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No mês de Maio de 2021, António comprou ao artista plástico Bruno uma escultura
imaterial – ou seja, uma ideia de escultura apenas presente na mente de Bruno, sem
materialidade física – denominada Nuvem, pela qual pagou a quantia de 12.500 €.
Para documentar essa venda, Bruno entregou a António um certificado escrito do qual
constava a menção à escultura Nuvem, à sua natureza imaterial, à propriedade adquirida por
António e à data da aquisição.
No início deste mês, António visitou o seu amigo Carlos, em casa deste; e aí viu afixado
numa parede da casa um certificado emitido por Bruno em tudo idêntico àquele que lhe havia
sido entregue, datado de Abril de 2021, também relativo à escultura imaterial Nuvem.
Mais reparou que, tal como em sua própria casa, no chão, em frente a esse certificado,
foi colada uma fita em forma de quadrado, correspondente ao lugar onde a Nuvem estaria
situada, nos termos recomendados por Bruno.
Indignado por ter adquirido a Bruno uma escultura que este, afinal, já antes havia
vendido a outra pessoa, António apresentou denúncia contra Bruno, por crime de burla
qualificada. Quid juris? (7 valores)
• inexistência de engano – trata-se da venda de um nome de uma ideia, sem que tenha
sido garantida a exclusividade (nada obsta a que uma obra de arte seja replicada numa
variedade de exemplares), pelo que a venda de uma peça a uma pessoa não compromete a
venda de outra peça igual a outrem;
A burla visa intervir naqueles casos em q há uma deslealdade, uma conduta enganosa,
fraudulenta, e é fruto desse engano ou ludíbrio q se consegue o prejuízo patrimonial de uma
pessoa, com o intuito de enriquecimento para si ou para um 3º, a burla intervém para fazer face
a comportamentos de engano/fraude, e só intervém, na forma consumada, qnd dela resulta
uma afetação do património, um prejuízo patrimonial. O q o drt penal procura proteger é o
património q pode ser afetado negativamente por uma ação enganosa.
Para q se possa dizer q há uma burla na forma consumada, temos vários passos q estão
relacionados entre si.
Ainda acerca do BJ: o património, o património é constituído pelas coisas, pelos drts e
outros interesses ou expetativas juridicamente relevantes com valor económico. Discute-se se
é necessário ou ñ q uma certa coisa tenha ou ñ valor patrimonial, se bastará valor efetivo, esta
é teoria pessoal do património, defendida por Pedro Caeiro.
A teoria dominante diz q apenas pode ser reconduzido à esfera dos crimes contra o
património aquilo q tenha valor económico/pecuniário/tem um valor de mercado. Assim, na
posição dominante, defendida por Almeia Costa e Faria Costa, só serão tidos como património
aqueles interesses, sits ou posições q possuam valor venal, q tenham valor económico. Se algo
existir q seja desprovido de valor económico, se de acordo com as regras do mercado ñ haja
ninguém disponível para pagar seja o q for por aquilo, então ñ tem nat de património.
Uma condição 1º para q uma certa realidade, tangível ou intangível, possa qualificar-se
como património é, de acordo com esta conceção económica, q tenha valor económico. Aqui
entram as + variadas realidades, desde drts subjetivos de nat patrimonial (como é o drt de
propriedade, o drt de posse, o drt de uso, etc.), real ou obrigacional. Tb constituem património
os drts subjetivos de nat obrigacional, pex, drt de crédito (o valor q o credor deverá receber do
devedor, por conta de um contrato q foi celebrado, integra o património desde q disponha de
valor económico). Tb integram o património, desde q disponham de valor económico,
expectativas jurídicas de q alguém seja titular e q sejam juridicamente fundadas, se alguém
detém a expectativa, com base jurídica, de vir a adquirir qlqe coisa, pq celebrou um contrato
com condição suspensiva, um contrato promessa ou detém um drt de preferência sobre certo
bem.
O 1) passo é ter uma conduta do burlão, sendo esta uma conduta enganosa, o agent
interage com outra pessoa, atuando enganosamente, provoca um engano;
Assim, no 1 passo, a conduta enganosa pode ser por declarações expressas, atos
concludentes ou omissão (sendo q este último é objeto de divergência doutrinal).
Isto pode ser feito através de simples palavras, declarando algo q é falso, mas é tb mt
vezes feito através da exibição ou disponibilização de docs falsos, pois o doc escrito tem uma
força persuasiva mt superior à palavra. Um dos crimes q + frequentemente está associado à
burla é de falsificação de documentos, pois esta, as + das vzs, é feita através de doc falsos, assim
o crime de falsificação é utilizado como instrumento da burla, temos um problema de saber se
temos um concurso efetivo ou aparente, sendo q a jurisprudência aponta para entendimento
de que temos concurso efetivo (a existência de uma relação de concurso efetivo msm naqueles
casos em q a falsificação de doc tem carater instrumental da execução da burla) e, enquanto a
doutrina aponta para um concurso aparente.
Por atos concludentes: mts vzs, porém, o burlão ñ se serve de expressões ou doc, e atua
através dos atos concludentes, aqueles atos q, embora ñ realizem o engano de uma maneira
explícita, mas comporta-se de modo tal q, de acordo com as normais valorações sociais, o q
ele faz tem um significado de uma certa declaração, um certo posicionamento. Estamos a falar
de casos em q, verdadeiramente, o burlão ñ verbaliza de forma explicita o engano, mas o seu
comportamento é tal q é encarado por 3s, pelo seu interlocutor, como um comportamento q
corresponde a uma certa realidade, pq é assim q habitualmente, na interação social, as relações
patrimoniais, comerciais e negociais se desenrolam.
Temos aqui vários tipos de ações concludentes: uma delas é aquela em q alguém
assume uma obrigação contratual, com vontade de ñ vir a cumprir a sua obrigação ou sabendo
q ñ está em condições de o fazer.
Por omissão: até agora é o burlão q atua de forma a criar um erro no seu interlocutor.
Atua fraudulentamente sobre o 3, procurando inculcar-lhe de forma expressa ou por atos
concludentes uma representação errada sobre a realidade. Já neste caso, o 3º encontra-se em
erro sobre certo aspeto relevante, pex, para negócio comercial, e esse erro ñ foi causado pelo
agente, mas este procura aproveitar-se deste erro. O burlão ñ cria o erro, mas aproveita-se do
erro.
A questão que se coloca é de saber se se pode ou ñ qualificar como burla punível nos
termos do 217 uma sit em q o agente ñ cria ou aprofunda o erro no 3, mas simplesmente se
aproveita do erro de 3 para obter um ganho patrimonial em prejuízo dele. Saber q condições
são necessárias para q se possa punir o agente por burla por omissão. Na doutrina temos
posições contraditórias.
