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SEEU - Processo: 6003837-16.2021.8.12.0001 - Assinado digitalmente por RODRIGO ROCHA BELINI - ***.***.

261-04
[63.3] JUNTADA DE PETIÇÃO DE MANIFESTAÇÃO DA PARTE - ACÓRDÃO STF em 27/09/2023

Supremo Tribunal Federal


Ementa e Acórdão

Inteiro Teor do Acórdão - Página 1 de 56

03/07/2023 PLENÁRIO

RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO 848.107 DISTRITO FEDERAL

Validação em https://seeu.pje.jus.br/seeu/ - Identificador: PJLMG GQGKG 37VSR AQ4TB


Documento assinado digitalmente, conforme MP nº 2.200-2/2001, Lei nº 11.419/2006.
RELATOR : MIN. DIAS TOFFOLI
RECTE.(S) : MINISTÉRIO PÚBLICO DO DISTRITO FEDERAL E
TERRITÓRIOS
PROC.(A/S)(ES) : PROCURADOR-GERAL DE JUSTIÇA DO DISTRITO
FEDERAL E TERRITÓRIOS
RECDO.(A/S) : EDSON RODRIGUES DE OLIVEIRA
PROC.(A/S)(ES) : DEFENSOR PÚBLICO-GERAL DO DISTRITO
FEDERAL
AM. CURIAE. : DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DO RIO DE
JANEIRO
PROC.(A/S)(ES) : DEFENSOR PÚBLICO-GERAL DO ESTADO DO RIO
DE JANEIRO
AM. CURIAE. : DEFENSORIA PÚBLICA DA UNIÃO
PROC.(A/S)(ES) : DEFENSOR PÚBLICO-GERAL FEDERAL

EMENTA

Constitucional. Tema nº 788. Repercussão geral. Penal. Extinção da


punibilidade. Prazo prescricional. Termo inicial. Pena concretamente
fixada. Modalidade executória. Artigo 112, inciso I, primeira parte, do
Código Penal. Literalidade. Aposto “para a acusação” após a expressão
“trânsito em julgado”. Necessária harmonização. Presunção de
inocência (CF, art. 5º, inciso LVII). Garantia de necessidade de trânsito
em julgado em definitivo para o início do cumprimento da pena.
Inconstitucionalidade superveniente. ADC nºs 44, 53 E 54. Fluência de
prazo prescricional antes da constituição definitiva do título executivo.
Impossibilidade. Necessário nascimento da pretensão e da inércia
estatal. Retirada da locução “para a acusação” após a expressão “trânsito
em julgado”. Fixação de tese em consonância com a leitura
constitucional do dispositivo. Recurso extraordinário ao qual se dá
provimento.
1. A questão em foco é saber se, à luz do art. 5º, incisos II e LVII, da

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ARE 848107 / DF

Constituição Federal, o art. 112, inciso I, do Código Penal foi


recepcionado pelo ordenamento jurídico, diante da previsão literal de que
a fluência do prazo prescricional da pretensão executória estatal pela

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pena concretamente aplicada em sentença se inicia com o trânsito em

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julgado para a acusação.
2. Nas ADC nºs 43, 44 e 53, cujo objeto se traduziu no cotejo da
redação dada ao art. 283 do Código de Processo Penal pela Lei 12.403/11
com o princípio da presunção de inocência (art. 5º, inciso LVII, da CF), a
Suprema Corte assentou a necessidade de trânsito em julgado para ambas
as partes como condição para a execução da pena.
3. A partir da revisão do entendimento anterior ‒ que viabilizava a
execução provisória da pena ‒, pôs-se em discussão se a expressão do
citado dispositivo “para a acusação” manter-se-ia hígida, por determinar
a fluência do prazo prescricional antes da formação do título executivo.
4. Reconhecidas a afronta ao princípio da presunção de inocência
(conformado, quanto à execução da pena nas ADC nºs 43, 44 e 53), pela
manutenção no ordenamento jurídico de regra que pressupõe a (vedada)
execução provisória, a disfuncionalidade sistêmica e a descaracterização
do instituto da prescrição, declara-se não recepcionado o dispositivo
frente à Constituição Federal apenas quanto à locução “para a acusação”.
5. Fixa-se, em consequência, a seguinte tese: A prescrição da
execução da pena concretamente aplicada começa a correr do dia em
que transita em julgado a sentença condenatória para ambas as partes,
momento em que nasce para o Estado a pretensão executória da pena,
conforme interpretação dada pelo Supremo Tribunal Federal, nas ADC
nºs 43, 44 e 54, ao princípio da presunção de inocência (art. 5º, inciso
LVII, da Constituição Federal).
6. No caso concreto, entretanto, nas datas nas quais foram proferidas
as decisões que declararam prescrita a pretensão executória: tanto pelo
TJDF como pelo STJ (e embora o entendimento na Suprema Corte já fosse
em mesmo sentido do presente voto), não havia decisões vinculantes na
Suprema Corte. Desse modo, o condenado obteve decisões favoráveis
prolatadas pelo sistema de Justiça, que não afrontaram precedentes

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vinculantes da Suprema Corte, ocorrendo a estabilização de seu status


libertatis. Preponderam, nesse contexto, os princípios da segurança
jurídica e da proteção da confiança e aplicam-se iguais rati decidendi a

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todos os casos em situação idêntica. Não foiprovido, por essas razões, o

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recurso extraordinário.
7. Modulam-se os efeitos da tese para que seja aplicada aos casos i)
nos quais a pena não tenha sido declarada extinta pela prescrição em
qualquer tempo e grau de jurisdição; e ii) cujo trânsito em julgado para a
acusação tenha ocorrido após 12/11/20 (data do julgamento das ADC nº
43, 44 e 53).
8. Declara-se a não recepção pela Constituição Federal da locução
“para a acusação”, contida na primeira parte do inciso I do art. 112 do
Código Penal, conferindo a ela interpretação conforme à Constituição
para se entender que a prescrição começa a correr do dia em que
transita em julgado a sentença condenatória para ambas as partes.
ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros do


Supremo Tribunal Federal, em sessão virtual do Plenário de 23 a 30/6/23,
apreciando o Tema nº 788 da Repercussão Geral, na conformidade da ata
do julgamento e nos termos do voto do Relator, Ministro Dias Toffoli, por
maioria de votos ‒ vencido o Ministro Alexandre de Moraes, que
conhecia do agravo no recurso extraordinário e, no mérito, dava
provimento ao recurso extraordinário e divergia quanto à modulação dos
efeitos do julgado, com o entendimento de que não devem se aplicar
apenas às decisões com trânsito em julgado ‒, em negar provimento ao
recurso extraordinário com agravo interposto pelo Ministério Público do
Distrito Federal e Territórios e declarar a não recepção pela Constituição
Federal da locução "para a acusação", contida na primeira parte do inciso
I do art. 112 do Código Penal, conferindo a ela interpretação conforme à
Constituição, de forma a se entender que a prescrição começa a correr do
dia em que transita em julgado a sentença condenatória para ambas as
partes, aplicando-se esse entendimento aos casos em que i) a pena não foi

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declarada extinta pela prescrição e ii) cujo trânsito em julgado para a


acusação tenha ocorrido após 12/11/20. Acordam, ademais, os Ministros,
por unanimidade de voto, em fixar a seguinte tese: "O prazo para a

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prescrição da execução da pena concretamente aplicada somente começa

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a correr do dia em que a sentença condenatória transita em julgado para
ambas as partes, momento em que nasce para o Estado a pretensão
executória da pena, conforme interpretação dada pelo Supremo Tribunal
Federal ao princípio da presunção de inocência (art. 5º, inciso LVII, da
Constituição Federal) nas ADC nºs 43, 44 e 54".

Brasília, 3 de julho de 2023.

Ministro Dias Toffoli


Relator

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Relatório

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24/03/2022 PLENÁRIO

RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO 848.107 DISTRITO FEDERAL

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Documento assinado digitalmente, conforme MP nº 2.200-2/2001, Lei nº 11.419/2006.
RELATOR : MIN. DIAS TOFFOLI
RECTE.(S) : MINISTÉRIO PÚBLICO DO DISTRITO FEDERAL E
TERRITÓRIOS
PROC.(A/S)(ES) : PROCURADOR-GERAL DE JUSTIÇA DO DISTRITO
FEDERAL E TERRITÓRIOS
RECDO.(A/S) : EDSON RODRIGUES DE OLIVEIRA
PROC.(A/S)(ES) : DEFENSOR PÚBLICO-GERAL DO DISTRITO
FEDERAL
AM. CURIAE. : DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DO RIO DE
JANEIRO
PROC.(A/S)(ES) : DEFENSOR PÚBLICO-GERAL DO ESTADO DO RIO
DE JANEIRO
AM. CURIAE. : DEFENSORIA PÚBLICA DA UNIÃO
PROC.(A/S)(ES) : DEFENSOR PÚBLICO-GERAL FEDERAL

RELATÓRIO

O SENHOR MINISTRO DIAS TOFFOLI (RELATOR):


Ministério Público do Distrito Federal e Territórios, com fundamento
na alínea a do permissivo constitucional, interpõe recurso extraordinário
com agravo contra acórdão do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e
dos Territórios assim ementado:

“AGRAVO EM EXECUÇÃO. PRESCRIÇÃO DA


PRETENSÃO EXECUTÓRIA. TERMO INICIAL. TRÂNSITO
EM JULGADO PARA A ACUSAÇÃO. DESPROVIMENTO.
I - Segundo dispõe o art. 112, I, do Código Penal, a
prescrição da pretensão executória começa a correr do dia em
que transita em julgado a sentença condenatória para a
acusação, não sendo cabível considerar como termo inicial do
prazo prescricional a data do trânsito em julgado definitivo, sob
pena de eleger termo interruptivo não previsto em lei.
II - Verificada a ocorrência de causa extintiva de

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punibilidade, deverá o Juiz ou Tribunal declará-la de ofício, nos


termos do artigo 61 do Código de Processo Penal.
III - Recurso conhecido e desprovido” (fl. 74 – grifos da

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autora).

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Em preliminar, o recorrente sustenta a repercussão geral da matéria
versada no feito,

“calcada no mais estrito interesse público, notadamente


do ponto de vista jurídico e social da demanda constitucional
versando o marco do trânsito em julgado da execução da
sanção penal, questão, que evidentemente, ultrapassa os
interesses subjetivos da causa e alcança toda a massa carcerária
e a própria estrutura judicial na esfera criminal” (fl. 108).

No pleito extraordinário, afirma que, como consequência do


entendimento sufragado no julgamento do HC nº 84.078/MG (Tribunal
Pleno, Rel. Min. Eros Grau, DJe de 26/2/10) – no qual o Tribunal concluiu,
ante o princípio da presunção de inocência, pela impossibilidade da
execução da sentença penal condenatória antes de seu definitivo trânsito
em julgado –, se deveria dar interpretação conforme ao art. 112, inciso I,
do Código Penal, fundada no interesse público, “sob pena de tornarem-se
infrutíferas as execuções criminais do país, todas fulminadas pela
prescrição” (fl. 112).
Na esteira desse raciocínio, aduz que o acórdão recorrido teria
vilipendiado o art. 5º, incisos II e LVII, da Constituição Federal, ao
assentar a aplicabilidade do art. 112, inciso I, do Código Penal, para
reconhecer a prescrição da pretensão executória em prol do recorrido.
Nesse contexto, busca o recorrente o conhecimento e o provimento
do extraordinário, de modo que se afaste “a prescrição da pretensão
executória (…) na espécie” (fl. 118).
Em contrarrazões, o recorrido assevera, citando doutrina e
jurisprudência, que a prescrição da pretensão executória tem como termo
inicial a data do trânsito em julgado da sentença condenatória para a

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acusação.
Nesse sentido, pugna pelo não conhecimento do recurso
extraordinário e, caso o Tribunal dele conheça, por seu não provimento.

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O recurso extraordinário não foi admitido pelo Tribunal de Justiça

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local. Todavia, por entender presentes os pressupostos de admissibilidade
recursais, provi o agravo para admitir o extraordinário.
Considerando que o tema apresenta densidade constitucional
elevada e extrapola os interesses subjetivos das partes, propus no
Plenário Virtual o reconhecimento da repercussão geral da matéria, o que
foi encampado pela Corte por maioria.
O julgado foi assim ementado:

“CONSTITUCIONAL. PENAL. EXTINÇÃO DA


PUNIBILIDADE. TERMO INICIAL PARA A CONTAGEM DA
PRESCRIÇÃO NA MODALIDADE EXECUTÓRIA. TRÂNSITO
EM JULGADO SOMENTE PARA A ACUSAÇÃO. ARTIGO 112,
INCISO I, DO CÓDIGO PENAL. NECESSIDADE DE
HARMONIZAÇÃO DO REFERIDO INSTITUTO PENAL COM
O ORDENAMENTO JURÍDICO CONSTITUCIONAL
VIGENTE, DIANTE DOS POSTULADOS DA ESTRITA
LEGALIDADE E DA PRESUNÇÃO DE INOCÊNCIA (CF, ART.
5º, INCISOS II E LVII). QUESTÃO EMINENTEMENTE
CONSTITUCIONAL. MATÉRIA PASSÍVEL DE REPETIÇÃO
EM INÚMEROS PROCESSOS, A REPERCUTIR NA ESFERA
DO INTERESSE PÚBLICO. TEMA COM REPERCUSSÃO
GERAL.”

