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EXCELENTÍSSIMA SENHORA DOUTORA JUÍZA DE DIREITO DA 2ª VARA


CRIMINAL DA COMARCA DE SOROCABA (SP).

Este documento foi protocolado em 13/11/2015 às 16:21, é cópia do original assinado digitalmente por Tribunal de Justica Sao Paulo e DANIEL PAULO FONTANA BRAGAGNOLLO.
Autos nº 1021956-73.2015.8.26.0602

Para conferir o original, acesse o site https://esaj.tjsp.jus.br/esaj, informe o processo 1021956-73.2015.8.26.0602 e código A1D2BC.
ULISSES FREITAS DOS SANTOS, nos autos da ação

penal em epígrafe, vem, por seus advogados, respeitosamente à presença de Vossa

Excelência, nos termos do artigo 514 do Código de Processo Penal, oferecer sua

defesa preliminar, pelos motivos de fato e de direito adiante articulados.

I – DA INCOMPETÊNCIA TERRITORIAL.

1. A presente investigação iniciou-se de um

Procedimento Investigatório Criminal do Grupo de Atuação Especial de

Repressão à Formação de Cartel e à Lavagem de Dinheiro e de Recuperação de

Ativos (GEDEC), de São Paulo/SP – o PIC nº 5/2015 (fls. 23/27).

1.1. Após a realização de algumas diligências

investigativas, os ii. promotores do GEDEC formularam representações à

Autoridade Judiciária, requerendo, em sede cautelar, medidas de busca e

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apreensão (apenso nº 0056915-94.2015.8.26.0050), de prisão temporária (apenso nº

0056479-38.2015.8.26.0050) e de suspensão de sigilos financeiro e fiscal (apenso nº

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0059261-18.2015.8.26.0050).

1.2. Tais pedidos foram, inicialmente,

endereçados ao MM. Juiz do Departamento de Inquéritos Policiais e da

Corregedoria da Polícia Judiciária (DIPO) de São Paulo/SP. No entanto, o d.

Magistrado declinou da competência, entendendo que “não há quaisquer elementos

que indiquem ter ocorrido o crime em São Paulo, já que se trata de crime formal ou de

consumação antecipada, tratando-se pois o recebimento da vantagem ilícita de mero

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exaurimento do delito” (apenso nº 0056479-38.2015.8.26.0050 – fls. 243).

1.3. E conclui:

“considerando que a empresa vítima PRYSMIAN,

principalmente mencionada nas representações, está

sediada a Comarca de Sorocaba, bem como, existem

fiscais de rendas investigados também lotados naquela

cidade que, à toda evidência, ali realizaram exigências

de vantagem ilícita, aquele deve ser o juízo competente

para apreciar as medidas cautelares pleiteadas” (apenso

nº 0056479-38.2015.8.26.0050 – fls. 243/244).

1.4. As representações foram, então, remetidas

a este d. Juízo, que não apenas as recebeu como as deferiu – dando início à fase

ostensiva da chamada “Operação Zinabre” (apenso nº 0056915-94.2015.8.26.0050 –

fls. 300/301; apenso nº 0056479-38.2015.8.26.0050 – fls. 248/250; e apenso nº

0059261-18.2015.8.26.0050 – fls. 270/273).

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1.5. Ocorre, todavia, que não se pode aquiescer

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com o entendimento exarado pelo MM. Juiz do DIPO de São Paulo – ou, pelo

menos, com todo ele.

1.6. É que não se discorda do d. Magistrado no

que diz respeito ao momento de consumação do delito imputado ao Requerente:

de fato, trata-se, como bem colocado pela Autoridade Judiciária, de “crime formal

ou de consumação antecipada” (apenso nº 0056479-38.2015.8.26.0050 – fls. 243).

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1.7. Não é outra, aliás, a posição da mais
abalizada doutrina: LUIS RÉGIS PRADO, a esse respeito, anota que “a consumação

na modalidade exigir ocorre com a simples exigência da vantagem indevida, sendo que sua

obtenção constitui mero exaurimento do crime”.1

1.8. Na verdade, o raciocínio do d. Magistrado

merece reparo apenas em seu segundo momento – quando se refere ao local da

consumação dos delitos.

1.9. É que, em primeiro lugar, pouco importa,

para fins de fixação de competência, o endereço da sede da empresa que se


autointitula “vítima” do caso dos autos, já que, nos termos do artigo 69 do

Código de Processo Penal, a competência NÃO é fixada em razão do domicílio


da vítima.2

1 PRADO, Luiz Régis. Tratado de Direito Penal Brasileiro. Vol. 8. São Paulo: Revista dos Tribunais,
2014, p. 350.
2 “Art. 69. Determinará a competência jurisdicional: I – o lugar da infração; II – o domicílio ou

residência do réu; III – a natureza da infração; IV – a distribuição; V – a conexão ou continência; VI


– a prevenção; VII – a prerrogativa de função”.

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1.10. Em segundo lugar, contrariamente ao que

afirma a n. Autoridade Judiciária, as supostas exigências de vantagens ilícitas

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NÃO ocorreram em Sorocaba!!

Vejamos.

2. A primeira conduta narrada na denúncia trata

de alegada “extorsão” dos representantes da PRYSMIAN em função de Ordem de

Serviço expedida em 09 de novembro de 2005, para a unidade de Jacareí daquela

empresa.

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2.1. As supostas exigências de vantagem ilícita,

todavia, não se deram na sede da empresa – e, muito menos, em Sorocaba.

2.2. Confira-se: ao relatar a dinâmica dos fatos,

a peça acusatória é de clareza solar ao descrever o local onde teriam ocorrido tais

reivindicações – que, nesse caso, eram feitas sempre por intermédio da advogada

SILVANA MANCINI:

“a advogada já foi instada a encontra-los em locais

distantes da empresa, como RESTAURANTES DE

SHOPPING CENTERS DA CAPITAL E DE


GUARULHOS, o que evidenciou a colocação do plano

ilícito em prática.

Nesses encontros, Silvana, juntamente com o seu então

marido e advogado, Daniel Sahagoff, ouviram dos

acusados, OSVALDO e JOSÉ ANTÔNIO, novas

ameaças sobre a lavratura de um AIIM com valores

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astronômicos. Logo em seguida e, finalmente, os

imputados exigiram da Prysmian, em razão de seus

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cargos, por intermédio de Silvana e Daniel, o

pagamento de vantagem financeira indevida para que

o Auto de Infração não fosse lavrado ou o tributo não


fosse cobrado inteiramente” (fls. 4/5).

2.3. Para que não restem dúvidas, basta ver as

declarações da própria SILVANA:

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“os encontros com os AFRs aconteciam em

RESTAURANTES DA CAPITAL DE SÃO PAULO,


também no SHOPPING DE GUARULHOS” (fls. 230).

2.4. E, ainda, as de DANIEL SAHAGOFF, que

também atuava, ao que parece, como “intermediário” das negociações:

“SILVANA foi conversar com os fiscais num

restaurante num SHOPPING DE GUARULHOS, local


escolhido pelos fiscais” (fls. 243).

2.5. Já a segunda conduta narrada pela denúncia

se refere à alegada exigência de “propina” em função da abertura de Ordem de

Serviço de Fiscalização para a PRYSMIAN de Sorocaba, em 22 de novembro de

2006.

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2.6. O local da exigência dessa vantagem ilícita

também aqui é descrito com inegável nitidez pelos próprios ii. representantes do

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parquet. Veja-se:

“JOSÉ ROBERTO e EDUARDO encontraram com os

advogados Silvana e Daniel, por várias vezes, NO

RESTAURANTE RANCHO 53, SITUADO NA

RODOVIA CASTELO BRANCO KM 53, EM SÃO


ROQUE, nas proximidades de Sorocaba, local onde

fizeram a grave ameaça da lavratura de um AIIM em

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valores altos, e exigiram o pagamento de R$
1.500.000,00” (fls. 6).

2.7. Também nesse caso são bastante

esclarecedoras as declarações de SILVANA e DANIEL:

“...a declarante esteve com DANIEL e os AFRs,

FERNANDO e EDUARDO, num restaurante

português na Rodovia Castelo Branco. (...) Os AFRs

disseram claramente que se houvesse pagamento de

propina, num percentual do AIIM, a fiscalização seria


encerrada” (declarações de SILVANA – fls. 231).

