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PROJUDI - Recurso: 4002162-65.2022.8.16.0014 - Ref. mov. 43.

1 - Assinado digitalmente por Telmo Cherem:9145


16/12/2022: JUNTADA DE ACÓRDÃO. Arq: Acórdão (Desembargador Telmo Cherem - 1ª Câmara Criminal)

Documento assinado digitalmente, conforme MP nº 2.200-2/2001, Lei nº 11.419/2006, resolução do Projudi, do TJPR/OE
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO PARANÁ
1ª CÂMARA CRIMINAL

Validação deste em https://projudi.tjpr.jus.br/projudi/ - Identificador: PJLVV 23T79 CSYJS 4AREY


RECURSO DE AGRAVO Nº 4002162-65.2022.8.16.0014, DO FORO
CENTRAL DA COMARCA DA REGIÃO METROPOLITANA DE
LONDRINA, VARA DE EXECUÇÕES PENAIS.

RECORRENTE: MINISTÉRIO PÚBLICO

RECORRIDO: MAYCON RAI CHAGAS

RELATOR: DES. TELMO CHEREM

EXECUÇÃO PENAL – TRÁFICO DE DROGAS – AFASTAMENTO


DA HEDIONDEZ (“POR EQUIPARAÇÃO”) COM CONSEQUENTE
ALTERAÇÃO DO REQUISITO OBJETIVO PARA PROGRESSÃO DE
REGIME PRISIONAL – RECURSO DO MINISTÉRIO PÚBLICO –
MODIFICAÇÕES PROMOVIDAS PELA LEI Nº 13.964/2019
(“PACOTE ANTICRIME”) – REVOGAÇÃO DO ART. 2º-§2º DA LEI
Nº 8.072/1990 – NOVA REDAÇÃO AO ART. 112 DA LEI DE
EXECUÇÃO PENAL – PRESERVAÇÃO DO CARÁTER HEDIONDO (“
POR EQUIPARAÇÃO”) DO DELITO PREVISTO NO ART. 33-CAPUT
DA LEI Nº 11.343/2006– DECISÃO REFORMADA – RECURSO
PROVIDO.

VISTOS, relatados e discutidos estes autos de RECURSO DE AGRAVO nº 4002162-


65.2022.8.16.0014, do FORO CENTRAL DA COMARCA DA REGIÃO METROPOLITANA DE
LONDRINA, VARA DE EXECUÇÕES PENAIS, em que é recorrente: MINISTÉRIO PÚBLICO e
recorrido: MAYCON RAI CHAGAS.

[1]
1.Ministério Público interpõe agravo da decisão do Juízo de Execuções Penais de Londrina, que
afastou a hediondez (“por equiparação”) do crime de tráfico de drogas e, por conseguinte, fixou em
1/6 a fração de pena a ser cumprida por Maycon Rai Chagas[2] para progressão de regime
prisional.

Alega, em síntese, que a equiparação do tráfico de drogas aos crimes hediondos “é originalmente
extraída do texto constitucional, dispensando-lhes tratamento jurídico homólogo e equipolente”.
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Aduz tratar-se de “mandado de incriminação constitucional”, impondo ao legislador a “obrigação de
proteger bens jurídicos fundamentais de forma adequada e proporcional” quando identificar certos
crimes como “de especial gravidade, a ensejar disciplina mais severa que a comum”. Pontua que a
atual redação do art. 112 da Lei nº 7.210/84 estabelece percentuais específicos para condenados por

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crimes hediondos e equiparados, afastando qualquer dúvida sobre a subsistência desta categoria de
delitos. Destaca, ainda, a ressalva contida no §5º do art. 112 da Lei de Execução Penal, que, ao
excetuar o tráfico privilegiado do conceito de delito hediondo equiparado, deixa implícita a inclusão
do tráfico comum. Pede, afinal, o provimento do recurso, ao efeito de se reconhecer a natureza
[3]
hedionda do crime de tráfico de drogas a que foi condenado o Recorrido .

[4] [5]
Ofertada contraminuta e mantida a deliberação impugnada , a Procuradoria de Justiça, em
parecer[6] subscrito pela Procuradora SONIA MARIA DE OLIVEIRA HARTMANN, recomendou o
provimento do agravo.

2. O art. 2º da chamada “Lei de Crimes Hediondos” dispõe:

“Art. 2º Os crimes hediondos, a prática da tortura, o tráfico ilícito de


entorpecentes e drogas afins e o terrorismo são insuscetíveis de:

I - anistia, graça e indulto;

II - fiança.

§ 1o A pena por crime previsto neste artigo será cumprida inicialmente em


regime fechado.

§ 2ºA progressão de regime, no caso dos condenados pelos crimes previstos


neste artigo, dar-se-á após o cumprimento de 2/5 (dois quintos) da pena, se o
apenado for primário, e de 3/5 (três quintos), se reincidente, observado o
disposto nos §§ 3º e 4º do art. 112 da Lei nº 7.210, de 11 de julho de 1984 (Lei
de Execução Penal).”

