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DESAFIO 07 DIAS DEDICAÇÃO DELTA

DIA 06

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DESAFIO 07 DIAS DEDICAÇÃO DELTA

DIA 06

Futuro(a) Delegado(a)
Segue o material da sexta meta do nosso desafio.
Use a #desafio7diasDD e mostre todo o seu empenho!

Vamos juntos!

Equipe DedicaçãoDelta

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DIA 06

Meta do dia 06
Resumo Dedicação Delta – Legislação Penal Especial: Lei dos Crimes
Hediondos

Sumário
1. INTRODUÇÃO ................................................................................... 5
2. EVOLUÇÃO HISTÓRICA ................................................................. 6
3. CRITÉRIOS PARA A DEFINIÇÃO DE HEDIONDEZ ................. 7
4. ANÁLISE DO ROL DE CRIMES HEDIONDOS ............................ 9
4.1. Roubo qualificado pela lesão corporal grave ............................................ 23
4.2. Roubo qualificado pela morte (latrocínio) – ............................................. 24
5. CRIMES HEDIONDOS PREVISTOS NO § ÚNICO .....................39
5.1 Crimes Equiparados Ao Hediondos ........................................................... 51
5.1.1 Tráfico de Drogas .................................................................................. 51
5.1.2 Tortura ..................................................................................................... 52
5.1.3 Terrorismo .............................................................................................. 52
6. ESPECIFICIDADES DOS CRIMES HEDIONDOS ....................... 52
6.1 Insuscetibilidade de Graça, Anistia e Indulto ............................................ 52
6.2 Insuscetibilidade de Fiança ........................................................................... 54
6.3 Regime Inicial Fechado para o Cumprimento da Pena Privativa de
Liberdade ............................................................................................................... 55
6.4 Critérios Diferenciados para Concessão de Livramento Condicional. .. 59
6.5 Progressão de Regime ................................................................................... 61
6.6 Direito de Recorrer em Liberdade .............................................................. 64
6.7 Estabelecimentos Penais De Segurança Máxima ...................................... 65
6.8 Prioridade no Trâmite dos Processos ......................................................... 66
7. PRISÃO TEMPORÁRIA E CRIMES HEDIONDOS ......................66

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8. CAUSA DE AUMENTO DO §9º DA LEI DE CRIMES


HEDIONDOS........................................................................................ 69

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1. INTRODUÇÃO

A definição semântica do termo hediondo está ligada a tudo aquilo que


apresenta deformidade, que causa horror, repulsa ou aversão, sendo, portanto,
os crimes dessa natureza aqueles que, por algum critério específico, são
considerados de auto potencial de causar dano à sociedade.
Tal orientação encontra guarida na Constituição, uma vez que o artigo
5º, em seu inciso XLIII orienta a criação de uma forma de tratamento mais
enérgica do estado para com os agentes ativos dos crimes desta natureza.

XLIII - - a lei considerará crimes inafiançáveis e insuscetíveis


de graça ou anistia a prática da tortura, o tráfico ilícito de
entorpecentes e drogas afins, o terrorismo e os definidos
como crimes hediondos, por eles respondendo os mandantes,
os executores e os que, podendo evitá-los, se omitirem;

Trata-se de verdadeiro mandado de recrudescimento e criminalização


por parte do Poder Constituinte Originário, que impõe um regime jurídico
mais gravoso aos crimes de tortura, tráfico de entorpecentes e terrorismo,
assim como aos delitos definidos como crimes hediondos. Neste último caso,
a aplicabilidade do referido preceito está condicionada à definição dessa novel
categoria de infrações penais pelo legislador comum.
 
Obs.: Dos Mandados Constitucionais de Criminalização decorre a
diminuição da liberdade de conformação do legislador e de interpretação do
julgador, evitando normas ou interpretações que ensejam insuficiente proteção
estatal.

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Obs. Estamos diante de uma norma constitucional de eficácia limitada


e de aplicabilidade mediata, pois depende de complementação por lei
ordinária.

2. EVOLUÇÃO HISTÓRICA

A nossa Constituição Federal é de 1988 e a Lei de Crimes Hediondos é


de 1990, e há uma razão histórica para isso.
As décadas de 80 e 90 no Brasil, especificamente no Rio de Janeiro,
foram marcadas por uma onda de criminalidades absurdamente violentas. No
final da década de 80, houve uma onda de extorsões mediante sequestro,
instalando uma enorme criminalidade. (Curiosidade: dois fatos marcaram a
história da criminalidade no Rio de Janeiro nesse interregno temporal: o
sequestro de Roberto Medina juntamente com o sequestro do empresário
Abílio Diniz.)
Foi dentro desse contexto histórico que a Constituição trouxe os crimes
etiquetados de hediondos e equiparou três crimes aos crimes hediondos:
tráfico, tortura e terrorismo. E, apenas dois anos depois, surgiu a Lei de
crimes hediondos, que nada mais é do que resultado de manifestações de
movimentos penais no mundo inteiro, mais especificamente nos Estados
Unidos.
O primeiro movimento foi capitaneado por Ralf Dahrendorf
chamado de “Movimento de Lei e Ordem” que surgiu como consequência

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do movimento do Direito Penal Máximo buscando reprimir o aumento dos


índices de criminalidade. O Direito Penal Máximo apresenta fundamento
oposto ao do Direito Penal Mínimo, pois entende ser o Direito Penal a
solução para todos os problemas da sociedade, ocasionando o aumento
excessivo da tutela penal. Assim, é possível dizer que tal movimento baseia-se
na ideia de repressão e castigo, e de que somente leis endurecidas, que
imponham longas penas privativas de liberdade ou até mesmo a pena de
morte, possuem aptidão para controlar e inibir a prática de crimes.
Soma-se a isso estudo feito em 1982 realizado por dois cientistas
chamados James Wilson e George Kelling que criaram a “The broken
Windows theory” (Teoria das Janelas Quebradas), a qual estabelecia uma
relação entre desordem e criminalidade.
Foi nesse clima de Direito Penal do Terror que surgiu a lei de crimes
hediondos (Lei nº 8.072/90), trazendo preceitos severos, tanto de natureza
penal quanto de natureza processual penal.

3. CRITÉRIOS PARA A DEFINIÇÃO DE HEDIONDEZ

Em regra, a doutrina e a análise do direito comparado indicam a


existência de três critérios possíveis para definir um crime como hediondo:
• Critério legal – Somente o legislador pode definir os delitos
considerados hediondos, que devem estar previstos em um rol exaustivo
e com previsão legal.
• Critério judicial – Cabe ao juiz definir os delitos classificados como
hediondos, a luz das circunstâncias em concreto.

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• Critério misto – Estabelece ao legislador a atribuição de um rol


exemplificativo de delitos de natureza hedionda, podendo o juiz
analogicamente atribuir hediondez a outros delitos, de acordo com as
circunstâncias em concreto.

Vamos esquematizar?
SISTEMA LEGAL SISTEMA JUDICIAL SISTEMA MISTO
Compete ao legislador, O juiz quem, na apreciação No primeiro momento, o
em um rol taxativo, do caso concreto, decide se legislador apresenta um rol
enumerar quais os a infração é hedionda ou exemplificativo de crime
delitos considerados não. O juiz analisando o hediondos, permitindo ao
hediondos. Será caso concreto ele irá juiz, na análise do caso
hediondo aquilo que o determinar se o caso é concreto encontrar outros
legislador disse em um hediondo ou não. fatos assemelhados.
rol taxativo. Sistema Apreciação do caso Trabalha com a
adotado pelo Brasil. concreto. interpretação analógica.

Crítica: Crítica: Crítica:


O sistema Legal Não traz a segurança Reúne o que tem de ruim
trabalha com a jurídica, podemos ser nos dois outros sistemas.
gravidade abstrata, ao surpreendidos com um
invés de adotar a crime considerado
gravidade concreta hediondo por análise do
(ignora a gravidade do juiz. Fere o princípio da
crime no caso concreto) taxatividade ou mandado
de certeza. Arbítrio do
Juiz.

Em respeito ao princípio da legalidade, o direito brasileiro utiliza o


Critério ou Sistema legal. Ora, não se pode admitir que a definição de um
crime fique a cargo do magistrado e de seu livre convencimento, de modo que
só a lei pode decidir quais condutas são consideradas criminosas, bem como
definir quais crimes são hediondos. É o que se extrai do art.5º XLIII, CF.

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Art. 5º, XLIII - a lei considerará crimes inafiançáveis e


insuscetíveis de graça ou anistia a prática da tortura, o tráfico
ilícito de entorpecentes e drogas afins, o terrorismo e os
definidos como crimes hediondos, por eles respondendo os
mandantes, os executores e os que, podendo evitá-los, se
omitirem;

Nesse sentido, a lei 8.072 estabeleceu, em seu art. 1°, um ROL


TAXATIVO de crimes como hediondos, que terão essa característica
ainda que na modalidade tentada (pegadinha de prova!).

Obs.1: A natureza tentada de um crime rotulado pela lei não exclui a


sua hediondez. A tentativa não altera a classificação do crime como hediondo,
funcionando como uma mera causa de redução de pena (1/3 a 2/3). Dessa
forma, temos que, para fins de reconhecimento da natureza hedionda, pouco
importa que o delito seja consumado ou tentado.

Obs.2: Crimes militares: o CPM traz o latrocínio. É crime hediondo?


Não. Os crimes correspondentes no CPM não são considerados hediondos
por falta de previsão legal.

4. ANÁLISE DO ROL DE CRIMES HEDIONDOS

M ATENÇÃO! O Rol de Crimes Hediondos foi substancialmente alterado


pelo Pacote Anticrime! Portanto, tenha atenção redobrada, pois
certamente será objeto de questionamento nas próximas provas!

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Art. 1o São considerados hediondos os seguintes crimes,


todos tipificados no Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro
de 1940 - Código Penal, consumados ou tentados:

I - homicídio (art. 121), quando praticado em atividade


típica de grupo de extermínio, ainda que cometido por um só
agente, e homicídio qualificado (art. 121, § 2º, incisos I, II,
III, IV, V, VI, VII e VIII); (Redação dada pela Lei nº 13.964,
de 2019)

I-A – lesão corporal dolosa de natureza gravíssima (art.


129, § 2o) e lesão corporal seguida de morte (art. 129, §
3o), quando praticadas contra autoridade ou agente descrito
nos arts. 142 e 144 da Constituição Federal, integrantes do
sistema prisional e da Força Nacional de Segurança Pública,
no exercício da função ou em decorrência dela, ou contra seu
cônjuge, companheiro ou parente consanguíneo até terceiro
grau, em razão dessa condição; (Incluído pela Lei nº 13.142,
de 2015)

II - roubo: (Redação dada pela Lei nº 13.964, de 2019)


Circunstanciado pela restrição de liberdade da vítima (art.
157, § 2º, inciso V); (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
Circunstanciado pelo emprego de arma de fogo (art. 157, §
2º-A, inciso I) ou pelo emprego de arma de fogo de uso
proibido ou restrito (art. 157, § 2º- (Incluído pela Lei nº
13.964, de 2019)
Qualificado pelo resultado lesão corporal grave ou morte (art.
157, § 3º); (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

III - extorsão qualificada pela restrição da liberdade da


vítima, ocorrência de lesão corporal ou morte (art. 158, §
3º); (Redação dada pela Lei nº 13.964, de 2019)

IV - Extorsão mediante seqüestro e na forma qualificada


(art. 159, caput, e §§ lo, 2o e 3o);

V - Estupro (art. 213, caput e §§ 1o e 2o);

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VI - Estupro de vulnerável (art. 217-A, caput e §§ 1o, 2o,


3o e 4o);

VII - epidemia com resultado morte (art. 267, §


1o).
VII-A – (VETADO)

VII-B - Falsificação, corrupção, adulteração ou alteração


de produto destinado a fins terapêuticos ou medicinais
(art. 273, caput e § 1o, § 1o-A e § 1o-B, com a redação dada
pela Lei no 9.677, de 2 de julho de 1998).

VIII - favorecimento da prostituição ou de outra forma


de exploração sexual de criança ou adolescente ou de
vulnerável (art. 218-B, caput, e §§ 1º e 2º).

IX - Furto qualificado pelo emprego de explosivo ou de


artefato análogo que cause perigo comum (art. 155, § 4º-
A). (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

Parágrafo único. Consideram-se também hediondos, tentados


ou consumados: (Redação dada pela Lei nº 13.964, de
2019)
I - o crime de genocídio, previsto nos arts. 1º, 2º e 3º da Lei
nº 2.889, de 1º de outubro de 1956; (Incluído pela Lei nº
13.964, de 2019)
II - o crime de posse ou porte ilegal de arma de fogo de
uso proibido, previsto no art. 16 da Lei nº 10.826, de 22 de
dezembro de 2003; (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
III - o crime de comércio ilegal de armas de fogo,
previsto no art. 17 da Lei nº 10.826, de 22 de dezembro de
2003; (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
IV - o crime de tráfico internacional de arma de fogo,
acessório ou munição, previsto no art. 18 da Lei nº 10.826,
de 22 de dezembro de 2003; (Incluído pela Lei nº 13.964,
de 2019)

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V - o crime de organização criminosa, quando


direcionado à prática de crime hediondo ou
equiparado. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

Vamos começar esquematizando as mudanças que ocorreram com o


Pacote Anticrime?