“Encontrou com FERNANDES num restaurante

português, Rancho 53, na Rodovia Castelo Branco. (...)

FERNANDES disse que iria fazer um AIIM enorme e

pediu cerca de R$ 1.500.00,00 em moeda brasileira, não


podia ser dólar” (declarações de DANIEL – fls. 244).

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2.8. Com relação à terceira e quarta condutas

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narradas, nem a denúncia (fls. 1/17), nem o seu aditamento (fls. 1654/1658)

oferecem pistas sobre o local de sua consumação – e nem há elementos nos autos

que autorizem qualquer conclusão nesse sentido.

2.9. Já sobre a quinta conduta narrada na

denúncia – que se concentra na Ordem de Serviço de Fiscalização apresentada aos

representantes da PRYSMIAN de Santo André, em junho de 2010 –, não paira

qualquer dúvida: os ii. parquetiers são taxativos ao afirmar que:

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“a exigência de propina e a negociação foram feitas na

CHURRASCARIA ESTRELA DO SUL, ZONA

NORTE DA CAPITAL DE SÃO PAULO, PRÓXIMA

DO SHOPPING CENTER NORTE; também no

RESTAURANTE LA PAILLOTE, BAIRRO


IPIRANGA, CAPITAL; e no RESTAURANTE

BACALHAU E VINHO VERDE, EM SÃO


BERNARDO DO CAMPO” (fls. 10/11).

2.10. Tamanha precisão na localização sequer

admite questionamentos, mas, em todo caso, as declarações prestadas por

DANIEL vêm a calhar:

“Foi lhe passado o telefone celular de ANANIAS, o

declarante marcou um encontro com ele, no restaurante

La Paillote no Ipiranga, que se encontrava sozinho.

ANANIAS disse que iria autuar a PRYSMIAN em

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torno de R$ 5 milhões. Exigiu o pagamento de R$


1.200.000,00 em duas parcelas de R$ 600 mil, com

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diferença de seis meses de uma para outra.” (fls. 246).

2.11. E, para complementar, a “delação” do fiscal

ANANIAS JOSÉ NASCIMENTO:

“Os encontros foram na churrascaria já citada

[Churrascaria Estrela, na frente do Campo da

Portuguesa, na Marginal Tietê, em São Paulo], no

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Restaurante La Paillote, no Ipiranga, na Av. Nazaré, e
no Restaurante Bacalhau e Vinho Verde.” (fls.

1018/1019).

2.12. Para descrever os locais de consumação da

sexta conduta contida na denúncia – relacionada a novas Ordens de Serviços de

Fiscalizações para a fábrica da PRYSMIAN em Sorocaba, em abril de 2010, maio

de 2010 e abril de 2011 –, o i. parquet saiu-se com um lacônico “sempre nos mesmos

locais para as reuniões com Silvana e Daniel...” (fls. 12).

2.13. No entanto, a peça acusatória, a essa

altura, já faz menção a quase uma dezena de localidades diferentes – sendo

impossível, portanto, adivinhar a qual delas a expressão “mesmos locais” faz

referência...

2.14. Por fim, a sétima – e derradeira – conduta

descrita na exordial acusatória refere-se à Ordem de Serviço de Fiscalização aberta

em 23 de setembro de 2013, para a unidade da PRYSMIAN de Santo André.

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2.15. Neste caso, a denúncia não deixa

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nenhuma margem à dúvida ao afirmar que:

“DIONÍZIO, com a ajuda de ANANIAS, entrou em

contato telefônico com o advogado Daniel e reuniram-

se para almoçar no RESTAURANTE BACALHAU E

VINHO VERDE, EM SÃO BERNARDO DO CAMPO;

negociaram o valor da exigência ilícita, sob pena de a


Prysmian ser autuada pelo Fisco Estadual” (fls. 13).

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2.16. Inequívoca é, nesse sentido, também, a

“delação” de ANANIAS, que assim descreve:

“O Declarante marcou um almoço com DANIEL e

DIONÍSIO foi junto. Ficou combinado no almoço, que

ocorreu no Restaurante Bacalhau e Vinho Verde, em

São Bernardo do Campo, que DIONÍSIO e DANIEL

conversariam para estabelecer como se daria a

fiscalização. DANIEL perguntou a DIONÍSIO se a

porcentagem dele seria mesmo de 10%. Foi dito para

DANIEL que a parte dele seria sempre a mesma.” (fls.

1020).

2.17. Trocando em miúdos: a primeira conduta

descrita na inicial consumou-se, em tese, em SÃO PAULO e GUARULHOS; a


segunda, em SÃO ROQUE; a quinta, em SÃO PAULO e SÃO BERNARDO DO

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CAMPO; e, por fim, a sétima, em SÃO BERNARDO DO CAMPO. Para a

terceira, quarta e sexta condutas, o local é desconhecido ou não pode ser identificado.

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2.18. Ou seja: NENHUMA CONDUTA
FOI PRATICADA EM SOROCABA!!!!!!

2.19. Ora, Excelência: se a competência, no

processo penal, NÃO é fixada em função do endereço da “vítima”, se NENHUM

dos investigados reside em Sorocaba, e se – mais importante – NENHUM ATO

TÍPICO SE DEU EM SOROCABA, então simplesmente NÃO HÁ QUALQUER

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RAZÃO PARA O PRESENTE FEITO TRAMITAR PERANTE ESTE D. JUÍZO!!!!

2.20. E veja-se que, diferentemente do quanto

sustentou Vossa Excelência ao julgar a exceção de incompetência proposta pelo

Requerente (autos nº 0024001-67.2015.8.26.0602, em trâmite esta mesma Vara), o

simples fato de este d. Juízo ter antecedido aos demais na apreciação das
medidas cautelares propostas pelos ii. parquetiers não o torna “prevento nos

termos do artigo 75, parágrafo único, combinado com o artigo 83, ambos do
Código de Processo Penal” (fls. 180/184 dos autos nº 0024001-67.2015.8.26.0602).

2.21. É que, conforme lembra MARIA LÚCIA

KARAM, “o órgão jurisdicional prevento, como aponta a regra contida no artigo 83 do

Código de Processo Penal, é aquele que, dentre os possivelmente competentes para

atuarem em determinados processos, antecedeu aos demais na prática de algum ato do

processo”. Ou seja: a prevenção não é um critério absoluto de fixação de competência

– que se sobreporia a todos os demais -, mas sim subsidiário – que serve para

distinguir qual seria o Juízo competente dentre aqueles que, a priori, se mostram

aptos a julgar o feito.

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2.22. Ora, no caso dos autos, o d. Juízo de

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Sorocaba não era, nem nunca foi, compentente para julgar o presente feito, uma

vez que territorialmente incompetente.

2.23. De fato, de acordo com o disposto nos

artigos 69 e 70 do Código de Processo Penal, o primeiro critério a ser observado –

ou seja a regra geral - para fixação da competência é o lugar da infração.

2.24. Ora, no caso dos autos, como visto, as

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comarcas a priori competentes para o julgamento do feito são as de São Paulo/SP,
Guarulhos/SP, São Roque/SP e São Bernardo do Campo/SP – nas quais se

observou a consumação dos delitos descritos na denúncia. O critério da prevenção

serviria, então, para fixar a competência dentre estes Juízos!

2.25. Na realidade – e com todas as vênias -,

acolher a argumentação expendida por Vossa Excelência significaria fazer letra

morta do disposto nos artigos 69 e 70 do Código de Processo Penal, já que se

abriria a possibilidade de um Juiz absolutamente incompetente para julgar

determinado feito viesse a se tornar competente, simplesmente porque tomou

contato com a causa primeiro!

2.26. Uma situação hipotética para ilustrar,

levada ao extremo, é verdade, mas que mantém o exato argumento expedido pela

d. Autoridade Coatora. Imagine-se um caso de latrocínio cometido, na cidade de

São Paulo, por agente que reside no Rio de Janeiro. Imagine-se, agora, que os

autos desse processo sejam colocados no malote errado e, por engano, acabem nas

mãos de um juiz no Estado de Tocantins. Caso esse juiz, como primeiro ato

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decisório do processo, autorize a prisão do acusado, tornar-se-á, subitamente,

competente para processar e julgar todo o feito, somente porque conheceu da

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causa antes do juízo verdadeiramente competente? Evidente que não!!!

