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CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO

É dentro deste contexto que os Crimes Contra o Patrimônio configuram fatos que vitimizam de forma
contundente a esfera da propriedade do ofendido. São crimes de gravidade sensível, que produzem intensa
vitimização e repercussão social.
Tanto é assim que a proteção ao patrimônio emana, inicialmente, da Constituição Federal, que assegura a
inviolabilidade do direito à propriedade, no caput do art. 5º. Assim, a propriedade constitui um direito
fundamental, e sua tutela na esfera penal encontra respaldo na Carta Magna.
O patrimônio compreende um complexo de bens ou interesses de valor econômico pertinentes a uma
pessoa.
A prevalência do interesse patrimonial da vítima é o fundamento básico na capitulação dos Crimes contra o
Patrimônio. Porém, alguns delitos elencados no capítulo dos crimes contra o patrimônio resguardam também
outros direitos. É o caso, por exemplo, do latrocínio, que também protege a vida, e da extorsão mediante
sequestro, tutela igualmente a liberdade, tratando-se de delitos pluriofensivos.
O capítulo dos crimes contra o patrimônio é inaugurado pelo tipo penal do crime de furto, correspondente à
conduta de subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia móvel. Pela adoção da teoria da amotio ou
apprehensio, a consumação do delito ocorre com a posse de fato da res furtiva, ainda que por breve espaço de
tempo e seguida de perseguição ao agente, sendo dispensável a posse mansa e pacífica ou desvigiada.
Se o crime for praticado durante repouso noturno, considerado como tal o período em que, à noite, as
pessoas costumeiramente se recolhem para descansar, a pena será majorada. Prevalece que não importa
necessariamente seja a casa habitada ou estejam seus moradores dormindo. De acordo com o e. Superior
Tribunal de Justiça, o repouso noturno compreende o período em que a população se recolhe para descansar,
devendo o julgador atentar-se às características do caso concreto. A situação de repouso está configurada
quando presente a condição de sossego/tranquilidade do período da noite, caso em que, em razão da
diminuição ou precariedade de vigilância dos bens, ou, ainda, da menor capacidade de resistência da vítima,
facilita-se a concretização do crime. Assim, são irrelevantes os fatos de as vítimas estarem, ou não, dormindo
no momento do crime, ou o local de sua ocorrência, em estabelecimento comercial, via pública, residência
desabitada ou em veículos, bastando que o furto ocorra, obrigatoriamente, à noite e em situação de repouso.
O STJ não admite a aplicação da majorante do repouso noturno ao furto qualificado, considerando a
incidência em fases distintas da dosimetria da pena, tratando-se de mudança de entendimento recente, ainda no
ano de 2022. Por sua vez, para o STF, a causa de aumento do repouso noturno se coaduna com o furto
qualificado quando compatível com a situação fática.
Sendo primário o agente e de pequeno valor a coisa furtada, assim considerada aquela valorada em até
um salário mínimo, o Juiz poderá substituir a pena, reduzi-la ou aplicar somente multa, caracterizando o furto
privilegiado ou mínimo, compatível com as qualificadoras objetivas, conforme entendimento sumulado do
Superior Tribunal de Justiça.
A lei traz cláusula de equiparação da energia elétrica e outras formas de energia (como a genética,
mecânica, térmica e radioativa) à coisa alheia móvel.