ANTES DA LEI 13.964/2019 DEPOIS DA LEI 13.964/2019


Homicídio (art. 121), quando praticado Homicídio (art. 121), quando praticado
em atividade típica de grupo de em atividade típica de grupo de
extermínio, ainda que cometido por um extermínio, ainda que cometido por um
só agente, e homicídio qualificado (art. só agente, e homicídio qualificado (art.
121, § 2 o, incisos I, II, III, IV, V, VI e 121, § 2º, incisos I, II, III, IV, V, VI,
VII); VII e VIII);
Obs. Art. 121, inc. VIII -
(VETADO): (Incluído pela Lei nº
13.964, de 2019)
Roubo:
Latrocínio (art. 157, § 3o, in fine)
a) Circunstanciado pela restrição de
liberdade da vítima (art. 157, § 2º,
inciso V);
b) Circunstanciado pelo emprego de
arma de fogo (art. 157, § 2º-A,
inciso I) ou pelo emprego de
arma de fogo de uso proibido ou
restrito (art. 157, § 2º-B);
c) Qualificado pelo resultado lesão
corporal grave ou morte
(Latrocínio) (art. 157, § 3º);
Extorsão qualificada pela morte (art. Extorsão qualificada pela restrição da
158, § 2o); liberdade da vítima, ocorrência de lesão
corporal ou morte (art. 158, § 3º);

-------- Furto qualificado pelo emprego de


explosivo ou de artefato análogo que
cause perigo comum (art. 155, § 4ºA)

Consideram-se também hediondos: Consideram-se também hediondos:


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⦁ Genocídio ⦁ Genocídio, previsto nos arts. 1º, 2º


⦁ Posse ou porte ilegal de arma de e 3º da Lei nº 2.889, de 1º de
fogo de uso restrito outubro de 1956;
⦁ Posse ou porte ilegal de arma de
fogo de uso proibido, previsto no
art. 16 da Lei nº 10.826, de 22 de
dezembro de 2003;
⦁ Comércio ilegal de armas de fogo,
previsto no art. 17 da Lei nº 10.826,
de 22 de dezembro de 2003;
⦁ Tráfico internacional de arma de
fogo, acessório ou munição,
previsto no art. 18 da Lei nº 10.826,
de 22 de dezembro de 2003;
⦁ Organização criminosa, quando
direcionado à prática de crime
hediondo ou equiparado

CRIMES HEDIONDOS ≠ EQUIPARADOS A HEDIONDOS:

Os crimes de tortura, tráfico de drogas e terrorismo não são crimes


hediondos, mas são crimes equiparados a hediondos justamente por sofrerem
as mesmas consequências legais ofertadas aos crimes hediondos (veremos
adiante).  
• Tráfico de drogas - não é crime hediondo. É crime equiparado a
hediondo
• Tortura - não é crime hediondo. É crime equiparado a hediondo
• Terrorismo - não é crime hediondo. É crime equiparado a hediondo

• Inciso I: homicídio (art. 121), quando praticado em atividade típica de


grupo de extermínio, ainda que cometido por um só agente, e homicídio

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qualificado (art. 121, § 2o, I, II, III, IV, V e VI); (Redação dada pela Lei
nº 13.104, de 2015)

Todas as hipóteses de homicídio qualificado são consideradas crime


hediondo.
Questão relevante trata da possibilidade de consideração do homicídio
simples como hediondo na hipótese de ser praticado em atividade típica de
grupo de extermínio, ainda que realizado por apenas um agente.

Considerações importantes:
• Para ser hediondo, não precisa que o homicídio seja praticado por grupo
de extermínio. Basta que seja praticado em atividade típica de grupo
de extermínio (ideia de limpeza social) o que permite a prática por 1
única pessoa (não exigindo o concurso de pessoas) – Não abrange
milícia privad, sob pena de configurar analogia in malam partem!!!
• Homicídio híbrido: aquele em que há, ao mesmo tempo, a presença de
uma qualificadora e de uma hipótese de privilégio, não é considerado
crime hediondo pela jurisprudência.

STJ: “(...) Entendendo não haver contradição no


reconhecimento de qualificadora de caráter objetivo (modo
de execução do crime), e do privilégio, sempre de natureza
subjetiva”. (STF, 1º Turma, HC 89.921|PR). O homicídio
qualificado-privilegiado não pode ser considerado hediondo
(STJ, HC 153.728|SP)

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É importante lembrar que só há “homicídio qualificado


privilegiado” quando umas das causas especiais de diminuição de pena
coexiste com uma qualificadora objetiva (não é possível coexistir com
qualificadora de ordem subjetiva).

Causas especiais de diminuição de pena do homicídio:


- Motivo de relevante valor social.
- Motivo de relevante valor Moral
- Sob domínio de violenta emoção, logo após injusta emoção da
vítima.

Qualificadoras de ordem objetiva que admitem o privilégio:


- Emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio
insidioso ou cruel, ou de que possa resultar perigo comum
- Por emboscada ou mediante dissimulação ou outro recurso que
dificulte ou torne impossível a defesa do ofendido
- Feminicídio (embora para a doutrina majoritária se trate de uma
qualificadora de ordem subjetiva, os Tribunais Superiores entendem que
se trata de uma qualificadora de ordem objetiva).

Obs.: O Pacote Anticrime conferiu nova redação ao inciso I do art. 1 º


da Lei n. 8.072/90 para também rotular como hediondo o crime de homicídio
qualificado previsto no inciso VIII do §2° do art. 121 do Código Penal.
Ocorre que a qualificadora em questão - "VIII - com emprego de arma de
fogo de uso restrito ou proibido", acabou sendo vetada pelo Presidente da
República.

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Na prática, portanto, a despeito da nova redação conferida ao art . 1°,


inciso I, da Lei dos Crime s Hediondos, como a qualificadora do inciso VIII
não foi efetivamente acrescentada ao §2° do art. 121 do Código Penal, é de
rigor a conclusão no sentido de que a mudança em questão revela-se
absolutamente inócua. Por conseguinte, na eventualidade de um crime de
homicídio ser cometido com o emprego de arma de fogo de uso restrito ou
proibido, esta circunstância, isoladamente considerada, não poderá ser usada
para fins de se atribuir natureza hedionda a tal delito

Art. 121, inc. VIII - (VETADO): (Incluído pela Lei nº


13.964, de 2019)

Esquematizando:
HOMICÍDIO Hediondo
QUALIFICADO
HOMICÍDIO NÃO é hediondo
PRIVILEGIADO
Em regra, NÃO É hediondo.
HOMICÍDIO SIMPLES. Exceção: quando praticado em
atividade típica de grupo de
extermínio, ainda que cometido por
um só agente.
HOMICÍDIO HÍBRIDO
(QUALIFICADO- Não é crime hediondo.
PRIVILEGIADO)

• Inciso I: A – lesão corporal dolosa de natureza gravíssima (art. 129, §


2o) e lesão corporal seguida de morte (art. 129, § 3o), quando
praticadas contra autoridade ou agente descrito nos arts. 142 e 144 da
Constituição Federal, integrantes do sistema prisional e da Força

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Nacional de Segurança Pública, no exercício da função ou em


decorrência dela, ou contra seu cônjuge, companheiro ou parente
consanguíneo até terceiro grau, em razão dessa condição; (Incluído pela
Lei nº 13.142, de 2015)

A referida hipótese legal fora acrescentada com o advento da Lei


13.142/2015, a qual alterou o Código Penal, assim como a Lei de Crimes
Hediondos.
A lesão corporal, em regra, não é crime hediondo. Atualmente, apenas
em duas hipóteses é que a lesão corporal será considerada crime hediondo:
1) Lesão corporal gravíssima
2) Lesão corporal seguida de morte

Quando praticadas, no exercício da função ou em decorrência dela,


contra:
⦁ Autoridade ou agente descrito nos arts. 142 e 144 da Constituição
Federal
⦁ Integrantes do sistema prisional
⦁ Integrantes da Força Nacional de Segurança Pública
⦁ Contra seu cônjuge, companheiro ou parente consanguíneo até
terceiro grau, em razão dessa condição.

Obs.: Na eventualidade de um crime de lesão corporal gravíssima ou


seguida de morte ser cometido contra autoridades ou agentes não elencados
no inciso I-A do art. 1° da Lei n. 8.072/90, como, por exemplo, Promotores

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de Justiça ou membros do Poder Judiciário, não nos parece possível o


etiquetamento de crimes hediondos, sob pena de indevida analogia in malam
partem.
Esquematizando...

SÃO CRIMES REQUISITO 1: REQUISITO 2:


HEDIONDOS: CONDIÇÃO DA VÍTIMA NEXO
FUNCIONAL
1) Autoridade, agente ou
integrante da: Desde que o crime
Lesão corporal ⦁ Forças Armadas tenha sido praticado:
gravíssima (art. 129, ⦁ Polícia Federal ⦁ No exercício da
§2º) ⦁ Polícia Rodoviária Federal função
⦁ Polícia Ferroviária Federal ⦁ Em decorrência
Lesão corporal ⦁ Polícias Civis dela
seguida de morte ⦁ Corpo de Bombeiros
(art. 129, §3º)
Militares
⦁ Guardas Municipais

(doutrina majoritária)
⦁ Sistema prisional
⦁ Força Nacional de

Segurança Pública
⦁ Polícias Penais

2) Contra seu cônjuge,


companheiro ou parente
consanguíneo até terceiro
grau.

• Inciso II: ROUBO:


circunstanciado pela restrição de liberdade da vítima
circunstanciado pelo emprego de arma de fogo ou pelo emprego de arma
de fogo de uso proibido ou restrito

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qualificado pelo resultado lesão corporal grave ou morte

Trata-se de inovação legislativa introduzida pelo “pacote anticrime” Lei


13.964/19. Doravante, considera-se hediondo o previsto no artigo 157 do
Código Penal:

ROUBO
Art. 157 - Subtrair coisa móvel alheia, para si ou para outrem,
mediante grave ameaça ou violência a pessoa, ou depois de
havê-la, por qualquer meio, reduzido à impossibilidade de
resistência:

Pena - reclusão, de quatro a dez anos, e multa.


§ 1º - Na mesma pena incorre quem, logo depois de subtraída
a coisa, emprega violência contra pessoa ou grave ameaça, a
fim de assegurar a impunidade do crime ou a detenção da
coisa para si ou para terceiro.
§ 2º A pena aumenta-se de 1/3 (um terço) até
metade: (Redação dada pela Lei nº 13.654, de 2018)
I – (revogado); (Redação dada pela Lei nº 13.654, de
2018)
II - se há o concurso de duas ou mais pessoas;
III - se a vítima está em serviço de transporte de valores e o
agente conhece tal circunstância.
IV - se a subtração for de veículo automotor que venha a ser
transportado para outro Estado ou para o exterior; (Incluído
pela Lei nº 9.426, de 1996)
V - se o agente mantém a vítima em seu poder,
restringindo sua liberdade. (Incluído pela Lei nº 9.426,
de 1996)
VI – se a subtração for de substâncias explosivas ou de
acessórios que, conjunta ou isoladamente, possibilitem sua
fabricação, montagem ou emprego. (Incluído pela Lei nº
13.654, de 2018)
VII - se a violência ou grave ameaça é exercida com emprego
de arma branca; (Incluído pela Lei nº 13.96, de 2019)
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§ 2º-A A pena aumenta-se de 2/3 (dois terços):


(Incluído pela Lei nº 13.654, de 2018)
I – se a violência ou ameaça é exercida com emprego de
arma de fogo; (Incluído pela Lei nº 13.654, de 2018)
II – se há destruição ou rompimento de obstáculo mediante o
emprego de explosivo ou de artefato análogo que cause
perigo comum. (Incluído pela Lei nº 13.654, de 2018)
§ 2º-B. Se a violência ou grave ameaça é exercida com
emprego de arma de fogo de uso restrito ou proibido,
aplica-se em dobro a pena prevista no caput deste
artigo. (Incluído pela Lei nº 13.96, de 2019)
§ 3º Se da violência resulta: (Redação dada pela Lei nº
13.654, de 2018)
I – lesão corporal grave, a pena é de reclusão de 7 (sete)
a 18 (dezoito) anos, e multa; (Incluído pela Lei nº
13.654, de 2018)
II – morte, a pena é de reclusão de 20 (vinte) a 30 (trinta)
anos, e multa. (Incluído pela Lei nº 13.654, de 2018)

O Pacote Anticrime ampliou sobremaneira as hipóteses de hediondez


relativas ao crime de roubo. Antes da Lei 13.964/2019, o único crime de
roubo que era considerado hediondo era o roubo qualificado pela morte da
vítima, chamado pela doutrina de latrocínio. Com o advento do Pacote
Anticrime, outras modalidades de roubo também passaram a ser etiquetadas
como hediondas. Vejamos cada uma delas separadamente:

1) ROUBO MEDIANTE A RESTRIÇÃO DA LIBERDADE DA


VÍTIMA

Art. 157, § 2º, V - se o agente mantém a vítima em seu poder,


restringindo sua liberdade

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DIA 06

Trata-se de inovação legislativa trazida pelo Pacote Anticrime!


De acordo com o disposto no art. 157, §2°, inciso V, do Código Penal,
aumenta-se a pena do crime de roubo de 1/3 (um terço) até metade se o
agente mantém a vítima em seu poder, restringindo sua liberdade.
Ressalta-se que a restrição da liberdade da vítima deve perdurar por
tempo juridicamente relevante, ou seja, o autor do delito deve permanecer
com a vítima em seu poder por tempo superior àquele estritamente necessário
para a execução do roubo, quer para assegurar o produto do crime, quer para
não ser localizado pela Polícia.
De se notar que o roubo circunstanciado pela restrição da liberdade da
vítima foi a única figura delituosa constante do §2° do art. 157 do CP alçada à
natureza hedionda.

