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Supremo Tribunal Federal

Ementa e Acórdão

Inteiro Teor do Acórdão - Página 1 de 17

27/09/2021 SEGUNDA TURMA

AG.REG. NO HABEAS CORPUS 182.458 DISTRITO FEDERAL

RELATOR : MIN. EDSON FACHIN


REDATOR DO : MIN. GILMAR MENDES
ACÓRDÃO
AGTE.(S) : JONAS FELIX DOS SANTOS
ADV.(A/S) : LUIS HENRIQUE ALVES SOBREIRA MACHADO E
OUTRO(A/S)
AGDO.(A/S) : SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

Habeas Corpus. Direito penal e processual penal. Denúncia genérica.


Responsabilidade penal objetiva. Inépcia. Acusação não descreve, de
forma minimamente satisfatória, os elementos do tipo penal que imputa
ao paciente. Narrativa manifestamente precária no que diz respeito à
necessária individualização da conduta do paciente para que se possa
verificar sua autoria e, consequentemente, a devida subsunção de seu
comportamento ao mencionado tipo penal em termos objetivos e
subjetivos. Respeito ao contraditório e ao direito à comunicação prévia e
pormenorizada ao acusado da acusação formulada (art. 8.2.b, CADH).
Ordem concedida para trancar o processo penal.
AC ÓRDÃ O
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros do
Supremo Tribunal Federal, em Segunda Turma, sob a presidência do
Senhor Ministro Nunes Marques, na conformidade da ata de julgamento
e das notas taquigráficas, por empate na votação, dar provimento ao
agravo regimental e conceder a ordem de habeas corpus de modo a
trancar o processo diante da inépcia da denúncia em relação ao paciente
Jonas Felix dos Santos. Em seguida, em face da similaridade fática,
estendeu, de ofício, a ordem ao corréu Daniel Nunes da Silva, nos termos
do voto do Redator para o acórdão.
Brasília, Sessão Virtual de 17 a 24 de setembro de 2021.
Ministro GILMAR MENDES
Redator para o acórdão
Documento assinado digitalmente

Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001. O documento pode ser acessado pelo endereço
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Relatório

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27/09/2021 SEGUNDA TURMA

AG.REG. NO HABEAS CORPUS 182.458 DISTRITO FEDERAL

RELATOR : MIN. EDSON FACHIN


REDATOR DO : MIN. GILMAR MENDES
ACÓRDÃO
AGTE.(S) : JONAS FELIX DOS SANTOS
ADV.(A/S) : LUIS HENRIQUE ALVES SOBREIRA MACHADO E
OUTRO(A/S)
AGDO.(A/S) : SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

RE LAT Ó RI O

O SENHOR MINISTRO EDSON FACHIN (RELATOR): Trata-se de agravo


regimental (eDOC 48) interposto contra decisão que, forte na ausência de
flagrante ilegalidade ou teratologia a autorizar a concessão da ordem,
negou seguimento ao habeas corpus (eDOC 47).

Nas razões recursais, o agravante reitera integralmente os


argumentos da impetração, sustentando que: a) a denúncia apresentada é
inepta, porquanto não individualiza ou esclarece de modo
circunstanciado a conduta que teria sido praticada pelo paciente,
limitando-se a atribuir de modo indistinto a ele e aos demais sócios da
pessoa jurídica as condutas de suprimir e reduzir tributos federais e
contribuições sociais devidos pela sociedade empresária; b) a
possibilidade de se responsabilizarem solidariamente os sócios em razão
do porte reduzido da empresa, reconhecida pelo Superior Tribunal de
Justiça, ofende o princípio da isonomia, na medida em que tal
entendimento favorece os sócios integrantes de empreendimentos de
grande porte, em detrimento daqueles que se encontram a cargo dos de
pequeno porte; c) a exordial acusatória é desprovida de justa causa, uma
vez que os documentos dos autos não comprovam ter o paciente
praticado qualquer conduta criminosa ou concorrido para esta, não sendo
bastante para tanto o mero ato de se apensar procedimento
administrativo fiscal pouco elucidativo a esse respeito.

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Relatório

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HC 182458 AGR / DF

Ante o exposto, requer o provimento do presente agravo regimental,


com a concessão da ordem para que seja trancada a ação penal movida
em face do recorrente.

