Você está na página 1de 19

Supremo Tribunal Federal

Ementa e Acórdão

Inteiro Teor do Acórdão - Página 1 de 19

05/12/2022 PRIMEIRA TURMA

EXTRADIÇÃO 1.745 DISTRITO FEDERAL

RELATOR : MIN. ALEXANDRE DE MORAES


REQTE.(S) : GOVERNO DE PORTUGAL
EXTDO.(A/S) : JOSE PAULO BAPTISTA DE CASTRO SARAIVA
ADV.(A/S) : DANIEL SILVA DOS SANTOS - OAB/BA 34083

EMENTA: EXTRADIÇÃO EXECUTÓRIA. GOVERNO DE


PORTUGAL. PEDIDO INSTRUÍDO COM OS DOCUMENTOS
NECESSÁRIOS À SUA ANÁLISE. ATENDIMENTO AOS REQUISITOS
DA LEI DE MIGRAÇÃO (LEI 13.445/2017) E DO TRATADO BILATERAL
DE EXTRADIÇÃO VIGENTE ENTRE AS PARTES (DECRETO
7.935/2013). POSSIBILIDADE DE ENTREGA DO SÚDITO
ESTRANGEIRO AO ESTADO REQUERENTE. DUPLA TIPICIDADE
DOS CRIMES E VERIFICAÇÃO DOS DEMAIS REQUISITOS
AUTORIZADORES DA EXTRADIÇÃO. EXAME DE CONTROVÉRSIAS
ENVOLVENDO O MATERIAL PROBATÓRIO E EVENTUAL
NULIDADE DO PROCESSO PENAL CONDENATÓRIO.
IMPOSSIBILIDADE DE ANÁLISE ATRAVÉS DE PROCESSO DE
EXTRADIÇÃO. ADOÇÃO, NO BRASIL, DO SISTEMA BELGA OU DA
CONTENCIOSIDADE LIMITADA. PRECEDENTES. AUSÊNCIA DE
PRESCRIÇÃO DA PRETENSÃO EXECUTÓRIA DAS PENAS IMPOSTAS.
PEDIDO DEFERIDO, OBSERVADO O DISPOSTO NOS ARTS. 95 E 96 DA
LEI 13.445/2017.
1. O presente pedido extradicional encontra respaldo na CARTA
MAGNA, que, em seu art. 5º, LII, autoriza – como regra – a extradição de
estrangeiros, condição suportada pelo extraditando, que é que é cidadão
português. O requerimento veio instruído com os documentos
necessários à sua análise, tendo sido observados os requisitos da Lei de
Migração (Lei 13.445/17) e do Tratado de Extradição entre o Governo da
República Federativa do BRASIL e o Governo de PORTUGAL,
promulgado no Brasil pelo Decreto 7.935, de 19/2/2013.
2. Os fatos delituosos imputados ao extraditando correspondem, no
direito pátrio, aos seguintes crimes previstos no Código Penal Brasileiro:

Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001. O documento pode ser acessado pelo endereço
http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/autenticarDocumento.asp sob o código A320-CA9A-EA6B-2D0C e senha FC4D-C9E7-FDF4-C742
Supremo Tribunal Federal
Ementa e Acórdão

Inteiro Teor do Acórdão - Página 2 de 19

EXT 1745 / DF

estelionato (art. 171) e furto (art. 155). Observou-se, assim, o requisito da


dupla tipicidade, previsto no art. 82, II, da Lei 13.445/20117. Demais
requisitos que autorizam a extradição mostram-se igualmente
preenchidos.
3. O sistema belga ou de contenciosidade limitada, que rege o
processo de extradição passiva no BRASIL (art. 91, § 1º, da Lei de
Migração), não autoriza o exame e juízo, pelo SUPREMO TRIBUNAL
FEDERAL, de questões atinentes ao material probatório produzido na
instrução criminal pelo Estado Requerente. Precedentes.
4. No particular, à luz da legislação internacional e das normas
pátrias, o prazo prescricional da pretensão executória não foi alcançado.
5. PEDIDO EXTRADICIONAL DEFERIDO, ficando condicionada a
entrega do nacional português JOSÉ PAULO BAPTISTA DE CASTRO
SARAIVA ao GOVERNO DE PORTUGAL (i) à decisão discricionária do
Presidente da República; (ii) à formalização, pelo Estado Requerente, dos
compromissos previstos no art. 96 da Lei 13.445/17; e (iii) à conclusão dos
processos penais a que o extraditando eventualmente responde no
BRASIL ou ao cumprimento das respectivas penas, na forma do art. 95,
caput, da Lei 13.445/17.
AC ÓRDÃ O

Vistos, relatados e discutidos estes autos, os Ministros do SUPREMO


TRIBUNAL FEDERAL, em Sessão Virtual da Primeira Turma, sob a
Presidência da Senhora Ministra CÁRMEN LÚCIA, em conformidade
com a ata de julgamento, por unanimidade, acordam em deferir o pedido
de extradição, mantida a prisão cautelar de José Paulo Baptista de Castro
Saraiva, ficando condicionada a sua entrega: (i) ao juízo discricionário do
Presidente da República; (ii) à formalização, pelo Estado Requerente, dos
compromissos previstos no art. 96 da Lei 13.445/2017 e (iii) à conclusão
dos processos penais a que o extraditando responde no BRASIL ou ao
cumprimento das respectivas penas, na forma do art. 95, caput, da Lei
13.445/2017, nos termos do voto do Relator.
Brasília, 5 de dezembro de 2022.

Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001. O documento pode ser acessado pelo endereço
http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/autenticarDocumento.asp sob o código A320-CA9A-EA6B-2D0C e senha FC4D-C9E7-FDF4-C742
Supremo Tribunal Federal
Ementa e Acórdão

Inteiro Teor do Acórdão - Página 3 de 19

EXT 1745 / DF

Ministro ALEXANDRE DE MORAES


Relator
Documento assinado digitalmente

Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001. O documento pode ser acessado pelo endereço
http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/autenticarDocumento.asp sob o código A320-CA9A-EA6B-2D0C e senha FC4D-C9E7-FDF4-C742
Supremo Tribunal Federal
Relatório

Inteiro Teor do Acórdão - Página 4 de 19

05/12/2022 PRIMEIRA TURMA

EXTRADIÇÃO 1.745 DISTRITO FEDERAL

RELATOR : MIN. ALEXANDRE DE MORAES


REQTE.(S) : GOVERNO DE PORTUGAL
EXTDO.(A/S) : JOSE PAULO BAPTISTA DE CASTRO SARAIVA
ADV.(A/S) : DANIEL SILVA DOS SANTOS - OAB/BA 34083

RE LAT Ó RI O

O SENHOR MINISTRO ALEXANDRE DE MORAES (RELATOR):


Trata-se de pedido de extradição, apresentado pelo GOVERNO DE
PORTUGAL, com base na Convenção de Extradição entre os Estados
Membros da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, promulgada
pelo Decreto 7935/2013, em desfavor do nacional português JOSÉ PAULO
BAPTISTA DE CASTRO SARAIVA, a fim de submetê-lo, naquele país, ao
cumprimento de pena de 4 (quatro) anos de prisão, pela prática do crime
de apropriação ilegítima de coisa achada (art. 209º nº 2 do Código Penal
Português), falsificação de documento (art. 256º, nº 1, alínea a, e 3 do
Código Penal Português), burla qualificada (art. 217º e 218º nº 1 do
Código Penal Português) e furto simples (art. 203º, nº 1, do Código Penal
Português), cujo acórdão condenatório transitou em julgado em
28/6/2021.
O presente requerimento veio regularmente encaminhado pelo
Ministro de Estado da Justiça, via Ofício
2848/2022/EXT/CETPC/DRCI/SENAJUS/MJ, e instruído com cópia de
documentos recebidos por via diplomática (doc. 13).
Os fatos imputados ao extraditando estão descritos nos autos da
seguinte forma (doc. 13, fls. 41/42):

“O arguido é motorista de táxi no Porto, Portugal. A


ofendida Júlia Maria Teixeira Queirós viveu com o arguido,
como se fossem marido e mulher, em Ermesinde.
No dia 6 de Dezembro de 2003, no Porto, o ofendido Dr.

Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001. O documento pode ser acessado pelo endereço
http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/autenticarDocumento.asp sob o código 7E99-F19A-4281-1C75 e senha 19A6-AAA7-373D-8044
Supremo Tribunal Federal
Relatório

Inteiro Teor do Acórdão - Página 5 de 19

EXT 1745 / DF

Pedro Miguel Branquinho Ferreira Dias entrou no táxi referido


acima, conduzido pelo arguido. Quando saiu deixou ali
esquecida a sua carteira no valor de 50 € e outros documentos,
incluindo cheques. O arguido apoderou-se dos cheques e da
carteira, fazendo-os seus.
Entre os dias 6 e 9 de dezembro de 2003, em local não
apurado, o arguido preencheu o cheque nº 958346008,
apondolhe a data de 4/12/03, a quantia de 5.000 € e a assinatura
"Pedro Ferreira Dias", que apôs pelo seu próprio punho e
também preencheu o cheque nº 5650074067, apondo-lhe a data
de 4/12/2003, a quantia de 3.000 € e a assinatura de "Pedro
Ferreira Dias", que apôs pelo seu próprio punho.
No dia 9 de Dezembro de 2003, o arguido entregou à
ofendida Júlia Queirós referidos cheques. Júlia Queirós, crendo
que eram cheques do arguido, depositou ambos os cheques na
sua conta nº 9-3273129.000.001, do Banco BPI, causando
prejuízo correspondente, ao ofendido. No dia 12 de Dezembro
de 2003, o arguido e Júlia Queirós foram aquele Banco, na
Boavista, Porto, com o propósito de levantar dinheiro para de
pagar a renda da casa bem como outras despesas domésticas.
Júlia Queirós, acreditando, levantou a quantia de 8.000,00 € em
numerário que entregou ao arguido. Sucede que o arguido, ao
invés, apoderou-se desse dinheiro, fazendo-o seu.
No dia 12 de dezembro de 2003, o arguido retirou todos
os seus objectos pessoais do interior da casa da Júlia Queirós
bem como outros bens no valor de €250,00, fazendo sua esta
quantia e ausentou-se para parte incerta.
O arguido agiu com a intenção de fazer sua a carteira e os
dois cheques que não lhe pertenciam e a que não tinha direito.
Agiu com a intenção de preencher cheques como se fosse seu
titular, e prejudicar terceiros, causando um prejuízo
corresponde ao valor titulado nos cheques, e conseguir para si
um beneficio correspondente, bem sabendo que iludia a
confiança normalmente depositada nesses títulos de crédito
como meio de pagamento e que o benefício que obtinha era
ilegitimo.

Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001. O documento pode ser acessado pelo endereço
http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/autenticarDocumento.asp sob o código 7E99-F19A-4281-1C75 e senha 19A6-AAA7-373D-8044
Supremo Tribunal Federal
Relatório

Inteiro Teor do Acórdão - Página 6 de 19

EXT 1745 / DF

Teve ainda a intenção de fazer seus os diversos bens,


designadamente também os pertencentes à Júlia Maria, que
também sabia não lhe pertencerem.
Agiu livre, voluntária e conscientemente, bem sabendo
que as suas condutas eram proibidas e punidas por lei.”

Em 28/7/2022, decretei a prisão preventiva do extraditando,


efetivada no dia 17/8/2022.
Em 25/8/2022, determinei a realização do interrogatório do
extraditando por um dos Juízes Federais da Seção Judiciária do Estado da
Bahia, cuja audiência ocorreu em 8/9/2022.
Na sequência, o extraditando apresentou defesa escrita (doc. 23, fl.
169, e doc. 24, fls. 1/28). Em suas razões, aduz que trabalhava como taxista
no período noturno e madrugada, tendo conhecido uma prostituta em Porto, a
mesma que lhe acusa de ter cometido os crimes apontados na denúncia, com
quem manteve relações sexuais durante duas semanas, porém, na denúncia, ela
aparece como sua companheira e convivente em união estável, fato que é
notoriamente inverídico. Enfatiza que somente tomou conhecimento da
existência de procedimento judicial contra si, no momento que foi intimado
através do oficial de justiça em Salvador, no dia 27 de maio de 2019. Apesar da
sentença ter sido proferida em 13 de maio de 2005, sua entrada no Brasil se deu
em 03 de outubro de 2005, o que permite afirmar que ele ainda se encontrava em
Portugal, porém, nunca foi citado naquele processo. Adiante, acentua que não
foi citado, [e] sua defesa dativa apresentou contestação em 1 (uma) lauda, ‘na
qual se limitou a oferecer o merecimento dos autos e demais circunstâncias
atenuantes e dirimentes’, não houve instrução processual, nem seu defensor
produziu provas em seu favor. Inquestionável, a precariedade na condução de sua
defesa técnica pode ser comparada a sua total inexistência. Assevera que deve
ser-lhe assegurado, nos termos do art. 8º do Decreto 7.935, de 19 de
fevereiro de 2013, o direito de exercer sua defesa plena, baseada no direito
brasileiro, respeitando os direitos e garantias elencados na Constituição Federal e
demais legislações vigentes. Ressalta que, na hipótese, há de ser reconhecida
a prescrição intercorrente, uma vez que a pena concreta imposta foi de 04
(quatro) anos de prisão, sendo que, entre a prolação da sentença e o trânsito em

Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001. O documento pode ser acessado pelo endereço
http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/autenticarDocumento.asp sob o código 7E99-F19A-4281-1C75 e senha 19A6-AAA7-373D-8044
Supremo Tribunal Federal
Relatório

Inteiro Teor do Acórdão - Página 7 de 19

EXT 1745 / DF

julgado ocorreu um lapso temporal de mais de 16 (dezesseis) anos. Defende a


fragilidade das provas colacionadas naquele processo, o que necessitaria da
realização de acareação entre os envolvidos, porém, tal ato judicial não ocorreu. E
no que diz respeito à acusação do crime de falsificação, inexiste menção quanto
à realização de perícia grafotécnica, que permita afirmar que a assinatura nos
cheques tenham sido apostas pelo Extraditando ou Júlia Maria, fato que
possibilita analisar escritas e semelhanças entre as letras analisadas, assim como
comprovar se as assinaturas constantes nos títulos não teriam sido apostas pelo
próprio emissor. Destaca que possui residência fixa, onde reside com sua família
desde quando contraiu casamento, ou seja, há mais de 15 (quinze) anos, além de
ser titular de empresa formalizada, exercer trabalho lícito e nunca ter cometido
qualquer crime no território brasileiro. Além disso, sua condição administrativa
migratória se encontra plenamente regular. Sublinha que o Estado
Requerente, até o momento, não assumiu os compromissos expressamente
previstos no artigo 96, da Lei nº 13.445/2017 e no Tratado dos Países de Língua
Portuguesa, o que impede a sua efetivação.
À vista do exposto, requer:
a) Liminarmente, após ouvir o Ministério Público, seja concedida
autorização para que o Extraditando responda ao processo em liberdade; b) No
mérito, o indeferimento do pedido de extradição, em razão da prescrição
intercorrente alcançada entre a prolação da sentença e seu trânsito em julgado; c)
O indeferimento do pedido de extradição, em razão da guarda e dependência
financeira e de cuidados de filho menor e esposa nascidos no Brasil, de modo a
proteger a família nacional; d) O indeferimento do pedido de extradição, em razão
das graves violações aos princípios do contraditório e da ampla defesa observadas
no processo que deu origem ao pedido de extradição, bem como a insuficiência de
lastro probatório capaz de ensejar na sua condenação; e) Ultrapassadas as
questões acima, o que não se espera, o indeferimento do pedido de extradição,
visto que, segundo a lei penal brasileira, a pena imposta em 04 (quatro) anos tem
seu cumprimento iniciado no regime aberto, que somado às suas condições
particulares, possibilita sua permanência e seu cumprimento no sistema prisional
brasileiro; f) Seja exigida do Estado Requerente a formalização de todos os
compromissos previstos na Lei nº 6.815/80 e no Tratado dos Países de Língua

Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001. O documento pode ser acessado pelo endereço
http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/autenticarDocumento.asp sob o código 7E99-F19A-4281-1C75 e senha 19A6-AAA7-373D-8044
Supremo Tribunal Federal
Relatório

Inteiro Teor do Acórdão - Página 8 de 19

EXT 1745 / DF

Portuguesa, como condição para o cumprimento da extradição.


A Procuradoria-Geral da República, a seu turno, apresentou parecer
pelo deferimento do pedido de extradição, resumindo suas razões na
seguinte ementa:
“DIREITO INTERNACIONAL. PEDIDO DE
EXTRADIÇÃO EXECUTÓRIA. EXISTÊNCIA DE FAMÍLIA NO
BRASIL - CIRCUNSTÂNCIA QUE NÃO IMPEDE A
EXTRADIÇÃO. PREENCHIMENTO DOS REQUISITOS
LEGAIS. DEFERIMENTO. PARECER PELO DEFERIMENTO
DO PEDIDO DE EXTRADIÇÃO.”

É o relatório.

Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001. O documento pode ser acessado pelo endereço
http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/autenticarDocumento.asp sob o código 7E99-F19A-4281-1C75 e senha 19A6-AAA7-373D-8044
Supremo Tribunal Federal
Voto - MIN. ALEXANDRE DE MORAES

Inteiro Teor do Acórdão - Página 9 de 19

05/12/2022 PRIMEIRA TURMA

EXTRADIÇÃO 1.745 DISTRITO FEDERAL

VOTO

O SENHOR MINISTRO ALEXANDRE DE MORAES (RELATOR):


Trata-se de pedido de extradição executória apresentado pelo
GOVERNO DE PORTUGAL em desfavor de JOSÉ PAULO BAPTISTA DE
CASTRO SARAIVA, a fim de submetê-lo, naquele país, ao cumprimento
de pena de 4 (quatro) anos de prisão, pela prática do crime de
apropriação ilegítima de coisa achada, falsificação de documento, burla
qualificada e furto simples.
Inicialmente, quanto ao pedido de revogação da prisão, para que o
extraditando responda ao pleito extradicional em liberdade, ao
argumento de que há o preenchimento dos requisitos previstos no art. 86
da Lei 13.445/2017, permitindo, assim, a substituição da custódia por
medidas cautelares diversas da prisão, ressalto que tal pretensão não
merece prosperar.
Conforme já declinei em outras oportunidades, esta SUPREMA
CORTE tem jurisprudência consolidada no sentido de que, nos processos
dessa natureza, a regra é a indispensabilidade da prisão cautelar do
extraditando para se viabilizar a execução da ordem extradicional,
garantindo-se, assim, a efetiva entrega do custodiado ao Estado
estrangeiro Requerente (Extradição 791, Rel. Min. CELSO DE MELLO;
Extradição 974, Rel. Min. RICARDO LEWANDOWSKI).
Somente em casos peculiares, portanto, a custódia cautelar tem sido
flexibilizada durante o trâmite do processo extradicional (PPE 760-
AgR/DF, Rel. Min. EDSON FACHIN, Primeira Turma, DJe de 23/6/2016).
Na presente hipótese, a tese defensiva pela substituição da custódia
por outras mediadas alternativas à prisão ampara-se nas alegações de que
o extraditando possui, no BRASIL, família, residência fixa e trabalho
lícito, não cometeu nenhum crime em solo pátrio e detém condição
migratória plenamente regular.

Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001. O documento pode ser acessado pelo endereço
http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/autenticarDocumento.asp sob o código 83A1-90B3-2121-A873 e senha 5FA1-CB47-8F1A-B9E6
Supremo Tribunal Federal
Voto - MIN. ALEXANDRE DE MORAES

Inteiro Teor do Acórdão - Página 10 de 19

EXT 1745 / DF

Entretanto, tais fatores, por si sós, não autorizam a aplicação do art.


86 da Lei 13.445/2017, assim redigido:

“Art. 86. O Supremo Tribunal Federal, ouvido o Ministério


Público, poderá autorizar prisão albergue ou domiciliar ou
determinar que o extraditando responda ao processo de
extradição em liberdade, com retenção do documento de
viagem ou outras medidas cautelares necessárias, até o
julgamento da extradição ou a entrega do extraditando, se
pertinente, considerando a situação administrativa migratória,
os antecedentes do extraditando e as circunstâncias do caso.”

