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DISSERTAÇÕES - MAGISTRATURA ESTADUAL – DIREITO PENAL

Material pessoal de estudo


Não foi considerado o número de linhas. O objetivo é abordar o assunto de
forma abrangente
O padrão de resposta foi baseado em entendimento doutrinário e
jurisprudencial. Remissões no fim da página

DISSERTAÇÃO - Discorra sobre a autoria no direito penal, abordando


necessariamente os seguintes temas:
a) teorias sobre o conceito de autor
b) teoria do domínio do fato
c) pessoa jurídica como sujeito ativo de crimes
d) dupla imputação nos crimes ambientais

a – TEORIA UNITÁRIA: todos são considerados autores. Essa teoria não vislumbra
a figura do partícipe, de sorte que autor é todo e qualquer causador do resultado típico,
sem distinção. Ancorada na teoria da conditio sine qua non, não é a adotada no Brasil.
TEORIA EXTENSIVA – CONCEITO EXTENSIVO DE AUTOR: não faz
qualquer diferenciação entre autor e partícipe, de sorte que todos são autores.
Entretanto, mais moderada que a corrente unitária, permite a existência de causas de
diminuição de pena, estabelecendo diferentes graus de autor e reconhecendo a figura
do cúmplice, que seria o autor menos importante. CONCEITO RESTRITIVO DE
AUTOR: Faz a distinção entre autor e partícipe. Para essa teoria, seria autor apenas
aquele que praticasse a conduta descrita no núcleo do tipo penal. Os demais que, de
alguma forma, auxiliassem-no, mas que não viessem a realizar a conduta narrada pelo
verbo do tipo penal, seriam considerados partícipes. O conceito restritivo de autor segue
atrelado a uma teoria objetiva de participação que, por sua vez, possui duas vertentes:
a) teoria objetivo-formal: somente é considerado autor aquele que pratica o verbo, ou
seja, o núcleo do tipo penal. Por sua vez, partícipe será todo aquele que, sem realizar a
conduta princial (o verbo), concorrer para o resultado. Assim, o mandante de um crime
não é considerado seu autor, visto que não lhe competiram os atos de execução do
núcleo do tipo (quem manda matar, não mata, logo, não realiza o verbo do tipo).
Igualmente, o chamado “autor intelectual”, ou seja, aquele que planeja toda a
empreitada delituosa, não é autor, mas partícipe, na medida em que não executa
materialmente a conduta típica. A principal crítica a esse critério são as dificuldades no
que dizia respeito à teoria mediata. Autor mediato é aquele que se serve de pessoas sem
discernimento para realizar por ele a conduta típica. Imaginemos o seguinte exemplo:
um médico, querendo causar a morte de seu inimigo que se encontrava internado no
hospital no qual exercia suas funções, determina a uma enfermeira que nele aplique
uma injeção, por ele preparada, contendo veneno letal. A enfermeira, atendendo ao
pedido levado a efeito pelo médico, aplica a injeção e causa a morte do paciente. Como
se percebe, o médico não realizou a conduta descrita no tipo penal do art. 121 do CP.
Na verdade, quem matou alguém, por erro determinado por terceiro, foi a enfermeira,
de sorte que o médico, como não praticou a conduta narrada no verbo do tipo, consoante
a teoria, não poderia ser considerado autor. Em que pese a corrente doutrinária no
sentido de não ser essa a melhor conclusão, outra vertente sustenta que o critério oferece
segurança jurídica e está arrimado na reserva legal; b) teoria objetivo-material:
buscou suprir os defeitos da teoria objetivo-formal, oferecendo um complemento
mediante a perspectiva da maior perigosidade que deve caracterizar a contribuição do
autor em comparação com a do cúmplice. Em outros termos, autor não é aquele que
realiza o verbo do tipo, mas a contribuição objetiva mais importante. Há entendimento
doutrinário no sentido de se tratar de critério gerador de insegurança jurídica. Isso por
conta da imprecisão em se verificar o que vem a ser contribuição objetiva mais
importante.

