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AULA 08

24/05/2017

Trabalho Avaliado (Temas) – apresentação dias 12 e 19 julho

Pesquisa Jurisprudencial

1. Homicídio de mulheres (feminicídio)


2. Homicídios, lesões por orientação sexual (crimes decorrentes de
homofobia)
3. Violência doméstica (contra mulheres)
4. Violência (tortura e maus-tratos de crianças)
5. Maus-tratos de animais não humanos
6. Homicídios e tortura policial
7. Injúria racial e racismo
8. Redução à condição análoga à de escravo
9. Tráfico de pessoas (antigo tráfico interno e internacional )
10. Drogas – parâmetros utilizados para enquadramento como porte e como
tráfico

Sobre a alteração legislativa que entrou em vigor no final de novembro do ano


passado, envolvendo tráfico de pessoas, o entendimento é de que a redução à
condição análoga a de escrevo do art. 149 não foi revogada. Isso é um crime
autônomo. O tráfico de pessoas que foi retirado lá dos crimes sexuais e trazido
para o art. 149-A, não se confunde com o crime do art. 149 tipo básico. Primeiro
porque ele é mais amplo. Segundo porque ele tem como elemento subjetivo o
dolo específico de traficar pessoas. Isso significa dizer que comprar, vender
pessoas para fins de retirada de órgãos, para fins de adoção (vender crianças
para casais no exterior), vender pessoas para exploração sexual e vender
pessoas para trabalharem na condição de escravos são condutas abrangidas no
art. 149-A. Então se eu tiver um traficante que é um intermediário, é essa pessoa
que responderá pelo 149-A. Então, o traficante que fez a intermediação da
criança, que pode ter sido comprado dos pais biológicos e revendida para os pais
estrangeiros, vai responder pelo 149-A. Se tenho um traficante de trabalhadores,
que vai lá e engana as pessoas, transporta e vende para o dono da fazenda, ele
responde pelo 149-A. E o dono da fazenda, que vai submeter aqueles trabalhares
às condições mencionadas no art. 149, responde pelo art. 149. Então, o art. 149
diz respeito ao empregador final, não ao traficante. Só que, se por acaso o
próprio fazendeiro, o próprio empregador, induzir o trabalhador em erro e fizer
o trabalho de transporte, o tráfico desse trabalhador, e depois explorar o
trabalho desse trabalhador, ele pode responder pelos dois crimes em concurso
material (soma de penas), porque ele está atuando como traficante e está
atuando depois como explorador daquela mão de obra.
O que está por trás desse crime de tráfico de pessoas é transformar o ser
humano em um objeto, em uma mercadoria, e trabalhar como traficante dessa
mercadoria.
No concurso material somam-se as penas. No concurso formal (numa única ação
ele tem que praticar mais de um resultado) aplica a regra do art. 70, que manda

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aumentar a pena na terceira fase (majorante), de 1/6 até ½ (a partir do crime de
pena mais elevada).
O tráfico de pessoas se consuma com o tráfico (com a prática de uma das
condutas previstas no artigo), desde que presente a finalidade de traficar a
pessoa.

Ver posição de Luis Régis Prado.

Crimes contra o patrimônio

1. Furto: art. 155 CP


Sujeitos Ativo
Passivo
Tipo objetivo
Tipo subjetivo
Consumação (teorias)

- Furto de uso – atípica


- Furto noturno – art. 155, § 1o
- Furto privilegiado – art. 155, § 2o
- Furto qualificado – art. 155, § 4o
- Art. 155, § 6o CP
- Flagrante provocado (preparado) súmulas 145 STF/567 STJ
X
Flagrante esperado

2. Roubo
Sujeitos Ativo
Passivo
Tipo objetivo

- Roubo próprio: art. 157, caput, do CP


Consumação (teorias)
- Roubo impróprio: art. 157, § 1o, do CP
Consumação

Tipo subjetivo

Majorantes
I – arma x arma de brinquedo

Vamos trabalhar agora com um conjunto de crimes que historicamente


representou o maior volume de encarceramento e tem perdido espaço em alguns
estados agora para o tráfico. No Brasil, o roubo ainda é o número 1 em
encarceramento, seguido do tráfico. No RS inverteu, o tráfico vem na frente. Aqui
nós estamos trabalhando com um crime que representa pelo menos 40% da
massa carcerária total.

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Furto

O furto é considerado um dos crimes menos graves, embora tenha uma pena
significativa.

Art. 155 - Subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia móvel:


Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.

Subtrair significa tomar para si. Assenhorar-se de uma determinada coisa móvel
que não lhe pertence. Essa coisa móvel pode ser objeto, pode ser valores e pode
ser também um semovente, como um animal de estimação (gato, por exemplo).

O sujeito ativo pode ser qualquer pessoa.

Mas a vítima, o sujeito passivo, é o proprietário da coisa ou do semovente,


também podendo ser o possuidor e o detentor da coisa.

Qual é a diferença de proprietário, possuidor e detentor?


Proprietário é aquele que tem o título de propriedade de determinada coisa.
Via de regra é aquele que adquiriu e não vendeu.
Possuidor é aquele que está usando a coisa, está na posse direta da coisa, mas
não é o dono.
Detentor é o sujeito que tem uma posse transitória da coisa. Vamos imaginar
que um livro seja meu. Sou o proprietário. Alguém me pede o livro emprestado,
mas não pode pegar o livro hoje comigo. Então pede para eu entregar para um
terceiro. Quem pediu emprestado é o possuidor enquanto estiver com o livro. O
terceiro é o detentor, até entregar para quem pediu emprestado.

Tipo objetivo – subtrair, limites da coisa (móvel, que pode ser deslocada)

Tipo subjetivo – dolo

Consumação é a grande questão. Existem teorias para determinar o momento


da consumação do crime de furto. A teoria mais antiga e mais correta (para a
professora) é aquela que entende que o furto só se consuma quando o agente
adquire a posse tranquila da coisa. Posse tranquila é posse sem perseguição.
Mas existe outra teoria que diz que o crime se consuma quando a coisa sai da
esfera de disponibilidade da vítima.
Exemplo: Estou com as minhas coisas em cima da mesa. Não estou segurando a
mochila, mas ela está na minha esfera de disponibilidade. A hora que quiser vou
até a mochila e pego algo que está dentro dela. Não preciso estar com ela na mão
para dizer que está na minha esfera de disponibilidade. Entra alguém na sala e
leva a mochila. Vão sair correndo atrás. A mochila está na minha esfera de
disponibilidade? Não. O ladrão não consegue fugir e recupero a mochila. Para
quem entende que o crime se consuma quando a coisa sai da esfera de
disponibilidade, o crime se consumou quando o ladrão pegou a mochila. Se
entendo que o crime de furto se consuma somente quando estiver na posse
tranquila, o crime não se consumou. O que houve foi uma tentativa de furto. O

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ladrão não alcançou a posse tranquila da coisa. Ele esteve sempre em
perseguição.
Se entendermos que o crime se consuma quando a coisa sai da esfera de
disponibilidade, praticamente acaba a tentativa de furto. Todo furto seria
consumado.
Até há pouco tempo era tranquilo, era pacífico, que o crime se consumava
quando estava na posse tranquila. Mas aí o STF e o STJ resolveram tomar
algumas decisões trabalhando com a ideia de consumação quando a coisa sai da
esfera de disponibilidade da vítima. Era apenas uma questão conceitual, que não
tinha o objetivo de afastar a tentativa. Mas a partir daí alguns doutrinadores
copiaram essa ideia, como se fosse esse o momento consumativo. Mas tem muita
diferença a gente pensar em saída da esfera de disponibilidade e posse tranquila
da coisa. No nosso TJ prepondera a teoria da posse tranquila. Mas encontraremos
divergência tanto na doutrina quanto na jurisprudência. De novo, a professora
entende que, tecnicamente, a ideia de consumação quando houver a posse
tranquila da coisa é mais adequada.
Do ponto de vista da vítima é muito melhor ser vítima de uma tentativa do que
de um furto consumado. Como vamos tratar as duas coisas da mesma forma?
Então a pena deveria ser diferente. Isso deveria aparecer no cálculo da pena.
Esse é um crime de ação pública incondicionada.

Furto de uso

É um furto quando existe a intenção de devolver. Pego emprestado sem pedir


emprestado uma determinada coisa. Isso é o furto de uso. O sujeito toma a coisa
que não é dele para usar e depois devolve. Não devolve porque se arrependeu,
mas porque nunca teve a intenção de ficar com a coisa. Só queria utilizar. Isso é
muito comum entre pais e filhos (automóveis), mas pode acontecer entre
desconhecidos. É uma conduta que é atípica. Não é criminosa. Essa é uma figura
doutrinária. O máximo que a pessoa leva é uma bronca do dono da coisa. O que
importa é a intenção de devolver a coisa. É atípica a conduta porque não tem o
dolo. Furto só existe na modalidade dolosa. Não existe na modalidade culposa.
Tenho que ter a intenção de pegar para mim.
O furto de uso só é crime no código penal militar (art. 241).
Se abandonar a coisa é furto. Para ser furto de uso tem que devolver no lugar
onde estava e nas mesmas condições. Se a pessoa for pega antes de devolver a
coisa, dificilmente conseguirá provar que não furtou a coisa, principalmente se
era um desconhecido.

Furto noturno (art. 155, § 1º)

§ 1º - A pena aumenta-se de um terço, se o crime é praticado durante o repouso


noturno.

É uma majorante para o furto simples. O conceito de noite para a doutrina é a


ausência de luz solar. Escureceu, temos noite. Só que o tipo penal não fala em
noite, ele fala em repouso noturno. Tenho que agregar nesse conceito de noite
(escuridão, ausência de luz solar) o momento do repouso noturno. Qual o
momento em que aquela população daquela casa que sofreu o furto costuma se

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recolher? Isso pode variar de local. Na zona rural o pessoal se recolhe mais cedo
do que na zona urbana. Qual o objetivo da majorante? A majorante existe porque
no momento do repouso noturno de uma determinada comunidade a vigilância
sobre as coisas é reduzida. Inclusive a vigilância dos próprios vizinhos. Então,
como o sujeito se aproveitou de um momento de menor vigilância naquela
comunidade, ele será penalizado com um aumento de pena.
Outras questões que já foram objeto de discussões: a casa furtada precisa estar
habitada para caracterizar furto noturno? Não necessariamente. A majorante se
aplica mesmo quando a casa está desabitada. Essa é a posição prevalente. Então
pode aplicar a majorante num furto da casa na praia, fora de temporada.

Furto privilegiado (art. 155, § 2o)

§ 2º - Se o criminoso é primário, e é de pequeno valor a coisa furtada, o juiz


pode substituir a pena de reclusão pela de detenção, diminuí-la de um a dois
terços, ou aplicar somente a pena de multa.

Para aplicar a minorante tem que combinar dois requisitos: o criminoso tem que
ser primário e a coisa de pequeno valor (até 1 SM - não é tão pequeno).
O § 3o diz que a energia elétrica se equipara a coisa móvel.

§ 3º - Equipara-se à coisa móvel a energia elétrica ou qualquer outra que tenha


valor econômico.

Formas qualificadas do furto (art. 155, § 4o)

§ 4º - A pena é de reclusão de dois a oito anos, e multa, se o crime é cometido:


I - com destruição ou rompimento de obstáculo à subtração da coisa;
II - com abuso de confiança, ou mediante fraude, escalada ou destreza;
III - com emprego de chave falsa;
IV - mediante concurso de duas ou mais pessoas.

No furto qualificado dobra a pena mínima e dobra a pena máxima. A pena passa a
ser de dois a oito anos.
I - Com destruição ou rompimento de obstáculo à subtração da coisa. Aqui
temos uma situação muito curiosa. Não pode ser destruição de uma parte da
mesma coisa. Eu quebrei uma vidraça para subtrair as coisas que estavam dentro
da casa. Isso é rompimento de obstáculo para subtração das coisas que estão
dentro da casa. Se quebrei o vidro do carro e roubei o rádio, também é
rompimento de obstáculo para subtração da coisa. Isso é qualificado. Mas se
quebrei o vidro do carro e levei o próprio carro, isso não é qualificado. Então é
melhor levar o carro do que só o que está dentro. Se interpreta assim porque a
interpretação das normas incriminadoras, principalmente daquelas que
aumentam pena, devem ser restritivas. Não dá para estender a interpretação.
Aqui a conduta mais grave recebe uma penalização menor do que a conduta
menos grave.

Não pode combinar o furto qualificado com a privilegiadora. Aí pode ter uma
coisa de valor pequeno que não se beneficiará da redução de pena do § 2o, essa é
uma privilegiadora incompatível com as qualificadoras.

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II - Com abuso de confiança (um hóspede na minha casa que aproveita esse
acesso facilitado para furtar uma coisa minha - não precisa ser necessariamente
um funcionário - às vezes o funcionário não tem acesso a determinados valores.
Não posso dizer que exista aí vínculo de confiança - para ser qualificado tem que
ter um vínculo de confiança que foi quebrado) ou mediante fraude (qualquer
tipo de dissimulação que possa induzir a vítima em erro, ou facilitar o acesso a
um determinado espaço), escalada (pressupõe a chegar ao 2o, 3o ou 4o andar –
furtos em edifícios) ou destreza (é um tipo de astúcia especial – por exemplo, o
furto punga – sujeito abre a bolsa da pessoa no ônibus e pega a carteira, fecha e a
pessoa nem viu - habilidade especial de furtar sem ser percebido - a professora
acha que isso nem devia ser qualificado - os furtos em geral são praticados com
destreza, o que daria para qualificar praticamente tudo).
IV - Mediante concurso de duas ou mais pessoas. Deve ter pelo menos um
adulto. Se foi um adulto em concurso com um adolescente, com alguém que não é
culpável, não importa, vale a qualificadora para o adulto que praticou o furto em
conluio com o adolescente.

Qualificadora acrescentada para proteger veículos

§ 5º - A pena é de reclusão de três a oito anos, se a subtração for de veículo


automotor que venha a ser transportado para outro Estado ou para o
exterior.

A qualificadora se aplica para o veículo furtado em Porto Alegre que foi levado
tanto para Santa Catarina como para o Uruguai. Para considerar a qualificadora
tem que ter havido a passagem efetiva. Não pode ficar na âmbito da tentativa.

Nova qualificadora (art. 155, § 6o)

§ 6º A pena é de reclusão de 2 (dois) a 5 (cinco) anos se a subtração for de


semovente domesticável de produção, ainda que abatido ou dividido em partes
no local da subtração.

Essa qualificador foi introduzida no CP no ano passado. A pena é de 2 a 5 anos se


a subtração for de semovente domesticado de produção (ovelha, bovino, etc.),
ainda que removido em partes.
Há uma discussão se podemos considerar furto a supressão de esperma de
bovino. Tem se entendido que sim.
Esse parágrafo resolve a questão do furto de esperma e do gado valioso.

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Duas questões que a professora quer apresentar e que têm sido objeto de
discussão em virtude do Joesley:

1. Temos no art. 17 do CP a figura do crime impossível. Se considera crime


impossível quando aquela conduta é impossível de se consumar por
absoluta impropriedade do meio que eu utilizei para praticar o crime ou
do objeto (a própria vítima do crime).

Art. 17 - Não se pune a tentativa quando, por ineficácia absoluta do meio ou


por absoluta impropriedade do objeto, é impossível consumar-se o crime.

Falamos aqui do tiro em cadáver. O cadáver não é objeto próprio para ser
vítima de homicídio, porque já está morto. Então não pode ser
criminalizada a conduta da pessoa que dá um tiro em uma pessoa que
achava que estava dormindo mas na verdade estava morta em função de
um ataque cardíaco. E a intenção, não é levada em consideração? Não,
porque o objeto é impróprio e a pessoa não vai responder por crime.
Da mesma forma, se o meio empregado, o instrumento que eu utilizo é
impróprio, não é capaz de levar à prática de um determinado crime, eu
vou ter também uma hipótese de crime impossível.
Essa é noção básica do art. 17 do CP. Só que temos súmulas que tratam da
matéria. Essa súmula antiga do STF, que é a súmula 145, ela apresenta o
que chamávamos na doutrina de flagrante preparado (Cezar Bitencourt
fala de flagrante provocado), que é a seguinte situação: não há crime
quando a preparação do flagrante pela polícia torna impossível a sua
consumação. Então, eles consideram hipótese de crime impossível do art.
17 essa situação mencionada pela súmula 145 do SRF. Então, aplicam
para a situação do flagrante preparado, a hipótese de crime impossível do
art. 17 do CP. Mas o que é flagrante preparado? E qual a diferença do
flagrante preparado para o flagrante esperado? O flagrante preparado,
normalmente, pressupõe um trabalho de inteligência da polícia. Eu
infiltro um agente da polícia em uma determinada organização criminosa.
Deveria ser um policial civil (se o caso não for de competência da polícia
federal). Mas os policiais civis não são treinados para isso. Então
normalmente se utiliza um policial militar para trabalhar como infiltrado
em uma organização criminosa. O agente vai ganhando a confiança da
organização criminosa e passa a integrar aquela organização como se
fosse membro. E para ganhar essa confiança o agente precisa participar
de alguns ilícitos menores. Aí, quando se quer desmantelar a organização,
eles provocam um flagrante. Esse agente da polícia vai fomentar, vai
estimular o grupo a praticar uma ação mais ousada. E vai passar todas as
informações para a polícia. Quando o grupo parte para essa ação mais
ousada que foi sugerida pelo próprio policial infiltrado, a polícia toda se
organiza para poder fazer a prisão em flagrante. A súmula vai dizer que
isso é crime impossível. O STF diz que isso é crime impossível. E eles não
vão responder por esse crime específico. Mas eles vão responder pelos
outros crimes já praticados. Esse flagrante é apenas uma forma de fazer
com que o grupo se exponha e com que a prisão aconteça. Normalmente
esse grupos estão protegidos em determinado espaço.

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O que a situação do Joesley tem a ver com isso? O Joesley atuou como se
fosse um agente infiltrado, sem ser agente infiltrado. O que foi feito ali foi
flagrante preparado. A quantia podia ser inclusive rastreada, o que torna
impossível a consumação. A súmula 145 do STF pode ser aplicada aqui.

2. Mas o que isso tem a ver com o furto, uma vez que os crimes praticados
não foram de furto? Também tem uma discussão no que diz respeito ao
flagrante esperado. No flagrante esperado não há nenhuma ação
antecipada da polícia, nenhum agente infiltrado auxiliando na
organização como acontece no flagrante provocado. O que existe é um
sistema de vigilância que pode tornar impossível a consumação do furto.
Estamos falando de furtos em estabelecimentos comerciais. Então eu fui
fazer uma compra no Zaffari. Existem câmeras e vigilantes que ficam
circulando. Os vigilantes ficam observando o que está acontecendo. Eles
ficam identificando as pessoas pelas vestimentas e características físicas.
Vão seguindo determinados consumidores em detrimento de outros. Os
vigilantes ficam acompanhando as pessoas que eles consideram suspeitas,
ou porque viram alguma coisa nos monitores ou porque desconfiaram de
qualquer coisa, só que não eles abordam a pessoa dentro do
supermercado. Mesmo que eles vejam a pessoa colocar a mercadoria
dentro da bolsa. Isso porque, de repente, pode ser uma pessoa
extravagante que chega no caixa e paga. Eles têm que esperar a pessoa
passar no caixa para ver se a intencionalidade de furtar estava ali. A
abordagem é feita na sequência. O furto fica, então, no âmbito da
tentativa.
Mesmo não tendo súmula, existe uma corrente doutrinária bastante forte,
que encontra algum amparo na jurisprudência, aplicando o art. 17,
também, para o flagrante esperado. Se a pessoa estava sendo vigiada o
tempo todo, era impossível a consumação do furto. Por isso posso afastar
a tentativa do furto com base no art. 17, na ideia de flagrante esperado.
Mas temos que analisar o caso concreto. Se ninguém estava controlando a
pessoa e o detector apitar, isso é tentativa de furto. Para alegar crime
impossível tinha que ter acompanhamento do vigilante. É essa a ação que
torna impossível a consumação do furto.
A súmula 567 do STJ vai dizer que a existência um monitoramento
eletrônico, de câmeras, no estabelecimento comercial, por si só, não leva
à consideração de crime impossível. Isso porque muitas vezes o
monitoramento eletrônico existe para identificar quem furtou a
mercadoria, mas não há um vigilante que acompanhe e impeça que os
crimes aconteçam. Agora, esse acompanhamento próximo pode ser
considerado crime impossível, afastando a tentativa de furto.