Além disso, sendo um caso de omissão, vale a doutrina da omissão, pelo q é necessário
a comprovação ou verificação do chamado dever de garante, é necessário q legisl tenha querido
comparar a ação à omissão. Repare-se q o 10/1 estabelece q qnd um tipo legal de crime o facto
compreender um certo resultado, abrange-se ñ só a ação adequada a produzi-lo, como a
omissão da ação adequada a evitá-lo, “salvo se outra for a intenção da lei’’. Esta corrente
doutrinal diz q aquela supressão ao aproveitamento do erro é sinal de q o legisl teve intenção
de afastar esta mat do campo da omissão e, pela própria nat das coisas, pq a lei no crime de
burla refere-se a engano sobre factos q astuciosamente provocou.
Uma outra corrente, defendida entre nós por ALMEIDA COSTA aponta num sent
diferente, no sent da admissibilidade do engano por omissão, dizendo q estas supressões são
relativizáveis, podendo ser lido no sent de q o legisl achou q a redação já seria suficientemente
ampla para abarcar ñ só os enganos por ação, mas tb os enganos por omissão, e as exigências
político-criminais de proteção do património fazem-se sentir quer nuns casos, quer noutros.
Já, porém, se o agent tem algum dever de advertir o vendedor e, todavia, aproveita-se
deste erro, então aí há um dever jurídico de elucidar, de por termo ao erro.
Por ex, se alguém mete um terreno a vender q ñ tinha capacidade construtiva e agr
passou a ter, se há um 3 q diz q quer comprar sabendo q tem capacidade e o dono desconhece,
ñ há nenhum dever. Mas se a pessoa coloca à venda através de um mediador e este aproveita-
se, pondo um amigo a comprar por ele, então já é relevante, pq o mediador tem deveres
perante o seu cliente, q decorre do contrato e das relações especiais de confiança. O contrato
faz emergir uma relação de confiança em q aquele q coloca á venda um bem através de um
profissional do setor imobiliário conta q ele irá zelar pelos seus interesses.
A partir da sua ação enganosa as coisas passam-se do lado do enganado, aquilo q vem
a seguir já se passa na esfera do burlado e implica a realização pelo burlado de atos geradores
de prejuízo patrimonial.
Assim, o 2 passo é que do engano resulte um erro no burlado. Para q haja consumação
da burla é preciso q se mostre q efetivamente o burlado, na sequência do engano, representou
a realidade de forma equivocada. Entre o engano e o erro há de haver uma conexão, no sent
ñ apenas de o erro ter sido causado pelo engano, mas + do q isso, no sent de se tratar de um
erro verdadeiramente, fundamentalmente q é da responsabilidade do agente, do burlão.
A ideia é se alguém foi levado num engano pq foi claramente imprudente, ñ tendo
exercido o minino de cautela a proteção dos seus próprios interesses, ñ se admite a chamada
do drt penal pq a própria vítima ñ exerceu o cuidado q lhe era minimamente exigível na proteção
dos seus interesses, então ñ deve afirmar-se o crime de burla, mas devemos ter cuidado com
esta posição, o critério ñ pode ser puramente objetivo.Temos de ver de q tipo se pessoa é q o
agente se aproveitou, pois há pessoas q, pela sua vulnerabilidade, se encontram especialmente
vulneráveis a ser enganadas (sobretudo pq estas pessoas são as vítimas preferenciais dos
burlões). Havemos de ter em conta se alguém com aquelas características da pessoa q foi
enganada estaria em condições de proteger os seus interesses de um modo tal q, se fosse
minimamente cuidadosa, ñ teria caído no erro. Assim, o crit aqui presente é sobretudo o crit
da negligência grosseira: alguém com aquelas características, empregando o mínimo de
diligência na proteção dos seus próprios interesses, poderia ter provavelmente evitado cair em
erro? Se se puder concluir q houve, da parte do burlado, uma autêntica negligencia grosseira,
então funcionará o pp vítimo-dogmático e a burla ñ deverá ser imputada.
Por exemplo, se o empregado da loja entrega um produto que está à venda recebendo
dinheiro falso, é ele que é enganado, é ele que realiza a disposição patrimonial, mas quem sofre
o prejuízo patrimonial é a empresa que explora a loja, sendo que é o titular do património
prejudicado que será de considerar ofendido, porque o crime visa a proteção do património.
Alem do dolo, o tipo incriminador pressupõe q o agente o faça com o intuito de tirar
um proveito indevido do empobrecimento alheio, para si ou para outrem. ñ é necessário q
ocorra o enriquecimento, bastando q ele atue com essa intenção. Só assim é q será possível
punir a burla na forma tentada. Se tenta enganar e ñ consegue, msm q ñ ganhe coisa nenhuma
pq a pessoa ñ se deixou enganar, ainda assim temos uma burla na forma tentada, temos um
crime de resultado cortado. ñ tem de haver o enriquecimento, basta q atue com o propósito de
obter um ganho indevido para si ou para um 3.
• inexistência de engano – trata-se da venda de um nome de uma ideia, sem que tenha
sido garantida a exclusividade (nada obsta a que uma obra de arte seja replicada numa
variedade de exemplares), pelo que a venda de uma peça a uma pessoa não compromete a
venda de outra peça igual a outrem;
Visto isto, podemos resolver este caso de 2 formas: concluir q ñ há engano pois é uma
venda de uma ideia e ñ e por vender a uma pessoa q não pode vender a outra, e assim, se falta
o engano ñ estamos no domínio do crime de burla, pq o crime de burla visa proteger as sits onde
há efetivamente uma fraude o q ñ é o caso.
II
Na visita à casa de Carlos, António, perturbado com a descoberta que havia feito, decidiu
que deveria fazer qualquer coisa para recuperar o seu prejuízo. Tendo-se lembrado de que
Carlos lhe havia falado numa valiosa jóia que adquirira recentemente para oferecer à sua
mulher, Daniela, António, aproveitando uma ida à casa-de-banho, introduziu-se no quarto do
casal e após vasculhar as gavetas encontrou a jóia procurada, um anel de diamante, que havia
custado 25.000€.
Ao sair do quarto, já na posse do anel, que enfiou no bolso das calças, António foi
surpreendido por Carlos, que a tudo assistira, através do sistema de videovigilância instalado na
casa.
Interpelado por Carlos para que lhe devolvesse o anel, António disse-lhe que não o
restituiria e que se Carlos continuasse a insistir revelaria a Daniela o caso amoroso que Carlos
mantivera com Eduarda e o aborto que ele, António, lhe fizera, a pedido de Carlos, o pai da
criança.