b) ocupando posição intermediária entre as teorias objetiva e subjetiva, surge, em 1939,


com Hans Welzel, a TEORIA DO DOMÍNIO DO FATO. Para Welzel, a
característica geral do autor é o domínio final sobre o fato. Em 1963, Claus Roxin, ao
elaborar a sua tese, proporcionou à teoria um efetivo direcionamento, buscando
demonstrar a aplicação mais adequada ao caso concreto. Para Roxin, se o agente tem a
consciência da ação que será executada e o poder de determinar a sua execução, assim
como a sua interrupção, até a produção do resultado final, deve ser considerado seu
autor, ainda que não tenha realizado o verbo ou núcleo do tipo penal. Situa-se entre a
teoria extensiva e o critério formal-objetivo, pois combina elementos objetivos
(prática de uma conduta relevante) com subjetivos (vontade de manter o controle da
situação até a eclosão do resultado). É, por conseguinte, uma teoria objetivo-subjetiva.
A base do domínio do fato está no finalismo, na medida em que é autor aquele que
detém o controle final do fato. Ademais, como visto, o autor não se confunde
obrigatoriamente com o executor material, de sorte que não importa se o agente pratica
ou não o verbo descrito no tipo legal: o que a lei exige é o controle de todos os atos,
desde o início da execução até a produção do resultado, vale dizer, a característica geral
do autor é o domínio final sobre o fato. Nota-se que a teoria resolve o problema com
argumentos das teorias objetiva e subjetiva, acrescentando, ainda, um dado
extremamente importante, qual seja, a divisão de tarefas. Com efeito, para aqueles que
consideram um conceito restritivo, não há dúvida em se considerar como autor aquele
que realiza a conduta descrita no núcleo do tipo penal e que, portanto, tem o poder de
decidir se irá até o fim com seu plano criminoso, ou, em virtude do domínio sobre o
fato, isto é, em razão de sua conduta, deixar de lado a empreitada criminosa. No entanto,
há de se ponderar outra hipótese, mediante, dentre outros, o seguinte exemplo,
mencionado pela doutrina: caso de o chefe de uma associação criminosa de roubos a
estabelecimentos bancários, que planeja a ação delituosa, o qual escolhe as pessoas que
devam realizá-la, distribuindo as respectivas tarefas, e que ordena a concretização do
crime, contando com a fidelidade de seus comandados. Com esteio na teoria, o chefe
da organização criminosa não poderia ser considerado mero participante, mas, sim,
autor, porque possui ‘o domínio final da ação’, ainda que não tome parte na execução
material do fato criminoso. Do mesmo modo, não deixa de ser autor quem se serve de
outrem, não imputável, para a prática de fato criminoso, porque é ele quem conserva
em suas mãos o comando da ação criminosa”. Cabe a ressalva que, além do controle de
todos os atos e do poder para decidir sobre sua prática, interrupção e circunstâncias, é
elementar que o agente tenha conhecimento real sobre os fatos. Embora adotada por
grande parte da doutrina (Damásio de Jesus, Welzel, Stratenwerth, Maurach, Wessels,
Roxin, Schröder, Jescheck, Gallas, Blei, Zaffaroni, Muñoz Conde, Córdoba Roda,
Rodriguez Devesa, Mir Puig, Bacigalupo, Enrique Cury e Bockelman. No Brasil:
Manoel Pedro Pimentel, Alberto Silva Franco, Nilo Batista, Luis Regis Prado, Cezar
Bitencourt, Pierangeli e Luiz Flávio Gomes), não há consenso. Primeiramente pela
impossibilidade de explicar satisfatoriamente o concurso de agentes no crime culposo
– uma vez o agente, nessa modalidade, não querer o resultado, não há como se imaginar
ter o domínio sobre algo que não deseja. Ademais, ancorando-se no aventado respeito
ao princípio da reserva legal, parte da doutrina entende que o critério formal-objetivo,
a despeito de suas deficiências, ainda se apresenta como o critério mais seguro. Essa
vertente doutrinária ancora suas conclusões no sentido de que não cabe ao operador do
direito ponderar, sob seu juízo de valor, qual a conduta que é relevante, de acordo com
as peculiaridades do caso concreto. A conduta principal seria aquela que o tipo elegeu
para descrever como crime, porquanto todas as demais, aí incluídas a autoria
intelectual, a do mandante, a do instigador ou indutor etc., por mais relevantes que
sejam, são acessórias e, portanto, devem ser consideradas modalidades de participação.

C – Não há consenso na doutrina acerca da possibilidade ou não em se considerar a