2) ROUBO MEDIANTE O EMPREGO DE ARMA DE FOGO

Art. 157, § 2º-A, I – se a violência ou ameaça é exercida com


emprego de arma de fogo.

De acordo com o art. 157, §2°-A, inciso I, do CP, a pena do crime de


roubo aumenta-se de 2/3 (dois terços) se a violência ou ameaça é exercida
com emprego de arma de fogo.
O parágrafo ora em comento revela a gravidade do delito quando
presentes a violência e a grave ameaça com emprego de arma de fogo.
Atenção, a lei foi taxativa em dizer “arma de fogo”, logo, o emprego
de violência ou grave ameaça para subtração de coisa alheia com arma
branca, não será considerado hediondo.

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USE A #DESAFIO7DD

DIA 06

Vale salientar que a Lei 13.964/2019 reestabeleceu a majorante da


pena, se a violência ou grave ameaça é exercida com emprego de “arma
branca”, nesse caso, o deito não será considerado hediondo e
majorante será de 1/3 a ½.

3) ROUBO MEDIANTE O EMPREGO DE ARMA DE FOGO DE


USO PROIBIDO OU RESTRITO –

Art. 157, § 2º-B - Se a violência ou grave ameaça é exercida


com emprego de arma de fogo de uso restrito ou proibido.

Se a violência ou grave ameaça for exercida com emprego de arma de


fogo de uso restrito ou proibido, aplica-se em dobro a pena prevista no caput
do art. 157.
Essa causa de aumento de pena funciona como verdadeira norma penal
em branco heterogênea, cuja complementação está inserida em ato
administrativo, qual seja, o Decreto n. 9.847/19, que define arma de fogo de
uso restrito e de uso proibido em seu art. 2°, II e III, nos seguintes termos:
"II - arma de fogo de uso restrito - as armas de fogo
automáticas e as semiautomáticas ou de repetição que sejam:
a) não portáteis;
b) de porte, cujo calibre nominal, com a utilização de
munição comum, atinja, na saída do cano de prova, energia
cinética superior a mil e duzentas libras-pé ou mil seiscentos e
vinte joules; ou
c) portáteis de alma raiada, cujo calibre nominal, com a
utilização de munição comum, atinja, na saída do cano de
prova, energia cinética superior a mil e duzentas libras-pé ou
mil seiscentos e vinte joules;
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USE A #DESAFIO7DD

DIA 06

III - arma de fogo de uso proibido:


a) as armas de fogo classificadas de uso proibido em acordos
e tratados internacionais dos quais a República Federativa do
Brasil seja signatária; ou
b) as armas de fogo dissimuladas, com aparência de objetos
inofensivos";

Conclusão: A utilização de QUALQUER ARMA DE FOGO (de uso


permitido, restrito ou proibido) torna o roubo hediondo. Mas não se esqueça:
o roubo com arma branca não é crime hediondo!

4) ROUBO QUALIFICADO PELA LESÃO CORPORAL GRAVE


OU MORTE (LATROCÍNIO)

Art. 157, § 3º - Se da violência resulta: (Redação dada pela


Lei nº 13.654, de 2018)
I – lesão corporal grave, a pena é de reclusão de 7 (sete) a
18 (dezoito) anos, e multa; (Incluído pela Lei nº 13.654,
de 2018)
II – morte, a pena é de reclusão de 20 (vinte) a 30
(trinta) anos, e multa. (Incluído pela Lei nº 13.654,
de 2018)

4.1. Roubo qualificado pela lesão corporal grave

De acordo com a doutrina, a expressão "lesão corporal grave" abrange


não apenas a lesão corporal grave propriamente dita, mas também a lesão
corporal gravíssima (CP, art. 129, §§1° e 2°, respectivamente).
É dominante o entendimento no sentido de que eventual lesão corporal
leve resultante do emprego da violência durante a prática do crime de roubo
não terá o condão de qualificá-lo.
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USE A #DESAFIO7DD

DIA 06

O resultado agravador pode ter sido suportado pela vítima da subtração


ou por terceiro.

4.2. Roubo qualificado pela morte (latrocínio) –

Ocorre quando, da violência empregada no roubo, ocorre a morte da


vítima, podendo ser a título de dolo ou de culpa.
Em relação ao latrocínio, é importante lembrar que:
• Para que haja latrocínio é necessário que a morte decorra da violência
empregada durante e em razão do roubo. Ou seja: é necessário que haja
o fator tempo e o fator nexo, de modo que, na ausência de um desses,
não há que se falar em latrocínio.
• À luz do entendimento dos Tribunais Superiores, o crime se consuma
com a morte da vítima, ainda que o agente não subtraia o bem:

Súmula 610 – STF - Há crime de latrocínio, quando o


homicídio se consuma, ainda que não se realize o agente a
subtração de bens da vítima.

• Por se tratar de um crime contra o patrimônio, a competência é do juiz


singular, e não do Tribunal do Júri:

SÚMULA 603 – STF: A competência para o processo e


julgamento de latrocínio é do juiz singular e não do tribunal
do júri.

Um crime preterdoloso pode ser crime hediondo?


R.: SIM! Veja a explicação do Professor Renato Brasileiro:
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USE A #DESAFIO7DD

DIA 06

“De mais a mais, é perfeitamente possível que um delito


preterdoloso seja considerado hediondo. Basta ver o exemplo
do crime hediondo (Lei nº 8.072/90, art. 1 º, VII) de
epidemia com resultado morte (CP, art. 267, § 1°), no qual a
morte é provocada a título de culpa. Logo, o coautor que, de
maneira consciente, participa de um crime de roubo armado,
responde pelo crime hediondo de latrocínio ainda que o
disparo fatal tenha sido efetuado por seus comparsas. Afinal,
se tinha consciência de que o crime de roubo seria executado
com o emprego de arma de fogo, era no mínimo previsível a
superveniência do resultado morte”

• Inciso III: EXTORSÃO QUALIFICADA PELA


RESTRIÇÃO DA LIBERDADE DA VÍTIMA,
OCORRÊNCIA DE LESÃO CORPORAL OU MORTE
(ART. 158, § 3º);

Dispõe o §3º do art. 158, do Código Penal:

Art. 158 - Constranger alguém, mediante violência ou grave


ameaça, e com o intuito de obter para si ou para outrem
indevida vantagem econômica, a fazer, tolerar que se faça ou
deixar de fazer alguma coisa:
Pena - reclusão, de quatro a dez anos, e multa.
[...]
§ 3o Se o crime é cometido mediante a restrição da liberdade
da vítima, e essa condição é necessária para a obtenção da
vantagem econômica, a pena é de reclusão, de 6 (seis) a 12
(doze) anos, além da multa; se resulta lesão corporal grave ou
morte, aplicam-se as penas previstas no art. 159, §§ 2o e 3o,
respectivamente.

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USE A #DESAFIO7DD

DIA 06

Na redação anterior ao Pacote Anticrime, o art. 1 °, inciso III, da Lei n.


8.072/90, rotulava como hediondo a "extorsão qualificada pela morte (art.
158, §2°)". Com a entrada em vigor da Lei n. 13.964/19, o inciso III passou a
considerar hediondo a extorsão qualificada pela restrição da liberdade da
vítima, ocorrência de lesão corporal ou morte (art. 158, §3°), em uma
tentativa de corrigir a omissão da Lei anterior e solucionar as famosas
controvérsias doutrinárias.

PARA PROVA DISCURSIVA... VEJA A DIVERGÊNCIA QUE FOI


PACIFICADA PELO PACOTE ANTICRIME!!!

Extorsão com restrição da liberdade qualificada pelo resultado LC grave ou


morte é crime hediondo? Pois o art. 1, III da Lei 8072/90 faz remissão
expressa ao art. 158, §2º, sendo silente acerca do §3º.
1ª posição - Majoritária: Não é hediondo
A lei de crimes hediondos adotou o sistema legal, elencando um rol exaustivo
de crimes etiquetados como tal de modo que não é possível considerar o
sequestro relâmpago com resultado morte como hediondo em apreço ao P. da
Legalidade Penal.

“Defendendo uma interpretação restritiva da lei, como forma de preservar a


garantia da legalidade penal e evitar a analogia, muitos juristas afastavam o
caráter hediondo do “sequestro-relâmpago” com resultado morte”.

2ª posição–LFG e Sanches: É hediondo


1- O art. 158, §3º é desdobramento formal e apenas exemplificativo de uma
das possíveis formas de se praticar o crime de extorsão que podem culminar
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USE A #DESAFIO7DD

DIA 06

no evento morte (art. 158, §2º). Não é crime autônomo. A qualificadora “com
resultado morte” já está presente no art. 158, §2º. O §3º apenas disciplina um
meio de execução específico. A interpretação literal tem que ser acompanhada
da interpretação teleológica, racional, da norma. Assim, as regras aplicadas ao
delito geral (art. 158, §2º) devem ser igualmente aplicadas ao crime específico
(art. 158, §3º) permanecendo hediondo quando ocorre o evento morte.
2- Para a admissão do sequestro relâmpago com resultado morte (art. 158,
§3º) como hediondo basta utilizar a interpretação extensiva, que não é vedada
pelo Direito Penal, ainda que utilizada contra o réu, desde que seja essa a
inequívoca vontade do legislador.
3 - Posição em sentido diverso contraria o princípio da proporcionalidade: é
aceitar que a extorsão simples com resultado morte configura crime hediondo
ao passo que a extorsão qualificada pelo meio executório empregado (restrição
da liberdade) com resultado morte – que sinaliza o maior reprovabilidade do
comportamento – não é etiquetado como hediondo.

Assim, de acordo com a doutrina majoritária, com o advento do Pacote


Anticrime, passaram a ser consideradas hediondas todas as formas de
extorsão mediante a restrição da liberdade da vítima,
independentemente de haver resultado qualificador ou não. Ou seja, são
hediondos:
(1) Extorsão qualificada pela restrição da liberdade da vítima,
(2) Extorsão qualificada pela restrição da liberdade da vítima com
ocorrência de lesão corporal
(3) Extorsão qualificada pela restrição da liberdade da vítima com morte

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USE A #DESAFIO7DD

DIA 06

Mas e o crime de extorsão qualificada previsto no art. 158, §2°, do


Código Penal? Continua sendo hediondo diante das mudanças
produzidas pelo Pacote Anticrime?
R.: NÃO! E é aí que entra a crítica doutrinária acerca da mudança
trazida pelo Pacote Anticrime. Isso porque a extorsão com restrição da
liberdade da vítima sem resultados especialmente agravadores (ou seja, sem
que produza morte ou lesão corporal grave) tem pena de 6 a 12 anos de
reclusão (§ 3º) é considerado crime hediondo, ao passo que a extorsão
qualificada pelo resultado, prevista no § 2º, é mais grave (quando há lesão
grave, a pena é de 7 a 18 anos e quando há morte, reclusão, de 20 a 30 anos)
não é etiquetada como hediondo.
Em outras palavras: no § 3º, temos crime hediondo (pena de 6 A 12);
no § 2º, não, apesar das sanções penais mais severas (pena de 7 a 8 ou 20 a
30). Ou seja, há uma clara violação ao princípio da proporcionalidade!

Veja a explicação do Professor Renato Brasileiro sobre o assunto:

“De fato, ao promover a alteração do inciso III do art. 1 ° da


Lei n. 8.072/90 para incluir a extorsão qualificada pela
restrição da liberdade da vítima, ocorrência de lesão corporal
ou morte, citando entre parênteses o art. 158, §3°, do CP, o
legislador, deliberadamente (ou não) - pensamos que foi um
erro grosseiro mesmo - excluiu do rol dos crimes hediondos a
extorsão qualificada pela morte, tipificada no art. 158, §2°, do
Código Penal. Por mais absurdo e desproporcional que possa
parecer - tome-se como exemplo o fato de o roubo
qualificado pelo resultado morte ser hediondo -, a extorsão -
e não a extorsão qualificada pela restrição da liberdade da

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USE A #DESAFIO7DD

DIA 06

vítima -, que sempre recebeu igual tratamento dispensado ao


roubo, inclusive no tocante à sua gravidade, não é delito
hediondo, nem mesmo se qualificado pela morte.”

Vamos esquematizar?

ANTES DA LEI 13.964/2019 DEPOIS DA LEI 13.964/2019

Extorsão qualificada pela morte (art. 158, • Extorsão qualificada pela restrição da
§ 2o); liberdade da vítima,
Ou seja: • Extorsão qualificada pela restrição da
• Extorsão simples com resultado morte liberdade da vítima com ocorrência de
(art. 158, §2º) é crime hediondo. lesão corporal
• Qualquer extorsão que resulte lesão • Extorsão qualificada pela restrição da
corporal não é hediondo. liberdade da vítima com morte

• INCISO IV: EXTORSÃO MEDIANTE SEQUESTRO E NA


FORMA QUALIFICADA (ART. 159, CAPUT, E §§ 1O, 2O E
3O);

O delito de extorsão mediante sequestro é etiquetado como hediondo


independentemente da modalidade, seja na modalidade simples ou na
modalidade qualificada, na forma tentada ou consumada.
Art. 159 - Seqüestrar pessoa com o fim de obter, para si ou
para outrem, qualquer vantagem, como condição ou preço do
resgate:
Pena - reclusão, de oito a quinze anos..
§ 1o Se o seqüestro dura mais de 24 (vinte e quatro) horas, se
o seqüestrado é menor de 18 (dezoito) ou maior de 60
(sessenta) anos, ou se o crime é cometido por bando ou
quadrilha.
Pena - reclusão, de doze a vinte anos.

