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DIREITO PENAL II

2ª FREQUÊNCIA

CRIMES CONTRA O PATRIMÓNIO (ARTIGO 202º DO CP)

O artigo 202º é uma norma especial, porque para que não fiquemos com duvidas de qualquer
espécie, este artigo 202 vem funcionar como se fosse uma espécie de dicionário dos crimes contra
o património.

Vamos abandonar os crimes contra o ser para passar para os crimes contra o ter. O artigo 202 é
feito de informações/definições válidas para os artigos seguintes.

As três primeiras noções são absolutamente claras, lineares e que não precisam de grande estudo
para percebemos o que é. Em tribunal não falamos em euros quando tratamos de assuntos de
custas, por exemplo, falamos sim eu UC (unidade de contas).

O código vem introduzir 3 escalões: artigo 202 alínea a); b); c) CP

1. Valor elevado – é o valor superior a 5 mil euros +


2. Valor consideravelmente elevado – o valor superior a 24 mil euros
3. Valor diminuto – aquele que não excede a unidade de conta.

ARROMBAMENTO (ARTIGO 202º ALÍNEA D) CP): o legislador dá-nos uma noção de arrombamento
(artigo 202 alínea d)) que vai ser um dos fatores que qualifica o furto. O arrombamento é
justamente abrir uma coisa que está fechada a chave, ou seja, abri-lo de forma forçada. O
arrombamento do carro (de uma porta, por exemplo) aqui não interessa.

Noção de Casa – a casa é um espaço físico, fechado obrigatoriamente e que se encontra destinado
à habitação. A casa inclui as tendas, roulottes e no sentido comercial. Não é por o facto de não
estar habita que não é suscetível de arrombamento. Ex: o pai de alguém morre, a casa fica fechada
à chave. Pode ser arrombada.

Arrombar é no fundo colocar a mostra, deixar de fazer com que a porta deixa de cumprir a sua
função.

Lugar fechado dependente da casa: é o recinto que dá acesso a casa (ex: pátio, terraço, jardim)

Dispositivo destinado a fechar ou a impedir a entrada: não é necessariamente uma fechadura,


pode ser um cartão.

Rompimento/fratura/ destruição - o que está em causa é que o agente faz com que a coisa que é
destinada a estar fechada/ destinada a impedir a sua entrada deixa de funcionar. Ex: podemos
romper uma grade; uma fechadura. Retirar a grade/ porta o caráter de proteger uma determinada
coisa. Há um nexo causal entre a arrombamento e o furto, arromba se para furtar.

Escalamento (artigo 202 alínea e)) – inclui uma abertura subterrânea. Já não é escalamento, se está
num estendal umas calças LEVIS, uma pessoa sobe um muro para pegar nelas, não é escalamento
porque não entrou.

Entrar por cima ou por baixo na casa que está fechada.


Chaves falsas (artigo 202 alínea f) – se por exemplo, tenhas as chaves de casa, furtam me as
chaves, por mais que sejam as verdadeiras são consideradas falsas fora do poder de quem tem o
dever/direito de as usar.

Fortuito – quando as verdadeiras passam para falsas.

Subi – repticiamente – seio lugar onde se encontra as chaves e vão buscá-las

Gazuas: ex: pés-de-cabra ou qualquer instrumento para abrir a porta

Março: o estado fixa a característica dos marcos. Sinal destinado a estabelecer limites de
propriedades (ex: pedras, plantas).

CRIMES CONTRA A PROPRIEDADE

Sofreu uma alteração com o estatuto dos animais porque cada vez que se fala em coisa móvel
alheia o legislador acrescentou os animais. Isto para distinguir as coisas dos animais.

FURTO SIMPLES - Artigo 203 CP

Há semelhança do homicídio e das ofensas e integridade física o artigo 203 CP é um furto simples.
Há dois crimes de furto qualificado (art 204 nr1 e 2) porque é diferente a gravidade da conduta
levada a cabo pelo agente.

O crime contra o património para o direito penal é um complexo de relações jurídicas em que são
encabeçadas por uma pessoa e esse complexo tem como objetivo satisfazer as necessidades
humanas materiais ou espirituais.

Utilidade – “palavra chave”; o bem jurídico não é a propriedade porque é preciso fazer apelo
aquele conceito de retirar as coisas a utilidade delas. O mais correto é dizer que a possibilidade de
fruirmos das coisas. O furto e um crime simétrico na medida em que o agente passa a gozar da
coisa e a vítima deixa de poder gozar. Mais do que definir o bem jurídico como propriedade temos
que definir como a disponibilidade/poder sobre as coisas. Quem perde nesta relação de ofendido
não é o verdadeiro proprietário é a pessoa que frui das coisas. Para furtar tem que haver intenção.

