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17/06/2021

No mês de Maio de 2021, António comprou ao artista plástico Bruno uma escultura
imaterial – ou seja, uma ideia de escultura apenas presente na mente de Bruno, sem
materialidade física – denominada Nuvem, pela qual pagou a quantia de 12.500 €.

Para documentar essa venda, Bruno entregou a António um certificado escrito do qual
constava a menção à escultura Nuvem, à sua natureza imaterial, à propriedade adquirida por
António e à data da aquisição.

No início deste mês, António visitou o seu amigo Carlos, em casa deste; e aí viu afixado
numa parede da casa um certificado emitido por Bruno em tudo idêntico àquele que lhe havia
sido entregue, datado de Abril de 2021, também relativo à escultura imaterial Nuvem.

Mais reparou que, tal como em sua própria casa, no chão, em frente a esse certificado,
foi colada uma fita em forma de quadrado, correspondente ao lugar onde a Nuvem estaria
situada, nos termos recomendados por Bruno.

Indignado por ter adquirido a Bruno uma escultura que este, afinal, já antes havia
vendido a outra pessoa, António apresentou denúncia contra Bruno, por crime de burla
qualificada. Quid juris? (7 valores)

– Caracterização geral do crime de burla: bem jurídico (património); estrutura típica


objectiva; consumação (teoria da adequação);

– Estrutura típica: conduta enganosa (por declarações expressas, actos concludentes ou


omissão) → erro (princípio vítimo-dogmático) → disposição patrimonial → prejuízo patrimonial;

– Aplicação ao caso concreto:

• inexistência de engano – trata-se da venda de um nome de uma ideia, sem que tenha
sido garantida a exclusividade (nada obsta a que uma obra de arte seja replicada numa
variedade de exemplares), pelo que a venda de uma peça a uma pessoa não compromete a
venda de outra peça igual a outrem;

• entendendo-se que havia engano, por acto concludente, o princípio vítimodogmático


obstaria à imputação.

– Conclusão: inexistência de crime de burla.

A burla é um crime através do qual se lesa o património de outra pessoa, o q é feito


através de um engano, de q que a pessoa realize um ato contra os seus próprios interesses
patrimoniais. Temos no 217 a sua forma basilar e dps temos a burla qualificada.

Diz-se no 217 q se trata de um crime q pressupõe a verificação de um prejuízo


patrimonial e em q a inflação desse prejuízo decorre de uma conduta fraudulenta, enganosa do
agente, sendo q o BJ protegido é o património e só há consumação qnd o agente logra provocar
um prejuízo no património de outra pessoa. Mas ñ é qlqr forma de provocar esse prejuízo q
assume relevância penal. O c de burla é o ex por excelência de um c de execução vinculada: só
há burla qnd esse prejuízo patrimonial advém de uma disposição patrimonial q é feita por
alguém q tinha um poder de disposição sobre o património afetado, em virtude de um
comportamento enganoso do agente.
No relacionamento social e económico e nos negócios, é normal q as pessoas, qnd fazem
um certo negócio, desejem ter um ganho para si ou para um 3, e admitindo como possível, ou
até desejando, q o seu ganho seja a perda da sua contraparte. Isso faz parte da vida, é algo de
banal q ñ pode ser criminalizado, sob pena de termos toda a gente com o pé na prisão. Quem
comprar quer comprar o + barato possível, e quem vende quer ter o maior ganho possível e mt
vezes o ganho de um é o prejuízo do outro.

A burla visa intervir naqueles casos em q há uma deslealdade, uma conduta enganosa,
fraudulenta, e é fruto desse engano ou ludíbrio q se consegue o prejuízo patrimonial de uma
pessoa, com o intuito de enriquecimento para si ou para um 3º, a burla intervém para fazer face
a comportamentos de engano/fraude, e só intervém, na forma consumada, qnd dela resulta
uma afetação do património, um prejuízo patrimonial. O q o drt penal procura proteger é o
património q pode ser afetado negativamente por uma ação enganosa.

Qnt à forma como o crime está construído, é um crime de difícil comprovação em


função do desenho da execução vinculada, ñ é qlqr forma de levar a um prejuízo do património
q releva para este crime. Há de ser uma forma q envolva o engano, mas q tb conte com a
participação do enganado. A particularidade aqui é q quem causa o prejuízo é o próprio titular
do património, por isso é q se diz que é um crime com participação da vítima. É a própria vítima
q age em seu próprio prejuízo, só q ela atua contra os seus interesses patrimoniais
inadvertidamente, sem se aperceber. Isso acontece pq ela é enganada. É o facto de haver aqui
a fraude q leva a que se chame o drt penal. É + do q se aproveitar do erro do outro, alguém
provoca o erro do outro, então aí faz sentido chamar o drt penal, pq essa conduta fraudulenta
ñ é aceitável do ponto de vista da defesa do património. As relações patrimoniais, devem ser
pautadas pela lisura, pela verdade e qnd alguém provoca erro no outro com intenção de obter
benefício para si, então aí faz sentido chamar o drt penal.

Para q se possa dizer q há uma burla na forma consumada, temos vários passos q estão
relacionados entre si.

Ainda acerca do BJ: o património, o património é constituído pelas coisas, pelos drts e
outros interesses ou expetativas juridicamente relevantes com valor económico. Discute-se se
é necessário ou ñ q uma certa coisa tenha ou ñ valor patrimonial, se bastará valor efetivo, esta
é teoria pessoal do património, defendida por Pedro Caeiro.

A teoria dominante diz q apenas pode ser reconduzido à esfera dos crimes contra o
património aquilo q tenha valor económico/pecuniário/tem um valor de mercado. Assim, na
posição dominante, defendida por Almeia Costa e Faria Costa, só serão tidos como património
aqueles interesses, sits ou posições q possuam valor venal, q tenham valor económico. Se algo
existir q seja desprovido de valor económico, se de acordo com as regras do mercado ñ haja
ninguém disponível para pagar seja o q for por aquilo, então ñ tem nat de património.

Uma condição 1º para q uma certa realidade, tangível ou intangível, possa qualificar-se
como património é, de acordo com esta conceção económica, q tenha valor económico. Aqui
entram as + variadas realidades, desde drts subjetivos de nat patrimonial (como é o drt de
propriedade, o drt de posse, o drt de uso, etc.), real ou obrigacional. Tb constituem património
os drts subjetivos de nat obrigacional, pex, drt de crédito (o valor q o credor deverá receber do
devedor, por conta de um contrato q foi celebrado, integra o património desde q disponha de
valor económico). Tb integram o património, desde q disponham de valor económico,
expectativas jurídicas de q alguém seja titular e q sejam juridicamente fundadas, se alguém
detém a expectativa, com base jurídica, de vir a adquirir qlqe coisa, pq celebrou um contrato
com condição suspensiva, um contrato promessa ou detém um drt de preferência sobre certo
bem.

Dps há outras realidades, instrumentos financeiros, etc., q a doutrina vem


reconduzindo ao q é o património, mas o q importa é saber q o património abrange um sem nº
de posições/drts/expectativas com base jurídica e q disponham de valor económico. Esta é a
vertente económica do conceito de património.

Todavia, o conceito de património ñ se esgota nesta perspetiva económica, tb integra


uma vertente jurídica, daí se designar teoria económico-jurídica de património, no sent de q só
são suscetíveis de proteção pelo drt penal, no contexto dos crimes patrimoniais, aquilo q, alem
de ter um valor económico, ñ seja objeto de desaprovação pela OJ, pq há coisas, interesses ou
drts q, embora possuindo valor económico, são censurados pela ordem jurídica. Por isso, seria
incongruente q a OJ conferisse proteção a esses interesses através dos crimes patrimoniais. O
ex paradigmático é o da droga.

Ñ é propriamente necessário q aquele interesse patrimonial seja aprovado pela OJ.


Para q ele beneficie da proteção dos crimes contra o património, será suficiente q ele ñ seja
reprovado. Assim, algo q é apenas tolerado pela OJ, beneficia de proteção patrimonial. A título
de ex, as moedas virtuais.

Qnto à conduta típica deste crime é um crime comum, ñ há nenhuma exigência


especifica qnt a qualidade de autor Na incriminação temos aqui uma série de elementos, maior
parte deles de nat normativa. Um elemento diz respeito ao tipo subjetivo ‘’intenção de obter
para si ou para 3º enriquecimento ilegítimo’’ – esta intenção ñ faz parte do tipo objetivo, isto
é, ñ é necessário q o burlão enriqueça para q o crime se consuma, essa intenção faz parte do
tipo subjetivo e ñ tem correspetivo no tipo objetivo.

– Estrutura típica: conduta enganosa (por declarações expressas, actos concludentes ou


omissão) → erro (princípio vítimo-dogmático) → disposição patrimonial → prejuízo patrimonial;

O 1) passo é ter uma conduta do burlão, sendo esta uma conduta enganosa, o agent
interage com outra pessoa, atuando enganosamente, provoca um engano;

2, O burlado, fruto desse engano, incorre em erro, passa a representar a realidade de


forma desfasada;

3) determinado por esse erro, realiza uma disposição patrimonial.

4) Essa disposição patrimonial provoca o prejuízo patrimonial, para ele ou 3.

Assim, no 1 passo, a conduta enganosa pode ser por declarações expressas, atos
concludentes ou omissão (sendo q este último é objeto de divergência doutrinal).

Por declarações ou palavras: por palavras ou docs falsos q apresente, propala ou


exprime uma certa realidade q ñ tem correspondência com o real. pex, diz-se ser alguém q na
verdade ñ é, apresentando-se como proprietário de bem q ñ é seu e q pretende vender, ou diz-
se funcionário de uma certa instituição qnd na realidade ñ é, de forma a q o destinatário realize
ações q lhe são patrimonialmente prejudiciais.

