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Durante muito tempo os juristas buscaram dar uma resposta satisfatória à pergunta: ‘o que é
crime?’ buscando definir o que seria crime, muitos nomes tentaram solucionar esta aporia.
Tivemos, por exemplo, o ilustre Magalhães Noronha, que afirmava ser crime ‘’a conduta
praticada pelo ser humano que lesa ou expõe a perigo o bem protegido pela lei penal’’. De
outro modo, Professor Damásio de Jesus, afirmava ser crime ‘‘o conceito que resulta do
aspecto da técnica jurídica’’.
Tais definições, no entanto, se demonstram insatisfatórias, pois não vão muito além da
ambigüidade conceitual. Ambas as definições pouco nos conduzem à resposta a que nos
empenhamos aqui descobrir: o que é (ou o que deveria ser, num sentido normativo) crime?
Sobre isso, Roxin nos alerta sobre os riscos de uma lei penal imprecisa, dizendo que uma lei
indeterminada ou imprecisa e, por isso mesmo, pouco clara não pode proteger o cidadão da
arbitrariedade, porque não implica uma autolimitação do ius puniendi estatal.
Neste fundamento de auto-limitar a violência do estado, surge a definição defendida por Ernst
Von Beling, cuja delimitação consistia em estabelecer um critério analítico para o conceito de
crime, que fundamentava o juízo de reprovação em três critérios, sendo eles critérios
objetivos, como o da tipicidade e antijuridicidade, e também em critérios subjetivos, como o
da culpabilidade, à época sob a égide da teoria psicológica da ação, elaborada por Von Liszt,
que posicionava o elemento subjetivo na culpabilidade, à luz da teoria causal-natural.
O papel deste (breve) texto é questionar a atualidade da teoria analítica do crime em seu
conceito tripartite, bem como a sua necessidade de atualização. Afinal, ele ainda cumpre bem
o seu papel? não teria ele também se tornado um conceito ambíguo?
Posteriormente o conceito foi retrabalhado à luz dos escritos do Samuelis Boehmer, na obra
''Elementa iusisprudentia criminalis’’, cujo delito havia sido definido como ‘ação ou omissão
espontânea, contrárias à lei, cujo cumprimento é imposto mediante a cominação da pena’
O núcleo duro da teoria foi novamente remodelado, desta vez por Karl Binding, que definiu o
conceito de delito como um ilícito penal culpável e punível, esclarecendo que, nessa mesma
estrutura, o ilícito penal culpável somente é denominado como delito quando também é
punível.
Muito embora tenham sido elaboradas outras formulações teóricas alternativas, a teoria
quadripartida evoluiu com o tempo até ser utilizada pelo Von Liszt, para quem o conceito do
delito é a ação típica, antijurídica, culpável e ameaçada por pena.
Fato é que, historicamente, a teoria quadripartida foi “deixada de lado” pela maioria dos
teóricos, pois a punibilidade não conseguiria alcançar um nível de compatibilidade e
coerência suficientes para integrar o conceito de crime, tanto no âmbito teórico quanto
prático.
Mezger, por exemplo, entendia por crime a ação tipicamente antijurídica e culpável, e
formulou tal pensamento sob influência das considerações do Mayer, que não incluía a
punibilidade no conceito de crime, pois entendia que o próprio delito seria definido como
uma ação punível e, segundo o autor, alocar a punibilidade no conceito seria redundante.
Vicenzo Manzini, por sua vez, afirmava que ainda que a definição do delito como fato
punível fosse redundante, tal redundância seria necessária, pois o que define o delito é o
ordenamento jurídico, e essa definição tanto é estabelecida mediante a especificação da
incidência da norma, quanto pela cominação da sanção. Assim, a tautologia não é um defeito
da norma, mas sim uma característica essencial do conteúdo conceitual.
Ottorino Vannini dizia que não existe um fato jurídico sem uma correspondente
potencialidade de produção de consequências jurídicas, a partir do qual seria inconcebível a
constituição de um delito em relação ao qual não existisse a possibilidade real de aplicação de
uma pena. Sem a punibilidade de um fato não existe um delito. Um fato sem consequências
jurídicas não é um fato jurídico, e para ser delito, o fato precisa ser, necessariamente, jurídico.