A esse respeito, destaco pertinente trecho da decisão monocrática


proferida pelo eminente Min. LUIZ FUX no julgamento da Ext 1.596 (DJe
de 1º/6/2020):

“As alegações da defesa quanto aos sólidos vínculos do


extraditando com o Brasil (união estável, residência fixa e
exercício de atividade lícita) não constituem elementos aptos a
autorizar a revogação da prisão cautelar e a sua consequente
substituição por outra medida.
Na linha jurisprudencial deste Tribunal, a manutenção de
vínculos em solo brasileiro não impede a extradição (Súmula
421 do STF), tampouco justifica a revogação de prisão
preventiva que tem como finalidade resguardar a entrega do
extraditando ao Estado requerente.
Confira-se, in verbis:
‘O fato de as condições pessoais do extraditando não
evidenciarem periculosidade e o fato de viver em união estável
com brasileira não impedem sua retirada compulsória do
território nacional, nos termos da Súmula 421/STF, tampouco
justifica a flexibilização da prisão preventiva, questão já
exaustivamente debatida nestes autos.’ (Ext 1.531, Rel.
Min. Roberto Barroso, Primeira Turma, julgamento em
23/10/2018)”(grifos no original).

Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001. O documento pode ser acessado pelo endereço
http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/autenticarDocumento.asp sob o código 83A1-90B3-2121-A873 e senha 5FA1-CB47-8F1A-B9E6
Supremo Tribunal Federal
Voto - MIN. ALEXANDRE DE MORAES

Inteiro Teor do Acórdão - Página 11 de 19

EXT 1745 / DF

Assim, considerando que (a) a prisão cautelar é requisito essencial ao


trâmite do pedido de extradição e destina-se para assegurar a execução
da ordem extradicional; e (b) não incidem, por ora, quaisquer das
hipóteses excepcionais que autorizem a soltura do extraditando neste
momento processual, não há se falar na substituição da cautelar imposta
por outras medidas alternativas.
Passo à análise do mérito.
Hipótese constitucional presente. O pleito extradicional encontra
respaldo na CARTA MAGNA, que, em seu art. 5º, LII, autoriza, como
regra, a extradição de estrangeiros, condição suportada pelo
extraditando, cidadão português.

Atendimento dos requisitos formais legais. Estando presente uma


das hipóteses constitucionais que autoriza a extradição, compete a esta
CORTE SUPREMA verificar se o Estado Requerente observou as
exigências legais estabelecidas na nova Lei de Migração (Lei 13.445, de 24
de maio de 2017) e na Convenção de Extradição entre os Estados
Membros da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, promulgada
pelo Decreto 7935/2013. A resposta é afirmativa.
O Governo Requerente indicou todos os fatos subjacentes à
extradição, tendo limitado o âmbito temático de sua pretensão, como se
exige para análise pelo SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL (Ext. 667-3, Rel.
Min. CELSO DE MELLO, Plenário, DJU de 29/9/1995, p. 31.998).
Com efeito, o pedido foi instruído com os documentos reclamados
pelo tratado vigente entre as partes. A documentação carreada aos autos
fornece indicações precisas sobre o local, a data, a natureza e as
circunstâncias dos fatos delituosos.

Reciprocidade. O pedido extradicional somente poderá ser atendido


quando o Estado estrangeiro Requerente se fundamentar em tratado
internacional ou quando, inexistente este, prometer reciprocidade de
tratamento ao BRASIL (Ext 1351/DF, Rel. Min. LUIZ FUX, Primeira
Turma, DJe de 28/10/2015; Ext 1206/República da Polônia, Rel. Min.

Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001. O documento pode ser acessado pelo endereço
http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/autenticarDocumento.asp sob o código 83A1-90B3-2121-A873 e senha 5FA1-CB47-8F1A-B9E6
Supremo Tribunal Federal
Voto - MIN. ALEXANDRE DE MORAES

Inteiro Teor do Acórdão - Página 12 de 19

EXT 1745 / DF

RICARDO LEWANDOWSKI, Primeira Turma, DJe de 3/11/2011; Ext


1120/República Federal da Alemanha, Rel. Min. MENEZES DIREITO,
Pleno, DJe de 6/2/2009; e Ext 1.122/Estado de Israel, Rel. Min. CARLOS
BRITTO, Pleno, DJe de 28/8/2009). No particular, já está consignado que o
pedido foi formulado com base na Convenção de Extradição entre os
Estados Membros da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa.

Competência do Estado estrangeiro. Os fatos ocorreram na cidade


de Porto, em PORTUGAL, entre os dias 6 e 12 de dezembro de 2003, o
que revela a competência do Estado Requerente para o processo e
julgamento.

Existência de título penal condenatório ou de mandado de prisão


emanados de juiz, tribunal ou autoridade competente do Estado
estrangeiro. Ora se debruça sobre pedido de extradição executória com
base no Tratado de Extradição firmado entre BRASIL e PORTUGAL.
Assim, faz-se necessária a remessa de cópia do édito condenatório
expedido por autoridade competente do Estado acreditante (art. 10 da
Convenção de Extradição entre os Estados Membros da Comunidade dos
Países de Língua Portuguesa). O Estado Requerente se desincumbiu deste
ônus (Doc. 13, fls. 40/41).

Dupla tipicidade e não sujeição do extraditando a julgamento, no


Estado Requerente, perante tribunal ou juízo de exceção. O deferimento
do pedido extradicional exige a presença do requisito da dupla tipicidade
(STF, Ext 1196/Reino da Espanha, Rel. Min. DIAS TOFFOLI, DJe de
26/9/2011), pois, como definido por esta CORTE SUPREMA, “revela-se
essencial, para a exata aferição do respeito ao postulado da dupla incriminação,
que os fatos atribuídos ao extraditando, não obstante a incoincidência de sua
designação formal, revistam-se de tipicidade penal e sejam igualmente puníveis
tanto pelo ordenamento jurídico doméstico quanto pelo sistema de direito positivo
do Estado Requerente” (Ext 669/EUA, Rel. Min. CELSO DE MELLO,
Plenário, DJ de 29/3/1996, p. 9.343).

Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001. O documento pode ser acessado pelo endereço
http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/autenticarDocumento.asp sob o código 83A1-90B3-2121-A873 e senha 5FA1-CB47-8F1A-B9E6
Supremo Tribunal Federal
Voto - MIN. ALEXANDRE DE MORAES

Inteiro Teor do Acórdão - Página 13 de 19

EXT 1745 / DF

Conforme noticia o Ministério Público de PORTUGAL, a instrução


criminal foi processada nos autos de nº 876/04.2TDPRT do Tribunal
Judicial da Comarca de Porto - Juízo Central Criminal do Porto - Juiz 15
(Doc. 13, fl.8), não havendo que se falar, pois, em Tribunal de exceção.
O requisito da dupla tipicidade também se encontra atendido. O
extraditando foi condenado no Estado Requerente pela prática dos
seguintes delitos, assim tipificados no Código Penal Português:
apropriação ilegítima de coisa achada (art. 209º nº 2); falsificação de
documento (art. 256º, nº 1, alínea a, e 3); burla qualificada (art. 217º e 218º
nº 1) e furto simples (art. 203º, nº 1).
Os fatos retratados nestes autos, conforme destacado pelo Ministério
Público Federal, são tipificados no Brasil, em tese, pelos arts. 155 (furto) e 171
(estelionato) do Código Penal pátrio.

Inocorrência de prescrição da pretensão punitiva ou executória. De


início, afasta-se a alegada tese defensiva pelo reconhecimento da
prescrição intercorrente da pretensão punitiva ao fundamento de que,
entre a data da sentença (13/5/2005) e o trânsito em julgado do acórdão
condenatório (28/6/2021), transcorreram-se mais de 16 (dezesseis) anos.
Isso porque, na hipótese, compete a esta SUPREMA CORTE examinar
questões referentes à prescrição da pretensão executória, tendo em conta
que o pleito extradicional ampara-se em título judicial já transitado em
julgado segundo as leis de PORTUGAL, de forma que é defeso ao Estado
requerido impor a observância de suas leis para desconstituí-lo sob o fundamento
de que, segundo elas, teria ocorrido a prescrição da pretensão punitiva (Ext
1413, Rel. Min. LUIZ FUX, Primeira Turma, DJe de 20/5/2016).
E, no que ora interessa, partindo-se da premissa de que a prescrição
da pretensão executória, no BRASIL, é calculada em função da pena em
concreto dos delitos (art. 110, CP), a Procuradoria-Geral da República
assim se manifestou (Doc. 29):

“Verifica-se, ainda, que o extraditando é procurado para


cumprir a pena única de 4 anos de prisão, imposta por acórdão
transitado em julgado em 28 de junho de 2021 e decorrente da

Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001. O documento pode ser acessado pelo endereço
http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/autenticarDocumento.asp sob o código 83A1-90B3-2121-A873 e senha 5FA1-CB47-8F1A-B9E6
Supremo Tribunal Federal
Voto - MIN. ALEXANDRE DE MORAES

Inteiro Teor do Acórdão - Página 14 de 19

EXT 1745 / DF

cumulação jurídica das seguintes condenações:


- 6 (seis) meses de prisão. pela prática de 1 crime de
apropriação ilegítima de coisa achada;
- 2 (dois) anos e 6 (seis) meses de prisão, pela prática de 1
crime de falsificação de documento;
- 3 (três) anos de prisão, pela prática de 1 crime de burla
qualificada; e
- 6 (seis) meses de prisão, pela prática de 1 crime de furto
simples
Neste contexto, verifica-se que os fatos não se encontram
prescritos segundo a lei brasileira, porquanto são previstos os
prazos prescricionais de 3 anos para as penas inferiores a 1 ano
e de 8 anos para as penas entre 2 e 4 anos (art. 109, IV e VI, c/c
art. 110 do Código Penal brasileiro). No caso, o acórdão
condenatório transitou em julgado em 28 de junho de 2021,
razão pela qual a prescrição somente ocorrerá a partir de 27 de
junho de 2024.”

De igual modo, pela legislação internacional, observar-se que a


prescrição da pretensão executória não se consumou, a teor do art. 122.º
Código Penal Português, in verbis:

“Artigo 122.º
Prazos de prescrição das penas
1 - As penas prescrevem nos prazos seguintes:
a) Vinte anos, se forem superiores a dez anos de prisão;
b) Quinze anos, se forem iguais ou superiores a cinco anos
de prisão;
c) Dez anos, se forem iguais ou superiores a dois anos de
prisão;
d) Quatro anos, nos casos restantes.
2 . O prazo de prescrição começa a correr no dia em que
transitar em julgado a decisão que tiver aplicado a pena.”

