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Supremo Tribunal Federal

Ementa e Acórdão

Inteiro Teor do Acórdão - Página 1 de 8

21/02/2022 SEGUNDA TURMA

AG.REG. NO HABEAS CORPUS 208.567 SÃO PAULO

RELATOR : MIN. GILMAR MENDES


AGTE.(S) : CLAUDINEI FERREIRA DE CARVALHO
ADV.(A/S) : AKIRA CHIARELLI KOBAYASHI
AGDO.(A/S) : SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

Agravo regimental no habeas corpus. 2. Direito Penal e Direito


Processual Penal. 3. Defesa alega não haver elementos concretos para
elevação da pena-base. Inocorrência. 4. Alegação de fundamentação
genérica. Decisão devidamente fundamentada 5. Agravo improvido.
AC ÓRDÃ O
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros do
Supremo Tribunal Federal, em Segunda Turma, sob a presidência do
Senhor Ministro Nunes Marques, na conformidade da ata de julgamento
e das notas taquigráficas, por unanimidade de votos, negar provimento
ao agravo regimental, nos termos do voto do Relator.
Brasília, Sessão Virtual de 11 a 18 de fevereiro de 2022.
Ministro GILMAR MENDES
Relator
Documento assinado digitalmente

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Relatório

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21/02/2022 SEGUNDA TURMA

AG.REG. NO HABEAS CORPUS 208.567 SÃO PAULO

RELATOR : MIN. GILMAR MENDES


AGTE.(S) : CLAUDINEI FERREIRA DE CARVALHO
ADV.(A/S) : AKIRA CHIARELLI KOBAYASHI
AGDO.(A/S) : SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

RE LAT Ó RI O

O Senhor Ministro Gilmar Mendes (Relator): Trata-se de agravo


regimental contra decisão que denegou a ordem no habeas corpus.(eDOC
5).
Nas razões recursais, o agravante insiste na ilegalidade da
dosimetria da pena, haja vista a exacerbação desproporcional da pena-
base.

É o relatório.

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Voto - MIN. GILMAR MENDES

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21/02/2022 SEGUNDA TURMA

AG.REG. NO HABEAS CORPUS 208.567 SÃO PAULO

VOTO

O Senhor Ministro Gilmar Mendes (Relator): No agravo


regimental, não ficou demonstrado o desacerto da decisão agravada.
Segundo o entendimento desta Corte, cabe às instâncias ordinárias,
mais próximas dos fatos e das provas, fixar as penas. Às Cortes
Superiores, no exame da dosimetria, compete somente o controle da
legalidade e da constitucionalidade dos critérios empregados, com a
correção apenas de eventuais decisões teratológicas e arbitrárias, que
violem frontalmente dispositivo constitucional, o que não aconteceu no
caso dos autos.
Nesse sentido é a jurisprudência desta Corte:

“AGRAVO REGIMENTAL NO HABEAS CORPUS.


PENAL E PROCESSUAL PENAL. CRIME DE TRÁFICO DE
DROGAS. ARTIGO 33, CAPUT, DA LEI 11.343/2006. HABEAS
CORPUS SUBSTITUTIVO DE RECURSO EXTRAORDINÁRIO.
INADMISSIBILIDADE. COMPETÊNCIA DO SUPREMO
TRIBUNAL FEDERAL PARA JULGAR HABEAS CORPUS :
CRFB/88, ART. 102, I, D E I. HIPÓTESE QUE NÃO SE
AMOLDA AO ROL TAXATIVO DE COMPETÊNCIA DESTA
SUPREMA CORTE. PLEITOS ALTERNATIVOS PELA
ABSOLVIÇÃO, OU DESCLASSIFICAÇÃO PARA USO DE
DROGAS DO ARTIGO 28 DA LEI 11.343/2006, OU
APLICAÇÃO DA MINORANTE DO § 4º DO ARTIGO 33, DA
LEI 11.343/2006. REDISCUSSÃO DE CRITÉRIOS DE
DOSIMETRIA DA PENA. FUNDAMENTAÇÃO IDÔNEA
PELAS INSTÂNCIAS ORDINÁRIAS. REVOLVIMENTO DO
CONJUNTO FÁTICO-PROBATÓRIO. INADMISSIBILIDADE
NA VIA ELEITA. AUSÊNCIA DE TERATOLOGIA NO ATO
IMPUGNADO. ATUAÇÃO EX OFFICIO DO STF INVIÁVEL.
FIXAÇÃO DO REGIME PRISIONAL. IMPOSSIBILIDADE DE
UTILIZAÇÃO DO HABEAS CORPUS COMO SUCEDÂNEO

