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Universidade Púnguè

Timóteo Seriano André

Curso: Licenciatura em Direito

Universidade Púngué

Chimoio

2023
Universidade Púnguè

Timóteo Seriano André

Curso: Licenciatura em Direito


4º Ano – Período Pós-laboral

Cadeira:
Direito de Integração Regional da SADC

Tema:
Arquitetura formal do Direito da SADC

Docente:
MSc. João Luís Araújo

Universidade Púngué
Chimoio
2023
Índice
1.0. INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 4
1.1. Objectivos .......................................................................................................... 4
1.1.1. Objectivo geral............................................................................................ 4
1.1.2. Objectivos específicos ................................................................................ 4
2.0. ARQUITETURA FORMAL DO DIREITO DA SADC ....................................... 5
2.1. Noções gerais sobre a SADC ............................................................................. 5
2.2. Os tratados e acordos legais da SADC .............................................................. 5
2.3. As instituições da SADC e o seu papel na arquitectura legal na organização ... 8
2.3.1. Fórum Parlamentar da SADC ..................................................................... 8
2.3.2. Comité de Embaixadores e Altos Comissários da SADC .......................... 9
2.3.3. Comités Nacionais da SADC.................................................................... 10
2.3.4. Secretariado da SADC .............................................................................. 10
2.3.5. Comité Permanente de Altos Funcionários .............................................. 11
2.3.6. Comités Ministeriais Sectoriais e de Grupos ............................................ 11
2.3.8. Tribunal Administrativo da SADC (SADCAT) ....................................... 12
2.3.9. Cimeira da Troika do Órgão ..................................................................... 13
2.3.10. Cimeira dos Chefes de Estado ou de Governo ......................................... 13
2.4. As leis e políticas da SADC ............................................................................. 14
2.5. Desafios arquitetura formal do Direito da SADC ............................................ 15
4.0. REFERÊNCIAS .................................................................................................. 19
1.0.INTRODUÇÃO

Moçambique é membro fundador da Conferência de Coordenação do Desenvolvimento


da África Austral (SADCC) que foi formada em Lusaka, Zâmbia, em 1980, e
posteriormente transformada na Comunidade de Desenvolvimento da África Austral
(SADC) em 1992, após a Africa do Sul aderir a comunidade.

Sendo assim, como Moçambique enfrenta uma série de problemas, desde dificuldades
naturais como secas prolongadas e cheias, a grande prevalência do SIDA e a pobreza, a
tensão militar, a SADC tem como enfoque a erradicação destes problemas. Todavia, é
preciso olhar para ao redor e identificar os meios e os instrumentos jurídicos, bem como
as estratégias susceptíveis de serem movimentadas para caminhar com uma determinada
certeza e segurança, rumo a arquitetura formal do Direito da SADC e para fazer com que
esta organização regional de África Austral seja uma Comunidade no pleno sentido da
palavra.

1.1.Objectivos
1.1.1. Objectivo geral

Analisar a arquitetura formal do Direito da SADC e as suas implicações para


Moçambique.

1.1.2. Objectivos específicos


• Identificar os principais tratados e acordos legais que regem a SADC no contexto
moçambicano;
• Analisar as instituições da SADC e o seu papel na arquitetura legal da
organização, com o foco no contexto moçambicano;
• Examinar como as leis e políticas da SADC são implementadas em nível nacional
e como os Estados membros interagem com a organização em questões legais e
institucionais;
• Avaliar as realizações e desafios da arquitetura formal do Direito da SADC até o
momento, com foco para o contexto nacional.

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2.0.ARQUITETURA FORMAL DO DIREITO DA SADC
2.1.Noções gerais sobre a SADC

A Comunidade de Desenvolvimento da África Austral existe desde 1992, a partir da


transformação da SADCC (Conferência de Coordenação para o Desenvolvimento da
África Austral), criada em 1980 por nove dos estados membros (MURAPA, 2002). De
acordo com o mesmo autor esta transformação, que teve lugar em 17 de Agosto de 1992
em Windhoek, Namíbia, foi motivada pelo fim do regime de apartheid na África do Sul,
ou seja a África do Sul passou a ser membro da SADC nesta a partir daquela data.

