINÁRIA DO ART. 224 DO CÓDIGO PENAL


(dispositivo revogado pela Lei n 12.015/09)
"Art. 224 - “ Presume-se a violência, se a vítima:
a) não é maior de catorze anos;
b) é alienada ou débil mental, e o agente conhecia esta circunstância;
c) não pode, por qualquer outra causa, oferecer resistência".

CONCEITO
- Consiste em uma modalidade de estupro considerada mais grave pelo
legislador, por ser a vítima menor de quatorze anos ou portadora de
enfermidade ou deficiência mental que lhe retire o necessário discernimento
para o ato, ou, ainda, por não poder, em razão de qualquer outra causa,
oferecer resistência

OBJETIVIDADE JURÍDICA
- O que se protege é a dignidade sexual das pessoas vulneráveis (do homem e
da mulher)
<

- Ou seja, é a defesa da inocência - menores, enfermos mentais, pessoas que


não conseguem se manifestar
- Maior reprovabilidade: pois o agressor tem mais facilidade, já que as vítimas
são mais inocentes e incapazes, sem discernimento psicológico ou incapaz
de resistir
- Proteção da sexualidade do menor: evolução física e psicológica (sob o
aspecto sexual)

ANÁLISE DO VOCABULÁRIO: VULNERABILIDADE


- Vulnerável = frágil, indefeso, desprotegido, exposto, incapaz de reagir
- É aquele que pode ser atacado ou vitimizado de uma forma mais fácil (sob o
aspecto sexual)
- Vulnerabilidade é um bem jurídico indisponível
<

- Vulnerabilidade em decorrência da idade: menor de 14


- Vulnerabilidade em decorrência de problema mental: enfermos mentais
- Vulnerabilidade em decorrência de uma circunstância impeditiva da
resistência: incapazes de oferecer resistência e reagir

A QUESTÃO DA “PRESUNÇÃO DE VIOLÊNCIA” OU


“PRESUNÇÃO DE VULNERABILIDADE”
- Quando o legislador criou o estupro de vulnerável, a intenção era acabar com
a polêmica que existia antes sobre a questão da “presunção de violência”
- Porém, mesmo após as mudanças da Lei n° 12015/09, a discussão da
"natureza jurídica" da presunção de violência ainda continuou a ser debatida
na jurisprudência, mas com outra expressão, agora chamando de “presunção
de vulnerabilidade”
- Assim, duas posições existiam no contexto brasileiro:
a) Primeira posição = PRESUNÇÃO ABSOLUTA da vulnerabilidade -
proibido, em absoluto, sexo com vulneráveis (menor de 14, enfermo
mental, incapaz de se manifestar): pouco importa a experiência sexual e o
consentimento da vítima
- Corrente adotada pela grande maioria dos penalistas: Damásio, Regis
Prado, Rogério Greco, Masson e Súmula 593 - STJ (2017)
b) Segunda posição = PRESUNÇÃO RELATIVA da vulnerabilidade - é mantida
a concepção antiga da presunção de violência, dizendo que a situação em
concreto deve ser analisada para verificar se a vítima é ou não vulnerável
(mesmo com menos de 14 anos) - poderá ocorrer "absolvição por
atipicidade do fato" (ausência de vulnerabilidade)
- Corrente adotada por: Gisele Mendes Carvalho; Maria Tereza Assis Moura e
nos Julgados STJ - 39 Turma. (2012)

- POSIÇÃO PREDOMINANTE: primeira Corrente - PRESUNÇÃO ABSOLUTA


(advento da Lei n° 13.718/18 - Inclusão do artigo 217-A § 59 do CP)
- O legislador, tentando resolver essa polêmica toda, adicionou o §5º no artigo,
deixando claro que o código adota a primeira corrente, de presunção absoluta
da vulnerabilidade
- Cenário atual: mesmo com a lei fixada, ainda existem decisões isoladas que
adotam a corrente da presunção relativa, revelando uma posição de ativismo
judicial, onde o magistrado vai contra os próprios precedentes da lei