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USE A #DESAFIO7DD

DIA 06

§ 2º - Se do fato resulta lesão corporal de natureza


grave:
Pena - reclusão, de dezesseis a vinte e quatro anos.
§ 3º - Se resulta a morte:
Pena - reclusão, de vinte e quatro a trinta anos.

• INCISO V: ESTUPRO (ART. 213, CAPUT E §§ 1O E 2O);

Art. 213. Constranger alguém, mediante violência ou grave


ameaça, a ter conjunção carnal ou a praticar ou permitir que
com ele se pratique outro ato libidinoso:
Pena - reclusão, de 6 (seis) a 10 (dez) anos.
§ 1o Se da conduta resulta lesão corporal de natureza grave
ou se a vítima é menor de 18 (dezoito) ou maior de 14
(catorze) anos:
Pena - reclusão, de 8 (oito) a 12 (doze) anos.
§ 2o Se da conduta resulta morte:
Pena - reclusão, de 12 (doze) a 30 (trinta) anos

O delito de estupro é considerado hediondo independente da


modalidade.

ANTES DA LEI 12.015/09 APÓS A LEI 12.015/09


1ª Corrente: somente o estupro Estupro simples e qualificado:
qualificado é hediondo. sempre são considerados crimes
hediondos.
2ª Corrente STF e STJ: toda forma de
estupro, simples ou qualificado é
hedionda.

• INCISO VI: ESTUPRO DE VULNERÁVEL (ART. 217-


A, CAPUT E §§ 1O, 2O, 3O E 4O);

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USE A #DESAFIO7DD

DIA 06

Estupro de vulnerável
Art. 217-A. Ter conjunção carnal ou praticar outro ato
libidinoso com menor de 14 (catorze) anos:
Pena - reclusão, de 8 (oito) a 15 (quinze) anos.
§ 1o Incorre na mesma pena quem pratica as ações descritas
no caput com alguém que, por enfermidade ou deficiência
mental, não tem o necessário discernimento para a prática do
ato, ou que, por qualquer outra causa, não pode oferecer
resistência.
§ 2o (VETADO)
§ 3o Se da conduta resulta lesão corporal de natureza
grave:
Pena - reclusão, de 10 (dez) a 20 (vinte) anos.
§ 4o Se da conduta resulta morte:
Pena - reclusão, de 12 (doze) a 30 (trinta) anos.
§ 5º As penas previstas no caput e nos §§ 1º, 3º e 4º deste
artigo aplicam-se independentemente do consentimento da
vítima ou do fato de ela ter mantido relações sexuais
anteriormente ao crime. (Incluído pela Lei nº 13.718, de
2018)

ANTES DA LEI 12.015/09 APÓS A LEI 12.015/09


1ª Corrente: estupro com violência
presumida não é hediondo. Prevê como hediondo o estupro de
vulnerável, não importando se com ou
2ª Corrente: estupro com violência sem violência.
presumida, a exemplo do estupro com
violência real é crime hediondo.

STJ (2013- inf. 519): estupro com violência presumida (vulnerável), praticado
antes da Lei 12.015/09 é hediondo.

“Os crimes de estupro e atentado violento ao pudor


praticados anteriormente à Lei n.º 12.015/2009, ainda que
mediante violência presumida, configuram crimes hediondos.
Precedentes desta Corte e do Supremo Tribunal Federal. 2.
Embargos de divergência acolhidos a fim de reconhecer a

31
USE A #DESAFIO7DD

DIA 06

hediondez do crime praticado pelo Embargado” (REsp.


1225387/RS, rel. Min. Laurita Vaz, Dje 04/09/2013)

• INCISO VII: EPIDEMIA COM RESULTADO MORTE (ART. 267,


§ 1O).

Art. 267 - Causar epidemia, mediante a propagação de germes


patogênicos:
Pena - reclusão, de dez a quinze anos.
§ 1º - Se do fato resulta morte, a pena é aplicada em dobro.
§ 2º - No caso de culpa, a pena é de detenção, de um a dois
anos, ou, se resulta morte, de dois a quatro anos.

Epidemia é a difusão de doença mediante a propagação de genes


patogênicos.
Ressalta-se que somente a propagação de doença humana é que
configura o crime do art. 267, §1º do Código Penal, já que, em se tratando de
enfermidade que atinja animais ou plantas, o crime será o do art. 61, Lei nº
9.605/98, não hediondo por falta de previsão legal.
A epidemia, por si só, não é crime hediondo. Exige-se que seja
qualificada pela morte (crime preterdoloso).

• INCISO VII: B - FALSIFICAÇÃO, CORRUPÇÃO,


ADULTERAÇÃO OU ALTERAÇÃO DE PRODUTO
DESTINADO A FINS TERAPÊUTICOS OU MEDICINAIS (ART.
273, CAPUT E § 1O, § 1O-A E § 1O-B, COM A REDAÇÃO DADA
PELA LEI NO 9.677, DE 2 DE JULHO DE 1998).

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USE A #DESAFIO7DD

DIA 06

Art. 273 - Falsificar, corromper, adulterar ou alterar produto


destinado a fins terapêuticos ou medicinais:
Pena - reclusão, de 10 (dez) a 15 (quinze) anos, e
multa.
§ 1º - Nas mesmas penas incorre quem importa, vende,
expõe à venda, tem em depósito para vender ou, de qualquer
forma, distribui ou entrega a consumo o produto falsificado,
corrompido, adulterado ou alterado.
§ 1º-A - Incluem-se entre os produtos a que se refere
este artigo os medicamentos, as matérias-primas, os insumos
farmacêuticos, os cosméticos, os saneantes e os de uso em
diagnóstico.
§ 1º-B - Está sujeito às penas deste artigo quem pratica
as ações previstas no § 1º em relação a produtos em qualquer
das seguintes condições:
I - sem registro, quando exigível, no órgão de vigilância
sanitária competente;
II - em desacordo com a fórmula constante do registro
previsto no inciso anterior;
III - sem as características de identidade e qualidade
admitidas para a sua comercialização;
IV - com redução de seu valor terapêutico ou de sua
atividade;
V - de procedência ignorada;
VI - adquiridos de estabelecimento sem licença da
autoridade sanitária competente.

Obs.: De acordo com a doutrina e com a jurisprudência, o preceito secundário


do art. 273, é inconstitucional por violar a proporcionalidade, tendo em vista
prever uma reprimenda demasiadamente exagerada para o bem jurídico em
questão. (10 a 15 anos de reclusão).

Por esse motivo, o STJ entendeu ser inconstitucional o preceito


secundário do art. 273, § 1°-B, V, do CP devendo-se considerar, no cálculo da

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USE A #DESAFIO7DD

DIA 06

reprimenda, a pena prevista no caput do art. 33 da Lei 11.343/2006 (Lei de


Drogas). Na visão do STJ, impõe-se ao legislador o dever de observância do
princípio da proporcionalidade como proibição de excesso e como proibição
de proteção insuficiente.

Inconstitucionalidade do preceito secundário do art.


273, § 1º-B, V, do CP
O § 1º-B foi inserido no art. 273 do CP por força da Lei
9.677/98. O objetivo do legislador foi o de punir pessoas que
vendem determinados “produtos destinados a fins
terapêuticos ou medicinais” e que, embora não se possa dizer
que sejam falsificados, estão em determinadas condições que
fazem com que seu uso seja potencialmente perigoso para a
população. A pena prevista pelo legislador para o § 1º-B foi
de 10 a 15 anos de reclusão. Ocorre que essa pena é muito
alta e, por conta disso, começou a surgir entre os advogados
que militam na área a constante alegação de que essa
reprimenda seria inconstitucional por violar o princípio da
proporcionalidade.

A tese foi acolhida pelo STJ?


SIM. O STJ decidiu que o preceito secundário do art. 273, §
1º-B, inciso V, do CP é inconstitucional por ofensa aos
princípios da proporcionalidade e da razoabilidade.

O que o STF entende a respeito?


O Plenário do STF ainda não se manifestou sobre o tema.
No entanto, existem precedentes da Corte em sentido
contrário ao que decidiu o STJ, ou seja, acórdãos sustentando
que o § 1º-B do art. 273 é CONSTITUCIONAL (RE 829226
AgR, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 10/02/2015; RE
844152 AgR, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em
02/12/2014).

Para fins de concurso, você deve estar atento para o modo


como a pergunta será formulada. Se indagarem a posição do
STJ, é pela inconstitucionalidade. Se perguntarem sobre o

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USE A #DESAFIO7DD

DIA 06

STF, este possui precedentes sustentando que o art. 273, § 1º-


B, do CP é constitucional. Caso o enunciado não diga qual
dos dois entendimentos está sendo exigido, assinale a posição
STJ porque esta foi divulgada em Informativo e é mais
conhecida. STJ. Corte especial. AI no HC 239363-PR, Rel.
Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 26/2/2015 (Info 559).
STJ. 5ª Turma. AgRg no AREsp 1192979/SP, Rel. Min. Jorge
Mussi, julgado em 13/12/2018.

Fonte: Dizer o Direito

Será possível aplicar para o réu que praticou o art. 273, § 1º-B do
CP a causa de diminuição prevista no § 4º do art. 33 da Lei nº
11.343/2006? R.: A jurisprudência do STJ está dividida:
• 5ª Turma: SIM. Nesse sentido: STJ. 5ª Turma. AgRg no REsp
1810273/SP, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, julgado em 01/10/2019.
• 6ª Turma: NÃO. Por ausência de previsão legal: STJ. 6ª Turma. AgRg
no REsp 1740663/PR, Rel. Min. Nefi Cordeiro, julgado em
11/06/2019.

• INCISO VIII: FAVORECIMENTO DA PROSTITUIÇÃO


OU DE OUTRA FORMA DE EXPLORAÇÃO SEXUAL DE
CRIANÇA OU ADOLESCENTE OU DE VULNERÁVEL
(ART. 218-B, CAPUT, E §§ 1º E 2º).

Art. 218-B. Submeter, induzir ou atrair à prostituição ou


outra forma de exploração sexual alguém menor de 18
(dezoito) anos ou que, por enfermidade ou deficiência
mental, não tem o necessário discernimento para a prática do
ato, facilitá-la, impedir ou dificultar que a abandone:
Pena - reclusão, de 4 (quatro) a 10 (dez) anos.

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USE A #DESAFIO7DD

DIA 06

§ 1o Se o crime é praticado com o fim de obter vantagem


econômica, aplica-se também multa.
§ 2o Incorre nas mesmas penas:
I - quem pratica conjunção carnal ou outro ato libidinoso
com alguém menor de 18 (dezoito) e maior de 14 (catorze)
anos na situação descrita no caput deste artigo;
II - o proprietário, o gerente ou o responsável pelo local em
que se verifiquem as práticas referidas no caput deste
artigo.

Com o advento da Lei nº 12.978, que entrou em vigor no dia 22 de


maio de 2014, para além da mudança do nome jurídico do art. 218-B do
Código Penal, também foi acrescentado ao art. 1º da Lei nº 8.072/90 o inciso
VIII para rotular tal crime como hediondo.
Nas modalidades submeter, induzir, atrair e facilitar consuma-se o
delito no momento em que a vítima passa a se dedicar à prostituição,
colocando-se, de forma constante, à disposição dos clientes, ainda que não
tenha atendido nenhum. Trata-se, portanto, de um crime instantâneo, ainda
que de efeitos permanentes.
Já na modalidade de impedir ou dificultar o abandono da
prostituição, o crime consuma-se no momento em que a vítima delibera por
deixar a atividade e o agente obsta esse intento, protraindo a consumação
durante todo o período de embaraço (crime permanente). Ou seja, aqui, temos
um crime permanente. Assim, considerando a natureza permanente do crime,
quem antes da lei, dificultou o abandono, persistindo o embaraço na vigência
da nova lei, vai ser alcançado pela mudança legislativa, conforme o
entendimento da Súmula 711, STF

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USE A #DESAFIO7DD

DIA 06

Súmula 711, STF: A lei penal mais grave aplica-se ao crime


continuado ou ao crime permanente, se a sua vigência é
anterior à cessação da continuidade ou da permanência.

Obs.: Vamos relembrar alguns entendimentos recentes do STJ


sobre esse crime?
• Nos termos do art. 218-B do Código Penal, são punidos tanto
aquele que capta a vítima, inserindo-a na prostituição ou outra forma
de exploração sexual (caput), como também o cliente do menor
prostituído ou sexualmente explorado (§ 1º). STJ. 5ª Turma. HC
371633/SP, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 19/03/2019 (Info 645).
• A vulnerabilidade no caso do art. 218-B do CP é relativa
No art. 218-B do Código Penal não basta aferir a idade da vítima,
devendo-se averiguar se o menor de 18 (dezoito) anos ou a pessoa
enferma ou doente mental, não tem o necessário discernimento para a
prática do ato, ou por outra causa não pode oferecer resistência. STJ. 5ª
Turma. HC 371633/SP, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 19/03/2019
(Info 645).
• O tipo penal não exige habitualidade. Basta um único contato
consciente com a adolescente submetida à prostituição para que se
configure o crime.

• INCISO IX: FURTO QUALIFICADO PELO EMPREGO


DE EXPLOSIVO OU DE ARTEFATO ANÁLOGO QUE
CAUSE PERIGO COMUM (ART. 155, § 4º-A).