Segundo Murapa (2002) a sede da SADC encontra-se em Gaborone, no Botswana e


actualmente a SADC engloba 15 países do sul da África que nomeadamente são, África
do Sul, Angola, Botswana, República Democrática do Congo, Lesoto, Madagascar,
Malawi, Maurícia, Moçambique, Namíbia, Suazilândia, Tanzânia, Zâmbia, Zimbábue.

Os objetivos desta comunidade é, em síntese, proporcionar o crescimento das economias


dos países africanos e consequentemente, o desenvolvimento e a melhoria na qualidade
de vida de seu povo, isto segundo Meira e De Carvalho (2016). Ainda na mesma visão
dos mesmos autores, outros objectivos não menos importantes são:

• A promoção da paz e da estabilidade da região, do desenvolvimento sustentável


e do combate à SIDA; e
• A reafirmação dos legados socioculturais africanos.

2.2.Os tratados e acordos legais da SADC

Como foi destacado anteriormente, o principal objectivo da Comunidade da África para


o Desenvolvimento é estabelecer a paz e a segurança na região. Através da integração
desses países membros, pretende-se alcançar o desenvolvimento econômico, desenvolver
políticas comuns, proporcionar a consolidação dos laços históricos, sociais e culturais
entre os povos da região.

Sendo assim, como o SADC é uma comunidade regional que busca garantir para sua
população o bem-estar econômico, melhorias da qualidade de vida, liberdade, justiça
social, paz e segurança. De acordo com Jamine (2009), isso só será possível com a
cooperação entre os países membros.

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Existem diversos tratados que já foram assinados ao longo do tempo. E consciente das
desigualdades económicas, a partir de 1994, a SADC promoveu novas iniciativas
políticas, desenvolveu programas e adoptou vários protocolos e tratados, com vista ao
aprofundamento da integração regional. Dessas iniciativas, de acordo com Jamine (2009)
destaca-se o início do concerto regional para a liberalização comercial, cujo culminar foi
a adopção do Protocolo Comercial em 1996, tido como o motor da integração no que diz
respeito a arquitetura formal do Direito da SADC envolvendo a economia dos países
membros.

O Protocolo Comercial da SADC para Moçambique, é tido um Instrumento Legal que


regula as relações comerciais entre os Países Membros subscritores da SADC. Foi
assinado em Maseru em Lesotho, em Agosto de 1996. Moçambique ratificou através da
Resolução nº. 44/99, publicado no Boletim da República nº 52, de 29 de Dezembro de
1999, I Série.

De acordo com Murapa (2002) os objectivos do protocolo Comercial da SADC são:

• Liberalizar o comércio entre os países membros;


• Aumentar a produção segundo as vantagens comparativas dos países subscritores;
• Melhorar o clima de negócios, a industrialização e o desenvolvimento dos países
subscritores;
• Criar uma zona de comércio livre.

O benefício que Moçambique tira na qualidade d e Membro da SADC, de acordo com


Schutz (2014) é a possibilidade que lhe é dado de participar e acompanhar os fóruns
internacionais de concertação de posições a nível da SADC, bem como acções de atracção
de investimentos directos estrangeiros e nacionais, podendo ter:

• Livre circulação de bens (Isenção de tarifas), acesso ao mercado regional;


• Melhorar o clima de negócio através da simplificação de procedimentos e
eliminação de barreiras;
• Redução dos custos da actividade comercial e industrial (impulsiona a indústria
nacional, através da aquisição de matéria prima e equipamentos de produção a
tarifa zero, aumento da competitividade);
• Diversificação de produtos e redução de preços;

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• Aumento das oportunidades de emprego.

