PROJUDI - Processo: 0004165-91.2022.8.16.0101 - Ref. mov. 19.

1 - Assinado digitalmente por Marco Felipe Torres Castello:02394846143

03/08/2023: JUNTADA DE MANIFESTAÇÃO DA PARTE. Arq: Petição Inicial

Documento assinado digitalmente, conforme MP nº 2.200-2/2001, Lei nº 11.419/2006, resolução do Projudi, do TJPR/OE
Validação deste em https://projudi.tjpr.jus.br/projudi/ - Identificador: PJ5JE 9TN7W 37GFJ 4ZVAB
1ª Promotoria de Justiça da Comarca de Jandaia do Sul (PR)

AO JUÍZO DA VARA CRIMINAL DA COMARCA DE JANDAIA DO SUL –

ESTADO DO PARANÁ

URGENTE
SIGILOSO

Inquérito Policial n. 0004165-91.2022.8.16.0101

O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ, por meio do

Promotor de Justiça que a esta subscreve, vem, com fulcro no artigo 129, I, da Constituição
da República, artigo 25, III, da Lei n. 8625/93, art. 12 da Convenção da ONU sobre Direito
da Criança (Decreto 99.710/90), Resolução 299/2019 do CNJ, art. 156, I, do CPP e art. 11
da Lei 13.431/17, e com base no Inquérito Policial registrado no Sistema Projudi sob o n.
0004165-91.2022.8.16.0101, oriundo da Delegacia de Polícia Civil da cidade de Jandaia do
Sul/PR, vem à presença de Vossa Excelência propor

AÇÃO CAUTELAR DE PRODUÇÃO ANTECIPADA DE PROVA

Em face de ANA BEATRIZ RODRIGUES, brasileira, solteira,

desempregada, RG 14.019.472-7/PR e CPF 111.467.319-65, natural de São João do Ivaí
(PR), nascida em 25/12/2022 (com 19 anos de idade na época dos fatos), filha de Ana
Maria Rodrigues, com endereço na Rua Pastor João Marcondes n. 50, Vila Santo Antônio,
Jandaia do Sul (PR) (mov. 11.4), em razão dos fatos e fundamentos a seguir expostos:
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I – FATOS

O inquérito policial n. 0004165-91.2022.8.16.0101 foi instaurado em

razão de possível conduta prevista nos artigos 217-A, caput, do Código Penal, perpetrada
por ANA BEATRIZ RODRIGUES em desfavor de STEFANY CRISTINA DOS
SANTOS BRANCO, à época com 11 anos de idade, nascida em 24/09/2010. Os fatos
supostamente teriam ocorrido até 16/08/2022.
Segundo o boletim de ocorrência nº 2022/848468 (mov. 1.2), a genitora
da vítima, Senhora Cristiana Aparecida dos Santos relatou que a investigada ANA
BEATRIZ tem 19 anos de idade e que ela vai atrás de Stefany. Salientou que Ana já
mandou mensagens de celular para Stefany para que namorasse com ela, que tem 19 anos.
A Stefany diz que já quis namorar Ana Beatriz, porque ela gosta de menina. Um Senhora,
chamada Rosa, segundo a mãe da infante, disse que já viu Ana beijar Stefany.
Ana Beatriz foi ouvida no interrogatório de mov. 11.4, negando os fatos.
Disse que já foi na frente do colégio da vítima levar apenas um urso, mas que nunca
namorou ou quis namorar Stefany.
É o relatório.

II – FUNDAMENTAÇÃO
Para dirimir de forma escorreita o panorama em apreço e apurar
corretamente a autoria do delito de estupro de vulnerável, faz-se necessária a oitiva da
vítima STEFANY CRISTINA DOS SANTOS BRANCO (nascida em 24/09/2010,
atualmente com 12 anos de idade), a qual, todavia, não deverá ocorrer junto a Polícia Civil,
mas sim em Juízo, por profissional capacitado e a título de prova cautelar antecipada.
Isso porque a tomada de depoimento especial de criança/adolescente tem
se mostrado efetiva e salutar, tanto para o resguardo desta, minimizando ou afastando a
produção de danos secundários, quanto ao completo esclarecimento do caso noticiado.

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A uma, com a coleta do relato da criança/adolescente, tem-se a

possibilidade de facilitação do resgate na memória dos fatos e de seu contexto e
circunstâncias.
A duas, o relato da criança/adolescente tomado, reúne-se, no mais das
vezes, relevante parte dos elementos necessários ao esclarecimento do caso, quer para
autorizar a persecução penal, quer para se for o caso, dirimir suspeita, evitando-se eventuais
desgastes trazidos com o passar do tempo.
Consoante o Código de Processo Penal, compete ao Juiz determinar a
produção antecipada da prova considerada urgente e relevante, mesmo antes do início da
ação penal, conforme critérios de necessidade, adequação e proporcionalidade:

Art. 156. A prova da alegação incumbirá a quem a fizer, sendo, porém,

facultado ao juiz de ofício:
I – ordenar, mesmo antes de iniciada a ação penal, a produção antecipada
de provas consideradas urgentes e relevantes, observando a necessidade,
adequação e proporcionalidade da medida;
II – determinar, no curso da instrução, ou antes de proferir sentença, a
realização de diligências para dirimir dúvida sobre ponto relevante.