O furto será qualificado, por exemplo, quando houver:
a) destruição ou rompimento de obstáculo à subtração da coisa, exigindo que esse obstáculo seja exterior à coisa
subtraída, não incidindo a qualificado caso a violência seja empregada contra a própria res furtiva. Sendo a
violência contra a coisa empregada após a consumação do furto, haverá concurso material entre este delito e o
crime de dano;
b) abuso de confiança, para a qual se exige especial vínculo de lealdade ou de fidelidade entre a vítima e o agente;
mediante fraude, escalada, representada pelo uso de via anormal para ingressar no local onde estiver a coisa
visada, inclusive por via subterrânea, ou destreza, que demanda peculiar habilidade física ou manual, a fim de
permitir a prática do crime sem que a vítima perceba haver sido despojada do bem que estava junto ao seu corpo;
c) emprego de chave falsa, sendo considerado como tal todo o instrumento, com ou sem forma de chave, destinado a
abrir fechaduras;
d) concurso de duas ou mais pessoas. Caso algum dos comparsas seja inimputável, haverá, para os imputáveis, a
incidência da qualificadora em concurso com o crime de corrupção de menores previsto no ECA;
e) subtração de veículo automotor que venha a ser transportado para outro Estado ou para o exterior;
f) subtração de semovente domesticável de produção, ainda que abatido ou dividido em partes no local da
subtração, ensejando punição mais gravosa, por exemplo, ao crime de abigeato, recorrente na zona rural do Estado.
Por alterações legislativas promovidas em 2018, foram incluídas novas qualificadores, quando houver:
g) emprego de explosivo ou de artefato análogo que cause perigo comum; ou
h) subtração for de substâncias explosivas ou de acessórios que, conjunta ou isoladamente, possibilitem sua
fabricação, montagem ou emprego.
Por alterações legislativas promovidas em 2021, foi incluída nova qualificadoras, quando o furto for:
i) cometido por meio de dispositivo eletrônico ou informático, conectado ou não à rede de computadores, com ou
sem a violação de mecanismo de segurança ou a utilização de programa malicioso, ou por qualquer outro meio
fraudulento análogo.

Vale destacar que tanto o STF como o STJ assentaram que a existência de sistema de vigilância em
estabelecimento comercial não constitui óbice à configuração do crime de furto, não se tratando de crime
impossível.
O crime de furto, por não envolver violência ou grave ameaça à pessoa, comporta a aplicação das escusas
absolutas e relativas previstas ao término do capítulo dos crimes contra o patrimônio, sendo as absolutas
causas pessoais de isenção de pena, ao passo que as relativas subordinam a promoção da ação penal pública à
representação da vítima.
O crime de roubo consiste na subtração de coisa alheia móvel, para si ou para outrem, mediante grave
ameaça ou violência a pessoa, ou depois de havê-la, por qualquer meio, reduzido à impossibilidade de
resistência. Tem-se, aí, a figura do roubo próprio. Consta ainda a previsão do chamado roubo impróprio,
quando o emprego da violência contra pessoa ou grave ameaça ocorre logo depois de subtraída a coisa, a fim
de assegurar a impunidade do crime ou a detenção da coisa para si ou para terceiro.
Em relação às causas de aumento de pena para o crime de roubo, o Código Penal contemplava, em sua
redação original, o emprego de arma no exercício da violência ou ameaça, abarcando, inclusive, armas
brancas, frequentemente utilizadas para a prática delitiva.
Por alteração legislativa promovida em 2018, houve a revogação dessa majorante, com a inclusão de
outras majorantes, consistentes no exercício da violência ou ameaça com emprego de arma de fogo ou a
destruição ou rompimento de obstáculo mediante o emprego de explosivo ou de artefato análogo que cause
perigo comum.
Por fim, a Lei do Pacote Anticrime reestabeleceu a majorante consistente no exercício de violência ou
grave ameaça com emprego de arma branca, além de elevar a causa de aumento do emprego de arma de fogo
de uso restrito ou proibido.
Vale destacar que a jurisprudência do e. Superior Tribunal de Justiça entende que nos casos em que se
aplica a Lei nº 13.654/2018, é possível a valoração do emprego de arma branca, no crime de roubo, como
circunstância judicial desabonadora. Assim, em razão da novatio legis in mellius engendrada pela Lei nº
13.654/2018, o emprego de arma branca, embora não configurasse mais causa de aumento do crime de roubo,
poderá ser utilizado como fundamento para a majoração da pena-base, quando as circunstâncias do caso
concreto assim justificarem. De todo modo, importa referir: não cabe ao STJ a transposição valorativa da
circunstância para a primeira fase da dosimetria ou mesmo compelir que o Tribunal de origem assim o faça,
em razão da discricionariedade do julgador ao aplicar a novatio legis in mellius.