Outro motivo ainda é que o ladrão não lhe interessa quem é o dono das coisas. A única coisa que
ele sabe naquele momento é que quer a coisa.

Os elementos legais do tipo de crime: elemento subjetivo a ilegítima intenção de apropriação


(elemento expresso), isto equivale a dizer que o agente tem vontade de se comportar como dono
da coisa, faz do crime de furto com intenção. A apropriação consiste quem que eu quero a coisa
para mim mas eu tenho que me apropriar dela, só consigo isso quando desapropriar a coisa do
dono.

Segundo elemento do tipo: subtrair coisa móvel alheia (elemento normativo). O que é uma coisa?
O essencial e regra geral tem uma corporidade ou seja que a coisa esteja sempre agarrada a ideia
de retirar, agarrar, é essencial mas não é determinante para termos um furto. Exemplo: cadáver
não é uma coisa para efeitos do artigo 203 CP. Tem que ser autônomos (exemplo: óculos,
dentaduras, aparelhos auditivos), exemplo: óvulos ou esperma são coisas mas não para efeitos de
furto.
1. Ideia de corporiedade – ex: coisas não corporias que são coisas. Exemplo: luz (pode ser
quantificada); gás
2. Ser quantificada
3. Informações que todos nós temos no computador não entra aqui.

A coisa tem que ser móvel, significa que ninguém pode furtar a universidade (o edifício). A coisa
móvel são aquelas que podem se mudar de sítio, ser deslocadas especialmente. São coisas que se
desligam do solo sem perder o valor. Exemplo: uma árvore pode ser uma coisa móvel ou imóvel,
depende se está ligado ou não ao solo.

Coisa móvel alheia – alheia e toda a coisa que está ligada numa relação diferente, sendo que a
uma pessoa que não o agente.

Subtrai – é retirar do domínio patrimonial da vítima (detentor ou proprietário) , deixe de ter o


domínio do facto da coisa; o domínio passa para o agente.

Se a subtração ainda não está consumada, dado que é uma agressão atual, a vítima pode defender
se através da legítima defesa. Só ocorre quando o domínio de facto é minimamente estável. Se já
tinha o domínio do facto, não se pode ir pela legítima defesa. Se ainda não tem subtraído o
domínio pode atuar com legítima defesa. Domínio do facto: só lhe tocar não é domínio do facto. A
consumação da subtração só se da quando o agente já tem o mínimo do controlo sobre a coisa.

Terceiro Elemento: (elemento não expresso) elemento valor patrimonial

Podem ser coisas sem valor patrimonial (exemplo: cartas de amor). Só pode ser objeto de furto se
a coisa tiver valor patrimonial. Só valor sentimental não da.

Faria Costa defende que as coisas sentimentais podem ser furtadas, a coisa tem que ter valor
patrimonial (doutora Vilela também defende está posição).

Para além da coisa ter valor patrimonial o objeto furtado não pode ter o valor meramente irrisório.

O abuso de confiança tem haver com alguém que tem a detenção/posse da coisa e tendo a posse
faz um uso ilegítimo da coisa como por exemplo vendendo.

Artigo 1251 CC – definição de posse

13/05/2021
Com a entrada em vigor do estatuto jurídico do animal os crimes contra o património, foi uma inclusão
em massa. Nem sempre essa inclusão faz sentido em algumas das alíneas, mas houve essa alteração
massiva o que também leva o que tenhamos os animais como tais e os animais de companhia. Os crimes
de maus tratos a animais são relativamente a animais de companhia.

Em relação ao património, nos temos uma noção operativa que integra basicamente todo o completo
de relações jurídicas pelo sujeito. No crime de furto, vemos que ali se fala de crimes contra a
propriedade. A ideia de propriedade é mais restrita. Pensando num furto como uma agressão legitima a
relações. O bem jurídico acaba por ser mais amplo.

Nos temos aqui um elemento subjetivo do tipo que é a ilegítima intenção de apropriação. É admissível o
dolo eventual. Este elemento subjetivo do tipo é autónomo e tem interferência na perspetiva do que é o
elemento subjetivo do crime. o agente tem de conseguir representar que a coisa não é sua. Não é
aquela coisa de tirar um telemóvel a alguém para o irritar, mas sim fazer da coisa de alguém minha. Tem
de existir um corpo e um animo autónomo. Eu não posso querer apropriar-me do coração de alguém,
esta logica da apropriação não se basta com qualquer vínculo psíquico.