A Lei nº 13.964/2019, de fato, revogou o §2º deste dispositivo e modificou a redação do art. 112 da
Lei de Execução Penal, estabelecendo novos períodos de cumprimento de pena para progressão de
regime prisional.

A equiparação prescrita no caput do dispositivo, contudo, permanece vigente, cabendo à LEP


unicamente a discriminação das quantias de pena a serem satisfeitas para melhora de regime,
inclusive com percentuais diferenciados para “crimes hediondos ou equiparados”.

3.Demais disso, o próprio texto constitucional (art. 5º-XLIII) preconiza o tratamento assemelhado
entre infrações penais hediondas e aquela tipificada no art. 33 da Lei nº 11.343/2006: “A lei
considerará crimes inafiançáveis e insuscetíveis de graça ou anistia a prática da tortura, o tráfico
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ilícito de entorpecentes e drogas afins, o terrorismo e os definidos como crimes hediondos, por eles
respondendo os mandantes, os executores e os que, podendo evitá-los, se omitirem”.

4.Anote-se, ainda, ter a “Lei Anticrime” inserido o §5º no art. 112 da Lei de Execução Penal para
assentar que “não se considera hediondo ou equiparado, para os fins deste artigo, o crime de tráfico

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de drogas previsto no §4º do art. 33 da Lei nº 11.343/2006” (tráfico privilegiado). Consectário
lógico, o propósito do legislador de preservar o caráter hediondo do delito de tráfico simples ou
majorado.

Essa, a exegese do e. SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA:

“AGRAVO REGIMENTAL EM HABEAS CORPUS SUBSTITUTIVO DE


RECURSO PRÓPRIO. EXECUÇÃO PENAL. CÁLCULO DE PENA PARA
PROGRESSÃO DE REGIME. REVOGAÇÃO DO § 2º DO ART. 2º DA LEI
8.072/90 (LEI DOS CRIMES HEDIONDOS) PELA LEI 13.964/2019
(PACOTE ANTICRIME) QUE NÃO AFASTA A CARACTERIZAÇÃO DO
CRIME DE TRÁFICO DE DROGAS (ART. 33, CAPUT, DA LEI 11.343
/2006) COMO DELITO EQUIPARADO A HEDIONDO. CLASSIFICAÇÃO
QUE DECORRE DO ART. 5º, XLIII, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL.
AGRAVO REGIMENTAL DESPROVIDO.

[...]

2. A revogação do § 2º do art. 2º da Lei 8.072/90 pela Lei 13.964/2019 não


tem o condão de retirar do tráfico de drogas sua caracterização como delito
equiparado a hediondo, pois a classificação da narcotraficância como
infração penal equiparada a hedionda decorre da previsão constitucional
estabelecida no art. 5º, XLIII, da Constituição Federal.

3. O Plenário do Supremo Tribunal Federal, no julgamento do HC n. 118.533


/MS, concluiu que ‘o tráfico de entorpecentes privilegiado (art. 33, § 4º, da Lei
n. 11.313/2006) não se harmoniza com a hediondez do tráfico de entorpecentes
definido no caput e § 1º do art. 33 da Lei de Tóxicos’ (HC 118.533/MS, Rel.
Ministra CÁRMEN LÚCIA, TRIBUNAL PLENO, DJe 16/09/2016).

4. O fato de a Lei 13.964/2019 ter consignado, expressamente, no § 5º do art.


112 da Lei de Execução Penal, que não se considera hediondo ou equiparado o
tráfico de drogas previsto no § 4º do art. 33 da Lei 11.343/2006 somente
consagra o tratamento diferenciado que já vinha sendo atribuído pela
jurisprudência ao denominado tráfico privilegiado. Isso, no entanto, não
autoriza deduzir que a mesma descaracterização como delito equiparado a
hediondo tenha sido estendida ao crime do art. 33, caput e § 1º, da Lei de
Drogas.
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5. Esta Corte já teve a oportunidade, em diversas ocasiões, de referendar a
natureza de delito equiparado a hediondo do crime previsto no art. 33, caput,
da Lei 11.343/06, mesmo após a entrada em vigor da Lei 13.964/2019 (Pacote
anticrime), ressaltando-se, inclusive que, no julgamento do Recurso Especial n.

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1.918.338/MT (Rel. Ministro ROGERIO SCHIETTI CRUZ, TERCEIRA SEÇÃO,
julgado em 26/05/2021, DJe 31/05/2021) pela sistemática dos recursos
repetitivos (Tema n. 1.084), no qual foi assentada a tese reconhecendo a
possibilidade de aplicação retroativa do art. 112, V, da LEP a condenados por
crimes hediondos ou equiparados que fossem reincidentes genéricos, o caso
concreto tratou especificamente de condenado por tráfico de drogas.

