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Matéria:
– Procedimento (com texto no Canvas);
– Processo Constitucional (com texto no Canvas), exigirá um estudo comparativo entre
as teorias do Processo.
– Conceito de procedimento de Fazzalari e a comparação com os conceitos defendidos
antes dele (também há texto no Canvas sobre o tema).
– Princípios institutivos e informativos do processo.
Exercício:
01) Qual foi a contribuição de Kelsen, Couture, Alcalá-Zamora y Castillo, Fix-Zamudio, García
Belaunde, Roberto Rosas e Baracho para o Processo Constitucional? Identifique a contribuição
individual de cada um.
7º José Alfredo Baracho, em 1984 publicou um livro sobre o processo constitucional, tratando
profundamente do tema.
Somente com o processualista Elio Fazzalari houve uma definição precisa e científica em
torno do processo e do procedimento.
Fazzalari, destaca a escala temporal e a ordem estabelecida em lei para validade do processo.
Além disso, a análise e apreensão da teoria processualista de Élio Fazzalari revela imensa
importância para a compreensão garantista do processo, na medida em que o autor destaca o
contraditório como elemento central do conceito de processo. Fazzalari apresenta o
procedimento como uma sequência de normas valoradas, geradoras de condutas em busca
de um ato final, nesse contexto, o processo seria um tipo de procedimento que se qualifica
pelo contraditório, o qual é viabilizado por meio da equiparação de poderes entre os
interessados processuais, de modo que, o provimento final expedido pelo Estado-juiz será
válido somente se o conjunto normativo processual estiver regular com a garantia
fundamental.
03) Quais são as teorias do processo? Identifique cada uma das teorias do processo, seus
autores e principais proposições. Compare uma com a outra.
TEORIAS DO PROCESSO
Para essa teoria, o processo é o contrato entre os litigantes, que se firmava com o
comparecimento espontâneo das partes em juízo para solução do conflito. As pessoas não
estavam obrigadas a comparecer ao juízo, mas, se a juízo fossem, comprometiam-se a cumprir
a decisão expedida pelo juiz.
É uma teoria natimorta pois era inadequada para explicar a “natureza do
processo”, tendo em vista que, já no século XVIII, o juiz não precisa do consenso entre as
partes para tornar coativa a sentença.
De origem francesa, principal divulgador é Pothier em 1800, é a Teoria civilística
(sob a influência do direito romano).
CPC: “Art. 262. O processo civil começa por iniciativa da parte, mas se desenvolve por impulso
oficial.”
Defendida pelo Professor Rosemiro Leal – 1995, o Processo é visto como instituição jurídico
constitucionalizada. O cidadão em plano isonômico com o Estado. O Processo deixa de ser
instrumento da jurisdição, mas sim legitimadora desta.
Processo é composto pelos princípios da isonomia, ampla defesa e contraditório,
bem como pelo devido processo. O Judiciário não é o único intérprete do texto constitucional,
mas sim o povo, seu intérprete originário.
“Estrutura técnica de atos jurídicos sequenciais numa relação espaço temporal,
segundo o modelo legal, em que o ato inicial é sempre pressuposto (condição) do ato
conseguinte e este como extensão do ato antecedente e assim, sucessivamente, até o
provimento fina. “
Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e
Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como
fundamentos: [...]
II - a cidadania;
Parágrafo único. Todo o poder emana do povo [...]
Art. 5º II - ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de
lei;
XXXV - a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito;
LIII - ninguém será processado nem sentenciado senão pela autoridade competente;
LIV - ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal;
LV - aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são
assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes;
LVI - são inadmissíveis, no processo, as provas obtidas por meios ilícitos;
LVII - ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal
condenatória;
LXXIV - o Estado prestará assistência jurídica integral e gratuita aos que comprovarem
insuficiência de recursos;
LXXVIII a todos, no âmbito judicial e administrativo, são assegurados a razoável duração do
processo e os meios que garantam a celeridade de sua tramitação.
Art. 93. [...]
IX todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão públicos, e fundamentadas todas
as decisões, sob pena de nulidade [...]