Isto pode ser feito através de simples palavras, declarando algo q é falso, mas é tb mt
vezes feito através da exibição ou disponibilização de docs falsos, pois o doc escrito tem uma
força persuasiva mt superior à palavra. Um dos crimes q + frequentemente está associado à
burla é de falsificação de documentos, pois esta, as + das vzs, é feita através de doc falsos, assim
o crime de falsificação é utilizado como instrumento da burla, temos um problema de saber se
temos um concurso efetivo ou aparente, sendo q a jurisprudência aponta para entendimento
de que temos concurso efetivo (a existência de uma relação de concurso efetivo msm naqueles
casos em q a falsificação de doc tem carater instrumental da execução da burla) e, enquanto a
doutrina aponta para um concurso aparente.

Por atos concludentes: mts vzs, porém, o burlão ñ se serve de expressões ou doc, e atua
através dos atos concludentes, aqueles atos q, embora ñ realizem o engano de uma maneira
explícita, mas comporta-se de modo tal q, de acordo com as normais valorações sociais, o q
ele faz tem um significado de uma certa declaração, um certo posicionamento. Estamos a falar
de casos em q, verdadeiramente, o burlão ñ verbaliza de forma explicita o engano, mas o seu
comportamento é tal q é encarado por 3s, pelo seu interlocutor, como um comportamento q
corresponde a uma certa realidade, pq é assim q habitualmente, na interação social, as relações
patrimoniais, comerciais e negociais se desenrolam.

Temos aqui vários tipos de ações concludentes: uma delas é aquela em q alguém
assume uma obrigação contratual, com vontade de ñ vir a cumprir a sua obrigação ou sabendo
q ñ está em condições de o fazer.

Por omissão: até agora é o burlão q atua de forma a criar um erro no seu interlocutor.
Atua fraudulentamente sobre o 3, procurando inculcar-lhe de forma expressa ou por atos
concludentes uma representação errada sobre a realidade. Já neste caso, o 3º encontra-se em
erro sobre certo aspeto relevante, pex, para negócio comercial, e esse erro ñ foi causado pelo
agente, mas este procura aproveitar-se deste erro. O burlão ñ cria o erro, mas aproveita-se do
erro.

A questão que se coloca é de saber se se pode ou ñ qualificar como burla punível nos
termos do 217 uma sit em q o agente ñ cria ou aprofunda o erro no 3, mas simplesmente se
aproveita do erro de 3 para obter um ganho patrimonial em prejuízo dele. Saber q condições
são necessárias para q se possa punir o agente por burla por omissão. Na doutrina temos
posições contraditórias.

Fernanda Paula, Rui Pereira, José António Barreiros, PINTO DE ALBUQUERQUE,


entendem q ñ se admite a burla por omissão.

Há aqui fundamentalmente 2 argumentos: estes dizem q no projeto do CP de Eduardo


Correia relativa à parte especial se fazia referência à burla mediante ao aproveitamento por erro
e essa referência caiu, pelo q isso significa o afastamento da possibilidade da burla por omissão.

Além disso, sendo um caso de omissão, vale a doutrina da omissão, pelo q é necessário
a comprovação ou verificação do chamado dever de garante, é necessário q legisl tenha querido
comparar a ação à omissão. Repare-se q o 10/1 estabelece q qnd um tipo legal de crime o facto
compreender um certo resultado, abrange-se ñ só a ação adequada a produzi-lo, como a
omissão da ação adequada a evitá-lo, “salvo se outra for a intenção da lei’’. Esta corrente
doutrinal diz q aquela supressão ao aproveitamento do erro é sinal de q o legisl teve intenção
de afastar esta mat do campo da omissão e, pela própria nat das coisas, pq a lei no crime de
burla refere-se a engano sobre factos q astuciosamente provocou.

Uma outra corrente, defendida entre nós por ALMEIDA COSTA aponta num sent
diferente, no sent da admissibilidade do engano por omissão, dizendo q estas supressões são
relativizáveis, podendo ser lido no sent de q o legisl achou q a redação já seria suficientemente
ampla para abarcar ñ só os enganos por ação, mas tb os enganos por omissão, e as exigências
político-criminais de proteção do património fazem-se sentir quer nuns casos, quer noutros.

Ainda q se admita burla por omissão, o simples aproveitamento do erro alheio ñ é


suficiente para fazer responder por burla aquele q se aproveita desse erro em prejuízo de quem
se encontra em erro, impingindo-lhe um prejuízo patrimonial. Assim, ñ basta o aproveitamento
do erro. Diz ALMEIDA COSTA q tratando-se de um caso de omissão, só há realização do facto
típico se sobre o omitente havia um dever de garante de evitar aquela lesão patrimonial.

Pondo as coisas em termos + simples, será q aquele q se quer aproveitar do erro do


disponente tinha ou ñ uma obrigação de o elucidar sobre o erro? A resposta é ñ. Nas relações
comerciais normais, ñ há este dever, ñ há um vínculo especial entre as partes, então ñ há este
dever de elucidação, de alerta, de apagamento do erro.

Já, porém, se o agent tem algum dever de advertir o vendedor e, todavia, aproveita-se
deste erro, então aí há um dever jurídico de elucidar, de por termo ao erro.

Por ex, se alguém mete um terreno a vender q ñ tinha capacidade construtiva e agr
passou a ter, se há um 3 q diz q quer comprar sabendo q tem capacidade e o dono desconhece,
ñ há nenhum dever. Mas se a pessoa coloca à venda através de um mediador e este aproveita-
se, pondo um amigo a comprar por ele, então já é relevante, pq o mediador tem deveres
perante o seu cliente, q decorre do contrato e das relações especiais de confiança. O contrato
faz emergir uma relação de confiança em q aquele q coloca á venda um bem através de um
profissional do setor imobiliário conta q ele irá zelar pelos seus interesses.

Para q possa haver burla é imprescindível q o agente atue enganosamente sobre


outrem, sendo esse o essencial da ação típica da burla. É aí q está o cerne da factualidade típica,
a ação q ele realiza sobre o burlado.

A partir da sua ação enganosa as coisas passam-se do lado do enganado, aquilo q vem
a seguir já se passa na esfera do burlado e implica a realização pelo burlado de atos geradores
de prejuízo patrimonial.

Assim, o 2 passo é que do engano resulte um erro no burlado. Para q haja consumação
da burla é preciso q se mostre q efetivamente o burlado, na sequência do engano, representou
a realidade de forma equivocada. Entre o engano e o erro há de haver uma conexão, no sent
ñ apenas de o erro ter sido causado pelo engano, mas + do q isso, no sent de se tratar de um
erro verdadeiramente, fundamentalmente q é da responsabilidade do agente, do burlão.

Aqui é relevante q este erro em q o burlado incorre é uma espécie de resultado


intermédio do crime de burla, e portanto, há de ser ponderado à luz da teoria da adequação
se será previsível q uma ação enganosa daquela natureza gere o erro q gerou.

Assim, é preciso demonstrar q o erro é consequência do engano, mas, + do q isso, é


necessário ponderar atendendo às circunstâncias do caso, se seria normal, previsível, se, de
acordo com as regras da experiencia comum, se alguém com as características do burlado se
deixasse enganado como ele se deixou. É aqui q entra a questão de saber quem é que
verdadeiramente tem o domínio do erro e se o erro pode ser essencialmente assacado ao burlão
ou se, pelo contrário, bem vistas as coisas, substancialmente é da responsabilidade do próprio
burlado. Aqui apela-se ao chamado pp vítimo-dogmático, q é uma ideia desenvolvida pela
doutrina alemã e colhida, entre nós, por FD, Costa Andrade, Nuno Brandão, num escrito q os
últimos 2 autores têm sobre o crime de burla tributária.

Põe-se a questão se o burlado pode ser instrumentalizado pelo burlão, ou se pelo


contrário o erro em q incorreu é a ele fundamentalmente imputável. Isto prende-se com a nat
subsidiária e de ultima ratio do dt penal, a ideia de q o drt penal é um instrumento de proteção
de BJ, mas q só deve entrar em cena qnd as restantes formas sejam desadequadas ou
insuficientes. Neste contexto, apela-se à ideia de q aquele q é alvo de um engano com vista a
prejudicar os seus interesses patrimoniais, deve pôr algum cuidado/diligencia na proteção dos
seus próprios interesses, deve ver-se se aquela pessoa merece proteção penal tendo em conta
a diligencia q ela própria colocou na tutela do seu interesse.

A ideia é se alguém foi levado num engano pq foi claramente imprudente, ñ tendo
exercido o minino de cautela a proteção dos seus próprios interesses, ñ se admite a chamada
do drt penal pq a própria vítima ñ exerceu o cuidado q lhe era minimamente exigível na proteção
dos seus interesses, então ñ deve afirmar-se o crime de burla, mas devemos ter cuidado com
esta posição, o critério ñ pode ser puramente objetivo.Temos de ver de q tipo se pessoa é q o
agente se aproveitou, pois há pessoas q, pela sua vulnerabilidade, se encontram especialmente
vulneráveis a ser enganadas (sobretudo pq estas pessoas são as vítimas preferenciais dos
burlões). Havemos de ter em conta se alguém com aquelas características da pessoa q foi
enganada estaria em condições de proteger os seus interesses de um modo tal q, se fosse
minimamente cuidadosa, ñ teria caído no erro. Assim, o crit aqui presente é sobretudo o crit
da negligência grosseira: alguém com aquelas características, empregando o mínimo de
diligência na proteção dos seus próprios interesses, poderia ter provavelmente evitado cair em
erro? Se se puder concluir q houve, da parte do burlado, uma autêntica negligencia grosseira,
então funcionará o pp vítimo-dogmático e a burla ñ deverá ser imputada.