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Roubo

Em relação aos sujeitos, diremos que é a mesma coisa que se aplica ao furto.

Sujeito ativo é qualquer pessoa.

Sujeito passivo podem ser as figuras já mencionadas, como o proprietário, o


possuidor, o detentor, mas também alguém que esteja junto do proprietário e
sofra a violência ou grave ameaça (o acompanhante pode ser vítima também
porque foi intimidado).

Em relação ao tipo objetivo, o roubo se divide em duas modalidade: roubo


próprio e impróprio.

1. O roubo próprio é o mas corriqueiro de todos. Vamos encontrá-lo no


caput do art. 157:

Art. 157 - Subtrair coisa móvel alheia, para si ou para outrem, mediante grave
ameaça ou violência a pessoa, ou depois de havê-la, por qualquer meio,
reduzido à impossibilidade de resistência:
Pena - reclusão, de quatro a dez anos, e multa.

Aqui nós vamos, da mesma forma como no furto, uma subtração, mas uma
subtração que não acontece à revelia da vítima, sem o conhecimento da
vítima, como no furto, mas sim acontece mediante a intimidação da vítima
(grave ameaça ou violência física). Esse roubo próprio, para se consumar,
nós vamos ter as mesmas teorias do furto. Uma primeira teoria falando
que é com a posse tranquila da coisa. E uma segunda teoria falando que é
quando a coisa sai da esfera de disponibilidade da vítima. A professora
entende que a teoria da posse tranquila é a mais apropriada.

2. O roubo impróprio está no § 1o art. 157:

§ 1º - Na mesma pena incorre quem, logo depois de subtraída a coisa, emprega


violência contra pessoa ou grave ameaça, a fim de assegurar a impunidade do
crime ou a detenção da coisa para si ou para terceiro.

Vejam: logo depois de subtraída. O que aconteceu aqui? Era para ser um
furto mas a vítima percebeu e reagiu. E aí o agente emprega a violência
para manter a possa da coisa. O roubo impróprio é o furto mal sucedido.
Era para ser um furto. Como a vítima reagiu, o sujeito, para manter a
posse da coisa, para alcançar a posse tranquila da coisa, empregou
violência ou grave ameaça contra a pessoa. Aqui há uma inversão do
momento consumativo. Aqui, a consumação se dá com emprego da
violência ou da grave ameaça a pessoa. Por que se não tiver emprego de
violência ou de grave ameaça a pessoa o que houve foi um furto. Para
dizer que eu transformei o que seria um furto em roubo, tem que ter o
emprego de violência ou de grave ameaça quando a coisa já está na mão
do agente.

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Então, a consumação se dá com o emprego de violência ou grave ameaça.

A conduta é sempre dolosa (tipo subjetivo é o dolo).

Temos inúmeras majorantes e qualificadoras complexas aqui.


As majorantes do roubo estão no § 2o do art. 157 e as qualificadoras no § 3o do
art. 157 do CP.

Majorantes

§ 2º - A pena aumenta-se de um terço até metade:


I - se a violência ou ameaça é exercida com emprego de arma;
II - se há o concurso de duas ou mais pessoas;
III - se a vítima está em serviço de transporte de valores e o agente conhece tal
circunstância.
IV - se a subtração for de veículo automotor que venha a ser transportado para
outro Estado ou para o exterior;
V - se o agente mantém a vítima em seu poder, restringindo sua liberdade.

- Emprego de arma. Arma é qualquer arma, inclusive arma branca. Não


apenas o revólver, a arma que é fabricada coo armamento, mas também
qualquer objeto que tenha potencial lesivo similar a um armamento,
como uma faca de cozinha, como um estilete.
O que não pode ser é arma de brinquedo ou simulacro. Havia uma
divergência quanto à possibilidade de extensão da majorante para o uso
de arma de brinquedo (ou simulacro) no contexto de um roubo. Uma
parte da doutrina e jurisprudência sempre considerou que não era
possível aplicar a majorante para roubo praticado com arma de
brinquedo, pela aplicação do princípio da lesividade. Não posso tratar de
maneira igual situações que tem potencial lesivo completamente
distintos. É claro que a vítima não sabia que aquela arma era de
brinquedo e levou um susto igual. Por que ela levou um susto e se sentiu
intimidada, é um roubo e não é um furto. Então isso já foi considerado
quando eu enquadrei a conduta como roubo. No entanto, outra parte da
jurisprudência entendia que havendo emprego de arma de brinquedo nós
teríamos a aplicação da majorante. Até que entrou em vigor a lei que
regulou o porte de arma (lei de 1997). E essa lei do porte de arma
estabeleceu um tipo penal, no art. 10, que dizia assim: portar arma de
brinquedo para o fim de cometer ilícitos. A lei criminalizou o porte de
arma de brinquedo. Então surgiu um novo entendimento (passamos a ter
três entendimentos): aqueles que entendiam que o roubo praticado com
emprego de arma de brinquedo era roubo simples em concurso material
com porte de arma de brinquedo, da lei específica. Até que entrou em
vigor o estatuto do desarmamento (2003), que revogou integralmente a
lei do porte de armas de 1997, incluindo o dispositivo que criminalizava o
porte de arma de brinquedo, sem estabelecer qualquer dispositivo
similar. Ou seja, o estatuto desarmamento descriminalizou o porte de
arma de brinquedo para fins de cometer ilícitos. A súmula que estabelecia
a possibilidade de aplicação da majorante foi cancelada depois que entrou
em vigor a lei que regulamentou o porte de armas em 1997. E aí, hoje em

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dia, predomina o entendimento de que não aplicamos. Então, se o roubo
for com arma de brinquedo, é roubo somente. Se o roubo foi com
emprego de arma verdadeira municiada, é roubo majorado pelo emprego
de arma. E se a arma for desmuniciada, há controvérsias, mas os tribunais
têm entendido que se aplica por analogia a questão da arma de
brinquedo, então é só roubo sem emprego de arma, porque ela não tem
potencial lesivo. Qual é a base dessa teoria? Princípio da lesividade.
- Se há concurso de duas ou mais pessoas. A professora já disse que os
adolescentes entram na contagem para qualificar o roubo do adulto.
- Se a vítima está em serviço de transporte de valores e o agente conhece
tal circunstância. Transporte de valores o que é? Carro forte. Tem um
objetivo de política criminal bastante específico aqui.
- Se a subtração for de veículo automotor que venha a ser transportado
para outro Estado ou para o exterior. Se passou a fronteira, então,
qualifica o roubo.
- Se o agente mantém a vítima em seu poder, restringindo sua liberdade. É
aquela hipótese em que o sujeito, não satisfeito em roubar o carro, leva a
vítima junto, para que a vítima tenha maior dificuldade em chamar a
polícia e dê tempo de fugir. A vítima normalmente é deixada em um lugar
ermo. Aqui não é o caso de sequestro relâmpago, em que abordo a vítima,
levo ela até o banco e faço ela sacar dinheiro (isso é um tipo qualificado de
extorsão, não é roubo). O que diferencia entre roubo e extorsão é que no
roubo o agente não precisa da colaboração da vítima para alcançar a
vantagem, e na extorsão precisa da colaboração da vítima para alcançar a
vantagem. Esse roubo qualificado do inciso V não é extorsão mediante
sequestro e nem sequestro relâmpago (isso tem regulação específica).
Aqui é um roubo mesmo. Só deixa a vítima em lugar ermo para ter tempo
de fugir.

Qualificadoras

§ 3º Se da violência resulta lesão corporal grave, a pena é de reclusão, de sete a


quinze anos, além da multa; se resulta morte, a reclusão é de vinte a trinta
anos, sem prejuízo da multa.

- Lesão corporal grave (todas aquelas situações do art. 129, §§ 1º e 2º) –


art. 157, § 3o, 1a parte
- Latrocínio (roubo qualificado pela morte da vítima) – art. 157, § 3o, 2a
parte

Se num contexto de um roubo, em virtude da violência empregada (pode ser um


espancamento, pode ser uma rasteira que eu dei na vítima, pode ser um tiro na
perna), resultar aquelas situações do art. 129, §§ 1º e 2º, teremos roubo
qualificado por lesão grave. A questão polêmica diz respeito a esse crime de
roubo qualificado pela morte (latrocínio). Por que isso? Isso porque a pena
prevista para o homicídio qualificado é de 12 a 30 anos, e a pena prevista para o
latrocínio é de 20 a 30 anos. Quer dizer que o latrocínio tem pena mais elevado
do que o homicídio qualificado. Alguns dirão que é assim porque o latrocínio é
uma soma de um homicídio qualificado com um roubo. Pois é, só que aqui tem
uma imprecisão muito forte. Uma imprecisão que acontece no Brasil, e não
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acontece em outros países dos quais nós copiamos determinados modelos,
determinados tipos penais. Na Espanha, em Portugal e na Alemanha, existem
diferenças. Nesses países, vou dizer que houve um roubo qualificado pela morte
quando a conduta do agente for preterdolosa. Ou seja, dolo em relação à
violência empregada para praticar o roubo, culpa em relação à morte da vítima,
como é a regra em todos os crimes que são qualificados pelo resultado. Por
exemplo, fui assaltar uma pessoa e estava armado. A vítima reagiu e eu, para
conseguir fugir, dei um tiro na perna da pessoa. Está evidenciado que eu não
queria matar a pessoa. Mas eu estava disposto a praticar a violência. E aí, por
qualquer fatalidade, a pessoa morre. Isso é roubo qualificado pelo resultado
morte. Essa morte não foi desejada pelo agente mas foi uma decorrência pela
violência que a vítima sofreu. Assim funciona em outros países. Isso é diferente
do assaltante que assalta e mata independentemente de qualquer reação da
vitima. O resultado foi o mesmo. Mas há diferença de gravidade. Nos outros
países, quando há dolo em matar, o sujeito vai responder pelo roubo com
emprego de arma em concurso material com o homicídio qualificado por queima
de arquivo. Então, nos outros países, essa figura do roubo qualificado pela morte
só será empregada na hipótese de morte acidental num contexto de resistência
da vítima, quando fica demonstrado que não houve a intenção de matar. Há um
resguardo do roubo qualificado pela morte para as situações preterdolosas. E
combinamos o homicídio qualificado com o roubo para as situações em que o
homicídio foi intencional para queimar arquivo.
No Brasil o legislador criou a figura do latrocínio, que como tem uma pena que
representa a soma de um homicídio qualificado com o roubo, se admite que a
morte da vítima tenha sido intencional. Então tanto faz. Um tiro na perna ou dois
tiros na cabeça vão resultar em um mesmo tipo penal, com a mesma referência
de pena (20 a 30 anos), possuindo gravidades distintas. E o que é mais
interessante, esse crime de latrocínio não vai a júri popular, mesmo que tenha
havido a intenção de matar. Isso porque ele não está enquadrado como um crime
contra a vida, mas sim como um crime contra o patrimônio.

Existe uma súmula do STF (610) que diz o seguinte:

Há crime de latrocínio, quando o homicídio se consuma, ainda que não realize


o agente a subtração de bens da vítima.

Disso resultam as seguintes conclusões:

- homicídio + roubo = latrocínio consumado


- homicídio + tentativa de roubo = latrocínio consumado
- tentativa de homicídio + roubo = tentativa de latrocínio
- tentativa de homicídio + tentativa de roubo = tentativa de latrocínio

Quando a morte se consuma, ainda que a coisa não tenha sido levada, há
latrocínio consumado.
Tentativa de homicídio significa que teve intenção de matar. E a intenção de
matar vem do local onde a vítima foi atingida.
Se a vítima sobreviveu e não foi atingida em área de risco, pode ser o roubo
qualificado por lesão corporal grave. Só direi que teve tentativa de latrocínio se
tiver o dolo.
ADD Página 12
AULA 09

31/05/2017

Crimes contra o patrimônio

- furto
- roubo
- extorsão: art. 158 CP

sujeito ativo
passivo
tipo objetivo
tipo subjetivo
consumação: súmula 96 do STJ
majorantes: art. 158 par 1o CP
Qualificadoras: art. 158, par 2o CP

- extorsão mediante sequestro: art. 159 CP

sujeitos ativo
passivo
tipo objetivo
tipo subjetivo
consumação
qualificadoras: art. 159, par 1o a 3o
delação premiada: art. 159, par 4o CP

- esbulho possessório: art. 161, II, do CP

sujeitos ativo
passivo
tipo objetivo
tipo subjetivo
consumação

Existem duas modalidades de roubo qualificado: por lesão corporal grave e pela
morte da vítima (latrocínio).
No roubo qualificado por lesão corporal grave, não existem maiores dificuldades.
Isso porque eles vão ser, como costumam ser os crimes qualificados pelo
resultado, preterdolosos como regra geral. Mas aqueles resultados mais graves,
que decorrem da lesão corporal, emprego da violência, independentemente de
terem sido praticados com dolo direto ou não, não mudam o enquadramento. Só
mudava o enquadramento em relação à lesão corporal em caso de perigo de vida
e no caso de aborto. Porque daí pode migrar para o art. 121 ou então poderia
migrar para o crime de aborto, sem o consentimento da gestante. Nos demais
casos, não importa se eu só quis lesionar e porque me excedi a pessoa ficou
incapacitada para ocupações habituais por mais de trinta dias, ou se eu já

ADD Página 13
lesionei com a intenção de incapacitar aquele indivíduo. Via de regra não existe
outro tipo penal que concorra com esse.
Normalmente os crimes qualificados pelo resultado são preterdolosos. Mas isso
não é um requisito fundamental em se tratando de lesão corporal, mesmo nesse
caso de lesão corporal grave, que inclui a grave estrito senso e a gravíssima, que
qualifica o crime de roubo.
Há na qualificadora do latrocínio tem uma imprecisão. Como ele tem uma pena
de 20 a 30 anos, pena mínima bem superior a do homicídio qualificado que é de
12 a 30 anos, ele admite tanto que essa morte não tenha sido intencional, mas
decorra do contexto da violência empregada no roubo, como pode ter sido
intencional, o que seria, em regra, um crime doloso contra a vida. Deveria ir a júri
popular. Mas como isso está enquadrado como crime patrimonial, não vai a júri
popular. Então temos um latrocínio (roubo qualificado pela morte da vítima) que
deveria existir apenas para a hipótese preterdolosa do crime, mas que no Brasil
serve para as duas hipóteses. Então, se o ladrão, porque a vítima reagiu, deu um
tiro na perna da vítima, o que demonstra que ele não tinha a intenção de matar, e
a vítima, por alguma complicação morre, teremos aí um latrocínio. Se o ladrão,
com a finalidade de não ser identificado, sem qualquer reação da vítima, por
maldade, vai e mata a vítima com dois tiros na cabeça, é latrocínio igual. Tem a
mesma pena. Não vai para júri popular. Não tem diferença o tiro ter sido
acidental ou intencional.

Súmula 610 STF que diz que no contexto do latrocínio, quando a morte da vítima
se consuma, se considera o latrocínio consumado ainda que o agente não consiga
ficar com a posse da coisa. A partir dessa súmula teremos os quatro
desdobramentos, o que inclui, inclusive, a possibilidade de crime de tentativa de
latrocínio. Como admitimos que o latrocínio pode se doloso em relação à morte
da vítima, então pode haver tentativa (não existe tentativa de crime culposo e
nem de crime preterdoloso). Temos que identificar no caso concreto se houve ou
não intenção do agente em matar a vítima.

Possibilidades

1. morte + subtração – latrocínio consumado


2. morte + não subtração – latrocínio consumado
3. intenção de matar + roubo – latrocínio tentado
4. intenção de matar + não subtração – latrocínio tentado

Quando não há a morte da vítima mas ela sai lesionada desse roubo (o agente
levou a coisa e chegou a empregar a violência), aí vamos ter que analisar o caso
concreto. Onde foi o tiro, onde foi a facada, para saber se houve a intenção de
matar, e aí seria uma tentativa da latrocínio. Se não, seria um roubo qualificado
com lesão grave ou se houve apenas lesão leve. E se houve lesão leve, a lesão leve
fica absorvida pelo roubo.

ADD Página 14
Extorsão

O crime de extorsão é um crime tipo especial de constrangimento ilegal. O


constrangimento ilegal está previsto no art. 146. Poderíamos dizer que sempre
que alguém é obrigado a fazer alguma coisa que não deseje mediante força,
temos um constrangimento ilegal. Dependendo da intenção do agente, pode
migrar para um tipo penal mais grave do que o constrangimento ilegal. É o caso
da extorsão e é o caso do estupro.
A extorsão é um tipo mais grave porque o agente aqui depende da colaboração
da vítima para a obtenção da vantagem.

Sujeito ativo: o crime pode ser praticado por qualquer pessoa contra qualquer
pessoa (sujeito passivo).

O tipo penal diz o seguinte:

Art. 158 - Constranger (que significa forçar, obrigar) alguém, mediante


violência ou grave ameaça, e com o intuito de obter para si ou para outrem
indevida vantagem econômica, a fazer, tolerar que se faça ou deixar de fazer
alguma coisa:
Pena - reclusão, de quatro a dez anos, e multa.

O dolo é específico. Isso porque o tipo penal indica qual é a finalidade que o
sujeito precisa ter. E é justamente essa finalidade que transforma o que seria o
constrangimento ilegal da extorsão, que diferencia a extorsão do
constrangimento ilegal. Aqui temos como objetivo a vantagem econômica.

Então, a extorsão trata daquelas situações em que o agente não consegue


alcançar a vantagem indevida por conta própria. Ele precisa que a vítima venha a
aderir a sua vantagem.

Um exemplo é o golpe do sequestro por telefone. Se houve mesmo sequestro,


seria o crime de extorsão mediante sequestro. Se não houve sequestro, estamos
falando do crime de extorsão. O crime de extorsão admite tentativa. Para
funcionar a extorsão, a vítima tem que ir até o banco e fazer uma transferência.
Aqui a coisa não está acessível para o agente, ele depende da vítima para obter a
vantagem indevida. Isso tudo que depende da colaboração da vítima é extorsão.
Se não depende da colaboração da vítima é roubo. Por isso que a extorsão é uma
modalidade mais grave de constrangimento ilegal.

Consumação: O crime de extorsão se consuma quando a vítima adere à vontade


do agente, tomando o comportamento que foi obrigada, ainda que o agente não
obtenha a vantagem indevida. Ou seja, a pessoa acreditou no agente, se deslocou
até o banco e por alguma razão não conseguiu fazer a transferência, o crime já se
consumou. Isso por conta da súmula 96 do STJ. Essa súmula diz que o crime de
extorsão consuma-se independentemente da obtenção da vantagem indevida. O
agente assustou, constrangeu a vítima a ponto de se movimentar para entregar a
vantagem.