A coisa para o direito penal patrimonial é um conceito que implica uma cera corporeidade. Não basta
ter corporeidade para ser suscetível de apropriação. O dr faria costa entende que o cadáver não pode
ser considerado como coisa, o dr saragoça da mata diz que é o cadáver é coisa que pode ser subtraível.
Aqui para todos os efeitos seguimos o dr. Faria costa. Podem existir partes do corpo humano que se
estiverem destacadas podem ser objeto de furto. Por ex: um dente. É uma coisa suscetível de
apropriação. Um ovulo por ser uma coisa fora do comércio, nós de todo não podemos apropriarmo-nos
de um ovulo.

Quanto a coisas moveis, são coisas suscetíveis de serem deslocadas especialmente. Quanto à subtração
trata-se de uma conduta em que a coisa sai do possuidor e implica que seja eliminado o domínio de
facto que existia com essa pessoa. O tipo não exige qualquer forma de subtração vinculada, a subtração
desde que tenha aquele efeito tem realização livre. Os meios empregados são indiferentes desde que o
desejo seja este.

O elemento implícito é evidenciado pelo artigo 204 nº4, o valor patrimonial não pode ser irrelevante.

17/05/2021
No furto qualificado tem de ter o dolo específico da legitima intenção de apropriação como tem de ter
vontade de subtrair a coisa móvel, tem de ter noção de que esta a furtar uma coisa com valor
patrimonial e estender o seu dolo a uma das circunstancias previstas nas diferentes alíneas do nº1 ou
nº2.

ABUSO DE CONFIANÇA

Trata-se de um crime de natureza semi publico. O nº4 a) corresponde ao abuso de confiança


qualificado pelas mesmas circunstâncias do artigo 204 nº1. No nº1,2,3 – abuso de confiança
simples. no nº5 trata-se de uma pessoa que recebeu a coisa porque ele recebeu a coisa pelo seu
emprego ou porque é tutor ou curador. Temos aqui 3 abusos de confiança: simples, qualificado e
agravado. Este crime é interessante porque o agente não tem de fazer a subtração de coisa móvel
alheia pois neste crime a coisa já esta na sua posse. O que o agente tem de fazer é no fundo
apropriar-se. O que é ilegítimo no furto é a intenção de apropriação aqui o que é ilegítimo é a
apropriação. A coisa já esta na minha esfera de disponibilidade.

Já não se comportam como coisas os créditos, o documento que titula o crédito.

1º elemento do tipo: a vítima “dá” e eu recebo. Esta entrega em momento anterior aquele que eu
vou fazer da coisa minha.

20/05/2021 – INÊS GODINHO


Artigo 207º - alínea a) - o legislador afastou-se da solução que existia em 1995. Nos temos aqui as
razoes de natureza familiar. Este artigo 207º tenta trazer a possibilidade de consenso através da
natureza processual dos crimes. Podem apontar-se 2 críticas, em relação à previsão deste artigo, é que a
abertura é limitada, so da apenas para o furto simples e para o abuso de confiança e também só é
possível esta abertura ao consenso de acordo com as alíneas a) e b); a última critica é que na aliena b) “a
coisa ou animal furtados...” é difícil saber qual animal poderia estar aqui inserido.

Na alínea a) esta constitui mais uma linha de proteção a uma realidade socio cultural de uma ideia de
família, sendo realizado em família, o privilégio de certas infrações serem considerados crimes
particulares. Por ex: o filho que furta 20 euros ao pai para ir sair à noite. O que esta em causa não é
tanto o valor das coisas, é mais que tem de haver uma decisão consciente por parte do familiar de
perseguir esse furto. Na parte final da alínea a) deve estar presente uma ideia de estabilidade
institucional.

Na alínea b) esta tem a ver de estarmos perante um conceito de criminalidade bagatelar, por exemplo:
furtar uma lata de salsichas. Não há de todo a possibilidade do valor ser elevado, mas temos de
enquadrar aquilo que são as necessidades. Tratam-se de necessidades físicas. Estas necessidades
permitem que exista a sujeição a este regime de acusação. No fundo estamos aqui a falar de ter fome,
frio... etc. são necessidades físicas. Se o agente furta porque esta esfomeado e só come daqui a 2 dias
aquilo que furtou, esta situação já não vai caber aqui nesta alínea. Tem de ser uma necessidade
imediata. Só podemos considerar as necessidades de um apertado núcleo de pessoas, são pessoas
definidas na lei, há aqui um bem jurídico que é a realidade socio cultural da família. Objetivamente
olhando para o artigo 207º verificamos quer na alínea a) e b) há o privilegiamento deste instituto
familiar.