Depois no 3 passo, é imprescindível que aquele q é alvo do engano e q incorre em erro,


por força desse erro, realize um ato de disposição patrimonial. Este ato de disposição
patrimonial realiza-se através de um facere, de uma ação do burlado, aceder a propriedade,
disposições com nat ativa. Há de ser aquele q é alvo do engano a realizar o ato de disposição
patrimonial. Se ñ houver esta conexão, mais uma vez não há consumação da burla. Aqui, tem
de ser o próprio enganado a determinar a realização do ato de disposição patrimonial, ou por
ele próprio ou determinando alguém a fazê-lo. Este ato de disposição patrimonial, via de regra,
corresponde a um facere,

Mas tb pode suceder q o ato de disposição patrimonial corresponda a um non facere,


a ñ fazer q que é necessário para manter, proteger os interesses patrimoniais do burlado, pex
burlado é convencido a ñ intentar uma ação, ñ reivindicar uma coisa q lhe pertence, a ñ acionar
o crédito, A, beneficiário de testamento, é convencido por B através de um doc falso de q ñ tem
nada a receber e ñ faz nada para receber a herança, é convencido a ñ fazer alguma coisa q seria
necessária para proteção dos seus interesses patrimoniais. Este ñ fazer nada tem significado de
uma disposição patrimonial.

E por fim, essa disposição patrimonial provoca o prejuízo patrimonial ou na esfera do


próprio enganado ou na esfera de 3 e é com a verificação do prejuízo patrimonial, decorrente
daquele encadeamento de sits q ocorre a consumação da burla. Há uma disposição patrimonial
causadora de prejuízo qnd um certo património passa a valer menos do q aquilo q poderia
valer, isso pode acontecer por várias vias: ou por diminuição do ativo patrimonial, ou por
aumento do passivo ou por ñ crescimento do ativo (pessoa deixa de ganhar o que podia ganhar,
caso da herança, q o legatário ñ aceitou) ou pela ñ diminuição do passivo (a pessoa podia
diminuir as suas responsa, mas isto ñ acontece). Tudo isto tem um significado de prejuízo
patrimonial. Qnt a este prejuízo patrimonial, diz a lei 217 “q lhe causem ou causem a outra
pessoa prejuízo patrimonial”, ñ tendo esse prejuízo necessariamente de ser sofrido por aquele
q é enganado e realiza a disposição patrimonial.

Por exemplo, se o empregado da loja entrega um produto que está à venda recebendo
dinheiro falso, é ele que é enganado, é ele que realiza a disposição patrimonial, mas quem sofre
o prejuízo patrimonial é a empresa que explora a loja, sendo que é o titular do património
prejudicado que será de considerar ofendido, porque o crime visa a proteção do património.

Posto isto, este é um crime doloso, é necessário q o agente, o burlão, represente e


deseje todos estes momentos próprios da burla. q saiba e queira enganar, q o burlado está em
erro, q saiba e queira q realize disposição patrimonial e que cause prejuízo para ele ou 3. Se
faltar alguma exigência de conhecimento ou vontade, é excluído o dolo e o facto ñ é punível.

Alem do dolo, o tipo incriminador pressupõe q o agente o faça com o intuito de tirar
um proveito indevido do empobrecimento alheio, para si ou para outrem. ñ é necessário q
ocorra o enriquecimento, bastando q ele atue com essa intenção. Só assim é q será possível
punir a burla na forma tentada. Se tenta enganar e ñ consegue, msm q ñ ganhe coisa nenhuma
pq a pessoa ñ se deixou enganar, ainda assim temos uma burla na forma tentada, temos um
crime de resultado cortado. ñ tem de haver o enriquecimento, basta q atue com o propósito de
obter um ganho indevido para si ou para um 3.

– Aplicação ao caso concreto:

• inexistência de engano – trata-se da venda de um nome de uma ideia, sem que tenha
sido garantida a exclusividade (nada obsta a que uma obra de arte seja replicada numa
variedade de exemplares), pelo que a venda de uma peça a uma pessoa não compromete a
venda de outra peça igual a outrem;

• entendendo-se que havia engano, por acto concludente, o princípio vítimodogmático


obstaria à imputação.

– Conclusão: inexistência de crime de burla.

Visto isto, podemos resolver este caso de 2 formas: concluir q ñ há engano pois é uma
venda de uma ideia e ñ e por vender a uma pessoa q não pode vender a outra, e assim, se falta
o engano ñ estamos no domínio do crime de burla, pq o crime de burla visa proteger as sits onde
há efetivamente uma fraude o q ñ é o caso.

II

Na visita à casa de Carlos, António, perturbado com a descoberta que havia feito, decidiu
que deveria fazer qualquer coisa para recuperar o seu prejuízo. Tendo-se lembrado de que
Carlos lhe havia falado numa valiosa jóia que adquirira recentemente para oferecer à sua
mulher, Daniela, António, aproveitando uma ida à casa-de-banho, introduziu-se no quarto do
casal e após vasculhar as gavetas encontrou a jóia procurada, um anel de diamante, que havia
custado 25.000€.

Ao sair do quarto, já na posse do anel, que enfiou no bolso das calças, António foi
surpreendido por Carlos, que a tudo assistira, através do sistema de videovigilância instalado na
casa.
Interpelado por Carlos para que lhe devolvesse o anel, António disse-lhe que não o
restituiria e que se Carlos continuasse a insistir revelaria a Daniela o caso amoroso que Carlos
mantivera com Eduarda e o aborto que ele, António, lhe fizera, a pedido de Carlos, o pai da
criança.

Em face disto, Carlos nada mais fez e António foi-se embora, levando o anel consigo.

Na realidade, no mês anterior, para satisfazer aquele pedido, António, médico de


profissão, que vinha realizando intervenções estéticas em Eduarda, estando ela grávida de 12
semanas, e desejando ardentemente a criança, misturou um potente veneno no produto que
ministrou no corpo de Eduarda.

Como António bem sabia, a dose de veneno injectada era bem superior à necessária
para que Eduarda abortasse; e por isso, além de perder o bebé, Eduarda ficou gravemente
doente, tendo ficado e esteve às “portas da morte”.

Pronuncie-se sobre a responsabilidade penal de António. (13 valores)

Parte I – Foi cometido um crime de furto qualificado na forma consumada (arts. 203.º e
204.º/2/a) do CP).

– Caracterização geral do crime de furto: bem jurídico (propriedade); factualidade típica;


consumação (teoria da adequação);

– Aplicação ao caso concreto, com ênfase dos pontos mais salientes: densificação do
acto de subtracção (aquisição de um domínio de facto sobre a coisa móvel objecto da acção de
António), do momento da consumação (colocação do anel no bolso) e da ilegítima intenção de
apropriação.

Problematização e negação da aplicabilidade dos crimes de ameaça (art. 153.º/1 do CP:


o mal ameaçado não tem relevo criminal) e de violência após a subtracção (art. 211.º: a ameaça
comunicada não envolvia perigo iminente para a vida ou para a integridade física do interlocutor
ou de terceiro).

Aqui vale a ideia da fragmentariedade do drt penal: nos crimes contra a propriedade, só
relevam as ofensas à propriedade nos crimes contra o património em geral temos um âmbito
muito mais lato, em que podem relevar comportamentos que afetem negativamente interesses
patrimoniais. Há comportamentos que afetam o património porque atentam contra o direito de
propriedade, e há outros comportamentos que prejudicam o património sem que, todavia,
tenham necessariamente de prejudicar a propriedade.

O legislador estabeleceu estas diferenças, tendo nós, assim, crimes contra a propriedade
enquanto tal e crimes contra o património em geral.

Para efeitos penais, pode constituir património, relevando como coisa dentro do
património, interessa a teoria económico-jurídica de património. Tem de ter valor económico
e para além disso tem de estar em causa uma coisa q ñ seja censurada pela OJ, por ex, compro
cocaína e alguém furta, isto ñ é protegido pelo drt penal. Se se tratar de um interesse patrimonial
que a ordem jurídica repudia, não merece a tutela do direito penal. Se, pelo contrário, for um
interesse que é conforme com a ordem jurídica, ou pelo menos tolerado por ela, então aí já
merece tutela penal pelos crimes contra a propriedade e contra o património em geral.

Aqui estamos perante um crime de furto.


O crime de F consiste em subtrair uma coisa móvel de outrem com intenção ilegítima de
apropriação. No 203 prevê-se o furto simples e, no 204, prevê-se o furto qualificado, punível
com prisão até 5 anos ou, em casos + graves, de 2 a 8 anos.

Ao contrário do HQ, em q as circunstâncias (exemplos-padrão) relevam ao nível da culpa


e por isso exigem um juízo do julgador, no furto qualificado é automático, verificando-se aquela
circunstância, valor elevado (202,a), o furto é qualificado. Assim, no caso prático estamos
perante um crime de furto qualificado pq estamos perante o furto de uma coisa com valor
consideravelmente elevado (204, nº2 a + 202b). Alias aqui até temos uma sobrequalificação.

O tipo objetivo corresponde ao ato de subtrair uma coisa móvel ou animal alheios. O
crime de F tem por objeto da ação uma coisa (daqui para a frente falarei em ‘’coisa’’ para
abranger tanto as coisas como os animais) móvel alheia.

