Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
E DIREITOS
HUMANOS:
Reflexões em Tempos
de Guerra às Drogas
Série Interlocuções
Práticas, Experiências
e Pesquisa em Saúde
Organizadores
Marcelo Dalla Vecchia
Telmo Mota Ronzani
Fernando Santana de Paiva
Cassia Beatriz Batista
Pedro Henrique Antunes da Costa
Copyright © 2017 by Marcelo Dalla Vecchia, Telmo Mota Ronzani, Fernando Santana de
Paiva, Cassia Beatriz Batista e Pedro Henrique Antunes da Costa.
DROGAS E
DIREITOS
HUMANOS:
Reflexões em Tempos
de Guerra às Drogas
1º Edição
Porto Alegre/RS, 2017
Rede UNIDA
SUMÁRIO
PREFÁCIO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1
Milton Romani Gerner, Ex-Secretário da Junta Nacional d
e Drogas do Uruguai, Ex-Embaixador do Uruguai
na Organização dos Estados Americanos (OEA)
APRESENTAÇÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13
PÓSFÁCIO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .373
Deputado Federal Jean Wyllys pelo PSOL/RJ. Autor do PL 7270/14
Luciana Boiteux
Luciana Peluzio Chernicharo
Camila Souza Alves
Introdução
10
O presente artigo foi publicado originalmente em 2014, em inglês, sob o título “Human Rights and Drug
Conventions: Searching for Humanitarian Reason in Drug Laws”, como capítulo do livro organizado por
LABATE, B.C.; CAVNAR, C. Prohibition, religious freedom, and human rights: regulating traditional drug use.
1.ed.Berlin, Heidelberg: Springer-Verlag, 2014, v. 1, p. 1-23. A versão em português foi atualizada e resumida.
DALLA VECCHIA et al.
234
DROGAS E DIREITOS HUMANOS: Reflexões em Tempos de Guerra às Drogas
11
Atualmente, existem 185 Estados-parte à Convenção Única de 1961, emendado pelo Protocolo de 1972,
o que significa que apenas oito países estão fora desse acordo internacional. Fonte: https://treaties.un.org/
Pages/ViewDetails.aspx?src=TREATY&mtdsg_no=VI-18&chapter=6&lang=en
12
Em março de 2016, 183 Estados faziam parte da Convenção sobre Substâncias Psicotrópicas de 1971. Fonte:
https://treaties.un.org/Pages/ViewDetails.aspx?src=TREATY&mtdsg_no=VI-16&chapter=6&lang=en
235
DALLA VECCHIA et al.
236
DROGAS E DIREITOS HUMANOS: Reflexões em Tempos de Guerra às Drogas
14
O sistema burocrático criado na ONU para controlar a circulação de drogas inclui os seguintes órgãos
especializados: o “poder político-legislativo”, exercido pela Assembleia Geral da ONU e pela Comissão de
Entorpecentes (CND, em inglês), sob a estrutura do Conselho Econômico e Social (ECOSOC, em inglês), no
qual a política de drogas é debatida e definida; o “sistema judicial”, representado pela Junta Internacional de
Controle de Narcóticos (International Narcotics Control Board (INCB), em inglês), um órgão independente
com o poder de impor sanções em caso de não cumprimento das regras; e, por fim, o “órgão executivo”: o
Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (United Nations Office for Drugs and Crime (UNODC),
em inglês), capitaneado por um diretor executivo, atualmente um russo, Yuri Fedotov. Cabe salientar que
a abordagem repressiva em relação às drogas é expressa inclusive no nome do organismo especializado,
que relaciona “crimes” a “drogas”.
237
DALLA VECCHIA et al.
15
Vide Boiteux (2014).
16
A publicação Counting the Costs aponta os seguintes resultados da política de drogas repressiva: 1)
colocação da saúde pública em risco, difusão de doenças e de mortes; 2) prejuízo à paz e à segurança;
3) comprometimento do desenvolvimento humano; 4) violação a direitos humanos; 5) criação de crimes
e enriquecimento de criminosos; 6) gastos bilionários e comprometimento de economias nacionais; 7)
promoção de estigma e descriminação; 8) causação de danos (e não proteção) a crianças e jovens; 9) danos
ao meio ambiente, desflorestamento e poluição. Cf. Counting the Costs: Alternative Drug Report 2016:
http://www.countthecosts.org/sites/default/files/AWDR-2nd-edition.pdf. Acesso em março de 2016.
Sobre o impacto na saúde pública da política proibicionista, vide artigo publicado por vários especialistas
na prestigiada Revista Lancet: CSETE, Joanne, KAMARULZAMAN, Adeeba, KAZATCHKINE, Michel et alli.
Public health and international drug policy. The Lancet. March 24, 2016 http://dx.doi.org/10.1016/S0140-
6736(16)00619-X
238
DROGAS E DIREITOS HUMANOS: Reflexões em Tempos de Guerra às Drogas
239
DALLA VECCHIA et al.
24 0
DROGAS E DIREITOS HUMANOS: Reflexões em Tempos de Guerra às Drogas
241
DALLA VECCHIA et al.
18
Vide Conselho Econômico e Social da ONU [ECOSOC] 2009, Organização Mundial de Saúde [World
Health Association - WHO] / Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime [UNODC] / UNAIDS
2009; International Harm Reduction Association [IHRA] 2008; CHIU; BURRIS, 2012.
24 2
DROGAS E DIREITOS HUMANOS: Reflexões em Tempos de Guerra às Drogas
243
DALLA VECCHIA et al.
24 4
DROGAS E DIREITOS HUMANOS: Reflexões em Tempos de Guerra às Drogas
245
DALLA VECCHIA et al.
19
Nesses países, por delitos de drogas entende-se desde tráfico de heroína até a posse de pequena
quantidade de maconha. Em 2015, pessoas foram condenadas à morte por crimes de drogas na Arábia
Saudita, China, Emirados Árabes Unidos, Indonésia, Irã, Kuwait, Malásia, Sri Lanka e Vietnã. Cf. https://
anistia.org.br/e-pena-de-morte-uma-resposta-aos-crimes-relacionados-drogas/. Segundo a Anistia
Internacional, 2015 foi o ano com maior número de execuções nos últimos 25 anos. Vide https://anistia.org.
br/noticias/pena-de-morte-em-2016-o-maior-numero-de-execucoes-registradas-dos-ultimos-25-anos/
20
NAÇOES UNIDAS. Resolução da Assembleia Geral 2857 (XXVI) de 20 de dezembro de 1971: garantias
para a proteção dos direitos de pessoas sujeitas a pena de morte (Resolução do Conselho Econômico e
Social 1984/50, de 25 de maio de 1984). Convenção Contra a Tortura e Outros Tratamentos ou Penas
Cruéis, Desumanos ou Degradantes. (Resolução da Assembleia Geral 3452 (XXX) de 9 de dezembro 1975)
24 6
DROGAS E DIREITOS HUMANOS: Reflexões em Tempos de Guerra às Drogas
Ver também o Compêndio das Nações Unidas de Padrões e Normas sobre Prevenção ao Crime e Justiça
Criminal, ST / CSDHA / 16.
21
“Alto Comissariado das Nações Unidas pede foco nos direitos humanos e na redução de danos na política
internacional de drogas”, press release, Nações Unidas, 2009; Relatório do Secretário-Geral das Nações
Unidas, pena de morte e implementação de garantias para a proteção dos direitos das pessoas condenadas
à pena de morte, ECOSOC, 18.12.09.
247
DALLA VECCHIA et al.
24 8
DROGAS E DIREITOS HUMANOS: Reflexões em Tempos de Guerra às Drogas
249
DALLA VECCHIA et al.
250
DROGAS E DIREITOS HUMANOS: Reflexões em Tempos de Guerra às Drogas
251
DALLA VECCHIA et al.
252
DROGAS E DIREITOS HUMANOS: Reflexões em Tempos de Guerra às Drogas
253
DALLA VECCHIA et al.
254
DROGAS E DIREITOS HUMANOS: Reflexões em Tempos de Guerra às Drogas
255
DALLA VECCHIA et al.
25
Vide o artigo 11, seção 1, e no artigo 12.º, n.º 1, da Declaração da ONU sobre os Direitos dos Povos
Indígenas (2008) - Artigo 11 1. “Os povos indígenas têm o direito de praticar e revitalizar suas tradições
e costumes culturais. Isso inclui o direito de manter, proteger e desenvolver as manifestações passadas,
presentes e futuras de suas culturas, tais como sítios arqueológicos e históricos, utensílios, desenhos,
cerimônias, tecnologias, artes visuais e interpretativas e literaturas.” Artigo 12 1. “Os povos indígenas têm
o direito de manifestar, praticar, desenvolver e ensinar suas tradições, costumes e cerimônias espirituais e
religiosas; de manter e proteger seus lugares religiosos e culturais e de ter acesso a estes de forma privada;
de utilizar e dispor de seus objetos de culto e de obter a repatriação de seus restos humanos.”
26
Artigo 18 1. Toda pessoa terá direito a liberdade de pensamento, de consciência e de religião. Esse direito
implicará a liberdade de ter ou adotar uma religião ou uma crença de sua escolha e a liberdade de professar
sua religião ou crença, individual ou coletivamente, tanto pública como privadamente, por meio do culto, da
celebração de ritos, de práticas e do ensino.
256
DROGAS E DIREITOS HUMANOS: Reflexões em Tempos de Guerra às Drogas
257
DALLA VECCHIA et al.
Conclusões
O sistema de controle de drogas da ONU é visto por certos
atores internos como um corpo isolado do resto das Nações Unidas,
apesar de não haver base normativa para esta suposição. Este se pre-
tende como um modelo uniforme de controle que submete determi-
nadas substâncias a um rigoroso regime de proibição internacional,
desconsiderando o uso terapêutico e médico destas substâncias, fo-
cando na criminalização da posse e do tráfico de drogas, tendo a
pena de prisão como opção principal, rejeitando alternativas. Nas
Convenções de drogas, medidas eficazes como o tratamento e a
prevenção do abuso de drogas ilícitas são considerados de menor
importância, bem como há forte rejeição de sanções alternativas na
esfera penal e de medidas de redução de danos na esfera da saúde.
Para além de outras violações dos direitos humanos como visto aci-
ma, o sistema de controle de drogas, além de atentar contra direitos
individuais, não reconhece direitos culturais das comunidades ori-
ginais e povos indígenas em relação a usos tradicionais, como da
folha de coca.
258
DROGAS E DIREITOS HUMANOS: Reflexões em Tempos de Guerra às Drogas
Referências
ALSTON, P. Report of the Special Rapporteur on extrajudicial summary
or arbitrary executions.A/HRC/4/20. New York: United Nations General
Assembly, 2007. Disponível em: <http://www2.ohchr.org/english/bodies/
hrcouncil/docs/14session/A.HRC.14.24.Add6.pdf.>Acesso em: 25 out
2016.
BARRETT, D. Security, development and human rights: normative,
legal and policy challenges for the international drug control system.
International Journal of Drug Policy, v. 21, n. 2, 2010, p.140-144,
259
DALLA VECCHIA et al.
260
DROGAS E DIREITOS HUMANOS: Reflexões em Tempos de Guerra às Drogas
261
DALLA VECCHIA et al.
262
DROGAS E DIREITOS HUMANOS: Reflexões em Tempos de Guerra às Drogas
convention%20on%20narcotic%20drugs&fq=url%3A%28%22treaties.
un.org%22%29&tpl=un&lang=en>. Acesso em: 25 out 2016.
______ . Declaração das Nações Unidas sobre Direitos dos Povos
Indígenas. Rio de Janeiro: Nações Unidas, 2008. Acesso em 12 Dez
2016. Disponível em: http://www.un.org/esa/socdev/unpfii/documents/
DRIPS_pt.pdf.
UNITED NATIONS ECONOMIC AND SOCIAL COUNCIL (ECOSOC).
Commission on Narcotic Drugs. Resolution 55/2012. New York: United
Nations, 2012. Disponível em: <https://www.unodc.org/documents/
commissions/CND/Drug_Resolutions/2010-2019/2012/CND_Res-55-1.
pdf>. Acesso em: 25 out 2016.
______. Commission on Narcotic Drugs. Resolution 54/6. Promoting
adequate availability of internationally controlled narcotic drugs and
psychotropic substances for medical and scientific purposes while
preventing their diversion and abuse. New York: United Nations. Disponível
em: <https://www.unodc.org/documents/commissions/CND/Drug_
Resolutions /2010-2019/2011/CND_Res-54-6.pdf> Acesso em: 25 out 2016.
______.Commission on Narcotic Drugs. Resolution 53/4. Promoting
adequate availability of internationally controlled licit drugs for medical
and scientific purposes while preventing their diversion and abuse.
E/CN.7/2010/L.6/Rev.1. New York: United Nations, 2010. Disponível
em: <https://www.unodc.org/documents/commissions/CND/Drug_
Resolutions/2010-2019/2010/CND_Res-53-4.pdf>. Acesso em: 25 out 2015
______. Resolution E/2009/L.23 adopted by the Council on 24 July
2009. New York: United Nations, 2009.
UNITED NATIONS OFFICE AT VIENNA, CENTRE FOR SOCIAL
DEVELOPMENT AND HUMANITARIAN AFFAIRS. Compendium of United
Nations standards and norms in crime prevention and criminal justice.
ST/CSDHA/16. New York: United Nations, 1992.
UNITED NATIONS OFFICE ON DRUGS AND CRIME (UNODC). United
Nations Office on Drugs and Crime (UNODC). (2010). From coercion
to cohesion: Treating drug dependence through health care, not
punishment [Discussion paper], 2010. Viena: United Nationals Office on
Drugs and Crime. Acesso em 10 Mar 2013. Disponível em: <http://www.
unodc.org/docs/treatment/Coercion_Ebook.pdf.
______. Ensuring availability of controlled medications for the relief
of pain and preventing diversion and abuse [Discussion paper]. New
York: United Nations, 2011a. Viena: United Nations Office for Drugs and
Crime. Disponível em: <http://www.unodc.org/docs/treatment/Pain/
263
DALLA VECCHIA et al.
Ensuring_availability_of_controlled_ medications_FINAL_15_March_
CND_version.pdf. >. Acesso em: 25 out 2016.
______. Drug control, crime prevention and criminal justice: a human
rights perspective. Note by the Executive Director, E/CN.7/2010/CRP.6,
2011b. Vienna: United Nations Office for Drugs and Crime. Disponível
em: <https://www.unodc.org/documents/commissions/CCPCJ/CCPCJ_
Sessions/CCPCJ_19/E-CN15-2010-CRP1_E-CN7-2010-CRP6/E-CN15-
2010-CRP1_E-CN7-2010-CRP6.pdf> Acesso em: 25 out 2016.
______. Political declaration and plan of action on international
cooperation towards an integrated and balanced strategy to counter
the world drug problem: high-level segment Commission on Narcotic
Drugs, Vienna 11-12 March 2009. New York: United Nations. Disponível
em: <https://www.unodc.org/documents/ungass2016/V0984963-
English.pdf>. Acesso em: 25 out 2016.
UNITED NATIONS OFFICE ON DRUGS AND CRIME (UNODC); WORLD
HEALTH ORGANIZATION (WHO). Principles of drug dependence
treatment [Discussion paper]. 2009 Disponível em: <http://www.unodc.
org/documents/drug-treatment/UNODC-WHO-Principles-of-Drug-
Dependence-Treatment-March08.pdf>. Acesso em: 25 out 2016.
WORLD HEALTH ORGANIZATION (WHO); UNICRI. Cocaine Project.
1995. Disponível em: <http://www.undrugcontrol.info/images/stories/
documents/who-briefing-kit.pdf.> Acesso em: 10 Mar 2013.
WORLD HEALTH ASSOCIATION (WHO). Ensuring balance in national
policies on controlled substances: guidance for availability and accessibility
of controlled medicines. 2011. Disponível em: <http://www.who.int/
medicines/areas/quality_safety/ GLsEnsBalanceNOCPColENsanend.
pdf>. Acesso em: 25 out 2016.
______.Technical guide for countries to set targets for universal
access to HIV prevention, treatment and care for injecting drug users.
Geneva: World Health Organization, 2009. Disponível em: <https://www.
unodc.org/documents/hiv-aids/idu_target_setting_guide.pdf>. Acesso
em: 25 out 2016.
WORLD MEDICAL ASSOCIATION. International code of medical ethics.
Pilanesburg, South Africa: WMA General Assembly, 2006. Disponível em:
<http://www.wma.net/en/30publications/10policies /c8/index.html.pdf?print-
media-type&footer-right=[page]/[toPage].>Acesso em: 25 out 2016.
ZAFFARONI, E. R. Política criminal latinoamericana: perspectivas
disyuntivas. Argentina: Hammurabi, 1982.
ZIZEK, S. In defense of lost causes. New York: Verso, 2007.
264