ADD Página 15
Os casos mais comuns de extorsão são justamentes esses de falsos sequestros
com extorsão por telefone ou o sequestro relâmpago que está no § 3º como
modalidade qualificada.

Majorante (§ 1o do art. 158 CP)

§ 1º - Se o crime é cometido por duas ou mais pessoas, ou com emprego de


arma (qualquer arma, mesma coisa que vale para o roubo), aumenta-se a
pena de um terço até metade.

Qualificadoras (§§ 2º e 3º do art. 158 CP)

§ 2º - Aplica-se à extorsão praticada mediante violência (não fala em grave


ameaça) o disposto no § 3º do artigo anterior.

Então, as mesmas penas do roubo qualificado por lesão grave se aplicam à


extorsão qualificada por lesão grave. As mesmas penas do latrocínio se aplicam à
extorsão qualificada pela morte da vítima. Tanto o latrocínio quanto a extorsão
qualificada pela morte da vítima são crimes hediondos.

A qualificadora do sequestro relâmpago está no § 3º. A pena de é 6 a 12 anos,


mais multa. No sequestro relâmpago o agente aborda a pessoa na rua e leva até a
agência bancária. Somente nessa hipótese.

§ 3º Se o crime é cometido mediante a restrição da liberdade da vítima, e essa


condição é necessária para a obtenção da vantagem econômica, a pena é de
reclusão, de 6 (seis) a 12 (doze) anos, além da multa; se resulta lesão corporal
grave ou morte, aplicam-se as penas previstas no art. 159, §§ 2º e 3º,
respectivamente.

O artigo 158 se aproveita das qualificadoras do roubo (art. 157), na hipótese do §


2º (extorsão mediante violência) e das qualificadoras da extorsão mediante
sequestro (art. 159), na hipótese do § 3º (sequestro relâmpago que resulta em
lesão corporal grave ou morte).
O sequestro relâmpago se consuma com o constrangimento da vítima (privação
da liberdade).

Extorsão mediante sequestro

Esse aqui é hediondo em qualquer umas de suas modalidades. A extorsão


mediante sequestro simples, do caput, já é hediondo. Inclusive foi o crime que
inspirou a lei de crimes hediondos.
Esse delito se diferencia do sequestro relâmpago porque no sequestro tem mais
de uma vítima: a pessoa que é sequestrada e a pessoa, normalmente da família,
que será extorquida (para pagar o resgate). No sequestro relâmpago a mesma
pessoa que eu abordei eu levei para a agência bancária (tem só uma vítima).

Sujeito ativo – qualquer pessoa.


Sujeito passivo – qualquer pessoa (inclusive uma criança).

ADD Página 16
Art. 159 - Seqüestrar pessoa com o fim de obter, para si ou para outrem,
qualquer vantagem, como condição ou preço do resgate:
Pena - reclusão, de oito a quinze anos.

Então, a extorsão mediante sequestro é uma soma de sequestro com cárcere


privado com o crime de extorsão. Esse é o tipo objetivo.

Tipo subjetivo – dolo específico (com o fim de obter vantagem).

A consumação do crime se dá com a privação da liberdade da vítima. Sequestrei


a pessoa, coloquei dentro do caro, o crime já está consumado. A cobrança do
resgate é só um detalhe, que vai até me ajudar a distinguir o sequestro com
cárcere privado de uma extorsão mediante sequestro. Mas o crime em si já está
consumado. Desde que alguém tenha sido sequestrado com a finalidade de servir
como preço do resgate.

Qualificadoras (§§ 1º a 3º)

§ 1º Se o seqüestro dura mais de 24 (vinte e quatro) horas, se o seqüestrado é


menor de 18 (dezoito) ou maior de 60 (sessenta) anos, ou se o crime é cometido
por bando ou quadrilha.
Pena - reclusão, de doze a vinte anos.

Os requisitos de duração do sequestro e da idade dos sequestrado são bem


objetivos.

O crime de quadrilha ou bando estava previsto no art. 288 do CP. Foi substituído
em 2013 pela associação criminosa. Quadrilha, como o próprio nome diz, é
formada pelo mínimo de quatro pessoas. Bando, de cinco em diante. Então, para
configurar o crime de formação de quadrilha, precisávamos de quatro agentes
associados. Agora, na associação criminosa, nós precisamos de três agentes
associados. A pergunta é, se for uma associação criminosa com três pessoas,
qualifica o crime de extorsão mediante sequestro? Não. A qualificadora fala em
quadrilha. Tem que ter pelo menos quatro. Não pode fazer uma interpretação
extensiva para aplicar a qualificadora. Embora não exista mais o crime de
formação de quadrilha.

§ 2º - Se do fato resulta lesão corporal de natureza grave: (sempre que se fala


em lesão corporal de natureza grave estamos nos referindo à lesão corporal
de natureza grave lato senso)
Pena - reclusão, de dezesseis a vinte e quatro anos.
§ 3º - Se resulta a morte:
Pena - reclusão, de vinte e quatro a trinta anos. (pena mais alta do CP)

Aqui diz: se do fato resulta lesão corporal de natureza grave. Não diz: 'se da
violência resulta lesão corporal de natureza grave' ou 'se da violência resulta
morte', como diz lá no roubo e na extorsão, por exemplo. Qualquer coisa que
acontecer com essa vítima que está em cativeiro, que resulte em lesão corporal
de natureza grave (alimentação inadequada, falta de medicamento), ainda que
ela não tenha sido espancada, ainda que ela não tenha levado um tiro, não tenha

ADD Página 17
sofrido uma violência direta, será considerado elemento da qualificadora. Então,
o que acontecer com a vítima é responsabilidade dos agentes. Aqui basta resultar
a lesão grave. Mesmo que não haja violência. Mas a professora entende que
suicídio não daria causa à qualificadora.

Minorante

§ 4º - Se o crime é cometido em concurso, o concorrente que o denunciar à


autoridade, facilitando a libertação do seqüestrado, terá sua pena reduzida de
um a dois terços.

No § 4º vamos ter, pela primeira vez, a previsão da famosa delação premiada.


Aqui entra como uma hipótese de redução de pena. A delação tem que ser eficaz.
Tem que resultar na libertação da vítima. Esse tipo de delação, diferentemente
dos crimes de colarinho branco, não tem efetividade alguma porque a pessoa
recebe uma redução de pena para delatar os comparsas que vão dividir o mesmo
espaço na prisão. Por isso não é comum esse tipo de delação.

Esbulho possessório (art. 161, § 1º, II, CP)

§ 1º - Na mesma pena incorre quem:


II - invade, com violência a pessoa ou grave ameaça, ou mediante concurso de
mais de duas pessoas, terreno ou edifício alheio, para o fim de esbulho
possessório.

O sujeito ativo é qualquer pessoa.

Sujeito passivo é o proprietário ou o possuidor direto.

Esbulho possessório significa tomar a posse direta de uma determinada coisa, de


um bem imóvel, com ânimo de adquirir o domínio. A posse pode ser transitória,
mas tem como finalidade específica tomar aquela coisa.

O dolo aqui é específico. Eu tenho a intenção de me tornar o possuidor direto da


coisa.

Se os colonos invadem a sede da fazenda que está habitada teremos violação de


domicílio. Se coisas são furtadas, vamos ter furto. Se há emprego de violência ou
grave ameaça para a subtração da coisa, vamos ter roubo. Mas se as pessoas
ocupam uma área rural e montam barracas com a intenção de protestar (ou
ocupam um prédio com a intenção de protestar), o que falta para ser esbulho
possessório? O dolo específico. Não existe esbulho possessório nas ocupações
para protesto. A finalidade específica aqui é de protestar. Outros crimes comuns
podem acontecer no contexto de ocupação de uma fazenda. Mas esbulho
possessório depende de um dolo específico de me tornar possuidor direto.

Consuma-se o esbulho possessório na hora em que tomo a posse direta da coisa.

Tenho um apartamento que coloco para alugar. Eu fico com a posse indireta e o
locatário com a posse direta.

ADD Página 18
- Apropriação Indébita: art. 168 CP

Sujeitos ativo
Passivo
Tipo objetivo
Tipo subjetivo
Consumação
Majorante:

- Apropriação Indébita Previdenciária: art. 168-A CP

Sujeitos ativo
Passivo
Tipo objetivo
Tipo subjetivo
Consumação
Extinção da punibilidade: art. 168-A, § 2o CP
Perdão judicial: art. 168-A, § 3o CP

Apropriação indébita

Crime bem leve que não envolve violência ou grave ameaça a pessoa. Só que ele
exige um vínculo especial entre o sujeito ativo e o sujeito passivo. Não é um
delito que possa ser praticado por qualquer pessoa contra qualquer pessoa.

O sujeito ativo é o possuidor direto do bem, aquele que já está com a posse do
bem.
O sujeito passivo é o proprietário.

Qual a diferença da apropriação indébita para o furto e para o estelionato?


No furto eu subtraio alguma coisa que não é minha, e via de regra a vítima nem
percebe.
Na apropriação indébita eu resolvo tomar para mim uma coisa que já está na
minha posse, e essa posse tem que ser de boa- fé.
Vamos imaginar que tenho um livro raro. Se alguém aproveita minha distração e
leva o livro, é furto. Se alguém, de boa-fé, pede o livro emprestado para tirar
Xerox e leva ele, e depois resolve ficar com o livro, de má-fé, isso é apropriação
indébita. Se a má-fé, o dolo, já existe no momento em que a pessoa pede
emprestado, sabendo que não vai devolver, que vai ficar com o livro, isso é
estelionato. Isso porque eu fui induzido em erro.

Art. 168 - Apropriar-se de coisa alheia móvel, de que tem a posse ou a detenção:
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.

Tipo objetivo: a posse anterior deve ser de boa-fé.


Tipo subjetivo: dolo.

Consumação: Com a inversão do título de posse. Quando o agente resolve que


não vai devolver (a vítima só não sabe ainda disso). Manifestações externas vão

ADD Página 19
indicar que houve apropriação indébita: pedi de volta e ele não devolveu (devo
pedir porque a pessoa pode ter esquecido de devolver); a pessoa vendeu para
outro.

Havendo dúvida se a má-fé era anterior ou posterior, vou interpretar da maneira


mais favorável.

Majorante

§ 1º - A pena é aumentada de um terço, quando o agente recebeu a coisa:


I - em depósito necessário;
II - na qualidade de tutor, curador, síndico, liquidatário, inventariante,
testamenteiro ou depositário judicial; (figuras responsáveis por patrimônio
alheio)
III - em razão de ofício, emprego ou profissão. (vale para os advogados que se
apropriam dos bens de clientes)

Apropriação indébita previdenciária

A apropriação indébita pode envolver valores descontados do trabalhador e não


repassados ao INSS. Isso é uma conduta comum quando a empresa está em
dificuldades financeiras. Ela paga o salário para o funcionário e retém a parte do
INSS, sem repassá-los. Depois que a situação da empresa se agrava, o funcionário
não conta com o FGTS porque a empresa não repassou os valores.

Art. 168-A. Deixar de repassar à previdência social as contribuições recolhidas


dos contribuintes, no prazo e forma legal ou convencional:
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa.
§ 1º Nas mesmas penas incorre quem deixar de: (isso serve para exemplificar
o que seriam modalidades de apropriação indébita previdenciária)
I – recolher, no prazo legal, contribuição ou outra importância destinada à
previdência social que tenha sido descontada de pagamento efetuado a
segurados, a terceiros ou arrecadada do público;
II – recolher contribuições devidas à previdência social que tenham integrado
despesas contábeis ou custos relativos à venda de produtos ou à prestação de
serviços;
III - pagar benefício devido a segurado, quando as respectivas cotas ou valores
já tiverem sido reembolsados à empresa pela previdência social.

Sujeito ativo: quem está na posse dos valores, quem recolheu e descontou os
valores licitamente dos empregados, sem repassá-los. Mas não é pessoa jurídica,
mas sim a pessoa física que tomou a decisão de não repassar os valores para a
previdência.

Sujeito passivo: trabalhador, empregado, previdência.

Tipo objetivo: apropriação = posse lícita.


Tipo subjetivo: dolo.

Consumação: No momento em que há a decisão (aqui já há a posse lícita dos


valores) de não repassar os valores para a previdência social, com a inversão do
título de posse desses valores.

ADD Página 20
Extinção da punibilidade

§ 2º É extinta a punibilidade se o agente, espontaneamente, declara, confessa e


efetua o pagamento das contribuições, importâncias ou valores e presta as
informações devidas à previdência social, na forma definida em lei ou
regulamento, antes do início da ação fiscal.

A professora defendia que essa extinção de punibilidade se estendesse ao furto e


à apropriação indébita comum.

Perdão judicial

§ 3º É facultado ao juiz deixar de aplicar a pena ou aplicar somente a de multa


se o agente for primário e de bons antecedentes, desde que:
I – tenha promovido, após o início da ação fiscal e antes de oferecida a
denúncia, o pagamento da contribuição social previdenciária, inclusive
acessórios; ou
II – o valor das contribuições devidas, inclusive acessórios, seja igual ou inferior
àquele estabelecido pela previdência social, administrativamente, como sendo
o mínimo para o ajuizamento de suas execuções fiscais. (esse valor é de R$
20.000,00)

Perdão para o sujeito que confessa e paga, mesmo após a execução fiscal, e
extinção da punibilidade se ele o faz antes do início da execução fiscal.

ADD Página 21
AULA 10

07/06/2017

Crimes Contra o Patrimônio

- Estelionato: art. 171 CP


Sujeitos ativo
Passivo
Tipo objetivo: artifício / ardil (stellio)
Tipo subjetivo
Consumação

* Fraude bilateral
* Privilegiadora: art. 172, § 1o CP

- Modalidade especiais: art. 171, § 2º CP


I – Disposição de coisa alheia
V – Fraude no recebimento de seguro
VI – Fraude no pagamento por meio de cheque

* Estelionato contra idoso: art. 171, § 4o CP

Súmulas:
17, 24, 48 e 244 STJ
246, 521 e 554 STF

- Receptação
Própria: art. 180, 1a parte
Sujeitos ativo
Passivo
Tipo objetivo
Tipo subjetivo

Imprópria: art. 180, 2a parte do CP


Sujeitos ativo
Passivo
Tipo objetivo
Tipo subjetivo
Consumação

* Receptação Qualificada: art. 180, § 1o CP

ADD Página 22
Recapitulando...

Qual a diferença entre extorsão e roubo?


Em ambos o sujeito está tentando obter uma vantagem, ou uma coisa que não lhe
pertence, usando violência ou grave ameaça. Na extorsão é fundamental a
colaboração da vítima para alcançar a vantagem. Se a vítima não aderir à vontade
do agente, ele pode até matar a vítima, mas ele não leva a vantagem. No roubo a
coisa está, em tese, acessível. A extorsão é uma modalidade especial de
constrangimento ilegal, justamente porque emprega violência ou grave ameaça
para constranger a vítima a entregar alguma coisa que a pessoa não tem acesso
por conta própria, e por isso depende da colaboração da vítima.

Qual a principal problemática do tipo penal de latrocínio (roubo qualificado pela


morte da vítima) da forma como ele foi tipificado no Brasil?
Não distingue o crime preterdoloso (dolo de empregar violência para obter a
coisa e a vítima morre em decorrência dessa violência, mas não há uma
intencionalidade, uma intenção de matar) de um latrocínio doloso. Então, um
crime que seria genuinamente preterdoloso foi transformado num crime que
pode ser doloso em relação ao homicídio, mas que está qualificado dentre os
crimes patrimoniais. Portanto, pode ser doloso contra a vida (se o ladrão quis
efetivamente matar a vítima), mas não está classificado dentre os crimes contra a
vida.

Qual a diferença entre furto e apropriação indébita?


No furto vou subtrair alguma coisa. Via de regra a vítima nem vê. Na apropriação
indébita vou resolver ficar com a coisa para mim depois que ela já está na minha
posse direta. Ou seja, o dolo surge na mente do agente após a obtenção da posse
direta da coisa. Ele obtém a posse de boa-fé e depois inverte esse título de posse,
transformando em uma posse de má-fé, na medida em que ele resolveu tomar
aquela coisa que estava emprestada para ele.

Estelionato

Diferente disso é o estelionato. Ele é diferente do furto porque é sempre a vítima


que entrega a vantagem (no furto a pessoa toma a coisa e eu nem tomo
conhecimento). No estelionato eu tenho também um dolo anterior à posse da
coisa. Nisso ele se assemelha ao furto. Mas se diferencia da apropriação indébita
somente por ser o dolo anterior à posse da coisa, na medida em que, tanto no
estelionato como na apropriação indébita é a própria vítima quem entrega a
coisa para a o agente.
No furto o agente toma a coisa à revelia da vítima, com dolo anterior. Na
apropriação indébita a vítima entrega a coisa e o agente toma de boa-fé e depois
desenvolve a má-fé. E no estelionato, a vítima entrega a coisa para o agente que
já está previamente de má-fé, que já possui o dolo anteriormente à posse da
coisa. Isso significa dizer que o estelionatário é o intelectual do crime. Porque ele
consegue com dolo convencer a vítima a entregar a vantagem para ele,utilizando
fraude, enganando. Ele induz a vítima em erro, dolosamente.

ADD Página 23
Estelionato decorre de stellio, que significa um camaleão. O estelionatário é um
camaleão que vai se camuflando conforme o ambiente e o contexto para obter a
vantagem.

Sujeito ativo: qualquer pessoa.


Sujeito passivo: qualquer pessoa.

Art. 171 - Obter, para si ou para outrem, vantagem ilícita, em prejuízo alheio,
induzindo ou mantendo alguém em erro, mediante artifício, ardil, ou qualquer
outro meio fraudulento:
Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa, de quinhentos mil réis a dez
contos de réis.

Artifício seria algum instrumento fraudulento, algum tipo de disfarce material.


Ardil é astúcia. O sujeito é muito bom na argumentação.
Aqui induz a vítima em erro porque ela não conhece a realidade, então ela acaba
sendo enganada pelo agente.

Tipo subjetivo é o dolo. Não existe, por razões óbvias, estelionato culposo.

A consumação acontece com a obtenção da vantagem indevida.

Fraude bilateral

Na fraude bilateral o agente se aproveita da má-fé da própria vítima. São os


golpes do tipo conto do bilhete premiado ou conto do legado (o sujeito diz que
tem um legado de família que quer doar para uma instituição financeira, mas não
quer aparecer, e aí pede alguma coisa como garantia de que a pessoa irá levar a
maleta para a entidade beneficiária). Isso também é crime de estelionato. Ainda
que se saiba que ele só aconteceu porque a vítima quis ser esperta e levar
vantagem.

Privilegiadora

§ 1º - Se o criminoso é primário, e é de pequeno valor o prejuízo, o juiz pode


aplicar a pena conforme o disposto no art. 155, § 2º.

Aqui fala em prejuízo de pequeno valor e não em coisa de pequeno valor.


Toma-se o SM como referência para coisa de pequeno valor. Mas no estelionato
preciso confrontar essa quantia com a situação econômica da vítima. Isso porque
o dispositivo fala em prejuízo. Então, uma pessoa que ganha um SM e teve um
prejuízo de um SM, teve um grande prejuízo. Isso depende da condição
econômica da vítima.