Instada a se manifestar, a Procuradoria-Geral da República opinou


pelo conhecimento e pelo provimento do recurso extraordinário, nos
seguintes termos:

“CONSTITUCIONAL E PENAL. RECURSO


EXTRAORDINÁRIO COM REPERCUSSÃO GERAL.
PRESCRIÇÃO DA PRETENSÃO EXECUTÓRIA. ART. 112, I,
DO CÓDIGO PENAL. TERMO INICIAL DO TRÂNSITO EM

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JULGADO PARA A ACUSAÇÃO. OFENSA AOS PRINCÍPIOS


DA PROPORCIONALIDADE, DO DEVIDO PROCESSO
LEGAL E DA ISONOMIA (PARIDADE DE ARMAS).

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PRINCÍPIO DA PRESUNÇÃO DE INOCÊNCIA.

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INTERPRETAÇÃO DO HC 84.078/MG.
1. O Supremo Tribunal Federal, no julgamento do habeas
corpus 84.078/MG, decidiu pela impossibilidade de execução de
pena antes de exauridas todas as instâncias, inclusive a
extraordinária, sem prejuízo da possibilidade de prisão
cautelar.
2. Aplicação literal do art. 112, I, do Código Penal, em face
da orientação jurisprudencial atual do STF, acarreta contradição
com a essência do conceito de prescrição, que decorre de inércia
do titular do direito, e severo golpe contra a eficácia do sistema
de execução penal e contra o direito fundamental à segurança,
pois o curso da prescrição da pretensão executória se iniciaria
sem que o Estado, por meio do Ministério Público, possa
executar a decisão condenatória. Atinge-se assim, também, de
forma cruel, a expectativa legítima das vítimas de delito de os
perpetradores destes recebam a punição prevista na lei.
3. A única interpretação atualmente consistente e
compatível com a Constituição da República acerca do termo
inicial da prescrição executória é a que a define como o trânsito
em julgado da decisão condenatória para ambas as partes.
4. Parecer pelo provimento do recurso.”

Por intermédio das Petições nºs 41.339/15, 7.829/16, 36.806/17,


64.571/18, 88.153/20 e 90.408/20), a advogada Roseli Susane Jaworoski de
Campos, a Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro, a Defensoria
Pública da União, as Defensorias Públicas integrantes do Grupo de
Atuação Estratégica das Defensorias Públicas Estaduais nos Tribunais
Superiores (GAETS), o Ministério Público do Estado de São Paulo e o
Ministério Público do Estado do Rio Grande do Sul pleitearam ingresso
no feito na qualidade de amici curiae.
Os pedidos feitos pelo Ministério Público do Estado do Rio Grande

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ARE 848107 / DF

do Sul, pelo Ministério Público do Estado de São Paulo e pelas


Defensorias Públicas integrantes do Grupo de Atuação Estratégica das
Defensorias Públicas Estaduais nos Tribunais Superiores (GAETS) foram

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indeferidos, em razão de os requerimentos terem sido formulados

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posteriormente à liberação do recurso para inclusão em pauta de
julgamento.
O pedido feito pela advogada Roseli Susane Jaworoski de Campos
foi igualmente indeferido, pelo fato de ter sido efetuado ainda sob a égide
do regime processual civil pretérito, o qual não permitia o ingresso de
pessoas físicas como amici curiae. Ademais, ainda que visto sob novo
regramento, a peticionante não preencheria o requisito da
representatividade adequada.
Foi admitido o ingresso da Defensoria Pública do Estado do Rio de
Janeiro e da Defensoria Pública da União como amici curiae.
O Ministério Público do Estado do Rio Grande do Sul postulou a
reconsideração da decisão de indeferimento de seu ingresso no feito na
referida qualidade, mas a decisão foi mantida, porque a questão é de
direito e já há substanciosas defesas dos pontos de vista em causa.
É o relatório.

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Observação

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24/03/2022 PLENÁRIO

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OBSERVAÇÃO

O SENHOR MINISTRO DIAS TOFFOLI (RELATOR):


Só para registrar, Senhor Presidente, as sustentações orais do Dr.
Ricardo, Defensor Público do Distrito Federal; do Dr. Gustavo, Defensor
Público-Geral Federal; a sempre bem-vinda manifestação do Dr. Pedro
Paulo, pela Defensoria Pública do Rio de Janeiro; e agora também a
eminente manifestação oral do Procurador-Geral da República, Dr.
Augusto Aras.
Senhor Presidente, só para algumas reflexões com os Colegas, não
mais do que trinta segundos. Realmente, as manifestações orais
apresentam densidade quanto às questões relativas ao momento de
decisões de acordo com a jurisprudência da Corte.
Eu vou proferir o voto na sessão em que Vossa Excelência marcar a
continuidade deste julgamento, mas, para uma reflexão conjunta e,
inclusive, a eventual possibilidade, ou não, de, ao fixar a tese,
ressalvarmos os casos concretos em que já houve a declaração de extinção
da punibilidade. Só para uma reflexão. Eu, por enquanto, mantenho
aquele posicionamento que já adiantei por ocasião da leitura do relatório.
Eu só anoto que, no caso concreto, o acórdão do TJDF foi proferido
em 29 de novembro de 2013, ou seja, sob a égide do entendimento do
Supremo que prevalecia à época baseado no acórdão de relatoria do
Ministro Eros Grau, o qual propunha, e a Corte o referendou por maioria,
a necessidade do trânsito em julgado para ambas as partes para o início
da execução. Então, no caso concreto, eu entendo que, realmente, não
poderia haver a execução da pena a partir da condenação, porque havia
uma decisão do Supremo que exigia o trânsito em julgado para a prisão
executória da pena.
Pois bem, em meu voto, que eu já fiz distribuir, mas que eu vou ler
na próxima sessão de maneira resumida...
O SENHOR MINISTRO LUIZ FUX (PRESIDENTE) - Ministro Dias

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Observação

Inteiro Teor do Acórdão - Página 11 de 56

ARE 848107 / DF

Toffoli, apenas uma observação.


O Supremo Tribunal Federal reservou, para a próxima quarta-feira e
quinta-feira, as questões ambientais. Isso já foi amplamente divulgado.

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O SENHOR MINISTRO DIAS TOFFOLI (RELATOR):

Documento assinado digitalmente, conforme MP nº 2.200-2/2001, Lei nº 11.419/2006.


Eu não disse que vai continuar na próxima sessão. Eu disse na sessão
que Vossa Excelência designar para a continuidade deste julgamento.
O SENHOR MINISTRO LUIZ FUX (PRESIDENTE) - Ah, eu pensei
que tivesse dito quarta-feira.
O SENHOR MINISTRO DIAS TOFFOLI (RELATOR):
Não, não!
Vossa Excelência pode pegar o áudio, eu disse “na sessão em que
Vossa Excelência marcar".
O SENHOR MINISTRO LUIZ FUX (PRESIDENTE) - Está ótimo!
O SENHOR MINISTRO DIAS TOFFOLI (RELATOR):
Por isso que eu gostaria de fazer essas reflexões, Senhor Presidente,
já imaginando que não seria na próxima sessão, e, repetindo, eu disse “na
sessão em que Vossa Excelência marcar para a continuidade do
julgamento”. É que eu fiz questão de adiantar essas ponderações para que
não envelheça a nossa memória.
Então, Senhor Presidente, no caso concreto, a decisão do TJDFT se
colocava em contradição com a decisão então vigente do Plenário do
Supremo, que era a necessidade de execução para ambas as partes.
Se nós entendermos que a execução começa na literalidade do art.
121 do Código Penal, o que vai acontecer? O Ministério Público vai se ver
obrigado a recorrer de todas as decisões condenatórias para evitar uma
prescrição. Essa era uma outra ponderação que eu gostaria de adiantar
(está no meu voto também) aos eminentes Colegas. Ou seja, nós vamos
incentivar a litigiosidade, porque o Ministério Público vai ter de recorrer
para evitar uma prescrição para a execução. E recorrer de maneira
desnecessária quando entender que a decisão da Justiça no primeiro grau
ou no grau recursal esteja correta na visão do Ministério Público.
Pois bem, essas são as ponderações que eu gostaria de fazer, mas
realmente as manifestações da defesa nos impõem uma reflexão e, a mim,

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Observação

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em particular, como Relator, a respeito dos casos em que já tenha sido


reconhecida a prescrição para dar segurança jurídica também.
Eram essas as ponderações que eu gostaria de fazer, Senhor

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Presidente, agradecendo, mais uma vez, pelo uso da palavra já no

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adiantado da hora.
O SENHOR MINISTRO LUIZ FUX (PRESIDENTE) - Muito
obrigado pela deferência, Ministro Dias Toffoli.

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Extrato de Ata - 24/03/2022

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PLENÁRIO
EXTRATO DE ATA

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RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO 848.107

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PROCED. : DISTRITO FEDERAL
RELATOR : MIN. DIAS TOFFOLI
RECTE.(S) : MINISTÉRIO PÚBLICO DO DISTRITO FEDERAL E TERRITÓRIOS
PROC.(A/S)(ES) : PROCURADOR-GERAL DE JUSTIÇA DO DISTRITO FEDERAL E
TERRITÓRIOS
RECDO.(A/S) : EDSON RODRIGUES DE OLIVEIRA
PROC.(A/S)(ES) : DEFENSOR PÚBLICO-GERAL DO DISTRITO FEDERAL
AM. CURIAE. : DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO
ADV.(A/S) : DEFENSOR PÚBLICO-GERAL DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO
AM. CURIAE. : DEFENSORIA PÚBLICA DA UNIÃO
PROC.(A/S)(ES) : DEFENSOR PÚBLICO-GERAL FEDERAL

Decisão: Após a leitura do relatório e realização das


sustentações orais, o julgamento foi suspenso. Falaram: pelo
recorrido, o Dr. Ricardo Ruivo Moreira de Oliveira, Defensor
Público do Distrito Federal; pelo amicus curiae Defensoria Pública
da União, o Dr. Gustavo Zortéa da Silva, Defensor Público Federal;
pelo amicus curiae Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro,
o Dr. Pedro Paulo Lourival Carriello, Defensor Público do Estado
do Rio de Janeiro; e, pela Procuradoria-Geral da República, o Dr.
Antônio Augusto Brandão de Aras, Procurador-Geral da República.
Presidência do Ministro Luiz Fux. Plenário, 24.3.2022.

Presidência do Senhor Ministro Luiz Fux. Presentes à sessão os


Senhores Ministros Gilmar Mendes, Ricardo Lewandowski, Cármen
Lúcia, Dias Toffoli, Rosa Weber, Roberto Barroso, Edson Fachin,
Alexandre de Moraes, Nunes Marques e André Mendonça.

Procurador-Geral da República, Dr. Antônio Augusto Brandão de


Aras.

Carmen Lilian Oliveira de Souza


Assessora-Chefe do Plenário

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Voto - MIN. DIAS TOFFOLI

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03/07/2023 PLENÁRIO

RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO 848.107 DISTRITO FEDERAL

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VOTO

O SENHOR MINISTRO DIAS TOFFOLI (RELATOR):


1. DELIMITAÇÃO DO TEMA.
A questão que se quer dirimir é se o art. 112, inciso I, do Código
Penal foi recepcionado pelo ordenamento jurídico, à luz do art. 5º, incisos
II e LVII, da Constituição da República.
O dispositivo em foco possui a seguinte redação:

“Art. 112 - No caso do art. 110 deste Código, a prescrição


começa a correr: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
I - do dia em que transita em julgado a sentença
condenatória, para a acusação, ou a que revoga a suspensão
condicional da pena ou o livramento condicional.”

Os parâmetros constitucionais, por sua vez, são os seguintes:

“Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de


qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos
estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à
vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos
termos seguintes:
(...)
II – ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer
alguma coisa senão em virtude de lei;
(...)
LVII - ninguém será considerado culpado até o trânsito em
julgado de sentença penal condenatória.”

Tendo em vista esses dispositivos e em especial o entendimento


recém-manifesto por esta Suprema Corte de que o trânsito em julgado
para ambas as partes é condição para a execução da pena (ADC nºs 43, 44
e 54), restabeleceu-se a controvérsia acerca de qual é o termo inicial para a

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Voto - MIN. DIAS TOFFOLI

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ARE 848107 / DF

contagem da pretensão executória do Estado: se o trânsito em julgado


para a acusação (literalidade do inciso I do art. 112 do Código Penal
supracitado) ou o trânsito em julgado para a acusação e a defesa.

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Desse modo, a constitucionalidade ou não do inciso I do art. 112 do

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Código Penal estaria diretamente relacionada com a recente interpretação
do Supremo Tribunal Federal de que o Estado não pode determinar a
execução da pena contra condenado com base em título executivo não
definitivo, em razão da prevalência do princípio da presunção de
inocência (insculpido no art. 5º, inciso LVII, da CRFB).
No que tange a quando a execução da pena pode ser iniciada, há de
se recordar que esta Suprema Corte já oscilou entre dois entendimentos
sobre isso: i) apenas depois do trânsito em julgado para ambas as partes
(título judicial definitivo) ou ii) já no esgotamento das instâncias
jurisdicionais ordinárias (título judicial provisório).
É oportuno, por isso, fazer um breve histórico dessas duas vertentes.

