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Supremo Tribunal Federal

Ementa e Acórdão

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18/06/2013 PRIMEIRA TURMA

HABEAS CORPUS 115.199 MATO GROSSO DO SUL

RELATORA : MIN. ROSA WEBER


PACTE.(S) : LAÉRCIO LÍDIO DOS SANTOS
IMPTE.(S) : DEFENSORIA PÚBLICA DA UNIÃO
PROC.(A/S)(ES) : DEFENSOR PÚBLICO-GERAL FEDERAL
COATOR(A/S)(ES) : SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

EMENTA

DIREITO PROCESSUAL PENAL. HABEAS CORPUS.


SUBSTITUTIVO DE RECURSO CONSTITUCIONAL. INADEQUAÇÃO
DA VIA ELEITA. LATROCÍNIO E OCULTAÇÃO DE CADÁVER.
DEFESA PRÉVIA. INTIMAÇÃO DIRIGIDA AO ADVOGADO DO
COACUSADO. CERCEAMENTO DE DEFESA. ANULAÇÃO DO
PROCESSO A PARTIR DA FASE DO ART. 499 DO CÓDIGO DE
PROCESSO PENAL. PRODUÇÃO DA PROVA ORAL REQUERIDA.
1. Contra a denegação de habeas corpus por Tribunal Superior
prevê a Constituição Federal remédio jurídico expresso, o recurso
ordinário. Diante da dicção do art. 102, II, a, da Constituição da
República, a impetração de novo habeas corpus em caráter
substitutivo escamoteia o instituto recursal próprio, em manifesta
burla ao preceito constitucional.
2. Demonstrado o equívoco na intimação para apresentação da
defesa prévia, realizada em nome do advogado do coacusado, a
anulação da ação penal a partir do indeferimento da produção da
prova oral revela-se suficiente para reverter o cerceamento de
defesa e, por consequência, prestigiar os princípios da celeridade e
da economia processual.
3. Habeas corpus extinto sem resolução do mérito.
ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os


Ministros do Supremo Tribunal Federal, em Primeira Turma, sob a

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HC 115199 / MS

Presidência do Senhor Ministro Luiz Fux, na conformidade da ata de


julgamento e das notas taquigráficas, por unanimidade de votos, em
julgar extinta a ordem de habeas corpus por inadequação da via
processual, nos termos do voto da Relatora.
Brasília, 18 de junho de 2013.

Ministra Rosa Weber


Relatora

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Relatório

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18/06/2013 PRIMEIRA TURMA

HABEAS CORPUS 115.199 MATO GROSSO DO SUL

RELATORA : MIN. ROSA WEBER


PACTE.(S) : LAÉRCIO LÍDIO DOS SANTOS
IMPTE.(S) : DEFENSORIA PÚBLICA DA UNIÃO
PROC.(A/S)(ES) : DEFENSOR PÚBLICO-GERAL FEDERAL
COATOR(A/S)(ES) : SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

RELATÓRIO

A Senhora Ministra Rosa Weber (Relatora): Trata-se de habeas


corpus impetrado pela Defensoria Pública da União em favor de
Laércio Lídio dos Santos contra acórdão do Superior Tribunal de
Justiça, que concedeu a ordem, em menor extensão, nos autos do
HC 159.884/MS.
O paciente foi denunciado pela suposta prática dos crimes de
latrocínio e de ocultação de cadáver, por ter, em concurso de
pessoas, atraído a vítima para a fazenda onde trabalhava, a pretexto
de comercializar cabeças de gado. No local dos fatos, enquanto a
vítima negociava com o coacusado, o paciente, sorrateiramente, a
golpeou a machadadas, pelas costas, subtraindo-lhe a quantia de R$
3.800,00 (três mil e oitocentos reais) e causando-lhe a morte. Por
fim, os acusados abandonaram o corpo em um córrego, distante da
fazenda.
Em razão desses fatos, o paciente foi condenado às penas de 25
(vinte e cinco) anos e 06 (seis) meses de reclusão, no regime inicial
fechado, e de 70 (setenta) dias-multa pela prática dos crimes de latrocínio
e de ocultação de cadáver, tipificados nos artigos 157, § 3º, e 211 do
Código Penal.
Ao julgar a apelação defensiva, o Tribunal de Justiça deu parcial
provimento ao recurso para reduzir as penas ao mínimo legal, tornando-
as definitivas em 21 (vinte e um) anos de reclusão e em 60 (sessenta) dias-
multa.
Irresignada, a Defesa impetrou habeas corpus perante o Superior

