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Curitiba
Janeiro de 2023
Coordenação
Apoio Técnico
1 CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES 3
2 HIPÓTESES ABRANGIDAS PELO DECRETO 3
2.1 Indulto humanitário 4
2.2 Indulto para agentes públicos que compõem o Sistema Único de Segurança Pública
4
2.3 Indulto para militares das Forças Armadas 4
2.4 Indulto etário 5
2.5 Indulto por crime cuja pena privativa de liberdade máxima em abstrato não seja
superior a cinco anos 5
2.6 Indulto para agentes públicos que integram os órgãos de segurança pública de que
trata o art. 144 da Constituição 8
3 VEDAÇÃO À CONCESSÃO DE INDULTO 9
4 COMUTAÇÃO: CABIMENTO E VEDAÇÃO 10
5 ANEXO ROTEIRO PARA APLICAÇÃO DO DECRETO N. 11.302/2022 (INDULTO E
COMUTAÇÃO) 11
1 CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES
1
Conforme se extrai do acompanhamento processual disponível no site do STF, a medida liminar
requerida ainda não foi apreciada, estando sob a Relatoria do Min. Luiz Fux.
2 HIPÓTESES ABRANGIDAS PELO DECRETO
.2
2 Indulto para agentes públicos que compõem o Sistema Único de Segurança
Pública
Dispõe o art. 2º, que o indulto poderá ser concedido aos agentes
públicos que compõem o Sistema Único de Segurança Pública, que, até 25 de dezembro
de 2022, no exercício da sua função ou em decorrência dela, tenham sido
condenados:
(a) por crime na hipótese de excesso culposo prevista no
parágrafo único do art. 23 do Código Penal; ou
(b) por crime culposo, desde que tenham cumprido pelo menos
1/6 (um sexto) da pena. Se tratando de condenado primário, o prazo de cumprimento de
pena será reduzido pela metade (art. 2º, § 2º).
Embora o dispositivo pudesse levar à imediata interpretação, a
contrario sensu, de que fora dessas hipóteses não haveria que se falar em indulto, é
importante lembrar do reforço previsto pelo § 1º deste artigo a este mesmo grupo de
pessoas. É que, conforme este parágrafo, o indulto ainda poderá ser concedido a estes
agentes públicos quando tiverem sido condenados por ato cometido em razão de risco
decorrente da sua condição funcional ou em razão do seu dever de agir, mesmo
quando praticados fora do serviço.
2.3 Indulto para militares das Forças Armadas
Nos termos do art. 3º, será concedido indulto aos militares das
Forças Armadas que tenham atuado em operações de Garantia da Lei e da Ordem e que,
até 25 de dezembro de 2022, tenham sido condenados por crime na hipótese de excesso
culposo prevista no Código Penal Militar.
Vale destacar que, assim como se deu em outros dispositivos do
Decreto, se está diante de uma hipótese em que não foi fixado qualquer período de
cumprimento de pena como requisito para concessão do indulto.
.5
2 Indulto por crime cuja pena privativa de liberdade máxima em abstrato não
seja superior a cinco anos
2
Cite-se por exemplo:
Decreto de 12 de abril de 2017, art. 1º., inciso III, alínea “c”. Disponível em
<https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2017/dsn/dsn14454.htm>. Acesso em
12/01/2023;
Decreto nº. 9.246, de 21 de dezembro de 2017, art. 2º. Inciso II. Disponível em
<https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2017/decreto/d9246.htm>. Acesso em
12/01/2023.
Seu parágrafo único foi além e previu que, para fins do disposto no
caput, na hipótese de concurso de crimes, será considerada, individualmente, a pena
privativa de liberdade máxima em abstrato não seja superior a cinco anos.
Muito embora a inicial leitura do dispositivo não levasse a maiores
dificuldades interpretativas, nos parece oportuno destacar, ao menos, três aspectos
relevantes:
(a) Ausência da exigência de um período mínimo de
cumprimento de pena para a concessão do indulto
Tal qual previsto em outros dispositivos do Decreto, também aqui
não foi fixado qualquer período de cumprimento de pena como requisito para
concessão do indulto.
Independentemente da concordância ou não com a política criminal
adotada, é válido recordar que a ausência desta exigência já foi vista em decretos
passados. Neste sentido, o próprio Supremo Tribunal Federal já teria enfrentado esta
questão, então entendendo que, em regra, competiria à Presidência da República definir a
concessão ou não do indulto, bem como seus requisitos e a extensão desse verdadeiro
ato de clemência constitucional, a partir de critérios de conveniência e oportunidade.