ERRO DE TIPO
- É o erro quanto ao elemento do tipo, devendo ele ser inescusável, inevitável e
invencível
- Afasta-se o dolo e tem-se a punição a título de culpa, ou seja, o agente seria
absolvido pela atipicidade, já que não existe estupro culposo
- Exemplo: menina menor de idade, se passando por mais velha, mente a
idade e mantém relação sexual com um homem. Nesse caso, o agente errou
na idade da vítima

15/03
SUJEITOS
SUJEITO ATIVO
- Qualquer pessoa, homem ou mulher (crime comum sob a perspectiva do polo
ativo)

SUJEITO PASSIVO
- Qualquer pessoa, homem ou mulher
- Porém, a lei impõe circunstancias “fático-jurídicas” que enquadram
especificamente no tipo penal do artigo (crime especial sob o polo passivo)
- Para ser vítima, é necessário que se enquadre nos requisitos de
vulnerabilidade impostos pelo artigo da lei (idade, incapacidade mental,
incapacidade de resistir, etc.)

ERRO DE VULNERÁVEL BILATERAL


- Conjunção carnal e atos libidinosos consensuais entre menores de 14 anos
- Seria estupro praticado entre adolescentes menores de 14 anos, chamado de
estupro bilateral, pelo fato de ambos serem autores e vitimas
simultaneamente do crime
- Os dois cometem ato infracional analogo ao crime de estupro de vulneravel
- O fato de serem menores de idade não afasta o crime, pois o fato continua
sendo ilícito, mas não existe a aplicação de pena, por serem inimputáveis
- Nesse caso, o crime passa a ser um ato infracional, aplicando-se medidas
socioeducativas previstas no art. 101 do ECA-8.069/90 (onde se encontram
medidas protetivas e socioeducativas).
- Se os pais influenciam ou incentivam a relação sexual entre essas crianças
menores de idade, se tornam partícipes do crime de estupro de vulnerável
- Observação: Aspectos culturais e morais. Tolerabilidade e aceitação de
práticas sexuais entre adolescentes, Responsabilidade dos pais.

NATUREZA HEDIONDA - LEI 8072/90


- O estupro de vulnerável é hediondo, ainda que não haja presença de
violência ou grave ameaça, pois é hediondo em sua integralidade

ELEMENTOS OBJETIVOS DO TIPO


AÇÃO NUCLEAR
- “Ter” conjunção carnal ou ato libidinoso: desfrutar, fruir, usufruir, praticar,
assenhorear, reunir, haver
- Maior espectro de abordagem do delito

DISSENSO
- Pode ocorrer com o consentimento da vítima ou não
- Se a vítima consentir: o consentimento voluntário não afasta a tipificação do
crime, pois considera-se um consentimento inocente ("notentia Consilli"), não
se relativiza
- Observação: o consentimento só passará a ser válido com 14 anos
completos, salvo se não constituir outro delito (218 CP - 240 e seguintes -
ECA - Lei 8069/90)

ESTUPRO
- É crime material

NO CASO DE VIOLÊNCIA GRAVE OU MORTE


- Violência física ("vis corporalis"): é a violência real, força física, a energia
corporal do agente
- Grave ameaça ("vis compulsiva"): é a coação, a ameaça de um mal grave;
- Lesões leves e ameaça: serão sopesadas pelo Juiz nos termos do art. 59 do
CP
- Se a violência física resultar em lesões corporais graves: ART. 217-A § 39 do
CP
- Se resultar em morte: art. 217-A § 49 CP (estupro de vulnerável qualificado)