Da mesma forma, acompanhando entendimento jurisprudencial, é importante referir que não é necessário
que a arma utilizada no roubo seja apreendida e periciada para que incida a majorante do art. 157, § 2º-A,
I, do Código Penal. O STJ entende que o reconhecimento da referida causa de aumento prescinde (dispensa) da
apreensão e da realização de perícia na arma, desde que o seu uso no roubo seja provado por outros meios de
prova, tais como a palavra da vítima ou mesmo de testemunhas. Além disso, cabe ao réu, se assim for do seu
interesse, demonstrar que a arma é desprovida de potencial lesivo, como na hipótese de utilização de arma
de brinquedo arma defeituosa ou arma incapaz de produzir lesão (STJ EREsp 961.863/RS). Ou seja, o
Ministério Público não precisa provar que a arma utilizada estava em perfeitas condições de uso para a
incidência da majorante.
Também são majorantes do crime de roubo, por exemplo, o concurso de agentes, a circunstância de estar
a vítima em serviço de transporte de valores, a subtração de veículo automotor que venha a ser transportado
para outro Estado ou para o exterior, a manutenção da vítima sob poder do agente, com restrição de
liberdade e a subtração de substâncias explosivas ou acessórios que, conjunta ou isoladamente,
possibilitem sua fabricação, montagem ou emprego.
Quanto à restrição da liberdade da vítima, está majorará a pena do roubo se necessária para o sucesso da
subtração. Do contrário, responderá o agente pelo crime de roubo em concurso com sequestro.
O roubo será qualificado se dele resultar lesão corporal de natureza grave ou morte, configurando, na
última hipótese, o latrocínio, que estará consumado se sobrevier a morte, ainda que tentada a subtração, nos
termos da Súmula 610 do STF. Vale destacar, inclusive, que o julgamento do crimes de latrocínio é de
competência do juiz singular, e não do Tribunal do Júri, conforme entendimento sumulado pelo Supremo
Tribunal Federal.
Nas demais hipóteses, consuma-se o crime de roubo com a inversão da posse do bem mediante emprego de
violência ou grave ameaça, ainda que por breve tempo e em seguida à perseguição imediata ao agente e
recuperação da coisa roubada, sendo prescindível a posse mansa e pacífica ou desvigiada , conforme
entendimento sumulado pelo STJ. Trata-se, pois, de adoção da teoria da amotio ou apprehensio também no
crime de roubo.
No crime de extorsão, o criminoso, mediante violência ou grave ameaça, constrange a vítima a fazer,
tolerar que se faça ou deixar de fazer alguma coisa, sendo a colaboração da vítima indispensável, ao contrário
do que ocorre no roubo. Qualificam o delito de extorsão os resultados lesão corporal grave e morte, sendo o
crime considerado hediondo no caso de morte.
A extorsão mediante restrição da liberdade da vítima, também conhecida como sequestro relâmpago,
difere da extorsão mediante sequestro, uma vez que nesta a obtenção da vantagem indevida depende do
comportamento de terceira pessoa, consistente no pagamento de resgate, enquanto no sequestro relâmpago é
o próprio ofendido que alcança a vantagem almejada ao extorsionário.
O crime de extorsão mediante sequestro, catalogado como hediondo em qualquer das suas modalidades,
com previsão de causa especial de redução de pena no caso de delação premiada que facilite a libertação do
sequestrado.
Em arremate, há de ser destacado que o crime de receptação, que é acessório e pressupõe a existência de
crime anterior, é o único delito do capítulo dos crimes patrimoniais que prevê modalidade culposa, ao
incriminar o agente que adquirir ou recebe coisa que, por sua natureza ou pela desproporção entre o valor e
o preço, ou pela condição de quem a oferece, deve presumir-se obtida por meio criminoso.

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