A urgência do caso reside em evitar os nefastos efeitos do tempo sobre a

prova que depende da memória de pessoa, no caso, a declaração da vítima.
Ademais, esta deve ser ao máximo preservada, tendo em vista os graves
danos de ordem psicológica causados, e a protelação do momento da produção da prova
acaba reavivando os atos na mente da ofendida, causando-lhe dores, sofrimentos e
angústias que poderiam ser facilmente evitados se adotados os procedimentos legais que
existem justamente para proteger as vítimas, mormente em se tratando de
criança/adolescente, tudo em nome da dignidade da pessoa humana.
Sobre a relevância, não se mostram necessárias maiores delongas para
demonstrar sua presença, tendo em vista que se trata da oitiva de vítima de violência sexual,

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casos em que a palavra desta assume especial valor, em virtude de serem cometidos, via de
regra, na clandestinidade.
Ademais, a oitiva nos moldes pretendidos respeitará as novas disposições
acerca da oitiva de crianças e adolescentes vítimas de violência trazidas pela Lei nº
13.431/17. A propósito:

Art. 11. O depoimento especial reger-se-á por protocolos e, sempre que

possível, será realizado uma única vez, em sede de produção antecipada
de prova judicial, garantida a ampla defesa do investigado.

Art. 12. O depoimento especial será colhido conforme o seguinte

procedimento:
I - os profissionais especializados esclarecerão a criança ou o adolescente
sobre a tomada do depoimento especial, informando-lhe os seus direitos e
os procedimentos a serem adotados e planejando sua participação, sendo
vedada a leitura da denúncia ou de outras peças processuais;
II - é assegurada à criança ou ao adolescente a livre narrativa sobre a
situação de violência, podendo o profissional especializado intervir
quando necessário, utilizando técnicas que permitam a elucidação dos
fatos;
III - no curso do processo judicial, o depoimento especial será transmitido
em tempo real para a sala de audiência, preservado o sigilo;
IV - findo o procedimento previsto no inciso II deste artigo, o juiz, após
consultar o Ministério Público, o defensor e os assistentes técnicos,
avaliará a pertinência de perguntas complementares, organizadas em
bloco;
V - o profissional especializado poderá adaptar as perguntas à linguagem
de melhor compreensão da criança ou do adolescente; VI - o depoimento
especial será gravado em áudio e vídeo.

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Além do depoimento especial, a Lei nº 13.431/17 não veda a realização

de outros meios de prova, desde que respeitada a condição da vítima e que se evite sua
revitimização, sendo, portanto, possível a realização também de perícia psicológica1.
Nesse cenário, visando regulamentar os procedimentos afetos ao
depoimento especial no Poder Judiciário, o Tribunal de Justiça do Estado do Paraná editou
o Provimento nº 287, por meio do qual estabeleceu diversas questões a serem observadas,
dentre elas, que o profissional especializado a serviço do Juízo indicará o procedimento a
ser adotado no caso concreto, qual seja, depoimento especial ou perícia técnica:

Art. 18. O Magistrado, ao receber a representação ministerial, determinará

a realização de avaliação preliminar do caso pelo profissional
especializado a serviço do Juízo.
I - O entrevistador responsável por executar o depoimento especial deve
comprovar capacitação para realizar o procedimento, a qual deve ser
reconhecida pelo Tribunal de Justiça.
II - Na inexistência de profissional especializado na equipe do Poder
Judiciário, será nomeado, pelo Juízo, profissional capacitado que não
realize outros atendimentos ao suposto agressor, à suposta vítima ou às
respectivas famílias.
III - O profissional especializado responsável pelo acompanhamento
do procedimento da vítima ou da testemunha no processo judicial,
seja regular ou em ação de produção antecipada de provas, indicará o
procedimento que será adotado: depoimento especial ou perícia
técnica.

Destarte, como sentinelas dos direitos fundamentais, ao Ministério

Público e ao Poder Judiciário incumbem dar-lhes efetividade, emprestando a devida tutela.

1Nota Técnica nº 01/2021. CAOP da Criança, do Adolescente e da Educação – Ministério Público do Estado
do Paraná. Escuta especializada e depoimento especial – Lei 13.431/2017. Disponível em:
<https://crianca.mppr.mp.br/arquivos/File/depoimento_especial/Nota_Tecnica_13_431_17.pdf>. Acesso em
13/12/2021.
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III – PEDIDO

Ante o exposto, o Ministério Público requer:

a) seja determinada liminarmente a produção antecipada de prova

consistente na colheita de declarações da vítima STEFANY CRISTINA DOS SANTOS
BRANCO, residente na Rua Londrina n. 55, Jardim Santa Helena III, Jandaia do Sul (PR),
por depoimento especial ou perícia técnica, a ser realizado nos termos da respectiva
legislação, consoante a Lei nº 13.431/17 e o Provimento nº 287 do Tribunal de Justiça do
Estado do Paraná;
b) a designação prioritária e urgente de data para a realização do ato, com
as cautelas de praxe;
c) a citação da implicada ANA BEATRIZ RODRIGUES para constituir
defensor e, caso assim não proceda, seja nomeado advogado dativo pelo Juízo;
d) no mérito, a confirmação da liminar pleiteada, homologando a prova
colhida para todos os efeitos ulteriores.
e) a decretação de segredo de justiça no processamento do feito, nos
termos do art. 234-B, caput, do Código Penal.

Jandaia do Sul (PR), 03 de agosto de 2023.

MARCO FELIPE TORRES CASTELLO

Promotor de Justiça

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