Reconheceu-se, na ocasião, que deveria ser tida como inoportuna e, portanto, afastada
qualquer alegação de desrespeito à Separação de Poderes ou de ilícita ingerência do
Executivo na política criminal3.
3
Cf. neste sentido, o voto vencedor do Ministro Alexandre de Moraes, na ADI n. 5.874/DF, por ocasião da
impugnação de dispositivos do Decreto de Indulto de 2017. Consta do voto, que a concessão do indulto
não estaria vinculada à política criminal estabelecida pelo Legislativo, tampouco pela jurisprudência
formada pela aplicação da legislação penal, nem muito menos ao prévio parecer consultivo do Conselho
Nacional de Política Criminal e Penitenciária (CNPCP), sob pena de total esvaziamento do instituto, que
configura tradicional mecanismo de freios e contrapesos na tripartição de poderes. Não por outra razão,
refere o Ministro, que tanto a doutrina como a jurisprudência do STF consideram o indulto como ato
discricionário e privativo do Chefe do Poder Executivo. Por isso, sujeita-se a um controle mínimo de
seus elementos, da mesma forma que os demais atos discricionários. Dessa forma, restaria ao
Judiciário exercer apenas um juízo de verificação de exatidão do exercício de oportunidade
perante a constitucionalidade do decreto de indulto. Nestes termos, sempre de acordo com o
Ministro, a opção conveniente e oportuna para edição do decreto deveria ser feita legal e moralmente
pelo Presidente, sendo que somente sua constitucionalidade estaria sujeita a apreciação do Judiciário.
Daí porque a verificação pela Corte se restringiria a análise constitucional do regramento previsto
no Decreto. A partir destas premissas, na ocasião, o Ministro passou a analisar cada dispositivo então
impugnado na ADI 5.874/DF, fazendo-o nos seguintes termos:
i) Os requisitos previstos nos artigos 1º, inc. I e 2º, § 1º, no Decreto de Indulto de 2017, se
encontrariam no campo da discricionariedade do Chefe do Executivo, não havendo, portanto,
qualquer inconstitucionalidade, já que não se deflagrou abuso de direito de legislar ou desvio de
finalidade; ii) No que diz respeito à questão de exclusão dos crimes de corrupção lato sensu e
lavagem de dinheiro do âmbito do decreto, não haveria nenhum dispositivo na Constituição que
(b) Possível limitação à concessão do indulto
É fundamental atentar, entretanto, que a interpretação do art. 5º
deve ser realizada em conjunto com os demais dispositivos do Decreto, pois não
foram poucos os que trazem normas gerais de aplicação do instituto. Ou seja, a análise
de cabimento do indulto nesta situação não deve se limitar à aferição da pena cominada
em abstrato para a infração pela qual a pessoa foi condenada, sendo necessário
verificar se não existe hipótese que veda a concessão do instituto.
E isto porque, o artigo 7º (norma de aplicação geral) elenca uma
série de crimes que não poderão ser abrangidos pelo indulto.
Além disso, o § 1º do mencionado artigo dispõe que o indulto não
será concedido aos integrantes de facções criminosas, “ainda que sejam reconhecidas
somente no julgamento do pedido de indulto”, o que abre margem, inclusive, para uma
instrução voltada a aferir esta condição, conforme o caso concreto.
Assim, se uma pessoa tiver sido condenada por qualquer dos crimes
elencados no art. 7º ou figurar como integrante de facção criminosa, não deverá ser
agraciada pelo indulto, ainda que seu crime possua pena privativa de liberdade máxima,
em abstrato, não superior a cinco anos.
