Você está na página 1de 3

RESUMO

CRIME: NOÇÕES INTRODUTÓRIAS

O crime pode ser conceituado levando em conta 3 aspectos, material, legal e formal ou
analítico.

1) Critério material ou substancial:


De acordo com esse critério, crime é toda ação ou omissão humana que lesa ou expõe
a perigo de lesão bens jurídico penalmente tutelados.
Esta fórmula leva em conta a relevância do mal produzido aos interesses e valores
selecionados pelo legislador como merecedores da tutela penal. Destina-se a orientar a
formulação de políticas criminais funcionando como vetor ao legislador, incumbindo-lhe a
tipificação como infrações penais exclusivamente das condutas que causarem danos ou ao
menos colocar em perigo bens jurídicos penalmente relevantes, assim reconhecidos pelo
ordenamento jurídico.
O mero atendimento do princípio da reserva legal se mostra insuficiente. Não basta uma lei
para qualquer conduta ser considerada penalmente ilícita. Imagine um tipo penal com o seguinte
conteúdo: “Sorrir por mais de 10 minutos, ininterruptamente. Pena: reclusão de 2 a 8 anos, e
multa”. Nesta situação, o princípio da reserva legal ou estrita legalidade seria obedecido. Contudo,
somente se legitima o crime quando a conduta proibida apresentar relevância jurídico-penal
mediante a provocação de dano ou ao menos exposição à situação de perigo em relação a bens
jurídicos penalmente relevantes.

2) Critério legal:
Segundo esse critério, o conceito de crime é o fornecido pelo legislador.
Em que pese o Código Penal não conter nenhum dispositivo estabelecendo o que se
entende por crime, tal tarefa ficou a cargo do art. 1º da Lei de Introdução ao Código Penal
(Decreto-lei 3.914, de 1941), assim redigido:
“Considera-se crime a infração penal a que a lei combina a pena de reclusão ou de
detenção, quer isoladamente, quer alternativa ou cumulativamente com a pena de multa;
contravenção, a infração penal que a lei comina, isoladamente, pena de prisão simples ou de
multa, ou ambas, alternativa ou cumulativamente”.
Em resumo, se constarem as palavras “reclusão” ou “detenção”, será crime, pouco importa
a lei em que estiver inserida a figura penal.
Por outro lado, se o preceito secundário não apresentar as palavras “reclusão” ou
“detenção”, estará se referindo a uma contravenção penal, uma vez que a lei a ela comina pena
de prisão simples ou de multa, isoladas, alternativa ou cumulativamente.
Desta maneira, a distinção entre crime e contravenção é de grau, quantitativa (quantidade
da pena) e também qualitativa (qualidade da pena) e não ontológica.
Cuida-se, em essência, de espécies do gênero infração penal, diferenciando-se quanto à
gravidade da sanção penal, mediante valores escolhidos pelo legislador, podendo tais valores,
inclusive, variar ao longo do tempo. É o caso do porte ilegal de armas. Essa conduta era definida
como contravençõ penal e, posteriormente, foi tipificada como crime.
Ainda nesse ponto, o Direito Penal brasileiro acolheu um sistema dicotômico ao fracionar
o gênero infração penal em duas espécies: crime ou delito e contravenção penal. Os termos
crime e delito se equivalem, embora em algumas situações a Constituição Federal e a legislação
ordinária utilizem a palavra delito, impropriamente, como sinônima de infração penal, tal como se
verifica no art. 5º, XI, da Constituição Federal, e nos arts. 301 e 302 do CPP.

Outros países, como Alemanha e França, adotaram um sistema tricotômico: crimes seriam
as infrações mais graves, delitos as intermediárias e, por último, as contravenções penais
albergariam as de menor gravidade.

2.1) Crime e contravenção penal: outras distinções


Sem prejuízo da distinção quantitativa e qualitativa entre crime e contravenção
penal, estas espécies de infração também apresentam outras distinções previstas no
Código Penal e na Lei das Contravenções Penais. Vejamos:

Continua...
2.2) Conceito legal de crime e o art. 28 da Lei 11.343/2006 - Lei de Drogas
O art. 28 da Lei 11.343/2006 define o crime de posse de drogas para consumo
pessoal, a ele cominando as penas de advertência sobre os efeitos das drogas, prestação
de serviços à comunidade e medida educativa de comparecimento a programa ou curso
educativo.
Com isso, surgiram algumas discussões. A primeira delas, atinente à natureza
jurídica do ato, no sentido de ser crime ou não.
Há posicionamento no sentido de que, como não foram previstas penas de reclusão
ou de detenção, não se trata de crime, e, estando ausentes as penas de prisão simples ou
multa, também não configura contravenção penal, com fundamento no art. 1º da Lei de
Introdução ao Código Penal. Seria, residualmente, um ilícito penal sui generis.
Uma segunda corrente que nos parece acertada, sustenta a manutenção do
caráter criminoso da conduta, com a cominação das penas previstas em lei. Cuida-se da
posição amplamente dominante e a ela nos filiamos. Essa vertente apresenta diversos
argumentos para justificar a existência de crime no art. 28 da Lei de Drogas, quais sejam:
a) A lei, ao tratar do tema, classificou a conduta como crime;
b) O processo e julgamento devem observar o rito do Juizado Especial Criminal
(Lei 9.099/1995), reservado para as infrações penais de menor potencial
ofensivo;
c) No tocante à prescrição, o art. 30 da Lei de Drogas determina a aplicação das
regras estabelecidas pelos arts. 107 e seguintes do Código Penal, reservadas
às infrações penais;
d) A finalidade do art. 1º da Lei de Introdução ao Código Penal era apenas
diferenciar os crimes das contravenções penais, uma vez que tais diplomas
legais passaram a vigorar simultaneamente em 1º de janeiro de 1942;
e) A Lei de Introdução ao Código Penal pode ser modificada por outra lei ordinária,
como aconteceu com a Lei de Drogas;
f) Não existiam penas alternativas quando foi editada aLei de Introdução ao
Código Penal.
Nesse contexto, o Supremo Tribunal Federal, com argumentos semelhantes aos
que acolhemos, decidiu não ter havido descriminalização da conduta (existe crime), e sim
despenalização, em face da supressão da pena privativa de liberdade.

Você também pode gostar