ADD Página 24
Modalidades especiais

No § 2o se vê exemplos de crimes de estelionato:

§ 2º - Nas mesmas penas incorre quem:


Disposição de coisa alheia como própria
I - vende, permuta, dá em pagamento, em locação ou em garantia coisa alheia
como própria;
Alienação ou oneração fraudulenta de coisa própria
II - vende, permuta, dá em pagamento ou em garantia coisa própria
inalienável, gravada de ônus ou litigiosa, ou imóvel que prometeu vender a
terceiro, mediante pagamento em prestações, silenciando sobre qualquer
dessas circunstâncias;
Defraudação de penhor
III - defrauda, mediante alienação não consentida pelo credor ou por outro
modo, a garantia pignoratícia, quando tem a posse do objeto empenhado;
Fraude na entrega de coisa
IV - defrauda substância, qualidade ou quantidade de coisa que deve entregar a
alguém;
Fraude para recebimento de indenização ou valor de seguro
V - destrói, total ou parcialmente, ou oculta coisa própria, ou lesa o próprio
corpo ou a saúde, ou agrava as conseqüências da lesão ou doença, com o
intuito de haver indenização ou valor de seguro;
Fraude no pagamento por meio de cheque
VI - emite cheque, sem suficiente provisão de fundos em poder do sacado, ou lhe
frustra o pagamento.

I – Disposição de coisa alheia como própria. Quem vende, permuta, dá em


pagamento, em locação ou em garantia coisa alheia como própria.
Isso é muito comum. Especialmente em se tratando de pessoas com baixo nível
de instrução. É comum as pessoas comprarem e venderem carros e motos sem
que seja feita a transferência. Aqui o que acontece é que eu vendo algo que não
me pertence, alegando que sou o dono da coisa. Isso é um tipo de estelionato. Até
porque o verdadeiro proprietário, comprovando que a coisa é dele, ele tem
direito à restituição, e quem vai ser o lesado vai ser a pessoa que comprou a
coisa do estelionatário. Esse terceiro vai perder o bem. Isso só ocorre na
modalidade dolosa. Não tem como praticar fraude na modalidade culposa.

V – Fraude no recebimento de seguro. Aqui temos um contrato. Não é qualquer


pessoa que pode praticar ou ser vítima do crime. Então nós vamos ter como
sujeito ativo o segurado (pessoa que tem contrato de seguro) e como sujeito
passivo, como vítima, a seguradora. Que conduta dolosa é essa? Quem destrói
total ou parcialmente, ou oculta coisa própria, ou lesa o próprio corpo ou a saúde,
ou agrava as consequências da lesão ou doença, com o intuito de haver
indenização ou valor de seguro.
Vamos imaginar que eu fiz um seguro do carro. Vi que na tabela da FIPE ele está
com valor mais alto do que no mercado. E aí eu resolvo dar uma de esperto e
registro uma ocorrência de que o carro foi furtado. Acontece todos os dias. A
rigor o crime se consuma com a prática de qualquer uma das condutas descritas
no tipo penal, independentemente da obtenção do seguro. Esse crime entra na
cifra obscura da criminalidade. Ele se resolve na esfera cível. As seguradoras
acabam pagando o seguro e correm atrás para tentar recuperar os carros.

ADD Página 25
VI – Fraude no pagamento por meio de cheque. Isso significa passar um cheque
sem provisão de fundos, intencionalmente. Quem emite cheque, sem suficiente
provisão de fundos em poder do sacado, ou lhe frustra o pagamento.
Ele entra na cifra obscura da criminalidade porque é difícil estabelecer se houve
culpa ou dolo. É muito fácil o sujeito se defender dizendo que foi culposa a
conduta, que se atrapalhou, que tinha um pagamento para entrar que não entrou,
etc.
Havia uma discussão doutrinária de que o cheque pré-datado não se enquadraria
nesse tipo penal (cheque é ordem de pagamento à vista), porque no momento
em que eu estabeleço um prazo diferenciado para o desconto, eu tirei a natureza
do cheque de ordem de pagamento à vista. Então, consequentemente, eu
desconstituí o objeto.
Esse crime se consuma no momento da apresentação do cheque para desconto
no banco.
Esse crime só pode ser praticado pelo emitente. Ele é o sujeito ativo. Sujeito
passivo é quem recebeu o cheque. O tomador do cheque. Ou seja, o cheque tem
que ser meu mesmo. Se for um cheque falsificado, aí é modalidade de estelionato
do caput, porque quem está assinando o cheque não é o dono da conta corrente.

Majorantes (§§ 3o e 4o)

§ 3º - A pena aumenta-se de um terço, se o crime é cometido em detrimento de


entidade de direito público ou de instituto de economia popular, assistência
social ou beneficência.
Estelionato contra idoso
§ 4º Aplica-se a pena em dobro se o crime for cometido contra idoso.

Súmulas STJ

Súmula 17 – Quando o falso se exaure no estelionato, sem mais potencialidade


lesiva, é por este absorvido.

Porque existem os crimes contra a fé pública, incluindo o crime de falsificação de


documento, público e particular. Se faço uma falsificação num documento apenas
para obter uma vantagem específica, a súmula diz que o estelionato absorve a
falsificação. Por exemplo, não tenho convênio de saúde, e aí eu falsifico uma
carteira de identidade, ponho uma foto minha numa carteira de uma pessoa que
tem convênio para poder ser atendido.

Súmula 24 – Aplica-se ao crime de estelionato, em que figure como vítima entidade


autárquica da Previdência Social, a qualificadora do § 3º do art. 171 do CP.

Também posso aplicar estelionato contra o INSS. É bem comum conseguir um


atestado para buscar uma aposentadoria por invalidez, para buscar o auxílio
saúde. Isso é estelionato com aumento de pena do § 3º do art. 171 do CP.

Súmula 48 – Compete ao Juízo do local da obtenção da vantagem ilícita processar


e julgar crime de estelionato cometido mediante falsificação de cheque.

ADD Página 26
Súmula 244 – Compete ao foro do local da recusa processar e julgar o crime de
estelionato mediante cheque sem provisão de fundos.

Qual o local competente para julgar esse crime? É o local onde está localizada a
agência bancária em que o cheque foi apresentado para ser descontado.

Súmulas STF

Súmula 246 – Comprovado não ter havido fraude, não se configura o crime de
emissão de cheque sem fundos.

Se não houve dolo, não há crime. Não precisava dizer isso, uma vez que o crime é
doloso. Se não houve fraude, não houve dolo. Logo, a conduta é culposa. Então
não é crime.

Súmula 521 – O foro competente para o processo e julgamento dos crimes de


estelionato, sob a modalidade da emissão dolosa de cheque sem provisão de fundos,
é o do local onde se deu a recusa do pagamento pelo sacado.

Mesmo conteúdo da Súmula 244 do STJ.

Súmula 554 – O pagamento de cheque emitido sem provisão de fundos, após o


recebimento da denúncia, não obsta ao prosseguimento da ação penal.

Essa daqui a gente tem que interpretar ao contrário. Então, se o pagamento de


cheque emitido sem provisão de fundos, após o recebimento da denúncia, não
obsta ao prosseguimento da ação penal, então quer dizer que até o recebimento
da denúncia obsta o prosseguimento. Então, temos uma modalidade aqui de
extinção da punibilidade quando o agente indeniza o valor o cheque antes do
recebimento da ação penal. A possibilidade de extinção da punibilidade é
exclusiva para a fraude no pagamento por meio de cheque.

Receptação

Temos a receptação própria e a receptação imprópria.


Esse crime está sofrendo problemas de interpretação a partir da ampliação dos
crimes de lavagem de capitais.

Receptação própria (1ª parte do caput do art. 180 do CP)

Receptar significa adquirir um bem que foi objeto de um crime anterior


(qualquer crime anterior, mas via de regra será de um crime patrimonial). Então,
por exemplo, o ladrão que furtou/roubou meu carro, ele responde pelo
furto/roubo. Mas ele vai fazer alguma coisa com esse carro. Se ele vender, quem
comprou do ladrão é o receptador e vai responder por receptação. Então, quem
furta e quem rouba nunca responde por receptação. Porque a venda daquele
produto para um terceiro é mero exaurimento do crime de furto ou de roubo.
Quem responde por receptação é sempre alguém que não praticou o crime

ADD Página 27
antecedente. A receptação é um delito acessório. Ele depende de um delito
principal.

Art. 180 - Adquirir, receber, transportar, conduzir ou ocultar, em proveito


próprio ou alheio, coisa que sabe ser produto de crime, ou influir para que
terceiro, de boa-fé, a adquira, receba ou oculte:
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.

Tem que ficar muito claro que o agente sabia que era produto de crime. Isso está
no próprio tipo penal. Se ele não sabe, não tem dolo. Ele é intermediário que
normalmente atua entre a pessoa que pratica o crime antecedente e o
consumidor final. O consumidor final pode ou não ser terceiro de boa-fé.

Sujeito ativo: Esse crime pode ser praticado por qualquer pessoa, exceto o autor
do crime antecedente.
Sujeito passivo é o proprietário da coisa e/ou o terceiro de boa-fé.

O tipo penal é claro. Tem vários verbos: adquirir, receber, transportar, conduzir
ou ocultar.
Mas como tem a expressão 'coisa que sabe ser objeto de crime', indica que o dolo
é direto, e não é eventual (tipo subjetivo).

Em relação ao tipo objetivo, existe hoje uma discussão em que alguns autores
entendem que o crime de receptação foi esvaziado pelo crime de lavagem de
capitais. Vanessa discorda. Diz que o crime de lavagem de capitais, previsto em
uma lei especial, é uma espécie de receptação. O agente está dando uma
roupagem lícita para um dinheiro que foi obtido de forma ilícita.
A origem do nome é porque a máfia americana investia o dinheiro ilícito obtido
com o tráfico de drogas em lavanderias. Todo traficante lava o seu dinheiro com
um empresário.
Na primeira lei de lavagem de capitais no Brasil, ela estabelecia um rol de crimes
antecedentes. Basicamente os crimes antecedentes à lavagem de capitais eram os
crimes eram os crimes do colarinho branco, os crimes contra o sistema
tributário, e o tráfico de drogas. Outros crimes antecedentes levavam para a
receptação, incluindo o roubo e o furto. O que aconteceu na nova lei de lavagem
de capitais é que foi excluído o artigo que estabelecia o rol de crimes
antecedentes. Antes os crimes tinham que ser específicos, aqueles taxativamente
mencionados na lei. Então, em tese qualquer crime antecedente pode dar ensejo
à lavagem de capitais. Então, como se diferencia o crime de lavagem de capitais
do crime de receptação? Alguns autores criticam a exclusão do rol e a
consequente ampliação. Mas embora sejam crimes parecidos, existe uma
diferença fundamental entre lavagem de capitais e receptação. Na lavagem de
capitais eu tenho uma atividade contínua (em regra é assim). É praticamente
uma parceria que vai existir entre o empresário e, por exemplo, o traficante.
Segundo, o próprio negócio é uma fraude. Ele existe para lavar o dinheiro (por
exemplo, do tráfico). Diferentemente da receptação, que pode acontecer de
forma eventual. Claro que existem as casas que compravam e vendiam, por
exemplo, autopeças de carros furtados. Mas posso ter uma atividade eventual. A
receptação está mais relacionada aos crimes anteriores patrimoniais (na prática
a receptação se vincula sempre com o furto e o roubo como crimes

ADD Página 28
antecedentes). Diferentemente da lavagem de capitais, que é mais relacionada a
crimes praticados por organizações criminosas.

Receptação imprópria (2ª parte do caput do art. 180)

Art. 180 - Adquirir, receber, transportar, conduzir ou ocultar, em proveito


próprio ou alheio, coisa que sabe ser produto de crime, ou influir para que
terceiro, de boa-fé, a adquira, receba ou oculte:
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.

Isso é bastante difícil de acontecer. Mas vamos imaginar que eu, sabendo que
existe uma concessionária que trabalhe com carros roubados e furtados, em
acordo com o proprietário, levo um amigo meu de boa-fé, que não é de Porto
Alegre, e indico aquela concessionária como sendo uma concessionária de
confiança para que ele compre um carro. E ele acaba comprando um carro
roubado. Então, o dono da empresa responde por receptação própria (vai ser
qualificada porque ele tem um negócio) e eu, que induzi meu amigo, terceiro de
boa-fé, a comprar um carro roubado, respondo por receptação imprópria. E o
meu amigo é vítima.

A receptação imprópria consuma-se com a influência.

Receptação qualificada

§ 1º - Adquirir, receber, transportar, conduzir, ocultar, ter em depósito,


desmontar, montar, remontar, vender, expor à venda, ou de qualquer forma
utilizar, em proveito próprio ou alheio, no exercício de atividade comercial ou
industrial, coisa que deve saber ser produto de crime:
Pena - reclusão, de três a oito anos, e multa.

Por que na receptação do caput consta 'coisa que sabe ser produto de crime' e na
receptação qualificada 'coisa que deve saber ser produto de crime'? Isso indica
que a receptação qualificada admite dolo eventual.

A receptação qualificada é praticada pelo empresário e admite não apenas o dolo


direto, mas também o dolo eventual. Isso porque o comerciante tem a obrigação
de saber qual é a origem dos produtos que coloca à venda. Não tem desculpa.

O comerciante vai sempre responder por receptação qualificada, que tem pena
maior. Se exige do comerciante uma responsabilidade maior com o consumidor.
O consumidor depende. Pode responder por receptação do caput do art. 180 do
CP, se ele sabe que a coisa que adquiriu é objeto de furto/roubo, pode responder
por receptação culposa, se ele tinha como desconfiar em virtude da
desproporção do preço, ou pode ser vítima, se não tinha como desconfiar.

Equipara-se à atividade comercial qualquer comércio, até o irregular ou exercido


em residência (vendedor de produtos a domicílio).

Quem traz uma mercadoria sem pagar o imposto de importação responde por
descaminho. O camelô que compra essa mercadoria e coloca à venda responde

ADD Página 29
por descaminho também. E o consumidor que vai lá no camelódramo e compra a
mercadoria pode, dependendo da situação, responder por receptação culposa.

* Receptação Culposa: art. 180, § 3o CP


- escusa absolutória: art. 180, § 5o CP
diferente descaminho (art. 334 CP)

* Receptação de animal: art. 182-A CP


Disposições gerais
- - escusa absolutória art. 181 c/c 153 CP
- ação penal pública condicionada: art. 182 c/c 183 CP

- crime contra a propriedade intelectual art. 184 CP

sujeitos ativo
passivo
tipo objetivo
tipo subjetivo
consumação

Receptação culposa (art. 180, § 3º, do CP)

Essa é a única hipótese de crime contra o patrimônio privado que existe na


modalidade culposa.

§ 3º - Adquirir ou receber coisa que, por sua natureza ou pela desproporção


entre o valor e o preço, ou pela condição de quem a oferece, deve presumir-se
obtida por meio criminoso:
Pena - detenção, de um mês a um ano, ou multa, ou ambas as penas.

Então, se existe uma desproporção muito grande entre o preço da coisa e o valor
que estão pedindo, eu já devo desconfiar.
Se eu tiver um terceiro de boa-fé, ele é vítima. Mas se ele quis ser esperto e
comprou um produto que dá para desconfiar (em virtude do contexto em que o
bem foi adquirido ou em virtude da desproporção absurda que existe entre o
valor daquele produto e o preço que está sendo pedido), ele pode responder, em
tese, por receptação culposa.
Aquele que adquire dolosamente sabendo que é produto de crime responde por
receptação dolosa. Consumidor também pode responder por receptação dolosa.

Existe uma hipótese de escusa absolutória no art. 180, § 5º:

§ 5º - Na hipótese do § 3º, se o criminoso é primário, pode o juiz, tendo em


consideração as circunstâncias, deixar de aplicar a pena. Na receptação dolosa
aplica-se o disposto no § 2º do art. 155 (minorante relativa a coisa de pequeno
valor).

ADD Página 30
Majorante

§ 6º - Tratando-se de bens e instalações do patrimônio da União, Estado,


Município, empresa concessionária de serviços públicos ou sociedade de
economia mista, a pena prevista no caput deste artigo aplica-se em dobro.

Existe essa majorante para quando existe a lesão a algum bem público.

Descaminho (diferença para) - (art. 334)

Art. 334. Iludir, no todo ou em parte, o pagamento de direito ou imposto devido


pela entrada, pela saída ou pelo consumo de mercadoria.
Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos.

Significa importar ou exportar mercadoria sem pagar o imposto devido. É um


tipo especial de sonegação de impostos, de crime contra o sistema tributário.

§ 1º Incorre na mesma pena quem:


I - pratica navegação de cabotagem, fora dos casos permitidos em lei;
II - pratica fato assimilado, em lei especial, a descaminho;
III - vende, expõe à venda, mantém em depósito ou, de qualquer forma, utiliza
em proveito próprio ou alheio, no exercício de atividade comercial ou
industrial, mercadoria de procedência estrangeira que introduziu
clandestinamente no País ou importou fraudulentamente ou que sabe ser
produto de introdução clandestina no território nacional ou de importação
fraudulenta por parte de outrem;
IV - adquire, recebe ou oculta, em proveito próprio ou alheio, no exercício de
atividade comercial ou industrial, mercadoria de procedência estrangeira,
desacompanhada de documentação legal ou acompanhada de documentos que
sabe serem falsos.

É claro que eu sei que o sacoleiro que vai no Paraguai e enche um ônibus de
produtos e entra no País sem declarar esses produtos e sem pagar os tributos,
pratica o crime de descaminho. Se ele vende para alguém que vende lá no
camelódromo, esse alguém também vai responder pelo crime de descaminho. O §
1o diz que se eu utilizo produto descaminhado em atividade empresarial eu
respondo por descaminho. Tecnicamente, conceitualmente, isso é uma
receptação. Mas o legislador optou por colocar essa modalidade de receptação lá
no tipo do descaminho. Mas apenas a atividade comercial. O consumidor final
responde por receptação. Aí pode ser dolosa, se comprovado o dolo direto, ou
pode ser culposa, se não foi comprovado o dolo direto.

Receptação de animal (art. 180-A do CP)

Art. 180-A. Adquirir, receber, transportar, conduzir, ocultar, ter em depósito ou


vender, com a finalidade de produção ou de comercialização, semovente
domesticável de produção, ainda que abatido ou dividido em partes, que deve
saber ser produto de crime:
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa.

Essa é outra modalidade de receptação introduzida recentemente no CP.


O legislador já havia estabelecido uma qualificadora no furto de semovente de
produção (art. 155, § 6º), e aqui estabelece uma receptação qualificada para

ADD Página 31
quem adquire o semovente do ladrão. Esses dois dispositivos é influência da
bancada ruralista do CN.
Se aplica aqui a mesma coisa que se aplica para a receptação do caput do art.
180, com a única diferença que temos um tipo penal específico, qualificado para
isso. É uma modalidade qualificada.

Disposições gerais (sobre os crimes patrimoniais)

Art. 181 - É isento de pena quem comete qualquer dos crimes previstos neste
título, em prejuízo:
I - do cônjuge, na constância da sociedade conjugal;
II - de ascendente ou descendente, seja o parentesco legítimo ou ilegítimo, seja
civil ou natural.

Art. 182 - Somente se procede mediante representação, se o crime previsto


neste título é cometido em prejuízo:
I - do cônjuge desquitado ou judicialmente separado;
II - de irmão, legítimo ou ilegítimo;
III - de tio ou sobrinho, com quem o agente coabita.

Art. 183 - Não se aplica o disposto nos dois artigos anteriores:


I - se o crime é de roubo ou de extorsão, ou, em geral, quando haja emprego de
grave ameaça ou violência à pessoa;
II - ao estranho que participa do crime.
III – se o crime é praticado contra pessoa com idade igual ou superior a 60
(sessenta) anos.