A ação típica consiste num ato de subtrair a coisa, de tomar controlo fáctico sobre essa
coisa. A particularidade criminosa ñ está tanto ao nível do tipo objetivo, pois o ato de subtrair
uma coisa é um ato banal. Há de ser uma ação dolosa, mas além do dolo, e é aqui q há essa
particularidade, é necessário q o agente atue com uma ilegítima intenção de apropriação.
Assim, só temos furto qnd alguém passa a controlar uma coisa q ñ lhe pertence, retirando o
domínio do seu legítimo possuidor, e o faz consciente e deliberadamente com o propósito de se
apropriar ilegitimamente dessa coisa. É nesta intenção de apropriação q, em larga medida, está
o desvalor do furto. É q desta forma, o agente procura substituir a propriedade de outrem pela
sua. Claro q, juridicamente, o ladrão ñ fica proprietário da coisa, a coisa continua a pertencer de
iure ao seu legítimo dono, mas faticamente, apoderando-se da coisa fazendo-o com intenção de
se tornar dono dela, passa a ser visto como se proprietário fosse. Em certos casos, passando
algum tempo, através da usucapião, pode levar a q a pessoa se torne msm proprietária da coisa.

Qnt ao BJ, como a própria localização sistemática indica (cr contra a propriedade) em
causa está uma ofensa à propriedade alheia e por isso, com o furto, lesa-se a propriedade de
outrem. O ofendido do furto é o proprietário. Portanto, protege-se a propriedade em sentido
formal, independentemente de o próprio proprietário, no momento em q a coisa foi subtraída,
ter ou ñ o domínio fáctico sobre a coisa, pode ter sido subtraída das mãos de quem ñ era dono
dela, podia estar na posse de outrem. Msm q o proprietário ñ tivesse o domínio da coisa, é
aquele seu drt de propriedade q é afetado.

Há 2 grandes correntes na doutrina qnt a saber aquilo q o furto protege. FD, COSTA
ANDRADE+NB entendem q o furto proteger apenas a propriedade, podendo proteger outras
dimensões do drt de propriedade como a detenção, a posse, o poder de detenção, mas fá-lo
reflexamente.

Uma outra corrente, encabeçada por FARIA COSTA+ PAULO PINTO DE


ALBUQUERQUE+PAULO SARAGOÇA DA MATA e acolhida pelo STJ no Ac. de uniformização de
jurisprudência 7/2011, diz q o BJ protegido pelo crime de furto não é propriamente a
propriedade, é antes a relação de domínio da pessoa sobre a coisa e integra, por isso, ñ apenas
o drt de propriedade enquanto tal, mas tmbm outros drts sobre a coisa, através dos quais se
pode legitimamente beneficiar do gozo da coisa, pex, a posse, a detenção. Portanto, no crime
de furto protege-se ñ apenas o interesse do proprietário, mas tmbm o interesse daquele q
legitimamente tem o gozo da coisa.

Esta conceção tem implicações praticas mto significativas, sobretudo no drt processual,
para a questão de saber quem é ofendido para drt de queixa e para saber quem se pode
constituir assistente. Assim, ofendido no crime de F, naqueles casos em q há uma cisão, da
propriedade por um lado, e outros drts sobre a coisa por outro, nesta visão das coisas o crime
de furto protege quer o drt de propriedade, quer esses drts sobre a coisa, sendo ofendido ñ
apenas o proprietário, mas tmbm aquele q tenha drts de gozo sobre a coisa.

Esta visão sobre as coisas, influenciada por questões pragmáticas do drt processual, ñ
se enquadra com certos ataques q podem ser desferidos ao drt de gozo e q claramente ñ
integram o crime de furto, pex, como defende COSTA ANDRADE numa resposta demolidora
àquele AC de uniformização de jurisprudência, se o BJ for a relação de domínio sobre a coisa,
então seria normal q fosse furto, mas ñ é, o ato do proprietário de destruir a sua própria coisa q
se encontra na posse de 3º. Se eu dou em comodato uma coisa a um amigo meu, mudo de ideias
e vou buscar a coisa a casa dele, quebrei o contrato, privei-o da posse legítima, mas ñ é furto,
pq o furto não protege o interesse dele, eu tenho esse poder. Assim como ele, que está na posse
legítima da coisa, ñ pode dispor do bem, alienando-o a 3. O crime de dano é crime contra a
propriedade, q protege a propriedade, e essas coisas só merecem proteção qnd estão “coladas”
ao drt de propriedade. Assim, o BJ é a propriedade.

Qnt ao tipo objetivo, qnt ao autor trata-se de um crime comum (qlqr pessoa pode ser
autor deste crime).

Qnt ao objeto da ação, há de tratar-se de uma coisa móvel alheia. O conceito de coisa,
para efeito dos crimes contra a propriedade em geral, e do furto em particular, é um conceito
autónomo, diferente daquele do drt civil.

Qnt ao objeto da ação, há de tratar-se de uma coisa móvel alheia. O conceito de coisa,
para efeito dos crimes contra a propriedade em geral, e do furto em particular, é um conceito
autónomo, diferente daquele do drt civil.

No CC há uma definição de coisa no 202, num sentido mt + amplo, pois nele estão
inseridos interesses, expectativas, drts de crédito, realidades q ñ são objeto do crime de furto.
O 2 diz q se considera fora: todas as coisas q ñ podem ser objeto de drts privados. Ora, pode
haver coisas de domínio público subtraídas e puníveis como furto. Embora ñ seja uma coisa
para efeitos do drt civil, é uma coisa para efeitos do drt penal. Na definição de coisa para efeitos
penais, entende PAULO SARAGOÇA DA MATA q é todo o objeto do mundo real diverso do
homem. PAULO PINTO DE ALBURQUERQUE, ainda, entende q é coisa móvel, para efeitos
penais, toda a coisa corpórea ou incorpórea, q tem existência física autónoma e quantificável e
pode ser fruída ou utilizada por uma pessoa. Ora, como coisa entendem-se aqueles objetos,
tangíveis e intangíveis, diferentes das pessoas, e aqui, claro, cabem os objetos corpóreos. Na
experiência PT tmbm se assentou q são coisas ñ só os objetos corpóreos, mas tmbm objetos
incorpóreos, desde q sejam suscetíveis de medição, q possam ser quantificadas, como a
eletricidade, o gás, o sinal de net, os dados móveis.

Ñ basta q se trate de uma coisa, há de tratar-se de uma coisa móvel suscetível de


deslocação. As coisas q estão fixas ao solo ñ são coisas móveis para este efeito, uma casa ou
uma árvore, tal como ñ são coisas móveis aquelas coisas q estejam acopladas a uma coisa
imóvel, pex, candeeiro. Se as coisas móveis, q estão ligadas de forma duradoura a uma coisa
imóvel, podem ser alvo de furto se forem desacoplados, porque deixam de ser coisa imóvel e
passando a ser coisa móvel suscetível de furto, árvore pode ser cerrada e transportada para
outro sítio.
A coisa móvel há de tratar-se de uma coisa alheia, uma coisa q ñ é da propriedade do
agente do facto, por isso, o proprietário ñ pode praticar um furto sobre uma coisa q é sua.

Assim, pex, a areia da praia, ñ é da propriedade do agente, mas ñ é considerada como


coisa alheia para o crime de furto (claro q se alguém se aproveita da água do rio para encanar
para a sua casa, poderá ter relevância contraordenacional). Isto é um bem comuns (res
communis omnium) q são bens de todos e sendo bens de todos n são alheios no sentido do
crime de furto.

Tmbm ñ é considerado alheia as coisas res nullius, as coisas selvagens e tmbm ñ são
qualificadas como alheias as coisas abandonadas.

O cerne da tipicidade objetiva deste crime está na ação de subtração, pois isso é
necessário saber qnd estamos perante uma subtraçao. Há sits em que é complicado saber se
temos ou ñ subtração, se se concluir q sim, o furto é considerado consumado. Se se concluir q ñ
estamos perante uma tentativa de subtraçao e será punido por um crime de furto tentado pois
o 203 estabelece expressamente a possibilidade de punição por tentativa, visto que é um crime
punido com uma pena de prisão até 3 anos e o art 23, estabelece q a tentativa é só punível se
ao crime consumado respetivo corresponder pena de prisão superior a 3 anos.

Esta punição da tentativa tmbm foi uma maneira de contornar este problema das
situações fronteiras, onde é difícil saber se houve ou ñ subtração. Assim, o agente é smp punido,
sendo q o dilema está entre saber se pune mais ou pune menos. No entanto, no caso de
concluirmos pela ñ substração daqui ñ resulta uma impunidade, o q é importante
eventualmente para efeitos de Legitima defesa.

Assim, o entendimento dominante na doutrina PT e seguida por FARIA COSTA é a ideia


de q o agente, na subtração, atua sobre essa coisa de um modo tal q retira o domínio de quem
o tinha e passa a ser ele a ter o controlo sobre a coisa. O que está aqui em causa, no ato de
subtração, é o ato de passar a controlar faticamente a coisa.

No caso de objetos tangíveis (corpóreos) isso implicará q o agente pegue na coisa e a


transporte consigo. Mas disse este crime abrange tmbm as coisas incorpóreas/intangíveis.
Aqui, há meios técnicos q permitem passar a ter um domínio indevido sobre coisa incorpórea.

Entre as várias conceções sobre o conceito de subtração, esta é apesar de tudo, uma
conceção relativamente exigente, pois ñ basta, para termos subtração, q o agente toque na
coisa. Tmbm ñ basta q o agente pegue, apreenda a coisa e tmbm ñ é suficiente q o agente
desloque a coisa, a mude de sítio.

O q é necessário é q a pessoa passe a ter o controlo da coisa, retirando-o a quem o


tinha antes, mas tbm ñ se vai ao ponto, de se exigir uma posse pacifica. Assim, para a
consumação, ñ é necessário q o agente consiga isto.