Em face disto, Carlos nada mais fez e António foi-se embora, levando o anel consigo.
Como António bem sabia, a dose de veneno injectada era bem superior à necessária
para que Eduarda abortasse; e por isso, além de perder o bebé, Eduarda ficou gravemente
doente, tendo ficado e esteve às “portas da morte”.
Parte I – Foi cometido um crime de furto qualificado na forma consumada (arts. 203.º e
204.º/2/a) do CP).
– Aplicação ao caso concreto, com ênfase dos pontos mais salientes: densificação do
acto de subtracção (aquisição de um domínio de facto sobre a coisa móvel objecto da acção de
António), do momento da consumação (colocação do anel no bolso) e da ilegítima intenção de
apropriação.
Aqui vale a ideia da fragmentariedade do drt penal: nos crimes contra a propriedade, só
relevam as ofensas à propriedade nos crimes contra o património em geral temos um âmbito
muito mais lato, em que podem relevar comportamentos que afetem negativamente interesses
patrimoniais. Há comportamentos que afetam o património porque atentam contra o direito de
propriedade, e há outros comportamentos que prejudicam o património sem que, todavia,
tenham necessariamente de prejudicar a propriedade.
O legislador estabeleceu estas diferenças, tendo nós, assim, crimes contra a propriedade
enquanto tal e crimes contra o património em geral.
Para efeitos penais, pode constituir património, relevando como coisa dentro do
património, interessa a teoria económico-jurídica de património. Tem de ter valor económico
e para além disso tem de estar em causa uma coisa q ñ seja censurada pela OJ, por ex, compro
cocaína e alguém furta, isto ñ é protegido pelo drt penal. Se se tratar de um interesse patrimonial
que a ordem jurídica repudia, não merece a tutela do direito penal. Se, pelo contrário, for um
interesse que é conforme com a ordem jurídica, ou pelo menos tolerado por ela, então aí já
merece tutela penal pelos crimes contra a propriedade e contra o património em geral.
O tipo objetivo corresponde ao ato de subtrair uma coisa móvel ou animal alheios. O
crime de F tem por objeto da ação uma coisa (daqui para a frente falarei em ‘’coisa’’ para
abranger tanto as coisas como os animais) móvel alheia.
A ação típica consiste num ato de subtrair a coisa, de tomar controlo fáctico sobre essa
coisa. A particularidade criminosa ñ está tanto ao nível do tipo objetivo, pois o ato de subtrair
uma coisa é um ato banal. Há de ser uma ação dolosa, mas além do dolo, e é aqui q há essa
particularidade, é necessário q o agente atue com uma ilegítima intenção de apropriação.
Assim, só temos furto qnd alguém passa a controlar uma coisa q ñ lhe pertence, retirando o
domínio do seu legítimo possuidor, e o faz consciente e deliberadamente com o propósito de se
apropriar ilegitimamente dessa coisa. É nesta intenção de apropriação q, em larga medida, está
o desvalor do furto. É q desta forma, o agente procura substituir a propriedade de outrem pela
sua. Claro q, juridicamente, o ladrão ñ fica proprietário da coisa, a coisa continua a pertencer de
iure ao seu legítimo dono, mas faticamente, apoderando-se da coisa fazendo-o com intenção de
se tornar dono dela, passa a ser visto como se proprietário fosse. Em certos casos, passando
algum tempo, através da usucapião, pode levar a q a pessoa se torne msm proprietária da coisa.
Qnt ao BJ, como a própria localização sistemática indica (cr contra a propriedade) em
causa está uma ofensa à propriedade alheia e por isso, com o furto, lesa-se a propriedade de
outrem. O ofendido do furto é o proprietário. Portanto, protege-se a propriedade em sentido
formal, independentemente de o próprio proprietário, no momento em q a coisa foi subtraída,
ter ou ñ o domínio fáctico sobre a coisa, pode ter sido subtraída das mãos de quem ñ era dono
dela, podia estar na posse de outrem. Msm q o proprietário ñ tivesse o domínio da coisa, é
aquele seu drt de propriedade q é afetado.
Há 2 grandes correntes na doutrina qnt a saber aquilo q o furto protege. FD, COSTA
ANDRADE+NB entendem q o furto proteger apenas a propriedade, podendo proteger outras
dimensões do drt de propriedade como a detenção, a posse, o poder de detenção, mas fá-lo
reflexamente.
Esta conceção tem implicações praticas mto significativas, sobretudo no drt processual,
para a questão de saber quem é ofendido para drt de queixa e para saber quem se pode
constituir assistente. Assim, ofendido no crime de F, naqueles casos em q há uma cisão, da
propriedade por um lado, e outros drts sobre a coisa por outro, nesta visão das coisas o crime
de furto protege quer o drt de propriedade, quer esses drts sobre a coisa, sendo ofendido ñ
apenas o proprietário, mas tmbm aquele q tenha drts de gozo sobre a coisa.
Esta visão sobre as coisas, influenciada por questões pragmáticas do drt processual, ñ
se enquadra com certos ataques q podem ser desferidos ao drt de gozo e q claramente ñ
integram o crime de furto, pex, como defende COSTA ANDRADE numa resposta demolidora
àquele AC de uniformização de jurisprudência, se o BJ for a relação de domínio sobre a coisa,
então seria normal q fosse furto, mas ñ é, o ato do proprietário de destruir a sua própria coisa q
se encontra na posse de 3º. Se eu dou em comodato uma coisa a um amigo meu, mudo de ideias
e vou buscar a coisa a casa dele, quebrei o contrato, privei-o da posse legítima, mas ñ é furto,
pq o furto não protege o interesse dele, eu tenho esse poder. Assim como ele, que está na posse
legítima da coisa, ñ pode dispor do bem, alienando-o a 3. O crime de dano é crime contra a
propriedade, q protege a propriedade, e essas coisas só merecem proteção qnd estão “coladas”
ao drt de propriedade. Assim, o BJ é a propriedade.
Qnt ao tipo objetivo, qnt ao autor trata-se de um crime comum (qlqr pessoa pode ser
autor deste crime).
Qnt ao objeto da ação, há de tratar-se de uma coisa móvel alheia. O conceito de coisa,
para efeito dos crimes contra a propriedade em geral, e do furto em particular, é um conceito
autónomo, diferente daquele do drt civil.
Qnt ao objeto da ação, há de tratar-se de uma coisa móvel alheia. O conceito de coisa,
para efeito dos crimes contra a propriedade em geral, e do furto em particular, é um conceito
autónomo, diferente daquele do drt civil.