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Relatório

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HC 115199 / MS

Tribunal de Justiça, que concedeu a ordem, em menor extensão, para


anular a ação penal “a partir da decisão que indeferiu os pleitos defensivos na
fase descrita na antiga redação do artigo 499 do Código de Processo Penal,
determinando-se que seja produzida a prova oral ali requerida”.
No presente writ, a Defesa insiste na necessidade de anulação
do processo desde a intimação para apresentação da defesa prévia
(antiga redação do art. 395 do Código de Processo Penal), com a
oportunidade de requerimento amplo de produção probatória.
Parecer do Ministério Público Federal, da lavra do Subprocurador-
Geral da República Edson Oliveira de Almeida, pelo não conhecimento
do habeas corpus.
É o relatório.

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Voto - MIN. ROSA WEBER

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HABEAS CORPUS 115.199 MATO GROSSO DO SUL

VOTO

I.

A Senhora Ministra Rosa Weber (Relatora): Trata-se de habeas


corpus impetrado contra acórdão do Superior Tribunal de Justiça,
que concedeu, em menor extensão, a ordem no HC 159.884/MS.
Insurge-se o paciente contra o acórdão na parte em que denegada a
ordem pela Corte Superior.
Contra a denegação de habeas corpus por Tribunal Superior prevê a
Constituição da República remédio jurídico expresso, o recurso ordinário
(art. 102, II, a ). Diante da dicção constitucional não cabe, em decorrência,
a utilização de novo habeas corpus, em caráter substitutivo.
A Primeira Turma desta Corte assentou tal entendimento, em
08.8.2012, ao julgar o HC 109.956/PR (HABEAS CORPUS - JULGAMENTO
POR TRIBUNAL SUPERIOR - IMPUGNAÇÃO. A teor do disposto no artigo
102, inciso II, alínea a, da Constituição Federal, contra decisão, proferida em
processo revelador de habeas corpus , a implicar a não concessão da ordem,
cabível é o recurso ordinário. Evolução quanto à admissibilidade do substitutivo
do habeas corpus. PROCESSO CRIME DILIGÊNCIAS INADEQUAÇÃO.
Uma vez inexistente base para o implemento de diligências, cumpre ao Juízo, na
condução do processo, indeferi-las. Rel. Min. Marco Aurélio, por maioria, DJe
11.9.2012), tendo a discussão se iniciado no HC 108.715/RJ, cujo
julgamento ainda não foi finalizado.
No mesmo sentido, encontram-se diversos precedentes da minha
lavra, entre eles o seguinte:

“O habeas corpus tem uma rica história, constituindo garantia


fundamental do cidadão. Ação constitucional que é, não pode ser
amesquinhado, mas também não é passível de vulgarização, sob pena
de restar descaracterizado como remédio heroico. Contra a denegação
de habeas corpus por Tribunal Superior prevê a Constituição Federal

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HC 115199 / MS

remédio jurídico expresso, o recurso ordinário. Diante da dicção do


art. 102, II, a, da Constituição da República, a impetração de novo
habeas corpus em caráter substitutivo escamoteia o instituto recursal
próprio, em manifesta burla ao preceito constitucional. Precedente da
Primeira Turma desta Suprema Corte.” (HC 104.045/RJ, Rel. Min.
Rosa Weber, 1ª Turma, DJe 06.9.2012).