04) Quais são os princípios institutivos e informativos do processo? Qual a diferença entre
um princípio institutivos e informativo? Os princípios informativos se relacionam aos
princípios institutivos? Se sim, identifique como ocorre tal relação.
Os princípios institutivos (essenciais) do processo nem mesmo a lei pode suprimir, são eles:
contraditório, ampla defesa e isonomia. Sem eles não há processo. Além desses princípios
institutivos, há os princípios informativos do processo, exemplos: Princípios da oralidade,
publicidade, lealdade processual, disponibilidade e indisponibilidade, economia processual,
celeridade processual, instrumentalidade das formas, etc. podem estar previsto na legislação
infra-constitucional. Os princípios informativos podem ser suprimidos em alguns casos, por
exemplo nas ações de família para preservar a intimidade familiar pode ser suprimido o
princípio da publicidade.
PRINCÍPIOS ESSENCIAIS:
1) Princípios do contraditório: bilateralidade de audiência (ouvir os dois lados: autor e réu).
Além disso, permitir que a parte diga e não diga. Para Couture, existe a ação e a exceção. Deve
ser assegurado o direito de dizer e de contradizer. O silêncio pode ser usado como técnica de
defesa. A ideia traz a concepção de legitimidade decisória. A decisão é legítima não porque o
juiz decidiu ou porque há uma lei feita por legisladores, o cidadão tem direito ao argumento, a
produção de provas, não podem o juiz retirar da parte o direito de participar da decisão, ou
seja, a legitimidade decisória (pela via argumentativa e probatória, coparticipação e
cooperação).
Há também a ideia do contraditório vinculado a não surpresa (Fazzalari), sendo necessário
mesmo em matérias de ordem pública para que as partes não sejam “pegas de surpresa” com
a decisão.
Mesmo matérias passíveis de conhecimento Ex Officio deve ser ouvida a outra parte. A
exceção seriam as decisões “inauditas et altera pars” (decisões sem ouvir a parte contrária)
decisões utilizadas em situações excepcionais urgentes e urgentíssimas, que não podem
esperar, para afastar o perigo (exemplo: pessoa que deve viajar hoje ou se existe um prédio a
ruir, ....), mesmo nestes casos de tutela de urgência que não pode esperar acontece o
contraditório posticipado ou diferido em decisão inaudita altera parte. É possível modificar ou
revogar a decisão de tutela antecipada dependendo do argumento que a parte contrária traz
posteriormente.
2) Princípio da ampla defesa: o instituto da ampla defesa é coextenso (porque sem eles não
há processo) aos do contraditório e isonomia porque a amplitude da defesa se faz nos limites
temporais do procedimento em contraditório. Os limites temporais significam que não há
infinitude de tempo na ampla defesa.
A ampla defesa não quer dizer infinitude de defesa, é possível a defesa (exceção) usando
diversos meios: contestação, reconvenção, arguir a suspeição, o direito de ficar calado (inerte),
etc. cada meio tem uma finalidade e cabimento específico, mas não é possível ser feito em
qualquer tempo em qualquer prazo e de qualquer forma.
“A amplitude da defesa não supõe infinitude de produção da defesa a qualquer tempo, porém,
que esta se produza pelos meios e elementos jurídicos-sistêmicos por alegações e provas no
tempo processual oportunizado na lei. Há de ser ampla, porque não pode ser estreitada,
comprimida, pela sumarização da cognitio a tal ponto de excluir a liberdade de reflexão
cômoda dos aspectos jurídicos-fundantes de sua produção eficiente. É por isso que, a pretexto
de celeridade processual ou efetividade do processo, não se pode, de modo obcecado, suprindo
deficiências de um Estado já anacrônico e jurisdicionalmente inviável, sacrificar o tempo da
ampla defesa, que supõe a oportunidade de exaurimento das articulações de direito e
produção de prova”.