Temos três artigos importantes, mas que precisamos ter o seguinte cuidado:

 Sempre fazer a leitura do art. 181 c/c art. 183, no que diz respeito à
escusa absolutória (isenção de pena); e
 Sempre fazer a leitura do art. 182 c/c art. 183, no que diz respeito à
previsão de ação penal pública condicionada à representação em alguns
casos específicos. A regra para os crimes contra o patrimônio é a ação
penal pública incondicionada. A exceção está no art. 182.

Mas por que temos que ler o art. 181 combinado com o art. 183? Porque o art.
183 excepciona o art. 181 e também excepciona o art. 182. Então, se a gente olha
somente o art. 181 pode incorrer em erro.

O art. 181 diz que é isento de pena quem comete qualquer dos crimes previstos
neste título (aqui estamos falando de todos os crimes patrimoniais, começando
com o furto e terminando com a receptação), em prejuízo do cônjuge, na
constância da sociedade conjugal, ou de ascendente ou descendente, seja o
parentesco legítimo ou ilegítimo, seja civil ou natural (desconsiderar isso porque
o CC não faz mais essa diferença).

Então, se eu furto do meu pai, avô ou filho sou isento de pena. Mas isso não se
aplica para qualquer crime patrimonial. É preciso ver o que diz o art. 183. Então,
a isenção de pena do art. 181 vale para o furto, para apropriação indébita, para o
estelionato, mas não vale para os crimes com violência ou grave ameaça a
pessoa. Isso quer dizer que se eu assaltar meu pai a mão armada eu vou
responder pelo crime. E não aplica ao estranho que participa do crime, de tal

ADD Página 32
forma que se o amigo furtou junto com o filho, o filho não vai responder pelo
crime de furto, mas o amigo do filho vai. Também não aplica a isenção se o crime
for cometido contra pessoa com idade igual ou superior a 60 anos.

O art. 182 vai falar da ação penal. A regra é que os crimes contra o patrimônio
são de ação penal pública incondicionada. Mas se procede mediante
representação se o crime previsto nesse título é cometido em prejuízo do ex-
marido ou ex-mulher, de irmão ou de tio ou sobrinho com quem coabito. Ou seja,
contra essa pessoa eu escolho se quero representar ou não. Mas isso não se
aplica se o crime for com violência ou grave ameaça a pessoa, em relação ao
estranho que participa do crime ou se cometido contra pessoas de mais de 60
anos de idade. Esses casos serão sempre de ação pública incondicionada.

Violação de direitos autorais (art. 184)

Art. 184. Violar direitos de autor e os que lhe são conexos:


Pena – detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, ou multa.

Sujeito ativo é qualquer pessoa


Sujeito passivo é o autor da obra (tudo o que é produzido a partir do talento de
uma determinada pessoa. pode ser um talento artístico, pode ser um talento
científico).

Tipo objetivo: o caput é muito singelo. Vamos ver as situações específicas que
são mencionadas no artigo:

§ 1º Se a violação consistir em reprodução total ou parcial, com intuito de lucro


direto ou indireto, por qualquer meio ou processo, de obra intelectual,
interpretação, execução ou fonograma, sem autorização expressa do autor, do
artista intérprete ou executante, do produtor, conforme o caso, ou de quem os
represente:
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa.

Esse tipo qualificado significa que há o intuito de lucro.

§ 2º Na mesma pena do § 1º incorre quem, com o intuito de lucro direto ou


indireto, distribui, vende, expõe à venda, aluga, introduz no País, adquire,
oculta, tem em depósito, original ou cópia de obra intelectual ou fonograma
reproduzido com violação do direito de autor, do direito de artista intérprete
ou executante ou do direito do produtor de fonograma, ou, ainda, aluga
original ou cópia de obra intelectual ou fonograma, sem a expressa
autorização dos titulares dos direitos ou de quem os represente.

§ 3º Se a violação consistir no oferecimento ao público, mediante cabo, fibra


ótica, satélite, ondas ou qualquer outro sistema que permita ao usuário
realizar a seleção da obra ou produção para recebê-la em um tempo e lugar
previamente determinados por quem formula a demanda, com intuito de lucro,
direto ou indireto, sem autorização expressa, conforme o caso, do autor, do
artista intérprete ou executante, do produtor de fonograma, ou de quem os
represente:
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa.

ADD Página 33
§ 4º O disposto nos §§ 1º, 2º e 3º não se aplica quando se tratar de exceção ou
limitação ao direito de autor ou os que lhe são conexos, em conformidade com
o previsto na Lei nº 9.610, de 19 de fevereiro de 1998, nem a cópia de obra
intelectual ou fonograma, em um só exemplar, para uso privado do copista,
sem intuito de lucro direto ou indireto.

Todas as condutas do art. 184 são dolosas e se consumam com a prática da ação
descrita no verbo.

ADD Página 34
AULA 11

14/06/2017

Crimes Contra a Fé Pública

1. Moeda Falsa (art. 289 CP)


Sujeitos Ativo
Passivo
Tipo Objetivo
Tipo Subjetivo
Consumação

2. Falsificação de Documento Público (art. 297 CP)


X
3. Falsificação de Documento Particular (art. 298 CP)
Sujeitos Ativo
Passivo
Tipo Objetivo: escrito, conteúdo, autoria
Tipo Subjetivo
Consumação

4. Falsidade Ideológica (art. 299 CP)

Crimes Contra a Fé Pública

Fé pública, que é o bem jurídico protegido por esses crimes, significa a


credibilidade especial de documento e papeis expedidos pelo poder público. O
que está em jogo aqui é a credibilidade do próprio poder público. Esse é o bem
jurídico protegido. Por isso que todas essas condutas previstas aqui são
criminalizadas na modalidade dolosa, intencional. Assim como os crimes contra
o patrimônio privado, à exceção da receptação, que tem uma modalidade
culposa.
Dependendo do tipo de crime, vai ser de competência da justiça federal ou
estadual a apuração desses crimes.

Moeda Falsa

Fabricar moeda falsa, que tanto pode ser a cédula de papel como a moeda
metálica em si.
Sujeito ativo pode ser qualquer pessoa.
Sujeito passivo é o Estado (União, que é quem tem competência para fabricar a
moeda nacional). Mas pode ter uma vítima secundária, que é a pessoa que recebe
a moeda falsa e fica no prejuízo.

Art. 289 - Falsificar, fabricando-a (criando materialmente) ou alterando-a,


moeda metálica ou papel-moeda de curso legal no país ou no estrangeiro:
Pena - reclusão, de três a doze anos, e multa.

ADD Página 35
§ 1º - Nas mesmas penas incorre quem, por conta própria ou alheia, importa ou
exporta, adquire, vende, troca, cede, empresta, guarda ou introduz na
circulação moeda falsa (evidentemente sabendo que é falsa).

§ 2º - Quem, tendo recebido de boa-fé, como verdadeira, moeda falsa ou


alterada, a restitui à circulação, depois de conhecer a falsidade, é punido com
detenção, de seis meses a dois anos, e multa.

§ 3º - É punido com reclusão, de três a quinze anos, e multa, o funcionário


público ou diretor, gerente, ou fiscal de banco de emissão que fabrica, emite ou
autoriza a fabricação ou emissão (a pena máxima é mais elevada quando o
crime é praticado por funcionário público, mas o crime pode ser praticado
por qualquer pessoa):
I - de moeda com título ou peso inferior ao determinado em lei;
II - de papel-moeda em quantidade superior à autorizada.

§ 4º - Nas mesmas penas incorre quem desvia e faz circular moeda, cuja
circulação não estava ainda autorizada.

Existem teses defensivas em relação à moeda falsa. Existe uma tendência muito
forte a se considerar que há crime impossível quando a falsificação da moeda for
grosseira, ou seja quando qualquer um identifica que ela é falsa.

Esse crime se consuma com a fabricação da moeda, independentemente de ela


vir a ser colocada em circulação, ou a adulteração de uma moeda verdadeira. Isso
em relação ao caput.
Em relação às situações dos §§ 1º e 2º, o crime se consuma com a prática da
conduta descrita no verbo.
A competência é sempre da justiça federal (o sujeito passivo é o Estado).
A ação é penal pública incondicionada.

Falsidade documental

Falsificação de documento público (art. 297) X falsificação de documento


particular (art. 298). Esse confronto é porque a única coisa que muda é a
qualidade do documento. Todas as outras características de um crime se aplicam
ao outro crime.

Assim como o crime de moeda falsa, em sua modalidade básica do caput, implica
produzir, fabricar uma moeda falsa, ou alterar dolosamente uma moeda uma
verdadeira, na falsificação de documento público eu fabrico um documento
público ou altero materialmente um documento público verdadeiro.
Qualquer pessoa pode praticar o crime e a vítima é o Estado.
Mas quem é competente para processar e julgar o agente responsável por esse
crime? Depende de quem expediu o documento. Se o documento for o passaporte
expedido pela Polícia Federal, a competência é da justiça federal. Se for um RG ou
uma CNH, a competência é a justiça estadual. Depende então da natureza do
documento para que se possa identificar a competência.
Mas vamos ter o Estado como a principal vítima, em virtude do bem jurídico
protegido ser a credibilidade dos documentos expedidos pelo Poder Público.

Então, o que é um documento? É algo escrito (pode ser impresso ou manuscrito a


caneta – escrito a lápis não é documento). Ele tem que ter um conteúdo (isso
ADD Página 36
significa que uma folha assinada em branco não é documento). E tem que ter
uma autoria (um autor identificado). Esses são os requisitos básicos de um
documento.
Se ele foi expedido por um funcionário público, ele é um documento público. Se
ele foi elaborado por um particular, como uma procuração para um advogado,
por exemplo, ele é um documento particular. Esses são os chamados crimes de
contrafação, que é criar materialmente um documento.
Posso criar materialmente um RG, uma CNH ou um passaporte. Como posso
também pegar um documento verdadeiro e substituir a foto. Os dois são casos de
contrafação.

Uma procuração por instrumento público, como se faz em tabelionato, é


instrumento público. Uma procuração elaborada por um advogado não. Um
documento particular do qual eu fiz um Xerox autenticado, se eu modifico algum
dado desse documento particular, é falsificação de documento particular. Agora,
se eu alterar alguma informação da etiqueta do tabelionato, é falsificação de
documento público. Eu alterei nesse caso o que foi produzido pelo poder público.

Art. 297 - Falsificar, no todo ou em parte, documento público, ou alterar


documento público verdadeiro:
Pena - reclusão, de dois a seis anos, e multa.

Consuma-se com a falsificação, isso é, com a produção material de documento


falso ou alteração material de um documento verdadeiro, independentemente do
uso.

§ 1º - Se o agente é funcionário público, e comete o crime prevalecendo-se do


cargo, aumenta-se a pena de sexta parte.

§ 2º - Para os efeitos penais, equiparam-se a documento público o emanado de


entidade paraestatal, o título ao portador ou transmissível por endosso, as
ações de sociedade comercial, os livros mercantis e o testamento particular.

§ 3º Nas mesmas penas incorre quem insere ou faz inserir:


I – na folha de pagamento ou em documento de informações que seja destinado
a fazer prova perante a previdência social, pessoa que não possua a qualidade
de segurado obrigatório;
II – na Carteira de Trabalho e Previdência Social do empregado ou em
documento que deva produzir efeito perante a previdência social, declaração
falsa ou diversa da que deveria ter sido escrita;
III – em documento contábil ou em qualquer outro documento relacionado com
as obrigações da empresa perante a previdência social, declaração falsa ou
diversa da que deveria ter constado.

§ 4º Nas mesmas penas incorre quem omite, nos documentos mencionados no §


3º, nome do segurado e seus dados pessoais, a remuneração, a vigência do
contrato de trabalho ou de prestação de serviços.

O art. 298 diz:

Art. 298 - Falsificar, no todo ou em parte, documento particular ou alterar


documento particular verdadeiro:
Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa.

ADD Página 37
Aqui a pena é menor porque o documento foi elaborado por um particular, então
não é a credibilidade do Estado que está sendo posta em questão.
Esse crime é doloso e se consuma com a produção, a fabricação do documento
falso, ou a alteração material do documento verdadeiro.

Questão: existe uma tendência a se confundir falsificação de documento com


falsidade ideológica e mais, falsidade ideológica com crime de falsa identidade.

Falsidade ideológica diz respeito também a documento, diz respeito à falsificação


de documento, e não à apresentação de uma pessoa como se fosse outra.

Falsidade ideológica

Art. 299 - Omitir, em documento público ou particular, declaração que dele


devia constar, ou nele inserir ou fazer inserir declaração falsa ou diversa da
que devia ser escrita, com o fim de prejudicar direito, criar obrigação ou
alterar a verdade sobre fato juridicamente relevante:
Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa, se o documento é público, e
reclusão de um a três anos, e multa, se o documento é particular.

Tem pena diferenciada se o documento é público (1 a 5 anos) ou particular (1 a 3


anos).

Como se diferencia uma falsidade de documento de uma falsidade ideológica?


Na falsificação de documento público ou particular, o documento todo
materialmente é falso. Ele foi produzido falso. O passaporte é falso. Não foi
expedido pela Polícia Federal. Ou eu peguei um passaporte verdadeiro e alterei
dados, como a foto. Alterei materialmente. Na falsidade ideológica, o documento,
do ponto de vista formal, é perfeito. Ele efetivamente foi expedido pela
autoridade competente, se foi falsidade ideológica de documento público, por
exemplo. Então, extrinsecamente, em relação aos seus requisitos externos, ele é
perfeito. O documento não é uma fraude em si. Mas existe uma informação nesse
documento que foi inserida de forma errônea dolosamente. Então, via de regra,
se eu tenho falsificação ideológica de documento público, alguém induziu o
funcionário público em erro.

Para vender um imóvel devo ter a autorização do cônjuge, mas se eu me declaro


solteiro, o documento é ideologicamente falso. Pode ser falso se o funcionário
público está em conluio ou se foi induzido em erro.

A pena da falsidade ideológica é menor do que da falsidade material.

A falsidade ideológica, como envolve documento, também se consuma com a


produção desse documento com o conteúdo inverídico (pode ser documento
público ou particular).

Sujeito passivo é o Estado.

ADD Página 38
Falsa Identidade (art. 307)

Art. 307 - Atribuir-se ou atribuir a terceiro falsa identidade para obter


vantagem, em proveito próprio ou alheio, ou para causar dano a outrem:
Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa, se o fato não constitui
elemento de crime mais grave.

Art. 308 - Usar, como próprio, passaporte, título de eleitor, caderneta de


reservista ou qualquer documento de identidade alheia ou ceder a outrem,
para que dele se utilize, documento dessa natureza, próprio ou de terceiro:
Pena - detenção, de quatro meses a dois anos, e multa, se o fato não constitui
elemento de crime mais grave.

São duas modalidades de falsa identidade:

1. Eu vou lá e me apresento como outra pessoa (art. 307); ou


2. Pego a carteira de meu irmão e me apresento como ele para receber, por
exemplo, um atendimento (art. 308).

Então, falsificação de documento pressupõe alteração material de documento


verdadeiro ou fabricação de um documento falso.
Falsidade ideológica também diz respeito a documento. O conteúdo do
documento é falso porque eu induzi alguém em erro. Mas, extrinsecamente o
documento é perfeito. Ele foi expedido pela autoridade competente, mas o
conteúdo é que é inverídico. Ele não foi alterado.
Falsa identidade significa me apresentar como outra pessoa, que, no popular, as
pessoas confundem com falsidade ideológica, ou então apresentar um
documento de outra pessoa como se fosse meu.

E se, por acaso, eu falsifico, fabrico um passaporte falso e vou tentar sair do país
e me apresento com passaporte falso? Isso é falsificação de documento público.
E se não fui eu quem falsifiquei o passaporte, mas estou tentando sair do país
com ele? Aí é uso de documento falso (art. 304), que tem a mesma pena da
falsificação.

A falsa identidade, que é o crime de menor potencial ofensivo, não envolve a


falsificação de documento. Eu vou lá e me apresento como outra pessoa. Acredite
que quiser. Ou pego um documento de outra pessoa e tento usar. Aqui tento
enganar, mas não quebro a credibilidade dos documentos públicos. Por isso ele
tem um menor potencial ofensivo.

São todos crimes de ação penal pública incondicionada. Só muda a competência


(federal ou estadual), dependendo de quem expede o documento.

ADD Página 39
Crimes Contra a Administração Pública

- Crimes Funcionais

o Próprios
o Impróprios

- Conceito de Funcionário Público (art. 327 CP)

Esses crimes chamados de crimes funcionais se dividem doutrinariamente em


crimes funcionais próprios e crimes funcionais impróprios.
Nos crimes funcionais próprios, a conduta praticada só é típica se o sujeito ativo
for um funcionário público para efeitos penais. Já nos crimes funcionais
impróprios, a conduta está prevista como crime para o sujeito ativo funcionário
público, mas também se encontra tipificada quando o sujeito ativo for um
particular.
A professora quer dizer com isso que os crimes funcionais, como o próprio nome
diz, são praticados por funcionário público. Qual funcionário público? O
funcionário público para efeitos penais que vai ser conceituado a seguir. Agora,
como é que a doutrina distingue os crimes funcionais (praticados por
funcionário público) próprios dos impróprios? Nos próprios a conduta só é
criminosa porque foi praticada por um funcionário público. Aquela mesma
conduta praticada por um particular é conduta atípica. Exemplo: prevaricação.
Os crimes funcionais impróprios estão previstos nesse título também para o
sujeito ativo funcionário público. Agora, se o particular praticar aquela mesma
conduta, pode não responder por esse tipo penal específico, mas a conduta dele
está tipificada em algum outro lugar do CP. Então, aquela conduta é criminosa,
independentemente de o sujeito ser funcionário público ou não. Se for
funcionário público o sujeito ativo, estará nesse título a conduta. Se for um
particular, estará em outro tipo penal espalhado no CP. Exemplo: peculato, que
não é nada mais do que o furto ou a apropriação indébita praticada pelo
funcionário público contra a administração. Praticada a conduta pelo particular,
é furto ou apropriação indébita. É crime igual, só que não é crime funcional. Já a
prevaricação, só é criminosa para o funcionário público sujeito ativo. Um
particular que pratica exatamente a mesma conduta não comete crime. A
conduta é atípica.

Conceito de funcionário público para efeitos penais

A gente normalmente pensa que funcionário público é o servidor público


definido na lei de servidores público, que é uma lei que integra o direito
administrativo. Só que em matéria penal o legislador optou por construir uma
definição própria de funcionário público. E essa definição aparece no art. 327 do
CP:

Art. 327 - Considera-se funcionário público, para os efeitos penais, quem,


embora transitoriamente ou sem remuneração, exerce cargo (pode ser tanto
mandato eletivo como cargo investido mediante em concurso público),
emprego ou função pública (as funções públicas podem ser remuneradas e

ADD Página 40
podem ser sem remuneração, como, por exemplo o mesário em dia de
eleições, o jurado no tribunal de júri).
§ 1º - Equipara-se a funcionário público quem exerce cargo, emprego ou função
em entidade paraestatal, e quem trabalha para empresa prestadora de serviço
contratada ou conveniada para a execução de atividade típica da
Administração Pública (ou seja, o funcionário de uma terceirizada do poder
público também pode ser considerado funcionário público para efeitos
penais).
§ 2º - A pena será aumentada da terça parte quando os autores dos crimes
previstos neste Capítulo forem ocupantes de cargos em comissão ou de função
de direção ou assessoramento de órgão da administração direta, sociedade de
economia mista, empresa pública ou fundação instituída pelo poder público.