Do parecer ministerial transcrevo:

Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001. O documento pode ser acessado pelo endereço
http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/autenticarDocumento.asp sob o código 83A1-90B3-2121-A873 e senha 5FA1-CB47-8F1A-B9E6
Supremo Tribunal Federal
Voto - MIN. ALEXANDRE DE MORAES

Inteiro Teor do Acórdão - Página 15 de 19

EXT 1745 / DF

“constata-se que a pretensão executória não se encontra


prescrita segundo a legislação portuguesa, conforme destacado
pelo Estado requerente no pedido de extradição, in verbis (fl. 22
dos autos eletrônicos):

Nos termos do disposto no artigo 122.º, n.º 1 alínea c)


do Código Penal a pena de prisão não se mostra extinta,
por efeito de prescrição.”

Desse modo, transitado em julgado o acórdão condenatório em 28 de


junho de 2021, a prescrição das duas penas de 6 (seis) meses de prisão,
pelos delitos de apropriação ilegítima de coisa achada e de furto simples,
ocorrerá em 27/6/2025. No que concerne às penas de 2 (dois) anos e 6
(seis) meses de prisão, em razão do crime de falsificação de documento, e
de 3 (três) anos de prisão, decorrente do cometimento do crime de burla
qualificada, o termo final do indigitado prazo prescricional dar-se-á a
partir de 27/6/2031.
Em conclusão, não se operou a prescrição da pretensão executória na
presente hipótese.

Ausência de caráter político da infração atribuída ao extraditando.


Previsão pela legislação brasileira de pena superior a dois anos de
prisão. Não se verifica a configuração de nenhuma das circunstâncias
previstas nos incisos do art. 82 da Lei 13.445/2017 e no Tratado de
Extradição firmado entre BRASIL e PORTUGAL, cuja presença impediria
o deferimento da extradição solicitada.

Família brasileira. O fato de o extraditando ser casado com


brasileira não impede a sua retirada compulsória do território nacional,
consoante a sólida jurisprudência desta CORTE, cristalizada no
enunciado 421 de sua Súmula. Confira-se:

“Não impede a extradição o fato de o súdito estrangeiro


ser casado ou viver em união estável com pessoa de

Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001. O documento pode ser acessado pelo endereço
http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/autenticarDocumento.asp sob o código 83A1-90B3-2121-A873 e senha 5FA1-CB47-8F1A-B9E6
Supremo Tribunal Federal
Voto - MIN. ALEXANDRE DE MORAES

Inteiro Teor do Acórdão - Página 16 de 19

EXT 1745 / DF

nacionalidade brasileira, ainda que com esta possua filho


brasileiro. A Súmula 421/STF revela-se compatível com a
vigente Constituição da República, pois, em tema de
cooperação internacional na repressão a atos de criminalidade
comum, a existência de vínculos conjugais e/ou familiares com
pessoas de nacionalidade brasileira não se qualifica como causa
obstativa da extradição. Precedentes.” (Ext 839, Rel. Min.
CELSO DE MELLO, julgamento em 13/11/2003, Plenário, DJ de
19/3/2004.)

Quanto às alegações atinentes à ausência de citação, precariedade


da defesa técnica apresentada pelo defensor dativo, fragilidade das
provas, necessidade de acareação entre os envolvidos no fato delituoso
e de perícia grafotécnica para fins probatórios do crime de falsificação,
esses argumentos não podem, e nem deveriam, ser considerados óbices
ao deferimento do pedido formulado pelo Estado Requerente.
O sistema belga ou de contenciosidade limitada, que rege o
processo de extradição passiva no BRASIL (art. 91, § 1º, da Lei de
Migração), não autoriza o exame e juízo, pelo SUPREMO TRIBUNAL
FEDERAL, de questões atinentes ao material probatório produzido na
instrução criminal pelo Estado Requerente (Ext 917, Rel. Min. CELSO DE
MELLO, Plenário, DJ de 11/11/2005; Ext 986, Rel. Min. EROS GRAU,
Plenário, DJ de 5/10/2007; Ext 1.031, Rel. Min. MARCO AURÈLIO,
Plenário, DJe de 23/5/2008; Ext 1.149, Rel. Min. JOAQUIM BARBOSA,
Plenário, DJe de 5/2/2010).
Dessa forma, descabe a esta SUPREMA CORTE a análise do mérito
da acusação ou que versem sobre possíveis defeitos de ordem formal que
hajam, eventualmente, inquinado de nulidade o processo penal condenatório
instaurado no Estado requerente contra o extraditando (Ext 1.335, Rel. Min.
GILMAR MENDES, Segunda Turma, DJe de 14/10/2014).
Em reforço, confira-se o seguinte trecho do voto condutor da
Extradição 1.039 (Rel. Min. CELSO DE MELLO, DJe de 22/11/2007):

“O modelo que rege, no Brasil, a disciplina normativa da

Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001. O documento pode ser acessado pelo endereço
http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/autenticarDocumento.asp sob o código 83A1-90B3-2121-A873 e senha 5FA1-CB47-8F1A-B9E6
Supremo Tribunal Federal
Voto - MIN. ALEXANDRE DE MORAES