No CC há uma definição de coisa no 202, num sentido mt + amplo, pois nele estão
inseridos interesses, expectativas, drts de crédito, realidades q ñ são objeto do crime de furto.
O 2 diz q se considera fora: todas as coisas q ñ podem ser objeto de drts privados. Ora, pode
haver coisas de domínio público subtraídas e puníveis como furto. Embora ñ seja uma coisa
para efeitos do drt civil, é uma coisa para efeitos do drt penal. Na definição de coisa para efeitos
penais, entende PAULO SARAGOÇA DA MATA q é todo o objeto do mundo real diverso do
homem. PAULO PINTO DE ALBURQUERQUE, ainda, entende q é coisa móvel, para efeitos
penais, toda a coisa corpórea ou incorpórea, q tem existência física autónoma e quantificável e
pode ser fruída ou utilizada por uma pessoa. Ora, como coisa entendem-se aqueles objetos,
tangíveis e intangíveis, diferentes das pessoas, e aqui, claro, cabem os objetos corpóreos. Na
experiência PT tmbm se assentou q são coisas ñ só os objetos corpóreos, mas tmbm objetos
incorpóreos, desde q sejam suscetíveis de medição, q possam ser quantificadas, como a
eletricidade, o gás, o sinal de net, os dados móveis.
Tmbm ñ é considerado alheia as coisas res nullius, as coisas selvagens e tmbm ñ são
qualificadas como alheias as coisas abandonadas.
O cerne da tipicidade objetiva deste crime está na ação de subtração, pois isso é
necessário saber qnd estamos perante uma subtraçao. Há sits em que é complicado saber se
temos ou ñ subtração, se se concluir q sim, o furto é considerado consumado. Se se concluir q ñ
estamos perante uma tentativa de subtraçao e será punido por um crime de furto tentado pois
o 203 estabelece expressamente a possibilidade de punição por tentativa, visto que é um crime
punido com uma pena de prisão até 3 anos e o art 23, estabelece q a tentativa é só punível se
ao crime consumado respetivo corresponder pena de prisão superior a 3 anos.
Esta punição da tentativa tmbm foi uma maneira de contornar este problema das
situações fronteiras, onde é difícil saber se houve ou ñ subtração. Assim, o agente é smp punido,
sendo q o dilema está entre saber se pune mais ou pune menos. No entanto, no caso de
concluirmos pela ñ substração daqui ñ resulta uma impunidade, o q é importante
eventualmente para efeitos de Legitima defesa.
Entre as várias conceções sobre o conceito de subtração, esta é apesar de tudo, uma
conceção relativamente exigente, pois ñ basta, para termos subtração, q o agente toque na
coisa. Tmbm ñ basta q o agente pegue, apreenda a coisa e tmbm ñ é suficiente q o agente
desloque a coisa, a mude de sítio.
O tipo subjetivo do furto é composto pelo dolo. Além do dolo, incorpora tmbm um
elemento subjetivo especial, q é a ilegítima intenção de apropriação, para si ou para outra
pessoa.
O tipo subjetivo tem uma nat complexa composta, por um lado pelo dolo, e ainda por
um elemento subjetivo especial, q é uma intenção específica.
O dolo reporta-se aos elementos do tipo objetivo de ilícito. Para q haja dolo de furto, é
necessário que q agente represente q subtrai uma coisa móvel alheia e q o queira fazer. Se,
porventura, o agente ñ representar algum destes elementos típicos, então atua sem dolo e ñ há
crime de F (incorre em erro, q, de acordo com o 16/1 implica a exclusão do tipo). Pex, alguém
recolhe uma mala q ñ é sua pensando q é sua num aeroporto, atua sem dolo.
Qnt ao elemento volitivo, qlqr 1 das formas de dolo (direto, necessário, eventual) é
compatível com o crime de furto. No ex do aeroporto, se o passageiro vê uma mala q parece
ser a sua e ñ tem a certeza, pode haver dolo eventual.
A subtração deve ser ñ apenas representada e desejada, mas deve tmbm ser levada a
cabo com um específico propósito, q é a ilegítima intenção de apropriação
O dolo, por si só, ñ é suficiente para atribuir um relevo criminal a este comportamento.
Aquilo q lhe dá um significado de forte ofensa ao drt de propriedade é o facto de a tomada de
controlo ser determinada por um propósito de apropriação. Por isso se fala do furto como um
crime de resultado cortado. Os crimes de resultado cortado são aqueles em q, para q haja
consumação, ñ é imprescindível a existência de uma congruência entre aquilo q é desejado pelo
agente e aquilo q acontece na realizada. O tipo subjetivo é + extenso do q o tipo objetivo. Basta
q o agente deseje q aconteça isso, msm q ñ consiga concretizar esse desejo, isso já é suficiente
para haver crime.
Parte II
Foi ainda cometido um crime de ofensa à integridade física grave qualificada (arts.
144.º/1/d), 145.º/1/c), ex vi art. 132.º/2/i) do CP).
Dada a consciência e vontade de António em atentar contra a saúde de Eduarda, não
seria um caso de aborto agravado pelo resultado (art. 141.º/1).
Na 1 questão, já sabemos q geração da vida passa por vários momentos, vários estádios,
desde o estádio da fecundação até ao estádio do nascimento, o que interessa aqui é saber a
partir de que estadio. Será com a fecundação? Ñ!, senão a destruição de óvulos humanos
conservados num ambiente artificial corresponderia a um aborto, e isso ñ acontece.
Tbm leva a q fique de fora desta esfera as gravidez extrauterinas, aqueles casos em q o
óvulo fecundado em vez de se encaminhar para o útero acaba por fixar-se fora deste, nas
trompas de Falópio, tratando-se de uma gravidez inviável. Essas intervenções medicas ñ
representam a factualidade típica de aborto.
Agr a questão é saber qnd é q se iniciou o ato de nascimento. Isto é respondido pela
ciência médica, a medicina assume aqui um papel decisivo. Em regra, vem-se entendendo q o
início do ato de nascimento tendencialmente coincide com o início do trabalho de parto, isto é,
qnd se iniciam as contrações ritmadas e intensas e frequentes q previsivelmente conduzirão à
expulsão do feto. Mas cada vez + os partos são programados, portanto, temos casos em q o
parto é provocado, ñ há sequer contrações, nesses casos pode dizer-se início do ato de
nascimento qnd se dá a 1º intervenção médica com vista a induzir o parto, ex.: dando a
epidural, anestesia ou seja, qnd se inicia o processo clínico com vista a q se realize o parto,
natural ou cesariana já estaremos no quadro do trabalho de parto.