No número 2, a danosidade social não advém do valor.

Artigo 208º furto de veículo

Aqui esta previsto a apropriação do uso. Por ex: imaginando que a irmã mais velha da debora herdou da
avo de ambas um colar de perolas que a debora sabe onde ela o guarda, a debora decide usar o colar de
perolas para ir a uma festa. Objetivamente aqui o legislador limitou as coisas cujo uso indevido.

Aqui não vai por uma logica de valor, pensando na fragmentariedade de primeiro e segundo grau, o
legislador não pune qualquer uso indevido das coisas. A escolha do legislador destas coisas foi uma
escolha acertada ou não, a próprio epigrafe do artigo tem uma explicação criminológica. Se pensarmos
nos crimes de ação, em termos de utilização espontânea e momentânea, uma das coisas que é evidente
são os veículos que usualmente há o objetivo de utilização momentânea.

O bem jurídico é o uso ou a mera posse, mas também nem todo o uso e nem toda a posse. O que se
trata aqui é o reforço de regime de proteção do uso da coisa. Quanto ao tipo objetivo de ilícito trata-se
da utilização de veículo sem que exista autorização por quem de direito. Quem de direito em relação ao
direito de uso. O legislador aqui recorta um tipo distinto quanto à conduta e quanto à própria distinção
do tipo de ilícito. O legislador enuncia as coisas que podem entrar na noção de veículo e constrói o
desvalor de ilícito típico.

O que se pune aqui é o usar sem autorização NÃO o abuso do uso. É uma utilização imediata e
espontânea e da mesma maneira a restituição também tem de ser imediata para efeitos de não
ultrapassar o limite de autorização do uso.

Quando estamos sem autorização se for um uso continuado de um veículo para o qual não tenho
qualquer tipo de autorização já poderá ser um crime de furto. Aqui não há autorização, então os limites
são: o uso continuado não cabe no furto de uso, o que esta aqui em causa é um uso imediato. Outra das
coisas que tem de estar incluída no furto de uso é a restituição voluntaria, o que se esta aqui a proteger
é apenas o uso. A ideia é eu tinha a minha bicicleta num poste e usou-a apenas por 20 metros. Tem de
existir a restituição voluntario, o utilizador tem de restituir o veículo, só tem de querer apenas furtar o
uso. Esta ideia de pegar para usar e largar.

Quanto ao tipo subjetivo de ilícito, é um crime doloso, o que o agente representa é a utilização de
veículo enquanto possuidor precário do mesmo. Pensando nas causas de justificação, aqui conseguimos
se aplicarmos o estado de necessidade desculpante, não ser punida por a conduta estar justificada.

No número 2 a tentativa é punível. Esta punibilidade é criticável.

Quanto à natureza de crime é um crime semi publico mas também será de acusação particular.

24.05.21
Roubo – pode ser simplesmente uma ameaça. Quando estamos a ser ameaçados o bem jurídico afetado
é a liberdade. Há um conjunto de crimes de roubo.

 Artigo 210º nº1 – roubo simples


 Artigo 210 nº1 b) roubo qualificado
 Artigo 210 nº1 a) roubo agravado
 Artigo 210 nº3 roubo agravado

O roubo ofende bens jurídicos de caracter pessoal como por exemplo: liberdade de decisão,
liberdade de ação, integridade física, direito à vida. A ofensa ao bem jurídico pessoal é um meio
de se chegar a ofensa ao bem jurídico patrimonial. O que se quer no roubo é a detenção de
uma coisa, o roubo visa a lesão dos bens patrimoniais ou através de obrigar a vítima a fazer isso
ou de outra forma de a colocar de maneira a que ela não se consiga opor a isso. A tutela de
bens pessoais esta por meio de violência, ameaça, com perigo iminente para a vida ou
colocando a pessoa com impossibilidade de resistir. Quando encontramos no 210 nº1, estamos
a pensar que o agente recorre à coação “constranger”.
“Por meio de violência”, esta em causa a liberdade de movimento, liberdade de decisão da
pessoa e integridade física da pessoa.
O roubo consome o furto.

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