Precedentes desta Corte sobre a mesma controvérsia posta nos autos:

HC 733.052/RS, Min. RIBEIRO DANTAS, DJe de 06/04/2022; HC731.139/SP,


Rel. Min. JOEL ILAN PACIORNIK, DJe de 29/03/2022; HC 723.462/SC, Rel.
Min. ANTONIO SALDANHA PALHEIRO, DJe de 11/03/2022; HC 726.162/SC,
Rel. Min. RIBEIRO DANTAS, DJe de 16/03/2022; HC 721.316/SC, Rel. Min.
JOEL ILAN PACIORNIK, DJe de 08/02/2022.

6. Agravo regimental desprovido”[7].

Na esteira desta orientação, precedentes desta Câmara:

“AGRAVO EM EXECUÇÃO PENAL. RÉU CUMPRINDO PENA POR


TRÁFICO DE DROGAS, ASSOCIAÇÃO PARA O TRÁFICO E HOMICÍDIO
QUALIFICADO. [...] PLEITO DE RECONHECIMENTO DA HEDIONDEZ
DA CONDENAÇÃO POR TRÁFICO DE DROGAS. VIABILIDADE. A
NOVA REDAÇÃO DO ART. 112 DA LEP, PREVÊ EM SEU § 5°, A
POSSIBILIDADE DE AFASTAR A HEDIONDEZ DO TRÁFICO
PRIVILEGIADO. NO CASO DOS AUTOS, O RÉU FOI CONDENADO AO
TRÁFICO DE DROGAS PREVISTO NO ART. 33, “CAPUT”, DA LEI N°
11.343/2006, NÃO SE ENQUADRANDO À MODALIDADE PRIVILEGIADA.
DECISÃO REFORMADA. RECURSO NÃO PROVIDO”[8].

“AGRAVO EM EXECUÇÃO. MILITAR. DECISÃO QUE INDEFERIU O


PEDIDO DE AFASTAMENTO DA HEDIONDEZ DO CRIME DE
TRÁFICO DE ENTORPECENTES PELO QUAL O SENTENCIADO
RESTOU CONDENADO. RECURSO DA DEFESA. ALEGAÇÃO DE QUE
COM A VIGÊNCIA DA LEI 13.964/2019, INEXISTE FUNDAMENTAÇÃO
LEGAL PARA EQUIPAR TAL CRIME COMO HEDIONDO.
DESCABIMENTO. PREVISÃO EXISTENTE NA LEI CONSTITUCIONAL
E INFRACONSTITUCIONAL. NECESSIDADE DE REPRIMIR COM
MAIS RIGOR CRIMES HEDIONDOS E EQUIPARADOS. DECISÃO
MANTIDA. RECURSO DESPROVIDO”[9].
PROJUDI - Recurso: 4002162-65.2022.8.16.0014 - Ref. mov. 43.1 - Assinado digitalmente por Telmo Cherem:9145
16/12/2022: JUNTADA DE ACÓRDÃO. Arq: Acórdão (Desembargador Telmo Cherem - 1ª Câmara Criminal)

Documento assinado digitalmente, conforme MP nº 2.200-2/2001, Lei nº 11.419/2006, resolução do Projudi, do TJPR/OE
Imperiosa, então, a reforma da decisão agravada, a fim de se reconhecer a natureza hedionda do
crime de tráfico de drogas, cabendo ao Juízo a quo a readequação da fração de pena a ser cumprida
pelo Agravado para progressão de regime, de acordo com o conjunto de penas executadas em seu
desfavor.

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ANTE O EXPOSTO:

ACORDAM os integrantes da Primeira Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Estado do


Paraná, por unanimidade de votos, em DAR PROVIMENTO ao recurso, para reconhecer a
hediondez do crime de tráfico de drogas a que foi condenado o Recorrido.

O julgamento foi presidido pelo Desembargador Gamaliel Seme Scaff, sem voto, e dele participaram
os Desembargadores Telmo Cherem (relator) e Miguel Kfouri Neto e o Juiz de Direito Substituto em
Segundo Grau Sergio Luiz Patitucci.

Curitiba, 16 de dezembro de 2022.

TELMO CHEREM– Relator

[1]Mov. 1.1-TJ.

[2]Condenado por furto qualificado, homicídio qualificado e tráfico de drogas, à pena total de 28 anos e 3 meses de reclusão –
Autos de Execução Penal nº 16002-60.2015.8.16.0014 (Atestado de Pena - SEEU).

[3]Mov. 1.2-TJ.

[4]Mov. 22.1-TJ.

[5]Mov. 1.5-TJ.

[6]Mov. 25.1-TJ.

[7]AgRg no HC nº 729.332/SP, 5ª Turma, Relator: Min. REYNALDO SOARES DA FONSECA, DJe 25.4.2022.

[8]AG nº 4000160-30.2022.8.16.0077, Relator: Des. NILSON MIZUTA, j. 22.5.2022.

[9]AG nº 4000092-54.2022.8.16.0021, Relator: Des. MIGUEL KFOURI NETO, j. 2.4.2022.

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