O tipo subjetivo do furto é composto pelo dolo. Além do dolo, incorpora tmbm um
elemento subjetivo especial, q é a ilegítima intenção de apropriação, para si ou para outra
pessoa.

O tipo subjetivo tem uma nat complexa composta, por um lado pelo dolo, e ainda por
um elemento subjetivo especial, q é uma intenção específica.

O dolo reporta-se aos elementos do tipo objetivo de ilícito. Para q haja dolo de furto, é
necessário que q agente represente q subtrai uma coisa móvel alheia e q o queira fazer. Se,
porventura, o agente ñ representar algum destes elementos típicos, então atua sem dolo e ñ há
crime de F (incorre em erro, q, de acordo com o 16/1 implica a exclusão do tipo). Pex, alguém
recolhe uma mala q ñ é sua pensando q é sua num aeroporto, atua sem dolo.

Qnt ao elemento volitivo, qlqr 1 das formas de dolo (direto, necessário, eventual) é
compatível com o crime de furto. No ex do aeroporto, se o passageiro vê uma mala q parece
ser a sua e ñ tem a certeza, pode haver dolo eventual.

Outro elemento do dolo é a ilegítima intenção de apropriação, para si ou para outra


pessoa, q diz respeito à vertente subjetiva do facto.

A subtração deve ser ñ apenas representada e desejada, mas deve tmbm ser levada a
cabo com um específico propósito, q é a ilegítima intenção de apropriação

O dolo, por si só, ñ é suficiente para atribuir um relevo criminal a este comportamento.
Aquilo q lhe dá um significado de forte ofensa ao drt de propriedade é o facto de a tomada de
controlo ser determinada por um propósito de apropriação. Por isso se fala do furto como um
crime de resultado cortado. Os crimes de resultado cortado são aqueles em q, para q haja
consumação, ñ é imprescindível a existência de uma congruência entre aquilo q é desejado pelo
agente e aquilo q acontece na realizada. O tipo subjetivo é + extenso do q o tipo objetivo. Basta
q o agente deseje q aconteça isso, msm q ñ consiga concretizar esse desejo, isso já é suficiente
para haver crime.

Qnt ao conteúdo desta intenção, ela há de existir no momento em q o agente atua. É


no momento em q o agente se apodera da coisa q há de atuar com essa intenção. É preciso
demonstrar q logo o ato de subtração foi realizado com esse propósito. O propósito há de ser o
de se tornar dono da coisa ou de que outra pessoa se torne dona da coisa, havendo uma
intencionalidade direta. Se ele atua com um propósito diferente (apenas para desapossar, no
caso do arresto ou do confisco) ñ há furto. A msma coisa num caso em q alguém pretende
apenas q o agente fique sem a coisa (pode haver eventualmente um crime de dano).

Tmbm ñ haverá ilegítima intenção de apropriação naquelas sits em q o agente se limita


a querer usar a coisa. O agente adquire o domínio da coisa, ñ para ficar com ela, mas
simplesmente para a usar transitoriamente, é o chamado furto de uso, que se prevê como crime
nos casos do 208 CP, em principio, só terá nat criminal qnd se tratar de subtraçao para uso ñ
autorizado de veículos motorizados, aeronaves, barcos ou bicicletas. (o furto de uso de outras
coisas, joias, livros, ñ é punido)

A intenção há de ser ilegítima, há de contrariar a OJ na sua globalidade. Essa ilegítima


intenção de apropriação poderá ser para o próprio ou em benefício de um 3º,indivíduo
contratado para subtrair joia, ou subtrai pq quer oferecer a coisa a outra pessoa

Parte II

Foi cometido um crime de aborto na forma consumada (art. 140.º/1 do CP)

Caracterização geral do crime de aborto: bem jurídico (vida intra-uterina); conduta


típica; consumação.

Foi ainda cometido um crime de ofensa à integridade física grave qualificada (arts.
144.º/1/d), 145.º/1/c), ex vi art. 132.º/2/i) do CP).
Dada a consciência e vontade de António em atentar contra a saúde de Eduarda, não
seria um caso de aborto agravado pelo resultado (art. 141.º/1).

Caracterização geral do crime de ofensa à integridade física grave.

Menção à qualificação por uso de veneno (técnica dos exemplos-padrão).

Foi cometido um crime de aborto na forma consumada (art. 140.º/1 do CP)

Em termos sistemáticos, os crimes contra a vida intrauterina estão previstos no 140 e


141 temos distintos crimes de aborto e encontrando ainda no 142 o reg da interrupção da
gravidez ñ punível

A técnica legislativa é a de começar por tipificar diversos crimes de aborto, encontrando


as normas q fundamentam a respons penal em caso de aborto 140 no 142 encontramos normas
q excluem a respons penal no âmbito de um facto de aborto – casos em q há a prática de um
facto típico de aborto q, naquela concreta situação, ñ é punido. Veremos q esta interrupção da
gravidez tem a nat de causa de justificação (no 142/1, todas as diversas alíneas são de causas
de exclusão da ilicitude).

Além destes referentes legais, há um referente constitucional mt importante q é o 24


CRP, q reconhece o drt fundamental à vida, estabelecendo q a vida humana é inviolável. Esta
norma vem sendo interpretada pela doutrina largamente maioritária entre nós, quer pela
jurisprudência constitucional, como englobando tbm a vida intrauterina, isto é, deste preceito
constitucional cobre ñ só a vida de pessoas que já nasceram, mas tbm vidas humanas de seres
humanos ainda ñ nascidos. Esta distinção tem implicações a mts níveis pq mts outras
incriminações abrangem APENAS pessoas já nascidas como: crime contra a IF e crimes contra a
honra.

Veremos q é justamente essa cobertura constitucional q dá fundamento a uma


intervenção penal no sent de se proibirem e punirem condutas dirigidas a matar um nascituro.
No aborto está em causa o ato de tirar a vida a um nascituro, um ser humano q está em gestação.
Esse ato de matar o nascituro, de eliminar essa vida intrauterina, constitui crime nos termos do
140 CP. O q legitima a qualificação desse facto como crime é a circunstância de, do ponto de
vista constitucional, essa vida humana ser tida como um BJ fundamental, daqui decorrendo
Estado um dever de proteção da vida humana intrauterina. Uma forma de cumprir esse seu
dever de proteção desse bem jusfundamental legitima a incriminação do aborto.

O BJ q se protege no contexto do aborto é essencialmente a vida de pessoa ainda ñ


nascida q, é materialmente distinta da vida de pessoa nascida q é protegida pelo crime de H.
Corresponde-lhes BJ diferentes, entre eles, o BJ vida de pessoa já nascida e o BJ vida intrauterina.

Assim, nestas incriminações está protegido o BJ, em 1 linha, a vida intrauterina, e no


caso de aborto + grave (140, n1) além da vida intrauterina tmbm se protege a liberdade de
decisão da mulher grávida e a sua integridade física (qnd é feito contra a vontade da grávida ñ
há nenhum recuo, temos até uma pena bastante severa). Assim, em principio, estamos perante
um crime de aborto nos termos do 140, nº1, pois o enunciado diz que a gravida queria o bebe,
e foi o médico que injetou uma substancia abortiva.
Aqui ñ há grandes dúvidas q estamos perante um crime de aborto, mas de toda a forma
é importante referi qnd entramos no domínio normativo do crime do aborto e qnd já ñ estamos
no crime de aborto e passamos a estar no âmbito do crime de homicídio.

Na 1 questão, já sabemos q geração da vida passa por vários momentos, vários estádios,
desde o estádio da fecundação até ao estádio do nascimento, o que interessa aqui é saber a
partir de que estadio. Será com a fecundação? Ñ!, senão a destruição de óvulos humanos
conservados num ambiente artificial corresponderia a um aborto, e isso ñ acontece.

A doutrina tem apontado para o momento da nidação. É com a nidação (implantação


do ovo na parede do útero) q se inicia a gestação do ponto de vista penal, para efeito do crime
de aborto. Isto é de enorme importância prática, pois exclui do domínio normativo do aborto
métodos anticoncepcionais q visem evitar quer a fecundação, quer a implantação do ovo no
útero (condutas q impliquem o bloqueio da nidação. Assim, pilula do dia seguinte, num casos
em q houve msm fecundação ela vai impedir q o ovo fecundado se fixe na parede do útero, uma
vez q a nidação ainda nem sequer ocorreu ñ se trata de uma conduta abortiva.

Tbm leva a q fique de fora desta esfera as gravidez extrauterinas, aqueles casos em q o
óvulo fecundado em vez de se encaminhar para o útero acaba por fixar-se fora deste, nas
trompas de Falópio, tratando-se de uma gravidez inviável. Essas intervenções medicas ñ
representam a factualidade típica de aborto.

A 2 questão é sobre a fronteira entre o crime de aborto e o crime de homicídio, assim,


passamos a ter um crime de H, quando se inicia o ato de nascimento. Assim, ao contrário do 66
do CC, ñ é necessário q a criança saia do ventre materno com vida. Assim, antecipamos o H, pq
aquele período é um período de enorme vulnerabilidade e de enormes perigos, o risco nem é
tanto o das ofensas dolosas, é maior o risco das ofensas negligentes.

O crime de aborto ñ é punível sobre a forma negligente, a consequência disto é q se o


crime de H só funcionasse a partir do nascimento completo e com vida teríamos um período em
q o nascituro estaria desprovido de uma proteção penal face a ofensas negligentes.