Para além deste protocolo, em busca da criação de um mercado comum, de acordo com
Francisco (s.d) a SADC desenvolveu projectos como:

• União Aduaneira (UA) de 2010;


• O Mercado Comum (MC) de 2015 e
• União Monetária (MU) de 2016;

E como a Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC) aspira a promover


uma independência política e económica, paz e segurança duradouras e a erradicação da
pobreza. A SADC criou o Órgão de Cooperação em Política, Defesa e Segurança em 1996
como um quadro institucional para coordenar políticas e actividades sobre a política,
defesa e segurança (SCHUTZ, 2014). De acordo com o mesmo autor o Órgão tem vários
objectivos, sendo os mais importantes os seguintes:

• Promoção da coordenação e cooperação regional em matérias relacionadas com a


segurança e defesa e criação de mecanismos apropriados para o efeito;
• Promoção do desenvolvimento de instituições e práticas democráticas nos
Estados-Membros e encorajamento da observância dos direitos humanos
universais, tal como previsto em cartas e convenções da União Africana (UA) e
das Nações Unidas (ONU);
• Protecção da população da região contra o colapso da lei e da ordem, conflitos e
agressões intra-estatais; e
• Prevenção, contenção e resolução de conflitos intra e inter-estatais.

De acordo com SADC (s.d) o Órgão opera num sistema de Troika em que três Chefes de
Estado e de Governo são eleitos anualmente para tratar de questões de paz e segurança na
Região. A Troika convoca reuniões sempre que há desafios de paz e segurança na região
e informa o Presidente da SADC. O Protocolo sobre Cooperação em Política, Defesa e
Segurança foi adoptado em 2001 para especificar a estrutura do Órgão, incluindo a forma
como o sistema da Troika funciona, bem como para definir as funções e responsabilidades
de vários comités que seriam criados para apoiar o Órgão.

Segundo Schutz (2014) o Protocolo contempla uma série de mecanismos e instituições


de intervenção para sustentar a paz e a segurança na Região. O Protocolo foi

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operacionalizado através do Plano Indicativo Estratégico revisto do Órgão (SIPOII), cujo
objectivo principal é criar um ambiente político e de segurança pacífico e estável através
do qual a região devia realizar os seus objectivos de desenvolvimento socioeconómico,
erradicação da pobreza e integração regional. Este projecto, que expirou em 2021, e os
principais imperativos estratégicos sobre a paz e segurança foram integrados no RISDP
2020-2030 como um pilar fundamental (SADC, s.d.).

É de salientar que, de acordo com Meira e De Carvalho (2016) o financiamento aos


projetos ou programas é obtido através de duas maneiras principais:

• A primeira e mais importante é a contribuição de cada um dos membros, com o


valor baseado no PIB de cada um;
• A segunda é através da colaboração de parceiros económicos internacionais, como
a União Europeia e alguns países desenvolvidos, que dependem do projeto a ser
desenvolvido.

2.3.As instituições da SADC e o seu papel na arquitetura legal na organização

Numa Cimeira Extraordinária realizada em 9 de março de 2001, em Windhoek, Namíbia,


os Chefes de Estado e de Governo da SADC aprovaram um Relatório sobre a Revisão do
Funcionamento das Instituições da SADC. Posteriormente, a reforma institucional
estabeleceu uma nova estrutura com 8 instituições e órgãos principais para a execução do
mandato da organização (SCHUTZ, 2014). Mas actualmente a estrutura institucional é
composta por 10 instituições.

2.3.1. Fórum Parlamentar da SADC

Fórum Parlamentar da SADC, é um órgão interparlamentar regional composto por


deputados dos parlamentos nacionais dos Estados-Membros da SADC, em representação
de mais de 3.500 parlamentares da Região da SADC. Criado pela Cimeira da SADC a 08
de Setembro de 1997, o Fórum é composto pelo Presidente da Sessão e um máximo de
cinco representantes eleitos pelo Parlamento Nacional de cada Estado-Membro
(SCHUTZ, 2014).