(Professor Rosemiro Leal)
Nos Juizados Especiais está previsto na lei que “apenas os atos considerados essenciais serão
registrados resumidamente (...). Os demais atos poderão ser gravados em fita magnética ou
equivalente, que será inutilizado após o trânsito em julgado da decisão.” O professor acha que
fere o princípio da ampla defesa pois não permite incluir a prova que a parte considera
importante nos autos, impede a fiscalidade (aferição da consistência decisória).
3) Princípio da Isonomia Processual, está previsto na CF/88: “Todos são iguais perante a lei,
sem distinção de qualquer natureza (...)”
A partir da igualdade que temos a parita delle armi (simétrica paridade de armas, simétrica
paridade argumentativa: igual direito de recursos, de produção de provas, ...). Princípio da
Igualdade envolve a paridade na implementação dos direitos fundamentais, enquanto, o
princípio da isonomia processual envolve a paridade argumentativa no discurso processual.
O professor Calmon de Passos afirma que “os homens são necessária e fundamentalmente
desiguais. Nenhuma relação social vincula sujeitos iguais, por todos carregamos conosco,
enquanto vivemos, nosso diferencial. Sem pretender incidir na leviandade de manipular
palavras, penso que devemos distinguir a hominização que nos diferenciou na escala anima,
fazendo-nos integrantes da espécie homem, do que chamo de humanização, palavra com que
procuro traduzir o esforço animal homem para transcender sua pura animalidade. Um desses
combates é o que vimos realizando, há séculos, no sentido de tornarmo-nos iguais. A
proclamada igualdade dos homens, sua igual dignidade como pessoa etc. traduz uma intenção,
um objetivo a ser alcançado, jamais um dado da realidade”. Existe um esforço humano
racional para que nos tornemos iguais, com tratamento igualitário para diminuir as
desigualdades na implementação do direito processual.
Deve ser dada paridade na implementação dos direitos, direito à moradia, deslocamento, etc.
Necessidade de paridade argumentativa no discurso processual.
“Paridade no sentido de serem viabilizadas, pelo magistrado, iguais chances aos sujeitos do
processo ao longo de todo o processo. Bilateralidade no sentido de que o magistrado deve
ouvir em igualdade de oportunidade os sujeitos do processo durante todo o processo” (Cassio
Scarpinella Bueno).
Art. 189. Os atos processuais são públicos, todavia tramitam em segredo de justiça os
processos:
I - em que o exija o interesse público ou social;
II - que versem sobre casamento, separação de corpos, divórcio, separação, união estável,
filiação, alimentos e guarda de crianças e adolescentes;
III - em que constem dados protegidos pelo direito constitucional à intimidade;
IV - que versem sobre arbitragem, inclusive sobre cumprimento de carta arbitral, desde que a
confidencialidade estipulada na arbitragem seja comprovada perante o juízo.
§ 1º O direito de consultar os autos de processo que tramite em segredo de justiça e de pedir
certidões de seus atos é restrito às partes e aos seus procuradores.
§ 2º O terceiro que demonstrar interesse jurídico pode requerer ao juiz certidão do dispositivo
da sentença, bem como de inventário e de partilha resultantes de divórcio ou separação.
Ação cível é diferente da ação penal. Ação cível versa sobre direitos disponíveis. Há exceções,
ações civis públicas que versam sobre direitos difusos, transindividuais indisponíveis. A grande
maioria das ações penais versam sobre direitos indisponíveis.
6) Princípio da Instrumentalidade das Formas, o ato processual é ato jurídico, tem que ter
forma prescrita ou não defesa em lei. Se a forma não foi observada, mas o resultado foi
alcançado sem prejuízo à defesa, não se anula o ato procedimental. “Pas de nullite sans grief”
(não há nulidade sem que tenha prejuízo). Exemplo, em vez do juiz usar as formas previstas
em lei para citação, ele usa o whatsapp, se o réu faz uma defesa ampla, o ato é aproveitado.
O princípio da instrumentalidade das formas, também nomeado pela doutrina como princípio
do aproveitamento dos atos processuais, está previsto nos artigos 188, 276 a 283, do Novo
Código de Processo Civil.
Art. 188. Os atos e os termos processuais independem de forma determinada, salvo quando a
lei expressamente a exigir, considerando-se válidos os que, realizados de outro modo, lhe
preencham a finalidade essencial.