2. EVOLUÇÃO DA JURISPRUDÊNCIA DA SUPREMA CORTE – PRINCÍPIO


DA PRESUNÇÃO DE INOCÊNCIA – ART. 5º, INCISO LVII, DA CRFB.
Com a promulgação da Constituição Federal de 1988 e a inclusão da
presunção de inocência no rol de direitos e garantias fundamentais
(inciso LVII do art. 5º), esta Corte Constitucional discutiu o possível
conflito entre esse artigo e a execução provisória da pena pela primeira
vez em Plenário no HC nº 68.726/DF, em 28 de junho de 1991, o qual foi
relatado pelo Ministro Néri da Silveira. Naquela assentada, por
unanimidade, o Tribunal entendeu “não conflitar com o art. 5º, inciso
LVII, da Constituição” a expedição de mandado de prisão para o início da
execução provisória da pena.
Por muitos anos esse entendimento vigorou, sendo ilustrativos o HC
nº 69.964/RJ, Rel. Min. Ilmar Galvão, DJ de 1º/7/93, e o HC nº 72.102/MG,
Rel. Min. Celso de Mello, DJ de 20/4/95, dos quais se extraem trechos
marcantes assim vazados:

“[O] princípio constitucional da não-culpabilidade dos


réus, fundado no art. 5º, LVII, da Carta Política, não se qualifica

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Voto - MIN. DIAS TOFFOLI

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ARE 848107 / DF

como obstáculo jurídico à imediata decretação da prisão do


acusado, ainda que se revele passível de impugnação, pela via
do recurso especial (STJ) ou do recurso extraordinário (STF), o

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acórdão de Tribunal inferior que impôs condenação penal ao

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paciente.”

“[O] direito de recorrer em liberdade – que pode ser


eventualmente reconhecido em sede de apelação criminal – não
se estende aos recursos de índole extraordinária, posto que não
dispõem estes, nos termos da lei, consoante já ressaltado, de
efeito suspensivo das conseqüências jurídicas que decorrem do
acórdão veiculador da condenação penal.”

Por ser exemplar, registro passagem de outro julgado da Primeira


Turma, também de relatoria do Ministro Celso de Mello:

“[O] Pacto de São José da Costa Rica, que instituiu a


Convenção Americana Sobre Direitos Humanos, não impede –
em tema de proteção ao status libertatis do réu (Artigo 7º, n. 2)
-, que se ordene a privação antecipada da liberdade do
indiciado, do acusado ou do condenado, desde que esse ato de
constrição pessoal se ajuste às hipóteses previstas no
ordenamento doméstico de cada Estado signatário desse
documento internacional. O sistema jurídico brasileiro, além
das diversas modalidades de prisão cautelar, também admite
aquela decorrente de sentença condenatória meramente
recorrível. Precedente: HC nº 72.366-SP, Rel. Min. NÉRI DA
SILVEIRA” (grifo nosso).

No entanto, com o julgamento do HC nº 84.078/MG, Rel. Min. Eros


Grau, em 5 de fevereiro de 2009, operou-se verdadeiro giro hermenêutico
no Pleno desta Casa, que, por sete votos a quatro, passou a exigir, para a
execução da pena, o trânsito em julgado da condenação para a acusação e
para a defesa, assentando que, antes dele, a prisão somente pode ser
decretada ou mantida a título cautelar. A decisão foi assim ementada:

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“HABEAS CORPUS. INCONSTITUCIONALIDADE DA


CHAMADA 'EXECUÇÃO ANTECIPADA DA PENA'. ART. 5º,

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LVII, DA CONSTITUIÇÃO DO BRASIL. DIGNIDADE DA

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PESSOA HUMANA. ART. 1º, III, DA CONSTITUIÇÃO DO
BRASIL.
1. O art. 637 do CPP estabelece que ‘[o] recurso
extraordinário não tem efeito suspensivo, e uma vez arrazoados
pelo recorrido os autos do traslado, os originais baixarão à
primeira instância para a execução da sentença’. A Lei de
Execução Penal condicionou a execução da pena privativa de
liberdade ao trânsito em julgado da sentença condenatória. A
Constituição do Brasil de 1988 definiu, em seu art. 5º, inciso
LVII, que ‘ninguém será considerado culpado até o trânsito em
julgado de sentença penal condenatória’.
2. Daí que os preceitos veiculados pela Lei n. 7.210/84,
além de adequados à ordem constitucional vigente, sobrepõem-
se, temporal e materialmente, ao disposto no art. 637 do CPP.
3. A prisão antes do trânsito em julgado da condenação
somente pode ser decretada a título cautelar.
4. A ampla defesa, não se a pode visualizar de modo
restrito. Engloba todas as fases processuais, inclusive as
recursais de natureza extraordinária. Por isso a execução da
sentença após o julgamento do recurso de apelação significa,
também, restrição do direito de defesa, caracterizando
desequilíbrio entre a pretensão estatal de aplicar a pena e o
direito, do acusado, de elidir essa pretensão.
5. Prisão temporária, restrição dos efeitos da interposição
de recursos em matéria penal e punição exemplar, sem
qualquer contemplação, nos ‘crimes hediondos’ exprimem
muito bem o sentimento que EVANDRO LINS sintetizou na
seguinte assertiva: ‘Na realidade, quem está desejando punir
demais, no fundo, no fundo, está querendo fazer o mal, se
equipara um pouco ao próprio delinqüente’.
6. A antecipação da execução penal, ademais de
incompatível com o texto da Constituição, apenas poderia ser

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justificada em nome da conveniência dos magistrados --- não


do processo penal. A prestigiar-se o princípio constitucional,
dizem, os tribunais [leia-se STJ e STF] serão inundados por

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recursos especiais e extraordinários e subseqüentes agravos e

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embargos, além do que ‘ninguém mais será preso’. Eis o que
poderia ser apontado como incitação à ‘jurisprudência
defensiva’, que, no extremo, reduz a amplitude ou mesmo
amputa garantias constitucionais. A comodidade, a melhor
operacionalidade de funcionamento do STF não pode ser
lograda a esse preço.
7. No RE 482.006, relator o Ministro Lewandowski,
quando foi debatida a constitucionalidade de preceito de lei
estadual mineira que impõe a redução de vencimentos de
servidores públicos afastados de suas funções por responderem
a processo penal em razão da suposta prática de crime
funcional [art. 2º da Lei n. 2.364/61, que deu nova redação à Lei
n. 869/52], o STF afirmou, por unanimidade, que o preceito
implica flagrante violação do disposto no inciso LVII do art. 5º
da Constituição do Brasil. Isso porque --- disse o relator --- 'a se
admitir a redução da remuneração dos servidores em tais
hipóteses, estar-se-ia validando verdadeira antecipação de
pena, sem que esta tenha sido precedida do devido processo
legal, e antes mesmo de qualquer condenação, nada
importando que haja previsão de devolução das diferenças, em
caso de absolvição'. Daí porque a Corte decidiu, por
unanimidade, sonoramente, no sentido do não recebimento do
preceito da lei estadual pela Constituição de 1.988, afirmando
de modo unânime a impossibilidade de antecipação de
qualquer efeito afeto à propriedade anteriormente ao seu
trânsito em julgado. A Corte que vigorosamente prestigia o
disposto no preceito constitucional em nome da garantia da
propriedade não a deve negar quando se trate da garantia da
liberdade, mesmo porque a propriedade tem mais a ver com as
elites; a ameaça às liberdades alcança de modo efetivo as classes
subalternas.
8. Nas democracias mesmo os criminosos são sujeitos de

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direitos. Não perdem essa qualidade, para se transformarem


em objetos processuais. São pessoas, inseridas entre aquelas
beneficiadas pela afirmação constitucional da sua dignidade

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(art. 1º, III, da Constituição do Brasil). É inadmissível a sua

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exclusão social, sem que sejam consideradas, em quaisquer
circunstâncias, as singularidades de cada infração penal, o que
somente se pode apurar plenamente quando transitada em
julgado a condenação de cada qual Ordem concedida” (HC nº
84.078/MG, Rel. Min. Eros Grau, Tribunal Pleno, DJe de 5/2/09).

Por sete anos, a compreensão supracitada foi mantida. Durante esse


interregno, registraram-se decisões de ministros desta Corte – ainda que
em processos subjetivos –, afastando a literalidade do art. 112, inciso I, do
Código Penal. Nessas oportunidades, por meio de interpretação
sistemática, assentou-se a necessidade de trânsito em julgado para ambas
as partes como marco inicial da prescrição da pretensão executória.
São exemplos desse entendimento o HC nº 115.269 (DJe de 19/9/13)
e o ARE nº 682.013/SP (DJe de 6/2/13), ambos de relatoria da Ministra
Rosa Weber e com decisão unânime da Primeira Turma desta Suprema
Corte. O voto condutor desse último julgamento consignou o seguinte:

“Quanto à pretensão executória, estando condicionada ao


trânsito em julgado da condenação criminal, conforme
precedente do Plenário desta Suprema Corte no HC 84.078 (Rel.
Min. Eros Grau, Pleno do Supremo Tribunal Federal, por
maioria, j. 05.02.2009), o prazo iniciou o seu curso, pelo
princípio da actio nata, somente em abril de 2011.
Vedada a execução provisória da pena não é suficiente,
para o início do prazo da pretensão executória, o trânsito em
julgado para a Acusação.
É necessário reinterpretar o art. 112, I, do Código Penal, à
luz do entendimento do Supremo Tribunal Federal, adotado
no HC 84.078, em relação ao princípio constitucional da
presunção de inocência.”

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Paralelamente, ainda em 2011, o Congresso Nacional editou a Lei nº


12.403/11, a qual conferiu nova redação ao art. 283 do Código de Processo
Penal, in verbis:

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“Art. 283. Ninguém poderá ser preso senão em flagrante
delito ou por ordem escrita e fundamentada da autoridade
judiciária competente, em decorrência de sentença condenatória
transitada em julgado ou, no curso da investigação ou do
processo, em virtude de prisão temporária ou prisão
preventiva.”

Não obstante a alteração supracitada, no julgamento do HC nº


126.292/SP, Rel. Min. Teori Zavascki, em 17/5/16, retomou-se o
entendimento segundo o qual a possibilidade de execução provisória
da pena não confrontaria com o princípio da presunção de inocência. O
acórdão do processo foi assim ementado:

“CONSTITUCIONAL. HABEAS CORPUS. PRINCÍPIO


CONSTITUCIONAL DA PRESUNÇÃO DE INOCÊNCIA (CF,
ART. 5º, LVII). SENTENÇA PENAL CONDENATÓRIA
CONFIRMADA POR TRIBUNAL DE SEGUNDO GRAU DE
JURISDIÇÃO. EXECUÇÃO PROVISÓRIA. POSSIBILIDADE.
1. A execução provisória de acórdão penal condenatório
proferido em grau de apelação, ainda que sujeito a recurso
especial ou extraordinário, não compromete o princípio
constitucional da presunção de inocência afirmado pelo artigo
5º, inciso LVII da Constituição Federal.
2. Habeas corpus denegado” (HC nº 126.292/SP, Rel. Min.
Teori Zavascki, Tribunal Pleno, DJe de 17/5/16).

Todavia, o tema voltou à cena nas ADC nºs 43, 44 e 54, cuja
controvérsia repousava na constitucionalidade do novo texto do art. 283
do Código de Processo Penal trazido pela Lei nº 12.403/11, tendo como
parâmetro constitucional de contraste o mesmo inciso LVII do art. 5º da
Constituição da República.

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ARE 848107 / DF

Nos termos do voto de seu relator e por maioria, entendeu-se


constitucional o artigo e restabeleceu-se como condição para o início do
cumprimento da pena o trânsito em julgado da sentença penal

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condenatória (para ambas as partes, portanto). Vide a ementa pertinente:

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“PENA – EXECUÇÃO PROVISÓRIA –
IMPOSSIBILIDADE – PRINCÍPIO DA NÃO CULPABILIDADE.
Surge constitucional o artigo 283 do Código de Processo
Penal, a condicionar o início do cumprimento da pena ao
trânsito em julgado da sentença penal condenatória,
considerado o alcance da garantia versada no artigo 5º, inciso
LVII, da Constituição Federal, no que direciona a apurar para,
selada a culpa em virtude de título precluso na via da
recorribilidade, prender, em execução da sanção, a qual não
admite forma provisória” (ADC 43, Rel. Min. Marco Aurélio,
Tribunal Pleno, DJe de 11/11/20).

A partir desse contexto, ou seja, consolidado o entendimento de


que a pretensão executória da pena imposta pelo Estado nasce apenas a
partir do trânsito em julgado da ação condenatória que a impõe, passa-
se a analisar a recepção do art. 112, inciso I, do Código Penal. Para tanto,
faço exame do instituto da prescrição em nosso ordenamento.

3. A PRESCRIÇÃO NO DIREITO BRASILEIRO.


A prescrição criminal é um instituto jurídico criado com o intuito de
limitar, dentro de um lapso temporal, o exercício do direito de punir do
Estado. Ele não é novo na seara criminal, tendo aparecido pela primeira
vez no Direito Romano no ano de 18 a.C., mais especificamente na Lex
Julia.
Todavia, a prescrição da pretensão executória somente surgiu na
França, com a promulgação de seu Código Penal de 1791.
No Brasil, a prescrição da pretensão executória foi inicialmente
prevista no Código Penal de 1890. Nas palavras do professor Cezar
Roberto Bitencourt:

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“No Brasil, somente a partir do Código Penal de 1890


passou-se a adotar a prescrição da condenação (art. 72), sendo

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que a prescrição da ação penal já foi adotada a partir do Código

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Criminal de 1830. Na realidade, o art. 65 do Código Criminal do
Império (16-12-1830) declarava: 'As penas impostas aos réus
não prescreverão em tempo algum'. Em outras palavras, as
penas aplicadas eram imprescritíveis.”