De acordo com o mesmo autor, o objectivo deste Fórum é proporcionar uma plataforma
para apoiar e melhorar a integração regional através da participação parlamentar e

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promover as melhores práticas a nível do papel dos parlamentos na integração e
cooperação regional.

Schutz (2014) enfatiza ainda que os objectivos específicos do Fórum Parlamentar


abordam uma vasta gama de questões, incluindo, entre outras, as seguintes:

• Promoção dos direitos humanos, igualdade de género, boa governação,


democracia e transparência;
• Promoção da paz, da segurança e da estabilidade;
• Aceleração do ritmo da cooperação económica, do desenvolvimento e da
integração com base na equidade e nos benefícios mútuos;
• Facilitação do trabalho em rede com outras organizações interparlamentares;
• Promoção da participação de organizações não governamentais, empresas e
comunidades intelectuais nas actividades da SADC;
• Familiarização dos cidadãos da SADC com as metas e os objectivos da SADC; e
• Informar a SADC sobre as opiniões populares sobre o desenvolvimento e questões
que afectam a região.

O Fórum Parlamentar da SADC não tem uma relação hierárquica com a Cimeira e outras
instituições da SADC, mas trabalha em conjunto com as mesmas em questões de interesse
comum (SADC, s.d.).

2.3.2. Comité de Embaixadores e Altos Comissários da SADC

O Comité de Embaixadores/Alto Comissários da Comunid ade de Desenvolvimento da


África Austral (SADC) foi criado pelo Conselho de Ministros a 25 de Fevereiro de 2005
(JAMINE, 2009). De acordo com o mesmo autor em Fevereiro de 2012, o Conselho de
Ministros da SADC reuniu-se e reviu os termos de referência do comité, que foram então
aprovados. Ao abrigo dos termos revistos, as funções do Comité são as seguintes:

• Aconselhar os Comités Nacionais da SADC sobre questões relacionadas com a


implementação dos programas e actividades da SADC;

• Facilitar a interacção e consultas entre os Estados-Membros e o Secretariado da


SADC;

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• Analisar questões relacionadas com a implementação do Plano Indicativo de
Desenvolvimento Estratégico Regional (RISDP) e do Plano Estratégico do Orgão
(SIPO) e fazer recomendações adequadas aos Comités Nacionais da SADC;

• Acompanhar a implementação das decisões do Conselho; e

• Desempenhar quaisquer outras funções a pedido do Conselho.

2.3.3. Comités Nacionais da SADC

Os Comités Nacionais da SADC foram constituídos para fornecer contributos a nível


nacional na formulação de políticas e estratégias regionais, bem como coordenar e
supervisionar a implementação de programas a nível nacional (JAMINE, 2009). Os
Comités são também responsáveis pela implementação dos projectos da SADC e emitem
documentos como um contributo para a elaboração das Estratégias Regionais.

De acordo com Schutz (204) os Comités são compostos por principais intervenientes do
governo, do sector privado e da sociedade civil de cada Estado-Membro e uma disposição
relativa à sua criação está reflectida no Tratado da SADC. Um desses comités é o Comité
de Embaixadores e Alto Comissários da SADC.

2.3.4. Secretariado da SADC

O Secretariado da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC), segundo


Schutz (2014) é a principal instituição executiva da SADC, responsável pelo planeamento
estratégico, coordenação e gestão dos programas da SADC. É também responsável pela
implementação das decisões da política e das instituições da SADC, como a Cimeira, as
Troikas e o Conselho de Ministros. É chefiada por um Secretário Executivo e tem a sua
sede em Gaborone, Botsuana. O Secretariado é guiado pela Visão e Missão Institucional.
De acordo com Meira e De Carvalho (2016) a estrutura do Secretariado, aprovada em 28
de Fevereiro de 2008, em Lusaka, Zâmbia, compreende o seguinte:

a) Secretária Executiva
• Órgão de Política, Defesa e Segurança;
• Auditoria Interna e Gestão de Riscos;
• Comunicação e Relações Públicas;
• Gênero;