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Voto - MIN. GILMAR MENDES

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HC 208567 A GR / SP

DE REVISÃO CRIMINAL. AGRAVO REGIMENTAL


DESPROVIDO. 1. A dosimetria da pena, bem como os critérios
subjetivos considerados pelos órgãos inferiores para a sua
realização, não são passíveis de aferição na via estreita do
habeas corpus, por demandar minucioso exame fático e
probatório inerente a meio processual diverso. Precedentes: HC
104.827, Primeira Turma, de minha relatoria, DJe de 6/2/2013,
HC 131.761, Segunda Turma, Rel. Min. Cármen Lúcia, DJe de
29/2/2016 e HC 131.887, Segunda Turma, Rel. Min. Dias Toffoli,
DJe de 7/3/2016. 2. As circunstâncias judiciais elencadas no
artigo 59 do Código Penal, quando desfavoráveis, autorizam a
fixação da pena-base em patamar acima do mínimo legal, desde
que fundamentada a fixação do regime prisional mais gravoso.
3. In casu, o agravante foi condenado pelo juízo natural à pena
de 5 (cinco) anos e 6 (seis) meses de reclusão, em regime inicial
fechado, pela prática do crime previsto no artigo 33 da Lei
11.343/2006. O Tribunal de origem deu parcial provimento ao
recurso de apelação da defesa, reduzindo a condenação para 4
(quatro) anos e 2 (dois) meses de reclusão, em regime
semiaberto. 4. A competência originária do Supremo Tribunal
Federal para conhecer e julgar habeas corpus está definida,
exaustivamente, no artigo 102, inciso I, alíneas d e i, da
Constituição da República, sendo certo que o paciente não está
arrolado em qualquer das hipóteses sujeitas à jurisdição desta
Corte. 5. O habeas corpus não pode ser manejado como
sucedâneo de recurso revisão criminal. 6. Agravo regimental
desprovido”. (HC-AgR 131.570/BA, Rel. Min. Luiz Fux,
Primeira Turma, DJe 19.6.2017)

“RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS.


FURTO. DOSIMETRIA DA PENA. AFERIÇÃO DAS
CIRCUNSTÂNCIAS JUDICIAIS DO ART. 59 DO CP.
INVIABILIDADE. QUANTUM FIXADO POR MEIO DE
FUNDAMENTAÇÃO ADEQUADA. INVIABILIDADE DE
ANÁLISE DE FATOS E PROVAS NA VIA DO HABEAS
CORPUS. RECURSO DESPROVIDO. 1. Não é viável, na via

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Voto - MIN. GILMAR MENDES

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HC 208567 AGR / SP

estreita do habeas corpus, o reexame dos elementos de


convicção considerados pelo magistrado sentenciante na
avaliação das circunstâncias judiciais previstas no art. 59 do
Código Penal. O que está autorizado é apenas o controle da
legalidade dos critérios utilizados, com a correção de eventuais
arbitrariedades. No caso, entretanto, não se constata qualquer
vício apto a justificar o redimensionamento da pena-base.
Precedentes. 2. Ademais, é inviável a utilização do habeas
corpus, ação desprovida do direito ao contraditório, para
verificar a ocorrência ou não dos fatos que embasaram a
dosimetria. 3. Recurso ordinário em habeas corpus a que se
nega provimento”. (RHC 126.336/MG, Rel. Min. Teori Zavascki,
Segunda Turma, DJe 10.3.2015)

A defesa reitera a tese de ilegalidade na dosimetria da pena fixada ao


acusado, alegando ter o Tribunal de Justiça de São Paulo, em embargos de
declaração, aplicado frações de maneira excessiva e desarrazoada na
dosimetria da pena.
No entanto, verifica-se que o Tribunal Justiça, ao alterar a
condenação, consignou o seguinte:

“De fato, o v. acórdão hostilizado exibe anomalia


pertinente à fixação das penas do acusado ao estabelecer
aumento superior ao delimitado na r. sentença monocrática, na
segunda etapa da dosimetria e, ainda, ao revisar o aumento
decorrente da circunstância prevista no artigo 40, inciso III, da
Lei nº 11.343/06, sob alegada ausência de fundamentação, sendo
necessário, por isso, o refazimento do cálculo.
Com efeito, as básicas foram aumentadas à ½ (metade)
pelo fato de o réu Claudinei possuir maus antecedentes
(certidão de fls. 36/37 do apenso próprio 1º Vol.) e porque,
mesmo estando preso, ele continuou a praticar infrações de
dentro da penitenciária, movido por certo poder, já que ex-
integrante do primeiro comando da capital, a revelar maior
reprovabilidade da conduta no caso concreto.