2.27. Tem-se, portanto, que este foro é


ABSOLUTAMENTE INCOMPETENTE para processar e julgar o
procedimento em epígrafe.

Pois bem.

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3. Não havendo dúvidas acerca da
incompetência deste MM. Juízo para o processamento do feito, resta agora definir

qual seria o foro competente para tanto.

3.1. Para isso, necessário verificar a incidência,

in casu, das hipóteses previstas no artigo 78, II, do Código de Processo Penal – já

que se trata, por certo, de caso de conexão, nos termos do artigo 76 do mesmo

diploma legal.

3.2. Ora, sendo as infrações imputadas todas de

igual gravidade, e considerando-se que o número de atos típicos supostamente

praticados nas Comarcas de São Paulo e São Bernardo do Campo é igual, então

aqui, sim, seria o caso de aplicação do critério subsidiário da prevenção para

fixação da competência, nos termos do artigo 78, II, “c”, do codex. Nesse sentido,

lembra MARIA LÚCIA KARAM:

“a prevenção estabelecerá qual o foro competente

quando não puder se identificar qual a causa que

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deverá atrair as demais pelos critérios gerais da maior

gravidade da pena cominada (porque seriam idênticas

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as penas cominadas a todas as infrações) ou do local

onde teria ocorrido o maior número de infrações) por

não se ter um número maior de infrações em nenhum

dos diferentes locais”.3

3.3. E, DENTRE OS JUÍZOS

TERRITORIALMENTE COMPETENTES, a primeira Autoridade Judiciária a

tomar contato com a causa e praticar algum ato no processo foi o MM. Juiz do

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DIPO de São Paulo – ao apreciar as medidas cautelares propostas pelo i. parquet
(apenso nº 0056479-38.2015.8.26.0050 – fls. 238/244).

3.4. Note-se aqui, que, ainda que a decisão

exarada por aquele d. Magistrado tenha sido no sentido de declinar da

competência, o ato praticado tem o condão de prevenir o Juízo, já que constitui

atividade jurisdicional – uma vez que adentrou na seara da análise do mérito da

causa, conforme se depreende de vários dos trechos do r. decisum, verbis:

“Pese haver severos indícios de que os averiguados

tenham exigido para si, em razão da função por eles

desenvolvida, como agentes fiscais de renda,

vantagem ilícita, consistente no pagamento de


propinas em dinheiro, não há evidências de que

quaisquer dos crimes praticados, seja em associação

criminosa entre os agentes (há fortes evidências nesse

sentido em virtude da dinâmica levada a efeito no

3KARAM, Maria Lucia. Competência no processo penal. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2004, pp.
148-149.

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cometimento dos crimes narrados), ou

individualmente pelos agentes, tenham sido praticados

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nessa Capital” (apenso nº 0056479-38.2015.8.26.0050 –

fls. 242/244).

3.5. O evidente revolvimento dos elementos de

informação amealhados nos autos, portanto, diferencia a decisão exarada daqueles

atos meramente administrativos; fixando, dessa forma, a competência do foro da

capital para o processo e julgamento do feito.

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3.6. E, de toda forma, tratava-se, aqui, de
medidas cautelares – conforme mencionado, de prisão temporária, busca e apreensão e

quebra de sigilo -, hipótese na qual a mera precedência na distribuição já previne o

Juízo, nos termos do artigo 75 do Código de Processo Penal.

3.7. Assim, parece certo que o foro competente

para processar e julgar o procedimento criminal em questão é o de SÃO

PAULO (SP).

3.8. Mas, ainda que se entenda que a decisão de

declínio de competência prolatada pelo MM. Juiz do DIPO de São Paulo não fixa a

competência do Juízo – o que se admite por mera hipótese -, mesmo assim

mantém-se inabalável a certeza de que o foro de Sorocaba é absolutamente

incompetente para o processamento deste feito, já que nenhum dos delitos em

questão se consumou ali.

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3.9. Restaria, então, a dúvida acerca de qual

seria o foro competente: se o de São Paulo ou o de São Bernardo, já que ambos

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contam com o mesmo número de infrações cometidas.

3.10. Assim, por qualquer ângulo que se olhe,

resta evidente a incompetência deste d. Juízo, devendo os autos serem remetidos

à Comarca de São Paulo/SP, ou, quiçá, à de São Bernardo do Campo/SP, para o

regular processo e julgamento do feito.

3.11. Caso assim não se decida, o procedimento

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em epígrafe acabará maculado por nulidade absoluta, já que, sendo de interesse
público a norma contida no artigo 70 do Código de Processo Penal, “haverá

incompetência absoluta do juiz territorialmente incompetente”.4

II – DA IMPOSSIBILIDADE DE ACESSO A

ELEMENTOS DE INFORMAÇÃO

INDISPENSÁVEIS À ELABORAÇÃO DE

DEFESA PRELIMINAR. CERCEAMENTO

DE DEFESA.

4. Por ocasião da deflagração da presente

Operação, foram realizadas diversas diligências de busca e apreensão – nas

residências do Defendente e demais corréus (apenso nº 056915-94.2015.8.26.0050),

4 BADARÓ, Gustavo. Processo Penal. Rio de Janeiro: Elsevier, 2014, p. 155.

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e, ainda, na sede da empresa “VBZ Participações e Administração de Bens

Próprios LTDA” (apenso nº 0000712-16.2015.8.26.0567).

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4.1. Conforme indicam os diversos autos de

apreensão juntados aos autos (apenso nº 056915-94.2015.8.26.0050 – fls. 343/346,

354/357, 362/365, 369/375, 379/382, 393, 396/399, 411/416, 420/424, 428/431, ),

inúmeros documentos foram apreendidos em tais diligências. No entanto, até o

presente momento – passados quase quatro meses da data da efetivação da medida –, os

mesmos ainda não foram juntados aos autos.

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4.2. Na tentativa de sanar esse gravíssimo
problema, esta defesa, em 23 de setembro p.p., requereu que fossem juntados aos

autos todos os referidos elementos de informação, a fim de viabilizar a

apresentação da defesa preliminar por parte do Peticionário (fls. 1863/1865).

Porém, o pedido foi indeferido, por entender Vossa Excelência que “os respectivos

autos de apreensão de documentos, bens, objetos e dinheiro estão juntados em suas

respectivas medidas cautelares” (fls. 1896/1898).

4.3. No entanto, n. Julgadora, a simples

presença, nos autos, dos autos de apreensão lavrados por ocasião das diligências
não supre a necessidade da disponibilização dos documentos apreendidos.

4.4. Isso porque os autos de apreensão não são

elementos de prova! Não: o autos configuram, aqui, mero registro da diligência

empreendida – servindo, justamente, para registrar qual foi o objeto da apreensão.

4.5. Já os itens que constam como objeto da

apreensão – estes sim! – são os elementos de prova que poderão ser utilizados

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para corroborar as teses veiculadas no processo – tanto a da acusação, quanto a


da defesa. Devem, portanto, necessariamente, estar à disposição do Peticionário

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no momento de elaboração da sua defesa.

4.6. E mais importante ainda se faz tal acesso

quando as descrições feitas no auto de apreensão são absolutamente genéricas,

de tal modo que impossibilitam saber, exatamente, o que foi objeto da medida

cautelar – como ocorreu no caso do Defendente, conforme se observa nos

exemplos abaixo:

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(excertos do auto de apreensão de fls. 352/354 do
apenso de busca e apreensão – autos nº 0056915-
94.2015.8.26.0050)

4.7. Ora, o que seriam esses “documentos” e

“extratos bancários”? Qual o conteúdo dessas “anotações manuscritas”? Impossível

saber!!

4.8. No entanto, não se teve qualquer notícia

destes documentos até hoje!!

4.9. Ou melhor, se teve notícia, sim: se sabe que

estão armazenados na sede do GEDEC (Grupo de Atuação Especial Contra os


Delitos Econômicos do Ministério Público do Estado de São Paulo), sito à Rua

Riachuelo, 115, 2º andar, São Paulo/SP, conforme se depreende do “Auto de


Apreensão de Documentos e Deslacre” de fls. 1980.