É o relatório.

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VOTO

O SENHOR MINISTRO EDSON FACHIN (RELATOR): Os argumentos


suscitados pelo recorrente são incapazes de infirmar a decisão unipessoal
combatida, que enfrentou os argumentos defensivos nos seguintes termos
(eDOC 47):

“Não obstante inexista óbice à admissibilidade de habeas


corpus substitutivo de recurso extraordinário (HC 157574
AgR/RJ, de minha relatoria, julgado em 23.8.2019), a impetração
não merece prosperar.
Com efeito, a jurisprudência da Corte é pacífica ao
asseverar que a rejeição da denúncia constitui medida
excepcional reservada às hipóteses em que “seja patente (a) a
atipicidade da conduta; (b) a ausência de indícios mínimos de autoria;
e (c) a presença de causa extintiva da punibilidade” (HC 124.711,
Relator(a): Min. TEORI ZAVASCKI, Segunda Turma, julgado
em 16.12.2014), a revelar evidente constrangimento ilegal
decorrente da deflagração da ação penal.
Em regra, contudo, incumbe às instâncias próprias a
avaliação da regularidade da peça acusatória e da existência de
lastro probatório mínimo.
Nessa medida, “cabe às instâncias ordinárias proceder ao
exame dos elementos probatórios colhidos sob o crivo do contraditório
e conferirem a definição jurídica adequada para os fatos que restaram
devidamente comprovados. Não convém, portanto, antecipar-se ao
pronunciamento das instâncias ordinárias, sob pena de distorção do
modelo constitucional de competências” (HC 116680, Relator(a):
Min. TEORI ZAVASCKI, Segunda Turma, julgado em
18.12.2013).
No caso dos autos, a denúncia contra o ora paciente foi
recebida em primeira instância (eDOC 6, pp. 17-21). Após o
oferecimento de resposta à acusação, assim se pronunciou o

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HC 182458 AGR / DF

Juízo de origem sobre os argumentos do paciente (eDOC 34, pp.


37-38):

No caso em questão, no curso do procedimento


fiscal, tentou-se intimar a empresa DANLUZ INDÚSTRIA
COMÉRCIO E SERVIÇOS LTDA no endereço de cadastro
da Secretaria da Receita Federal do Brasil e no endereço da
última alteração contratual registrada na Junta Comercial
do DF, sem êxito. Assim também, tentou-se intimar a
empresa contribuinte no endereço dos seus
representantes, ora denunciados. DANIEL NUNES DA
SILVA não foi encontrado por estar ausente. JONAS FÉLIX
DOS SANTOS foi intimado em 06/08/2012, mas não se
manifestou. Assim, não há que se falar em citação
editalícia nula já que é obrigação do contribuinte manter
atualizado seu endereço nas bases de dados da Receita
Federal e órgãos competentes (arts. 1150 e 1151 do CC cc.
Art. 32 da Lei nº 8934/94).
Ademais, a empresa encerrou suas atividades tendo
se dissolvido de forma irregular, o que enseja a
responsabilização, a priori, de seus representantes.
Analisar o papel que cada um dos representantes legais
desempenhava de fato na empresa, dependerá da
instrução criminal e produção de prova.
Em se tratando de crime societário e atento ao atual
entendimento do Supremo Tribunal Federal, verifico que a
exordial acusatória indica o momento da ação criminosa e
individualiza no tempo a responsabilidade dos sócios, o
que afasta eventual alegação de inépcia, pois “não se tolera
peça de acusação totalmente genérica, mas se admite denúncia
mais ou menos genérica, porque, em se tratando de delitos
societários, se faz extremamente difícil individualizar condutas
que são concebidas e quase sempre executadas a portas
fechadas”. Além da materialidade, o Ministério Público
Federal demonstrou a existência de indícios suficientes de
autoria, o que é suficiente para a instauração da ação

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HC 182458 AGR / DF

penal.