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• Supervisão Macroeconômica;
b) Secretário Executivo Adjunto: Integração Regional
• Comércio, Indústria, Finanças e Investimento;
• Infraestrutura e Serviços;
• Alimentação, Agricultura e Recursos Naturais;
• Desenvolvimento Social e Humano e Programas Especiais;
• Planeamento de Políticas e Mobilização de Recursos;
c) Secretário Executivo Adjunto: Assuntos Corporativos
• Orçamento e Finanças;
• Recursos Humanos e Administração;
• Serviços de Conferência;
• Aquisição;
• Assuntos Jurídicos;
• Tecnologia da Informação e Comunicação.

2.3.5. Comité Permanente de Altos Funcionários

Segundo Schutz (2014) o Comité Permanente de Altos Funcionários, um comité


consultivo técnico do Conselho de Ministros, reúne-se duas vezes por ano. É composto
por um Secretário Permanente/Principal ou por um funcionário de categoria equivalente
de cada Estado-Membro, de preferência de um ministério responsável pela planificação
económica ou finanças.

O Presidente e o Vice-presidente do Comité Permanente são nomeados pelos Estados-


Membros que detêm a Presidência e a Vice-presidência do Conselho (SCHUTZ, 2014).

2.3.6. Comités Ministeriais Sectoriais e de Grupos

Os Comités Ministeriais Sectoriais e de Grupos são compostos por ministros de cada


Estado-Membro da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC)
(SCHUTZ, 2014). Estes comités são directamente responsáveis pela supervisão das
actividades das principais áreas de integração, monitorização e controlo da
implementação do Plano Indicativo Regional de Desenvolvimento Estratégico na sua área
de competência, bem como pela prestação de aconselhamento em matéria de políticas ao
Conselho. De acordo a SADC (s.d) actualmente, os Comités dos Grupos são os seguintes:

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• Ministros responsáveis pelo Comércio, Indústria, Finanças e Investimento;
• Ministros responsáveis pelas Infra-estruturas e Serviços;
• Ministros responsáveis pela Alimentação, Agricultura, Recursos Naturais e
Ambiente;
• Ministros responsáveis pelo Desenvolvimento Social e Humano e pelos
Programas Especiais (HIV e SIDA; educação, trabalho; emprego e género);
• Ministros responsáveis pela Política, Defesa e Segurança;
• Ministros responsáveis pelos Assuntos Jurídicos e Questões Judiciais.

2.3.7. Conselho de Ministros da SADC

O Conselho de Ministros supervisiona o funcionamento e o desenvolvimento da


Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC) e garante que as políticas
sejam devidamente implementadas (SCHUTZ, 2014). Segundo o mesmo autor o
Conselho é composto por Ministros de cada Estado-Membro, normalmente dos
Ministérios dos Negócios Estrangeiros, da Planificação Económica ou das Finanças.

É de salientar que estes reúnem-se duas vezes por ano em Janeiro ou Fevereiro e
imediatamente antes da Cimeira em Agosto ou Setembro.

2.3.8. Tribunal Administrativo da SADC (SADCAT)

O Tribunal Administrativo da SADC (SADCAT) foi criado ao abrigo de uma resolução


da reunião da Cimeira da SADC realizada em Gaborone, República do Botswana, a 18
de Agosto de 2015, nos termos do disposto no n.º 2 do Artigo 9.º e do n.º 6 do Artigo 10.º
do Tratado que institui a SADC (MEIRA & DE CARVALHO, 2016). De acordo com a
SADC (s.d) a SADCAT tem competência para julgar e decidir litígios laborais entre o
Secretariado da SADC ou qualquer uma das suas instituições, como empregador, e um
funcionário. Isto inclui um litígio relativo ao contrato de trabalho de um funcionário ou
às condições de nomeação do funcionário em causa. O Tribunal é dirigido por um Juiz-
Presidente eleito e por um Vice-Presidente que são coadjuvados por um Secretariado
(SADC, s.d.).