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4.10. Ou seja, Excelência: ao mesmo tempo em

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que o Requerente é impossibilitado de acessar os elementos de prova
apreendidos para elaborar sua defesa, o d. parquet pode deles fazer uso – de

forma ampla, irrestrita e praticamente em sistema “delivery”! – para preparar a

acusação!

4.11. Tempos difíceis para a garantia

constitucional da paridade de armas, sem dúvida.

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4.12. Nesse sentido, aliás, lembra RENATO
STANZIOLA VIEIRA:

“Se o standard cognitivo de quem acusa é mais

qualificado do que o disponível a quem se defende,

viola-se a paridade de armas no processo penal.


Afinal, o mínimo que se deve oportunizar àquele que

se defende da acusação é que ele conheça os mesmos

elementos de valoração que foram levados ao


conhecimento do acusador”.5

4.13. A propósito, foi justamente com o escopo

de zelar pela igualdade das partes no processo penal que o nosso E. SUPERIOR

TRIBUNAL DE JUSTIÇA consignou que o acesso à integralidade do conjunto

probatório resultante da investigação “é direito do acusado e possibilita que,

desse momento em diante, a defesa conheça as ‘provas em potencial’, e, nessa

medida, a coloca, em tese, numa situação de paridade com o Ministério Público,

5VIEIRA, Renato Stanziola. Paridade de armas no processo penal. Brasília: Gazeta Jurídica, 2014, p.
276.

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no que diz respeito ao acesso a informações que a ele foram levadas antes da
oferta da denúncia”.6

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4.14. E a necessidade de trazer ao conhecimento

da defesa todo o conjunto probatório produzido até o momento assume especial

relevância quando se considera que o verdadeiro sentido do artigo 514 do Código

de Processo Penal é, justamente, criar um “contraditório prévio ao recebimento

da denúncia, cuja finalidade é resguardar o agente público contra denúncias


injustas e infundadas, a que ficaria exposto pelo cargo que ocupa”.7

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4.15. Ora, se o contraditório pressupõe,
exatamente – segundo a já clássica lição de JOAQUIM CANUTO MENDES DE

ALMEIDA –, a “ciência bilateral dos atos e termos processuais e a possibilidade de

contrariá-los”8, a conclusão óbvia é a de que, a fim de que pudesse de fato se

proteger de injustiças – ou seja, a fim de que sua defesa preliminar fosse de fato
efetiva –, o Defendente precisaria, desde logo, conhecer os elementos de
informação arrebanhados nos autos – já que apenas assim poderá contestá-los!

4.16. Até porque, não há dúvidas de que

apenas uma defesa que leve em consideração todas as informações amealhadas


até o momento poderia levar Vossa Excelência a concluir pela “inexistência do
crime” ou pela “improcedência da ação” – possibilidades previstas expressamente

pelo artigo 516 do codex.

6STJ, HC nº 66.304/SP, Rel. Min. PAULO MEDINA, 6ª Turma, j. 12.12.06.


7BADARÓ, Gustavo. Processo Penal. São Paulo: Elsevier/Campus Jurídico, 2014, p. 537.
8 MENDES DE ALMEIDA, Joaquim Canuto. A contrariedade na instrução criminal. São Paulo:

Saraiva, 1937, p. 110.

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4.17. Sim, pois não se pode afastar, logo de

largada, a hipótese de existir, dentre os elementos de informação sonegados à

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defesa, prova que inocente o Requerente!

4.18. Negar ao Defendente o acesso ao conjunto

probatório equivale, portanto, a sucatear o artigo de lei em questão,

transformando-o em mera formalidade destituída de sentido – e causando, por

via de consequência, irreparável prejuízo à defesa!

4.19. Isso sem falar, é claro, que a restrição de

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acesso à documentação em questão contraria frontalmente o disposto na Súmula
Vinculante nº 14 do E. SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL, que garante à defesa

o “acesso amplo aos elementos de prova que, já documentados em procedimento

investigatório realizado por órgão com competência de polícia judiciária, digam


respeito ao exercício do direito de defesa”!

4.20. Assim, ante a evidente violação à garantia

da paridade de armas no processo penal, e em virtude do inegável cerceamento

de defesa advindo da impossibilidade de acesso, por parte do Requerente, a todos

os elementos de prova produzidos na investigação, de rigor o reconhecimento da

nulidade do presente feito, desde o momento do oferecimento da denúncia, nos

termos do artigo 564 do Código de Processo Penal.

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III – DA INÉPCIA FORMAL E MATERIAL

DA DENÚNCIA.

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5. Mas, ainda que Vossa Excelência entenda

pela competência deste d. Juízo para processar e julgar o presente feito, e ainda

que considere inexistir prejuízo decorrente da impossibilidade de acesso, por parte

da defesa, aos elementos de prova amealhados ao longo da investigação levada a

efeito no procedimento sub judice – o que se admite apenas por hipótese -, ainda

assim deverá, necessariamente, reconhecer a mais absoluta inépcia – tanto formal

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quanto material - que marca a peça vestibular acusatória.

5.1. Sim, pois, como bem se sabe, nosso Código

de Processo Penal, em seu artigo 41, estabelece as diretrizes que devem ser

seguidas pelo i. parquet quando do oferecimento da denúncia. Confira-se:

“Art. 41. A denúncia ou queixa conterá a exposição do

fato criminoso, com todas as suas circunstâncias, a

qualificação do acusado ou esclarecimentos pelos quais

se possa identificá-lo, a classificação do crime e, quando

necessário, o rol das testemunhas”.

5.2. Dessa forma, a peça exordial deve propiciar

ao réu, ainda que de forma concisa, a compreensão da acusação que contra ele é

formulada; para que este possa, assim, preparar sua defesa de forma ampla e

efetiva.

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5.3. Nas já clássicas palavras de JOÃO

MENDES JÚNIOR:

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“a denúncia é uma exposição narrativa e

demonstrativa. Narrativa, porque deve revelar o fato

com todas as suas circunstâncias, isto é, não só a ação


transitiva, como a pessoa que a praticou (quis), os

meios que empregou (quibus auxiliis), o malefício que

produziu (quid), os motivos que a determinaram a isso

(cur), a maneira por que o praticou (quomodo), o lugar

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onde o praticou (ubi), o tempo (quando).
Demonstrativa, porque deve descrever o corpo de

delito, dar as razões de convicção ou presunção e

nomear as testemunhas e informantes”.9

5.4. E tal disposição legal se justifica à medida

que a exordial acusatória baliza, a um só tempo, as atividades da acusação e da

defesa; desta forma estabelecendo os limites – e o norte – que devem ser

seguidos por ambas as partes ao longo da instrução penal.

5.5. No caso dos autos, todavia, as fronteiras

acusatórias parecem não ter sido bem fixadas pelo d. órgão ministerial, de modo

a prejudicar – e, em última análise, inviabilizar – a defesa do Requerente.

5.6. É que a imprecisão da exordial acusatória é

tamanha, Excelência, que se torna difícil – senão impossível! – compreender o

quê, sob a ótica ministerial, seria considerado crime!!

9MENDES JÚNIOR, João. O Processo Criminal Brasileiro, Rio de Janeiro, Freitas Bastos, 1959, vol. II,
p. 183.

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5.7. Veja-se: os ii. representantes do parquet

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inauguram sua denúncia afirmando que “os acusados OSVALDO, JOSÉ ANTONIO,

ULISSES e MARCELO, agindo em conjunto e mediante prévia combinação,

aproveitaram-se de ter sido expedido uma Ordem de Serviço de Fiscalização, em 9 de

novembro de 2005, para a unidade da Prysmian em Jacareí, e passaram a fazer uma

auditoria fiscal na empresa com a finalidade de extorquir seus representantes” (fls. 3).

5.8. A partir daí, passam a narrar enredo

recheado de intrigas, ameaças e reviravoltas surpreendentes – que, muito embora

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tenha inegável potencial para a teledramaturgia latinoamericana, nenhuma

relação tem com o Peticionário.

5.9. E tanto é assim que ULISSES apenas é

mencionado novamente no “capítulo final” da trama, quando o i. parquet conclui

que “considerando que o tributo não foi inteiramente cobrado, pois o AIIM foi lavrado em

apenas R$ 390.499,50, em outubro de 2006, sem que tenha sido designada outra equipe

para refazer a auditoria fiscal, para além de ULISSES, inegável ter havido na quadrilha o

envolvimento de outros Fiscais de ICMS do Vale do Paraíba” (fls. 6).