Agr a questão é saber qnd é q se iniciou o ato de nascimento. Isto é respondido pela
ciência médica, a medicina assume aqui um papel decisivo. Em regra, vem-se entendendo q o
início do ato de nascimento tendencialmente coincide com o início do trabalho de parto, isto é,
qnd se iniciam as contrações ritmadas e intensas e frequentes q previsivelmente conduzirão à
expulsão do feto. Mas cada vez + os partos são programados, portanto, temos casos em q o
parto é provocado, ñ há sequer contrações, nesses casos pode dizer-se início do ato de
nascimento qnd se dá a 1º intervenção médica com vista a induzir o parto, ex.: dando a
epidural, anestesia ou seja, qnd se inicia o processo clínico com vista a q se realize o parto,
natural ou cesariana já estaremos no quadro do trabalho de parto.

Assim, podemos ver que estamos perante um crime de aborto pq já houve nidação e pq
ainda ñ houve inicio do ato de nascimento. Assim, o q importa neste quadro é saber qnd existe
uma conduta que é ofensiva q afeta a integridade do nascituro, seja a sua vida ou saúde, tudo
está em saber qnd é q ela produz o seu efeito lesivo sobre o feto, qnd é q se inicia, qnd é q ela
incide. Assim, no caso prático ela foi iniciada ainda antes do início do processo de nascimento,
estamos perante um aborto.

Do ponto de vista da conduta típica, trata-se de crimes de resultado, ou seja,


corresponde a ação típica ao ato de fazer abortar a mulher gravida. É um crime de execução
livre, a lei ñ particulariza nenhuma forma de eliminação da vida do nascituro, de modo q
qualquer tipo de conduta apta a tirar a vida ao nascituro poderá ser abrangida pelo crime de
aborto. Constitui requisito da consumação do crime a morte do nascituro q possa ser imputada
à conduta do agente.

Estamos perante um crime comum, pq estamos perante o 140, n1. Se estivéssemos


perante o n2 tbm seria comum, mas no nº3 seria crime especifico próprio.

Qnt ao tipo subjetivo, uma vez q nada se específica no reg legal qnt à punibilidade da
negligência, vale a regra geral prevista no 13 CP, segundo a qual só é punível o facto praticado
com dolo. Se o agente atuar de modo negligente, o aborto ñ é punível. Podemos estar perante
um caso de negligencia ñ punível qnd alguém realiza uma conduta da qual resulta a morte do
nascituro, sem saber q a mulher está grávida. Temos aí um caso de erro do 16/1, ñ representação
do elemento típico, podendo haver qnd mt negligência, q ñ é punível. É no âmbito da negligencia
q cairão boa parte das sits de condutas pré-natais (q falei acima) das quais, por descuido, por
incúria, resulte a morte do feto.

Assim, o aborto só é punível sob a forma dolosa (todas as formas estão abrangidas),
sendo necessário q o agente represente e queira matar o nascituro.

Assim, no caso prático, o agente sabia perfeitamente que aquela substancia era toxica
e injetou-a com a intenção de a fazer abortar, por estamos perante um crime de aborto
consumado nos termos do 140, nº1.

Dada a consciência e a vontade de António de atentar contra a saúde de Eduarda, pq ele


sabia que a quantidade de veneno era bastante superior à necessária para abortar, ele cometeu
tbm um crime de ofensa à integridade física.

Este crime segue um modelo parecido com o de H. Temos o crime base no 143 (ofensa
à IF simples), q é um crime doloso, e partir dele o legisl constrói diversas formas de agravação,
qualificação e privilegiamente e especialização.

Ao contrário do H onde ñ há formas + drásticas do q outras (a morte é smp a morte),


mas a ofensa à IF tem diferentes graus de gravidade, daí q a lei estabeleça um reg bipartido, a
partir da ofensa base q é a ofensa à integridade física simples (crime doloso de ofensa à IF
simples, punível com pena de prisão até 3 anos, pena relativamente baixa, crime semipúblico,
dependente de queixa), no artigo 144 temos a ofensa à IF grave, é grave em função das
consequências q a ofensa trás para a saúde daquela pessoa, estamos a falar de formas de lesão
corporal particularmente severas, privar a vítima de um importante órgão ou membro,
desfigurar grave e permanentemente a vítima, tirar-lhe ou afetar-lhe permanentemente a
capacidade de trabalho, provocar doença particularmente dolorosa ou permanente, etc., são
ofensas ao corpo ou saúde de especial gravidade/severidade, tb elas dolosas, e q, por isso,
justificam uma pena de prisão já bastante + elevada (2 aos 10 anos), trata-se de um crime
público, ñ depende de queixa.

A agravação da ofensa à IF opera-se no plano à ilicitude típica, é logo ao nível da


tipicidade q nos deparamos com um incremento do desvalor típico deste facto e, nesse sent, é
quase q automático, smp q ocorre uma destas circunstâncias, estas formas + graves ou + severas
de ofender o corpo ou a saúde, então necessariamente ocorrerá a imputação deste crime na
forma grave. Portanto, no 144 temos uma agravação q se processa ao nível da ilicitude típica.
Dps, o leg usa uma técnica de qualificação ou de privilegiamento similar à q emprega no
H. No. 145, ofensa á IF qualificada, segue o msm modo de funcionamento do H qualificado,
sendo q a qualificação pode operar quer sobre a ofensa simples, quer sobre a ofensa grave e aí
está em causa uma agravação no plano da culpa, em função da especial censurabilidade. Ou
seja, podemos ter OIFgrave qualificada.

Assim, estamos perante um crime de ofensa à IF grave pq houve um perigo para a vida
(144, d). Neste crime, temos tmbm 2 tipo de ofensas como no OIF simples, pode consistir numa
ofensa ao corpo, em q é posta em causa a incolumidade corporal, ou então uma ofensa à saúde.

É importante ver como é q o ofendido estava antes da conduta e como passou a estar
dps da conduta, justamente pq estamos perante um crime de resultado, portanto, é desta
comparação q se ponderará se houve ou ñ uma ofensa corporal.

Na alínea d) cabem os casos em que a ofensa ao corpo ou à saúde provoca perigo para
a vida. Este é um crime doloso, por isso é necessário para além de realizar uma conduta que se
projete numa ofensa corporal ou para a saúde, dela resulte uma perigosidade, a vida fica em
risco, aquela ofensa comporta a possibilidade efetiva de eliminação da vida de outra pessoa e
isso tem de ser representado e desejado pelo agente.

É difícil contrapor estes casos aos do homicídio, nomeadamente ao do homicídio


tentado, porque há dificuldade em perceber como é que se pode dizer que alguém quis ofender
o corpo ou a saúde de outra pessoa com a possibilidade de a matar representando tudo isso e
desejando tudo isso, e dizer-se que ele não a tentou matar, mas enfim o legislador estabelece
essa diferenciação. Portanto o que está aqui em causa é uma conduta que ofende o corpo ou
a saúde de uma forma tal que envolve uma perigosidade que concretamente (por isso se fala
num perigo concreto) comportou uma possibilidade real de a vítima perder a vida, não veio a
perder a vida, se perdesse a vida poderíamos ter uma ofensa à integridade física grave
agravada pelo resultado ou até um homicídio consumado, consoante os casos, ou seja, tem
de se demonstrar que houve essa ofensa, que ela envolveu uma possibilidade real, concreta
naquele caso de a vida ser perdida.

Insere-se aqui, a situação do caso prático pq foi administrado um veneno de tal forma q
houve a possibilidade real de ela morrer.

Portanto, o crime em questão é um crime doloso e por isso é necessário que o agente
represente e queira todos os elementos da factualidade típica, portanto, ele tem de
representar e querer não apenas que está a ofender o corpo e a saúde, mas também aquelas
consequências danosas para a integridade física que agravam a responsabilidade, se ele não
representar então, nessa parte não temos dolo e não pode ser punido por crime de ofensa à
integridade física grave nos termos do artigo 144º CP, sem prejuízo de ser punível por uma
agravação pelo resultado nos termos do artigo 147º/2 CP, este último artigo está pensado para
aqueles casos em que aquela ofensa gerou aquele dano severo no corpo ou na saúde da vítima,
o agente representou que estava a ofender o corpo ou a saúde, mas não chegou a representar
e/ou a desejar a possibilidade de a sua ofensa ter aquelas implicações tão severas sobre a vítima,
este é um caso paradigmático de um crime agravado pelo resultado. Portanto, a forma básica
é dolosa e a agravação sobre a forma negligente, portanto, pelo menos sobre a forma negligente
tem de ser.

Ou seja, o Antonio cometeu um crime de ofensa à IF grave pq representou e quis, para


além da ofensa ao corpo e saúde, tb estas consequências danosas, nomeadamente, do perigo
para a vida. Para além disto, como António usou veneno, e como já referi em cima, a OIFQ opera
em função da especial censurabilidade.

13/07/2021

I. Bernardo, nascido no ano 2012, é filho de Ângela.

Em Abril de 2019, num centro de mergulho, quando se encontrava sozinha com


Bernardo, num momento em que este se encontrava sentado num sofá, Ângela, puxando-o
pelos pés, arrastou-o pelo chão para o tanque de treino de mergulho com três metros de
profundidade ali existente que se encontrava cheio de água e empurrou-o para dentro.

Bernardo caiu dentro do tanque com água, completamente vestido, ali permanecendo
por tempo indeterminado, e só quando se encontrava inconsciente foi retirado da água por
Ângela.

Bernardo vomitou, entrou em paragem cardiorrespiratória tendo então Ângela


procedido a manobras de reanimação e suporte básico de vida, tendo conseguido a sua
reversão, após o que substituiu ao menor a roupa exterior molhada por outra seca e chamou o
INEM para o local, alegando que o menor estava com alterações do estado da consciência, tinha
vomitado e apresentava dificuldades respiratórias.