pessoa jurídica como sujeito ativo de crime. Partindo-se da premissa de que somente o
homem pode ser sujeito ativo de crime, com esteio no brocardo de que a pessoa jurídica
não pode cometer crimes, os argumentos em contrário se baseiam na ausência de
consciência, vontade e finalidade; ausência de culpabilidade; ausência de
capacidade da pena (porquanto, tendo em vista o princípio da personalidade da pena,
entende-se inconcebível a penalização da pessoa jurídica, por resvalar sobre todos os
membros da corporação); e ausência de justificativa para a imposição de pena (uma
vez que a sanção penal, com seu escopo de retribuição, intimidação e reeducação,
jamais poderia intimidar as sociedades, por serem desprovidas de vontade própria, de
inteligência e de liberdade de entender e querer). A construção doutrinária se baseia na
TEORIA DA FICÇÃO, desenvolvida por Savigny, que, dentre as teorias
afirmativistas (as quais buscam explicar o fenômeno pelo qual um grupo de pessoas
passa a construir uma unidade orgânica, com individualidade própria reconhecida pelo
Estado e distinta das pessoas que a compõem), afirma que a pessoa jurídica não passa
de um simples conceito, destinado a justificar a atribuição de certos direitos a um grupo
de pessoas físicas. Outra vertente doutrinária, entretanto, firme na TEORIA DA
REALIDADE (OU DA PERSONALIDADE REAL), admite essa possibilidade.
Desenvolvida por Otto Gierke, para essa corrente a pessoa jurídica não é um ser
artfificial, criado pelo Estado, mas sim um ente real, independente dos indivíduos que
a compõem. Sustenta que a pessoa coletiva possui uma personalidade real, dotada de
vontade própria, com capacidade de ação e de praticar ilícitos penais, passível de dupla
responsabilidade: civil e penal. Assim ponderam seus argumentos: A pessoa jurídica
tem vontade própria, distinta da de seus membros; a pessoa jurídica pode ser
responsável pelos seus atos, devendo o juízo de culpabilidade ser adaptado às suas
características. Embora não se possa falar em imputabilidade e consciência do injusto,
a reprovabilidade da conduta de uma empresa funda-se na exigibilidade de conduta
diversa, a qual é perfeitamente possível; a pena não ultrapassa a pessoa da empresa:
o que tem havido é uma confusão entre a pena e suas consequências indiretas sobre
terceiros. Ademais, segundo tal corrente, a Constituição Federal de 1988, ao que
parece, filiou-se à segunda posição, tendo disposto, em seu art. 225, § 3º, que “as
condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os
infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas,
independentemente da obrigação de reparar os danos causados. Por sua vez, em 12
de fevereiro de 1998, surgiu a lei nº 9.605, amparada no aludido dispositivo
constitucional, dispondo sobre as sanções penais e administrativas derivadas de
condutas e atividades lesivas ao meio ambiente. Essa lei, de modo expresso,
possibilitou a responsabilidade penal da pessoa jurídica, dizendo, em seu art. 3º, caput
e parágrafo único: “Art. 3º As pessoas jurídicas serão responsabilizadas
administrativa, civil e penalmente conforme o disposto nesta Lei, nos casos em que
a infração seja cometida por decisão de seu representante legal ou contratual, ou
de seu órgão colegiado, no interesse ou benefício da sua entidade. Parágrafo único.
A responsabilidade das pessoas jurídicas não exclui a das pessoas físicas, autoras,
coautoras ou partícipes do mesmo fato”. É a corrente adotada pelo STJ.

d) De acordo com a teoria da dupla imputação – ou da imputação simultânea -, admite-


se a responsibilidade penal da pessoa jurídica em crimes ambientais, desde que haja a
imputação simultânea do ente moral e da pessoa física que atua em seu nome e em seu
benefício. Segundo a teoria, não se pode compreender a responsabilização do ente
moral dissociada da atuação de uma pessoa física, que age com elemento subjetivo
próprio. Como visto, embora não seja tema pacífico, doutrina e jurisprudência
majoritárias entendem pela responsabilidade penal de pessoa jurídica, com esteio no
comando previsto no §3º do art. 225 da CRFB 88. Com efeito, a lei 9.605/1998, a par
de prever a responsabilização da pessoa física, nos termos consoante previstos em seu
art. 2º, passou a prever expressamente, em seu art. 3º, a responsabilidade, na seara
ambiental, por parte das pessoas jurídicas, não apenas em âmbito civil e administrativo,
mas também na esfera penal, sendo certo que seu parágafo único é expresso no sentido
de que a responsabilidade das pessoas jurídicas não exclui a das pessoas físicas, autoras,
coautoras ou partícipes do mesmo fato. O STJ possuía entendimento consolidado, no
sentido da aplicação da teoria da dupla imputação objetiva. Contudo, em julgamento de
recurso extraordinário, o STF passou a admitir a responsabilização penal da pessoa
jurídica por crimes ambientais ainda que houvesse a absolvição da pessoa física diante
dos mesmos fatos. O STJ se curvou ao entendimento da Suprema Corte, admitindo a
possibilidade de subsistir a ação penal proposta contra a pessoa jurídica, mesmo na
hipótese de exclusão da pessoa física do polo passivo da ação.