Há uma discussão se os estagiários podem ser considerados funcionários


públicos para efeitos penais. Vamos encontrar os dois posicionamentos na
doutrina. Alguns entendem que, como esse artigo já amplia o conceito de
funcionário público para efeitos penais, e ele não menciona expressamente o
estagiário, seria uma analogia em malam partem fazê-lo, o que não podem. A
professora se inclina a interpretar dessa forma. Mas boa parte da doutrina vai
dizer que é possível estender ao estagiário porque o estagiário tem acesso aos
locais, e esse acesso aos locais e aos documentos pode ser o facilitador para o
crime.
O § 1º menciona também as entidades paraestatais. Quais são as entidades
paraestatais? Autarquias, empresas públicas, sociedades de economia mista
(nessa há certa controvérsia, mas prevalece o entendimento que entra na
categoria).

Interessante é que nos primeiros crimes que vamos começar a tratar (peculato,
corrupção passiva, prevaricação), eles podem ser praticados por qualquer
funcionário público, incluindo os funcionários de paraestatais e de terceirizadas,
dependendo da atividade prestada, enquanto sujeito ativo. Agora, os crimes que
vamos ver depois, que são os crimes contra a administração da justiça, em que o
funcionário não é agente, mas sim vítima, aí não se usa o conceito estendido de
funcionário público. Aí se utiliza o conceito estrito de servidor público, ou seja,
aquele que está definido na lei dos servidores públicos. Então, um funcionário da
CEF (empresa pública) pode praticar corrupção passiva, mas não sofre desacato
(ele só pode sofrer injúria, como qualquer outro cidadão).

Tem aumento de pena para quando o sujeito exerce função de chefia.

ADD Página 41
2. Peculato

Peculato-apropriação (art. 312, caput, 1a parte CP)


Peculato Doloso Peculato-desvio (art. 312, caput, 2a parte CP)
Peculato-furto (art. 312, § 1o CP)
Peculato mediante erro de outrem (art. 313 CP)

Peculato Culposo (art. 312, § 2o CP)

Peculato de Uso

- Peculato-apropriação (art. 312, caput, 1a parte CP)


Sujeitos Ativo
Passivo
Tipo Objetivo
Tipo Subjetivo
Consumação

- Peculato-desvio (art. 312, caput, 2a parte CP)

O peculato é um crime funcional impróprio. Ou seja, ele tem essa tipificação nos
crimes contra a administração pública porque, nesse caso, ele será praticado por
um funcionário público. O sujeito ativo será necessariamente um funcionário
público, aquele funcionário público conceituado pelo art. 327, ou seja o
funcionário público para efeitos penais.
Sujeito passivo é o Estado como principal vítima, e eventualmente um particular
prejudicado por essa atitude.
Ele é um crime funcional impróprio porque, a rigor, a mesma conduta, quando
praticada por um particular, poderá ser apropriação indébita, poderá ser furto.
No caso de peculato mediante erro de outrem seria uma modalidade especial
também de apropriação indébita.
Recebe esse nome diferenciado quando praticado (furto ou apropriação
indébita) por funcionário público contra bens do Estado ou bens de particulares
que estejam na posse do Estado.
O peculato pode ser doloso, culposo ou ainda peculato de uso

Peculato-apropriação (art. 312, 1ª parte)

Praticado por funcionário público contra o Estado, e tem como elemento


objetivo, como podemos observar no art. 312, a necessidade de que esse
funcionário público detenha a posse lícita desse bem ou valor. Para praticar o
crime de peculato-apropriação, o funcionário público precisa ter a posse lícita da
coisa, que pode ser um bem ou uma vantagem.

Art. 312 - Apropriar-se o funcionário público de dinheiro, valor ou


qualquer outro bem móvel, público ou particular, de que tem a posse em
razão do cargo, ou desviá-lo, em proveito próprio ou alheio:
Pena - reclusão, de dois a doze anos, e multa.

ADD Página 42
A parte em negrito é o tipo penal do peculato-apropriação. A segunda parte já é o
peculato-desvio.
Então ele tem que ter a posse em razão do cargo. Então vejam que não são
quaisquer funcionários que vão praticar esse tipo de crime. É até mais comum a
gente encontrar o peculato furto, que não exige a posse da coisa, mas apenas um
acesso facilitado, por ser funcionário, por exemplo, daquela repartição, do que o
peculato-apropriação acontecer. O peculato-apropriação pode acontecer por um
tesoureiro de um Município ou Estado, por exemplo. E pode acontecer em
relação a bens móveis que estejam na sua posse. Como eu sei o que está na posse
do funcionário publico? Tudo aquilo que ele pode levar para casa, ele tem a
posse. O que ele não pode levar para casa ele não tem a posse, ele só utiliza no
momento do trabalho. Se eu tenho a posse de um notebook da administração e
depois me aproprio desse notebook, é peculato-apropriação.
Pode ser um carro apreendido pela polícia que esta lá no depósito. Ele é um bem
de particular que está na posse da administração. Um carro alugado pela
administração pode estar na posse do funcionário público.

Tudo falado em relação à apropriação indébita se aplica ao peculato-apropriação,


só que aqui temos um sujeito ativo específico, que é o funcionário público, e um
bem específico, que pertence à administração, ou à um particular, mas que está
na posse da administração. O funcionário público precisa ter a posse lícita da
coisa, o que significa poder ir até a casa dele com a coisa sem ter problemas.

Se consuma da mesma forma como a apropriação indébita se consuma: com a


inversão do título de posse. Quando o funcionário público decidiu que não vai
mais devolver a coisa. Tomou para si.

Peculato-desvio (art. 312, 2ª parte)

Esse é bem próprio da administração. Isso significa desviar o valor ou o bem em


proveito próprio ou alheio. A pena é exatamente a mesma. Não precisa ser
necessariamente tomar para mim o valor ou o bem. Desviar significa dar um
destino diferente. Então vamos supor que eu administre a distribuição de verbas
de uma prefeitura ou de uma Secretaria de Estado e uma verba que deveria ser
destinada a um determinado serviço é desviado para outro serviço. Ela não foi
para o meu bolso, ela foi desviada. Mas se ficar evidenciado que eu pratiquei esse
desvio intencionalmente com a intenção de obter algum tipo de vantagem, que
pode ser inclusive uma vantagem política (desviei uma verba de uma secretaria
para outra em troca de alguma vantagem), vamos ter um peculato-desvio. É um
tipo especial de apropriação indébita, só que nesse caso, em vez de o funcionário
público tomar para si a coisa, ele muda o destino da coisa, e obtém outro tipo de
vantagem que não é a coisa. Via de regra vai ser algum tipo de troca de favores
político.

Peculato-furto (art. 312, § 1º)

§ 1º - Aplica-se a mesma pena, se o funcionário público, embora não tendo a


posse do dinheiro, valor ou bem, o subtrai (mesmo verbo do furto), ou
concorre para que seja subtraído (que significa estar em conluio com a outra
pessoa, embora um seja de dentro da administração e outro de fora), em

ADD Página 43
proveito próprio ou alheio, valendo-se de facilidade que lhe proporciona a
qualidade de funcionário (significa facilidade de acesso aos locais).

Também praticado pelo funcionário público contra o Estado. Nesse caso a única
diferença para o peculato-apropriação é que ele não tem a posse. Então eu tenho
que subtrair mesmo utilizando a facilidade de acesso. O crime também é doloso e
se consuma da mesma forma que o furto. Consuma-se quando a coisa é retirada
da esfera de disponibilidade da vítima ou com a posse tranquila da coisa. Esses
são os dois posicionamentos doutrinários/jurisprudenciais existentes a respeito
da consumação.

Em relação ao roubo, inclusive, temos a súmula 582 do STJ dizendo que o crime
de roubo se consuma com a posse da coisa, ainda que o sujeito tenha sofrido
perseguição. Isso está sumulado para o roubo, que envolve violência e grave
ameaça a pessoa.

Súmula 582
Consuma-se o crime de roubo com a inversão da posse do bem mediante
emprego de violência ou grave ameaça, ainda que por breve tempo e em
seguida à perseguição imediata ao agente e recuperação da coisa roubada,
sendo prescindível a posse mansa e pacífica ou desvigiada.

Peculato mediante erro de outrem (art. 313)

Dispositivo preciso, mas praticamente desnecessário, porque é um tipo especial


de peculato-apropriação.

Art. 313 - Apropriar-se de dinheiro ou qualquer utilidade que, no exercício do


cargo, recebeu por erro de outrem:
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.

É quase como aquela situação de apropriação de coisa havida por erro. Então, eu
paguei o tributo duas vezes, e o funcionário, percebendo o meu equívoco, se
apropria desse tributo excedente. É um tipo de apropriação indébita. Ou furto,
dependendo da qualidade do funcionário. Se ele movimenta essa quantia, se ele
tem a liberdade de movimentar essa quantia, ou se ele não tem a posse dessa
coisa.
É simplesmente uma forma de peculato-apropriação que se consuma da mesma
forma como o peculato-apropriação: quando o sujeito ativo resolve tomar a coisa
para si.

Peculato de uso

Furto de uso é quando pego o carro de alguém sem pedir emprestado para dar
uma volta e depois devolvo. Isso é uma conduta atípica.

Em relação ao peculato de uso, como envolve bens que pertencem à


administração, ou que estão na posse da administração pública, vamos ter que
separar os bens fungíveis dos bens infungíveis.
Bem fungível é aquele substituível, como por exemplo valores.

ADD Página 44
Bens infungíveis, como uma viatura ou um computador, que não são
substituíveis.
Se o bem foi for infungível, a conduta não se configura como peculato. E via de
regra é atípica. Só a utilização de serviços e mão de obra da administração
configura improbidade administrativa, mas não é peculato igual.
Já em relação aos bens fungíveis, ainda que seja de uso e o valor seja devolvido, é
crime de peculato. O sujeito vai ter, se ele devolver o valor, a redução de pena
pelo arrependimento posterior, mas não fica isento de pena.

Peculato culposo

A professora é contra o dispositivo. Acha que não deveria existir.

§ 2º - Se o funcionário concorre culposamente para o crime de outrem:


Pena - detenção, de três meses a um ano.

O que significa isso? Funcionário público não agiu de má-fé, não possuía dolo,
não quis se apropriar de nada, não quis furtar nada, no entanto, por uma
negligência dele, alguém se aproveitou de sua negligência e subtraiu ou se
apropriou de algo. Então ele está sendo punido pela negligência.
Pode ser uma falta de fiscalização ou até mesmo um crime praticado por um
vigilante.
Vamos imaginar que, por esquecimento, o vigilante esqueceu uma porta de um
laboratório aberta e alguém entrou lá e furtou um computador. Esse vigilante
responderá por peculato culposo. Isso porque, em virtude da falha dele, alguém
praticou um crime contra a administração. O ladrão, se particular e se não estiver
em conluio com o funcionário público, responde por furto. Se funcionário
público, responde por peculato doloso. Se o vigilante estava em conluio com o
ladrão, o vigilante e o particular responderão por peculato furto doloso (sim, o
particular responde nesse caso por peculato – o tipo só pode ser praticado por
funcionário público - art. 30 do CP - a condição de funcionário público é
elementar do crime de peculato, logo, se estende aos coautores e partícipes, mas,
para isso, precisa ter o funcionário público diretamente envolvido dolosamente,
senão o particular vai responder pelo furto).
Quando se consuma o peculato culposo? No momento da consumação do delito
praticado pelo terceiro.
Se o vigilante esqueceu a porta aberta e ninguém levou nada, não há crime. O
peculato culposo só é crime quando um crime for cometido depois.
Se a porta ficou aberta e alguém entrou para roubar e não conseguiu, esse
terceiro vai responder por tentativa de furto, mas o vigilante não vai responder
por crime algum.
Não existe peculato culposo tentado (não há crime culposo tentado).
Em relação aos crimes funcionais, a gente vai ver que os funcionais próprios
envolvem apenas os funcionários públicos, mas em relação aos funcionais
impróprios, como o peculato, o particular também pode responder por ele, desde
que esteja atuando em concurso de agentes com um funcionário publico.
Embora exista a previsão de]o furto para o particular, se ele estiver atuando em
conluio, concurso de agentes, com um funcionário público, o art. 30 estende o
peculato para o particular também.

ADD Página 45
AULA 12

21/06/2017

Crimes Contra a Administração Pública

- Peculato: art. 312 do CP


- Corrupção Passiva e Corrupção Ativa: arts. 317 e 333 do CP
- Concussão: art. 316 do CP
- Corrupção Passiva Privilegiada e Prevaricação: arts. 317, § 2o, e 319 do CP

Contrabando

Facilitação do contrabando ou descaminho: art. 318 CP

Descaminho

Sujeitos Ativo: funcionário público


Passivo: Estado

Consumação
Prevaricação: art. 319 CP; art. 319-A CP

Próprios
Crimes Funcionais
Impróprios

Crimes Contra a Administração Pública

- Praticados por funcionário público


- Praticados por particular

Os crimes contra a administração pública podem ser divididos em dois grandes


grupos:

1. Crimes contra a administração pública praticados por funcionários


públicos (1ª parte desse título). Esses são crimes os chamados crimes
funcionais, exclusivos do funcionário público. Eles se dividem em
próprios e impróprios.
2. Crimes contra a administração pública praticados por particular (pessoa
externa ao serviço público).

O peculato é crime próprio de funcionário público. Se a mesma conduta for


praticada por um particular, vai ser furto, apropriação indébita ou qualquer
outra coisa.

ADD Página 46
Corrupção passiva e ativa. Observe-se como são distintos os artigos. A corrupção
passiva está no art. 317 e a corrupção ativa no art. 333:

Art. 317 - Solicitar ou receber, para si ou para outrem, direta ou indiretamente,


ainda que fora da função ou antes de assumi-la, mas em razão dela, vantagem
indevida, ou aceitar promessa de tal vantagem:
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa.

Art. 333 - Oferecer ou prometer vantagem indevida a funcionário público, para


determiná-lo a praticar, omitir ou retardar ato de ofício:
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa.

Corrupção passiva é crime praticado por funcionário publica. Corrupção ativa,


corruptor, é crime externo à administração pública. Eles são crimes que se
complementam, mas eles estão distantes na localização geográfica do CP porque
estão em capítulos distintos.

Concussão é crime típico de funcionário público.

Corrupção passiva privilegiada e prevaricação também são crimes típicos de


funcionário público.

Esses crimes funcionais, típicos de funcionários públicos, podem ser


eventualmente praticados por particular? Sim, mas somente se estiverem em
concurso de agentes (conluio) com o funcionário público. E mais do que isso,
essa coautoria irá acontecer nos crimes funcionais impróprios. Ou seja, naqueles
cuja conduta também é prevista como crime para o particular, só que em outro
lugar geográfico do CP (não com essa natureza de crime funcional). Se eu não sou
um servidor público, eu não tenho como ser, por exemplo, coautor de
prevaricação, que é um crime funcional próprio.

Peculato é o furto ou a apropriação indébita praticada por funcionário público


contra bens da administração pública ou bens de particulares que estejam na
posse da administração pública.
No art. 312 do CP temos o peculato-apropriação na primeira parte e o peculato-
desvio na segunda parte. Peculato-desvio é aquele em que eu desvio a verba para
um outro local. Eu não me aproprio da coisa para mim, mas eu desvio para outro
local.
Exemplo de peculato-desvio é o deputado federal que nomeia o empregado
doméstico como secretário parlamentar. A consumação nesse caso é o momento
do efetivo desvio do dinheiro.

Peculato-furto é a situação do § 1º do art. 312 do CP. Diferença entre o peculato-


furto e o peculato-apropriação é que no peculato-apropriação o funcionário
público tem a posse lícita da coisa, e no peculato-furto ele não tem a posse lícita
da coisa, ele só tem o acesso facilitado ao local, mas ele subtrai a coisa.

Peculato de uso - O funcionário público pega a coisa emprestada sem pedir.


Dependendo da natureza da coisa, pode ser crime ou não. Se for uma coisa
infungível (uma viatura, por exemplo), vai ser atípica a conduta. Se for algo

ADD Página 47
fungível (valores, por exemplo), será crime de peculato. No furto de uso, a
conduta será atípica em qualquer caso, sendo a coisa fungível ou infungível.

Peculato culposo – Quando o funcionário, por negligência, acaba permitindo, sem


quere, que um terceiro se aproprie ou subtraia um bem público. Esse peculato
culposo não se consuma com a negligência, ou com a descoberta da negligência,
mas sim no momento da consumação do eventual crime praticado pelo terceiro.
Se nenhum terceiro praticou crime, aí também não haverá crime de peculato
culposo do funcionário público.

Concussão

A concussão é mais grave que a corrupção passiva. No entanto, porque a


corrupção é um crime muito (mal) falado, acabou sofrendo uma modificação
legislativa que tornou a sua pena maior do que a da concussão. Então, nós temos
um crime que é mais grave com pena menor do que outro que é menos grave.
Por que: Porque o menos grave é mais famoso.

Art. 316 - Exigir, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que
fora da função ou antes de assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida:
Pena - reclusão, de dois a oito anos, e multa.

Exigir é um tipo de extorsão, e implica uma coação. Aqui eu não estou pedindo,
não estou sugerindo, eu estou exigindo. Aqui tem uma carga de coação. É uma
tipo de extorsão praticada pelo funcionário público. Não existe aqui as palavras
"mediante violência ou grave ameaça", como no roubo e como na própria
extorsão, mas o verbo exigir indica que houve um tipo de coação. É quase como
se houvesse uma grave ameaça, só que sem o uso de revólver. Normalmente esse
é um crime próprio dos agentes das polícias. Um agente do fisco também pode
praticar esse crime.

Sujeito ativo – funcionário público.

Tipo objetivo – exigir, que é uma modalidade de extorsão. Exigir é um tipo de


extorsão e implica uma coação.

Consumação – com a exigência, independentemente dele vir a receber a


vantagem indevida ou não. O cidadão que entregou ou não entregou a vantagem
é vítima.

Situações envolvendo veículos na estrada e PRF. A pessoa é parada e o PRF exige


uma vantagem indevida, sob pena de multar. Isso carrega uma ameaça em si
(ameaça da multa).
Interessante notar nesse exemplo que, se é o motorista quem oferece a vantagem
ao PRF, teremos um caso de corrupção ativa por parte do particular, e poderá ou
não ter a corrupção passiva do PRF, dependendo se ele aceitou ou não a
vantagem. Se é o PRF quem exige a vantagem, teremos um caso de concussão.
Mais interessante ainda é que, se o PRF não exige, mas apenas solicita, sugere,
uma vantagem, estaremos diante de um caso de corrupção passiva (primeira

ADD Página 48
modalidade), que apesar de ser um crime menos grave apresenta pena mais alta
do que a concussão.

Relação da concussão com a primeira modalidade de corrupção passiva: Na


concussão o agente exige e na primeira modalidade de corrupção passiva o
agente solicita.

No § 1º do art. 316 teremos o excesso de exação, que é um tipo especial de


concussão:

§ 1º - Se o funcionário exige tributo ou contribuição social que sabe ou deveria


saber indevido, ou, quando devido, emprega na cobrança meio vexatório ou
gravoso, que a lei não autoriza:
Pena - reclusão, de 3 (três) a 8 (oito) anos, e multa.

O excesso de exação também carrega uma espécie de chantagem e de coação.