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USE A #DESAFIO7DD

DIA 06

O ingresso do parágrafo 4º do art. 5º do Código Penal no art. 1º da lei


8.072 é uma novidade oriunda do “pacote anticrime” lei 13.964/2019.

Furto
Art. 155 - Subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia móvel:
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.
Furto qualificado
§ 4º-A A pena é de reclusão de 4 (quatro) a 10 (dez) anos e
multa, se houver emprego de explosivo ou de artefato
análogo que cause perigo comum. (Incluído pela Lei nº
13.654, de 2018)

Até a entrada em vigor do Pacote Anticrime, nenhuma modalidade de


furto era rotulada como hedionda, justamente por não envolver violência e
grave ameaça contra a pessoa e por tutelar única e exclusivamente o
patrimônio da vítima (bem jurídico considerado disponível).
No entanto, com base no critério de maior reprovabilidade da conduta
do agente que utiliza instrumentos que possam resultar em perigo comum,
a Lei n. 13.964/19 conferiu caráter hediondo ao crime de furto qualificado
pelo emprego de explosivo ou de artefato análogo que cause perigo comum.
Crítica doutrinária: O crime de furto mediante a utilização de
explosivos ou artefato análogo é crime hediondo, ao passo que o roubo
mediante o emprego de explosivos não foi considerado hediondo, mesmo
sendo claramente mais grave que o furto, indicando uma evidente violação ao
princípio da proporcionalidade. Nas palavras de Renato Brasileiro (2020):

Interessante notar que o Pacote Anticrime rotulou como


hediondo o crime de furto qualificado pelo emprego de
explosivo ou de artefato análogo que cause perigo comum -
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USE A #DESAFIO7DD

DIA 06

CP, art. 155, §4°-A, incluído pela Lei n. 13.654/18 -, porém,


inexplicavelmente, olvidou-se de fazer o mesmo com o crime
de roubo circunstanciado pela destruição ou rompimento de
obstáculo mediante o emprego de explosivo ou de artefato
análogo que cause perigo comum - CP, art. 157, §2°-A, inciso
II, também incluído pela Lei n. 13.654/18 -, delito este
inegavelmente muito mais grave do que o furto em questão.
Sem embargo do evidente equívoco do legislador, como se
adota o sistema legal como critério para determinação dos
crimes hediondos, ao magistrado não se defere a
possibilidade de considerá-lo hediondo sob o argumento de
que as circunstâncias fáticas dos crimes são semelhantes - e
até mais gravosas -, sob pena de evidente violação ao
princípio da legalidade.

Adentraremos agora, na maior alteração ocorrida na lei, introduzida


pelo “pacote anticrime” lei 13.964/2019, qual seja, o parágrafo único do art.
1º. Particularmente, acreditamos que as alterações feitas no parágrafo único,
organizaram e facilitaram o entendimento sobre o tema, sendo bastante
preciso e taxativo naquilo que pretendeu o legislador.

5. CRIMES HEDIONDOS PREVISTOS NO § ÚNICO

Parágrafo único. Consideram-se também hediondos, tentados


ou consumados: (Redação dada pela Lei nº 13.964, de 2019)
I - o crime de genocídio, previsto nos arts. 1º, 2º e 3º da Lei
nº 2.889, de 1º de outubro de 1956; (Incluído pela Lei
nº 13.964, de 2019)
II - o crime de posse ou porte ilegal de arma de fogo de
uso proibido, previsto no art. 16 da Lei nº 10.826, de 22 de
dezembro de 2003; (Incluído pela Lei nº 13.964, de
2019)
III - o crime de comércio ilegal de armas de fogo,
previsto no art. 17 da Lei nº 10.826, de 22 de dezembro de
2003; (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

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USE A #DESAFIO7DD

DIA 06

IV - o crime de tráfico internacional de arma de fogo,


acessório ou munição, previsto no art. 18 da Lei nº 10.826, de
22 de dezembro de 2003; (Incluído pela Lei nº 13.964, de
2019)
V - o crime de organização criminosa, quando direcionado à
prática de crime hediondo ou equiparado. (Incluído pela
Lei nº 13.964, de 2019)

ANTES DO PACOTE APÓS O PACOTE


ANTICRIME ANTICRIME
Consideram-se também hediondos: Consideram-se também hediondos:
⦁ Genocídio ⦁ Genocídio, previsto nos arts. 1º, 2º
⦁ Posse ou porte ilegal de arma de e 3º da Lei nº 2.889, de 1º de
fogo de uso restrito outubro de 1956;
⦁ Posse ou porte ilegal de arma de
fogo de uso proibido, previsto no
art. 16 da Lei nº 10.826, de 22 de
dezembro de 2003;
⦁ Comércio ilegal de armas de fogo,
previsto no art. 17 da Lei nº 10.826,
de 22 de dezembro de 2003;
⦁ Tráfico internacional de arma de
fogo, acessório ou munição,
previsto no art. 18 da Lei nº 10.826,
de 22 de dezembro de 2003;
⦁ Organização criminosa, quando
direcionado à prática de crime
hediondo ou equiparado

• Inciso I: Crime de Genocídio

O inciso I do parágrafo único da Lei 8.072/90 estabelece o crime de


Genocídio, nas modalidades constantes dos art. 1º, 2º e 3º, da Lei 2.889/56,
como crime hediondo, sendo consumados ou tentados. Vejamos:

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USE A #DESAFIO7DD

DIA 06

Art. 1º Quem, com a intenção de destruir, no todo ou em


parte, grupo nacional, étnico, racial ou religioso, como tal:
a) matar membros do grupo;
b) causar lesão grave à integridade física ou mental de
membros do grupo;
c) submeter intencionalmente o grupo a condições de
existência capazes de ocasionar-lhe a destruição física total ou
parcial;
d) adotar medidas destinadas a impedir os nascimentos no
seio do grupo;
e) efetuar a transferência forçada de crianças do grupo para
outro grupo;

Art. 2º Associarem-se mais de 3 (três) pessoas para prática


dos crimes mencionados no artigo anterior.
Pena: Metade da cominada aos crimes ali previstos.
Art. 3º Incitar, direta e publicamente alguém a cometer
qualquer dos crimes de que trata o art. 1º:
Pena: Metade das penas ali cominadas.
§ 1º A pena pelo crime de incitação será a mesma de crime
incitado, se este se consumar.
§ 2º A pena será aumentada de 1/3 (um terço), quando a
incitação for cometida pela imprensa.

Portanto, são considerados crimes hediondos:


(1) Crime de genocídio – art. 1º
(2) Crime de associação para a pratica de genocídio – art. 2º
(3) Crime de incitação ao genocídio – art. 3º

Perceba que as condutas que caracterizam o crime de genocídio como


crime hediondo vão além do crime propriamente dito, pois será considerada
também como hedionda a conduta de quem associa-se para praticá-lo, assim
como quem promove a sua incitação.

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USE A #DESAFIO7DD

DIA 06

Ressalta-se que o art. 8º da Lei 8.072/90 prevê uma pena de 3 (três) a 6


(seis) anos para o crime de associação criminosa quando se tratar de crimes
hediondos. Ora, considerando-se que, por força do art. 1 º, parágrafo único,
da Lei nº 8.072/90, o crime de associação para a prática de genocídio
previsto no art. 2° da Lei nº 2.889/56 também é considerado crime
hediondo, a ele deve ser aplicada a pena cominada no art. 8° da Lei nº
8.072/90, que prevê a pena de três a seis anos de reclusão para toda forma de
associação para a prática de crime hediondo
Fato que merece nossa atenção é a distinção do crime de Genocídio
para o crime de homicídio praticado por grupo de extermínio. Há
características próprias entre os mesmos que os diferem de forma clara.

GENOCÍDIO GRUPO DE EXTERMÍNIO


ü Dolo específico de destruir, no todo
ü Eliminar apenas alguns de seus
ou em parte, determinado grupo; integrantes;
ü Visam um grupo específico nacional,ü Visam qualquer grupo por
étnico, racial ou religioso características econômicas, sociais,
raciais, religiosas, etc.
ü Caracteriza-se não somente pela ü Caracteriza-se, obrigatoriamente,
morte, mas também pela lesão grave pela morte de alguém do grupo.
à integridade física ou mental de
membros do grupo, submissão
intencional do grupo a condições de
existência capazes de ocasionar-lhes
a destruição física total ou parcial,
bem como adoção de medidas
destinadas a impedir os nascimentos
no seio do grupo e, por fim, efetuar
a transferência forçada de crianças
do grupo para outro grupo.
ü Na hipótese de morte , no todo ou ü Crime doloso contra a vida de

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USE A #DESAFIO7DD

DIA 06

em parte, do grupo, não trata-se de competência do Tribunal do Júri,


crime contra a vida, mas tem para processá-lo e julgá-lo.
natureza supranacional, aqui cuida-se
da preservação da pessoa humana,
devendo ser julgado e processado
por um juíz singular.

Vale relembrar!
Cumpre recordarmos que o genocídio é um típico exemplo de norma penal
em branco “ao avesso”, isto é, temos as condutas criminosas, mas faltam as
respectivas penas, o preceito secundário está incompleto.
A norma penal em branco ao avesso é aquela em que o preceito primário é
completo, mas o preceito secundário carece de complemento normativo,
sendo certo que este complemento deve derivar da lei, sob pena de lesão ao
princípio da reserva legal.

• INCISO II: POSSE OU PORTE ILEGAL DE ARMA DE FOGO


DE USO PROIBIDO

Trata-se da posse ou porte ilegal de arma de fogo de uso PROIBIDO,


previsto no art. 16 da Lei no 10.826, de 22 de dezembro de 2003.
Ocorre que o Pacote Anticrime também promoveu alterações no
Estatuto do Desarmamento, ocasião em que o legislador passou a diferenciar
as condutas que envolvem arma de fogo de uso restrito e proibido, colocando
esta última como qualificadora do delito em questão, no §2º Veja:

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USE A #DESAFIO7DD

DIA 06

Art. 16. Possuir, deter, portar, adquirir, fornecer, receber, ter


em depósito, transportar, ceder, ainda que gratuitamente,
emprestar, remeter, empregar, manter sob sua guarda ou
ocultar arma de fogo, acessório ou munição de uso restrito,
sem autorização e em desacordo com determinação legal ou
regulamentar: (Redação dada pela Lei nº 13.964, de 2019)
Pena – reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos, e multa.

§ 1º Nas mesmas penas incorre quem: (Redação dada pela


Lei nº 13.964, de 2019)
I – Suprimir ou alterar marca, numeração ou qualquer sinal de
identificação de arma de fogo ou artefato;
II – Modificar as características de arma de fogo, de forma a
torná-la equivalente a arma de fogo de uso proibido ou
restrito ou para fins de dificultar ou de qualquer modo
induzir a erro autoridade policial, perito ou juiz;
III – possuir, detiver, fabricar ou empregar artefato explosivo
ou incendiário, sem autorização ou em desacordo com
determinação legal ou regulamentar;
IV – Portar, possuir, adquirir, transportar ou fornecer arma
de fogo com numeração, marca ou qualquer outro sinal de
identificação raspado, suprimido ou adulterado;
V – Vender, entregar ou fornecer, ainda que gratuitamente,
arma de fogo, acessório, munição ou explosivo a criança ou
adolescente; e
VI – Produzir, recarregar ou reciclar, sem autorização legal,
ou adulterar, de qualquer forma, munição ou explosivo.
§ 2º Se as condutas descritas no caput e no § 1º deste artigo
envolverem arma de fogo de uso proibido, a pena é de
reclusão, de 4 (quatro) a 12 (doze) anos. (Incluído pela Lei
nº 13.964, de 2019)

F Aqui, neste tipo penal, não há a necessidade de


diferenciar a posse do porte de arma de uso proibido,
vez que ambas as condutas encontram-se tipificadas
no mesmo §2º.