Assim, podemos ver que estamos perante um crime de aborto pq já houve nidação e pq
ainda ñ houve inicio do ato de nascimento. Assim, o q importa neste quadro é saber qnd existe
uma conduta que é ofensiva q afeta a integridade do nascituro, seja a sua vida ou saúde, tudo
está em saber qnd é q ela produz o seu efeito lesivo sobre o feto, qnd é q se inicia, qnd é q ela
incide. Assim, no caso prático ela foi iniciada ainda antes do início do processo de nascimento,
estamos perante um aborto.
Qnt ao tipo subjetivo, uma vez q nada se específica no reg legal qnt à punibilidade da
negligência, vale a regra geral prevista no 13 CP, segundo a qual só é punível o facto praticado
com dolo. Se o agente atuar de modo negligente, o aborto ñ é punível. Podemos estar perante
um caso de negligencia ñ punível qnd alguém realiza uma conduta da qual resulta a morte do
nascituro, sem saber q a mulher está grávida. Temos aí um caso de erro do 16/1, ñ representação
do elemento típico, podendo haver qnd mt negligência, q ñ é punível. É no âmbito da negligencia
q cairão boa parte das sits de condutas pré-natais (q falei acima) das quais, por descuido, por
incúria, resulte a morte do feto.
Assim, o aborto só é punível sob a forma dolosa (todas as formas estão abrangidas),
sendo necessário q o agente represente e queira matar o nascituro.
Assim, no caso prático, o agente sabia perfeitamente que aquela substancia era toxica
e injetou-a com a intenção de a fazer abortar, por estamos perante um crime de aborto
consumado nos termos do 140, nº1.
Este crime segue um modelo parecido com o de H. Temos o crime base no 143 (ofensa
à IF simples), q é um crime doloso, e partir dele o legisl constrói diversas formas de agravação,
qualificação e privilegiamente e especialização.
Assim, estamos perante um crime de ofensa à IF grave pq houve um perigo para a vida
(144, d). Neste crime, temos tmbm 2 tipo de ofensas como no OIF simples, pode consistir numa
ofensa ao corpo, em q é posta em causa a incolumidade corporal, ou então uma ofensa à saúde.
É importante ver como é q o ofendido estava antes da conduta e como passou a estar
dps da conduta, justamente pq estamos perante um crime de resultado, portanto, é desta
comparação q se ponderará se houve ou ñ uma ofensa corporal.
Na alínea d) cabem os casos em que a ofensa ao corpo ou à saúde provoca perigo para
a vida. Este é um crime doloso, por isso é necessário para além de realizar uma conduta que se
projete numa ofensa corporal ou para a saúde, dela resulte uma perigosidade, a vida fica em
risco, aquela ofensa comporta a possibilidade efetiva de eliminação da vida de outra pessoa e
isso tem de ser representado e desejado pelo agente.
Insere-se aqui, a situação do caso prático pq foi administrado um veneno de tal forma q
houve a possibilidade real de ela morrer.
Portanto, o crime em questão é um crime doloso e por isso é necessário que o agente
represente e queira todos os elementos da factualidade típica, portanto, ele tem de
representar e querer não apenas que está a ofender o corpo e a saúde, mas também aquelas
consequências danosas para a integridade física que agravam a responsabilidade, se ele não
representar então, nessa parte não temos dolo e não pode ser punido por crime de ofensa à
integridade física grave nos termos do artigo 144º CP, sem prejuízo de ser punível por uma
agravação pelo resultado nos termos do artigo 147º/2 CP, este último artigo está pensado para
aqueles casos em que aquela ofensa gerou aquele dano severo no corpo ou na saúde da vítima,
o agente representou que estava a ofender o corpo ou a saúde, mas não chegou a representar
e/ou a desejar a possibilidade de a sua ofensa ter aquelas implicações tão severas sobre a vítima,
este é um caso paradigmático de um crime agravado pelo resultado. Portanto, a forma básica
é dolosa e a agravação sobre a forma negligente, portanto, pelo menos sobre a forma negligente
tem de ser.
13/07/2021
Bernardo caiu dentro do tanque com água, completamente vestido, ali permanecendo
por tempo indeterminado, e só quando se encontrava inconsciente foi retirado da água por
Ângela.
Ângela quis praticar tais factos bem sabendo que a sua conduta era susceptível de
provocar a morte por afogamento e paragem cardiorrespiratória do seu filho bem como as
lesões sofridas, o que representou, conformando-se com tal possibilidade.
No 131 temos o H doloso simples, que é o crime de base dos crimes contra a vida. Este
serve de base para os outros homicídios.
O tipo de ilícito objetivo constante do 131 basta para caraterizar o conteúdo essencial
do ilícito de todos os crimes contra a vida de pessoa já nascida, sendo o msm em qlqr deles, o
BJ protegido: a vida de outra pessoa já nascida. É a partir deste tipo legal q a lei constrói os
restantes tipos de crime contra a vida, ora qualificando-os, ora privilegiando-o ora
especializando as formas de ataque ao BJ (incitamento ou ajuda ao suicido, exposição ou
abandono e propaganda ado suicídio) ou o tipo subjetivo de ilícito e o tipo de culpa congruente
(H por negligencia).
Trata-se de um crime comum, qlqr pessoa pode ser autor deste crime. Estranhamente,
o crime de H, em nenhuma das suas formas, nem msm o H negligente, abrange como agente as
pessoas coletivas (11CP).
Assim, como eu já referi, temos um crime de H na sua forma tentada, porque o resultado
– a morte – ñ se produziu. Assim, aqui vale o 22, sendo q os atos preparatórios ñ são puníveis,
mas aqui já estávamos no âmbito dos atos de execução de homicídio, sendo que ñ houve
consumação, por isso é punido na forma tentada.
Para além disto, podemos estar perante um crime de HQ. no H qualificado o agente
mata uma pessoa em circunstâncias de especial censurabilidade (+ culpa). Assim, é um H q
parte do 131 mas cometido em circunstâncias q revelam especial censurabilidade ou
perversidade
No pp da legalidade, este tem como corolário a determinabilidade da lei penal (deve ser
o + precisa possível, o + determinada possivele), ora a formulação do n1 é mt vaga/genérica, é
de tal modo genérica que ñ seria consentânea com o pp da legalidade. Daí uma decorre uma
necessidade de densificação q se encontra no n2 com os exemplos-padrão.
Esta é uma técnica legislativa q, com SILVA DIAS, pode sintetizar-se na fórmula "n só,
nem smp": ñ só naqueles casos podemos ter H qualificado, podendo ter noutros casos q ñ estes;
mas tmbm, o facto de termos uma circunstância q cai nestas hipóteses, nem smp determina a
qualificação. Tudo vai depender da chamada imagem global do facto, isto é, de saber se
naquela situação está dada a tal especialidade q vai pressuposta nesta ideia de qualificação.