Em sua primeira aparição, no Código Penal de 1890, a prescrição da


condenação começava a correr do dia em que passasse em julgado a
sentença1.
Na redação original do Código Penal de 1940, estabelecia-se, no art.
112, alínea a, o mesmo critério do antigo Código, ressalvadas as exceções
de revogação da suspensão condicional ou do livramento condicional 2.
Com a redação dada pela Lei nº 7.209/84 ao art. 112, seu inciso I
passou a estabelecer que a prescrição posterior ao trânsito em julgado da
sentença condenatória (CP, art. 110) começa a correr do dia em que a
sentença condenatória transita em julgado para a acusação.
Para identificar, como dito, se a literalidade desse dispositivo
acomoda-se ao instituto da prescrição (pressupostos e finalidades), é
imprescindível compreendê-lo.
Nesse intento, inicio valendo-me de trechos selecionados ou
resumidos do Tomo VI do Tratado de direito privado3, de Pontes de

1 “Art. 80. A prescripção da condemnação começa a correr do dia em que passar em


julgado a sentença, ou daquelle em que for interrompido, por qualquer modo, a execução já
começada. Interrompe-se pela prisão do condemnado.”
2 “Art. 112. No caso do art. 110, a prescrição começa a correr:
a) do dia em que passa em julgado a sentença condenatória ou a que revoga a suspensão
condicional da pena ou o livramento condicional;
b) do dia em que se interrompe a execução, salvo quando o tempo da interrupção deva
computar-se na pena.”
3 Tratado de direito privado. Parte Geral: Tomo VI. Exceções. Direitos mutilados,
Exercício dos Direitos, pretensões, ações e exceções. Prescrição. Atualizado por ALVES,
Vilson Rodrigues. Campinas: Bookseller, 2000.

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Miranda, dedicado ao estudo do tema. Nele, o mestre assenta que

“[o]s prazos prescricionais servem à paz social e à

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segurança jurídica. Não destroem o direito, que é; não

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cancelam, não apagam as pretensões; apenas, encobrindo a
eficácia da pretensão, atendem à conveniência de que não
perdure por demasiado tempo a exigibilidade ou a
acionabilidade. Qual seja essa duração, tolerada, da eficácia
pretensional, ou simplesmente acional, cada momento da
civilização o determina (...).
O exercício da pretensão, ou da ação, é limitável, no
tempo, pela prescrição; porque, sendo exceção, essa encobre a
eficácia da pretensão e, pois, do direito. É defesa do presente
contra o passado, no dizer de Papiniano (...)”.

Em passagem mais adiante, são sistematizados os três elementos que


compõem o suporte fático da prescrição, a saber:

(i) a possibilidade da pretensão;


(ii) a prescritibilidade da pretensão;
(iii) o transcurso do prazo prescricional.4

O grande professor e jurista alagoano ainda tratou de evidenciar o


elemento temporal que precisa estar aliado à inércia de quem já tinha
pretensão ou ação:

“Elemento-tempo. No suporte fático da regra jurídica


sobre prescrição há de haver a pretensão, ou a afirmação de
existir, e o tempo, de cujo decurso depende a incidência da
regra jurídica. (...)
Certamente, é preciso que exista a pretensão para que se
dê a prescrição. O que prescreve é a pretensão, ou a ação; se não
existe uma, nem outra, nada há que prescreva. (…)
A prescrição inicia-se ao nascer a pretensão; portanto,

4 Ibidem, § 665, parte 1. p. 146

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desde que o titular do direito pode exigir o ato, ou a


omissão5.”

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A propósito, a inércia marca o começo, em regra, da contagem do

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prazo prescricional. Enquanto a pretensão não é exercitável, pois não
nascida, não há inércia, não havendo de se contar prazo. Faz-se necessário
saber, assim, quando se inicia a contagem do prazo. Sobre isso também
leciona Pontes de Miranda:

“Início do prazo. A regra é que a prescrição se inicia com


o nascimento da pretensão, ou da ação. A pretensão nasce
quando já se pode exigir de alguém ato ou omissão; a ação,
quando já pode ser intentada, ou já se podem praticar os atos
necessários à sua intentação (propositura).
(...)
Sabe-se qual o momento de que se há de contar o prazo
prescricional, verificando-se quando nasceu a pretensão, ou
ação. Não se pode chegar a qualquer resultado seguro sem se
conhecer:
a) qual o suporte fático que entrou no mundo jurídico;
b) qual a espécie de fato jurídico que se produziu (fato
jurídico stricto sensu, ato ilícito, ato-fato jurídico, ato jurídico
stricto sensu, negócio jurídico);
c) qual o direito que dele se irradiou;
d) qual a pretensão (ou qual a ação) que se irradiou do
direito.”6

Assentadas essas premissas, é importante ainda considerar que a


prescrição possui finalidade de estabilidade da ordem jurídica, como
alertou Pontes de Miranda em várias passagens da obra multicitada,
independentemente do ramo do Direito, seja ele privado ou público 7.

5 Ibidem, § b665. parte 7. p. 149


6 Ibidem, § 699, parte 2. p. 332-4.
7 Aliás, quanto a esse tópico, alerta que “se a prescrição fosse, para o civilista e o
comercialista algo diferente do que é para o penalista, ter-se-ia, em boa lógica, de recorrer a

11

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Segundo o autor, a prescrição sanciona a inércia (de quem podia ou devia


agir e não age por determinado lapso de tempo) e é instrumento de
concretização da segurança jurídica e da proteção da confiança.

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Justamente por isso, não é influenciável por externalidades diversas

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dos elementos que a compõem em seu suporte fático ou em sua
finalidade, como propõe o recorrido ao aduzir que condicionar o início de
sua contagem à implementação dos pressupostos de nascimento da
pretensão equivaleria a dar interpretação desfavorável ao condenado, o
que seria vedado em nosso ordenamento.
Vide, a propósito, que o mestre alagoano tratou de situação análoga
em sua obra, ao demonstrar que fatores exógenos não influenciam na
estrutura do instituto (prescrição).

“Nem no direito privado, nem no direito público, a


prescrição tem como ratio legis a dificuldade de se provar,
depois de transcorrido algum tempo, dívida ou crime.
Nem os prazos prescricionais, em matéria penal, nem os
prazos prescricionais, em matéria privatística e nos outros
ramos do direito público que o penal, atendem às diferenças de
possibilidade da prova.
A prescrição funda-se em que não houve, da parte do
Estado ou do que poderia queixar-se, o interesse no exercício
da pretensão punitiva, ou da pretensão à execução
mandamental da pena.”8

Volto, então, à máxima de que, para que se possa constatar a inércia


do Estado, é necessário que esteja presente a possibilidade de ele
exercer sua pretensão.
Esses esclarecimentos são de vital importância, como dito, para que
não se caia em armadilhas, em argumentos falaciosos: a natureza jurídica
nomes diferentes. Porém, ao se aplicar, num e noutro ramo do direito, o mesmo método
científico, teve-se de atentar no que há de comum entre a prescrição de direito privado e a
prescrição de direito público, inclusive penal” (ibidem, § 722. parte 1. p. 481).

8 Ibidem, § 722, partes 2 e 3. p. 481-3.

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do instituto e suas consequências nada têm a ver (ou em nada dependem)


de interpretação a favor ou contra o condenado.
A constatação da possibilidade de exercício da pretensão é, em

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verdade, da essência do instituto, da condição de seu nascimento.

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Em razão dos motivos já externados – que são corolário da atual
leitura da Carta Política efetivada pela Suprema Corte –, não há que se
cogitar sobre interpretação in malam partem.
Ao se reconhecer a necessidade de dúplice condicionante (trânsito
em julgado para ambas as partes) para a execução da pena, estabelece-se,
ipso facto, que apenas após a ocorrência dela nasce a pretensão
executória para o Estado.
Admitir que a prescrição dessa pretensão pudesse fluir antes de o
Ministério Público ter capacidade de postular execução da condenação
fere a essência da ideia de prescrição, que repousa sobre a noção de
inércia do titular do direito.
A propósito dessa conclusão, Eugênio Pacelli de Oliveira e Douglas
Fischer, com a objetividade e a perspicácia que lhes é peculiar, já sob a
égide do entendimento esposado pela Corte no HC nº 84.078, afirmavam
que, no caso

“(...) de prescrição executória (o mesmo raciocínio se


aplica para a intercorrente) a leitura do art. 112, I, do CP,
inarredavelmente necessita ser harmonizado com a novel
compreensão sobre a execução das penas não definitivas em
graus recursais extraordinários.
É preciso dizer de modo bem claro que a questão não gira
em torno de se buscar uma interpretação que seria mais ou
menos favorável a esta ou aquela pretensão no processo
(acusação e defesa). Não se cuida, com efeito, de leitura menos
ou mais favorável, na linha do in dubio pro reo. Nada disso.
Cuida-se, muito ao contrário, de harmonizar as disposições
legais do Código Penal que determinaram as escolhas do
processo penal, o que exige a contextualização histórica dos
aludidos Códigos. Não se está criando nova causa de suspensão
da prescrição, e sim conferindo (também) uma (nova)

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interpretação da expressão trânsito em julgado da sentença


condenatória para a acusação constante do artigo 112, inciso I,
do Código Penal.

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Em síntese, a questão não deixa de ser decorrente da

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lógica da melhor compreensão sistêmica vigente se a execução
somente pode ser feita após o julgamento de todos os recursos
(porque antes não há nada que possa ser executado), a
prescrição, inexoravelmente, somente começará a correr do
trânsito em julgado para ambas as partes. Do contrário,
teríamos a situação (esdrúxula, para dizer o menos) de prazo
prescricional fluindo de título que sequer seja exequível”
(Comentários ao Código de Processo Penal e sua
Jurisprudência. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2013. p. 1363-6 ‒ grifos
nossos).

Também para o penalista Guilherme de Souza Nucci,

“seria inconcebível considerar o trânsito em julgado da


condenação para acusação como termo inicial da prescrição da
pretensão executória, pois o Estado: não pode executar a pena,
devendo aguardar o trânsito em julgado para a defesa. Ora, se
não houve desinteresse do Estado, nem inércia, para fazer o
condenado cumprir a pena, não deveria estar transcorrendo a
prescrição da pretensão executória” (Código Penal comentado,
11. ed. São Paulo: RT, 2012. p. 604/605).

Com efeito, a partir do espectro reconhecido por este Supremo


Tribunal Federal ao caput do art. 283 do CPP e ao princípio da presunção
de inocência, previsto no art. 5º, inciso LVII, da Constituição, inviabilizou-
se o início da execução da pena antes do trânsito em julgado da sentença
penal condenatória, como consta na literalidade do dispositivo em foco.
A constituição definitiva do título judicial condenatório passou,
portanto, à condição de exercício da pretensão executória do Estado. Em
virtude disso e da exigência lógica da higidez do sistema, a única leitura
do inciso I do art. 112 do Código Penal consentânea com esse

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entendimento é que se reconheça que o prazo prescricional só começa a


fluir com a constituição definitiva do decreto condenatório, mediante seu
trânsito em julgado, eliminando-se do dispositivo a locução “para a

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acusação”.

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O entendimento diverso, ou seja, aquele no qual se aplica a
literalidade do artigo, além de ser contrário à ordem jurídico-normativa,
teria o efeito prático de levar a acusação a recorrer de todas as decisões
como forma de postergar, artificialmente, para o mais próximo possível
do verdadeiro marco inicial, o início da fluência de seu prazo, como já
observou a doutrina especializada9.
É imperioso, portanto, reconhecer a necessidade de redução de
texto do inciso I do art. 112 do Código Penal (diante de sua não recepção
em razão do novo parâmetro dado ao inciso LVII do art. 5º da CRFB), de
modo que o marco inicial da prescrição da pretensão executória prevista
na legislação ordinária se acomode à extensão que o Supremo Tribunal
Federal conferiu à presunção de inocência (art. 5º, inciso LVII, da
CRFB), quando estabeleceu o trânsito em julgado para a acusação e para
a defesa como condição para o início da execução da pena pelo Estado.
A exegese, aqui, insisto, encontra eco na harmônica interpretação da
Constituição da República, levando a Corte Constitucional a declarar a
não recepção pela Constituição da locução “para a acusação” contida na
primeira parte do inciso I do art. 112 do Código Penal, conferindo, no
entanto, a ela interpretação conforme à Constituição, de forma a se
entender que a prescrição começa a correr do dia em que transita em
julgado a sentença condenatória para ambas as partes.

4. TESE.
O prazo para a prescrição da execução da pena concretamente
aplicada somente começa a correr do dia em que a sentença condenatória
transita em julgado para ambas as partes, momento em que nasce para o
9 Cf. QUEIROZ, Paulo; BARBOSA, Aldeleine Melhor. Termo inicial da prescrição da
pretensão executória. In: FAYET JÚNIOR, Ney (coord.). Prescrição penal: temas atuais
controvertidos, doutrina e jurisprudência. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2011. v. 3, p.
23-30.

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Estado a pretensão executória da pena, conforme interpretação dada pelo


Supremo Tribunal Federal ao princípio da presunção de inocência (art. 5º,
inciso LVII, da Constituição Federal) nas ADC nºs 43, 44 e 54.