REDAÇÃO ANTIGA REDAÇÃO NOVA


Art. 16. Possuir, deter, portar, adquirir, “Art. 16. Possuir, deter, portar, adquirir,
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USE A #DESAFIO7DD

DIA 06

fornecer, receber, ter em depósito, fornecer, receber, ter em depósito,


transportar, ceder, ainda que transportar, ceder, ainda que
gratuitamente, emprestar, remeter, gratuitamente, emprestar, remeter,
empregar, manter sob sua guarda ou empregar, manter sob sua guarda ou
ocultar arma de fogo, acessório ou ocultar arma de fogo, acessório ou
munição de uso proibido ou restrito, munição de uso restrito, sem
sem autorização e em desacordo com autorização e em desacordo com
determinação legal ou regulamentar: determinação legal ou regulamentar:
Pena – reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) § 1º (...)
anos, e multa.
§ ÚNICO (...)
Sem §2º § 2º Se as condutas descritas no caput e
no § 1º deste artigo envolverem arma de
fogo de uso proibido, a pena é de
reclusão, de 4 (quatro) a 12 (doze) anos.”
(NR)

Assim, antes do Pacote Anticrime, considerava-se hediondo o crime


"de posse ou porte ilegal de arma de fogo de uso restrito previsto no art.
16 da Lei n. 10.826/03”, suscitando, inclusive, controvérsias sobre a
abrangência ou não dos incisos I a VI do referido artigo.
No entanto, com o advento do Pacote Anticrime e as alterações
promovidas no próprio Estatuto do Desarmamento (que deslocou todas as
condutas referentes ao “uso proibido” do caput para o §2º), passou-se a
considerar hediondo apenas o PORTE OU POSSE ILEGAL DE ARMA
DE FOGO DE USO PROIBIDO.
Ressalta-se que a Lei de crimes hediondos fala somente em ARMA DE
FOGO DE USO PROIBIDO, não mencionando os demais objetos
materiais previstos no art. 16, quais sejam, acessório ou munição. Por este
motivo, a doutrina majoritária entende que o PORTE/POSSE ILEGAL
DE ACESSÓRIO OU MUNIÇÃO DE USO PROIBIDO NÃO É

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USE A #DESAFIO7DD

DIA 06

CONSIDERADO CRIME HEDIONDO, sob pena de caracterizar


analogia in malam partem e consequente violação ao princípio da legalidade.
Explica o professor Renato Brasileiro:
“Fosse a intenção do legislador de tratar como hedionda toda
e qualquer conduta relativa a artefatos de uso proibido, o
inciso II ora sob comento deveria ter sido redigido nos
seguintes termos: "O crime de posse ou porte ilegal de arma
de fogo, acessório ou munição de uso proibido ". In casu,
não se pode querer aplicar o mesmo raciocínio anteriormente
desenvolvido (itens 1 e 2 acima) quanto ao antigo crime
hediondo de posse ou porte ilegal de arma de fogo de uso
restrito (redação do parágrafo único do art . 1 º da Lei n.
8.072/90 dada pela Lei n. 13.497/17), de modo a se concluir
que toda e qualquer conduta atinente a artefatos de uso
proibido seria hedionda por uma razão muito simples: posse
ou porte ilegal de arma de fogo de uso proibido não é o
nomen iuris do delito , mas sim uma mera qualificadora do
crime do art. 16, doravante inserida no §2°, que, portanto, há
de ser interpretada restritivamente, sob pena de odiosa
violação ao princípio da legalidade.

Obs.: pensamos que a referida norma possuiu natureza dúplice. Isso


porque:
ü A norma será benéfica em relação àqueles praticaram a conduta de
posse ou porte ilegal de arma de fogo de uso restrito, pois essa
modalidade não é mais considerada hedionda (novatio legis in mellius e
caráter retroativo)
ü A norma será maléfica em relação àqueles que cometerem o porte de
arma de fogo de uso proibido, considerando que, além de ser tratada
como hediondo, tornou-se qualificadora do delito previsto no artigo 16
do Estatuto do Desarmamento, com pena maior de 4 a 12 anos de
reclusão.
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USE A #DESAFIO7DD

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• INCISO III: CRIME DE COMÉRCIO ILEGAL DE ARMAS DE


FOGO

Comércio ilegal de arma de fogo


Art. 17. Adquirir, alugar, receber, transportar, conduzir,
ocultar, ter em depósito, desmontar, montar, remontar,
adulterar, vender, expor à venda, ou de qualquer forma
utilizar, em proveito próprio ou alheio, no exercício de
atividade comercial ou industrial, arma de fogo, acessório ou
munição, sem autorização ou em desacordo com
determinação legal ou regulamentar:
Pena - reclusão, de 6 (seis) a 12 (doze) anos, e
multa. (Redação dada pela Lei nº 13.964, de 2019)
§ 1º Equipara-se à atividade comercial ou industrial, para
efeito deste artigo, qualquer forma de prestação de serviços,
fabricação ou comércio irregular ou clandestino, inclusive o
exercido em residência. (Redação dada pela Lei nº
13.964, de 2019)
§ 2º Incorre na mesma pena quem vende ou entrega arma de
fogo, acessório ou munição, sem autorização ou em
desacordo com a determinação legal ou regulamentar, a
agente policial disfarçado, quando presentes elementos
probatórios razoáveis de conduta criminal
preexistente. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

REDAÇÃO ANTIGA REDAÇÃO NOVA


Art. 17. “Art. 17.
............................................................ Pena - reclusão, de 6 (seis) a 12 (doze) anos, e
................. multa.
Pena - reclusão, de 4 (quatro) a 8 § 1º
(oito) anos, e multa.
Sem §2º § 2º Incorre na mesma pena quem vende ou
entrega arma de fogo, acessório ou munição,
sem autorização ou em desacordo com a
determinação legal ou regulamentar, a agente
policial disfarçado, quando presentes
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USE A #DESAFIO7DD

DIA 06

elementos probatórios razoáveis de conduta


criminal preexistente.” (NR)

Trata-se de atualização introduzida pela lei 13.964/2019 “pacote


anticrime”, incluindo, no rol taxativo dos crimes hediondos, o comércio ilegal
de arma de fogo previsto no art. 17 do Estatuto do Desarmamento.
Assim, todas as modalidades deste delito, incluindo as previstas no §2º,
passam a ser consideradas como hediondas.
Explica Renato Brasileiro (2020):

Por conseguinte, todas as figuras delituosas previstas no art.


17 e 18 são consideradas hediondas, não apenas aquelas
previstas no caput, mas também as equiparadas. A uma
porque o legislador fez referência ao crime de comércio ilegal
de arma de fogo e ao delito de tráfico internacional de arma
de fogo, acessório ou munição, porque estas são as rubricas
marginais (nomen iuris) constantes dos arts. 17 e 18 do
Estatuto do Desarmamento. A duas porque, quisesse o
legislador conferir natureza hedionda apenas a determinadas
condutas ali previstas, deveria ter feito menção explícita ao
caput do art. 17 (ou ao do art. 18). Se não o fez, não é dado
ao intérprete fazê-lo. Enfim, hão de ser consideradas
hediondas tanto as condutas do caput, quanto aquelas
equiparadas.

• INCISO IV: CRIME DE TRÁFICO INTERNACIONAL DE


ARMA DE FOGO, ACESSÓRIO OU MUNIÇÃO

Tráfico internacional de arma de fogo


Art. 18. Importar, exportar, favorecer a entrada ou saída do
território nacional, a qualquer título, de arma de fogo,
acessório ou munição, sem autorização da autoridade
competente:
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USE A #DESAFIO7DD

DIA 06

Pena - reclusão, de 8 (oito) a 16 (dezesseis) anos, e


multa. (Redação dada pela Lei nº 13.964, de 2019)
Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem vende ou
entrega arma de fogo, acessório ou munição, em operação de
importação, sem autorização da autoridade competente, a
agente policial disfarçado, quando presentes elementos
probatórios razoáveis de conduta criminal
preexistente. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

REDAÇÃO ANTIGA REDAÇÃO NOVA


Art. 18. ..... “Art. 18. ....
Pena - reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) Pena - reclusão, de 8 (oito) a 16
anos, e multa. (dezesseis) anos, e multa.
Sem § único. Parágrafo único. Incorre na mesma pena
quem vende ou entrega arma de fogo,
acessório ou munição, em operação de
importação, sem autorização da
autoridade competente, a agente policial
disfarçado, quando presentes elementos
probatórios razoáveis de conduta
criminal preexistente.” (NR)

Mais uma inovação trazida pelo “pacote anticrime” lei 13.964/2019,


rotulando o crime de tráfico internacional de armas de fogo, acessórios e
munições como crime hediondo. Doravante, o delito ora em comento, será
reprimido com maior rigor.

• INCISO V: CRIME DE ORGANIZAÇÃO CRIMINOSA,


QUANDO DIRECIONADO À PRÁTICA DE CRIME
HEDIONDO OU EQUIPARADO

Art. 1º Esta Lei define organização criminosa e dispõe sobre


a investigação criminal, os meios de obtenção da prova,

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USE A #DESAFIO7DD

DIA 06

infrações penais correlatas e o procedimento criminal a ser


aplicado.
§ 1º Considera-se organização criminosa a associação de 4
(quatro) ou mais pessoas estruturalmente ordenada e
caracterizada pela divisão de tarefas, ainda que
informalmente, com objetivo de obter, direta ou
indiretamente, vantagem de qualquer natureza, mediante a
prática de infrações penais cujas penas máximas sejam
superiores a 4 (quatro) anos, ou que sejam de caráter
transnacional.

A Lei 13.964/19 acrescentou o inc. V ao parágrafo único do art. 1º da


lei ora em comento, etiquetando como hediondo o crime de organização
criminosa, quando esta tiver por finalidade a prática de crime hediondo ou
equiparado.
Veja bem, a Lei 13.964/19 não tornou o crime de organização
criminosa em si, um delito hediondo, mas tão somente quando se destinar à
pratica de crime hediondo ou equiparado.
Lembre-se que o crime de organização independe da prática efetiva de
crimes, bastando que haja a reunião estável, permanente e hierárquica das
pessoas para a prática de crimes. E se ela for para a prática de crime hediondo
ou equiparado, aí sim, será hediondo.
Ressalta-se outras formas de associação, como, por exemplo, a
associação criminosa (CP, art. 288) e a constituição de milícia privada (CP, art.
288-A, incluído pela Lei n. 12.720/12), não devem ser rotuladas como
hediondas, ainda que direcionadas à prática de crime hediondo ou equiparado,
sob pena de evidente violação ao princípio da legalidade. (Não esqueça da
exceção comentada acima acerca da associação para a prática de genocídio!)

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USE A #DESAFIO7DD

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5.1 Crimes Equiparados Ao Hediondos

TRÁFICO
3T TORTURA
TERRORISMO

Frente à expressa determinação da Constituição Federal, são


equiparados aos crimes hediondos os delitos de tráfico de droga, tortura e
terrorismo.
Tal conceituação é exaustivamente cobrada em provas objetivas, uma
vez que, mesmo ensejando o procedimento de recrudescimento idêntico aos
dos crimes hediondos, eles são considerados equiparados, e não propriamente
hediondos pela doutrina, fique atento!

5.1.1 Tráfico de Drogas

Encontra-se tipificado pela Lei 11.343/03


De acordo com o STF, o tráfico privilegiado de drogas não tem
natureza de crime hediondo, por conseguinte não são exigíveis requisitos mais
severos para o livramento condicional e para a progressão de regime. (HC
118533, Pleno STF)

Lembre-se que essa figura privilegiada reclama a presença de quatro requisitos


cumulativos (diminuição de 1/6 a 2/3):
1. Agente primário;
2. Bons antecedentes;

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DIA 06

3. Não se dedica a atividades criminosas;


4. Não integrar organizações criminosas.

5.1.2 Tortura

Encontra-se previsto ao teor da Lei nº 9.455/97.


De acordo com a doutrina majoritária, o crime de tortura por omissão
não é considerado crime equiparado a hediondo!

5.1.3 Terrorismo
O crime de terrorismo é definido pelo art. 2°, caput, da Lei n.
13.260/16

6. ESPECIFICIDADES DOS CRIMES HEDIONDOS

6.1 Insuscetibilidade de Graça, Anistia e Indulto

Inicialmente, cumpre destacarmos que as consequências/vedações


também são aplicadas aos crimes “equiparados” a hediondos, quais sejam,
tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, tortura e terrorismo.
Nos termos do art. 2º, inciso I, da Lei nº 8.072/90, os crimes
hediondos são insuscetíveis de anistia, graça e indulto. Nesse sentido, dispõe o
texto supracitado, bem como, a Constituição Federal, senão vejamos.

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Art. 2º, Lei nº 8072/90: Os crimes hediondos, a prática da


tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins e o
terrorismo são insuscetíveis de: I - anistia, graça e indulto;

Art. 5º, XLIII CF - a lei considerará crimes inafiançáveis e


insuscetíveis de graça ou anistia a prática da tortura, o
tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o terrorismo e
os definidos como crimes hediondos, por eles respondendo
os mandantes, os executores e os que, podendo evitá-los, se
omitirem.

Repare que, enquanto a Lei de Crimes Hediondos proíbe a concessão


de anistia, graça e indulto, a CF/88 proíbe apenas anistia e a graça, sem fazer
menção expressa ao indulto. Essa vedação do indulto prevista na lei 8.072/90
(e não está na CF) é constitucional?

1º corrente: Inconstitucional – A lei extrapolou a vedação constitucional.


Considerando que a CF/88 traz proibições máximas, não pode o legislador
ordinário suplantá-las. A concessão do indulto é atribuição do chefe do Poder
Executivo (Presidente da República), não podendo o legislador ordinário
limitá-lo.
2º corrente – STF/ Majoritária - Constitucional. A CF traz vedações
mínimas (" a lei considerará"), quem irá trabalhar é o legislador, a CF/88 dá
um PATAMAR MÍNIMO DE PROIBIÇÃO. A vedação da graça abrange
indulto, que nada mais é do que uma graça coletiva.

Obs.: Chama-se indulto humanitário aquele concedido por razões de grave


deficiência física ou em virtude de debilitado estado de saúde do executado.
Temos decisões admitindo o induto humanitário com fundamento no

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USE A #DESAFIO7DD

DIA 06

princípio da humanidade das penas, até mesmo para condenados por crimes
hediondos e equiparados (STJ). O STF, no HC 118/213 SP, não permitiu
induto humanitário para tráfico de drogas.  

6.2 Insuscetibilidade de Fiança

Os crimes hediondos e equiparados são inafiançáveis.

Art. 2º. Os crimes hediondos, a prática da tortura, o tráfico


ilícito de entorpecentes e drogas afins e o terrorismo são
insuscetíveis de:
II - fiança.

Cumpre destacar que, na redação original da Lei dos Crimes


Hediondos, também era vedada a liberdade provisória sem fiança. Essa
proibição, contudo, foi abolida pela Lei 11.464/2007.