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Voto - MIN. GILMAR MENDES

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HC 208567 AGR / SP

Na segunda fase, em razão da reincidência e da agravante


genérica do artigo 62, inciso I, do Código Penal
(dirigir/coordenar prática ilícita), as penas do aludido acusado
deveriam ser elevadas em 1/3 (um terço). Todavia, observa-se
que o acréscimo decorrente dessas duas circunstâncias legais
restou aplicado em 1/5 (um quinto) na r. sentença a quo, sem
qualquer irresignação ministerial, de sorte que não poderá ser
alterado, por ser mais benéfico ao embargante, máxime em
reverência ao princípio obstativo do reformatio in pejus.
Em relação ao crime do artigo 349-A do Código Penal, a
pena será reduzida em 1/6 (um sexto) pela atenuante de
confissão espontânea.
Na última fase, como bem anotado pelo Parquet, a causa
especial de aumento do artigo 40, inciso III, da Lei nº 11.343/06
(estabelecimento prisional) deverá ser restabelecida ao patamar
de 1/3 (um terço), porquanto este, diversamente do anotado no
v. acórdão, restou bem fundamentado na r. sentença
condenatória, sobretudo porque os acusados Claudinei e
Patrícia Carla compunham associação criminosa complexa,
atuante no interior de presídio e, para tanto, valiam-se do
auxílio de telefones celulares, a revelar maior reprovabilidade
de suas condutas e, de conseguinte, a justificar tal
exasperação.
[...]
3. Pelo exposto, acolhem-se os embargos de declaração
ministerial e defensivo, alterando-se as penas de Claudinei
Ferreira de Carvalho e Patrícia Carla Bardinelli de Carvalho,
respectivamente, para 19 (dezenove) anos, 2 (dois) meses e 12
(doze) dias de reclusão, 4 (quatro) meses e 15 (quinze) dias de
detenção e 2.880 (dois mil, oitocentos e oitenta) dias-multa, no
valor unitário mínimo e 12 (doze) anos, 5 (cinco) meses e 10
(dez) dias de reclusão, 3 (três) meses de detenção e 1.865 (mil,
oitocentos e sessenta e cinco) dias-multa, no valor unitário
mínimo, mantido, na mais, o v. acórdão hostilizado.
Comunique-se incontinenti ” (e-DOC 2, p.144 – 146)

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Voto - MIN. GILMAR MENDES

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HC 208567 AGR / SP

Dos trechos transcritos acima, não verifico teratologia ou ilegalidade


na dosimetria das penas, tendo em vista ter sido individualmente
responsabilizado e condenado, de modo que não se justifica a concessão
da ordem. Foram consideradas as condições em que os crimes foram
praticados e as particularidades do agente para majorar as pena-base, nos
termos da legislação penal vigente.
O fato de a defesa não apreciar a fundamentação apresentada na
decisão, não significa que esteja em desacordo com o ordenamento
vigente ou que seja genérica. Na verdade, ao se analisar o trecho acima
colacionado, verifica-se que a decisão se prestou a esclarecer a aplicação
das frações acima do patamar mínimo de forma clara e objetiva, mesmo
que não esteja em congruência com as expectativas defensivas.

Ante o exposto, nego provimento ao agravo regimental.

É o voto.

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Extrato de Ata - 21/02/2022

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SEGUNDA TURMA
EXTRATO DE ATA

AG.REG. NO HABEAS CORPUS 208.567


PROCED. : SÃO PAULO
RELATOR : MIN. GILMAR MENDES
AGTE.(S) : CLAUDINEI FERREIRA DE CARVALHO
ADV.(A/S) : AKIRA CHIARELLI KOBAYASHI (330377/SP)
AGDO.(A/S) : SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

Decisão: A Turma, por unanimidade, negou provimento ao agravo


regimental, nos termos do voto do Relator. Segunda Turma, Sessão
Virtual de 11.2.2022 a 18.2.2022.

Composição: Ministros Nunes Marques (Presidente), Gilmar


Mendes, Ricardo Lewandowski, Edson Fachin e André Mendonça.

Hannah Gevartosky
Secretária

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