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5. CASO CONCRETO (REPRESENTATIVO DA CONTROVÉRSIA).
O Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios adotou
interpretação literal à regra prevista no art. 112, inciso I, do Código Penal
e considerou que a prescrição da pretensão executória deveria ter início
na data em que a sentença condenatória transitou em julgado para a
acusação. Eis o teor do decidido pelo Tribunal a Quo:

“AGRAVO EM EXECUÇÃO. PRESCRIÇÃO DA


PRETENSÃO EXECUTÓRIA. TERMO INICIAL. TRÂNSITO
EM JULGADO PARA A ACUSAÇÃO. DESPROVIMENTO.
I - Segundo dispõe o art. 112, I, do Código Penal, a
prescrição da pretensão executória começa a correr do dia em
que transita em julgado a sentença condenatória para a
acusação, não sendo cabível considerar como termo inicial do
prazo prescricional a data do trânsito em julgado definitivo, sob
pena de eleger termo interruptivo não previsto em lei.
II - Verificada a ocorrência de causa extintiva de
punibilidade, deverá o Juiz ou Tribunal declará-la de ofício, nos
termos do artigo 61 do Código de Processo Penal.
III - Recurso conhecido e desprovido.”

Esse entendimento foi mantido pelo colendo Superior Tribunal de


Justiça em 7 de outubro de 2014. Na espécie, nas datas em que proferidas
as decisões: tanto pelo TJDF como pelo STJ, o entendimento nesta
Suprema Corte já era em mesmo sentido do presente voto; diverso, como
se vê, daquele esposado nos dois Tribunais chamados a se manifestar.
Registre-se, entretanto, que, à época, a posição desta Corte era
manifestada em julgados não dotados de efeito vinculante, de
observância obrigatória.
Assim, a prescrição foi declarada, extinguindo-se a pena.
Ainda que essa decisão não tenha transitado em julgado (pela

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suspensão do processo), o certo é que o condenado obteve decisões


favoráveis prolatadas pelo sistema de Justiça, as quais não afrontaram
precedentes vinculantes da Suprema Corte.

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Nesse cenário – que tomo como paradigma para todas as situações

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idênticas –, houve estabilização do quadro fático.
Em minha compreensão, a presença do binômio ‒ i) transcurso de
longo lapso temporal desde a prolação da decisão 10 e ii) decisão
favorável tomada legitimamente pelo(s) juíz(os) a que submetida a ação
penal ‒ conduz a um quadro consolidado, cuja alteração seria
desproporcional, pois tal revisão imporia o ônus do tempo unicamente
ao súdito estatal (condenado), além de aniquilar a confiança legítima e
a segurança jurídica nos atos estatais.
Desse modo, todos os casos com decisões judiciais em que já houve
reconhecimento da prescrição da pretensão executória estatal por
qualquer instância – ainda que aplicado o entendimento em desacordo
com o proposto nessa repercussão geral, reitero – devem receber igual
tratamento jurídico, encerrando-se a discussão.

6. MODULAÇÃO DE EFEITOS.
Como exposto, para os casos em que declarada prescrita a pretensão
executória estatal por qualquer instância judicial – ainda que aplicado o
entendimento em desacordo com o proposto nessa repercussão geral,
reitero – devem receber igual tratamento jurídico, diante da aplicação dos
preceitos da segurança jurídica e da proteção da confiança.
No casos em que a prescrição não tenha sido analisada ou
declarada, deve-se aplicar o tema nos termos do voto para todos os casos
em que o trânsito em julgado para a acusação tenha ocorrido a partir de
11/11/20, data do julgamento das ADC nºs 43, 44 e 54 (por ser o marco
que condicionou o trânsito em julgado para ambas as partes para o
Estado exercer a pretensão executória da pena).
Assim, para todos os casos nos quais o trânsito em julgado para a
10 E aqui a proposta é que o termo seja o julgamento das ADC nºs 43, 44 e 54 (11/11/20),
a partir de quando se restaurou o entendimento vinculante desta Suprema Corte acerca da
necessidade de trânsito em julgado para ambas as partes para iniciar a execução da pena

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acusação tenha se dado ANTES de 11/11/20 – incluídos aí os lapsos em


que houve oscilação jurisprudencial acerca da correta aplicação da
literalidade do dispositivo (ou seja: do julgamento do HC nº 84.078, em

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5/2/09, ao julgamento do HC nº 126.292, ocorrido em 17/5/16, e deste até o

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julgamento das ADC nºs 43, 44 e 54, em 11/11/20) –, aplica-se a
literalidade do art. 112, inciso I, do CP, fluindo o prazo prescricional a
partir deste termo: trânsito em julgado para a acusação.

Em síntese, propõe-se o seguinte:

I) AOS CASOS COM A PRESCRIÇÃO DA PRETENSÃO EXECUTÓRIA


RECONHECIDA (independentemente do juízo, da data da prolação da
decisão e da suspensão dos prazos pelo reconhecimento do tema de
repercussão geral), A NÃO APLICAÇÃO DO TEMA.

II) AOS CASOS NOS QUAIS A QUESTÃO OBJETO DO TEMA AINDA NÃO
HAVIA SIDO DECIDIDA OU ANALISADA:

A) COM TRÂNSITO EM JULGADO PARA A ACUSAÇÃO OCORRIDO ATÉ


11/11/20 (INCLUSIVE) – A NÃO APLICAÇÃO DO TEMA;

B) COM TRÂNSITO EM JULGADO PARA A ACUSAÇÃO OCORRIDO APÓS


11/11/20 (a partir de 12/11/20, inclusive) – A APLICAÇÃO DO TEMA.

7. DISPOSITIVO:
Ante o exposto, no caso concreto e pelos motivos expostos, nego
provimento ao recurso extraordinário com agravo interposto pelo
Ministério Público do Distrito Federal e Territórios, pela aplicação à
hipótese dos princípios da segurança jurídica e da proteção da
confiança, nos termos da modulação proposta.
Declaro, nos termos do voto, a não recepção pela Constituição
Federal da locução “para a acusação”, contida na primeira parte do
inciso I do art. 112 do Código Penal, conferindo a ela interpretação

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conforme à Constituição de forma a se entender que a prescrição


começa a correr do dia em que transita em julgado a sentença
condenatória para ambas as partes.

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Este entendimento deverá ser aplicado aos casos nos quais i) a pena

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não foi declarada extinta pela prescrição e ii) cujo trânsito em julgado
para a acusação tenha ocorrido após 12/11/20, nos termos da
fundamentação.
É como voto.

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Voto Vogal

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03/07/2023 PLENÁRIO

RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO 848.107 DISTRITO FEDERAL

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RELATOR : MIN. DIAS TOFFOLI
RECTE.(S) : MINISTÉRIO PÚBLICO DO DISTRITO FEDERAL E
TERRITÓRIOS
PROC.(A/S)(ES) : PROCURADOR-GERAL DE JUSTIÇA DO DISTRITO
FEDERAL E TERRITÓRIOS
RECDO.(A/S) : EDSON RODRIGUES DE OLIVEIRA
PROC.(A/S)(ES) : DEFENSOR PÚBLICO-GERAL DO DISTRITO
FEDERAL
AM. CURIAE. : DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DO RIO DE
JANEIRO
PROC.(A/S)(ES) : DEFENSOR PÚBLICO-GERAL DO ESTADO DO RIO
DE JANEIRO
AM. CURIAE. : DEFENSORIA PÚBLICA DA UNIÃO
PROC.(A/S)(ES) : DEFENSOR PÚBLICO-GERAL FEDERAL

VOTO

O Senhor Ministro Alexandre de Moraes: Trata-se de Agravo contra


decisão que negou seguimento ao recurso extraordinário interposto em
face de acórdão da 3ª Turma Criminal do Tribunal de Justiça do Distrito
Federal e dos Territórios. Discute-se no presente caso, à luz do art. 5º, II e
LVII, da Constituição Federal, a recepção, ou não, pela Carta Magna de 1988 do
art. 112, I, do Código Penal, segundo o qual a prescrição da pretensão executória
começa a correr do dia em que transita em julgado a sentença condenatória para a
acusação (Tema 788 da repercussão geral).

Na origem, o MINISTÉRIO PÚBLICO DO DISTRITO FEDERAL E


TERRITÓRIOS – MPDFT interpôs Agravo em Execução Penal em face de
sentença que extinguiu a punibilidade do réu, condenado à pena de 1
(um) ano de reclusão, em regime aberto, em razão da prática do crime de
furto (art. 155, caput, do Código Penal), ante o reconhecimento da

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Voto Vogal

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ARE 848107 / DF

prescrição da pretensão executória.


Informa o Parquet que no caso vertente a sentença condenatória
transitou em julgado para a acusação em 18/5/2009, porém o trânsito em julgado

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definitivo ocorreu em 22/8/2011, com a consequente expedição da carta de

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sentença em 20/10/2011 (Doc. 1, fl. 8), ao passo que o Juiz da Vara de
Execuções Penais e Medidas Alternativas do Distrito Federal reconheceu
a prescrição da pretensão executória, vez que considerou o termo inicial a
data do trânsito em julgado para a acusação (18/5/2013), nos termos do
art. 112, I, do Código Penal.
Sustentou o MPDFT o desacerto da decisão agravada,
argumentando, em síntese, que o termo inicial do prazo prescricional da
pretensão executória deve ser a data do trânsito em julgado para ambas
as partes (e não apenas para a acusação), considerando que o
entendimento perfilhado por esta SUPREMA CORTE à época,
consagrado no julgamento do HC 84.078, Rel. Min. EROS GRAU, DJe.
26/02/2010, era no sentido da inconstitucionalidade da execução
provisória da pena, por violação ao art. 5º, LVII, da CF/1988.
O Tribunal de origem negou provimento ao recurso ao fundamento
de que consoante o art. 112, I, do Código Penal, a prescrição da pretensão
executória começa a fluir da data do trânsito em julgado para a acusação.
Afirmou que pensar de forma diversa culminaria na eleição de termo
interruptivo não previsto em lei. O acórdão foi resumido na seguinte ementa
(Doc. 1, fl. 75):

“AGRAVO EM EXECUÇÃO. PRESCRIÇÃO DA


PRETENSÃO EXECUTÓRIA. TERMO INICIAL. TRÂNSITO
EM JULGADO PARA A ACUSAÇÃO. DESPROVIMENTO.
I – Segundo dispõe o art. 112, I, do Código Penal, a
prescrição da pretensão executória começa a correr do dia em
que transita em julgado a sentença condenatória para a
acusação, não sendo cabível considerar como termo inicial do
prazo prescricional a data do trânsito em julgado definitivo, sob
pena de eleger termo interruptivo não previsto em lei.
II – Verificada a ocorrência de causa extintiva da

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ARE 848107 / DF

punibilidade, deverá o Juiz ou Tribunal declará-la de ofício, nos


termos do artigo 61 do Código de Processo Penal.
III – Recurso conhecido e desprovido”.

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Em sede de Recurso Extraordinário (Doc. 2, fl. 10), o MPDFT
argumenta que o art. 112, I, do Código Penal, apresenta contrariedade ao
art. 5º, II e LVII, da Constituição Federal, devendo-se admitir a existência
de uma mutação constitucional. Destaca, ainda, que, no HC 84.078/MG, a
jurisprudência desta CORTE passou a exigir o trânsito em julgado da
condenação, isto é, a preclusão para ambas as partes, de modo que seria o
caso desta CORTE "dar interpretação conforme ao art. 112, inc. I, do Código
Penal, sob pena de tornarem-se infrutíferas as execuções criminais do país, todas
fulminadas pela prescrição". Sendo assim, requereu o provimento do
presente recurso extraordinário para afastar a prescrição da pretensão
executória, permitindo o cumprimento da sanção criminal.
O Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios, em juízo
de admissibilidade, indeferiu o processamento do Recurso
Extraordinário, sob o fundamento de que a decisão recorrida estaria em
perfeita sintonia com a orientação jurisprudencial desta CORTE (Doc. 2,
fl. 46).
No Agravo em Recurso Extraordinário, sustenta o MPDFT que "a
tese do aresto invocado no juízo negativo de admissibilidade do recurso
extraordinário de que a jurisprudência deste Supremo Tribunal Federal
sedimentou-se no sentido de que o prazo prescricional da pretensão executória
começa a fluir da data do trânsito em julgado para a acusação - não pode ser
aquilatada de representativa do entendimento pacífico da e. Corte
Constitucional.". Nesse sentido, lembrou que "resulta, portanto, da atual
jurisprudência constitucional do Supremo Tribunal Federal a obrigatoriedade de
contar-se o prazo inicial da prescrição executória, definido no art. 112, inc. I, do
Código Penal, do trânsito em julgado para ambas as partes", nos termos dos
entendimentos exarados no HC 110.133/SP (Rel. Min. LUIZ FUX) e no
ARE 682.013/SP (Rel. Min. ROSA WEBER), de modo que seria o caso de
se prover o agravo e determinar o seguimento do recurso extraordinário
(Doc. 2, fl. 62).