Embora o habeas corpus constitua remédio criado pela common law, o


seu prestígio ensejou-lhe posterior consagração legislativa, especialmente,
no âmbito inglês, com o Habeas Corpus Act, de 1679, e, no âmbito norte-
americano, com o artigo I, seção 9, da Constituição norte-americana de
1787, ainda antes da adoção das dez primeiras emendas de 1971.
Interessante nesse breve relato é que, a despeito da importância histórica
do instituto, confundindo com a própria essência da liberdade, não foi e
não é o habeas corpus utilizado, no Direito anglo-saxão, senão diretamente
contra uma prisão, decretada em processo criminal ou não (v.g.
KAMISAR, Yale e outros. Modern Criminal Procedures: Cases,
Commentes, Questions. 10ª ed., St. Paul: West Group, 2002, p. 1.585-628;
TRECHSEL, Stefan. Human Rights in Criminal Proceedings. Oxford
University Press, 2005, p. 462-495; GUIMARÃES, Isaac Sabbá. Habeas
Corpus: críticas e perspectivas. 3ª ed., Curitiba, Juruá, 2009, p. 165-81).
Jamais se cogitou de sua utilização como um substitutivo de recurso no
processo penal.
Também em Portugal, onde o habeas corpus foi adotado apenas no
século XX (Decreto-lei nº 35.043, de 20.10.1945), constitui ação destinada
apenas à impugnação de uma prisão. Como já decidiu o Superior
Tribunal de Justiça português, “a providência de habeas corpus destina-se
tão só a controlar a legalidade da prisão no momento em que se decide,
tendo como finalidade verificar a legalidade das prisões a que os
cidadãos estão sujeitos, nela não se incluindo a verificação de qualquer
ilegalidade que possa ter sido cometida no processo, seja criminal ou
disciplinar, nem qualquer medida contra os responsáveis por tais
ilegalidades” (Acórdão de 26.4.1989, processo 10/89, BMJ 386, p. 422 –
apud GUIMARÃES, Isaac Sabbá, op. cit., p. 228-229).

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HC 115199 / MS

Assim, é o habeas corpus uma garantia da liberdade de locomoção –


ir, vir e permanecer –, contra violência ou coação, pressupondo, portanto,
uma prisão, uma ameaça de prisão ou pelo menos alguma espécie de
constrangimento físico ou moral à liberdade física.
Nesse contexto, a preservação da racionalidade do sistema
processual e recursal, bem como a necessidade de assegurar a razoável
duração do processo comandada no art. 5º, LXXVIII, da Carta Magna
aconselham seja retomada a função constitucional do habeas corpus,
inadmitido o seu uso como substitutivo de recurso no processo penal.
No caso do recurso ordinário contra a denegação do writ por
Tribunal Superior, o emprego do habeas corpus em substituição é ainda
mais grave, considerada a expressa previsão do recurso no texto
constitucional (art. 102, II, a, da Constituição Federal).
Admitir o habeas corpus como substitutivo do recurso, diante da
expressa previsão constitucional, representa burla indireta ao instituto
próprio, cujo manejo está à disposição do sucumbente, observados os
requisitos pertinentes.
Em síntese, o habeas corpus é garantia fundamental que não pode ser
vulgarizada, sob pena de sua descaracterização como remédio heroico, e
seu emprego não pode servir a escamotear o instituto recursal previsto no
texto da Constituição.
Portanto, voto por afirmar a inadequação do habeas corpus e por sua
consequente extinção sem resolução do mérito.

II.

A questão em debate neste habeas corpus limita-se à alegada


nulidade processual a partir da intimação equivocada para
apresentação da defesa prévia, na antiga redação do art. 395 do
Código de Processo Penal.
Conforme relatado, o paciente foi condenado pela prática dos
crimes de latrocínio e de ocultação de cadáver. O Tribunal de
Apelação reduziu as penas ao mínimo legal.

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O processo tramitou antes da entrada em vigor das alterações


determinadas pela Lei 11.719/2008, em conformidade com o antigo
procedimento comum.
Nesse contexto, ao apreciar a tese da ocorrência de nulidade
processual pela equivocada intimação da Defesa para apresentação
de defesa prévia, o Superior Tribunal de Justiça concedeu a ordem,
em menor extensão, e determinou a anulação da ação penal a partir
da decisão exarada na fase da antiga redação do art. 499 do Código
de Processo Penal. Confira-se o teor da ementa:

“HABEAS CORPUS. LATROCÍNIO E OCULTAÇÃO DE


CADÁVER. DEFESA PRÉVIA. ERRO NA INTIMAÇÃO.
COMUNICAÇÃO REALIZADA EM NOME DE CAUSÍDICO
DIVERSO DO CONSTITUÍDO PELO PACIENTE.
INOCUIDADE. CERCEAMENTO DE DEFESA
CONFIGURADO. ORDEM CONCEDIDA EM MENOR
EXTENSÃO.
1. Conforme entendimento sufragado por esta Corte Superior de
Justiça, embora o não oferecimento da defesa prévia, por si só, não
importe em cerceamento, já que se trata de providência que pode estar
inserida na própria estratégia defensiva, a falta de oportunização desta
faculdade processual, de forma inequívoca, deve ser sancionada com a
declaração de nulidade.
2. Na hipótese, a intimação da defesa do paciente para o
oferecimento da defesa prévia se deu em nome do advogado do corréu,
sendo certo que diante da inércia do seu causídico, o próprio paciente
ofertou a peça defensiva, mesmo sem possuir capacidade postulatória,
o que foi considerado válido pelo Juízo processante.
3. Atentando-se para o princípio da economia processual, e
tendo em conta que os demais atos instrutórios foram praticados em
estrita observância ao contraditório a à ampla defesa, a ação penal em
tela deve ser anulada a partir da decisão que indeferiu os pleitos
defensivos na fase descrita na antiga redação do artigo 499 do Código
de Processo Penal, para que seja produzida a prova oral ali requerida,
regularizando-se, assim, o devido processo legal.
4. Ordem concedida em menor extensão, mantida a situação

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prisional do paciente”.

Convém transcrever, a respeito da tese recursal, trechos extraídos do


voto condutor do acórdão impugnado, verbis:

“Embora seja certo que a prática de determinados atos


processuais é considerada facultativa pela jurisprudência desta Corte,
a exemplo do oferecimento da defesa prévia, cuja omissão poderia ser
inserida na estratégia elaborada pelo defensor na consecução dos seus
objetivos, repudia-se, contudo, infligindo-lhe a sanção de nulidade, a
falta de oportunização desta faculdade processual, ou até mesmo
eventual mácula no ato de comunicação que o torne inócuo.
(…)
Na hipótese, conforme se depreende da cópia do termo de
interrogatório que repousa às fls. 92/93, o paciente constituiu como
seu defensor o causídico Florisvaldo Vargas Filho - OAB/MS 1315 -,
bem como os profissionais José Bonfim - OAB/MS 3436 -, Domingos
Marciano Fretes - OAB/MS 4229 -, Thereza Christina Ferreira da
Silva - OAB/MS 6730 -, e Roberto Egmar Ramos - OAB/MS 4679 -,
de acordo com o instrumento de procuração cuja cópia se encontra à fl.
94.
Entretanto, conforme cópia da certidão acostada à fl. 97, a
intimação para o paciente apresentar defesa prévia no prazo legal se
deu em nome do advogado Osvaldo Fonseca Broca - OAB/MS 8441-A
-, o qual, na realidade, se tratava do causídico constituído pelo corréu
Luiz Laércio Colhares (fls. 88/89).
(…)
Embora se trate de peça facultativa, como já salientado alhures,
trata-se da única oportunidade ordinária posta à disposição da defesa
para pleitear a produção de prova testemunhal.
Absurdo, aliás, que o Juízo de origem tenha reputado válida a
petição assinada pelo próprio paciente, cuja cópia repousa às fls.
99/101, já que se trata de ato privativo daqueles que detém capacidade
postulatória, própria dos bacharéis em Direito com inscrição válida na
Ordem dos Advogados do Brasil.
E na hipótese dos autos, depreende-se que, embora na defesa dos

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interesses do paciente haviam 5 (cinco) advogados constituídos,