Bernardo deu entrada no Hospital, chegando prostrado e com dificuldade em falar,


apresentando um quadro grave, decorrente de paragem cardiorrespiratória, tendo sofrido, em
consequência da falta de oxigenação do cérebro, lesões cerebrais irreversíveis, com perda da
fala.

Ângela quis praticar tais factos bem sabendo que a sua conduta era susceptível de
provocar a morte por afogamento e paragem cardiorrespiratória do seu filho bem como as
lesões sofridas, o que representou, conformando-se com tal possibilidade.

Pronuncie-se sobre a responsabilidade penal de Ângela. (7 valores)

A conduta de Ângela preencheu os tipos legais de crime de homicídio qualificado (art.


132.º do CP), na forma tentada, e de ofensa à integridade física grave qualificada (arts. 144.º e
145.º do CP), na forma consumada.

Homicídio: Caracterização sumária do ilícito-típico: bem jurídico, tipo objectivo e tipo


subjectivo de ilícito.

Ênfase especial na problemática da qualificação do homicídio (plano da culpa; técnica


dos exemplos-padrão): aplicabilidade das als. a) (pelo facto de Ângela ser mãe da vítima) e c)
(pelo facto de Bernardo ser pessoa particularmente indefesa, em razão da idade) do n.º 2 do
art. 132.º do CP.

Ofensa à integridade física: Caracterização sumária do ilícito-típico: bem jurídico, tipo


objectivo e tipo subjectivo de ilícito. Preenchimento das als. b) (dada a verificação de lesões
cerebrais irreversíveis e a afectação da possibilidade de utilizar a linguagem) d) do art. 144.º do
CP. Qualificação (remissão) – art. 145.º/1/c) do CP.

Relacionamento entre homicídio tentado e ofensa à integridade física grave consumada:


Entendendo-se que houve uma desistência relevante do homicídio, o problema não se punha.
Caso contrário, seria de ponderar a punição sob a forma de concurso aparente ou efectivo.
Aqui estamos perante uma tentativa de homicídio, sendo q houve uma desistência visto
que utilizou os meios necessário para tentar reverter o perigo. E temos também um crime de
ofensa à integridade física consumada.

Vamos começar por analisar o crime de homicídio. Os crimes de Homicido estão no 1


capitulo do CP para dar um valor simbólico a este crimes, o legislador quis sublinhar q o BJ mais
importante é a vida.

No 131 temos o H doloso simples, que é o crime de base dos crimes contra a vida. Este
serve de base para os outros homicídios.

No H temos essencialmente uma conduta ativa ou omissiva da qual resulta a morte de


outra pessoa.

O tipo de ilícito objetivo constante do 131 basta para caraterizar o conteúdo essencial
do ilícito de todos os crimes contra a vida de pessoa já nascida, sendo o msm em qlqr deles, o
BJ protegido: a vida de outra pessoa já nascida. É a partir deste tipo legal q a lei constrói os
restantes tipos de crime contra a vida, ora qualificando-os, ora privilegiando-o ora
especializando as formas de ataque ao BJ (incitamento ou ajuda ao suicido, exposição ou
abandono e propaganda ado suicídio) ou o tipo subjetivo de ilícito e o tipo de culpa congruente
(H por negligencia).

Trata-se de um crime comum, qlqr pessoa pode ser autor deste crime. Estranhamente,
o crime de H, em nenhuma das suas formas, nem msm o H negligente, abrange como agente as
pessoas coletivas (11CP).

Do ponto de vista do BJ, um crime de dano pq a consumação pressupõe a morte da


pessoa alvo da conduta homicida, portanto, pressupõe a destruição do BJ. Do ponto de vista do
objeto da ação, só estão abrangidas as condutas de alguém q mata outra pessoa e ñ a si mesmo.

Qnt à conduta (problemática da imputação do resultado à conduta, a chamada


imputação objetiva) é um crime de resultado, sendo o crime de H o paradigma deste tipo de
crime. Os crimes de resultado são aqueles cuja consumação requer a ocorrência de um
evento/consequência q se distinga no espaço e tempo da conduta típica. É necessário para q
possa haver consumação, imputar o resultado à conduta. Aqui exige-se, desde logo, a realização
de uma conduta homicida, isto é, de uma conduta q cause a morte de outra pessoa e q seja
adequada a produzir essa morte, podendo essa morte ser normativamente atribuída àquela
ação.

Assim, como eu já referi, temos um crime de H na sua forma tentada, porque o resultado
– a morte – ñ se produziu. Assim, aqui vale o 22, sendo q os atos preparatórios ñ são puníveis,
mas aqui já estávamos no âmbito dos atos de execução de homicídio, sendo que ñ houve
consumação, por isso é punido na forma tentada.

Qnt ao tipo subjetivo trata-se de um crime doloso e é imprescindível, para q se afirme


o dolo de homicídio, q o agente represente e queira matar outra pessoa, ou seja, tem de se
demonstrar q ele atuou sabendo ou pelo menos representando como possível que da sua ação
decorreria a morte de outra pessoa e msm assim tenha querido levar a cabo essa conduta
homicida, portanto, é necessário a comprovação do dolo. Estre crime admite o dolo em qlqr 1
das suas formas.
Como vimos no enunciado, o agente representou que aquela conduta era idónea para
causar a morte e conformou-se com essa possibilidade.

Para além disto, podemos estar perante um crime de HQ. no H qualificado o agente
mata uma pessoa em circunstâncias de especial censurabilidade (+ culpa). Assim, é um H q
parte do 131 mas cometido em circunstâncias q revelam especial censurabilidade ou
perversidade

O legisl em mat de qualificação do H, usou um método particular e até certo ponto


original: a combinação de um critério generalizador, determinante de um especial tipo de
culpa, com a técnica chamada dos exemplos-padrão.

Assim, no 132, n1 temos a cláusula geral de especial censurabilidade ou perversidade,


ou seja, a qualificação assenta numa especial censurabilidade ou perversidade, o n2 dps
acrescenta e densifica, tdas estas circunstâncias são suscetíveis de revelar a especial
censurabilidade ou perversidade a q se refere o nº1, são os chamados exs padrão, mas diz
“entre outras”, ou seja, ñ é um catálogo fechado, taxativo de circunstâncias, pode haver outras
circunstâncias para além destas q tmbm poderão conduzir à qualificação do H.

Há aqui 2 interesses de difícil conciliação: de salvaguardar o pp da legalidade na sua


exigência de determinabilidade e o interesse de assegurar o estabelecimento de um reg
suficientemente flexível.

No pp da legalidade, este tem como corolário a determinabilidade da lei penal (deve ser
o + precisa possível, o + determinada possivele), ora a formulação do n1 é mt vaga/genérica, é
de tal modo genérica que ñ seria consentânea com o pp da legalidade. Daí uma decorre uma
necessidade de densificação q se encontra no n2 com os exemplos-padrão.

Por outro lado, o legislador quis assegurar o estabelecimento de um reg


suficientemente flexível para q a respetiva punição possa adequar-se ao especial desvalor da
atitude q no caso o agente revela, no sent de ñ banalizar o homicídio qualificado. Assim, nem
sempre q ocorram aquelas circunstâncias deverá haver lugar a uma qualificação, ou seja, esta
qualificação ñ é automática, deve haver um juízo/uma ponderação do juiz q atenda às
circunstâncias do caso e avalie se realmente aquele arguido é mais culpado. E tb a ñ verificação
de uma destas circunstâncias, ñ impede q se verifiquem outros elementos substancial e
teleologicamente análogos aos descritos e q integrem o tipo de culpa qualificador.

Então, o q se quer aqui introduzir é alguma flexibilidade q permita ajustar o


sancionamento dos homicídios à necessidade politico-criminal de uma justa punição de uma
ofensa tao grave como é o H doloso.

Por isso é q é tao importante o enquadramento dogmático no âmbito da culpa, para


impedir q estejamos num domínio em q a simples verificação do exemplo levasse à qualificação,
o q banalizaria o H qualificado e levaria à tendência de transformá-lo no H de referência.

Esta é uma técnica legislativa q, com SILVA DIAS, pode sintetizar-se na fórmula "n só,
nem smp": ñ só naqueles casos podemos ter H qualificado, podendo ter noutros casos q ñ estes;
mas tmbm, o facto de termos uma circunstância q cai nestas hipóteses, nem smp determina a
qualificação. Tudo vai depender da chamada imagem global do facto, isto é, de saber se
naquela situação está dada a tal especialidade q vai pressuposta nesta ideia de qualificação.
Como já referi, esta qualificação funda-se numa culpa agravada do agente, ou seja, no
plano da culpa, o agente é punido a título de HQ pq é mais culpado, revela uma culpa
especialmente grave. O q está em causa é o tipo de culpa especial, e aqueles exs-padrão são
elementos desse tipo de culpa e ñ elementos do tipo de ilícito. Esta posição é largamente
dominante na doutrina PT e desde smp foi defendida por Eduardo Correia e dps por FD e os
nossos tribs vêm adotando de forma praticamente unânime.

A posição q defendemos tem razões q se prendem quer com a letra da lei, quer com a
intencionalidade político-criminal q está aqui em causa. A censurabilidade identifica-se com a
ideia da culpa e a perversidade é algo q diz respeito à personalidade do agente, à personalidade
desvaliosa.

Assim, esta qualificação é possível através de 2 vias: faz-se em virtude da verificação


de um concreto exemplo-padrão; ou qnd dentro do que se apurou ñ consta nenhuma
circunstancia que seja qualificável como ex-padrão.