Como se nota, analisou-se, de modo suficientemente


pormenorizado e individualizado, a imputação deduzida pelo
Ministério Público, concluindo-se, ao final, pelo recebimento
da denúncia.
No caso em análise, a ausência de justa causa ou a inépcia
da denúncia não se afigura evidente, pois como bem ressaltado
na decisão acima transcrita, a exordial acusatória descreveu a
contento conduta que, em tese, enquadra-se no crime imputado
pelo órgão acusador.
Assim, diversamente do que aduz o impetrante, há
fundamentação mínima a sustentar a opinio juris ali deduzida,
ainda que dela possa discordar a defesa da paciente, não
havendo que se falar em inépcia ou ausência de justa causa.
Inviável, portanto, o acolhimento da tese de ausência de
requisitos legais para recebimento da denúncia.
Nesse sentido, merecem destaque os seguintes
fundamentos da manifestação do Ministério Público Federal
(eDOC 46, pp. 5-6):

9. Com relação à alegada inépcia da denúncia, a


arguição carece de fundamento e não merece prosperar.
10. No caso, a peça acusatória está em plena
consonância com o disposto no art. 41 do CPP ,
descrevendo (de forma clara) o fato criminoso e suas
circunstâncias, bem como procedendo à qualificação dos
acusados, possibilitando-lhes compreender as razões pelas
quais estão sendo processados, propiciando-lhes o
exercício (pleno) do direito de defesa. Neste sentido, INQ
nº 3621/MA, Relª. Min. Rosa Weber, Rel. p/ o acórdão Min.
Alexandre de Moraes, DJe de 23/6/2017, entre outros.
11. Conforme bem apontado no voto-condutor
proferido no aresto quo, “O Parquet destacou que a
empresa DANLUZ INDÚSTRIA COMÉRCIO E
SERVIÇOS LTDA., 'entregou DIPJ pela sistemática de

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Lucro Presumido, totalmente zerada, para o ano-


calendário de 2009. Nas declarações de Débitos e Créditos
Tributários Federais - DCTF que apresentou, não há
informação de valores devidos de IRPJ, CSLL, PIS e
Cofins. Por fim, importa informar que a movimentação
financeira foi de R$ 153.885.236,68, conforme dados do
DIMOF-crédito' ”, concluindo que “o Ministério Público,
na denúncia, indicou claramente que o paciente omitiu
informações às autoridades fazendárias ao prestar
declarações "zeradas" no ano-calendário de 2009, não
obstante a existência de movimentação financeira.” (fls.
1717/1718)
12. Vale lembrar que “(...) O STF pacificou o
entendimento no sentido de que “não se exigem, quando
do recebimento da denúncia, a cognição e a avaliação
exaustiva da prova ou a apreciação exauriente dos
argumentos das partes, bastando o exame da validade
formal da peça e a verificação da presença de indícios
suficientes de autoria e de materialidade” (HC 128.031,
Relª. Minª. Rosa Weber). (...)” (HC nº 174.316-AgR/MT,
Rel. Min. Roberto Barroso, DJe 11/10/2019).
13. Ademais, é cediço que nas hipóteses dos crimes
societários admitese que a individualização
pormenorizada das condutas dos acusados seja procedida
no curso da instrução criminal, nada obstando a
deflagração da persecução penal se presentes indícios
indicativos de autoria e materialidade delitivas, como no
caso em apreço. Neste sentido: HC nº 101.286/MG, Rel.
Min. Dias Toffoli, DJ 14/6/2011; HC nº 101.754/PE, Relª.
Min. Ellen Gracie, DJ de 08/6/2010; HC nº 85.636/PI, Rel.
Min. Carlos Velloso, DJ de 24/02/2006.
14. A conduta imputada ao paciente em princípio
encontra adequação no tipo descrito na denúncia (art. 1º,
inciso I, da Lei nº 8.137/90), sendo certo que maiores
questionamentos a este respeito transbordam os estreitos
limites de cognição do writ e devem ser remetidos à via

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própria da instrução criminal.