Como já referi, esta qualificação funda-se numa culpa agravada do agente, ou seja, no
plano da culpa, o agente é punido a título de HQ pq é mais culpado, revela uma culpa
especialmente grave. O q está em causa é o tipo de culpa especial, e aqueles exs-padrão são
elementos desse tipo de culpa e ñ elementos do tipo de ilícito. Esta posição é largamente
dominante na doutrina PT e desde smp foi defendida por Eduardo Correia e dps por FD e os
nossos tribs vêm adotando de forma praticamente unânime.
A posição q defendemos tem razões q se prendem quer com a letra da lei, quer com a
intencionalidade político-criminal q está aqui em causa. A censurabilidade identifica-se com a
ideia da culpa e a perversidade é algo q diz respeito à personalidade do agente, à personalidade
desvaliosa.
Entende FD q esta é 1 das razoes q não deve ser adotada, sobretudo pq temos uma
lista mt extensa de exs padrão, arriscando-se a q grande parte dos casos de H acabassem por
ser qualificados, ocorrendo a banalização do H. Dps, há aqui uma certa desvalorização do
elemento essencial, q é a especial censurabilidade ou perversidade, pondo-se a tónica + no ex
do q a clausula geral, q é o cerne da qualificação.
Ñ é a posição q os tribs vêm adotando, e tmbm ñ é a posição seguida por NB. Estes
casos são de forma implícita vistos como de concurso aparente. Seguindo-se aquela ideia de q
no concurso há um sent de ilicitude claramente dominante, nessas situações o desvalor social
q pode ser atribuído àquele facto é essencialmente o do H e acaba por esbater-se a ofensa à
integri fisica q tmbm se produz nessas sits, sendo q essas diferenças q intercedem entre aquelas
tentativas de homicídio em q a vitima escapa lesa ou pouco sofre, e aquelas outras em q fica
gravemente afetada, podem ser diferenciadas no âmbito da medida concreta na pena. Logo,
ñ estamos a tratar de maneira = sits diferentes, pq no caso em q há uma lesão grave, o agente
vai ser punido + gravemente do q se a vítima ñ tiver nenhuma mazela física, sendo q esta
desigualdade deve ser tida em conta na medida concreta da pena.
Assim, neste caso negar a existência de um concurso de crimes significa violar o mandato
de esgotante apreciação da matéria ilícita, enquanto q punir por concurso efetivo significaria
violar a proibição de dupla valoração.
II
A empresa X, Lda., sita em Lisboa, contratou Carlos para o seu departamento comercial,
incumbindo-o da prospecção de novos clientes no norte do país, mercado que até aí não havia
sido explorado. Carlos ficou incumbido de receber encomendas, recolher os dados dos clientes
e, se necessário, receber pagamentos dos clientes.
A situação durou 6 meses, tempo durante o qual o total de verbas transferidas por
client(nomeadamente, os clientes A, S.A., B, Lda. e C, S.A.) para a referida conta bancária
ascendeu a 60.000€.
Quando o esquema foi detectado, a conta não apresentava qualquer saldo, fruto de
sucessivos levantamentos em numerário, feitos por Carlos.
Confrontado com a situação pela X, Lda., que exigiu a Carlos a imediata entrega do
dinheiro, este disse que era sua intenção devolver a totalidade do dinheiro logo que lhe fosse
possível, como sempre desejou, mas que iria precisar de tempo para o fazer, porque, entretanto,
já tinha gasto todo o dinheiro.
Estamos perante um crime de abuso de confiança estipulado no 205 CP. Aqui estão
abrangidas sits em q alguém fica na posse legítima de uma coisa q ñ lhe pertence e dps atua,
apropriando-se dela. Grosso modo, o crime de AC corresponde àquelas sits em q alguém q se
encontra já na posse da coisa q lhe foi transmitida através de um título ñ translativo da
propriedade, passa a comportar-se sobre a coisa como se dono dela fosse.
Qnt ao obj da ação, já vimos q ele só abrange coisas, na msm aceção do crime de furto,
mas ñ tem necessariamente de ser coisas tangíveis, pode ser tb coisas incorpóreas, desde q
mensuráveis e sobre os quais incida um drt de propriedade
Já ñ há AC sobre drts de crédito pex, há de ser uma coisa. Assim, uma cessão de uma
posição contratual através do qual alguém consegue tornar-se titular de um certo drt, ñ
constitui AC, pq o drt de crédito não é uma coisa, ñ constituindo objeto próprio do crime de
AC.
Infidelidade patrimonial:
A doutrina PT tem entendido q, pq aqui está em causa um poder fático de controlo sobre bens
q são postos sobre o domínio ou guarda ou administração do agente, entram aqui tb aqueles
casos em q certa pessoa é investida num poder de administração de um certo património ou
de uma certa empresa e usa os seus poderes em benefício próprio, usando dinheiros ou bens
desse património ou dessa empresa em proveito próprio (pex, um administrador põe a empresa
a pagar o casamento da filha; ou faz-se pagar de valores superiores àqueles de q deveria ser
remunerado, inventando prémios ou bónus q ñ foram aprovados por mais ninguém).
A doutrina e jurisprudência nacional, pq tem um conceito de coisa, para efeito do AC, q pode
ser intangível, incorpóreo, abrangendo situações patrimoniais q podem ser só €, e pq ñ exige
a entrega fática, tem entendido q esses tipos de atos consubstanciam crimes AC.
No nosso ordenamento, ñ por acaso, este foi qualificado como um crime semipúblico com uma
pena pequena, pq se fosse público tínhamos grande parte dos nossos empresários a receber
uma pena de prisão. Esse tipo de coisas, q são mt frequentes, cabe 224, mas ñ são perseguidos
criminalmente pq é um crime cujo procedimento depende de queixa.
Uma leitura + restritiva do AC levaria a q estes factos fossem encaminhados para a infidelidade
patrimonial. Tem havido relutância na jurisprudência em ir por esta via, pq o procedimento
depende de queixa e é de pena mt reduzida, até 3 anos (Caso Ricardo Salgado), tendo os tribs
enquadrado estes casos no AC, pq levam ao conceito de entrega de coisa alheia o ato de
administração de um património social, para fugir à infidelidade patrimonial.