Inteiro Teor do Acórdão - Página 17 de 19

EXT 1745 / DF

extradição passiva - vinculado, quanto à sua matriz jurídica, ao


sistema misto ou belga - não autoriza que se renove, no âmbito
do processo extradicional o litígio penal que lhe deu origem,
nem que se promova o reexame ou rediscussão do mérito (RTJ
161/409-411 - RTJ 170/746-747).
O Supremo Tribunal Federal, ao proferir juízo de mera
delibação sobre a postulação extradicional, só excepcionalmente
analisa aspectos materiais concernentes à própria substância da
imputação penal, desde que esse exame se torne indispensável
à solução de eventual controvérsia concernente (a) à ocorrência
de prescrição penal, (b) à observância do princípio da dupla
tipicidade ou (c) à configuração eventualmente política, tanto
do delito imputado ao extraditando quanto das razões que
levaram uma soberania estrangeira a requerer a extradição de
determinada pessoa ao Governo brasileiro.
O ordenamento positivo brasileiro, dentre os diversos
sistemas extradicionais existentes no plano do direito
comparado, optou pelo modelo normativo que outorga, ao
Supremo Tribunal Federal, em tema de extradição passiva,
competência meramente delibatória que lhe permite simples
controle limitado sobre os fundamentos em que se apóia a
postulação deduzida por Estado estrangeiro.
Esse sistema de controle limitado - que enseja mera
verificação jurisdicional de pontos determinados referidos pela
própria legislação doméstica brasileira ou, quando existente,
pelo tratado bilateral específico -, além de não viabilizar a
possibilidade de qualquer juízo de revisão sobre os fatos
subjacentes ao pedido extradicional (como já precedentemente
enfatizado), restringe a atividade processual do Supremo
Tribunal Federal ao plano da mera delibação.”

Por fim, o art. 96 da Lei 13.445/2017 define os compromissos que o


Estado Requerente deve assumir para a efetiva entrega do extraditando
pelo BRASIL: a) não submeter o extraditando à prisão ou processo por
fato anterior ao pedido de extradição; b) detração do tempo que o
extraditando permaneceu preso para fins de extradição no BRASIL; c) não

Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001. O documento pode ser acessado pelo endereço
http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/autenticarDocumento.asp sob o código 83A1-90B3-2121-A873 e senha 5FA1-CB47-8F1A-B9E6
Supremo Tribunal Federal
Voto - MIN. ALEXANDRE DE MORAES

Inteiro Teor do Acórdão - Página 18 de 19

EXT 1745 / DF

aplicar penas vedadas pelo ordenamento constitucional brasileiro e


observar o tempo máximo de cumprimento de pena previsto no art. 75 do
Código Penal (trinta anos); d) não entregar o extraditando, sem
consentimento do BRASIL, a outro Estado que o reclame; e) não
considerar qualquer motivo político para agravar a pena e f) não
submeter o extraditando à tortura ou penas cruéis, desumanas ou
degradantes.

Diante do exposto, MANTENHO A PRISÃO CAUTELAR DE JOSÉ


PAULO BAPTISTA DE CASTRO SARAIVA e DEFIRO O PEDIDO DE
EXTRADIÇÃO, ficando condicionada a sua entrega: (i) ao juízo
discricionário do Presidente da República; (ii) à formalização, pelo Estado
Requerente, dos compromissos previstos no art. 96 da Lei 13.445/2017 e
(iii) à conclusão dos processos penais a que o extraditando responde no
BRASIL ou ao cumprimento das respectivas penas, na forma do art. 95,
caput , da Lei 13.445/2017.
É como voto.

10

Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001. O documento pode ser acessado pelo endereço
http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/autenticarDocumento.asp sob o código 83A1-90B3-2121-A873 e senha 5FA1-CB47-8F1A-B9E6
Supremo Tribunal Federal
Extrato de Ata - 05/12/2022

Inteiro Teor do Acórdão - Página 19 de 19

PRIMEIRA TURMA
EXTRATO DE ATA

EXTRADIÇÃO 1.745
PROCED. : DISTRITO FEDERAL
RELATOR : MIN. ALEXANDRE DE MORAES
REQTE.(S) : GOVERNO DE PORTUGAL
EXTDO.(A/S) : JOSE PAULO BAPTISTA DE CASTRO SARAIVA
ADV.(A/S) : DANIEL SILVA DOS SANTOS - OAB/BA 34083

Decisão: A Turma, por unanimidade, deferiu o pedido de


extradição, mantida a prisão cautelar de José Paulo Baptista de
Castro Saraiva, ficando condicionada a sua entrega: (i) ao juízo
discricionário do Presidente da República; (ii) à formalização,
pelo Estado Requerente, dos compromissos previstos no art. 96 da
Lei 13.445/2017 e (iii) à conclusão dos processos penais a que o
extraditando responde no BRASIL ou ao cumprimento das respectivas
penas, na forma do art. 95, caput, da Lei 13.445/2017, nos termos
do voto do Relator. Primeira Turma, Sessão Virtual de 25.11.2022 a
2.12.2022.

Composição: Ministros Cármen Lúcia (Presidente), Dias Toffoli,


Luiz Fux, Luís Roberto Barroso e Alexandre de Moraes.

Disponibilizou processos para esta Sessão o Ministro André


Mendonça, não tendo participado do julgamento desses feitos a
Ministra Cármen Lúcia.

Luiz Gustavo Silva Almeida


Secretário da Primeira Turma

Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001. O documento pode ser acessado pelo endereço
http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/autenticarDocumento.asp sob o código E276-251B-FA34-A318 e senha 3981-E2EC-B8C3-AB74

Você também pode gostar