15. Em última análise, não há que se cogitar de
estancamento prematuro da ação penal, haja vista que tal
medida, de caráter excepcional, somente é viável nos
limites estreitos do writ quando evidenciadas de plano
"(a) a atipicidade da conduta; (b) a ausência de indícios
mínimos de autoria e materialidade delitivas; ou (c) a
presença de alguma causa extintiva da punibilidade"2 ,
circunstâncias inocorrentes na espécie.
16. No caso dos autos a justa causa para a persecução
penal ampara-se na presença de indícios suficientes de
autoria e materialidade delitivas, plenamente hábeis a
justificar a instauração e o prosseguimento da persecução
criminal. A este repeito a Suprema Corte já se manifestou
nos seguintes termos:
"(...) A justa causa é exigência legal para o
recebimento da denúncia, instauração e processamento da
ação penal, nos termos do artigo 395, III, do Código de
Processo Penal, e consubstancia-se pela somatória de três
componentes essenciais: (a) TIPICIDADE (adequação de
uma conduta fática a um tipo penal); (b) PUNIBILIDADE
(além de típica, a conduta precisa ser punível, ou seja, não
existir quaisquer das causas extintivas da punibilidade); e
(c) VIABILIDADE (existência de fundados indícios de
autoria). 3. Esses três componentes estão presentes na
denúncia ofertada pelo Ministério Público, que, nos
termos do artigo 41 do CPP, apontou a exposição do fato
criminoso, com todas as suas circunstâncias, a qualificação
do acusado e a classificação do crime. 4. Habeas corpus
denegado." (HC nº 129.678/SP, Rel. Min. Marco Aurélio,
Rel. p/ o acórdão Min. Alexandre de Moraes, DJe de
18/8/2017).

Nessa toada, ausente flagrante teratologia, é imprópria a


prematura valoração do quadro probatório a fim de obstar
interesse, ao que tudo indica legítimo, do Ministério Público em

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dar prosseguimento à persecutio criminis, pois é no desenrolar


da ação penal, mediante amplo contraditório, que a convicção
judicial, à luz das controvérsias processuais, é consolidada.
Partindo de tal premissa, em havendo o Tribunal de
origem, em exame mais aprofundado do caso, concluído pela
existência de elementos suficientes para a continuidade da ação
penal, não cabe a esta Corte desconstituir conclusão alhures
estabelecida, mormente na estreita via do habeas corpus, que,
como cediço, comporta limitadíssima dilação probatória.
Posto isso, com fulcro no art. 21, §1º, do RISTF, nego
seguimento ao habeas corpus.”

Com efeito, o agravante limita-se a reiterar os argumentos vertidos


na impetração, sem, contudo, enfrentar os fundamentos da decisão
agravada, qual sejam: a) a inexistência do constrangimento ilegal
sustentado, haja vista que a denúncia descreve de maneira satisfatória o
suposto delito atribuído ao paciente, atendendo aos requisitos do art. 41
do CPP; b) a impossibilidade de rever, em sede de habeas corpus, as
premissas fáticas que fundamentam a opinio delicti manifestada pela
acusação.

Desse modo, a parte recorrente não se desincumbiu do ônus de


impugnar especificamente os fundamentos da decisão agravada, não
preenchendo, pois, o requisito de admissibilidade recursal previsto no
art. 317, § 1º, do RISTF.

Nesse sentido, a pacífica jurisprudência do Supremo Tribunal


Federal:

AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ORDINÁRIO


EM HABEAS CORPUS. AUSÊNCIA DE IMPUGNAÇÃO
DOS FUNDAMENTOS DA DECISÃO AGRAVADA.
INCIDÊNCIA DO ART. 317, § 1º, DO RISTF. AGRAVO
REGIMENTAL A QUE SE NEGA PROVIMENTO.
I O agravante não refutou os fundamentos da decisão

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agravada, o que atrai a incidência do art. 317, § 1º, do


Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal RISTF.
Precedentes.
II Agravo regimental a que se nega provimento. (RHC
175.256 AgR, Rel. Min. RICARDO LEWANDOWSKI, Segunda
Turma, DJe 9.12.2019)

Agravo regimental no habeas corpus. 2. Agravo


que impugna apenas um dos fundamentos da decisão
agravada. Impossibilidade. 3. Agravo não conhecido. (HC
177.263 AgR, Rel. Min. GILMAR MENDES, Segunda Turma,
DJe 18.12.2019 grifos no original)

Diante do exposto, nego provimento ao agravo regimental.

É como voto.