Esta tendência PT de tratar esses casos no quadro do AC tem mt a ver com isso. NB entende q,
independentemente dos interesses em procs judiciais, ñ se pode reconduzir o ato de investir
alguém na administração de uma certa sociedade, de um certo património, com o ato de lhe
entregar a si uma certa coisa. O AB está feito para sits + simples. O património abrange mt + do
q simples coisas, e ñ se pode prever o património social como uma coisa no sent previsto no AC.
A 2 objeção prende-se com o facto de ñ haver propriamente uma entrega.
--
Em 1º lugar, este crime tem subjacente uma sit em q o agente se encontra na posse da
coisa por esta lhe ter sido entregue através de um título ñ translativo da propriedade. Para q
se possa dizer q há AC, é então necessário em 1º lugar verificar se antes houve uma entrega e
se o destinatário dessa entrega ñ se tornou proprietário do bem q lhe foi entregue. Via de
regra temos a tradição da coisa, mas só haverá + tarde o crime de AC se antes o agente ñ
adquiriu, com a entrega, a propriedade.
É preciso ver qnd estamos perante uma entrega. Portanto, é em 1º lugar necessário q
aquela coisa tenha passado para a posse do agente. Mas tb vem-se entendendo, e a doutrina PT
tem um conceito mt amplo de entrega, naqueles casos em q, ainda q ñ haja a tradição material,
o agente passou a ficar colocado numa posição de facto q lhe permite ter um controlo sobre a
coisa (ex do cartão multibanco).
Ñ há uma entrega qnd a pessoa já está, por algum motivo, na posse do bem, ou qnd a
pessoa subtraiu a coisa antes de passar a ter o controlo sobre ela.
Aqui, temo uma sit parecida com as sit de mediação de seguro. Aqui, os clientes vem
este agente como uma pessoa que está atuar no beneficio da seguradora, portanto, qnd lhe
entregam o dinheiro, cumpre a sua obrigação contratual. Isto é bastante importante, para
sabermos quem é o ofendido. No caso, o dinheiro pertence à empresa pq o cliente já cumpriu
a sua obrigação ao entregar ao agente.
Assim, como podemos ver a entrega ñ tem de ser feita necessariamente pelo
proprietário pode ser feita por um 3, sendo q o destinatário da entrega está a atuar no interesse
do beneficiário final. É o que acontece aqui, os clientes qnd entregam o dinheiro, entregam o
dinheiro à empresa na pessoa deste trabalhador.
Esta entrega deve anteceder a apropriação. De acordo com a lei, diz-se “quem se
apropriar de coisa móvel q lhe tenha sido entregue”, portanto há aqui uma décalage temporal.
Naturalmente, só se pode dizer q há uma entrega qnd o destinatário da entrega tenha passado
a adquirir o controlo sobre aquela coisa, tenha efetivamente recebido a coisa. Se ele ñ chega a
receber a coisa, se pelo meio há uma interseção q se interpõe no caminho da coisa para ele, ñ
chega a haver realização da entrega, ñ há crime de AC. Assim, como podemos ver houve
entrega.
Há aqui uma divergência acerca de saber se a entrega deve ser licita ou se pode ser
ilícita, mas esta questão ñ se coloca aqui pq a entrega é licita.
Há apropriação qnd o agente q tem poder de facto sobre a coisa, pratica atos
reveladores de q ele passou a agir sobre a coisa como se esta fosse sua e ñ de outrem. Este
ponto “pratica atos” é absolutamente fundamental, pq as coisas ñ se podem passar só na cabeça
do possuidor, sob pena de termos um drt penal de intenções e representações. Esta apropriação
só poderá ser afirmada se o agente exteriorizar essa sua atitude de dominus sobre a coisa. ñ
basta que a pessoa ache q é dono da coisa.
Atos concludentes são aqueles q para o comum dos cidadãos, de acordo com as regras
da experiência comum, são aquele tipo de atos q um proprietário faz (pôr à venda, emprestar,
destruir, dar um destino diferente). Isso será suficiente para q se possa dizer q há uma
apropriação. Nesses casos ocorre a inversão do título de posse, mas ñ no sent estrito de drt
civil (ñ sendo preciso q haja transmissão do drt de propriedade) basta q a pessoa (possuidor) se
passe a comportar sobre aquilo como se fosse seu.
Há vários atos q, de acordo com as regras da experiência comum, são tidos como atos
normais de disposição patrimonial próprios de um proprietário e q, se o detentor fizer,
evidencia a existência dessa ação de apropriação.
Assim, no presente caso prático temos uma inversão do título de posse que se
materializa com os levantamentos e com o dispêndio dessas quantias. E aqui tb temos um desvio
da coisa para fim diferente do previsto.
Porém, este ñ é o nosso caso, ñ há nenhuma ‘’causa de justificação’’, por isso há aqui
uma ilegitimidade da apropriação.
Ao nível do tipo subjetivo, trata-se de crime doloso, qlqr tipo de dolo poderá revelar.
O q importa é saber se o agente, ao apropriar-se, representa e tem a vontade de ficar com a
coisa q ñ é sua.
Como vimos até agr, o agente iria responder por um crime de AC, mas aqui, no plano
subjetivo releva a intenção de restituir, e é importante sobretudo nos casos de bens fungíveis,
como o dinheiro que é a sit do nosso caso prático.
Porém, o comportamento do agente ñ revela esta intenção de restituir, por isso essa
intenção de restituir é irrelevante e ele vai ser punido.
Durante vários meses, três agentes de uma brigada de fiscalização do trânsito montaram
diversas operações stop nas imediações de um restaurante especialmente frequentado por
camionistas, no âmbito das quais levantaram numerosos autos de contra-ordenação.
Tendo tomado conhecimento do sucedido, o dono do restaurante, Duarte, vendo a sua
clientela diminuir progressivamente, deixou de cobrar ao chefe da brigada, Eduardo, as
refeições que ele habitualmente fazia no seu estabelecimento, o que por ele foi aceite.
Assim, durante três meses, ofereceu-lhe, pelo menos, 60 almoços, num valor total
aproximado de € 450.
Caracterização sumária das vertentes activa e passiva da corrupção, com menção dos
actos típicos em apreço: do lado activo, o oferecimento de uma vantagem não devida; do lado
passivo, a aceitação de recebimento de uma vantagem não devida.
Aqui ñ estamos perante titulares de cargos políticos por isso aplicamos o CP. Nós no Cp
temos: corrupção ativa, passiva e recebimento indevido de vantagem e a oferta indevida de
vantagem.
A corrupção gravita em torno dos agentes públicos, por isso é q se distingue a corrupção
no setor privado e no fenómeno desportivo.
A passiva é a corrupção cometida pelo agente público, pelo funcionário, pelo titular do
cargo político, e a ativa é cometida pelo particular (aquele q pretende corromper o agente
público).