conforme atesta a cópia do respectivo instrumento de fl. 94, a
magistrada singular optou por nomear-lhe, diretamente, sem qualquer
consulta prévia, a Defensoria Pública, órgão que sequer ratificou o ato
defensivo apresentado de próprio punho pelo acusado.
(…)
Há que se perquirir, contudo, a extensão dos efeitos da eiva ora
reconhecida, em razão das seguintes peculiaridades extraídas dos
autos.
Conforme assinalado, a defesa do paciente passou a ser exercida
pelos advogados Oscar José Loureiro - OAB/RJ 68538 - e Conrado de
Sousa Passos - OAB/MS 9567 -, conforme se depreende das cópias do
mandato e respectivo substabelecimento acostadas às fls. 105/106.
Seguiram-se, então, os atos de instrução processual,
culminando, na fase descrita na antiga redação do artigo 499 do
Código de Processo Penal, com o requerimento da defesa técnica (fls.
133/137) para que fossem ouvidos um informante, uma testemunha,
bem como o policial que efetuou a prisão do paciente, procedendo-se,
ainda, à acareação de um testigo da acusação com outro arrolado pela
defesa.
Na sua decisão, a magistrada singular deferiu apenas a
acareação requerida, nos termos da cópia do despacho que repousa à fl.
139.
Como os demais atos de colheita de provas foram praticados em
estrita observância ao contraditório e à ampla defesa, conclui-se que o
prejuízo suportado pela defesa em razão da nulidade ora reconhecida
se limita à perda da oportunidade de arrolar as testemunhas do seu
interesse, o qual poderia ter sido sanado com o deferimento da oitiva
requerida na fase das diligências complementares.
Assim, atentando-se para o princípio da economia processual, a
ação penal em tela deve ser anulada a partir da decisão que indeferiu
os pleitos defensivos na fase descrita na antiga redação do artigo 499
do Código de Processo Penal, para que seja produzida a prova oral ali
requerida, restabelecendo-se, assim, o devido processo legal”.

Demonstrado o equívoco na intimação para apresentação da defesa

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prévia, realizada em nome do advogado do coacusado, o Superior


Tribunal de Justiça anulou o processo desde a fase prevista na antiga
redação do art. 499 do Código de Processo Penal. E, conforme transcrito,
foram invocados fundamentos relevantes para compreender que a
nulidade processual, decretada a partir da fase de diligências finais, seria
suficiente para sanar o cerceamento de defesa.
Em que pese ao tumulto processual advindo da intimação
equivocada para apresentação de defesa prévia, como o recebimento de
defesa prévia subscrita pelo próprio paciente e a nomeação da Defensoria
Pública para assistir o acusado, não obstante a existência de advogado
constituído, é certo que, tivesse sido deferido o pedido de produção de
prova oral na fase de diligências complementares, portanto estendendo a
instrução probatória, não teria ocorrido o cerceamento de defesa na
instrução processual.
Isso porque a Defesa se absteve de indicar o rol de testemunhas no
momento oportuno, por falta de chance, de modo que aproveitou aquela
oportunidade para requer produção de prova oral. Assim, manifestou
interesse na oitiva da testemunha Sirlei Clotilde Martins Ferrarezi,
considerada essencial para corroborar a tese defensiva, e, também, na
inquirição da informante Lucimara dos Santos e do Policial Militar
Givaldo José de Queiroz. Quanto a esses pontos, todavia, seu pedido foi
indeferido.
Ora, caberia ao Juízo singular ponderar a real necessidade na
produção das provas requeridas na fase das diligências complementares,
a fim de expurgar o cerceio à ampla defesa e restabelecer o devido
processo legal. Afinal, o principal objetivo da defesa prévia consiste em
arrolar as testemunhas e indicar a produção de provas.
Portanto, não merece reparo o entendimento de que a anulação do
processo a partir do indeferimento da produção da prova oral é suficiente
para reverter o cerceio de defesa, e, por consequência, prestigiar os
princípios da celeridade e da economia processual.
Ante o exposto, voto pela extinção do habeas corpus por sua
inadequação como substitutivo do recurso constitucional.

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Extrato de Ata - 18/06/2013

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EXTRATO DE ATA

HABEAS CORPUS 115.199


PROCED. : MATO GROSSO DO SUL
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Decisão: A Turma julgou extinta a ordem de habeas corpus por


inadequação da via processual, nos termos do voto da Relatora.
Unânime. Presidência do Senhor Ministro Luiz Fux. 1ª Turma,
18.6.2013.

Presidência do Senhor Ministro Luiz Fux. Presentes à Sessão os


Senhores Ministros Marco Aurélio, Dias Toffoli e Rosa Weber.
Compareceram o Senhor Ministro Ricardo Lewandowski, assumindo a
cadeira da Senhora Ministra Rosa Weber, e a Senhora Ministra
Cármen Lúcia para julgar processos a eles vinculados.

Subprocurador-Geral da República, Dr. Wagner Mathias.

Carmen Lilian Oliveira de Souza


Secretária da Primeira Turma

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