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VOTO

O SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES: Trata-se de agravo


regimental (eDOC 48) interposto contra decisão monocrática do Relator
que negou seguimento ao habeas corpus (eDOC 47).
Conforme relatado, nas razões recursais, o agravante reitera
integralmente os argumentos da impetração, sustentando que: a) a
denúncia apresentada é inepta, porquanto não individualiza ou esclarece
de modo circunstanciado a conduta que teria sido praticada pelo
paciente, limitando-se a atribuir de modo indistinto a ele e aos demais
sócios da pessoa jurídica as condutas de suprimir e reduzir tributos
federais e contribuições sociais devidos pela sociedade empresária; b) a
possibilidade de se responsabilizarem solidariamente os sócios em razão
do porte reduzido da empresa, reconhecida pelo Superior Tribunal de
Justiça, ofende o princípio da isonomia, na medida em que tal
entendimento favorece os sócios integrantes de empreendimentos de
grande porte, em detrimento daqueles que se encontram a cargo dos de
pequeno porte; c) a exordial acusatória é desprovida de justa causa, uma
vez que os documentos dos autos não comprovam ter o paciente
praticado qualquer conduta criminosa ou concorrido para esta, não sendo
bastante para tanto o mero ato de se apensar procedimento
administrativo fiscal pouco elucidativo a esse respeito.
Destaca-se que no Superior Tribunal de Justiça a ordem foi denegada
por maioria, vencidos os Ministros Sebastião Reis Júnior e Rogerio

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Voto Vogal

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Schietti Cruz, que davam provimento ao recurso em habeas corpus para


reconhecer a inépcia da denúncia.

Ao analisar os elementos juntados aos autos, verifica-se que a


denúncia não delimita adequadamente a conduta criminosa imputada e
seus elementos fundamentais, findando por caracterizar narrativa
genérica, que presume o envolvimento do imputado exclusivamente em
razão de sua condição de administrador da sociedade empresária (eDoc
3, p. 12-16).
Resta manifesto, portanto, que a exordial acusatória não descreve,
de forma minimamente satisfatória, os elementos do tipo penal que
imputa ao paciente. Trata-se de uma narrativa manifestamente precária
no que diz respeito à necessária individualização da conduta do paciente
para que se possa verificar sua autoria e, consequentemente, a devida
subsunção de seu comportamento ao mencionado tipo penal. Sobretudo
no que concerne à precisa descrição da dimensão subjetiva do tipo em
comento, ou seja, a consciência e a vontade deliberada – dolo –, a
denúncia revela-se claramente insuficiente.
Como se pode observar, os argumentos aportados na denúncia para
justificar a imputação do crime se concentram na posição do paciente de
sócio-administrador da empresa. Não havendo uma demonstração a
contento nem do vínculo causal (tipo objetivo) nem do liame subjetivo
entre autor e fato, como se viu, estamos diante de um verdadeiro caso
de responsabilidade objetiva. Nessa linha, importante destacar que a
responsabilidade objetiva na seara penal é vedada no ordenamento
jurídico pátrio. A responsabilidade objetiva é inconstitucional, e não
existe espaço para tal modalidade de intervenção criminal no Estado
Democrático de Direito.
Assim, a doutrina acertada de Nilo Batista: “Não cabe, em direito
penal, uma responsabilidade objetiva derivada tão-só de uma
associação causal entre a conduta e um resultado de lesão ou perigo para
um bem jurídico”. (BATISTA, Nilo. Introdução crítica ao Direito Penal
Brasileiro. 2007. p. 104)

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Voto Vogal

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Na mesma direção, o entendimento jurisprudencial firmado por esta


Corte Constitucional:

“PENAL E PROCESSUAL PENAL. AÇÃO PENAL. CRIMES


AMBIENTAIS E DE FALSIDADE IDEOLÓGICA. DEPUTADO
FEDERAL. 1. CRIME PREVISTO NO ART. 46 DA LEI
9.605/1998. EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE. PRESCRIÇÃO.
OCORRÊNCIA. CAUSA INTERRUPTIVA DA PRESCRIÇÃO
PELO RECEBIMENTO DA DENÚNCIA. 2. CRIME DE
FALSIDADE IDEOLÓGICA (ART. 299 DO CP).
MATERIALIDADE DELITIVA. COMPROVADA. AUTORIA
DELITIVA. NÃO DEMONSTRADA. TEORIA DO DOMÍNIO
DO FATO. INAPLICABILIDADE. CARGO DE DIREÇÃO
OCUPADO É INSUFICIENTE PARA, UNICAMENTE,
COMPROVAR A AUTORIA DELITIVA. RESPONSABILIDADE
QUE NÃO PODE SER PRESUMIDA. VEDAÇÃO DA
RESPONSABILIDADE PENAL OBJETIVA. AUSÊNCIA DE
SUBSTRATO PROBATÓRIO. PRECEDENTES. 3. CRIME DO
ART. 69 DA LEI 9.605/1998. AUSÊNCIA DE PROVA DO RÉU
TER CONCORRIDO PARA A INFRAÇÃO
PENAL.ABSOLVIÇÃO. 1. Extinção da punibilidade pela
prescrição da pretensão punitiva quanto ao crime descrito no
art. 46 da lei 9.605/1998, tendo em vista que a causa interruptiva
da prescrição ocorreu com o recebimento da denúncia, e desde
então, não incidiram outras causas interruptivas ou
suspensivas. 2. A teoria do domínio do fato não tem lugar para
colmatar a falta de substrato probatório da autoria delitiva.
Precedentes AP 975/AL e AP 898/SC. 3. No crime de falsidade
ideológica, a conduta comissiva do tipo penal imputado não
pode ser presumida, unicamente, pelo cargo de direção
ocupado na época dos fatos, pois a contrario sensu estar-se-ia
autorizar a aplicação da vedada responsabilidade penal
objetiva. 4. O quadro processual revela a insubsistência de
prova de manobra ou de conduta precedente ou posterior do
denunciado, que, na condição de diretor geral, causasse óbices

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HC 182458 AGR / DF

ou dificuldades na atuação dos agentes responsáveis pela


fiscalização no trato de questões ambientais. 5. Absolvição por
ausência de provas de que o réu tenha concorrido para a prática
dos crimes previstos nos arts. 299 do CP e 69 da Lei 9.605/1998,
por força do art. 386, V, do CPP”. (AP 987, Rel. Min. Edson
Fachin, Segunda Turma, DJe 25.9.2018)

Trata-se, claramente, de uma denúncia inepta, pois insuficiente e


precária na descrição dos fatos e das elementares do tipo penal,
desconsiderando as bases dogmáticas do conceito analítico de crime. Ao
assim fazê-lo, inviabiliza o exercício da ampla defesa e do contraditório
por completo.
Dessa maneira, determinou-se no Supremo Tribunal Federal:

"Habeas Corpus. Penal. Processo penal tributário.


Denúncia genérica. Responsabilidade penal objetiva. Inépcia.
Nos crimes contra a ordem tributária a ação penal é pública.
Quando se trata de crime societário, a denúncia não pode ser
genérica. Ela deve estabelecer o vínculo do administrador ao
ato ilícito que lhe está sendo imputado. É necessário que
descreva, de forma direta e objetiva, a ação ou omissão da
paciente. Do contrário, ofende os requisitos do Código de
Processo Penal, art. 41 e os Tratados Internacionais sobre o
tema. Igualmente, os princípios constitucionais da ampla
defesa e do contraditório. Denúncia que imputa co-
responsabilidade e não descreve a responsabilidade de cada
agente, é inepta. O princípio da responsabilidade penal
adotado pelo sistema jurídico brasileiro é o pessoal
(subjetivo). A autorização pretoriana de denúncia genérica para
os crimes de autoria coletiva não pode servir de escudo retórico
para a não descrição mínima da participação de cada agente na
conduta delitiva. Uma coisa é a desnecessidade de
pormenorizar. Outra, é a ausência absoluta de vínculo do fato
descrito com a pessoa do denunciado. Habeas deferido". (STF,
HC 80.549/SP, rel. Min. Nelson Jobim, j. 20.3.2001)

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Como exposto, no âmbito do Superior Tribunal de Justiça, em seus


votos divergentes, afirmaram os eminentes Ministros Sebastião Reis
Júnior e Rogerio Schietti Cruz:

“Sr. Presidente, vou ficar vencido. Em várias


oportunidades anteriores, já me manifestei aqui contrário ao
reconhecimento da responsabilidade objetiva do administrador
de uma empresa em casos como o presente. Não vejo porque,
mesmo se tratando de empresa com quadro social enxuto, não
ser necessário se indicar já na denúncia qual a participação
direta do denunciado com o ilícito em apuração.
Se é certo que a empresa aqui tem apenas dois sócios, é
certo também que não é uma empresa pequena (chegou a ter,
quando do início das investigações, mais de 1000 funcionários
como dito pelo advogado da Tribuna), o que, ao meu ver, indica
que não necessariamente ambos os sócios tenham
conhecimento e participação em todos os atos de gestão.” (eDoc
42, p. 10)

“(...) a denúncia peca ao omitir a narrativa individualizada


das condutas, não, evidentemente, com a minudência que se
espera normalmente d um crime qualquer. Sabemos que crimes
d natureza econômica e fiscal apresentam uma dificuldade
maior quanto à individualização da conduta e é por isso que a
jurisprudência costuma ser mais tolerante com descrições
genéricas. Contudo, há um mínimo de necessidade de se dizer o
que tocada cada um dos sócios, sob pena de transformar a
imputação penal em uma responsabilidade objetiva.” (eDoc 42,
p. 12)

Destaco do voto do Min. Schietti: “(...) a denúncia, no primeiro


parágrafo, afirma que os dois denunciados são sócios-administradores da
empresa Danluz e que agiam com vontade livre e consciente em
continuidade delitiva, suprimindo e reduzindo tributos, mas, em nenhum
momento, diz em que circunstâncias isso ocorreu. A partir desse

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momento, passa-se a narrar a ação fiscal de que resultou posteriormente a


imputação delitiva e, em nenhum momento, se fala mais da atuação dos
sócios, denotando, aparentemente, uma imputação criminal a uma
empresa por meio de seus sócios” (eDoc 42, p. 12-13).
Da leitura dos termos da denúncia (eDoc 3, p. 12-16), verifica-se a
correta percepção expressada pelo eminente Ministro em sua divergência.
Somente no primeiro parágrafo indica-se que os denunciados são sócios
administradores da empresa. Em tudo que segue na exordial,
mencionam-se exclusivamente atuações genéricas da empresa, sem
qualquer especificação de condutas dos réus ou dos demais elementos
para capitulação no tipo penal objetiva e subjetivamente.

Diante do exposto, divirjo do Relator para dar provimento ao


agravo regimental e conceder a ordem de habeas corpus de modo a
trancar o processo pela diante da inépcia da denúncia em relação ao
paciente Jonas Felix dos Santos.
Diante da similaridade fática, estendo, de ofício, a ordem ao corréu
Daniel Nunes da Silva.
É como voto.

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Extrato de Ata - 27/09/2021

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SEGUNDA TURMA
EXTRATO DE ATA

AG.REG. NO HABEAS CORPUS 182.458


PROCED. : DISTRITO FEDERAL
RELATOR : MIN. EDSON FACHIN
REDATOR DO ACÓRDÃO : MIN. GILMAR MENDES
AGTE.(S) : JONAS FELIX DOS SANTOS
ADV.(A/S) : LUIS HENRIQUE ALVES SOBREIRA MACHADO (28512/DF) E
OUTRO(A/S)
AGDO.(A/S) : SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

Decisão: A Turma, por empate na votação, deu provimento ao


agravo regimental e concedeu a ordem de habeas corpus de modo a
trancar o processo diante da inépcia da denúncia em relação ao
paciente Jonas Felix dos Santos. Em seguida, em face da
similaridade fática, estendeu, de ofício, a ordem ao corréu Daniel
Nunes da Silva, tudo nos termos do voto do Ministro Gilmar Mendes,
Redator para o acórdão, vencidos os Ministros Edson Fachin
(Relator) e Nunes Marques. Segunda Turma, Sessão Virtual de
17.9.2021 a 24.9.2021.

Composição: Ministros Nunes Marques (Presidente), Gilmar


Mendes, Ricardo Lewandowski e Edson Fachin.

Hannah Gevartosky
Secretária

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