Ao decidir sobre qualquer petição ou recurso, a SADCAT aplicará as regras e


regulamentos internos do Secretariado da SADC ou da Instituição da SADC, as políticas
internas de recursos humanos e os princípios geralmente reconhecidos do direito
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administrativo internacional relativos à resolução de litígios laborais relativos aos
funcionários das Organizações Internacionais (MEIRA & DE CARVALHO, 2016).

2.3.8.1.Composição do SADCAT

O Tribunal é uma instituição independente da SADC. Sendo assim, de acordo com Meira
e De Carvalho (2016) ela dispõe de um conjunto de sete juízes dos Estados-Membros da
SADC nomeados pelo Conselho de Ministros sob recomendação do Comité de Ministros
da Justiça/Procuradores-Gerais. O Tribunal tem dois níveis de administração da justiça:

• A Primeira Instância: Um Painel de Primeira Instância pode ser constituído por


um (1) ou três (3) Juízes, e
• O Painel de Recursos. enquanto um Painel de Recursos só pode ser constituído
por três (3) Juízes.

2.3.9. Cimeira da Troika do Órgão

Como foi destacado anteriormente, este é o Órgão da SADC de Cooperação nas áreas de
Defesa, Política e Segurança é gerido com base na Troika e é responsável pela promoção
da paz e segurança na região da SADC. Tem mandato para dirigir e orientar os Estados-
Membros em assuntos que ameacem a paz, a segurança e a estabilidade na região.

Geralmente, como é destacado pelo Schutz (2014), este órgão é coordenado ao nível da
Cimeira, composta por um Presidente, um Presidente Eleito e um Presidente Cessante, e
responde perante o Presidente da Cimeira da SADC. A Cimeira da SADC e a Cimeira da
Troika do Órgão não ocorrem simultaneamente; e o Presidente do Órgão não assume
simultaneamente a Presidência da Cimeira. O mesmo autor argumenta ainda que a
estrutura, as operações e as funções do Órgão são reguladas pelo Protocolo relativo à
Cooperação nas áreas de Política, Defesa e Segurança. À semelhança da presidência da
Cimeira, a presidência do Órgão é rotativa.

2.3.10. Cimeira dos Chefes de Estado ou de Governo

A Cimeira da SADC é responsável pela orientação política global e pelo controlo das
funções da comunidade, tornando-a, em última análise, o órgão decisório da SADC. É
composta por todos os Chefes de Estado ou de Governo da SADC e é gerida num sistema

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de Troika que inclui o Presidente em exercício da Cimeira da SADC, o Presidente eleito
(o Vice-presidente em exercício) e o anterior Presidente imediato (SCHUTZ, 2014).

Haffner e Nampzava destacam que o Sistema de Troika confere autoridade a este grupo
para tomar decisões céleres em nome da SADC que são normalmente tomadas em
reuniões políticas agendadas numa periodicidade regular, bem como fornecer orientação
política às instituições da SADC no intervalo entre as Cimeiras regulares da SADC. Este
sistema tem sido eficaz desde que foi estabelecido pela Cimeira na sua reunião anual em
Maputo, Moçambique, em Agosto de 1999. Outros Estados-Membros podem ser
integrados na Troika sempre e quando necessário.