Jurisprudência relacionada:
Informativo nº 249 - 30 de maio a 3 de junho de 2005 - QUINTA TURMAPESSOA
JURÍDICA. CONDENAÇÃO. CRIME CONTRA MEIO-AMBIENTE - Na
hipótese, a pessoa jurídica de direito privado, juntamente com dois administradores,
foram denunciados pelo MP em razão do crime ambiental por causar poluição em leito
de um rio por meio de lançamento de resíduos de graxas, óleo, produtos químicos, areia
e lodo resultante da atividade do estabelecimento comercial (art. 54, § 2º, V, e art. 60
da Lei n. 9.605/1998 - Lei Ambiental). Note-se que o tema é controverso na doutrina e
na jurisprudência. O juiz monocrático rejeitou a denúncia em relação à empresa, ao
entendimento de que a pessoa jurídica não poderia figurar no pólo passivo da ação penal
com base no art. 43, III, do CPP, mas a recebeu em relação aos dois administradores.
Já o Tribunal a quo entendeu que o instituto da responsabilidade penal da pessoa
jurídica não poderia ser introduzido no sistema jurídico brasileiro, o que não significa
deixar de haver punição, mas esta deveria ser de natureza administrativa e civil, não
penal. A Turma proveu o recurso do MP, para determinar o recebimento da denúncia
também em relação à microempresa. O Min. Relator destacou que, apesar de alguns
obstáculos a serem superados, a responsabilidade penal da pessoa jurídica é um preceito
constitucional, não apenas como punição da conduta lesiva, mas como forma de
prevenção. Após essa opção constitucional, veio regulamentá-la a referida lei ambiental
prevendo a penalização das pessoas jurídicas por danos ao meio ambiente. Essa lei
previu para as pessoas jurídicas penas autônomas de multa, de prestação de serviços à
comunidade, restritivas de direito, liquidação forçada e desconsideração da pessoa
jurídica, todas adaptadas a sua natureza jurídica. Outrossim, a forma pela qual a pessoa
jurídica é capaz de realizar a ação com relevância penal depende da atuação de seus
administradores, se a realizaram em proveito próprio ou da empresa. A atuação em
nome e proveito da pessoa jurídica significa sua vontade. A citada lei ambiental, no
parágrafo único do art. 3º, prevê que todos os envolvidos na prática delituosa serão
responsabilizados na medida de sua culpabilidade. Em tese, são as pessoas jurídicas as
maiores responsáveis pelos danos ao meio ambiente por meio de sua atividade de
exploração comercial ou industrial. REsp 564.960-SC, Rel. Min. Gilson Dipp,
julgado em 2/6/2005

Informativo nº 566 - 8 a 20 de agosto de 2015 - QUINTA TURMA - DIREITO


PENAL E PROCESSUAL PENAL. DESNECESSIDADE DE DUPLA
IMPUTAÇÃO EM CRIMES AMBIENTAIS - É possível a responsabilização penal
da pessoa jurídica por delitos ambientais independentemente da responsabilização
concomitante da pessoa física que agia em seu nome. Conforme orientação da Primeira
Turma do STF, "O art. 225, § 3º, da Constituição Federal não condiciona a
responsabilização penal da pessoa jurídica por crimes ambientais à simultânea
persecução penal da pessoa física em tese responsável no âmbito da empresa. A norma
constitucional não impõe a necessária dupla imputação" (RE 548.181, Primeira Turma,
DJe 29/10/2014). Diante dessa interpretação, o STJ modificou sua anterior orientação,
de modo a entender que é possível a responsabilização penal da pessoa jurídica por
delitos ambientais independentemente da responsabilização concomitante da pessoa
física que agia em seu nome. Precedentes citados: RHC 53.208-SP, Sexta Turma, DJe
1º/6/2015; HC 248.073-MT, Quinta Turma, DJe 10/4/2014; e RHC 40.317-SP, Quinta
Turma, DJe 29/10/2013. RMS 39.173-BA, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca,
julgado em 6/8/2015, DJe 13/8/2015

Referências bibliográficas:
Greco, Rogério. Curso de Direito Penal: parte geral, volume I / Rogério Greco. – 19.
ed. – Niterói, RJ: Impetus, 2017. 984 p. ; 17 x 24 cm. Isbn: 978-85-7626-930-4 Isbn
digital: 978-85-7626-941-0 1. Direito penal. I. Título
Capez, Fernando Curso de direito penal, volume 1, parte geral : arts. 1º a 120 / Fernando
Capez. – 23. ed. – São Paulo : Saraiva Educação, 2019. 1. Direito penal I. Título. 18-
1063
Gonçalves, Carlos Roberto Direito civil brasileiro, volume 1 : parte geral / Carlos
Roberto Gonçalves. – 16. ed. – São Paulo : Saraiva Educação, 2018. 1. Direito civil 2.
Direito civil - Brasil I. Título

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