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Em 5/11/2014, o Min. DIAS TOFFOLI deu provimento ao agravo,


admitindo o Recurso Extraordinário.
Na data de 12/12/2014, o Plenário Virtual do SUPREMO TRIBUNAL

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FEDERAL, por unanimidade, reconheceu a existência de repercussão

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geral da questão constitucional suscitada, nos termos da seguinte ementa:

"CONSTITUCIONAL. PENAL. EXTINÇÃO DA


PUNIBILIDADE. TERMO INICIAL PARA A CONTAGEM DA
PRESCRIÇÃO NA MODALIDADE EXECUTÓRIA. TRÂNSITO
EM JULGADO SOMENTE PARA A ACUSAÇÃO. ARTIGO 112,
INCISO I, DO CÓDIGO PENAL. NECESSIDADE DE
HARMONIZAÇÃO DO REFERIDO INSTITUTO PENAL COM
O ORDENAMENTO JURÍDICO CONSTITUCIONAL
VIGENTE, DIANTE DOS POSTULADOS DA ESTRITA
LEGALIDADE E DA PRESUNÇÃO DE INOCÊNCIA (CF, ART.
5º, INCISOS II E LVII). QUESTÃO EMINENTEMENTE
CONSTITUCIONAL. MATÉRIA PASSÍVEL DE REPETIÇÃO
EM INÚMEROS PROCESSOS, A REPERCUTIR NA ESFERA
DO INTERESSE PÚBLICO. TEMA COM REPERCUSSÃO
GERAL".

A Procuradoria-Geral da República, em parecer proferido em


17/08/2015, pugnou pelo provimento do recurso. Sua manifestação foi
resumida na seguinte ementa (Doc. 9):

“CONSTITUCIONAL E PENAL. RECURSO


EXTRAORDINÁRIO COM REPERCUSSÃO GERAL.
PRESCRIÇÃO DA PRETENSÃO EXECUTÓRIA. ART. 112, I,
DO CÓDIGO PENAL. TERMO INICIAL DO TRÂNSITO EM
JULGADO PARA A ACUSAÇÃO. OFENSA AOS PRINCÍPIOS
DA PROPORCIONALIDADE, DO DEVIDO PROCESSO
LEGAL E DA ISONOMIA (PARIDADE DE ARMAS).
PRINCÍPIO DA PRESUNÇÃO DE INOCÊNCIA.
INTERPRETAÇÃO DO HC 84.078/MG.
1. O Supremo Tribunal Federal, no julgamento do habeas
corpus 84.078/MG, decidiu pela impossibilidade de execução de

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pena antes de exauridas todas as instâncias, inclusive a


extraordinária, sem prejuízo da possibilidade de prisão
cautelar.

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2. Aplicação literal do art. 112, I, do Código Penal, em face

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da orientação jurisprudencial atual do STF, acarreta contradição
com a essência do conceito de prescrição, que decorre de inércia
do titular do direito, e severo golpe contra a eficácia do sistema
de execução penal e contra o direito fundamental à segurança,
pois o curso da prescrição da pretensão executória se iniciaria
sem que o Estado, por meio do Ministério Público, possa
executar a decisão condenatória. Atinge-se assim, também, de
forma cruel, a expectativa legítima das vítimas de delito de os
perpetradores destes recebam a punição prevista na lei.
3. A única interpretação atualmente consistente e
compatível com a Constituição da República acerca do termo
inicial da prescrição executória é a que a define como o trânsito
em julgado da decisão condenatória para ambas as partes.
4. Parecer pelo provimento do recurso”.

Em 24/3/2022, após a leitura do relatório e realização das


sustentações orais, o julgamento deste caso foi suspenso.
Em 6/4/2022, a Defensoria Pública da União juntou memoriais nos
quais apresenta propostas a respeito da modulação dos efeitos da decisão
a ser proferida nestes autos (Doc. 91).
Em 11/5/2022, a Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro
requereu a juntada do parecer do Instituto dos Advogados Brasileiros -
IAB, também versando sobre a irretroatividade dos efeitos jurídicos
produzidos neste julgado em relação a fatos ocorridos antes de sua
publicação (Doc. 94).
Em 28/4/2023 a Procuradoria-Geral da República requereu a
submissão do processo ao Plenário Virtual. Na oportunidade sugeriu as
seguintes teses para fins de repercussão geral (Doc. 106):

“I – É inconstitucional a interpretação do artigo 112, inciso


I, do Código Penal, que fixa a data do trânsito em julgado para

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a acusação como termo inicial para contagem do prazo


prescricional da pretensão executória do Estado, por violar os
princípios da isonomia, da proporcionalidade, da razoabilidade

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e do devido processo legal;

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II – O artigo 112, inciso I, do Código Penal há de ser
interpretado conforme a Constituição Federal, consagrando o
princípio da presunção de inocência, para fixar, como termo
inicial da contagem do prazo prescricional da pretensão
executória do Estado, a data do trânsito em julgado da sentença
penal condenatória para ambas as partes”.

O Relator Min. DIAS TOFFOLI apresentou voto pelo desprovimento


do recurso, fundamentando sua decisão nos seguintes termos:

(a) Não obstante a oscilação da jurisprudência desta


CORTE SUPREMA ao longo dos anos, no julgamento das ADIs
43, 44 e 54, em que se discutia a constitucionalidade do art. 283
do Código de Processo Penal frente ao art. 5º, LVII, da CF/1988,
prevaleceu o entendimento segundo o qual o cumprimento da
pena está condicionado ao trânsito em julgado da sentença
penal condenatória para ambas as partes;
(b) Entendeu o Relator que o art. 112, I, do CP, introduzido
pela Lei 7.209/1984, deve ser harmonizado com o entendimento
desta CORTE, pois a única leitura do inciso I do art. 112 do Código
Penal consentânea com esse entendimento é que se reconheça que o
prazo prescricional só começa a fluir com a constituição definitiva do
decreto condenatório, mediante seu trânsito em julgado, eliminando-
se do dispositivo a locução “para a acusação”.

Seguindo essa linha, propôs a seguinte tese para fins de repercussão


geral:

“O prazo para a prescrição da execução da pena


concretamente aplicada somente começa a correr do dia em que
a sentença condenatória transita em julgado para ambas as
partes, momento em que nasce para o Estado a pretensão

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executória da pena, conforme interpretação dada pelo Supremo


Tribunal Federal ao princípio da presunção de inocência (art. 5º,
inciso LVII, da Constituição Federal) nas ADC 43, 44 e 54”.

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Ao final, tendo em vista a segurança jurídica, entendeu por bem
modular os efeitos da decisão nos seguintes termos:

“I) AOS CASOS COM A PRESCRIÇÃO DA PRETENSÃO


EXECUTÓRIA RECONHECIDA (independentemente do juízo,
da data da prolação da decisão e da suspensão dos prazos pelo
reconhecimento do tema de repercussão geral), A NÃO
APLICAÇÃO DO TEMA.
II) AOS CASOS EM QUE A QUESTÃO OBJETO DO
TEMA AINDA NÃO HAVIA SIDO DECIDIDA OU
ANALISADA:
A) COM TRÂNSITO EM JULGADO PARA A
ACUSAÇÃO OCORRIDO ATÉ 11.11.2020 (INCLUSIVE) A
NÃO APLICAÇÃO DO TEMA;
B) COM TRÂNSITO EM JULGADO PARA A ACUSAÇÃO
OCORRIDO APÓS 11.11.2020 (a partir de 12.11.2020, inclusive)
– A APLICAÇÃO DO TEMA”.

É o relatório.

I. Da existência de repercussão geral a respeito do tema.

Os recursos extraordinários somente serão conhecidos e julgados


quando essenciais e relevantes as questões constitucionais a serem
analisadas, sendo imprescindível ao recorrente, em sua petição de
interposição de recurso, a apresentação formal e motivada da repercussão
geral que demonstre, perante o SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL, a
existência de acentuado interesse geral na solução das questões
constitucionais discutidas no processo, que transcenda a defesa
puramente de interesses subjetivos e particulares.
Foi cumprida, no caso, a obrigação do recorrente de apresentar,

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formal e motivadamente, a repercussão geral, demonstrando a relevância


da questão constitucional debatida que ultrapasse os interesses subjetivos
da causa, conforme exigência constitucional, legal e regimental (art. 102,

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§3º, da CF/88, c/c art. 1.035, §2º, do Código de Processo Civil de 2015 e art.

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327, §1º, do Regimento Interno do SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL).
Com efeito, (a) o tema controvertido é portador de ampla
repercussão e de suma importância para o cenário político, social e
jurídico e (b) a matéria não interessa única e simplesmente às partes
envolvidas na lide.
Deste modo, esta CORTE, em julgamento realizado pelo Plenário
Virtual em 12 de dezembro de 2014, reconheceu a existência de
repercussão geral da matéria (Tema 788):

"CONSTITUCIONAL. PENAL. EXTINÇÃO DA


PUNIBILIDADE. TERMO INICIAL PARA A CONTAGEM DA
PRESCRIÇÃO NA MODALIDADE EXECUTÓRIA. TRÂNSITO
EM JULGADO SOMENTE PARA A ACUSAÇÃO. ARTIGO 112,
INCISO I, DO CÓDIGO PENAL. NECESSIDADE DE
HARMONIZAÇÃO DO REFERIDO INSTITUTO PENAL COM
O ORDENAMENTO JURÍDICO CONSTITUCIONAL
VIGENTE, DIANTE DOS POSTULADOS DA ESTRITA
LEGALIDADE E DA PRESUNÇÃO DE INOCÊNCIA (CF, ART.
5º, INCISOS II E LVII). QUESTÃO EMINENTEMENTE
CONSTITUCIONAL. MATÉRIA PASSÍVEL DE REPETIÇÃO
EM INÚMEROS PROCESSOS, A REPERCUTIR NA ESFERA
DO INTERESSE PÚBLICO. TEMA COM REPERCUSSÃO
GERAL".

II. O objeto da demanda e a problemática existente em torno do


termo inicial da prescrição executória

O objeto da demanda do presente agravo no recurso extraordinário


diz respeito ao termo inicial para a contagem da prescrição da pretensão
executória: se do "trânsito em julgado para a acusação" (consoante
interpretação literal do art. 112, I, do Código Penal) ou se do "trânsito em

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julgado para ambas as partes".


A interpretação do art. 112, I, do Código Penal, sempre foi objeto de
inúmeros debates na doutrina e na jurisprudência, quer dos Tribunais de

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Justiça, quer do Superior Tribunal de Justiça. Tanto isso é verdade que foi

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reconhecida a repercussão geral na matéria (Tema 788 – ARE 848.107/DF,
Rel. Min. DIAS TOFFOLI).
A propósito, convém trazer os dispositivos que regem a matéria no
âmbito do Código Penal:

"Prescrição depois de transitar em julgado sentença final


condenatória
Art. 110 - A prescrição depois de transitar em julgado a
sentença condenatória regula-se pela pena aplicada e verifica-se
nos prazos fixados no artigo anterior, os quais se aumentam de
um terço, se o condenado é reincidente.
§1º. A prescrição, depois da sentença condenatória com
trânsito em julgado para a acusação ou depois de improvido
seu recurso, regula-se pela pena aplicada, não podendo, em
nenhuma hipótese, ter por termo inicial data anterior à da
denúncia ou queixa. (Redação dada pela Lei nº 12.234, de 2010).
Termo inicial da prescrição após a sentença condenatória
irrecorrível
Art. 112 - No caso do art. 110 deste Código, a prescrição
começa a correr:
I. Do dia em que transita em julgado a sentença
condenatória, para a acusação, ou a que revoga a suspensão
condicional da pena ou o livramento condicional;
II. Do dia em que se interrompe a execução, salvo quando
o tempo da interrupção deva computar-se na pena".

Com efeito, ao reconhecermos a interpretação literal do dispositivo


acima transcrito como a única válida, isto é, no sentido de que bastaria o
trânsito em julgado para a acusação para o início da prescrição da
pretensão executória, sem dúvida nenhuma estaríamos reconhecendo: (1)
como marco inicial, um prazo de execução de uma condenação que ainda

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é inexequível, uma vez que não haveria, em sentido estrito, a execução da


pena (ainda mais após o julgamento de mérito das ADCs 43, 44 e 54,
todas julgadas no dia 07 de novembro de 2019, ocasião em que se

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assentou a constitucionalidade do art. 283, do Código de Processo Penal,

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não permitindo a prisão apenas em decorrência da singela prolação do
acórdão de 2ª instância); (2) a necessidade de que o órgão acusatório
recorresse de todas as sentenças penais levadas ao seu conhecimento com
o objetivo de evitar o início do prazo da prescrição da pretensão
executória; (3) a implementação de uma tática defensiva consistente no
ingressar com recursos infindáveis, em todos os graus de jurisdição,
muitas vezes após o trânsito em julgado para a acusação, com o escopo de
levar o caso à prescrição.
Como consequência, o Estado, a sociedade e, em particular, as
vítimas seriam punidas com a perda do poder de executar a sentença, a
despeito de não ter havido inércia nem inoperância por parte do órgão
acusatório. A fluência do prazo prescricional enquanto o Estado, por meio
do Ministério Público, permanece sem poder de executar a decisão
condenatória, em última análise assegura, em incontáveis casos, a
impunidade de condenados, além de fomentar manobras
procrastinatórias de advogados, que interpõem recursos sem fim e sem
conteúdo, unicamente com o escopo de impedir de maneira artificial o
trânsito em julgado e atrasar o julgamento definitivo. Nesse sentido:

"RECURSO ESPECIAL. PRERROGATIVA DE FORO.


PRESCRIÇÃO. INOCORRÊNCIA. TERMO INICIAL. DEMAIS
TESES RECURSAIS REJEITADAS. IMEDIATA EXECUÇÃO DA
PENA. I. TERMO INICIAL DA PRESCRIÇÃO DA
PRETENSÃO EXECUTÓRIA
1. A prescrição da pretensão executória pressupõe a
inércia do titular do direito de punir. Se o seu titular se
encontrava impossibilitado de exercê-lo em razão do
entendimento anterior do Supremo Tribunal Federal que
vedava a execução provisória da pena, não há falar-se em
inércia do titular da pretensão executória.