O sistema de Troika funciona ao nível da Cimeira, do Órgão de Política, Defesa e


Segurança, do Conselho de Ministros e do Comité Permanente de Altos Funcionários
(HAFFNER & NAMPAVA, 2010). A aplicação de duas Troikas a nível do Comité
Permanente de Altos Funcionários, que inclui Secretários Permanentes, ou Secretários
Principais ou responsáveis pelos gabinetes, ministérios ou departamentos governamentais
e a nível do Órgão de Cooperação nas áreas de Política, Defesa e Segurança, é designada
por Dupla Troika. A Cimeira reúne-se normalmente uma vez por ano no mês de
Agosto/Setembro num Estado-Membro, na qual são eleitos um novo Presidente e um
novo Vice-Presidente (HAFFNER & NAMPAVA, 2010).

2.4.As leis e políticas da SADC

Desde da criação da SADC, as leis da SADC tem desempenhado um papel significativo


na definição de balizas e prestação de formato às leis e políticas nacionais em toda a
SADC (CISTAC, 2008). Embora as leis da SADC sejam do âmbito de temáticas
específicas tais como o HIV, o casamento prematuro, as eleições, segurança e paz,
desenvolvimento económico, entre outras, a sua influência já tinha ultrapassado de longe
o seu âmbito temático e ajudado a evitar a discriminação, promover a igualdade de
tratamento e os direitos humanos, e até aprofundar o impulso d emocrático que é o próprio
fundamento do progresso social e económico.

A visão do Fórum Parlamentar da SADC concebida em 2019 de ser o porta-estandarte da


democratização e do desenvolvimento socioeconómico constituiu, deste modo, o reflexo
da desejada meta a ser atingida pelas políticas, incluindo a implementação das suas leis.
A nível regional, a SADC criou a sua magna Comissão Parlamentar Regional de

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Fiscalização das Leis (CISTAC, 2008). A Comissão de Fiscalização apresenta-se como
um órgão de alto nível com o mandato claro de exercer a fiscalização da adequação dos
ordenamentos jurídicos nacionais bem como as políticas conexas às leis modelo
elaboradas pelo Fórum, dentro da visão do Fórum de promover a democratização e o
desenvolvimento socioeconómico.

Com os recentes acontecimentos pelo mundo, a Comissão de Fiscalização passou a


ocupar uma posição de relevo dentro do quadro institucional d a SADC, que é crucial para
estimular iniciativas de transposição para os ordenamentos jurídicos nacionais e
promover o estado de direito. Embora o próprio parlamento seja um órgão de fiscalização
do Executivo, de acordo com a noção da separação de poderes, a Comissão de
Fiscalização da SADC coloca, deste modo, em condições de ajudar os parlamentos
membros a exercerem a fiscalização e monitorarem políticas específicas ligadas aos
direitos humanos e à democratização (CISTAC, 2008).

2.5.Desafios da arquitetura formal do Direito da SADC

Apesar de haver um crescimento económico significativo entre os Estados membros da


Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral (SADC), as assimetrias
existentes entre os mesmos, em termos de desenvolvimento e dinâmica de crescimento,
constitui um obstáculo para a materialização total da Integração ou o cumprimento das
etapas fulcrais para o avanço do processo integracionista na África Austral. Moçambique
tem demonstrado empenho no cumprimento das fases do processo de Integração
Económica Regional (HAFFNER & NAMPAVA, 2010).

Gastrow (2001) afirma que a questão das redes de crime organizado na região representa
uma das múltiplas barreiras não-tarifárias ao desenvolvimento das trocas comerciais,
visto que aumentam significativamente os custos de transição (riscos humanos, perdas de
investimento, entre outros.

Na visão de Badi (2001), o futuro da SADC passará por uma etapa de coordenação de
políticas nacionais de desenvolvimento, centrados em infra-estruturas, no abandono de
uma regra de unanimidade e de soberanias e na adopção de uma política monetária
Africana, que só será possível mediante o fim da crise económica e financeira interna dos
estados.