ANTES DA LEI 11.464/2007 DEPOIS DA LEI 11.464/2007


Vedava: Veda:
1) Fiança 1) Fiança
2) Liberdade provisória

Nesse sentido, atualmente, a doutrina majoritária entende ser possível a


concessão de liberdade provisória sem fiança, a depender do convencimento
do Juiz, no sentido de estarem ausentes os requisitos para a decretação da
prisão preventiva.

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USE A #DESAFIO7DD

DIA 06

6.3 Regime Inicial Fechado para o Cumprimento da Pena Privativa de


Liberdade

Art. 2º, § 1º, da Lei 8.072/90: “A pena por crime previsto


neste artigo será cumprida inicialmente em regime fechado”.  

Em sua redação original, a Lei dos Crimes Hediondos previa que o


regime deveria ser integralmente fechado, ou seja, iniciaria e terminaria o
cumprimento da pena em regime fechado, sem direito à progressão de regime.
No entanto, no HC 82959, o STF decidiu pela inconstitucionalidade
desse regime, haja vista a clara violação aos princípios da individualização da
pena, da proporcionalidade e também da dignidade da pessoa humana. Nessa
esteira, passou-se a admitir a progressão de regime nos termos da LEP.
Ressalta-se que a obrigatoriedade do regime inicial fechado
continua no texto da lei, mas a jurisprudência e doutrina já se manifestaram
pela inconstitucionalidade da previsão por entenderem que viola o princípio
da individualização da pena, devendo o juiz analisar o caso concreto para
fundamentar sua decisão.
Conclusão: O legislador não pode obrigar o Juiz a aplicar um
determinado regime prisional, de modo que, na fixação do regime inicial, o
magistrado deve observar as Súmulas 718 e 719 do STF.

Súmula 718 STF: “A opinião do julgador sobre a gravidade


em abstrato do crime não constitui motivação idônea para a
imposição de regime mais severo do que o permitido segundo
a pena aplicada.” Não pode fixar regime c/ base a gravidade
em abstrato apenas.

55
USE A #DESAFIO7DD

DIA 06

Súmula 719 STF: “A imposição do regime de cumprimento


mais severo do que a pena aplicada permitir exige motivação
idônea”.

O STF decidiu que o regime inicial fechado também é inconstitucional,


por violação dos princípios da individualização da pena e da
proporcionalidade, e por falta de previsão na CF (Plenário, HC 111.840,
Informativo 672):

EMENTA Habeas corpus. Penal. Tráfico de entorpecentes. Crime


praticado durante a vigência da Lei nº 11.464/07. Pena inferior a 8
anos de reclusão. Obrigatoriedade de imposição do regime inicial
fechado. Declaração incidental de inconstitucionalidade do § 1º do
art. 2º da Lei nº 8.072/90. Ofensa à garantia constitucional da
individualização da pena (inciso XLVI do art. 5º da CF/88).
Fundamentação necessária (CP, art. 33, § 3º, c/c o art. 59).
Possibilidade de fixação, no caso em exame, do regime semiaberto
para o início de cumprimento da pena privativa de liberdade. Ordem
concedida. 1. Verifica-se que o delito foi praticado em 10/10/09, já
na vigência da Lei nº 11.464/07, a qual instituiu a obrigatoriedade da
imposição do regime inicialmente fechado aos crimes hediondos e
assemelhados. 2. Se a Constituição Federal menciona que a lei
regulará a individualização da pena, é natural que ela exista. Do
mesmo modo, os critérios para a fixação do regime prisional inicial
devem-se harmonizar com as garantias constitucionais, sendo
necessário exigir- se sempre a fundamentação do regime imposto,
ainda que se trate de crime hediondo ou equiparado. 3. Na situação
em análise, em que o paciente, condenado a cumprir pena de seis (6)
anos de reclusão, ostenta circunstâncias subjetivas favoráveis, o
regime prisional, à luz do art. 33, § 2º, alínea b, deve ser o
semiaberto. 4. Tais circunstâncias não elidem a possibilidade de o
magistrado, em eventual apreciação das condições subjetivas
desfavoráveis, vir a estabelecer regime prisional mais severo, desde
que o faça em razão de elementos concretos e individualizados,
aptos a demonstrar a necessidade de maior rigor da medida privativa
de liberdade do indivíduo, nos termos do § 3º do art. 33, c/c o art.
59, do Código Penal. 5. Ordem concedida tão somente para remover
56
USE A #DESAFIO7DD

DIA 06

o óbice constante do § 1º do art. 2º da Lei nº 8.072/90, com a


redação dada pela Lei nº 11.464/07, o qual determina que “[a] pena
por crime previsto neste artigo será cumprida inicialmente em
regime fechado“. Declaração incidental de inconstitucionalidade,
com efeito ex nunc, da obrigatoriedade de fixação do regime
fechado para início do cumprimento de pena decorrente da
condenação por crime hediondo ou equiparado. (HC 111840,
Relator (a): Min. DIAS TOFFOLI, Tribunal Pleno, julgado em
27/06/2012, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-249 DIVULG 16-
12-2013 PUBLIC 17-12-2013).

Obs.: A lei 11 464/07 é novatio legis in pejus, logo irretroativa.


• SV nº 26 - Para efeito de progressão de regime no cumprimento de pena
por crime hediondo, ou equiparado, o juízo da execução observará a
inconstitucionalidade do art.2 da lei 8.072, de 25 de julho de 1990, sem
prejuízo de avaliar se o condenado preenche, ou não, os requisitos
objetivos e subjetivos do benefício, podendo determinar, para tal fim, de
modo fundamentado, a realização de exame criminológico.
• Súmula 471 do STJ - Os condenados por crimes hediondos ou
assemelhados cometidos antes da vigência da Lei n. 11.464/2007
sujeitam-se ao disposto no art. 112 da Lei n. 7.210/1984 (Lei de
Execução Penal) para a progressão de regime prisional.

Obs.: Regime Inicial de Cumprimento de Pena na Lei de Tortura

§ 7º O condenado por crime previsto nesta Lei, salvo a


hipótese do § 2º, iniciará o cumprimento da pena em regime
fechado.

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USE A #DESAFIO7DD

DIA 06

O § 7º dispõe que o condenado por crime previsto nesta Lei, salvo a


hipótese do § 2º (omissão perante a tortura), iniciará o cumprimento da pena
em regime fechado.
Entretanto, tendo em vista que o STF entende que o regime inicial
fechado é inconstitucional por violar o princípio constitucional da
individualização da pena, para a doutrina majoritária, é evidente que essa
interpretação também deve ser aplicada aos crimes equiparados a hediondo, a
exemplo da tortura.
Logo, a despeito do disposto no art. 1 º, § 7°, da Lei nº 9.455/97,
também não é obrigatório que o condenado por crime de tortura inicie o
cumprimento da pena no regime prisional fechado.

Inf. 540, STJ – HC 286.925: “não é obrigatório que o


condenado por crime de tortura inicie o cumprimento da pena
em regime inicialmente fechado”.

No entanto, apesar desse entendimento, mesmo após a decisão proferida pelo


Plenário do STF no julgamento do HC 111.840/ES, a lª Turma do Supremo
vem entendendo que o condenado por crime de tortura deve iniciar o
cumprimento da pena em regime fechado, nos termos do disposto no § 7° do
art. 1° da Lei 9.455/1997. Para o Supremo, em consonância com a
Constituição Federal, a Lei n. 9.455/97 teria feito uma opção válida, ao prever
que, considerada a gravidade do crime de tortura, a execução da pena, ainda
que fixada no mínimo legal, deveria ser cumprida inicialmente em regime
fechado, sem prejuízo de posterior progressão.

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USE A #DESAFIO7DD

DIA 06

CUIDADO COM INF. 789, STF (2015): CRIME DE


TORTURA E REGIME INICIAL DE CUMPRIMENTO
DA PENA. O condenado por crime de tortura iniciará o
cumprimento da pena em regime fechado, nos termos do
disposto no § 7º do art. 1º da Lei 9.455/1997 - Lei de Tortura.
Com base nessa orientação, a Primeira Turma denegou pedido
formulado em “habeas corpus”, no qual se pretendia o
reconhecimento de constrangimento ilegal consubstanciado na
fixação, em sentença penal transitada em julgado, do
cumprimento das penas impostas aos pacientes em regime
inicialmente fechado. (...) O Ministro Marco Aurélio (relator)
denegou a ordem. Considerou que, no caso, a dosimetria e o
regime inicial de cumprimento das penas fixadas atenderiam
aos ditames legais. Asseverou não caber articular com a Lei de
Crimes Hediondos, pois a regência específica (Lei 9.455/1997)
prevê expressamente que o condenado por crime de tortura
iniciará o cumprimento da pena em regime fechado, o que não
se confundiria com a imposição de regime de cumprimento da
pena integralmente fechado. Assinalou que o legislador
ordinário, em consonância com a CF/1988, teria feito uma
opção válida, ao prever que, considerada a gravidade do crime
de tortura, a execução da pena, ainda que fixada no mínimo
legal, deveria ser cumprida inicialmente em regime fechado,
sem prejuízo de posterior progressão. Os Ministros Roberto
Barroso e Rosa Weber acompanharam o relator, com a
ressalva de seus entendimentos pessoais no sentido do não
conhecimento do “writ”. O Ministro Luiz Fux, não obstante
entender que o presente “habeas corpus” faria as vezes de
revisão criminal, ante o trânsito em julgado da decisão
impugnada, acompanhou o relator. HC 123316/SE, rel. Min.
Marco Aurélio, 9.6.2015. (HC-123316)

6.4 Critérios Diferenciados para Concessão de Livramento Condicional.

Art. 5° Será concedido livramento condicional desde que


cumprido mais de dois terços da pena, nos casos de
condenação por crime hediondo, prática da tortura, tráfico
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USE A #DESAFIO7DD

DIA 06

ilícito de entorpecentes e drogas afins, e terrorismo, se o


apenado não for reincidente específico em crimes dessa
natureza.

Art. 83 - O juiz poderá conceder livramento condicional ao


condenado a pena privativa de liberdade igual ou superior a 2
(dois) anos, desde que:
I - cumprida mais de um terço da pena se o condenado não
for reincidente em crime doloso e tiver bons antecedentes;
II - cumprida mais da metade se o condenado for reincidente
em crime doloso;
III - comprovado: (Redação dada pela Lei nº 13.964,
de 2019)
a) bom comportamento durante a execução da
pena; (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
b) não cometimento de falta grave nos últimos 12 (doze)
meses; (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
c) bom desempenho no trabalho que lhe foi atribuído;
e(Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
d) aptidão para prover a própria subsistência mediante
trabalho honesto; (Incluído pela Lei nº 13.964, de
2019)
IV - Tenha reparado, salvo efetiva impossibilidade de fazê-lo,
o dano causado pela infração;
V - cumpridos mais de dois terços da pena, nos casos de
condenação por crime hediondo, prática de tortura,
tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, tráfico de
pessoas e terrorismo, se o apenado não for reincidente
específico em crimes dessa natureza. (Incluído
pela Lei nº 13.344, de 2016) (Vigência)
Parágrafo único - Para o condenado por crime doloso,
cometido com violência ou grave ameaça à pessoa, a
concessão do livramento ficará também subordinada à
constatação de condições pessoais que façam presumir que o
liberado não voltará a delinqüir

É possível o livramento para os crimes hediondos e assemelhados (3T


– trafico, tortura e terrorismo), depois de ter havido o cumprimento de 2/3 da

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USE A #DESAFIO7DD

DIA 06

pena e não ser reincidente especifico (hediondo ou assemelhado),


independentemente de ser o mesmo delito ou não.
Atente-se que a vedação ao reincidente específico é apenas para a
concessão do livramento condicional, e não para a concessão dos demais
benefícios.

Regra geral – 1/3 do cumprimento de pena.


Hediondos – 2/3 do cumprimento de pena.