Art. 276. Quando a lei prescrever determinada forma sob pena de nulidade, a decretação
desta não pode ser requerida pela parte que lhe deu causa.
Art. 283. O erro de forma do processo acarreta unicamente a anulação dos atos que não
possam ser aproveitados, devendo ser praticados os que forem necessários a fim de se
observarem as prescrições legais.
Parágrafo único. Dar-se-á o aproveitamento dos atos praticados desde que não resulte
prejuízo à defesa de qualquer parte.
Conceitos
DIFERENÇAS
Procedimento Processo
Combinação de diversos atos previstos na Garantia constitucional contra o arbítrio.
norma que se sucedem para solução do
litígio.
Mínimo Máximo
Ideia de Conjunto Ideia de Combinação
DIFERENÇAS
Procedimento Processo
Gênero Espécie
Pode haver o procedimento sem lide O direito ao contraditório somente se
exemplo inventário sem briga. houver lide.
Demarca o discurso jurídico. Impossibilita o Processo é o procedimento em
espaço nu (do soberano). Possibilita a contraditório.
recíproca fiscalização. Formaliza e estabiliza
os argumentos. Racionaliza as decisões. Mas
não legitima, por si só, as decisões
(necessário o Processo)
“Veste exterior do processo”. Relação jurídica entre sujeitos processuais
Acompanha o processo ‘como a sombra que se exterioriza consoante determinado
acompanha o corpo’. procedimento.
Procedimento é o modo de se fazer algo.
Aspectos formais do processo. É o rito.
Existe procedimento sem processo, mas não existe processo sem procedimento
Processo é o procedimento em contraditório.
Princípio é o referente lógico de aplicação da norma. Pode ser aplicado mais de um princípio.
As regras são aplicadas na base do tudo ou nada. Ou isso ou aquilo.
Ambos (princípios e regras) são normas jurídicas.
Instituição é o conjunto de princípios e institutos afins.
PROCESSO CONSTITUCIONAL
Processo Constitucional não se trata de ramo autônomo do direito processual, mas de uma
colocação científica, de um ponto-de-vista metodológico e sistemático, do qual se pode
examinar o processo em suas relações com a Constituição.
Alcalá-Zamora y Castillo (professor universidade de Madrid que na Guerra Civil imigrou para o
México), deu o nome a esse ramo do direito.
Etapas
1ª Etapa Precursora, entre 1928 e 1942 (Kelsen)
2ª Etapa do Desenvolvimento Processual, entre 1944 e 1947 (Alcalá-Zamora y Castillo e alguns
incluem Couture)
3ª Etapa do Desenvolvimento Dogmático Processual entre 1946 e 1955
Maior aprofundamento entre o Direito Processual e a Constituição se destaca o nome de
Couture, Pietro Calamandrei e Mauro Cappelletti. Couture realiza estudos sobre as garantias
constitucionais do processo e sobre a jurisdição constitucional. Couture tem um grande
trabalho nessa área e os demais autores italianos são mais superficiais.
Calamandrei (1950 e 1956) estudou a jurisdição constitucional sob o prisma do processualismo
científico que foi inaugurado por seu mestre Chiovenda.
Capelletti (1955) estudou a jurisdição constitucional da liberdade, era um estudo da proteção
jurisdicional dos direitos fundamentais, ambos são autores italianos que não fizeram
referência a um novo ramo processual.
Mac Gregor afirma que Kelsen trouxe a semente, Alcalá-Zamora cuidou do broto, Couture,
Calamandrei e Cappelletti fizeram nascer os primeiros ramos e Fix-Zamudio lhe deu a forma
necessária para que se tornasse uma árvore suficientemente grande para abrigar todos os
demais sob sua sombra.
O reparo a essa imagem é que Couture além de fazer nascer os primeiros ramos, também
ajudou Alcalá-Zamora a cuidar do broto, porquanto foi o precursor teórico.
4ª Etapa da Definição Conceitual e Sistemática, entre 1955 e 1956, até os dias atuais.
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