5.10. E só – mais nenhuma explicação é dada

em relação à suposta “participação” do Requerente na conduta descrita.

5.11. Ocorre, Excelência, que, caso o d. órgão

ministerial pretendesse que tal conduta fosse considerada típica, alguns

esclarecimentos seriam de rigor – já que sequer é possível compreender, pelas

assertivas contidas na exordial, qual(is) ato(s) se imputa(m) a ULISSES!

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5.12. Na verdade, mesmo com grande esforço

interpretativo, tudo que se pode depreender da denúncia é que o Peticionário teria

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realizado “fiscalização na empresa” – o que, por certo, passa longe de configurar

crime.

5.13. Ainda mais quando tal ato foi precedido

de Ordem de Serviço de Fiscalização expedida pela Secretaria da Fazenda10 -

conforme, aliás, admitido pela própria denúncia (fls. 3)!!!

5.14. Portanto, caso o d. órgão ministerial

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tivesse ganas de ver prosperar sua pretensão acusatória, deveria ter tido o cuidado
de demonstrar, ao menos minimamente, em que se baseia a segunda parte de sua

premissa – aquela que se refere à “finalidade” da fiscalização realizada.

5.15. Ao menos no que se refere a ULISSES,

porém, tal assertiva passou incólume – já que, como visto, o nome do Requerente

sequer é mencionado no restante da narrativa ministerial, no que tange à imputação

em questão.

5.16. E nem poderia, na verdade – já que, na

época dos fatos, o Peticionário não estava nem mesmo lotado na equipe

responsável por fiscalizar a empresa PRYSMIAN!!!

5.17. Tanto é assim, na verdade, que ULISSES

NÃO FIGURA dentre os Agentes Fiscais de Rendas executantes dos


procedimentos fiscais, listados à fls. 1.098, como se vê:

10 Fls. 1086/1087.

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5.18. É dizer: nem que quisesse poderia o

Peticionário ter realizado a fiscalização em questão – e, muito menos,

“extorquido” os representantes da empresa, já que simplesmente NÃO

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ESTAVA LOTADO NA EQUIPE RESPONSÁVEL POR REALIZAR TAL

FISCALIZAÇÃO!!!

5.19. Não há, ademais, qualquer outro indício –

qualquer arremedo de elemento de informação – que indique que o Peticionário tenha

influído, de qualquer forma, na inspeção em questão – beirando, portanto, a

irresponsabilidade tentar incluí-lo dentre os personagens desta trama...

6. Não é muito diferente o quadro pintado na

segunda conduta que se tenta imputar ao Requerente - aquela referente à

fiscalização ocorrida na PRYSMIAN de Jacareí, em 2008.

6.1. Aqui, parece haver uma clara tentativa de

atribuir a ULISSES o papel de protagonista da trama acusatória – pecando a

denúncia, no entanto, mais uma vez, pela falta de clareza, bem como por deixar

de trazer à colação elementos de informação aptos a amparar sua pretensão


acusatória.

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6.2. Sim, pois, dessa vez, a denúncia se

aventura a atribuir a ULISSES, dentre outros, a conduta de exigir e receber, de

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SILVANA MANCINI e DANIEL SAHAGOFF, “o pagamento de valor superior a R$ 2

milhões, para que não fosse lavrado um expressivo AIIM contra a empresa”, sendo que,

“ao final, ficou acertado que o grupo criminoso receberia R$ 2.250.000,00 (dois milhões,

duzentos e cinquenta mil reais)” (fls. 9).

6.3. O d. órgão ministerial não se dá ao

trabalho, todavia, de esclarecer como teria se dado o recebimento de tal “propina”.

Informação essa de suma importância, principalmente no caso dos autos, no qual

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as tais “testemunhas colaboradoras” trazem à baila uma miríade de formas de
pagamento pouco ortodoxas - operações de dólar-cabo, “contratos de cobertura”,

contratos “de fachada” com advogados –, sem, todavia, relacionar qualquer

dessas inventivas operações financeiras ao Requerente!

6.4. Tampouco se ocupa o i. parquet de elucidar

quanto do total atribuído ao “grupo criminoso” teria sido recebido pelo Requerente

– se é que alguma parte foi, de fato, a ele destinada, já que nem disso há provas

nos autos...

6.5. Ora, conhecer a forma de pagamento do

suposto numerário ilícito – e, mais do que isso, saber a quantia de fato recebida

pelo Peticionário – são, sem sombra de dúvida, pressupostos inafastáveis para o

exercício de sua ampla defesa frente a uma denúncia que lhe pretende imputar o

delito previsto no artigo 3º, II, da Lei 8.137/90 – o qual tem por objeto,

justamente, a vantagem indevida!

Mas não é só.

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7. O d. órgão acusatório ainda tenta, pela

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derradeira vez, “emplacar” mais uma imputação em desfavor de ULISSES, sob o

argumento de que ele “procurou ampliar a arrecadação ilícita de dinheiro da Prysmian

revelou (sic) o sucesso da empreitada criminosa para os Agentes Fiscais de Rendas da DRT

de São Bernardo do Campo, pois a empresa também tem uma filial em Santo André.

ULISSES revelou que os representantes da Prysmian eram ‘gente boa’, numa sinalização

de que pagavam a propina sem causar embaraços” (fls. 10).

7.1. E, mais adiante, acrescenta – talvez para

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tentar dar mais credibilidade à sua acusação – que “a exigência da propina e a
negociação foram feitas na Churrascaria Estrela do Sul, zona norte da Capital de São

Paulo, próxima do Shopping Center Norte; também no restaurante La Paillote, Bairro

Ipiranga, Capital; e no Restaurante Bacalhau e Vinho Verde, em São Bernardo do Campo.

Participaram dos almoços, além de Daniel, ANANIAS, EMÍLIO BRUNO, ULISSES e

MARCELO DA SILVA SANTOS” (fls. 10/11).

7.2. Ora, Excelência. Há que se convir que

referir-se a alguém como “gente boa” está longe de configurar qualquer crime. E

tampouco perfaz ato ilícito participar de um almoço...

7.3. Caso os ii. representantes do parquet de fato

pretendessem imputar ato típico ao Defendente, deveriam ter se preocupado em

descrever alguma exigência, solicitação ou recebimento de vantagem ilegal por parte

dele – ao invés de se ocupar dos apelidos que dá a seus conhecidos, ou de seus

compromissos sociais.

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7.4. Mas a verdade é que isso seria impossível,

já que, das informações constantes nos autos, não é possível concluir pela prática

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de qualquer destas condutas...

7.5. E tanto é assim, aliás, que o próprio órgão

acusatório esclarece, por ocasião do aditamento da denúncia (fls. 1654/1658), que

“ANANIAS dividiu os valores da propina com os demais integrantes da quadrilha,

dentre eles, os acusados NEWTON CLEY, MALVINO RODRIGUES e EMÍLIO

BRUNO” (fls. 1657).

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7.6. Ou seja: ULISSES não recebeu qualquer
“propina”!! Os próprios representantes ministeriais elucidam que os supostos

recipientes da vantagem ilícita, aqui, seriam outros agentes fiscais – e NÃO o

Peticionário!!

7.7. E é sempre bom lembrar que, também

nesse caso, o Defendente sequer estava lotado na equipe que efetuou a inspeção

em questão!!

7.8. Veja-se, a esse respeito, a Ordem de Serviço

de fls. 1352, que designa os Agentes Fiscais responsáveis pela execução da

fiscalização – dentre os quais NÃO se inclui o Defendente:

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8. Em resumo, Excelência: por mais que o d.

órgão ministerial tente disfarçar, a verdade é que, em toda a exordial acusatória,

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não se aponta um único DADO CONCRETO em desfavor do Defendente!!!

8.1. E a ausência de informações seguras

reflete-se, claramente, na denúncia ofertada, que se desenvolve de forma

atabalhoada, sem indicar com segurança os contornos das imputações feitas...