O crime se consuma na exigência ou no emprego do meio vexatório.

Corrupção

Crime Corrupção Passiva (art. 317) Corrupção Ativa (art. 333)


Sujeito Ativo Funcionário público Particular (corruptor)
Solicitar ??????
Condutas Receber Oferecer
Aceitar promessa Prometer
Consumação Com a realização da ação Com a realização da ação
descrita no verbo nuclear descrita no verbo nuclear

Corrupção passiva

Art. 317 - Solicitar ou receber, para si ou para outrem, direta ou indiretamente,


ainda que fora da função ou antes de assumi-la, mas em razão dela, vantagem
indevida, ou aceitar promessa de tal vantagem:
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa.

É a primeira modalidade da corrupção passiva, que tem o verbo solicitar, que fica
muito próxima da concussão, que tem o verbo exigir. Em ambas, a iniciativa de
receber propina parte do funcionário público, e não de um particular que tenta
corrompê-lo. A diferença é se houve apenas uma sugestão, um acordo, ou se
houve uma exigência, uma espécie de coação.

Quando o funcionário público solicita uma vantagem indevida, o particular pode


concordar em pagar ou não. Em qualquer um dos casos ele será vítima.
Sempre que a propina parte de uma iniciativa do funcionário público, nós vamos
ter do outro lado o particular como vítima, seja na primeira modalidade de
corrupção passiva, seja na concussão (em que há exigência).

Consumação: Com a realização da ação descrita no verbo nuclear. Ou seja, no


momento em que o funcionário público solicita a propina, independentemente
do comportamento do particular está consumado o crime.

ADD Página 49
No momento em que eu recebi a propina que me foi ofertada por iniciativa do
particular, está consumado o crime. No momento em que aceitei a promessa,
mesmo antes de receber a vantagem indevida, está consumado o crime.

Tem um aumento de 1/3 da pena da corrupção passiva se o funcionário público


retardar ou deixar de praticar qualquer ato de ofício, ou praticar infringindo
dever funcional, para cumprir o acordo que fez com o particular. Ou se ele
efetivamente causar algum tipo de prejuízo, descumprir a sua função, nós temos
ainda um aumento automático de 1/3, que normalmente acontece, senão não faz
nenhum sentido a corrupção passiva. Então, vai ser sempre de 2 a 12 anos com
aumento de 1/3, a menos que não tenha dado tempo de ele descumprir o ato de
ofício (para não ter o aumento de 1/3). Normalmente as condutas aqui estão
interligadas:
§ 1º - A pena é aumentada de um terço, se, em conseqüência da vantagem ou
promessa, o funcionário retarda ou deixa de praticar qualquer ato de ofício ou
o pratica infringindo dever funcional.

O § 2º é outro crime que vamos ver na sequência.

Corrupção ativa

Art. 333 - Oferecer ou prometer vantagem indevida a funcionário público, para


determiná-lo a praticar, omitir ou retardar ato de ofício:
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa.

Parágrafo único - A pena é aumentada de um terço, se, em razão da vantagem


ou promessa, o funcionário retarda ou omite ato de ofício, ou o pratica
infringindo dever funcional.

Consuma-se com a realização da ação descrita no verbo, ou seja, com o


oferecimento da promessa, independentemente da realização pelo funcionário
do ato de ofício. Se tiver ainda a realização do ato de ofício combinado, aí nós
temos aumento de 1/3 para ele também (para o corruptor ativo).

Corrupção X Prevaricação

Existe também uma relação entre a corrupção passiva privilegiada do § 2º do art.


317 com a prevaricação do art. 319.
Esses dois crimes são crimes praticados por funcionário público.

§ 2º - Se o funcionário pratica, deixa de praticar ou retarda ato de ofício, com


infração de dever funcional, cedendo a pedido ou influência de outrem:
Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa.

O que é uma corrupção passiva privilegiada? É o descumprimento de um ato de


ofício pelo funcionário público, cedendo a um pedido ou influência, mas sem o
envolvimento de propina. Na corrupção passiva privilegiada não há pagamento
de vantagem indevida. Não há propina.

ADD Página 50
Da mesma forma, não há propina na prevaricação. Esse é um dos crimes mais
leves contra a administração pública.

Art. 319 - Retardar ou deixar de praticar, indevidamente, ato de ofício, ou


praticá-lo contra disposição expressa de lei, para satisfazer interesse ou
sentimento pessoal:
Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa.

Vejam como eles são muito parecidos. Nos dois casos vamos ter o funcionário
público deixando de praticar um ato, se omitindo em relação à pratica de um ato
ou praticando um ato indevidamente, sem recebimento de propina (por isso são
crimes de menor potencial ofensivo), mas cedendo a um sentimento. A única
diferença é que na corrupção passiva há um pedido, há uma influência de
alguém. E na prevaricação, ninguém pediu. O funcionário público decidiu por
conta própria.
O funcionário público que toma conhecimento de uma ilegalidade praticada por
um amigo seu e não faz nada em relação a isso comete o crime de prevaricação.
Ele tinha o dever de agir e não agiu movido por um sentimento de amizade. Se o
amigo pedir para ele não fazer nada seria corrupção passiva privilegiada.
Na iniciativa privada não existe crime de prevaricação. Esse é um prime próprio
de funcionário público.

Contrabando e Descaminho

Até um tempo atrás esses dois crimes estavam em um mesmo artigo, no mesmo
tipo penal, mas sempre tiveram definições jurídicas distintas.
O descaminho é uma espécie de sonegação fiscal. Já o contrabando é uma
conduta mais grave, porque envolve a importação de produto proibido.

Descaminho (art. 334 CP)

Art. 334. Iludir, no todo ou em parte, o pagamento de direito ou imposto devido


pela entrada, pela saída ou pelo consumo de mercadoria:
Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos.

Esse é um crime praticado por particular contra a administração pública, porque


aqui se está sonegando tributo.
Sujeito ativo: particular
Tipo objetivo: há sonegação de tributo
Consumação: Tanto o STJ como o STF entendem que o descaminho é crime
tributário FORMAL. Logo, para que seja proposta ação penal por descaminho não
é necessária a prévia constituição definitiva do credito tributário
Não se aplica a súmula vinculante 24 do STF.

Súmula Vinculante 24
Não se tipifica crime material contra a ordem tributária, previsto no art.
1º, incisos I a IV, da Lei nº 8.137/90, antes do lançamento definitivo do tributo.

Então, nesse caso se excepciona porque, embora o descaminho seja, em tese, um


crime contra a ordem tributária, ele não está enquadrado na lei específica dos

ADD Página 51
crimes contra a ordem tributária. Ele está enquadrado no Código Penal. Então, é
um tipo especial de sonegação.

§ 1º Incorre na mesma pena quem:


I - pratica navegação de cabotagem, fora dos casos permitidos em lei;
II - pratica fato assimilado, em lei especial, a descaminho;
III - vende, expõe à venda, mantém em depósito ou, de qualquer forma, utiliza
em proveito próprio ou alheio, no exercício de atividade comercial ou
industrial, mercadoria de procedência estrangeira que introduziu
clandestinamente no País ou importou fraudulentamente ou que sabe ser
produto de introdução clandestina no território nacional ou de importação
fraudulenta por parte de outrem;
IV - adquire, recebe ou oculta, em proveito próprio ou alheio, no exercício de
atividade comercial ou industrial, mercadoria de procedência estrangeira,
desacompanhada de documentação legal ou acompanhada de documentos que
sabe serem falsos.
§ 2º Equipara-se às atividades comerciais, para os efeitos deste artigo,
qualquer forma de comércio irregular ou clandestino de mercadorias
estrangeiras, inclusive o exercido em residências.
§ 3º A pena aplica-se em dobro se o crime de descaminho é praticado em
transporte aéreo, marítimo ou fluvial.

O pessoal que vende no camelódramo produto que decorre de importação


fraudulenta responde por descaminho, e não por receptação. Por que? Por uma
opção do legislador. Seria tecnicamente uma receptação.
O consumidor que adquire o produto no camelódramo por um valor bem inferior
ao de mercado, em tese está praticando receptação culposa.

O descaminho, na modalidade básica do caput, se consuma com a entrada ou


saída da mercadoria do território nacional.

Contrabando (art. 334-A)

Art. 334-A. Importar ou exportar mercadoria proibida:


Pena - reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos.
§ 1º Incorre na mesma pena quem:
I - pratica fato assimilado, em lei especial, a contrabando;
II - importa ou exporta clandestinamente mercadoria que dependa de registro,
análise ou autorização de órgão público competente;
III - reinsere no território nacional mercadoria brasileira destinada à
exportação;
IV - vende, expõe à venda, mantém em depósito ou, de qualquer forma, utiliza
em proveito próprio ou alheio, no exercício de atividade comercial ou
industrial, mercadoria proibida pela lei brasileira;
V - adquire, recebe ou oculta, em proveito próprio ou alheio, no exercício de
atividade comercial ou industrial, mercadoria proibida pela lei brasileira.
§ 2º - Equipara-se às atividades comerciais, para os efeitos deste artigo,
qualquer forma de comércio irregular ou clandestino de mercadorias
estrangeiras, inclusive o exercido em residências.
§ 3º A pena aplica-se em dobro se o crime de contrabando é praticado em
transporte aéreo, marítimo ou fluvial.

ADD Página 52
Esse tipo é uma norma penal em branco. É preciso identificar as normativas
específicas para saber quais são as mercadorias proibidas.
Esse crime também é praticado por particular contra a administração pública.
Sujeito ativo: particular
Tipo objetivo: o produto é proibido ou restrito
Consumação: Com a entrada ou saída do produto do território nacional. É crime
FORMAL.

Diferença do contrabando e do descaminho da facilitação de contrabando


ou descaminho (art. 318 do CP).

Art. 318 - Facilitar, com infração de dever funcional, a prática de contrabando


ou descaminho (art. 334):
Pena - reclusão, de 3 (três) a 8 (oito) anos, e multa.

Facilitação do contrabando e descaminho é o crime típico do funcionário público


especializado. Enquanto o particular pratica contrabando ou descaminho, se
houver um funcionário público facilitando a vida do contrabandista, ou do
sujeito que está praticando o descaminho, vamos ter a facilitação do contrabando
ou descaminho. Aqui temos um crime que é próprio do funcionário público. A
conduta aqui é dolosa.
A pena da facilitação ou descaminho é maior do que a pena do contrabando e do
que a pena do descaminho.

Não se aplica o princípio da insignificância em relação ao funcionário público que


facilitar o contrabando ou o descaminho.

Quando se consuma o crime do funcionário público? Com a prática da conduta


descrita no tipo, ou seja, com a facilitação do contrabando ou descaminho,
independentemente de o contrabandista associado lograr êxito ou não.

Se o funcionário público facilita o contrabando mediante o pagamento de


propina teremos caracterizada a facilitação do contrabando ou descaminho e
também a corrupção passiva, em concurso material. Do lado do particular
teremos caracterizada a corrupção ativa e mais o contrabando.

Modalidade especial de prevaricação (art. 319-A)


Art. 319 - Retardar ou deixar de praticar, indevidamente, ato de ofício, ou
praticá-lo contra disposição expressa de lei, para satisfazer interesse ou
sentimento pessoal:
Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa.

Art. 319-A. Deixar o Diretor de Penitenciária e/ou agente público, de cumprir


seu dever de vedar ao preso o acesso a aparelho telefônico, de rádio ou similar,
que permita a comunicação com outros presos ou com o ambiente externo:
Pena: detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano.

Ou seja, se o diretor da penitenciária identifica que o preso está com celular e


não retira, ele está prevaricando. A pena é a mesma da prevaricação, mas
criaram uma modalidade específica para não ter dúvidas de que é prevaricação.

ADD Página 53
CASOS DE DIREITO PENAL - CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO

1) A alugou um carro na Locadora de Automóveis B, e foi jantar, às 22h 30min,


num movimentado restaurante. Enquanto A jantava, C se aproximou do carro e,
com o emprego de uma chave de fenda, apossou-se dos faróis e das calotas.
Quando C se afastava do veículo, foi percebido pelo guardador de carros, que
saiu no seu encalço, vindo a detê-lo a duzentos metros do local, com o auxílio de
um guarda.

a) Faça o enquadramento legal de C, fundamentando sua resposta:

Tentativa de furto, se adotarmos a teoria da posse tranquila, que é o


entendimento doutrinário mais adequado (art. 155 CP c/c art. 14, II, CP).
Furto consumado, se adotarmos a teoria da saída da esfera de disponibilidade
da vítima, que é a posição dos tribunais superiores (art. 155 CP).

b) Qual o sujeito passivo do crime?

O possuidor direto, que foi quem locou o carro (A), é a vítima principal (não
me convenci muito disso). A locadora (B) é a vítima secundária.

c) Qual seria a situação, caso C fosse o proprietário único da Locadora de


Automóveis B, e, portanto, dono do carro?

A princípio, o proprietário não pode furtar algo de si mesmo. Seria um crime


impossível. A conduta é atípica.
Se tivesse alguma intenção em responsabilizar o locatário, fazendo-o pagar
pelos prejuízos, por exemplo, poderíamos pensar em um estelionato.

d) Qual seria a solução jurídica caso C houvesse subtraído o carro para dar um
passeio, restituindo-o ao mesmo lugar antes de A regressar do restaurante?

Furto de uso, que é uma conduta atípica.

e) Figurar a hipótese em que C é esposa de A:

Teremos um furto. Em relação à vítima marido, ela seria isenta de pena. Em


relação à vítima locadora, ela vai responder pelo furto.

Art. 181 - É isento de pena quem comete qualquer dos crimes previstos neste
título, em prejuízo:
I - do cônjuge, na constância da sociedade conjugal;
II - de ascendente ou descendente, seja o parentesco legítimo ou ilegítimo, seja
civil ou natural.

Mas se o marido de C for o único proprietário da locadora B, ela também seria


isenta de pena.

ADD Página 54
2) A ingressa no táxi do motorista B, indicando-lhe, como destino, o subúrbio. A
meio caminho, A se dirige a B dizendo-lhe: “Pare o carro e me entregue a féria do
dia, ou serás um homem morto”. B lhe entrega o dinheiro, A desce, e B se dirige a
uma delegacia de polícia.

a) Faça o enquadramento legal de A, figurando a hipótese em que ele estivesse


armado com um revólver:

Roubo com emprego de arma - art. 157, § 2o, I, CP.

b) Figurar a hipótese em que o revólver fosse de brinquedo:

Roubo sem emprego de arma - art. 157 CP. Não importa que a vítima não
saiba que a arma é de brinquedo, o que importa é que a vítima em nenhum
momento correu risco de morte. A arma desmuniciada ou a arma estragada
levam para a mesma conclusão.

c) Qual seria a solução jurídica, se diante da resistência de B, A lhe desferisse um


tiro que produzisse lesões leves?

Todo crime que é violento, via de regra, absorve a lesão leve, exceto quando
houver ressalva expressa. Quando a lesão corporal é grave, via de regra ela é
qualificadora.
Um exemplo de ressalva expressa é a injúria real (art. 140, § 2º):

§ 2º - Se a injúria consiste em violência ou vias de fato, que, por sua natureza ou


pelo meio empregado, se considerem aviltantes:
Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa, além da pena
correspondente à violência.

Então o enquadramento continua sendo roubo com arma - art. 157, § 2º, I.

d) E se a arma de A tivesse disparado acidentalmente em face de seu nervosismo,


produzindo lesões graves em B?

Roubo qualificado com lesão grave – art. 157, § 3º, 1ª parte. Aqui não importa
que não foi intencional. Esses crimes são preterdolosos mesmo.

3) A ingressa furtivamente na residência de B, pelo telhado, e se apossa de


valiosa antiguidade. Quando está prestes a retirar-se, é surpreendido por B, que
o interpela. A agride B a socos e pontapés, causando-lhe lesões leves e foge,
levando a antiguidade.

a) Faça o enquadramento legal de A, dizendo qual foi o momento consumativo?

Art. 157, § 1º. Isso é roubo impróprio (furto malsucedido que se transforma
em roubo). O momento consumativo é no emprego da violência contra a
vítima.

ADD Página 55
b) Figurar a hipótese em que B, sofrendo lesões graves, conseguisse dominar A:

Art. 157, § 3º, 1ª parte. É roubo impróprio consumado (no momento do


emprego da violência), da mesma forma.

4) A e B sequestram C, no dia 5 de julho, solicitando no dia 6, por telefone, a seu


pai D, que deixe num local predeterminado certa importância, como preço do
resgate. D efetua o pagamento no dia 8, e C é libertado no dia 9.

a) Faça o enquadramento de A e B, indicando o momento consumativo:

Extorsão mediante sequestro (art. 159). Como passou mais de 24 horas, ele
vai ser qualificado, nos termos do § 1º.
O momento consumativo é no dia 5, quando há a privação da liberdade. Mas o
crime se prolonga no tempo. É crime permanente.

b) E caso C sofresse lesões graves num acidente do carro que o transportava?

O crime seria qualificado pelo § 2º. Aqui são modalidades preterdolosas. O


que acontecer com o sequestrado é responsabilidade dos sequestradores.

5) A, servindo-se de um talão de cheques que encontrara na rua, ingressa na loja


de B e compra algumas mercadorias. B aceita o pagamento por cheque, então
emitido por A, ponderando, todavia, que entregaria no mesmo dia as
mercadorias em casa. Para que nada transparecesse, A concorda e vai embora.
No Banco, B é informado de que o cheque não pertence ao emitente e B não
remete as mercadorias para a casa de A.

a) Faça o enquadramento legal de A:

Estelionato. O crime se consuma com a vantagem indevida. ‘A’ não logrou a


vantagem, então o crime aqui é tentado. Art. 171 c/c art. 14, II.

b) Figurar hipótese em que as mercadorias fossem entregues no ato da compra;

Estelionato consumado. Aqui obteve a vantagem.

c) Figurar hipótese na qual o cheque pertença a A, mas não disponha de


suficiente provisão de fundos. Determine o momento consumativo do delito.

Estelionato na modalidade de fraude com pagamento por meio de cheque (art.


171, § 2º, inciso VI). O momento consumativo é na apresentação ao banco
com a recusa do pagamento. Tem uma súmula que trata disso.

6) A, sabedor que certo caminhão fora furtado num estado do Sudoeste, dispõe-
se mesmo assim a comprá-lo. Como não possui numerário suficiente, induz B a
associar-se na compra, assegurando-lhe que o baixo preço é fruto de uma

ADD Página 56
situação de necessidade do suposto proprietário. B, apesar da evidente
desproporção do preço, e das precárias condições pessoais de A, aceita a
proposta, e o caminhão é adquirido. Faça o enquadramento legal de A e B,
dizendo se há concurso de agentes:

A responde por receptação, art. 180, caput, primeira parte e segunda parte.
B é vítima ou receptação culposa (na pior das hipóteses).
Não há concurso de agentes, na pior das hipóteses um agiu dolosamente e
outro de forma culposa, se é que B praticou algum crime. A professora
defenderia que ele é vítima.

ADD Página 57
AULA 13

28/06/2017

Crimes Praticados por Particular Contra a Administração

1. Resistência (art. 329 CP)


Sujeitos Ativo
Passivo
Tipo objetivo
--> resistência passiva
Tipo subjetivo
Consumação

2. Desobediência (art. 330 CP)


Sujeitos Ativo
Passivo
Tipo objetivo:
--> art. 219 CP
Tipo subjetivo
Consumação: - omissão
- ação

3. Desacato (art. 331 CP)


Sujeitos Ativo
Passivo
Tipo objetivo
Tipo subjetivo
Consumação
--> Embriaguez
--> Exaltação de ânimos

Além dos crimes de resistência, desobediência e desacato, também os crimes de


corrupção ativa, de contrabando e de descaminho, que já foram estudados, são
crimes praticados por particulares contra a administração pública.