ESTUDO DOS ELEMENTOS OBJETIVOS DA


VULNERABILIDADE
VÍTIMA MENOR DE 14 (QUATORZE) ANOS
- É a pessoa (homem ou mulher) que ainda não completou 14 anos de idade
- Pode ser criança ou adolescente: definição do conceito - art. 2° do ECA (Lei
8069/90)
- Estupro de vulnerável pode acontecer com criança ou adolescente (a partir de
12)
- Proteção legal: a lei entende que a vítima ainda é imatura, inexperiente,
estando em processo de desenvolvimento físico e psicológico (não completo
sob o ponto de vista sexual)
- Se o crime é cometido contra vítima de exatos 14 anos (213 "caput"- posição
predominante)
- Se é cometido contra vítima de mais de 14 anos e menos de 18: 213 § 19 do
CP
- A conjunção carnal ou ato libidinoso praticado com alguém com 14 anos ou
mais (de maneira consentida) não caracteriza estupro de vulnerável, mas,
dependendo das circunstâncias, poderá caracterizar "exploração sexual de
vulnerável" (no caso de prostituição: art. 218-B $ 29, I do CP)

ERRO DE TIPO
- O agente poderá incorrer em erro quanto ao elemento "idade da vítima"
- Exemplo: vítima com compleição física avantajada, experiência sexual,
documentos falsos, etc. - Aplicação do art. 20 do CP (afastamento do dolo -
não existe estupro culposo - Absolvição por exclusão da culpabilidade)

VÍTIMA PORTADORA DE ENFERMIDADE OU DOENÇA


MENTAL
- É a pessoa (homem ou mulher) que possua uma doença ou enfermidade de
natureza mental (originária ou adquirida) que afaste a consciência sobre a
natureza do ato sexual
- Não é qualquer doença mental: deve ser uma que afaste totalmente o
discernimento sobre o sexo (conjunção carnal ou ato libidinoso)
- Doenças que afastam o discernimento:
a) Debilidades mentais profundas - Oligofrenias = idiotia e imbecilidade,
retardamento mental severo
b) Esquizofrenia Paranoide (estado psicótico)
- Não afastam o discernimento: síndrome de Down, retardamentos mentais
leves, bipolaridades mentais, psicopatia, etc.
- Aspecto Probatório: há necessidade da vítima ser submetida a um laudo
psiquiátrico, feito através de perícia, para se constatar a enfermidade,
caracterizando-se (ou não) o estupro de vulnerável

● O agente precisa saber dessa circunstância da vítima?


R: Posição predominante - SIM, pois não vigora a responsabilidade objetiva
em Direito Penal, ou seja, se ele não saber e isso ficar comprovado, afasta-se
a culpabilidade do agente por "erro de tipo". Admite-se, no entanto, o dolo
eventual, quando o agente suspeitava e mesmo assim assumiu o risco
- OBSERVAÇÃO: Em direito penal não existe responsabilidade objetiva, o
agente tem que ter consciência do seu comportamento ilícito

- Ponto de estudo paralelo: O sexo dos portadores de enfermidades mentais


(casamento dos portadores de síndrome de Down)- Oligofrênicos:
condenados à abstinência sexual pelo Código Penal - Psiquiatria Forense
VÍTIMA QUE POR QUALQUER OUTRA CAUSA NÃO PODE
OFERECER RESISTÊNCIA
- É a pessoa (homem ou mulher) que por qualquer outra causa (fórmula
genérica - casuística) não pode oferecer qualquer tipo de resistência ao
comportamento sexual do sujeito ativo
- É a vítima totalmente indefesa, que não pode realizar qualquer tipo de
oposição contra o sujeito ativo, pois sua capacidade de resistir está
totalmente anulada em razão de qualquer tipo de motivo (anterior ou
simultâneo à ação do agente)
- Há uma incapacidade para dizer "não" ou para "resistir" à investida sexual do
autor do crime
- Vítima indefesa e de fácil ataque para o agressor sexual, que se aproveita do
seu estado de vulnerabilidade
<<

- A condição de vulnerabilidade pode ser:


<

a) Passageira = sonífero aplicado


b) Duradoura = estado vegetativo

- Responsabilidade do agente: tanto faz se o agente causou ou não esta


situação de vulnerabilidade, responderá pelo crime da mesma forma
- Exemplos: vítima totalmente embriagada ou drogada, em estado de
inconsciência absoluta, vítima em "cora", vítima tetraplégica, vítima em
estado de catalepsia, vítima sedada, etc
- Estudo de caso: Caso do médico anestesista Giovanni Quintella Bezerra -
Rio de Janeiro - 2022

DIFERENÇA ENTRE ESTUPRO DE VULNERÁVEL E


VIOLAÇÃO SEXUAL MEDIANTE FRAUDE
- Em ambos, existe a hipótese em que a vítima não pode oferecer resistência

VIOLAÇÃO SEXUAL MEDIANTE FRAUDE


- O agente deve ter dado causa ao estado de incapacidade de resistência
- A vítima fica com dificuldade para resistir, sua capacidade de resistir é apenas
parcialmente retirada

ESTUPRO DE VULNERÁVEL
- A vítima está totalmente indefesa
- Sua capacidade de resistir foi totalmente anulada (anulação completa)
- Revivescência = a vítima lembra de flashes mas não consegue se lembrar
exatamente o que aconteceu
CONSUMAÇÃO E TENTATIVA
CONSUMAÇÃO
- Se da com a introdução do pênis na vagina (conjunção carnal) ou com a
execução do ato libidinoso (sexo oral, anal, etc.)

TENTATIVA
- É admissível por ser um crime plurissubsistente
- Exemplo: agente ameaça a vítima com intenção de constrangê-la
sexualmente, mas a vítima consegue fugir
- Observação: dificuldade prática (problema probatório)
- Entendimentos antes da Lel 12.015/09 - Tentativa de Estupro / Estupro
consumado: crime progressivo - "Prelúdio do Coito"; Impossibilidade desse
entendimento nos tempos atuais
- Estupro e desistência voluntária: art. 15 do CP

AÇÃO PENAL
<,

- Lei n° 13.718/18 (vigência atual): todos os crimes do Capítulo I e II do Título


VI
- São crimes de "Ação Penal Pública Incondicionada": Art. 225 do CP
- Correm em segredo de justiça: Art. 234-B do CP

ASPECTOS FINAIS
● Aplicação da causa de aumento do art. 9° da Lei 8.072/90
- O art. 9° da Lei dos Crimes Hediondos estabelecia que em certos tipos de
crimes hediondos (arts. 157, § 39, 158, § 2°,159, caput e seus §§ 19, 2° e 39,
213, caput e sua combinação com o art. 223, caput e parágrafo único, 214 e
sua combinação com o art. 223, caput e parágrafo único, todos do Código
Penal) a pena aplicada nesses crimes seria aumentada em METADE caso
tais crimes fossem praticados contra as pessoas elencadas no art. 224 do CP.
- No entanto, o art. 224 do CP foi revogado pela Lei 12015/09, surgindo a
dúvida:

● Essa causa de aumento ainda pode ser aplicada?


R: Posição predominante no STJ/STF - NÃO se aplica mais essa causa de
aumento, pois ela era vinculada ao art. 224 do CP, sendo que, com sua
revogação, foi "esvaziada" a base de aplicação do dispositivo (HC
131.987-STJ).
CORRUPÇÃO “SEXUAL” DE MENORES -
MEDIAÇÃO PARA SATISFAZER A
LASCÍVIA DE OUTREM COM MENORES DE
14 ANOS - art. 218
- A exploração do sexo é a 3º atividade mais rentável no mundo do crime
- Rubrica marginal = quando o legislador dá nome para o crime
- Nesse caso, o legislador não deu nome ao crime descrito no caput do artigo,
pois a palavra “corrupção sexual” não foi trazida por ele
,

- Alguns utilizam como nome do crime a expressão “corrupção sexual de


menores”, enquanto outros utilizam “mediação para satisfazer a lascívia de
outrem”

BASE NORMATIVA
Art. 218 - “Induzir alguém menor de 14 (catorze) anos a satisfazer a lascívia
de outrem: Pena - reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos.”

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