8.2. Pois bem. A imprecisão da peça inaugural

é tamanha, e tão escasso é o suporte probatório das acusações feitas, que o

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Peticionário se vê na mais absoluta impossibilidade de exercer sua defesa – já
que não consegue saber ao certo nem mesmo quais imputações deve contestar!!

8.3. Ora, se não sabe do que é acusado, como

pode o Requerente se defender? A resposta a esta pergunta, Excelência, é uma só:

não pode – ao menos, não sem graves prejuízos às garantias constitucionais da

ampla defesa e do contraditório (artigo 5º, LV, da Constituição Federal11).

8.4. A esse respeito, aliás, bastante apropriadas

as palavras de HELENO CLÁUDIO FRAGOSO:

“É então possível que seja alguém submetido ao

constrangimento de um processo criminal, que afeta o


status dignitatis do cidadão, sem que se lhe diga em

que consistia a parte que lhe cabia na urdidura geral

de uma ação delituosa? Sem que se lhe diga “com

todas as circunstâncias”, que ação ilícita praticou, com

11 “Art. 5º. LV. Aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são
assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes”.

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a descrição do fato em seus vários episódios? Sem que

se diga o que fez, como, quando, onde? Como é

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possível que alguém se defenda de uma acusação

vaga e capciosa de que fez o que lhe cabia (?!) na ação


comum?”.12

8.5. E, também, a lição de ADA PELLEGRINI

GRINOVER et alli, que se refere, de maneira específica, aos casos de coautoria –

como parece ser a hipótese dos autos:

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“Em hipóteses de co-autoria, a peça acusatória deve

historiar a participação de cada um dos acusados, a

fim de que possa individualmente responder à


acusação. É o que se deflui do sistema penal brasileiro

que, por imposições de ordem constitucional, não

admite a responsabilidade objetiva e acolhe o princípio

da personalidade”.13

8.6. Pois bem. Por impossibilitar o exercício da

defesa plena ao longo da ação penal, a denúncia que não descreve a conduta do

Defendente deve ser rejeitada de plano. Do contrário, dará início a uma

persecução penal absolutamente nula, conforme também ressaltam ADA

PELLEGRINI GRINOVER et alli:

“A narração deficiente ou omissa, que impeça ou

dificulte o exercício da defesa, é causa de nulidade

12 FRAGOSO, Heleno Cláudio. Ilegalidade e Abuso de Poder na Denúncia e na Prisão Preventiva.


Disponível em http://www.fragoso.com.br/cgi-bin/heleno_artigos/arquivo63.pdf.
13 GRINOVER, Ada Pellegrini; FERNANDES, Antonio Scarance; e GOMES FILHO, Antonio

Magalhães. As nulidades no processo penal. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2004, p. 111.

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absoluta, não podendo ser sanada porque infringe os

princípios constitucionais do contraditório e da ampla

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defesa”.14

8.7. E não é outro o entendimento da

jurisprudência pátria. De fato, o E. SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL já decidiu,

em irretocável acórdão da lavra do Eminente Ministro CELSO DE MELLO, que o

d. órgão ministerial tem “a obrigação de expor, na denúncia, de maneira precisa,

objetiva e individualizada, a participação de cada acusado na suposta prática


delituosa”.

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8.8. E isso porque:

"O ordenamento positivo brasileiro (...) repudia as

imputações criminais genéricas e não tolera, porque

ineptas, as acusações que não individualizam nem


especificam, de maneira concreta, a conduta penal
atribuída ao denunciado. Precedentes. A PESSOA

SOB INVESTIGAÇÃO PENAL TEM O DIREITO DE

NÃO SER ACUSADA COM BASE EM DENÚNCIA


INEPTA. - A denúncia deve conter a exposição do fato

delituoso, descrito em toda a sua essência e narrado


com todas as suas circunstâncias fundamentais. Essa

narração, ainda que sucinta, impõe-se ao acusador

como exigência derivada do postulado constitucional

que assegura, ao réu, o exercício, em plenitude, do

direito de defesa. DENÚNCIA QUE DEIXA DE

GRINOVER, Ada Pellegrini; SCARANCE FERNANDES, Antonio; e GOMES FILHO, Antonio


14

Magalhães. As nulidades no processo penal. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2004, p. 114.

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ESTABELECER A NECESSÁRIA VINCULAÇÃO DA

CONDUTA INDIVIDUAL DE CADA AGENTE AOS

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EVENTOS DELITUOSOS QUALIFICA-SE COMO
DENÚNCIA INEPTA. Precedentes.”

(STF, HC 84580, Rel. Min. CELSO DE MELLO,

SEGUNDA TURMA, j. 25.08.09, DJe 17.09.09).

8.9. Assim sendo, de rigor a rejeição da

denúncia ofertada, uma vez que absolutamente inepta, nos termos do artigo 516

do Código de Processo Penal.

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IV – DA ILEGAL TRANSFIGURAÇÃO DE

AGENTES COLABORADORES EM

TESTEMUNHAS. PREJUÍZO AO

EXERCÍCIO DA AMPLA DEFESA E DO

CONTRADITÓRIO.

9. No entanto, caso entenda Vossa Excelência

pelo prosseguimento da presente ação penal – o que se admite por mera hipótese –
então é necessário, ao menos, que se corrija a “confusão” – para dizer o mínimo –

que se instalou no presente feito, no momento em que os protagonistas do

esquema criminoso passaram, sem maiores explicações, a ocupar o papel

secundário de “testemunhas”.

9.1. Na tentativa de esclarecer o ocorrido, esta


defesa protocolou, em 20 de setembro p.p., petição em que solicitava que “que as

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‘testemunhas’ arroladas na denúncia recebam o tratamento que merecem, qual seja, no

mínimo, o de agentes colaboradores, ainda que o parquet não tenha se prontificado a

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celebrar acordos formais de colaboração” (fls. 1912/1923).

9.2. Vossa Excelência, no entanto, deixou de

apreciar o pleito defensivo, entendendo que o mesmo se encontrava

“prejudicado” (fls. 1925), pois estaria abarcado por decisão anteriormente

prolatada.

9.3. Nesta, por sua vez, a n. Julgadora consigna

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que “a pretensão é impertinente porque em nada interfere no exercício ao direito
de ampla defesa e contraditório”, lembrando ainda que “o Ministério Público, na

qualidade de titular da ação penal (...) talvez tenha optado por oferecer denúncia apenas em

face dos investigados neste processo, postergando-se, quiçá por critérios de conveniência e

melhor oportunidade para a eficaz persecução penal, o oferecimento de denúncia quanto a

outros investigados, ainda que figurem neste feito apenas como TESTEMUNHAS”

(fls. 1897).

9.4. Todavia, em que pese o enorme respeito

tributado a esta d. Magistrada, não se pode aquiescer com referido entendimento,

pois, ao contrário do quanto sustentado, o desconhecimento do exato papel

exercido por cada um dos sujeitos processuais implica, sim, em grave prejuízo

ao exercício do direito de defesa por parte do Requerente!!

9.5. De fato, é lição corrente tanto na doutrina

quanto na jurisprudência que a testemunha é fonte de prova, ao passo que a

colaboração é meio de obtenção da prova. A primeira é prova; a segunda é meio de

chegar até a prova.

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9.6. Em recentíssima decisão monocrática do

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preclaro Ministro TEORI ZAVASKI, o e. SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL

assentou, sobre depoimentos colhidos em colaboração premiada, que “... tais

depoimentos não constituem, por si sós, meio de prova, até porque, segundo

disposição normativa expressa, ‘nenhuma sentença condenatória será proferida com

fundamento apenas nas declarações de agente colaborador’ (art. 4º, § 16, da Lei 12.850/13),

o que se coaduna com a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, segundo a qual

descabe condenação lastreada exclusivamente na delação de corréu” (STF, Pet 5.262-DF,

Rel. Min. Teori Zavaski, decisão monocrática de 06.03.15).

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9.7. Convém citar também trecho do voto

vencedor da e. Ministra CARMEN LÚCIA, da e. SUPREMA CORTE, no qual

assevera que “... mesmo a submissão da chamada de corréu ao crivo do contraditório não

confere à delação a natureza de testemunho”.15

9.8. O entendimento acima esposado segue

antiga jurisprudência do Pretório Excelso segundo a qual a palavra de corréu não

serve, por si só, para condenar. É o que se extrai de paradigmático acórdão do e.