Esses crimes são crimes que acontecem muito, mas não são tão frequentes as
condenações por resistência, desobediência ou desacato. Então eles entram na
cifra obscura da criminalidade.
Uma coisa que é importante referir é que nessa parte dos crimes contra a
administração pública, nós já vimos que eles são divididos em duas partes: os
crimes praticados por funcionário e os crimes praticados por particular. Na
primeira parte, crimes praticados por funcionários, nós sabemos que o conceito
de funcionário é aquele ampliado, dado pelo próprio legislador penal no art. 327.
Então inclui, inclusive, funcionários de concessionárias de serviços públicos.
Inclui funcionários de empresas públicas e de sociedades de economia mista.
Então é um conceito ampliado que nós vamos encontrar no art. 327. Só não inclui
o estagiário, segundo corrente majoritária.

ADD Página 58
Agora, quando nós falamos no funcionário público que pode ser vítima, em
especial vítima de desacato, aí nós utilizamos não mais o conceito do art. 327 de
funcionário público, mas o conceito restrito do direito administrativo, que é o
conceito de servidor público stricto sensu. Isso não inclui funcionário de
sociedade de economia mista e muito menos funcionário de empresa
concessionária de serviços públicos.
E a professora, pode ser vítima de desacato? Sim, porque se enquadra no
conceito de servidora pública, assim como os funcionários da UFRGS que não são
terceirizados, que são concursados. A professora diz que esse crime de desacato
está defasado.

Resistência (art. 329 CP)

Quem pode praticar o crime de resistência? Qualquer pessoa.


Quem é a vítima? O Estado, o funcionário público e até o particular que possa
estar auxiliando o funcionário público.

Art. 329 - Opor-se à execução de ato legal, mediante violência ou ameaça a


funcionário competente para executá-lo ou a quem lhe esteja prestando
auxílio:
Pena - detenção, de dois meses a dois anos.

Então esse 'opor-se à execução de ato legal', que é a resistência, não é


simplesmente a pessoa se atirar no chão e dizer 'daqui não saio'. É empregar
violência ou ameaça contra funcionário público. É mais grave do que
simplesmente se negar a cumprir uma ordem. Se eu me atirar no chão, se eu fizer
escândalo, se eu me segurar em algum lugar, estarei cometendo resistência
passiva. Provavelmente vou ter que ser contido e carregado. Mas resistência
passiva não é crime. O que eu não posso é ameaçar o funcionário ou empregar
violência contra o funcionário. Ou o funcionário que está cumprindo a ordem ou
um particular que esteja ajudando o funcionário. Vamos supor que o oficial de
justiça foi cumprir um mandado em uma determinada região da cidade em que é
difícil localizar as casas das pessoas e ele pede ajuda para um morador para
identificar a casa. Quando chega o oficial de justiça para cumprir aquele
mandado judicial com o vizinho que indicou a casa, o dono da casa resiste ao
cumprimento do ato e agride o vizinho (dá um soco, por exemplo). Isso é
resistência. Não precisa ser contra o funcionário, pode ser contra o particular
que esteja auxiliando o funcionário a cumprir o ato. Ato legal e funcionário
competente. Se o ato for ilegal e o funcionário incompetente para cumprir
aquele ato, aí não poderá enquadrar como resistência. Até pode existir, se não for
legítima defesa, uma lesão corporal eventualmente, mas crime de resistência não
é.

Tipo subjetivo: dolo.

É mais fácil a gente pensar que quem irá resistir, empregando violência ou grave
ameaça, é a vítima do ato, a pessoa que está sendo presa, porque tem um
mandado de prisão para ser cumprido, ou a pessoa que está evitando a busca e
apreensão em sua casa, diante de um mandado de busca e apreensão. Mas a
resistência pode vir de um familiar. Por exemplo, a mãe da pessoa que está sendo

ADD Página 59
presa. Pode ser qualquer pessoa que se coloque a resistir por meio de violência.
Posso ter um particular praticando resistência e atingindo outro particular. Por
exemplo, a mãe da pessoa que está sendo presa atingindo o vizinho que indicou a
casa.

Modalidade qualificada:

§ 1º - Se o ato, em razão da resistência, não se executa:


Pena - reclusão, de um a três anos.

Aplicação de outras penas:

§ 2º - As penas deste artigo são aplicáveis sem prejuízo das correspondentes à


violência.

Como já foi falado antes, normalmente, os crimes que trazem em seu tipo penal a
palavra violência já pressupõem a lesão leve (a lesão leve está absorvida), a
menos que haja menção específica, como acontece nesse caso. Então, aplica-se as
penas do crime de resistência sem prejuízo das correspondentes à violência, ou
seja, sem prejuízo do enquadramento como lesão leve. Isso porque a lesão grave,
normalmente, qualifica o crime. Nesse crime não qualifica. Então, se houver lesão
grave vai responder por lesão grave mais resistência. Se houver lesão leve vai
responder por lesão leve mais resistência.

Quando se consuma o crime? Com o emprego da violência ou da grave ameaça.

Desobediência (art. 330 CP)

Qualquer pessoa pode praticar o crime de desobediência.


O sujeito passivo, além do Estado, será o funcionário público que emitiu a ordem.
Em relação ao tipo objetivo, diz o art. 330:

Art. 330 - Desobedecer a ordem legal de funcionário público:


Pena - detenção, de quinze dias a seis meses, e multa.

A ordem precisa ser regular, precisa atender à estrita legalidade. Não pode ser
arbitrária, senão desnatura o crime. E o funcionário público precisa ser o
competente para emitir aquela ordem, senão também desqualifica o crime.
Se um delegado da PF, que integra a força tarefa da Lava Jato, solicita ao gerente
de um banco o extrato bancário de um investigado, e este se nega a cumprir,
houve desobediência? Não porque só pode haver a quebra de sigilo bancário
mediante autorização judicial, por pedido de CPI ou por intimação do fisco.

Outra questão interessante sobre a desobediência: se convencionou na doutrina


que quando existe uma norma de caráter civil ou administrativo que estabelece
uma sanção específica para o descumprimento de um ato de ofício específico,
não persiste o crime de desobediência, a menos que haja ressalva específica.
Ou seja, se o descumprimento de um determinado ato de oficio já pressupõe uma
multa, já pressupõe algum outro tipo de sanção, e não houver uma ressalva (por
exemplo, algo do tipo 'sem prejuízo da responsabilidade penal' ou 'sem prejuízo

ADD Página 60
da responsabilidade por crime de desobediência'), vale a sanção civil, vale a
sanção administrativa. Então, nesse caso se aplica o princípio da ultima ratio, da
intervenção mínima.
Em outras palavras, a sanção civil ou administrativa que não estabelece ressalva
à responsabilidade penal, afasta a responsabilidade penal.
O exemplo de ressalva é o art. 219 do CPP:

Art. 219. O juiz poderá aplicar à testemunha faltosa a multa prevista no art.
453, sem prejuízo do processo penal por crime de desobediência, e condená-la
ao pagamento das custas da diligência.

O crime só existe na modalidade dolosa.


Lembrando que é fundamental a legalidade da ordem e a competência do
funcionário.

A consumação depende da natureza da ordem. Se a ordem determina uma


omissão, consuma-se com a ação do agente. Se a ordem determina uma ação,
consuma-se com a omissão do agente. E quando a ordem determina uma ação,
ela tem que estabelecer o prazo de cumprimento dessa ação. Então quando é que
vai se consumar? Com o término do prazo e a omissão injustificada do agente.

Na esfera penal, o IPL é de competência das polícias judiciárias (polícia civil e


PF). Então o inquérito vai pronto para o MP tomar a frente da titularidade da
ação penal. Em matéria de ação civil pública, quem faz o inquérito é o próprio
civil para averiguar uma determinada violação a um direito coletivo ou difuso é o
próprio MP. Então, quando eu tenho a ação civil pública, o promotor/ procurador
instauram um inquérito civil no âmbito do MP. Nesse inquérito civil, para que
haja a instrução, se peticiona para inúmeros órgãos públicos. Então, por
exemplo, se é uma questão ambiental, o promotor que está investigando vai
oficiar a FEPAM, o IBAMA, etc. para prestarem informações. É de praxe que o
primeiro ofício para instruir o inquérito civil seja uma solicitação. Nunca
respondem. Alguns promotores mais bonzinhos mandam uma segunda
solicitação. Na segunda ou terceira vez mandam uma requisição. Eles ameaçam
com esse crime de desobediência. Então, pode haver uma desobediência a uma
requisição do MP.
Então, quando se fala em crime de desobediência, não é só ordem judicial, pode
ser um pedido de requisição com prazo do MP para instruir um inquérito civil,
ou pode ser uma determinação do delegado para instruir uma IPL (uma
determinação de comparecimento na delegacia, por exemplo).

Os crimes de resistência, desobediência e desacato podem ocorrer entre dois


funcionários públicos.

Desacato (art. 331 CP)

O desacato nada mais é do que uma injúria, um xingamento, dirigido ao


funcionário público, ao servidor público, em razão da sua função e com a
finalidade específica de humilhá-lo.

Qualquer pessoa pode praticar o crime.


ADD Página 61
A vítima é o Estado e o servidor.

É muito importante que a ofensa diga respeito à função do funcionário.

No tipo subjetivo teremos o dolo específico (não o habitual dolo genérico).


Aprendemos que temos crimes de dolo específico quando no tipo consta a
expressão 'com o fim de'. Então, só existe o crime se existir aquela finalidade na
mente do agente. Nesse caso do desacato, esse dolo específico foi construído pela
doutrina. Lendo o art. 331 vamos imaginar que o dolo é genérico. Mas não, o dolo
aqui é específico. Precisa haver intenção específica de humilhar o funcionário na
sua função. De desqualificar o funcionário na sua função.

Art. 331 - Desacatar funcionário público no exercício da função ou em razão


dela:
Pena - detenção, de seis meses a dois anos, ou multa.

Desacatar significa xingar humilhando o funcionário público no exercício de sua


função ou em razão dela. Como é o xingamento com a finalidade de humilhar, ele
normalmente acontece presencialmente.
É crime de menor potencial ofensivo.

Consumação se dá com o desacato em sim, com o xingamento humilhante.

Embriaguez - O sujeito que está embriagado é capaz de desacatar alguém?


Existem três correntes de entendimento:

 Alguns entendem que sim, com base no art. 28, II, CP, que diz que a
embriaguez voluntária não exclui o crime que a pessoa praticou
embriagada. Essa é a corrente majoritária.
 Mas Nelson Hungria diz que, como esse crime de desacato pressupõe dolo
específico de humilhar, não posso dizer que a pessoa que está embriagada
esteja em condições de humilhar alguém. Como o crime exige dolo
específico, não tenho como considerar o desacato de um bêbado ou de um
dopado. Essa é uma atitude que pressupõe uma certa maldade, uma certa
premeditação. O crime exige uma condição de poder humilhar. Se a
pessoa está embriagado ou dopada não tem condições de construir um
dolo específico. A Vanessa concorda com essa linha. Não quer dizer que o
bêbado não possa cometer o crime de resistência, empregando violência
ou grave ameaça.
 Há uma terceira corrente que diz que só a embriaguez involuntária exclui
o crime. Mas isso o próprio art. 28, I, CP já diz.

Exaltação de ânimos – Há uma teoria que diz que não exclui, também com base
no art. 28. Mas há uma corrente majoritária que diz que exclui. Se houve uma
discussão entre as pessoas e ela falou de maneira impensada, reagiu de uma
forma agressiva sem pensar direito, isso excluiria o crime de desacato.

Se não tiver a intenção de humilhar, o que temos é uma injúria. A diferença do


desacato para a injúria é que o desacato é uma injúria relacionada ao exercício da

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função. No desacato não se está desqualificando o ser humano, se está
desqualificando a função que ele exerce ou a atuação dele.
Não é qualquer xingamento dirigido ao funcionário público que vai ser desacato.
Não é porque eu sou funcionário público que eu não posso ser vítima de injúria.
O desacato não é só uma ofensa ao ser humano que ocupa o cargo, mas ao
próprio cargo em si.
O desacato é uma injúria e acaba absorvendo ela. São muito próximos.

CASOS DE FIXAÇÃO

1) Sílvio, vigia do turno da tarde da UFRGS, após um dia exaustivo de trabalho,


vai para sua casa esquecendo-se de fechar a janela de um dos laboratórios de
informática. Carlos, que costumava circular às escondidas em torno dos
pavilhões da Universidade, percebe que a janela estava aberta e aproveita para
subtrair algumas placas de computadores. Quando Carlos está saindo pela janela
com uma sacola é avistado por Marcos, o vigia do turno da noite, que finge que
não o vê e segue o seu caminho. Pergunta-se: que delitos foram praticados? Por
quê? Haveria concurso de agentes? Justifique sua resposta:

 Sílvio – Peculato culposo (art. 312, § 2o CP). O crime se consuma quando a


coisa foi furtada.
 Carlos – Furto (art. 155 CP). Carlos agiu sozinho, não estava em conluio
com qualquer dos funcionários.
 Marcos – Como Marcos se omitiu e era garantidor, ele responderá por
peculato-furto doloso comissivo por omissão (art. 312, § 1o).

Não há concurso de agente porque não há liame subjetivo entre eles. Cada
um age por conta própria.

2) Julgue as assertivas a seguir:


I - Na concussão, a exigência do funcionário carrega uma ameaça à vítima, o que
não ocorre na primeira modalidade da corrupção passiva, em que há mero
pedido.
II - Marilúcia ingressou com uma ação de perdas e danos em face de Liliane, que
foi distribuída para tramitar perante a 2ª Vara Cível. A juíza titular do juízo era
inimiga capital de Marilúcia e, por animosidade e desejo de vingança contra a
desafeta, retardou o andamento regular do processo, não despachando e retendo
indevidamente os autos em uma gaveta de seu gabinete. Nessa situação, a
magistrada praticou o crime de prevaricação.
III - Luiz, empregado da ECT, empresa pública federal, apropriou-se da
importância de R$ 2000,00 referente à venda de selos, numerário de que tinha a
posse em razão da função, a fim de comprar medicamentos. Dois dias depois,
devolveu o dinheiro. Luiz praticou o crime de peculato de uso. Assinale a
alternativa correta:

Para bem fungível não se aplica a regra do peculato de uso, que afasta a
tipicidade. Aqui houve o peculato apropriação.

a) Apenas a I e a II estão corretas;

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b) Apenas a I e a II estão corretas;
c) Apenas a I e a III estão corretas;
d) Apenas a II e a III estão corretas;
e) Todas estão corretas.

3) (Magistratura Federal/3ª Região — 5º concurso) Se o funcionário, ainda que


fora de seu ofício, insere, a pedido de amigo, em documento público a que ajudou
a redigir, declaração falsa com o fim de beneficiá-lo, alterando a verdade sobre
fato relevante e em prejuízo de terceira pessoa, comete crime de:

a) falsificação de documento público.


b) falsidade ideológica.
c) prevaricação.
d) corrupção passiva.

4) (MP/SP — 87º concurso) Relativamente às assertivas abaixo, assinale, em


seguida, a alternativa correta:
I. O crime de falsidade ideológica comporta modalidades comissivas e omissivas.
II. É possível a modalidade culposa do crime de falsificação de documento
público.
III. Constitui crime de falsidade ideológica inserir dados inexatos em certidão de
casamento verdadeira obtida junto ao cartório competente, mediante alteração
dos dizeres, com o fim de prejudicar direito de terceiro.
IV. O objeto material do crime de uso de documento falso constitui-se de papéis
materialmente ou ideologicamente falsos.

a) Somente a III é verdadeira.


b) Somente a I e III são verdadeiras.
c) Somente a III e IV são verdadeiras.
d) Somente a I e IV são verdadeiras.

5) No curso de uma assembleia de condomínio de prédio residencial foram


discutidos e tratados vários pontos. O morador Rodrigo foi o designado para
redigir a ata respectiva, descrevendo tudo que foi discutido na reunião. Por
esquecimento, deixou de fazer constar ponto relevante debatido, o que deixou
Lúcio, um dos moradores, revoltado ao receber cópia da ata. Indignado, Lúcio
promove o devido registro na delegacia própria, comprovando que Rodrigo, com
aquela conduta, havia lhe causado grave prejuízo financeiro. Após oitiva dos
moradores do prédio, em que todos confirmaram que o tema mencionado por
Lúcio, de fato, fora discutido e não constava da ata, o Ministério Público ofereceu
denúncia em face de Rodrigo, imputando-lhe a prática do crime de falsidade
ideológica de documento público. Considerando que todos os fatos acima
destacados foram integralmente comprovados no curso da ação, o(a)
advogado(a) de Rodrigo deverá alegar que

A) ele deve ser absolvido por respeito ao princípio da correlação, já que a


conduta por ele praticada melhor se adequa ao crime de falsidade material, que
não foi descrito na denúncia.

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B) sua conduta deve ser desclassificada para crime de falsidade ideológica
culposa.
C) a pena a ser aplicada, apesar da prática do crime de falsidade ideológica, é de
01 a 03 anos de reclusão, já que a ata de assembleia de condomínio é documento
particular e não público.
D) ele deve ser absolvido por atipicidade da conduta.

Não houve dolo e ata de assembleia não é documento público.

6) Aproveitando-se da ausência do morador, Francisco subtraiu de um sítio


diversas ferramentas de valor considerável, conduta não assistida por quem
quer que seja. No dia seguinte, o proprietário Antônio verifica a falta das coisas
subtraídas, resolvendo se dirigir à delegacia da cidade. Após efetuar o devido
registro, quando retornava para o sítio, Antônio avistou Francisco caminhando
com diversas ferramentas em um carrinho, constatando que se tratavam dos
bens dele subtraídos no dia anterior. Resolve fazer a abordagem, logo dizendo
ser o proprietário dos objetos, vindo Francisco, para garantir a impunidade do
crime anterior, a desferir um golpe de pá na cabeça de Antônio, causando-lhe as
lesões que foram a causa de sua morte. Apesar de tentar fugir em seguida,
Francisco foi preso por policiais que passavam pelo local, sendo as coisas
recuperadas, ficando constatado o falecimento do lesado. Revoltada, a família de
Antônio o procura, demonstrando interesse em sua atuação como assistente de
acusação e afirmando a existência de dúvidas sobre a capitulação da conduta do
agente. Considerando o caso narrado, o advogado esclarece que a conduta de
Francisco configura o(s) crime(s) de

A) latrocínio consumado.
B) latrocínio tentado.
C) furto tentado e homicídio qualificado.
D) furto consumado e homicídio qualificado.

7) Após realizarem o roubo de um caminhão de carga, os roubadores não sabem


como guardar as coisas subtraídas até o transporte para outro Estado no dia
seguinte. Diante dessa situação, procuram Paulo, amigo dos criminosos, e pedem
para que ele guarde a carga subtraída no seu galpão por 24 horas, admitindo a
origem ilícita do material. Paulo, para ajudá-los, permite que a carga fique no seu
galpão, que é utilizado como uma oficina mecânica, até o dia seguinte. A polícia
encontra na mesma madrugada todo o material no galpão de Paulo, que é preso
em flagrante. Diante desse quadro fático, Paulo deverá responder pelo crime de

A) receptação.
B) receptação qualificada.
C) roubo majorado.
D) favorecimento real.

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