Se a vantagem ñ esta associada a nenhum ato funcional específico, mas nos aparece
ligada ao exercício da função é uma vantagem q só é conseguida no contexto da função. Ou seja,
há de ser uma vantagem q se liga ao exercício da função para influenciar o exercício da função
(ou tendo em conta o exercício da função), sem, todavia, se tenha conseguido deslindar um
específico ato funcional associado à vantagem. E aqui estarmos perante recebimento indevido
de vantagem.
Claro q neste tipo de ofertas q ñ são devidas, temos q ter alguma cautela. O q se
pretende punir é o ambiente de permeabilidade de simpática, de favor, só q nos usos sociais
frequentemente e sem maldade/má intenção as pessoas dão gratificações. Na cultura latina há
estes gestos de simpatia, onde ninguém se vai sentir condicionado por uma coisa daquelas. Há
aqui uma clausula de adequação social, ñ tem relevância penal, eticamente ñ são censurados
pela sociedade.
No 2, a vantagem aparece associada a um certo específico ato funcional, mas esse ato
corresponde aquilo q se esperava do funcionário, ele é gratificado por algo q ele devia fazer, é
um ato conforme aos deveres do cargo. É algo menos grave.
Os crimes de corrupção ativa e passiva são autónomos entre si. Claro q mts vezes, na
maior parte dos casos, aparece uma relação de reciprocidade, temos o corruptor ativo e o
passivo, é a msm realidade, só q aquela msm realidade gera responsabilidades penais distintas,
ñ há aqui uma comparticipação.
No presente caso, teríamos uma corrupção antecedente, visto que a vantagem (ñ pagar
almoços) começou antes de existir um ato do funcionário.
O crime de corrupção passiva é um c específico próprio, só pode ser autor deste crime
quem for funcionário, tal como só pode ser autor do crime q se prevê no 17 da Lei 34/87 quem
for titular de cargo político.
Quais são as condutas típicas da corrupção passiva?
Assim, do lado activo, o oferecimento de uma vantagem não devida e do lado passivo,
a aceitação de recebimento de uma vantagem não devida. No lado ativo, o importante é que
chegue a promessa ao conhecimento do agente, e haverá consumação logo que isso aconteça,
mesmo que o agente publico recuse a promessa. Do lado passivo, temos a aceitação da
vantagem, e aqui estamos perante a consumação material deste crime.
Na visão NB, diz q há uma conceção ultrapassada do conceito BJ coletivo como bens-
meios ou instrumentais. A explicação dos alemães, segundo o Dr. NB, tem + consistência.
Concebem o interesse protegido pelos crimes de corrupção como um BJ complexo, q agrega a
capacidade e eficiência funcionais da máquina estadual e a confiança comunitária na correção
e objetividade no exercício de funções pública
05/06/2019
i. No final da noite de um jantar organizado por amigos comuns, Alberto e Beatriz que
até aí se desconheciam, envolveram-se sexualmente, daí tendo resultado a gravides
de Beatriz.
Três meses depois, quando soube q se encontrava grávida, B foi ter com A, deu-lhe a
saber do sucedido e transmitiu-lhe a sua vontade de levar a gravidez até ao fim, negando-se
terminantemente a aceder aos pedidos insistentes de A para que pusesse termo à gravidez.
Nesse momento, face às sucessivas recusas de B, A começou a ficar cada vez + agressivo,
tendo-lhe gritado, já irado, que a bem ou a mal, a criança jamais veria a luz do dia.
15/06/2022
José e Maria, ambos com 80 anos de idade, são casados entre si há cerca de 50 anos.
Nos últimos 30 anos, José tem atormentado Maria. Com regularidade, agride-a fisicamente,
insulta-a, humilha-a diante de terceiros, ameaça q a mata, etc. Fruto deste comportamento do
seu marido, Maria desenvolveu aversão e odio em relação a ele. No inicio de 2022, foi
diagnosticada a José uma doença oncológica grave. José foi sujeito a uma terapia que o deixou
num estado de contraente prostração. Desde q ficou doente, José ñ mais maltratou Maria, q se
tornou a sua principal cuidadora. Maria ficou responsável pela sua alimentação e medicação de
José. Em ordem a vingar-se de décadas de maus-tratos q sofreu às mãos de José, Maria decidiu
matar José à fome e em sofrimento. Assim, deixou de o alimentar e de lhe administrar a
medicação paliativa de q aquele necessitava, apesar de José lhe implorar pela comida e pelos
remédios. José morreu em virtude da falta de alimentação e num estado de dor atroz.
Pronuncie-se sobre a responsabilidade penal de Maria. (8v)
• A omissão de Maria determinou a morte de António e foi dominada por uma intenção
de matar, motivos pelos quais nos encontramos no domínio normativo dos homicídios.
• Preenchimento do ilícito-típico do crime de homicídio simples (art. 131.º do CP) (breve
caracterização).
• Possibilidade de o facto ser integrado nas incriminações de homicídio qualificado (art.
132.º, n.ºs 1 e 2, als. b), c), d) e f) do CP) e de homicídio privilegiado (dado o historial
prévio de violência doméstica) – contraposição entre as duas incriminações e
caracterização de cada uma delas.
• Falta de verificação de qualquer uma das quatro circunstâncias susceptíveis de
privilegiar o homicídio – ponderação, em especial, da compreensível emoção violenta –
, bem como da cláusula geral de menor exigibilidade.
• Verificação do crime de homicídio qualificado (aplicação da técnica dos exemplos-
padrão).
• Seriam aceites outras conclusões, desde que devidamente justificadas.
No inicio de maio de 2021, a ‘’JF’’ transferiu aquelas verbas para uma conta bancaria da
‘’EM’’.
Nesse mesmo dia, A fugiu para o Brasil com o dinheiro recebido da EV. No dia 7, já dps
de realizado o evento, o diretor do hotel conclui q antonio ñ havia efetuado o paamento. Tendo
tentado cobrar a ‘’JF’’ o valor, a empresa ñ conseguiu já q se comprovou q a responsabilidade
desse pagamento caberia a ‘’EM.
• Verificação do crime de burla qualificada (art. 217.º, n.º 1; e arts. 202.º, n.º 2, al. b), e
218.º, n.º 2, al. b), do CP), tendo por ofendida a sociedade dona do hotel (caracterização
do crime de burla).
• Verificação do crime de falsificação de documento (art. 256.º, n.º 1, al. b), do CP):
conceito de documento; caracterização da falsificação material sob a forma de alteração
de documento.
• Questão do concurso entre os crimes de burla e de falsificação de documento.