Ministro SEPÚLVEDA PERTENCE, que, com precisão, sustentou que a versão

dada pelo acusado, “... PORQUE NÃO CONSTITUEM TESTEMUNHOS, (...) a

sua aceitação como prova agride a garantia constitucional do contraditório e da


ampla defesa”.16

9.9. Na doutrina, a distinção também é motivo

de realce. Para BADARÓ, por exemplo,

15 STF, 1ª Turma, HC 94.034/SP, Rel. Min. CARMEN LÚCIA, j. 10.06.2008, DJ 05.09.08.


16 STF, 1ª Turma, HC 81.172/RJ, Rel. Min. SEPÚLVEDA PERTENCE, j. 11.06.02, DJ 07.03.03.

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“O delator não é testemunha na parte em que faz a

delação. Seria uma testemunha que não presta o

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compromisso de dizer a verdade (art. 203) e não

poderia cometer o crime de falso testemunho (CP, art.

342)! Além disso, por óbvio, tratar-se-ia de

‘testemunha’ que não poderia ser contraditada.

Finalmente, seria uma testemunha que não pode ser

arrolada pelas partes. O corréu não tem a característica

de terceiro, exigida de toda e qualquer testemunha,


sendo inegável o seu interesse no processo”.17

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9.10. No mesmo sentido:

“Outra inferência da particular tipicidade da delação

está em que o delator não deve, e não pode, submeter-

se ao compromisso legal de dizer a verdade... por ser

sujeito interessado no objeto do processo... exatamente

por isso resulta incompatível pretender atribuir-lhe o


ofício inerente à condição de testemunha”.18

9.11. Se qualquer dúvida pudesse persistir

sobre a sistemática correta a ser adotada no caso de colaborador excluído da

denúncia, essa se dissipa com a leitura do § 12º do artigo 4º da Lei n. 12.850/13,

que expressamente estabelece:

17BADARÓ, Gustavo. Processo Penal. 3. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2015, pp. 450-451
18PEREIRA, Frederico Valdez. Delação Premiada – Legitimidade e procedimento. Curitiba: Juruá, 2013,
p. 161.

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“Ainda que beneficiado por perdão judicial ou não

denunciado, o colaborador poderá ser ouvido em juízo

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a requerimento das partes ou por iniciativa da
autoridade policial”.

9.12. O dispositivo parece não deixar margem a

indagações: testemunha é uma coisa, colaborador é outra, tanto que “nenhuma

sentença condenatória será proferida com fundamento apenas nas declarações de agente

colaborador” (§ 16º), ressalva legal que não encontra correspondência alguma no

tratamento dispensado às testemunhas.

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9.13. Trocando em miúdos: ouvir réu

colaborador na condição de testemunha cria intransponível cerceamento de

defesa, na medida em que, entre outros percalços, desincumbe em boa medida a


acusação de provar o conteúdo da delação.

9.14. Por isso mesmo, pretensos réus

beneficiados com acordos - ainda que tácitos - com o MP não podem virar
testemunhas. No entanto, este foi rigorosamente o procedimento adotado pelo i.

parquet neste caso.

10. Pessoas que assumidamente teriam

concorrido para a suposta infração penal, entre eles pagadores e intermediadores

da cogitada propina, foram enigmaticamente agraciados com o “perdão

ministerial” e se transformaram, como que num passe de mágica, em

testemunhas dos fatos.

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10.1. Parece clara a opção pelo acordo previsto

artigo 4º, § 4º da Lei n. 12.850/13, ainda que, a rigor, tais “beneficiados” não

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estivessem na posição que a lei exige para esta espécie de acordo, pois nenhum

deles foi o primeiro a prestar efetiva colaboração (inciso II).

10.2. De qualquer forma, não é minimamente

plausível a hipótese de que os representantes legais da PRYSMIAN, seus

advogados e os operadores contratados para intermediar o pagamento da suposta

vantagem fossem sendo tidos como vítimas indefesas dos fatos ou então

testemunhas com total distanciamento dos acontecimentos.

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10.3. Fosse verdade, seria improvável que,

numa leitura de cabo a rabo da denúncia, não se encontrasse ao menos uma

mísera menção a esta condição de “vítimas”.

10.4. Até porque, na hipótese de serem

verdadeiros os fatos, a condição de vítima pressuporia ter sido a empresa

ameaçada com a promessa de alguma injustiça, alegação que a própria

PRYSMIAN desmente ao mencionar parecer do jurista IVES GANDRA DA SILVA

MARTINS, que “... indicou a necessidade de discutir em juízo sobre o tema, pois NO

ÂMBITO ADMINISTRATIVO DIFICILMENTE TERIA ÊXITO...” (fls. 168).

10.5. Ou seja, a prevalecer a versão dada pela

empresa, é inescapável a conclusão de que seus representantes teriam pago aos

fiscais para se livrarem de uma obrigação tributária, da qual, pelas vias legais,

dificilmente se desincumbiriam.

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10.6. Estariam, então, na esdrúxula situação de

vítimas que pagam dez para economizar um milhão. Difícil de engolir...

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10.7. Somente a vistas muito grossas mesmo os

representantes legais das empresas e os advogados escapariam da condição de

réus – ou agentes colaboradores – para virarem testemunhas.

10.8. E a posição então dos advogados é a mais

absurda e escancarada.

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10.9. Sim, pois, já no primeiro termo de
declarações apresentado como anexo da denúncia, o delator JÚLIO CAMARGO

expressamente declara que “quem fazia as exigências de vantagens indevidas era

uma advogada, SILVANA SPENELLI”19 (fls. 132). Ele próprio afirma, ainda, que

fez contato com o também delator “YOUSSEF, que se encarregou de entrar em contato

com a advogada SILVANA SPENELLI e ajustar a forma de entrega do dinheiro” (idem).

10.10. Também ANANIAS JOSÉ

NASCIMENTO, que, segundo o próprio Ministério Público, estaria firmando

acordo de colaboração premiada,20 declarou que “... os advogados receberam R$

120 mil. O Declarante pagou para DANIEL SAHAGOFF” (fls. 1017).

10.11. No caso de DANIEL, sua condição de

investigado colaborador salta tanto aos olhos que, indagado “se recebeu valores

correspondentes aos pagamentos feitos pela empresa PRYSMIAN à SILVANA”,

19 Posteriormente, SILVANA SPENELLI é corretamente identificada como a “testemunha”


SILVANA MANCINI.
20 “Por fim, o Ministério Público noticia que, após contato com o subscritor do presente pedido de liberdade

provisória, designou audiência para o dia 11 de agosto de 2015, às 14 horas, na sede do GAECO, núcleo
Sorocaba, para a assinatura do termo de delação premiada do acusado ANANIAS JOSÉ DO
NASCIMENTO” (apenso nº 0056479-38.2015.8.26.0050 – fls. 647).

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confessou que sim e – ainda mais chocante! – se comprometeu a “devolver os

valores recebidos em razão da finalidade ilícita que envolve a receptação de tal

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dinheiro” (fls. 1017).

10.12. Ora, quem promete devolver valores, a

não ser que esteja sendo acusado de auferi-los ilicitamente? Aqui já não dá mais

para negar sua condição de infrator colaborador...

10.13. Bastante sintomático, neste aspecto, que,

para avisar que iria deixar o país, DANIEL teve o cuidado de prometer que iria

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continuar “colaborando”, postura, há de se convir, pouco condizente com a de
quem está sendo tratado como uma mera testemunha (fls. 219/220).

10.14. Nem mesmo o órgão acusatório deixa de

reconhecer que DANIEL, e também SILVANA, têm direta participação nos fatos

delitivos que imputa. Por ocasião de sua manifestação sobre a exceção de

incompetência oposta pelo Paciente, os ii. parquetiers reconhecem que “Os Fiscais

de ICMS de Sorocaba, depois de extorquirem a empresa, por meio dos Advogados citados

na denúncia, Silvana Mancini e Daniel Sahagoff” (autos nº 0024001-67.2015.8.26.0602 –

fls. 177). E bem assim, os acusadores reconhecem o protagonismo dos advogados

no esquema, ao registrar, em nota de rodapé aposta a este trecho citado, “que os

acusados não conversavam com os Executivos da empresa, mas sim com os Advogados

indicados por ela” (idem).