Nesta esteira, vale mencionar ainda que o art. 8º dispõe que o
indulto tampouco será extensível:
(i) às penas restritivas de direitos;
(ii) às penas de multa; e
(iii) às pessoas que tenham sido beneficiadas pela suspensão
condicional do processo.
vedasse a aplicação do instituto a estes crimes, não se vislumbrando, dessa forma, desrespeito ao
princípio da razoabilidade, uma vez não ter restado identificado o desrespeito às necessárias
proporcionalidade, justiça e adequação entre o expresso mandamento constitucional (arts. 5º, inc. XLIII,
e 84, inc., XII, da CF) e o decreto impugnado; iii) Não haveria, igualmente, nenhuma
inconstitucionalidade na legítima opção do Poder Executivo em conceder indulto às demais penas
descritas no art. 8º daquele Decreto, pois o indulto não se direcionava somente às penas privativas de
liberdade, mas ao afastamento das sanções impostas em condenação judicial; iv) Por fim, da mesma
forma, não restava vislumbrada qualquer inconstitucionalidade no art. 10, pois a possibilidade de o
indulto ou comutação de pena alcançarem a pena de multa aplicada cumulativamente seria tradicional
no ordenamento jurídico nacional, independentemente de sua concordância ou não com a opção
discricionária do Presidente (Para uma análise completa do quanto discutido, cf. material na página do
nosso site <https://criminal.mppr.mp.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=1759>.
Por isto, a depender do quanto consta no título condenatório,
trata-se de uma previsão que poderá limitar a concessão de indulto já que, em regra,
penas privativas de liberdade de média expressão costumam ser substituídas por
restritivas de direito e multas,4 bem como incidir em pessoas condenadas que, em seus
antecedentes, possuem registro de prévia concessão de suspensão condicional do
processo.
(c) Concurso de crimes
Acerca do concurso de crimes, sem embargo da singela redação,
para fins de análise do quanto previsto, duas distintas situações podem surgir:
1ª. Concurso entre crimes não impeditivos da concessão:
A expressão “crime impeditivo” diz respeito aqui aos crimes que, nos
termos do art. 7º, incisos I ao VIII, não admitem a concessão do indulto.
Assim, a primeira possibilidade sugerida refere-se ao caso, por
exemplo, de uma pessoa condenada por dois crimes: furto simples e estelionato simples,
tendo sido realizado o somatório das penas na fase da execução (cf. LEP, art. 111).
Neste caso, mesmo que as penas somadas venham a ultrapassar os
05 anos não existirá qualquer impedimento para concessão do indulto, nos termos do
quanto prevê o art. 5º, parágrafo único, do Decreto, já que as penas privativas de
liberdade deverão ser analisadas de forma individual.
2ª. Concurso entre crime impeditivo e crime não impeditivo
Situação distinta seria a da pessoa condenada por furto e tráfico de
entorpecentes. Para fins de análise de cabimento do indulto do crime não impeditivo
(furto) com base no art. 5º, deverá ser observado o quanto disposto no art. 11, parágrafo
único, do mesmo Decreto.
4
Código Penal, Art. 44. As penas restritivas de direitos são autônomas e substituem as privativas de
liberdade, quando: I – aplicada pena privativa de liberdade não superior a quatro anos e o crime não for
cometido com violência ou grave ameaça à pessoa ou, qualquer que seja a pena aplicada, se o crime for
culposo; II – o réu não for reincidente em crime doloso; (…) § 2º Na condenação igual ou inferior a um
ano, a substituição pode ser feita por multa ou por uma pena restritiva de direitos; se superior a um ano,
a pena privativa de liberdade pode ser substituída por uma pena restritiva de direitos e multa ou por duas
restritivas de direitos. § 3º Se o condenado for reincidente, o juiz poderá aplicar a substituição, desde
que, em face de condenação anterior, a medida seja socialmente recomendável e a reincidência não se
tenha operado em virtude da prática do mesmo crime.
Isto porque, o art. 5º caput traz a hipótese de cabimento, enquanto o
art. 11, parágrafo único, disciplina a forma pela qual será realizado o indulto do crime não
impeditivo quando também houver condenação por crime impeditivo.
.6
2 Indulto para agentes públicos que integram os órgãos de segurança pública
de que trata o art. 144 da Constituição
Muito embora já tenha sido feita referência à atenção que deva existir
em relação ao conteúdo deste dispositivo, cumpre reiterar que o próprio decreto dispõe
que o indulto não deverá abranger os seguintes casos:
crimes considerados hediondos ou a eles equiparados (cf. Lei 8.072/90);
delitos sexuais tipificados nos art. 215, art. 216-A, art. 217-A, art. 218, art. 218-A,
art. 218-B e art. 218-C do Código Penal;
crimes contra a administração pública tipificados nos art. 312, art. 316, art. 317
e art. 333 do Código Penal;
crimes previstos na Lei Antidrogas, tipificados: