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PROJUDI - Processo: 0008837-57.2021.8.16.0173 - Ref. mov. 202.

2 - Assinado digitalmente por Anielli Crispim Neiva


24/01/2024: JUNTADA DE ACÓRDÃO - RECURSO DE APELAÇÃO. Arq: Acórdão

PROJUDI - Recurso: 0008837-57.2021.8.16.0173 - Ref. mov. 40.1 - Assinado digitalmente por Desembargadora Substituta Angela Regina Ramina de

Documento assinado digitalmente, conforme MP nº 2.200-2/2001, Lei nº 11.419/2006, resolução do Projudi, do TJPR/OE
Lucca
06/09/2023: JUNTADA DE ACÓRDÃO. Arq: Acórdão (Desembargadora Substituta Ângela Regina Ramina de Lucca - 3ª Câmara Criminal)

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TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO PARANÁ
3ª CÂMARA CRIMINAL

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APELAÇÃO CRIME Nº 0008837-57.2021.8.16.0173, DA 1ª VARA
CRIMINAL DA COMARCA DE UMUARAMA/PR

APELANTE: MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ

APELADO: HELBERT LIMA DE JESUS

ÓRGÃO JULGADOR: TERCEIRA CÂMARA CRIMINAL

RELATORA: Desembargadora Substituta ÂNGELA REGINA


RAMINA DE LUCCA (em substituição ao Cargo Vago do
Desembargador PAULO EDISON DE MACEDO PACHECO)

APELAÇÃO CRIMINAL - TRÁFICO DE DROGAS E AMEAÇA (ART. 33,


CAPUT, DA LEI 11.343/2006 C/C ART. 147, CAPUT, DO CÓDIGO
PENAL) - INSURGÊNCIA DO MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO
PARANÁ - SENTENÇA ABSOLUTÓRIA EM RELAÇÃO AO CRIME DE
TRÁFICO DE DROGAS, POR AUSÊNCIA DE PROVA DA
MATERIALIDADE DELITIVA - RECURSO MINISTERIAL VISANDO À
CONDENAÇÃO DO APELADO - LAUDO DE PERÍCIA CRIMINAL QUE
ATESTOU QUANTIDADE DE DROGA SUPERIOR À DO LAUDO DE
CONSTATAÇÃO PROVISÓRIA - TRAMITAÇÃO IRREGULAR NA
ESFERA ADMINISTRATIVA - QUEBRA DA CADEIA DE CUSTÓDIA -
IMPRESTABILIDADE DA FONTE DE PROVA - DÚVIDA RAZOÁVEL
QUANTO À FIABILIDADE DO LAUDO DE PERÍCIA CRIMINAL -
CRIME DE TRÁFICO DE DROGAS QUE DEMANDA A REALIZAÇÃO
DE PERÍCIA DA DROGA APREENDIDA - INTELIGÊNCIA DO ART.
158-A, CAPUT , DO CÓDIGO DE PROCESSO PENAL -
IMPOSSIBILIDADE DE REALIZAÇÃO DE NOVA PERÍCIA – CRIME
QUE DEIXA VESTÍGIOS – IMPRESCINDIBILIDADE DE EXAME
PERICIAL – INVIABILIDADE DE UTILIZAÇÃO DE PROVA
TESTEMUNHAL PARA A COMPROVAÇÃO DA MATERIALIDADE
DELITIVA - PRECEDENTES DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA -
PARECER FAVORÁVEL DA PROCURADORIA GERAL DE JUSTIÇA -
PROJUDI - Processo: 0008837-57.2021.8.16.0173 - Ref. mov. 202.2 - Assinado digitalmente por Anielli Crispim Neiva
24/01/2024: JUNTADA DE ACÓRDÃO - RECURSO DE APELAÇÃO. Arq: Acórdão

PROJUDI - Recurso: 0008837-57.2021.8.16.0173 - Ref. mov. 40.1 - Assinado digitalmente por Desembargadora Substituta Angela Regina Ramina de

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06/09/2023: JUNTADA DE ACÓRDÃO. Arq: Acórdão (Desembargadora Substituta Ângela Regina Ramina de Lucca - 3ª Câmara Criminal)

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MANUTENÇÃO DA ABSOLVIÇÃO QUANTO AO CRIME DE TRÁFICO
DE DROGAS COMO MEDIDA QUE SE IMPÕE. RECURSO

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CONHECIDO E DESPROVIDO.

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VISTOS, relatados e discutidos estes autos de Apelação Crime nº 0008837-57.2021.8.16.0173,
da 1ª Vara Criminal da Comarca de Umuarama/PR, em que é Apelante Ministério Público do
Estado do Paraná e Apelado Helbert Lima de Jesus.

I – RELATÓRIO

Trata-se de recurso de apelação criminal interposto contra a sentença prolatada pela MMª. Juíza
de Direito Substituta Maristela Aparecida Siqueira D’Aviz, da 1ª Vara Criminal da Comarca de
Umuarama/PR, nos autos de processo-crime nº 0008837-57.2021.8.16.0173 (mov. 178.1), que
julgou parcialmente procedente a pretensão punitiva estatal e condenou o acusado Helbert
Lima de Jesus por infração ao artigo 147, caput, do Código Penal e absolveu-o em relação ao
artigo 33, caput, da Lei 11.343/2006, com base no art. 386, III, do Código de Processo Penal.

A pena foi fixada em 2 (dois) meses e 17 (dezessete) dias de detenção, em regime inicial
semiaberto.

A persecução criminal teve como substrato a seguinte descrição fática:

“1º FATO

No dia 03 de agosto de 2021, por volta de 15h00min, no interior da Praça da Bíblia,


bairro Zona I, nesta cidade e comarca de Umuarama/PR, o denunciado HELBERT
LIMA DE JESUS, agindo com consciência e vontade, vendeu, sem autorização e em
desacordo com determinação legal ou regulamentar, substância entorpecente análoga
a crack (substância essa apta a causar dependência física e ou psíquica), disposta na
forma de 1 (uma) pedra, pesando 0,0007 quilograma, a Karina Barbosa do
Nascimento, pelo valor de R$ 50,00 (cinquenta reais), conforme o contido no auto de
prisão em flagrante delito (seq. 1.4), nos termos de depoimento (seqs. 1.5/6, 1.7/8 e 1.9
/10), no auto de exibição e apreensão (seq. 1.13 e 1.20), no auto de constatação
provisória de droga (seqs. 1.15, 1.17 e 1.23) e no boletim de ocorrência n.º 2021
/782687 (seq. 1.16).

2º FATO
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Também no dia 03 de agosto de 2021, em horários não precisados nos autos, mas

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sendo certo que entre 15h00min e 15h29min, a partir do momento em que foi colocado
no camburão, nas proximidades da praça da Bíblia, bairro Zona I, nesta cidade e
comarca de Umuarama/PR, até quando já estava no interior da 7ª Subdivisão Policial

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de Umuarama, localizada na Avenida Rondônia, n. 3299, bairro Zona VII, nesta cidade
e comarca de Umuarama/PR, o denunciado HELBERT LIMA DE JESUS, agindo
com consciência e vontade, ameaçou, por diversas vezes, os Policiais Militares
Jefferson Carlos Ribeiro e Daniel Cardoso Morais, ao dizer-lhes: ‘isso não vai ficar
assim’; ‘eu vou acertar as contas, pois eu sei que não vou ficar preso’; ‘eu vou sair e
vocês, policiais, vão achar o que é seu’, gerando, assim, fundado temor nos ofendidos,
conforme o contido no auto de prisão em flagrante (seq. 1.4), nos termos de
depoimento (seq. 1.5/6 e 1.7/8) e no boletim de ocorrência n. 2021/782687 (seq. 1.16)”
(mov. 50.1)– Destaquei.

A denúncia foi oferecida em 17.08.2021 (mov. 50.1) e recebida em 21.08.2021 (mov. 66.1). O
réu foi pessoalmente citado (mov. 77.2) e apresentou resposta à acusação por intermédio da
Defensoria Pública do Estado do Paraná (mov. 85.1). Ausentes os fundamentos para absolvição
sumária, procedeu-se à instrução criminal (mov. 115.1). Oferecidas as alegações finais pelas
partes (movs. 172.1 e 176.1), sobreveio a sentença proferida em 03.11.2022 (mov. 178.1).

Inconformado com o decisum, apelou a esta Superior Instância o Ministério Público do Estado
do Paraná (mov. 186.1).

Sustentou que há provas tanto da autoria quanto da materialidade do crime de tráfico de drogas,
mormente tendo em vista os depoimentos prestados pelos policiais militares e pela testemunha
Karina Barbosa do Nascimento.

Aduziu que a versão do apelado Helbert Lima de Jesus de que é apenas usuário de drogas e que
as drogas apreendidas eram para seu consumo pessoal está isolada nos autos.

Alegou que “a diferença na pesagem realizada pelos investigadores e pela perícia, foi ínfima
(0,41g), de modo que não é capaz de servir de embasamento para a absolvição do Recorrido
pela ausência de materialidade, uma vez que a droga foi apreendida em posse do Apelado”.

Argumentou que “os recursos utilizados pelos peritos na análise da droga são mais efetivos que
aqueles disponíveis à Polícia Civil, eis que nesta a pesagem é feita em balança não aferida
oficialmente, enquanto naquela a pesagem é exata”, além disso, que a quantidade inicial era
apenas aproximada.
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Requereu a reforma da sentença, para o fim de que o apelado Helbert Lima de Jesus seja

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condenado por infração ao artigo 33, caput, da Lei 11.343/06, em concurso material com o crime
de ameaça, previsto no artigo 147 do Código Penal.

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O sentenciado Helbert Lima de Jesus, nas contrarrazões, manifestou-se pelo conhecimento e
desprovimento da apelação, com a manutenção da sentença condenatória (mov. 199.2).

A d. Procuradoria de Justiça emitiu parecer no mov. 15.1/TJ, opinando pelo conhecimento e


desprovimento do recurso.

Vieram os autos conclusos.

É o relatório.

II – FUNDAMENTAÇÃO

O juízo de admissibilidade do recurso é positivo, uma vez que estão presentes os pressupostos
objetivos (previsão legal, adequação, observância das formalidades legais e tempestividade) e
subjetivos (legitimidade e interesse para recorrer).

Conforme relatado, insurge-se o Ministério Público do Estado do Paraná contra a sentença


proferida, ao argumento de que a materialidade do crime de tráfico de drogas pode ser
comprovada por outros elementos probatórios, notadamente as provas orais angariadas ao longo
da persecução penal, bem como que o Laudo de Perícia Criminal se mostra válido, a despeito da
divergência constatada.

A absolvição do apelado Helbert Lima de Jesus quanto ao delito de tráfico de drogas foi
fundamentada nos seguintes termos:

No caso em comento, ao réu se atribui a conduta de vender substância entorpecente


vulgarmente conhecido como crack, para fins de traficância, ou seja, não destinada ao uso
próprio.
Entretanto, entendo que há dúvida insuperável acerca da materialidade delitiva.
Consoante se infere do Auto de Exibição e Apreensão acostado no mov. 1.13, consta que
foram apreendidas 01 (uma) pedra de substância análoga ao crack, que pesava
aproximadamente 0,7 gramas.
(...)
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A referida quantidade de substância entorpecente, vale dizer, 0,7 (sete) gramas, também é
mencionada no Auto de Constatação Provisória de Droga (mov. 1.15) e no Boletim de

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Ocorrência (mov. 1.16), elaborado por Policiais Civis que assumiram o compromisso de
lavrá-lo.

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(...)
Todavia, o Laudo Definitivo de Exame Toxicológico encartado ao mov. 168.1 atesta a
submissão da quantidade de 1,11 gramas da substância entorpecente conhecida
popularmente como “cocaína” para teste.
(...)
Por questão de zelo, em relação à natureza da droga apreendida, especificamente ao “crack
”, há que se falar na aparente e justificada discrepância entre o resultado do laudo
toxicológico definitivo e do Auto de Constatação Provisória de Droga.
Pericialmente, atestou-se a apreensão de “cocaína”, enquanto nos demais documentos
encartados ao feito sempre se fez referência ao “crack”. Isso porque ambos são extraídos
da planta Eritroxylum coca e compostos de benzoilmetilecgonina, substância-base da
“cocaína” e que, na forma de base livre, é popularmente conhecida como “crack”.
Nesse sentido, não é demais ressaltar que a jurisprudência do egrégio Tribunal de Justiça
do Estado do Paraná tem admitido o reconhecimento do “crack” como a mistura dos
resíduos do refino da planta “Eritroxylum coca” ou “cocaína refinada” com bicarbonato
de sódio e água, em razão dos princípios ativos da “cocaína” estarem presentes em sua
composição.
(...)
Frise-se, por oportuno, que foi submetida a exame pericial quantidade de droga muito
superior àquela, em tese, apreendida em posse do acusado, constante dos documentos que
originaram o presente feito, notadamente do Auto de Exibição e Apreensão e do Auto de
Constatação Provisória de Droga.
Portanto, tem-se que, apesar da identificação distinta acima mencionada, em consonância,
pois, com a imputação constante da denúncia e, consequentemente, na exordial acusatória,
a quantidade descrita no Laudo Toxicológico Definitivo é diversa, ou seja, superior à
própria apreensão.
A respeito do assunto, destaca-se que em caso semelhante o E. Tribunal de Justiça do
Estado do Paraná reconheceu que a divergência de quantidade existente entre o Laudo
Toxicológico e o Auto de Exibição e Apreensão não enseja a absolvição do acusado.
(...)
Ocorre que, no caso sub judice, a quantidade de droga descrita no Laudo Toxicológico
Definitivo é maior do que aquela apreendida no feito e que eventualmente o réu teria
vendido, e não menor (como autoriza a Lei n. 11.343/2006), denotando, portanto, a
incongruência existente no presente feito, no que concerne à comprovação da materialidade
delitiva.
Ainda que fosse possível eventual discrepância, dentro de uma margem de erro admissível,
na pesagem do entorpecente, em virtude, por exemplo, da utilização de balanças distintas,
assim como em razão da possibilidade da desidratação da substância, tornando-a mais leve
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com o passar do tempo, de modo a resultar, portanto, na divergência ora constatada, entre
a quantidade de droga apreendida e a quantidade apontada no laudo pericial, tal hipótese

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não se adequa ao presente feito, notadamente porque a diferença entre elas é demasiada, na
medida em que o laudo definitivo aponta quantidade correspondente a mais do que o dobro

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da que foi apreendida.
Assim sendo, observa-se que não há nos autos prova segura da materialidade do delito em
comento, notadamente em razão da divergência existente no Laudo Toxicológico Definitivo,
em detrimento da quantidade de entorpecente apreendido, bem assim da amostra submetida
a exame pericial, tal como restou descrito nos Autos de Exibição e Apreensão e de
Constatação Provisória.
Desta forma, conquanto existam nos autos elementos indicando a prática do delito de
tráfico de drogas pelo acusado HELBERT LIMA DE JESUS, diante da ausência da prova
técnica hábil a atestar seguramente a materialidade delitiva, imperiosa sua absolvição”
(178.1) - Destaquei.

Por brevidade e tendo em vista a fidedignidade dos dados indicados no parecer, reporto-me ao
relatório efetuado pelo d. Procurador de Justiça Eliezer Gomes da Silva no tocante ao tratamento
da droga apreendida, desde a confecção do Boletim de Ocorrência até a juntada do Laudo de
Perícia Criminal nos autos do processo de origem:

“O auto de exibição e apreensão (mov. 1.20), o auto de constatação provisória da droga


(mov. 1.23), bem com o boletim de ocorrência (mov. 1.16), informam a quantia de 0,7g de
“crack”. Entretanto, no laudo pericial definitivo (mov. 168.1) juntado aos autos, há menção
da quantia de 1,11g de cocaína (substância base do “crack”), ou seja, em quantidade maior
que aquela apreendida. Com efeito, no próprio ofício da autoridade policial encaminhando
o material para exame pericial (mov. 163.3), estranhamente, é feita a referência a
“APROXIMADAMENTE 01 GRAMA DE CRACK apreendido em poder de Helbert Lima de
Jesus”, sem qualquer ressalva em relação à diversidade do peso atestado na apreensão, na
constatação provisória e no ofício em que se remeteu a droga ao Instituto de Criminalística.
A questão, portanto, não se resume a afirmar a coincidência entre o lacre (de n. 26390) do
invólucro em que a droga foi enviada pelo Delegado de Polícia e o lacre (de mesmo
número) mencionado no laudo. O ponto central é saber se há certeza sobre se a droga
apreendida quando da prisão em flagrante, foi, de fato, a mesma droga encaminhada e
periciada. Nesse sentido, reexaminando-se os diversos movimentos dos autos originários,
desde a apreensão da droga, até a juntada do controvertido laudo pericial, não se pode
negar que a tramitação foi anômala, truncada, demorada, suspeita, contexto em que a
apontada divergência (entre a quantidade de droga consignada como apreendida e a
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quantidade de droga examinada no laudo da polícia científica) lança fortes dúvidas de ter
havido real extravio da droga originalmente apreendida e incorreto encaminhamento, para

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perícia, de outra amostra de droga. Vejamos:
Tendo a autoridade policial, em 03/08/2021 (mov. 1.13) lavrado auto atestando a apreensão

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de 0,7 gramas de “crack” (mesma quantidade referida no boletim e ocorrência de mov.
1.16), que teria sido encontrada com Karina Barbosa do Nascimento (que disse – mov. 1.10
– ter adquirido de HELBERT), em 13/08/2021 (mov. 42.1) o Escrivão de Polícia certifica
que “foi realizado o TCIP em desfavor de KARINA BASRBOSA DO NASCIMENTO, e as
drogas foram devidamente encaminhadas para os fins cabíveis naquele procedimento”.
Em 21/08/2021 (mov. 66.1), quando do recebimento da denúncia, o Dr. Juiz de Direito
determinou fosse oficiado ao IC/Curitiba, Setor de Química Forense, requisitando o envio
àquele Juízo de exame toxicológico definitivo da droga apreendida.
Em despacho de 06/10/2021 (mov. 91.1), a Dra. Juíza consta que ainda não havia sido
“encaminhada ou requisitada a realização de laudo toxicológico definitivo)”, razão pela
qual consentiu no envio de quesitos formulados pela defesa na resposta preliminar à
acusação.
Em 12/10/2021 (mov. 103.1), a Secretaria do juízo expede ofício à Polícia Civil
requisitando, com urgência, a elaboração da perícia, com encaminhamento do material
apreendido e quesitos ao instituto competente.
Em 19/10/2021 (110.1), a Escrivã de Polícia reporta-se à certidão elaborada em 13/08
/2021 (mov. 42.1), acima referida, informando que a droga apreendida com KARINA “foi
devidamente encaminhada ao Cartório de Termo Circunstanciado desta Delegacia, ficando
a cargo deste a instauração do procedimento e encaminhamento da droga ao IC de
Curitiba”.
Em 16/11/2021 (mov. 124.1), a Secretaria do juízo expede ofício ao Instituto de
Criminalística, solicitando o encaminhamento do laudo toxicológico na referida droga,
tendo o Instituto de Criminalística (mov. 128.1) respondido não ter localizado requisição de
exame pericial e solicitando comprovante de envio do ofício requisitante, solicitação feita
com a comunicação de mov. 131.1, de 22/01/2022, sem resposta por parte da Polícia Civil.
Em 23/02/2022 (mov. 140.1), o Dr. Promotor de Justiça manifesta-se nos seguintes termos:
Compulsando os autos, verifica-se que o laudo pericial da substância entorpecente
apreendida nos autos ainda não foi enviado pelo Instituto de Criminalística do
Estado, pois ausente o comprovante de recebimento do ofício requisitante, com data,
carimbo e nome do funcionário do Protocolo de Laboratórios Forenses, da Polícia
Científica, que efetuou o recebimento, para realização de nova busca (seq. 128.1).
Instada, por duas vezes, a Autoridade Policial ainda não encaminhou o comprovante
requisitado (seqs. 131 e 135). Por se tratar de ação penal cujo réu está preso, além do
que a instrução processual já se findou, o Ministério Público requer seja novamente
oficiada à Autoridade Policial, requisitando-lhe o comprovante de recebimento do
ofício enviado ao Instituto de Criminalística do Estado, consignando a advertência de
que o descumprimento da requisição poderá implicar na prática do crime de
desobediência.
PROJUDI - Processo: 0008837-57.2021.8.16.0173 - Ref. mov. 202.2 - Assinado digitalmente por Anielli Crispim Neiva
24/01/2024: JUNTADA DE ACÓRDÃO - RECURSO DE APELAÇÃO. Arq: Acórdão

PROJUDI - Recurso: 0008837-57.2021.8.16.0173 - Ref. mov. 40.1 - Assinado digitalmente por Desembargadora Substituta Angela Regina Ramina de

Documento assinado digitalmente, conforme MP nº 2.200-2/2001, Lei nº 11.419/2006, resolução do Projudi, do TJPR/OE
Lucca
06/09/2023: JUNTADA DE ACÓRDÃO. Arq: Acórdão (Desembargadora Substituta Ângela Regina Ramina de Lucca - 3ª Câmara Criminal)

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Não tendo sido juntado o laudo, e permanecendo o acusado preso, a Dra. Juíza (mov.
146.1, de 10/03/2022) houve por bem relaxar a prisão preventiva do acusado e determinar a

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intimação pessoal do Dr. Delegado de Polícia para fornecer informações ao Instituto de
Criminalística, com vistas à entrega do laudo pendente.

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(...)
Somente então, em 30/03/2022 (mov. 162.1), sob ameaça de responsabilização por
desobediência, é juntado ofício da Delegacia de Polícia Civil ao Instituto de Criminalística,
encaminhando a droga (“APROXIMADAMENTE 01 GRAMA DE CRACK”), para
realização do laudo, posteriormente juntado com o movimento 168.1, em 09/06/2022,
quando se atestou a identificação positiva para cocaína na substância examinada (1,11
grama)” (mov. 15.1/TJ) - Destaquei.

É assente o entendimento de que no processo criminal brasileiro, sob a égide do Estado


Democrático de Direito, impera a noção de que as provas colhidas devem ser robustas, positivas
e fundadas em dados concretos que identifiquem tanto a autoria quanto a materialidade, de forma
a assegurar a convicção quanto à solução condenatória, não sendo possível uma condenação
fundada tão somente em indícios e presunções.

É a lição de Adalberto José Camargo Aranha:

“A condenação criminal somente pode surgir diante de uma certeza quanto à


existência do fato punível, da autoria e da culpabilidade do acusado. Uma prova
deficiente, incompleta ou contraditória, gera a dúvida e com ela a obrigatoriedade
da absolvição, pois milita em favor do acionado criminalmente uma presunção
relativa de inocência” (in Da prova no processo penal. 3ª ed. atual. e ampl, p. 64/65, Saraiva
1994) – Destaquei.

No caso em apreço, efetivamente, há dúvida insuperável quanto à fiabilidade do Laudo de Perícia


Criminal - Exame de Substâncias Químicas elaborado pela Polícia Científica do Paraná (mov.
168.1), a qual decorre não apenas do teor do referido documento, mas sobretudo do contexto
evidenciado acima.

Conforme os dados constantes nos autos, em um primeiro momento, a quantidade de droga


registrada nos documentos oficiais - quais sejam, Auto de Exibição e Apreensão (mov. 1.20),
Auto de Constatação Provisória da Droga (mov. 1.23) e Boletim de Ocorrência (mov. 1.16) - era
de 0,7g de crack.
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Lucca
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Porém, no Laudo de Perícia Criminal - Exame de Substâncias Químicas (mov. 168.1), atestou-se

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a realização da perícia em 1,11g de cocaína.

A Lei 11.343/06, no art. 50, § 3º, autoriza expressamente que a quantidade de substância

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registrada no laudo definitivo seja inferior àquela inicialmente apreendida, porquanto
regulamenta que, “Recebida cópia do auto de prisão em flagrante, o juiz, no prazo de 10 (dez) dias,
certificará a regularidade formal do laudo de constatação e determinará a destruição das drogas
apreendidas, guardando-se amostra necessária à realização do laudo definitivo”.

O contrário, contudo, extrapola o disposto na referida Lei e, inclusive, mostra-se ilógico, gerando
incontornável dúvida razoável. Isso porque, ainda que admitida a possibilidade de discrepância
quantitativa, que poderia decorrer da utilização de balanças diversas ou da desidratação da
substância, tal hipótese não ocorreria como no caso dos autos, em que a diferença, além de
considerável, é inversa, visto que a quantidade encaminhada para exame e mencionada no laudo
definitivo é maior do que aquela referida no auto de constatação provisória.

Outrossim, para além da evidente demora no procedimento para a elaboração do exame


toxicológico definitivo (quase 10 meses), conforme consignado pela d. Procuradoria Geral de
Justiça, sua tramitação administrativa foi anômala, irregular e, especialmente, suspeita.

Conforme já mencionado acima, na transcrição do parecer do d. Procurador de Justiça, em mais


de uma oportunidade foi certificado pela Delegacia de Polícia a remessa da droga ao Instituto de
Criminalística, sem que houvesse o recebimento da droga naquele Instituto e quando finalmente
houve o encaminhamento do entorpecente para análise, verificou-se discrepância em relação à
quantidade, evidenciando a quebra de cadeia de custódia e impossibilitando afirmar com certeza
tratar-se da mesma substância apreendida nos autos.

O art. 158-A, caput, do Código de Processo Penal prevê que:

"Art. 158-A. Considera-se cadeia de custódia o conjunto de todos os procedimentos


utilizados para manter e documentar a história cronológica do vestígio coletado em
locais ou em vítimas de crimes, para rastrear sua posse e manuseio a partir de seu
reconhecimento até o descarte".

A cadeia de custódia, por se tratar do procedimento de documentação ininterrupta sobre a fonte


de prova, visa a garantir a autenticidade e a integridade do objeto ou vestígio colhido, de modo a
garantir não apenas que a mesma fonte de prova seja apresentada em Juízo, mas sobretudo que
essa seja íntegra desde a sua colheita, isto é, não esteja maculada por adulterações ou pela
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diminuição de suas características, sob o risco de se tornar prova ilícita (BADARÓ, Gustavo
Henrique. Processo penal. 9. ed. São Paulo: Thomson Reuters Brasil, 2021).

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Ao enfrentar a temática, o Superior Tribunal de Justiça entendeu que:

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PROCESSO PENAL. RECURSO EM HABEAS CORPUS. CRIMES CONTRA AS
RELAÇÕES DE CONSUMO. LEI N. 8.137/1990. RECEPTAÇÃO QUALIFICADA E
ASSOCIAÇÃO CRIMINOSA. TRANCAMENTO DA AÇÃO PENAL.
EXCEPCIONALIDADE. NÃO DEMONSTRAÇÃO DE PLANO DE POSSÍVEL
CONSTRANGIMENTO ILEGAL. INTERCEPTAÇÃO TELEFÔNICA. NULIDADE. NÃO
OCORRÊNCIA. SUCESSIVAS PRORROGAÇÕES. POSSIBILIDADE. PRECEDENTES DO
STJ E DO STF. QUEBRA DA CADEIA DE CUSTÓDIA. RELATÓRIO
CIRCUNSTANCIADO. PRESCINDIBILIDADE. REVOLVIMENTO DA PROVA.
IMPOSSIBILIDADE NA VIA ELEITA. RECURSO NÃO PROVIDO.
(...)
7. A (...) cadeia de custódia tem como objetivo garantir a todos os acusados o devido
processo legal e os recursos a ele inerentes, como a ampla defesa, o contraditório e
principalmente o direito à prova lícita. O instituto abrange todo o caminho que deve ser
percorrido pela prova até sua análise pelo magistrado, sendo certo que qualquer
interferência durante o trâmite processual pode resultar na sua imprestabilidade.
(...)
(RHC n. 77.836/PA, relator Ministro Ribeiro Dantas, Quinta Turma, julgado em 5/2/2019, DJe
de 12/2/2019.) – Destaquei.

No mesmo sentido, impende citar as primorosas considerações de Geraldo Prado:

“A quebra da cadeia de custódia - "break on the chain of custody" - torna


inadmissível o produto da atividade probatória, quer se trate de meio ou de fonte de
prova. O que parece uma medida meramente protocolar, consistente em relacionar e em
apor lacres aos objetos da apreensão, em realidade consiste em garantia de fiabilidade
da prova.
Com efeito, a autenticidade dos mencionados elementos probatórios depende da
concreta demonstração de que os bens de onde provêm as informações que se pretende
valorar como prova, são os mesmos, integralmente, que foram apreendidos.
A verificabilidade do meio probatório, que consiste em uma das funções do
contraditório, apenas é viável se for possível determinar a integridade das fontes de
prova. Esse é o papel do princípio da «mesmidade».
(...)
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Ao ser quebrada a cadeia de custódia da prova há em regra prejuízo à comprovação e
/ou refutação dos elementos informativos, requisito de verificação dos fatos penalmente

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relevantes. Com isso, os elementos apreendidos não podem ser empregados
validamente como fonte ou meio de prova. Traduzem-se em prova ilícita” (InA cadeia

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de custódia da prova no processo penal. São Paulo: Editora Marcial Pons, 2019. p. 216-217) –
Destaquei.

Diante disso, ao contrário do que sustenta o Ministério Público, as circunstâncias evidenciadas


acima não permitem que se confira ao Laudo de Perícia Criminal a fiabilidade necessária à
comprovação da materialidade delitiva, haja vista a tramitação irregular do seu procedimento de
confecção e a manifesta divergência quantitativa, os quais resultam na imprestabilidade da
respectiva fonte de prova, em virtude da quebra da cadeia de custódia.

No mesmo sentido foi a manifestação da d. Procuradoria de Justiça:

“A questão, portanto, não se resume a afirmar a coincidência entre o lacre (de n.


26390) do invólucro em que a droga foi enviada pelo Delegado de Polícia e o lacre (de
mesmo número) mencionado no laudo. O ponto central é saber se há certeza sobre se a
droga apreendida quando da prisão em flagrante, foi, de fato, a mesma droga
encaminhada e periciada. Nesse sentido, reexaminando-se os diversos movimentos dos
autos originários, desde a apreensão da droga, até a juntada do controvertido laudo
pericial, não se pode negar que a tramitação foi anômala, truncada, demorada,
suspeita, contexto em que a apontada divergência (entre a quantidade de droga
consignada como apreendida e a quantidade de droga examinada no laudo da polícia
científica) lança fortes dúvidas de ter havido real extravio da droga originalmente
apreendida e incorreto encaminhamento, para perícia, de outra amostra de droga.
(...)
Em suma, embora a legislação preveja que se encaminhe à perícia apenas parte do
material apreendido, reservando a outra parte para eventual contraprova (artigos 50, §
3º, 50-A e 72 da Lei 11.343/2006), de modo que, em regra, a amostra periciada tende a
ser menor que a amostra apreendida, se o contrário ocorre (perícia em 1,1 g, e não 0,7
g, como consta nos autos de apreensão e de constatação provisória) e se houve
inexplicável demora no encaminhamento do material para perícia (1 ano e 5 meses),
ainda assim em quantidade significativamente diversa, a maior, sem qualquer ressalva
da autoridade policial, incensurável se revela a solução absolutória empreendida pelo
juízo de 1º grau, por quebra de cadeia de custódia e consequente nulidade da prova de
materialidade do crime, ante a fundada suspeita de que a droga pericia pode não
corresponder à droga apreendida, eventualmente extraviada.
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Não há do que divergir da Dra. Juíza quando concluiu que “conquanto existam nos
autos elementos indicando a prática do delito de tráfico de drogas pelo acusado

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HELBERT LIMA DE JESUS, diante da ausência de prova técnica hábil a atestar
seguramente a materialidade delitiva, imperiosa sua absolvição” (p. 8 da sentença de

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mov. 178.1)” (mov. 15.1) – Destaquei.

O art. 158, caput, do Código de Processo Penal disciplina que:

"Art. 158. Quando a infração deixar vestígios, será indispensável o exame de corpo de
delito, direto ou indireto, não podendo supri-lo a confissão do acusado".

A jurisprudência pátria está consolidada no sentido de que, na hipótese de crime que deixe
vestígios, a realização no exame de corpo de delito é imprescindível, não podendo a
materialidade delitiva ser comprovada por outros meios, à exceção dos casos em que os vestígios
tenham desaparecido, situação em que outras provas, como a testemunhal, podem suprir a
exigência do exame, nos termos do art. 167 do mesmo diploma legal.

Todavia, o referido desaparecimento não deve decorrer de circunstâncias imputáveis aos órgãos
da persecução penal, isto é, não podem ser resultado de eventual desídia estatal.

É o entendimento do Superior Tribunal de Justiça:

PENAL. AGRAVO REGIMENTAL NO HABEAS CORPUS. FURTO QUALIFICADO.


DOSIMETRIA. CONFISSÃO NÃO UTILIZADA NO DECRETO CONDENATÓRIO.
CONSTRANGIMENTO ILEGAL NÃO EVIDENCIADO. VIOLAÇÃO DO ART. 158 DO CPP.
CONSTRANGIMENTO ILEGAL NÃO EVIDENCIADO. AGRAVO DESPROVIDO.
(...)
IV - A jurisprudência deste Tribunal Superior é assente no sentido de que o exame de
corpo de delito é indispensável nas infrações que deixam vestígios, de modo que, somente
nos casos de desaparecimento dos elementos probatórios, a perícia poderá ser suprida pela
prova testemunhal. Destarte, se era possível a realização da perícia, mas esta não ocorreu, a
prova testemunhal e o boletim de ocorrência não suprem a sua ausência, nos termos do art.
158, do Estatuto Repressivo.
(...)
Agravo regimental desprovido.
(AgRg no HC n. 628.940/MS, relator Ministro Felix Fischer, Quinta Turma, julgado em 30/3
/2021, DJe de 9/4/2021.) – Destaquei.
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PENAL E PROCESSO PENAL. AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL.
FURTO. QUALIFICADORA DO ROMPIMENTO DE OBSTÁCULO.

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IMPRESCINDIBILIDADE DE PERÍCIA. PRECEDENTES. AGRAVO REGIMENTAL A
QUE SE NEGA PROVIMENTO.
1. Mostra-se necessária a realização do exame técnico-científico para qualificação do crime ou
mesmo para sua tipificação, pois o exame de corpo de delito direto é imprescindível nas
infrações que deixam vestígios, podendo apenas ser suprido pela prova testemunhal quando não
puderem ser mais colhidos. Logo, se era possível a realização da perícia, e esta não ocorreu
de acordo com as normas pertinentes (art. 159 do CPP), a prova testemunhal e o exame
indireto não suprem a sua ausência.
2. Diante da desídia estatal, não se mostra plausível a substituição do exame pericial por
dados coletados nos depoimentos testemunhais, confissões ou fotos, não sendo este
argumento idôneo para substituir a prova técnica.
3. Agravo regimental a que se nega provimento.
(AgRg no AREsp n. 558.432/DF, relatora Ministra Maria Thereza de Assis Moura, Sexta Turma,
julgado em 7/10/2014, DJe de 20/10/2014.) – Destaquei.

No mesmo sentido orienta-se a doutrina. Conforme a lição de Aury Lopes Junior:

“Como muito bem sintetizou HASSAN CHOUKR, cuja lição deve ser transcrita
literalmente por representar exatamente o que pensamos, ‘deve ficar claro que a
impossibilidade da realização do exame há de ser compreendida apenas pela
inexistência de base material para a realização direta, a dizer, quando o exame não é
realizado no momento oportuno pela desídia do Estado, ou sua realização é
imprestável pela falta de aptidão técnica dos operadores encarregados de fazê-lo, não
há que onerar o réu com uma prova indireta em vez daquela que poderia ter sido
imediatamente realizada’ (grifo nosso).
Não deve ser admitida a banalização do exame indireto. Assim, quando a infração
deixar vestígios, sendo perfeitamente possível fazer o exame, a prova testemunhal não
pode suprir sua falta sob pena de nulidade (art. 564, III, “b”).
(...)
Por fim, existem crimes em que, por sua própria natureza, não se pode admitir o
exame indireto, em nenhuma hipótese. E isso não tem absolutamente nenhuma relação
com a gravidade do crime, mas sim com sua natureza e o corpus delicti que o
constituem.
É o que ocorre, por exemplo, nos delitos envolvendo substâncias entorpecentes. Não é
razoável um juízo condenatório pelo delito de tráfico de drogas sem o exame direto
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que comprove a natureza da substância(por exemplo, o princípio ativo
tetrahidrocanabinol – THC – no caso da maconha). Não bastam fotos ou depoimentos

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dizendo que a substância transportada, por exemplo, tinha cheiro e aspecto de
maconha, e que, portanto, era maconha... A questão é técnica, exige o exame químico,

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sendo imprescindível o exame direto para verificar o princípio ativo” (In Direito
Processual Penal. 20. ed. São Paulo: SaraivaJur, 2023. E-book) –- Destaquei.

É também o escólio de Guilherme de Souza Nucci:

“Se o crime deixa vestígios materiais, a lei impõe a realização de perícia. Caso esta não
seja feita, pode ser suprida a sua falta por testemunhas (corpo de delito indireto),
conforme preceitua o art. 167 do CPP. No entanto, somente se admite a prova
testemunhal em lugar da pericial, caso o próprio agente do crime tenha atuado para o
desaparecimento dos vestígios. Quando estes sumirem por desídia do Estado ou da
vítima, não se supre por prova testemunhal o laudo pericial” (In Curso de direito
processual penal. 20. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2023. E-book) – Destaquei.

Tecidas tais considerações, na medida em que o Laudo de Perícia Criminal (mov. 162.1) não se
presta a comprovar a materialidade do crime e que as drogas submetidas à perícia igualmente não
podem ser utilizadas, não subsistem nos autos vestígios passíveis de realização de novo exame
pericial.

E mais, considerando que as inconsistências acima referidas decorreram unicamente da atuação


dos órgãos da persecução penal, os depoimentos prestados pelas testemunhas não podem suprir a
exigência do art. 158, caput, do Código de Processo Penal.

Sendo assim, não havendo prova da materialidade delitiva, a sentença proferida não merece
reforma, devendo ser mantida a absolvição do apelado Helbert Lima de Jesus em relação ao
crime previsto no artigo 33, caput, da Lei 11.343/06, com fundamento no art. 386, III, do Código
de Processo Penal.

Pelos fundamentos expostos, voto no sentido de conhecer e negar provimento ao recurso


interposto pelo Ministério Público do Estado do Paraná, mantendo a absolvição do apelado
Helbert Lima de Jesus em relação ao crime previsto no artigo 33, caput, da Lei 11.343/06.
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III - DECISÃO

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ACORDAM os Magistrados integrantes da 3ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do

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Estado do Paraná, por unanimidade de votos, em conhecer e negar provimento à apelação
crime, nos termos da fundamentação da Relatora.

O julgamento foi presidido pelo Desembargador José Carlos Dalacqua, com voto, e dele
participaram Desembargadora Substituta Ângela Regina Ramina de Lucca (relatora) e
Desembargador Substituto Benjamim Acácio de Moura e Costa.

Curitiba, 1º de setembro de 2023.

(assinatura digital)

Ângela Regina Ramina de Lucca

Desembargadora Substituta

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