10.15. Mas, mesmo diante de tudo isso, ainda

que, num lampejo de ingenuidade, quiséssemos colocar tais indivíduos no

bálsamo das vítimas da corrupção, como poderíamos isentá-los de vários outros

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crimes que confessaram ter cometido, que vão desde a falsificação de documentos,

até a remessa de divisas para o exterior?

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10.16. Vale lembrar, aqui, que ARMANDO

COMPARATO JÚNIOR, presidente da PRYSMIAN, foi categórico ao dizer que

firmou contrato fraudulento com o escritório de SILVANA, em ao menos duas

oportunidades:

“Foi elaborado um contrato de assessoria jurídica, em

20/09/2006, com o escritório KARAM ADVOGADOS.

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Nesse contrato constou: A – o acompanhamento de

um processo na 20ª Vara da Justiça Federal de São

Paulo, mas não houve qualquer prestação de serviços

advocatícios em tal processo e não tem conhecimento


se foi apresentada procuração da advogada nos autos;

B – o pagamento do valor de R$ 1.360.000,00, dos quais

R$ 1 milhão seria repassado aos fiscais; R$ 360 mil seria

destinado à SILVANA pela sua intermediação” (fls.

167/168).

“... a diretoria jurídica contratou SILVANA, em

04/01/2010, para realizar uma assessoria jurídica,

mas com valor superfaturado a fim de pagar pela

intermediação feita pela advogada” (fls. 171)

10.17. E, neste outro excerto, o mesmo

declarante revela a elaboração de outro contrato fraudulento, dessa vez com a

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fls. 2328

empresa AUGURI EMPREENDIMENTOS E ASSESSORIA LTDA., de JÚLIO

CAMARGO:

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“Os contratos de assessoria comercial com a AUGURI

tinham como objetivo: 1 – trabalhar para obter um

acordo de cooperação tecnológica com a PETROBRÁS;

2 – a intermediação de um arrendamento de um parque

fabril em Vila Velha. Os dois objetos, embora reais,

não eram o objetivo verdadeiro dos pagamentos

realizados à AUGURI. A assessoria comercial seria

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realizada sem a elaboração dos contratos” (fls. 158).

10.18. Todavia, nada é mais representativo da

responsabilidade criminal do advogado DANIEL do que o relato do fiscal

ANANIAS (réu colaborador, segundo o próprio Ministério Público) sobre como o

causídico teria, supostamente, estimulado extorsões ao sabor de sua cobiça:

“A pedido da DRT foi expedida nova OSF, em meados

de 2013. DANIEL PASSOU A LIGAR PARA O

DECLARANTE E DIZIA ‘TEM QUE FAZER DE


NOVO, TÁ NA HORA DE FAZER DE NOVO’. O

Declarante não deu atenção. Passou um tempo,

DANIEL voltou a ligar: ‘vamos fazer de novo’.

Entendeu que DANIEL queria ganhar dinheiro em


cima da PRYSMIAN” (fls. 1020).

10.19. Diante de tão fortes indícios do

cometimento de crimes, não parece razoável que o i. parquet os “perdoasse”

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fls. 2329

sumariamente, mediante arquivamento tácito, sem nem ao menos se preocupar

em apresentar as razões para assim proceder.

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Mais, até.

11. Se esta estranha complacência já não fosse

suficiente para que pairasse uma nuvem de ilegalidade sobre o procedimento em

curso, o i. parquet ainda vai além, e busca transformar essas pessoas em

testemunhas da denúncia (!!!), visando dar-lhes um peso probante que, na

qualidade de réus, nunca teriam.

Para conferir o original, acesse o site https://esaj.tjsp.jus.br/esaj, informe o processo 1021956-73.2015.8.26.0602 e código A1D2BC.
11.1. Certamente, é uma forma que se

encontrou para, com o perdão do termo, “esquentar” a colaboração premiada,

dando-lhe o status de prova testemunhal – justamente o que a jurisprudência tanto

reluta em lhe atribuir.

11.2. O cerceamento que esta ilegal confusão de

papéis acarreta para a defesa dos acusados é tão odioso quanto o desprestígio que

a justiça sofre quando infratores confessos saem impunes sem qualquer

justificativa dos órgãos incumbidos da persecução penal.

11.3. Ainda que o i. parquet quisesse dar uma

interpretação extensiva ao inciso II, do § 4º, do artigo 4º, da Lei n. 12.850/13,

ampliando sua aplicação a vários outros investigados, e ainda que quisesse

dispensar a burocracia do acordo formal, não poderia em hipótese alguma elevá-

los à categoria de testemunhas!!!

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11.4. Em virtude desta indevida transfiguração,

o fiel da balança, que deveria ser alcançado, a rigor, com provas isentas e de

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credibilidade inabalável, acaba ficando à mercê da “generosa” disposição de

“testemunhas” que devem boa parcela de sua tranquilidade – ou até da liberdade

– aos acusadores do caso.

11.5. Não há, permissa venia, critério legal ou

moral capaz de justificar esta heterodoxa escolha procedimental dos ilustres


membros do Ministério Público.

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11.6. Tivesse o i. parquet observado os trâmites
legais para a obtenção de acordos de colaboração, a sociedade teria uma satisfação

quanto ao destino dado a estes colaboradores, enquanto os demais réus se

defenderiam da acusação de delatores – que é o que são –, e não de falsas

testemunhas, que é o que acabaram virando.

11.7. Nada ilustra melhor a ilegalidade aqui

apontada do que o assentimento da própria digna autoridade coatora de que as

“testemunhas” arroladas são de fato investigados, tanto que nem i. Magistrada

descarta a possibilidade de virem a ser denunciados em autos apartados.

11.8. É expressamente o que afirma quando

aduz que o i. parquet

“... talvez tenha optado por oferecer denúncia apenas

em face dos investigados neste processo, postergando-

se, quiçá por critérios de conveniência e melhor

oportunidade para a eficaz persecução penal, o

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fls. 2331

oferecimento de denúncia quanto a outros

investigados, ainda que figurem neste feito apenas

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como TESTEMUNHAS. Trata-se, portanto, de

prerrogativa do Ministério Público que não cabe a


este Juízo ou aos denunciados questionar nesta sede”

(fls. 1897).

11.9. Ora, se a própria d. Magistrada reconhece

esta condição de investigados das “testemunhas” arroladas na denúncia,

admitindo inclusive a possibilidade de ainda virem a ser denunciados, como pode

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então, ao mesmo, tempo aceitar que figurem como testemunhas destes fatos?

11.10. Desta forma, na hipótese de

prosseguimento da presente ação penal, é de rigor que tais agentes recebam o

tratamento processual que merecem, que é de agentes colaboradores, e não de

testemunhas, devendo ser corrigida em tempo esta manifesta falha da denúncia,

visto que implica em gravíssimo prezuízo ao exercício do direito de defesa do

Requerente.

V – DO PEDIDO.

12. Ante todo o exposto, requer-se que:

i) seja reconhecida a incompetência desta d. 2ª Vara Criminal de

Sorocaba/SP para o julgamento do presente feito, devendo os presentes

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autos, bem como os demais procedimentos a ele relacionados, serem

remetidos à competente Comarca de São Paulo/SP, ou, ainda, à de São

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Bernardo do Campo/SP, para seu regular processamento;

ii) seja reconhecida a nulidade do presente feito, desde o oferecimento

da denúncia, ante o cerceamento de defesa e ofensa à garantia da

paridade de armas decorrente da impossibilidade de acesso aos

elementos de prova oriundos das diligências de busca e apreensão, nos

termos do artigo 564 do Código de Processo Penal;

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iii) seja rejeitada a denúncia ofertada, tendo em vista sua inépcia tanto
formal quanto material, nos termos do artigo 516 do Código de

Processo Penal; ou

iv) subsidiariamente, caso se entenda pelo prosseguimento do feito, seja

ao menos conferido às “testemunhas” arroladas pelo d. órgão

acusatório o tratamento de agentes colaboradores, que é o que são.

Termos em que,

Pede deferimento.

São Paulo, 13 de novembro de 2015.

Fábio Tofic Simantob

OAB/SP – 220.540

Daniel Paulo Fontana Bragagnollo

OAB/SP – 346.154

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