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2. O entendimento defensivo de que a prescrição da


pretensão executória se inicia com o trânsito em julgado para a
acusação viola o direito fundamental à inafastabilidade da

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jurisdição, que pressupõe a existência de uma tutela

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jurisdicional efetiva, ou melhor, uma justiça efetiva.
3. A verificação, em concreto, de manobras
procrastinatórias, como sucessiva oposição de embargos de
declaração e a renúncia do recorrente ao cargo de prefeito que
ocupava, apenas reforça a ideia de que é absolutamente
desarrazoada a tese de que o início da contagem do prazo
prescricional deve se dar a partir do trânsito em julgado para
a acusação. Em verdade, tal entendimento apenas fomenta a
interposição de recursos com fim meramente procrastinatório,
frustrando a efetividade da jurisdição penal.
4. Desse modo, se não houve ainda o trânsito em julgado
para ambas as partes, não há falar-se em prescrição da
pretensão executória.
[...]"
(RE 696.533/SC, Rel. Min. LUIZ FUX, Rel. para Acórdão
Min. ROBERTO BARROSO, Primeira Turma, DJe de
05/03/2018).

Sobre o início do prazo de execução de algo que é inexequível,


especialmente à luz do debate acerca da execução provisória da pena,
trago as lições de LUIZ RÉGIS PRADO (Comentários ao Código Penal:
jurisprudência, conexões lógicas com os vários ramos do direito, 10ª ed., Editora
Revista dos Tribunais, 2015, p.112), no sentido de que:

"Embora determine o Código Penal que o prazo da


prescrição executória começa a correr no dia em que transita em
julgado a sentença condenatória para a acusação, o efetivo
reconhecimento dessa espécie de prescrição demanda também
o trânsito em julgado da referida sentença para o réu, pois se a
prescrição ocorre antes desse termo é a mesma prescrição da
pretensão punitiva e não da pretensão executória. Antes do
trânsito em julgado, a prescrição será sempre da pretensão

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punitiva. Isso ocorre por não existir execução provisória da


pena e, portanto, a sanção ainda não é passível de execução,
inviabilizando o curso do lapso prescricional executório".

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Igualmente, CEZAR ROBERTO BITENCOURT (Código Penal
Comentado, Editora Saraiva, 2015, p. 425), aduz que:

"O prazo começa a correr do dia em que transitar em


julgado a sentença condenatória para a acusação, mas o
pressuposto básico para essa espécie de prescrição é o trânsito
em julgado para acusação e defesa, pois, enquanto não transitar
em julgado para a defesa, a prescrição poderá ser a
intercorrente. Nesses termos, percebe-se, podem correr
paralelamente dois prazos prescricionais: o da intercorrente,
enquanto não transitar definitivamente em julgado, e o da
executória, enquanto não for iniciado o cumprimento da
condenação, pois ambos iniciam na mesma data, qual seja, o
trânsito em julgado para a acusação".

Por derradeiro, GUILHERME DE SOUZA NUCCI (Código Penal


Comentado, 16ª ed., Editora Forense, 2016, p. 190), registra que:

"Termo inicial da prescrição da pretensão executória: é a


data do trânsito em julgado da sentença condenatória, para a
acusação. No entanto, é inconcebível que assim seja, pois o
Estado, mesmo que a sentença tenha transitado em julgado
para a acusação, não pode executar a pena, devendo aguardar o
trânsito em julgado para a defesa. Ora, se não houve
desinteresse do Estado, nem inépcia, para fazer o condenado
cumprir a pena, não deveria estar transcorrendo a prescrição da
pretensão executória. Entretanto, a lei é clara: começa a ser
computada a prescrição da pretensão executória a partir da
data do trânsito em julgado da sentença condenatória".

Além desses três problemas acima apresentados, ainda me parece

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existir um quarto para não ser possível reconhecer o trânsito em julgado


para a acusação como o termo inicial para a prescrição da pretensão
executória: (4) o problema da execução provisória da pena.

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Durante o período em que a jurisprudência desta SUPREMA CORTE

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caminhou pela impossibilidade de execução provisória da pena,
mormente após o julgamento do HC 84.078/MG, da relatoria do Min.
EROS GRAU, houve uma orientação, à luz do princípio constitucional do
estado de inocência, de que haveria a necessidade do trânsito em julgado
para ambas as partes. A título de exemplo, menciono os seguintes
julgados:

"Penal e Processo Penal. Agravo Regimental em Habeas


Corpus. Reiteração de Argumentos da Inicial. Prescrição da
Pretensão Executória. Trânsito em Julgado para Ambas as
Partes.
1. A reiteração dos argumentos trazidos pelo agravante na
inicial da impetração não são suficientes para modificar a
decisão ora agravada (HC 115.560-AgR, Rel. Min. Dias Toffoli).
2. A partir do julgamento pelo Plenário desta Corte do HC
nº 84.078, deixou-se de se admitir a execução provisória da
pena, na pendência do RE.
3. O princípio da presunção de inocência ou da não-
culpabilidade, tal como interpretado pelo STF, deve repercutir
no marco inicial da contagem da prescrição da pretensão
executória, originariamente regulado pelo art. 112, I do
Código Penal.
4. Como consequência das premissas estabelecidas, o
início da contagem do prazo de prescrição somente se dá
quando a pretensão executória pode ser exercida.
5. Agravo regimental desprovido".
(HC 107.710 AgR/SC, Rel. Min. ROBERTO BARROSO,
Primeira Turma, DJe de 01/07/2015);

"AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO


EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO. SÚMULA 699/STF.

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AGRAVO INTEMPESTIVO. PRESCRIÇÃO DA PRETENSÃO


PUNITIVA ESTATAL. INOCORRÊNCIA.
1. O prazo para a interposição de agravo contra decisão

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denegatória de seguimento de recurso extraordinário em

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matéria criminal é de cinco dias (Súmula 699/STF).
2. Manejado o agravo após o quinquídio legal,
consideradas as datas de publicação do juízo negativo de
admissibilidade do recurso extraordinário e do protocolo da
petição respectiva, manifesta sua intempestividade.
3. Não ocorre a prescrição da pretensão punitiva estatal
nos casos em que o trânsito em julgado da condenação se
consuma em data anterior ao manejo de recurso intempestivo.
Recurso a destempo não previne o trânsito em julgado.
4. A pretensão executória surge somente com trânsito em
julgado da condenação criminal, conforme precedente do
Plenário desta Suprema Corte no HC 84.078 (Rel. Min. Eros
Grau, Pleno do Supremo Tribunal Federal, por maioria, j.
05.02.2009), não se iniciando o prazo prescricional respectivo
antes deste termo, consoante princípio da actio nata.
5. Agravo regimental conhecido e não provido".
(ARE 682.013 AgR/SP, Rel. Min. ROSA WEBER, Primeira
Turma, DJe de 06/02/2013).

E levando em consideração que no julgamento de mérito das ADCs


43, 44 e 54, realizado no dia 07 de novembro de 2019, esta CORTE
entendeu pela constitucionalidade do art. 283, do Código de Processo
Penal, parece-me que houve um reforço dessa jurisprudência.
Ora, não sendo possível a execução provisória da pena de uma
sentença penal condenatória sujeita a recurso, não me parece razoável
considerar como termo inicial do lapso prescricional (pretensão
executória) o trânsito em julgado para a acusação, porque nessa situação
estaríamos diante de uma sentença penal condenatória que não poderia
ser executada. É uma questão de lógica: se não é possível executar a
pena, não é possível falar-se em prescrição da pretensão executória,
pois a gênese desse instituto está justamente na possibilidade de

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exequibilidade da sentença penal condenatória.


A propósito, o Min. ROBERTO BARROSO, quando do julgamento
do HC 107.710/SC, Primeira Turma, DJe de 01/07/2015, bem condensou o

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entendimento acima mencionado, ao apontar que:

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"6. A extinção da pretensão executória pelo decurso do
prazo prescricional pressupõe a inércia estatal quando já é
possível sua atuação. A execução do título penal condenatório,
por seu turno, só é possível após o trânsito em julgado. É certo
que a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal admitia a
execução provisória da pena. Era consentâneo com este
entendimento a compreensão de que o termo inicial da
prescrição da pretensão executória era o trânsito em julgado
para a acusação.
7. Ocorre que, após o julgamento pelo Plenário desta Corte
do HC n. 84.078, passou-se a não mais admitir a execução
provisória da pena na pendência do recurso extraordinário e,
com maior razão, do recurso de apelação. Assim, melhor
analisando a questão, penso que o princípio da presunção de
inocência, tal como atualmente interpretado pelo Tribunal,
deve repercutir no marco inicial da contagem da prescrição,
originariamente regulado pelo art. 112, inc. I, do Código
Penal. Do contrário, estar-se-ia punindo o estado pela inação
quando não poderia agir, ou seja, a prescrição somente se aplica
em caso de não ser exercida a tempo a pretensão executória
estatal. Nessa linha, há precedente desta Primeira Turma à
unanimidade (Presidência do Ministro Dias Toffoli e presentes
à sessão os Ministros Marco Aurélio, Luiz Fux e Rosa Weber)".

Na mesma linha, por sua exatidão, cito trecho do voto proferido pelo
Min. DIAS TOFFOLI, do Relator do caso que ora se analisa:

“Com efeito, a partir do espectro reconhecido por este


Supremo Tribunal Federal ao caput do art. 283 do CPP e ao
princípio da presunção de inocência, previsto no art. 5º, inciso
LVII, da Constituição, inviabilizou-se o início da execução da

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pena antes do trânsito em julgado da sentença penal


condenatória, como consta na literalidade do dispositivo em
foco.

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A constituição definitiva do título judicial condenatório

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passou, portanto, à condição de exercício da pretensão
executória do Estado. Em virtude disso e da exigência lógica da
higidez do sistema, a única leitura do inciso I do art. 112 do
Código Penal consentânea com esse entendimento é que se
reconheça que o prazo prescricional só começa a fluir com a
constituição definitiva do decreto condenatório, mediante seu
trânsito em julgado, eliminando-se do dispositivo a locução
“para a acusação”.
O entendimento diverso, ou seja, aquele em que se aplica a
literalidade do artigo, além de ser contrário à ordem jurídico-
normativa, teria o efeito prático de levar a acusação a recorrer
de todas as decisões como forma de postergar, artificialmente,
para o mais próximo possível do verdadeiro marco inicial, o
início da fluência de seu prazo, como já observou a doutrina
especializada.
É imperioso, portanto, reconhecer a necessidade de
redução de texto do inciso I do artigo 112 do Código Penal
(diante de sua não recepção em razão do novo parâmetro dado
ao inciso LVII do art. 5ºda CRFB), de modo que o marco inicial
da prescrição da pretensão executória prevista na legislação
ordinária se acomode à extensão que o Supremo Tribunal
Federal conferiu à presunção de inocência (art. 5º, inciso LVII,
da CRFB), quando estabeleceu o trânsito em julgado para a
acusação e para a defesa como condição para o início da
execução da pena pelo Estado.
A exegese, aqui, insisto, encontra eco na harmônica
interpretação da Constituição da República, levando a Corte
Constitucional a declarar a não recepção pela Constituição da
locução “para a acusação” contida na primeira parte do inciso I
do art. 112 do Código Penal, conferindo, no entanto, a ela
interpretação conforme à Constituição, de forma a se entender
que a prescrição começa a correr do dia em que transita em

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julgado a sentença condenatória para ambas as partes”.

Sem dúvida nenhuma, melhor seria que o Código Penal tivesse

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adotado a solução do Código Penal Militar, que não restringe o termo

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inicial da prescrição da pretensão executória ao trânsito em julgado à
acusação. Confira-se, por oportuno, o teor do art. 126, §1º, "a", do Código
Penal Militar:

"Art. 126. A prescrição da execução da pena privativa de


liberdade ou da medida de segurança que a substitui (art. 113)
regula-se pelo tempo fixado na sentença e verifica-se nos
mesmos prazos estabelecidos no art. 125, os quais se aumentam
de um têrço, se o condenado é criminoso habitual ou por
tendência.
§1º Começa a correr a prescrição:
a) do dia em que passa em julgado a sentença
condenatória ou a que revoga a suspensão condicional da
pena ou o livramento condicional".

Ainda, sobre o termo inicial para a contagem da prescrição na


modalidade executória, vale mencionar que, no voto-vista por mim
proferido nos autos do AI 794.971-AgR/RJ, Rel. Min. ROBERTO
BARROSO, Redator p/ acórdão Min. MARCO AURÉLIO, Tribunal Pleno,
DJe de 28/06/2021, consignei nesse julgado, com base nos fundamentos da
Min. ELLEN GRACIE quando do julgamento do HC 86.125/SP,
verdadeiro leading case responsável pela construção da jurisprudência
desta SUPREMA CORTE, que, admitir a contagem do prazo prescricional
executório mesmo diante da impossibilidade de execução provisória da
pena vai totalmente de encontro com a ideia de inércia estatal, de que
decorre o conceito de prescrição. O referido AI 794.971-AgR/RJ foi assim
ementado:

"PRESCRIÇÃO – RECURSO – INADMISSIBILIDADE.


Enquanto não proclamada a inadmissão de recurso de natureza
excepcional, tem-se o curso da prescrição da pretensão

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punitiva, e não a da pretensão executória. PRESCRIÇÃO –


PRETENSÃO PUNITIVA. Transcorrido, entre os fatores
interruptivos, período previsto no artigo 109 do Código Penal,

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tem-se prescrição da pretensão punitiva do Estado.