6.5 Progressão de Regime

A progressão de Regime para os crimes hediondos era tipificada no §2º


do art.2º da Lei 8.072/90, assim previa:

§ 2o A progressão de regime, no caso dos condenados aos


crimes previstos neste artigo, dar-se-á após o cumprimento
de 2/5 (dois quintos) da pena, se o apenado for
primário, e de 3/5 (três quintos), se
reincidente. (Redação dada pela Lei nº 11.464, de 2007)

Ocorre que, com o advento da Lei 13.964/19, o “pacote anticrime”, tal


dispositivo foi revogado!! A partir de agora, a progressão de regime voltará a
ser guiado pelo art. 112 da Lei de Execução Penal (LEP), que também sofreu
alterações pela referida Lei, estabelecendo novos prazos a serem cumpridos.
Vejamos:

Art. 112. A pena privativa de liberdade será executada em


forma progressiva com a transferência para regime menos

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USE A #DESAFIO7DD

DIA 06

rigoroso, a ser determinada pelo juiz, quando o preso tiver


cumprido ao menos:
I - 16% (dezesseis por cento) da pena, se o apenado for
primário e o crime tiver sido cometido sem violência à pessoa
ou grave ameaça;
II - 20% (vinte por cento) da pena, se o apenado for
reincidente em crime cometido sem violência à pessoa ou
grave ameaça;
III - 25% (vinte e cinco por cento) da pena, se o apenado for
primário e o crime tiver sido cometido com violência à
pessoa ou grave ameaça;
IV - 30% (trinta por cento) da pena, se o apenado for
reincidente em crime cometido com violência à pessoa ou
grave ameaça;
V - 40% (quarenta por cento) da pena, se o apenado for
condenado pela prática de crime hediondo ou equiparado,
se for primário;
VI - 50% (cinquenta por cento) da pena, se o apenado
for:
a) condenado pela prática de crime hediondo ou
equiparado, com resultado morte, se for primário,
vedado o livramento condicional;
b) condenado por exercer o comando, individual ou
coletivo, de organização criminosa estruturada para a
prática de crime hediondo ou equiparado; ou
c) condenado pela prática do crime de constituição de
milícia privada;
VII - 60% (sessenta por cento) da pena, se o apenado for
reincidente na prática de crime hediondo ou
equiparado;
VIII - 70% (setenta por cento) da pena, se o apenado for
reincidente em crime hediondo ou equiparado com
resultado morte, vedado o livramento condicional.
§ 1º Em todos os casos, o apenado só terá direito à
progressão de regime se ostentar boa conduta carcerária,
comprovada pelo diretor do estabelecimento, respeitadas as
normas que vedam a progressão.
§ 2º A decisão do juiz que determinar a progressão de regime
será sempre motivada e precedida de manifestação do
Ministério Público e do defensor, procedimento que também

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USE A #DESAFIO7DD

DIA 06

será adotado na concessão de livramento condicional, indulto


e comutação de penas, respeitados os prazos previstos nas
normas vigentes.
.............................................................................................
§ 5º Não se considera hediondo ou equiparado, para os
fins deste artigo, o crime de tráfico de drogas previsto
no § 4º do art. 33 da Lei nº 11.343, de 23 de agosto de
2006.
§ 6º O cometimento de falta grave durante a execução da
pena privativa de liberdade interrompe o prazo para a
obtenção da progressão no regime de cumprimento da pena,
caso em que o reinício da contagem do requisito objetivo terá
como base a pena remanescente.
§ 7º (VETADO). ” (NR)

ESQUEMATIZANDO:

CONDENADO POR CRIME HEDIONDO


OU EQUIPARADO SE O RÉU
40 FOR PRIMÁRIO

% CONDENADO PELA PRÁTICA DE PRIMÁRIO


CRIME HEDIONDO OU EQUIPARADO,
% COM RESULTADO MORTE, SE FOR
PRIMÁRIO, VEDADO O LIVRAMENTO
VEDADO O
CONDICIONAL
% LIVRAMENTO
CONDICIOANAL

CONDENADO POR EXERCER O


50 COMANDO, INDIVIDUAL OU
COLETIVO, DE ORGANIZAÇÃO
CRIMINOSA ESTRUTURADA PARA A
% PRÁTICA DE CRIME HEDIONDO OU
PROGRESSÃO EQUIPARADO
DE REGIME
NOS CRIMES
CONDENADO PELA PRÁTICA DO
HEDIONDOS CRIME DE CONSTITUIÇÃO DE
MILÍCIA PRIVADA

SE O APENADO FOR REINCIDENTE NA


60 REINCIDENTE
PRÁTICA DE CRIME HEDIONDO OU
EQUIPARADO
%
63
USE A #DESAFIO7DD

DIA 06

SE O APENADO FOR REINCIDENTE


EM CRIME HEDIONDO OU VEDADO O
REINCIDENTE EQUIPARADO COM RESULTADO LIVRAMENTO
70 MORTE, VEDADO O
CONDICIOANAL
LIVRAMENTO CONDICIONAL.
%

PROGRESSÃO DE REGIME AOS CRIMES HEDIONDOS


40% Primário + Crime Hediondo/equiparado
Primário + Crime Hediondo/Equiparado, com
50 % resultado morte, VEDADO O LIVRAMENTO
CONDICIONAL

Exercer o comando, individual ou coletivo, de


organização criminosa estruturada para a prática de
crime hediondo ou equiparado

60% Reincidente + Crime Hediondo/Equiparado

70% Reincidente + Crime Hediondo/Equiparado, com


resultado morte, VEDADO O LIVRAMENTO
CONDICIONAL

6.6 Direito de Recorrer em Liberdade

§3º Em caso de sentença condenatória, o juiz decidirá


fundamentadamente se o réu poderá apelar em liberdade.

• Interpretação conforme a CF: Réu processado preso, recorre preso, salvo se


desaparecerem os fundamentos que determinaram a decretação da prisão

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USE A #DESAFIO7DD

DIA 06

preventiva. Por outro lado, réu processado solto, via de regra, recorre solto,
salvo se presentes os fundamentos da prisão preventiva, eis a interpretação
conforme a Constituição.
• Ante o exposto, contemplamos que está vedado a imposição da condição de
recolhimento ao cárcere para recorrer, devendo a sua decretação quando
necessária ser fundamentada, em observância ao art. 93, IX, da CF.

6.7 Estabelecimentos Penais De Segurança Máxima

“Art. 3º da Lei 8.072/90: A União manterá estabelecimentos


penais, de segurança máxima, destinados ao cumprimento de
penas impostas a condenados de alta periculosidade, cuja
permanência em presídios estaduais ponha em risco a ordem
ou incolumidade pública”.

Obs.: O condenado de alta periculosidade pode não ser


necessariamente um condenado por crime hediondo ou equiparado.

• Condenado federal cumprindo pena em estabelecimento estadual:


Competência da execução é do JUIZ ESTADUAL - Súmula 192 do STJ.

Súmula 192 do STJ - compete ao juízo das execuções penais


do estado a execução das penas impostas a sentenciados pela
justiça federal, militar ou eleitoral, quando recolhidos a
estabelecimentos sujeitos a administração estadual.

• Condenado no âmbito estadual, cumprindo pena em


estabelecimento federal: A competência para atuar na execução é da
JUSTIÇA FEDERAL.
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USE A #DESAFIO7DD

DIA 06

 
Mesma lógica: a competência é de quem fiscaliza o
estabelecimento.

6.8 Prioridade no Trâmite dos Processos

Em atendimento ao Código de Processo Penal, haverá prioridade de


tramitação dos processos que versarem sobre crimes hediondos.

Art. 394-A. Os processos que apurem a prática de crime


hediondo terão prioridade de tramitação em todas as
instâncias.

7. PRISÃO TEMPORÁRIA E CRIMES HEDIONDOS

Por fim, e com alto índice de cobrança nas provas objetivas, bem como
relevância para a confecção de representações rotineiramente presentes em
provas de segunda fase, há a previsão de prazo excepcional para a prisão
temporária nos crimes hediondos.
A prisão temporária é uma modalidade de prisão provisória, decretada
antes do trânsito em julgado da condenação, e tem natureza cautelar. No
Brasil a prisão temporária é possível apenas na fase investigatória, por esse
motivo ela não pode ser decretada de ofício pelo juiz, dependendo de
requerimento do MP ou representação da autoridade policial.

§ 4o A prisão temporária, sobre a qual dispõe a Lei no 7.960,


de 21 de dezembro de 1989, nos crimes previstos neste

66
USE A #DESAFIO7DD

DIA 06

artigo, terá o prazo de 30 (trinta) dias, prorrogável por igual


período em caso de extrema e comprovada necessidade.

Atenção ao prazo de 30 dias que pode ser prorrogado por igual


período na hipótese de comprovada necessidade, desde que demostrado em
concreto.

PRISÃO TEMPORÁRIA – PRISÃO TEMPORÁRIA –


REGRA GERAL HEDIONDOS
5 dias, prorrogáveis por igual 30 dias, prorrogáveis por igual
período. período

Rol de crimes que aceitam a Prisão Temporária


(previsto pela lei 7.960 de 1989):
II - quando houver fundadas razões, de acordo com qualquer
prova admitida na legislação penal, de autoria ou participação do
indiciado nos seguintes crimes:
a) homicídio doloso (art. 121, caput, e seu § 2°);
b) seqüestro ou cárcere privado (art. 148, caput, e seus §§ 1° e 2°);
c) roubo (art. 157, caput, e seus §§ 1°, 2° e 3°);
d) extorsão (art. 158, caput, e seus §§ 1° e 2°);
e) extorsão mediante seqüestro (art. 159, caput, e seus §§ 1°, 2° e
3°);
f) estupro (art. 213, caput, e sua combinação com o art. 223,
caput, e parágrafo único);
g) atentado violento ao pudor (art. 214, caput, e sua combinação
com o art. 223, caput, e parágrafo único);

67
USE A #DESAFIO7DD

DIA 06

h) rapto violento (art. 219, e sua combinação com o art. 223 caput,
e parágrafo único);
i) epidemia com resultado de morte (art. 267, § 1°);
j) envenenamento de água potável ou substância alimentícia ou
medicinal qualificado pela morte (art. 270, caput, combinado com art.
285);
l) quadrilha ou bando (art. 288), todos do Código Penal;
m) genocídio (arts. 1°, 2° e 3° da Lei n° 2.889, de 1° de outubro de
1956), em qualquer de sua formas típicas;
n) tráfico de drogas (art. 12 da Lei n° 6.368, de 21 de outubro de
1976);
o) crimes contra o sistema financeiro (Lei n° 7.492, de 16 de junho
de 1986).

M O crime de envenenamento de água potável já foi considerado


hediondo, mas hoje em dia é crime simples, de modo que o
prazo da prisão temporária será 5 + 5 dias.

Existem crimes hediondos que não estão previstos no rol de crimes que
admitem temporária (art. 1º, III da Lei. 7960/89). Esses crimes admitem essa
modalidade de prisão cautelar? Ex.: crimes de estupro de vulnerável (art.217
CP), falsificação de remédios (art.273 CP), tortura e terrorismo
R.: Para a doutrina majoritária, a Lei 7.960 é lei ordinária, assim como a
lei 8.072. Nesse sentido, a lei 8.072 poderá aumentar o prazo da prisão

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DIA 06

temporária (de 5+5 para 30 +30), bem como aumentar o rol de crimes
hediondos.
O §4º do art.2º da lei 8.072/1990 ampliou, não apenas, o prazo da
prisão temporária, mas também o rol dos delitos passiveis de prisão
temporária.

8. CAUSA DE AUMENTO DO §9º DA LEI DE CRIMES


HEDIONDOS

! Explicação retirada do site Dizer o Direito:

Veja a redação do art. 9º da Lei nº 8.072/90:

Art. 9º As penas fixadas no art. 6º para os crimes capitulados


nos arts. 157, § 3º, 158, § 2º, 159, caput e seus §§ 1º, 2º e 3º,
213, caput e sua combinação com o art. 223, caput e
parágrafo único, 214 e sua combinação com o art. 223, caput
e parágrafo único, todos do Código Penal, são acrescidas de
metade, respeitado o limite superior de trinta anos de
reclusão, estando a vítima em qualquer das hipóteses referidas
no art. 224 também do Código Penal.

Essa causa de aumento prevista no art. 9º da Lei de Crimes


Hediondos ainda está em vigor?

NÃO. O entendimento do STJ e do STF é o de que o art. 9º da Lei de


Crimes Hediondos foi revogado tacitamente pela Lei nº 12.015/2009,

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USE A #DESAFIO7DD

DIA 06

considerando que esta Lei revogou o art. 224 do CP, que era mencionado pelo
art. 9º.

Logo, como não mais existe o art. 224 no CP, conclui-se que o art. 9º
da Lei de Crimes Hediondos perdeu a eficácia (expressão utilizada em um
voto do Min. Dias Toffoli).

O art. 9º da Lei de Crimes Hediondos ficou carente de complemento


normativo em vigor, razão pela qual foi revogada a causa de aumento nele
consignada.

Imagine que uma pessoa foi condenada, antes da Lei nº


12.015/2009, pela prática de estupro contra menor de 14 anos com a
incidência da causa de aumento do art. 9º da Lei de Crimes Hediondos.
Como ocorreu a revogação tácita do art. 9º, essa pessoa poderá alegar
que houve novatio legis in mellius e pedir para retirar de sua
condenação a causa de aumento do art. 9º?

SIM. Essa causa de aumento deve ser extirpada da reprimenda já


imposta, por força do princípio da novatio legis in mellius (art. 2º, parágrafo
único, do CP):

Art. 2º (...)
Parágrafo único. A lei posterior, que de qualquer modo
favorecer o agente, aplica-se aos fatos anteriores, ainda que
decididos por sentença condenatória transitada em julgado.

Com a revogação expressa do art. 224 do Código Penal pela Lei nº


12.015/2009, há de ser redimensionada a pena aplicada ao condenado,

70
USE A #DESAFIO7DD

DIA 06

subtraindo-lhe o acréscimo sofrido em razão do aumento da pena previsto no


art. 9º da Lei nº 8.072/90, considerando-se o princípio da novatio legis in mellius,
previsto no art. 2º, parágrafo único, do CP. STJ. 5ª Turma. HC 428.251/SP,
Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 17/04/2018.
Em suma:

A causa de aumento prevista no art. 9º da Lei de Crimes


Hediondos foi tacitamente revogada pela Lei nº 12.015/2009,
considerando que esta Lei revogou o art. 224 do CP, que era
mencionado pelo referido art. 9º.
Se um indivíduo foi condenado, antes da Lei nº 12.015/2009,
pela prática de estupro contra menor de 14 anos com a
incidência da causa de aumento do art. 9º da Lei de Crimes
Hediondos, esta majorante deverá ser retirada de sua
condenação por força da novatio legis in mellius (art. 2º, parágrafo
único, do CP).
Diante da revogação do art. 224 do CP pela Lei nº
12.015/2009, ainda que o fato delituoso seja anterior a esta
alteração, é o caso de se decotar da pena do condenado o
acréscimo baseado no art. 9º da Lei nº 8.072/90. STF.
Plenário. HC 100181/RS, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red.
p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 15/8/2019
(Info 947).

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