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Por sua vez Murapa (2002), argumenta que a condição ideal para a integração regional
seria uma situação em que todos os estados tenham iguais níveis relativos de
desenvolvimento e um grau significativo de diferenças na natureza e composição de seus
recursos, o que forneceria um ambiente condizente para a complementaridade entre os
países membros da SADC, já que os membros se caracterizam por imensas disparidades
no desenvolvimento económico.

Para Chichava (2011), as economias da SADC precisam de continuar a apostar e lutar


pela diversificação, para além de produção mais modernizadas e dinâmicas, no qual só
será conseguido através do aprofundamento e consolidação das reformas económicas que
levem á integração das respectivas economias. Este processo inclui a harmonização e
racionalização de políticas que privilegiem o desenvolvimento do protocolo comercial da
SADC.

De acordo com Rocha (2000), uma vez que as metas definidas pelo RISDP são
irrealizáveis nos prazos indicados, a SADC deve reduzir as suas ambições constantes do
RIDSP, e definir como objectivo a construção do espaço económico da SADC, ist o é,
uma área de livre comércio activa, consolidada, no qual as transacções comerciais sejam
dominadas por exportações para o mercado global de produtos manufacturados dentro do
espaço económico.

A questão da estabilidade política e segurança, o aprofundamento da democracia e a


capacidade de implementar acordos e protocolos firmados, capital humano e a ampliação
do conhecimento e do bem-fazer e a produção de estatísticas credíveis, constituem
factores críticos com que a região se debate.

Pode-se inferir que a SADC adopta um modelo de integração guiado pelo estado, na qual
alguns estados optam pela construção nacional em detrimento da integração regional.
Apesar de ser uma região rica em matéria-prima, não possui um sector industrial sólido e
transversal, capaz de alavancar as economias dos estados membros. Devido a pertença de
alguns estados a múltiplas organizações, qualquer consideração de implementação de
uma fase, como por exemplo da união aduaneira, a SADC deve tomar em consideração a
evolução de outras organizações, uma vez que possuem incompatibilidades das
estratégias e os estados divididos podem ter complicações na administração das suas
pautas aduaneiras.

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Para se imprimir um novo dinamismo, a SADC deve adoptar um modelo de integração
económica que reflicta as realidades da região e sirva os objectivos de todos os estados
membros, com os mesmos a fazerem um balanço do RISDP na SADC.

17
3.0.CONCLUSÃO

As experiências adquiridas pela SADC na arquitetura formal do Direito da SADC no


plano interno, bem como externo fizeram da cooperação e integração económica, um
imperativo para o desenvolvimento económico da região.

Os constrangimentos que a SADC enfrenta são múltiplos: a instabilidade política em


alguns estados, gerando um ambiente de insegurança e ausência da paz, as diferenças ou
disparidades económicas entre os estados membros, a falta de complementaridade ou
harmonização entre os objectivos nacionais e regionais, a corrupção e o voluntarismo
individual dos Estados. E não obstante as fragilidades, a SADC tem desenvolvido
projectos com vista a suprir esses constrangimentos.

Pois, o espaço regional tornou-se uma das escalas de regulação da economia mundial e
constitui uma etapa intermediária para a integração dos países em desenvolvimento à
economia mundial. Por outras palavras, os países em desenvolvimento não têm
verdadeiramente um espaço de escolha; eles devem se integrar nos mercados mundiais.

A arquitetura formal do Direito da SADC no que diz respeito a integração regional pode
facilitar a sua integração na economia mundial. Com efeito, uma integração regional bem
concebida apresenta várias vantagens aos países em desenvolvimento. Pois, a
aproximação das relações comerciais entre países reforçará a sua capacidade em
participar no comércio mundial. E arquitetura do Direito da SADC permite ultrapassar os
obstáculos que representa a relativa exiguidade do seu mercado nacional, permitindo aos
produtores realizar mais economias de escalas e beneficiar mais a implementação de
infra-estruturas ao nível regional.

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4.0.REFERÊNCIAS

BADI, M. (2001). La integracion regional en África: analisis politico, jurídico y


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