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PRESCRIÇÃO – PRETENSÃO EXECUTÓRIA – TERMO
INICIAL. A prescrição da pretensão executória, no que
pressupõe quadro a revelar a possibilidade de execução da
pena, tem como marco inicial o trânsito em julgado, para
ambas as partes, da condenação".

Nessa linha, destaco recentes julgamentos das duas Turmas desta


SUPREMA CORTE, no sentido de que o termo inicial da prescrição da
pretensão executória deve ser o trânsito em julgado para ambas as partes:

“Ementa: AGRAVO REGIMENTAL EM HABEAS


CORPUS. ROUBO MAJORADO. TERMO INICIAL PARA A
CONTAGEM DA PRESCRIÇÃO DA PRETENSÃO
EXECUTÓRIA: TRÂNSITO EM JULGADO DA
CONDENAÇÃO PARA AMBAS AS PARTES. PRECEDENTES.
CONSTRANGIMENTO ILEGAL NÃO EVIDENCIADO.
AGRAVO A QUE SE NEGA PROVIMENTO.
(HC 227517 AgR, Relator(a): ALEXANDRE DE MORAES,
Primeira Turma, DJe 07-06-2023)”

"AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO


EXTRAORDINÁRIO. TERMO INICIAL DA PRESCRIÇÃO
DA PRETENSÃO EXECUTÓRIA. TRÂNSITO EM JULGADO
DA CONDENAÇÃO PARA DEFESA E ACUSAÇÃO.
PRECEDENTES. AGRAVO REGIMENTAL AO QUAL SE
NEGA PROVIMENTO" (RE 1.356.119 AgR/RJ, Rel. Min.
CÁRMEN LÚCIA, Primeira Turma, DJe de 24/2/2022);

"Agravo regimental no recurso extraordinário com agravo.


Direito Penal e Processual Penal. Prescrição da pretensão

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executória. Não ocorrência. Fixação do trânsito em julgado da


condenação para ambas as partes como marco inicial da
prescrição. Precedente Tribunal Pleno. Pretendida absolvição

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sumária. Legislação infraconstitucional. Ofensa reflexa. Fatos e

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provas. Reexame. Impossibilidade. Agravo regimental não
provido" (ARE 1.301.223-AgR/SC, Rel. Min. DIAS TOFFOLI,
Primeira Turma, DJe de 30/11/2021);

"AGRAVO REGIMENTAL NO HABEAS CORPUS. CRIME


CONTRA A ORDEM TRIBUTÁRIA. WRIT SUCEDÂNEO DE
RECURSO OU REVISÃO CRIMINAL. SUPRESSÃO DE
INSTÂNCIA. PRESCRIÇÃO DA PRETENSÃO
EXECUTÓRIA. INOCORRÊNCIA. TERMO INICIAL.
NECESSIDADE DE TRÂNSITO EM JULGADO PARA
AMBAS AS PARTES. ACORDO DE NÃO PERSECUÇÃO
PENAL. RETROATIVIDADE, NO PONTO, DA LEI 13.964/2019.
INVIABILIDADE. JURISPRUDÊNCIA DESTA CORTE NO
SENTIDO DE QUE A RETROATIVIDADE SOMENTE ATINGE
CASOS ANTERIORES À ENTRADA EM VIGOR DE
REFERIDA LEI QUANDO AINDA NÃO RECEBIDA A
DENÚNCIA. [...] 3. Com o julgamento das ADC´S 43, 44 e 54
pelo Plenário deste Supremo Tribunal Federal, Rel. Min. Marco
Aurélio, DJe 08.11.2019, foi assentada a constitucionalidade do
art. 283 do Código de Processo Penal e, em consequência,
reputada inconstitucional a execução provisória da pena e
condicionado o início da fase executiva ao trânsito em julgado
da condenação criminal. 4. Uma vez não admitida a execução
provisória da pena, impossível cogitar da fluência do prazo
prescricional, a coincidir, seu termo a quo, com a data do
trânsito em julgado em definitivo da condenação,
consideradas acusação e defesa. Inegável, à luz do princípio
da actio nata, que, antes do nascimento da pretensão – no
caso da pretensão executória estatal –, não começa a correr a
prescrição. 5. A prescrição da pretensão executória pressupõe
inércia do titular do direito, o que não ocorre quando o Estado
resta impedido de executar o título judicial condenatório em

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razão da apresentação de diversos e sucessivos recursos da


defesa. Precedentes. [...] 8. Agravo regimental conhecido e não
provido" (HC 185.956-AgR/RN, Rel. Min. ROSA WEBER,

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Primeira Turma, DJe 8/6/2021).

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Assim, não sendo possível executar provisoriamente a pena antes do
trânsito em julgado para a defesa, porquanto somente neste momento é
que surge o título penal passível de ser executado pelo Estado, entendo
que o termo inicial da prescrição executória deverá seguir esse mesmo
critério, vale dizer, somente se iniciará quando do trânsito em julgado da
sentença para ambas as partes. Afinal, sem a exigibilidade da pretensão,
não há como correr o prazo de prescrição! Logo, por coerência sistêmica,
a prescrição da pretensão executória inicia-se no instante em que se torna
possível a execução da pena.

III. Caso concreto.

No caso concreto, o Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos


Territórios, ao analisar o Agravo em Execução penal interposto pelo
Ministério Público do Distrito Federal e Territórios que pugnava pelo
afastamento do reconhecimento da prescrição da pretensão executória,
adotou a literalidade do art. 112, I do Código Penal, entendendo que a
prescrição da pretensão executória teria início na data em que a sentença
condenatória transitou em julgado para a acusação. Confira-se a ementa
do julgamento:

AGRAVO EM EXECUÇÃO. PRESCRIÇÃO DA


PRETENSÃO EXECUTÓRIA. TERMO INICIAL. TRÂNSITO
EM JULGADO PARA A ACUSAÇÃO. DESPROVIMENTO.
I - Segundo dispõe o art. 112, I, do Código Penal, a
prescrição da pretensão executória começa a correr do dia em
que transita em julgado a sentença condenatória para a
acusação, não sendo cabível considerar como termo inicial do
prazo prescricional a data do trânsito em julgado definitivo, sob

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pena de eleger termo interruptivo não previsto em lei.


II - Verificada a ocorrência de causa extintiva de
punibilidade, deverá o Juiz ou Tribunal declará-la de ofício, nos

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termos do artigo 61 do Código de Processo Penal.

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III - Recurso conhecido e desprovido.

O MPDFT interpôs recursos, especial e extraordinário, que não


foram admitidos pelo TJDFT. Posteriormente, em sede de Agravo, o
Superior Tribunal de Justiça manteve a inadmissão do recurso especial,
por entender que "o termo inicial do prazo prescricional da pretensão
executória é a data do trânsito em julgado da decisão condenatória para a
acusação, nos termos do art. 112, I, do Código Penal".
Portanto, em atenção às razões de decidir deste ARE 848.107/DF, que
concluiu no sentido de que o termo inicial para a prescrição executória
seria o trânsito em julgado para ambas as partes, pois é neste momento
que surge o título penal passível de ser executado pelo Estado, no caso
concreto dá-se provimento ao recurso extraordinário interposto pelo
MPDFT, cassando o acórdão e determinando que o Tribunal de Origem
analise a questão sob a óptica da tese firmada por esta CORTE.

III. Solução final a ser adotada. Fixação de tese para fins de


repercussão geral.

Tendo em vista que o SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL entendeu,


no passado, que, em não sendo possível executar provisoriamente a pena,
o termo inicial para a prescrição executória seria o trânsito em julgado
para ambas as partes, com muito mais razão hoje, após o julgamento das
referidas ADCs 43, 44 e 54, deverá perfilhar este entendimento, no sentido
de que a prescrição da pretensão executória se inicia no instante em que
se torna possível a execução da pena.

Como tese para fins da sistemática da repercussão geral em relação


aos casos que tratem ou venham a tratar do Tema 788, proponho:

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“O termo inicial para a contagem da prescrição da


pretensão executória se dá apenas após o trânsito em julgado da
sentença para ambas as partes.”

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IV. Quanto à modulação

Conforme narrado, o Min. DIAS TOFFOLI propõe a modulação de


efeitos da decisão para que a declaração de inconstitucionalidade da
expressão “para a acusação” prevista no art. 112, I, do CP:
a) não tenha efeitos nos casos em que já declarada ou analisada a
prescrição da pretensão executória ou cujo trânsito em julgado para a
acusação tenha ocorrido até 11/11/2020, data do julgamento das ADCs 43,
44 e 54.
b) aplique-se para os casos em que o trânsito em julgado para a
acusação ocorreu após 11/11/2020.
Com a devida vênia ao Ilustre Relator, entendo que a aplicação
imediata da tese obsta a impunidade e não viola a segurança jurídica.
Devem ser preservadas unicamente as decisões transitadas em julgado
que estejam em desacordo com a tese enunciada neste julgamento.

V. Conclusão

Diante dessas considerações, voto pelo conhecimento do Agravo no


Recurso Extraordinário, e no mérito, voto pelo provimento do Recurso
Extraordinário, cassando o acórdão recorrido, afastando o
reconhecimento da prescrição da pretensão executória e determinando
que o TJDFT analise a questão sob a óptica da tese fixada pela CORTE.
Adiro à tese de julgamento proposta pelo Eminente Relator, mas
divirjo quanto à modulação dos efeitos do julgado, que não devem se
aplicar apenas às decisões com trânsito em julgado.
É como voto.

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Extrato de Ata - 03/07/2023

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PLENÁRIO
EXTRATO DE ATA

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RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO 848.107

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PROCED. : DISTRITO FEDERAL
RELATOR : MIN. DIAS TOFFOLI
RECTE.(S) : MINISTÉRIO PÚBLICO DO DISTRITO FEDERAL E TERRITÓRIOS
PROC.(A/S)(ES) : PROCURADOR-GERAL DE JUSTIÇA DO DISTRITO FEDERAL E
TERRITÓRIOS
RECDO.(A/S) : EDSON RODRIGUES DE OLIVEIRA
PROC.(A/S)(ES) : DEFENSOR PÚBLICO-GERAL DO DISTRITO FEDERAL
AM. CURIAE. : DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO
PROC.(A/S)(ES) : DEFENSOR PÚBLICO-GERAL DO ESTADO DO RIO DE
JANEIRO
AM. CURIAE. : DEFENSORIA PÚBLICA DA UNIÃO
PROC.(A/S)(ES) : DEFENSOR PÚBLICO-GERAL FEDERAL

Decisão: Após a leitura do relatório e realização das


sustentações orais, o julgamento foi suspenso. Falaram: pelo
recorrido, o Dr. Ricardo Ruivo Moreira de Oliveira, Defensor
Público do Distrito Federal; pelo amicus curiae Defensoria Pública
da União, o Dr. Gustavo Zortéa da Silva, Defensor Público Federal;
pelo amicus curiae Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro,
o Dr. Pedro Paulo Lourival Carriello, Defensor Público do Estado
do Rio de Janeiro; e, pela Procuradoria-Geral da República, o Dr.
Antônio Augusto Brandão de Aras, Procurador-Geral da República.
Presidência do Ministro Luiz Fux. Plenário, 24.3.2022.

Decisão: O Tribunal, por maioria, apreciando o tema 788 da


repercussão geral, negou provimento ao agravo em recurso
extraordinário interposto pelo Ministério Público do Distrito
Federal e Territórios e declarou a não recepção pela Constituição
Federal da locução "para a acusação", contida na primeira parte do
inciso I do artigo 112 do Código Penal, conferindo-lhe
interpretação conforme à Constituição de forma a se entender que a
prescrição começa a correr do dia em que transita em julgado a
sentença condenatória para ambas as partes, aplicando-se este
entendimento aos casos em que i) a pena não foi declarada extinta
pela prescrição e ii) cujo trânsito em julgado para a acusação
tenha ocorrido após 12.11.2020. Tudo nos termos do voto do
Relator, vencido o Ministro Alexandre de Moraes, que conhecia do
agravo no recurso extraordinário e, no mérito, dava provimento ao
recurso extraordinário e divergia quanto à modulação dos efeitos
do julgado, ao entendimento de que não devem se aplicar apenas às
decisões com trânsito em julgado. Por unanimidade, foi fixada a
seguinte tese: "O prazo para a prescrição da execução da pena
concretamente aplicada somente começa a correr do dia em que a
sentença condenatória transita em julgado para ambas as partes,

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Supremo Tribunal Federal


Extrato de Ata - 03/07/2023

Inteiro Teor do Acórdão - Página 56 de 56

momento em que nasce para o Estado a pretensão executória da pena,


conforme interpretação dada pelo Supremo Tribunal Federal ao
princípio da presunção de inocência (art. 5º, inciso LVII, da

Validação em https://seeu.pje.jus.br/seeu/ - Identificador: PJLMG GQGKG 37VSR AQ4TB


Constituição Federal) nas ADC 43, 44 e 54". Plenário, Sessão

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Virtual de 23.6.2023 a 30.6.2023.

Composição: Ministros Rosa Weber (Presidente), Gilmar Mendes,


Cármen Lúcia, Dias Toffoli, Luiz Fux, Roberto Barroso, Edson
Fachin, Alexandre de Moraes, Nunes Marques e André Mendonça.

Carmen Lilian Oliveira de Souza


Assessora-Chefe do Plenário

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