A 1 hipótese, q é a + frequente, é aquela em q o facto apurado corresponde a uma


certa circunstância q a lei enuncia no n 2 do 132. E é a que temos no presente caso prático!

Há várias formas de perceber como se dá a qualificação.

Uma perspetiva defendida por TERESA SERRA e seguida sobretudo na Alemanha é a de


q, verificando-se o ex-padrão, então esta indiciada a qualificação e há de encontrar-se algum
contraindício/circunstância q desgradue/afaste essa perversidade.

Entende FD q esta é 1 das razoes q não deve ser adotada, sobretudo pq temos uma
lista mt extensa de exs padrão, arriscando-se a q grande parte dos casos de H acabassem por
ser qualificados, ocorrendo a banalização do H. Dps, há aqui uma certa desvalorização do
elemento essencial, q é a especial censurabilidade ou perversidade, pondo-se a tónica + no ex
do q a clausula geral, q é o cerne da qualificação.

A ideia q nos parece preferível e q os tribs em geral seguem é a de analisar/ponderar


os factos em toda a sua globalidade e dinâmica: imagem global do facto. Aquela circunstância
ñ deve ser vista isoladamente, tem de ser vista em tda a sua abrangência, de forma
contextualizada e integrada com tdos os outros factos e a disposição espiritual e volitiva do
agent de forma q se perceba pq matou. Aqui o q é essencial é avaliar aquela circunstância
própria do ex padrão à luz da clausula geral da especial censurabilidade ou perversidade. Ou
seja, o q se há de perguntar é se aquela circunstância mostra uma atitude interior daquele
individuo especialmente desvaliosa. Portanto, há aqui quase que um jogo de ir e vir, mútua
referência, entre a clausula geral e o ex padrão, a clausula geral é densificada pelo ex padrão,
mas este tmbm ñ pode ser encarado isoladamente, sem uma sua compreensão da especial
censurabilidade ou perversidade da cláusula geral. Ora, deve haver uma conexão recíproca
entre a cláusula geral e o exemplo padrão, que deverá seguir-se na qualificação dos factos neste
contexto. É esta uma 1º via de qualificação naqueles casos em q a morte se produz em
circunstâncias que estão descritas no n.º 2.

Assim, no presente caso prático estamos perante a alínea a e c do n2 do 132. A) Está em


causa uma solidariedade especial, familiar, esse laço familiar impõe especiais deveres de
solidariedade e qnd quebrados podem conduzir à qualificação, pq em causa está a mae a matar
o filho. E a alínea c). em razão da idade falamos em pessoas mt novas (bebés, crianças) ou mt
idosas, em ambos os casos pessoas com mt dificuldade ou impossibilidade de se defender, e ñ
é a idade por si só q pode revelar a especial censurabilidade ou perversidade do ag, mas sim o
facto do ag se aproveitar de uma especial vulnerabilidade da vítima para a matar, ou seja, uma
grande dificuldade ou impossibilidade do exercício da defesa, aproveita-se de alguém q é débil
para a matar. Isso revela um mau caráter e uma culpa + agravada em relação ao tipo comum.

Temos vários elementos constitutivos de + de um ex-padrão, ambos com relevo para a


qualificação da atitude do agente como especialmente censurável ou perversa, um tal concurso
só poderá ter efeito, se dever tê-lo, na determinação da medida da pena.

Assim, sendo vamos analisar agora no âmbito da ofensa à integridade física.

Ofensa à integridade física: Caracterização sumária do ilícito-típico: bem jurídico, tipo


objectivo e tipo subjectivo de ilícito. Preenchimento das als. b) (dada a verificação de lesões
cerebrais irreversíveis e a afectação da possibilidade de utilizar a linguagem) d) do art. 144.º do
CP. Qualificação (remissão) – art. 145.º/1/c) do CP.

Aqui, se relevarmos a desistência o H qualificado na forma tentada ñ releva e ñ é punido


e só é punido nos termos da ofensa à IF grave. Mas ñ tivemos perante uma desistência, podemos
ter concurso entre HQ na forma tentada e IF grave na forma consumada.

AUGUSTO SILVA DIAS e PAULA RIBEIRO DE FARIA entendem q em situações dessas,


qbd o agente lese de forma grave a integridade física da vítima, a qualificação deveria ser um
caso de concurso efetivo, para ñ tratarmos de forma idêntica coisas q são substancialmente
diferentes. Pode dar-se como ex o caso de alguém q tenta matar outra pessoa disparando sobre
ela e ñ lhe acertando, o agente será punido por H na forma tentada. Noutro caso, alguém q
tenta matar, ñ a mata, mas deixa-a paraplégica. Entendem q esta última situa é de tal forma
grave q ñ se justifica beneficiar o agente punindo-o apenas por H na forma tentada, na medida
em q há um desvalor adicional q pode justificar uma punição por concurso efetivo de H na
forma tentada e ofensa à IF grave. Pq se punirmos por concurso aparente, na prática vamos
tratar da msma maneira o criminoso em ambos os casos, o q será injusto.

Ñ é a posição q os tribs vêm adotando, e tmbm ñ é a posição seguida por NB. Estes
casos são de forma implícita vistos como de concurso aparente. Seguindo-se aquela ideia de q
no concurso há um sent de ilicitude claramente dominante, nessas situações o desvalor social
q pode ser atribuído àquele facto é essencialmente o do H e acaba por esbater-se a ofensa à
integri fisica q tmbm se produz nessas sits, sendo q essas diferenças q intercedem entre aquelas
tentativas de homicídio em q a vitima escapa lesa ou pouco sofre, e aquelas outras em q fica
gravemente afetada, podem ser diferenciadas no âmbito da medida concreta na pena. Logo,
ñ estamos a tratar de maneira = sits diferentes, pq no caso em q há uma lesão grave, o agente
vai ser punido + gravemente do q se a vítima ñ tiver nenhuma mazela física, sendo q esta
desigualdade deve ser tida em conta na medida concreta da pena.

Assim, neste caso negar a existência de um concurso de crimes significa violar o mandato
de esgotante apreciação da matéria ilícita, enquanto q punir por concurso efetivo significaria
violar a proibição de dupla valoração.

II

A empresa X, Lda., sita em Lisboa, contratou Carlos para o seu departamento comercial,
incumbindo-o da prospecção de novos clientes no norte do país, mercado que até aí não havia
sido explorado. Carlos ficou incumbido de receber encomendas, recolher os dados dos clientes
e, se necessário, receber pagamentos dos clientes.

Apercebendo-se que o sócio-gerente da X, Lda. tinha o mesmo nome e apelido de um


seu primo, Carlos decidiu tirar proveito pessoal da situação: convenceu o seu primo a abrir uma
nova bancária, por si, de facto, controlada e instruiu os clientes a fazerem os pagamentos para
essa conta, sob pretexto de que a conta bancária da X, Lda. se encontrava bloqueada, sendo por
isso necessário usar uma conta pessoal do seu sócio-gerente.

A situação durou 6 meses, tempo durante o qual o total de verbas transferidas por
client(nomeadamente, os clientes A, S.A., B, Lda. e C, S.A.) para a referida conta bancária
ascendeu a 60.000€.

Quando o esquema foi detectado, a conta não apresentava qualquer saldo, fruto de
sucessivos levantamentos em numerário, feitos por Carlos.

Confrontado com a situação pela X, Lda., que exigiu a Carlos a imediata entrega do
dinheiro, este disse que era sua intenção devolver a totalidade do dinheiro logo que lhe fosse
possível, como sempre desejou, mas que iria precisar de tempo para o fazer, porque, entretanto,
já tinha gasto todo o dinheiro.

Pronuncie-se sobre a responsabilidade penal de Carlos. (7 valores)

Encontrando-se Carlos mandatado para proceder a cobranças, recebendo o dinheiro


devido, e consistindo o seu plano em fazer seu o dinheiro que lhe cabe cobrar aos clientes,
encontramo-nos no domínio do crime de abuso de confiança (art. 205.º do CP).

Caracterização do ilícito-típico: bem jurídico, tipo objectivo e tipo subjectivo de ilícito.


Ênfase especial na inversão do título de posse, materializada no levantamento e dispêndio das
quantias recebidas, e na alegação (inconsistente) de uma intenção de restituição. Possibilidade
de valorização de respostas que enquadrem os factos no crime de burla, desde que devidamente
fundamentadas.

Estamos perante um crime de abuso de confiança estipulado no 205 CP. Aqui estão
abrangidas sits em q alguém fica na posse legítima de uma coisa q ñ lhe pertence e dps atua,
apropriando-se dela. Grosso modo, o crime de AC corresponde àquelas sits em q alguém q se
encontra já na posse da coisa q lhe foi transmitida através de um título ñ translativo da
propriedade, passa a comportar-se sobre a coisa como se dono dela fosse.

O q, logo à partida, distingue de forma substancial o furto e o AC é q aqui ñ há subtração.


No AC, a coisa já está na posse do agente. Por isso é q FD diz q no AC o agente é poupado ao
esforço da subtração. Ou seja, ñ está em condições de subtração pq a subtração é caraterizada
pela aquisição de um domínio q ñ se tinha antes, é retirado o domínio da coisa da esfera do
proprietário e substituído esse domínio pelo domínio do próprio agente. No AC o agente já esta
no domínio da coisa.

Além de se distinguir do furto, o AC distingue-se do crime de apropriação ilegítima em


caso de acessão ou de coisa achada q se prevê no 209/2. Distingue-se pq no AC a lei diz “q lhe
tenha sido entregue” por título ñ translativo da propriedade, já no 209, o agente encontra uma
coisa q está perdida e apodera-se dela.

Qnt ao BJ, este crime protege naturalmente a propriedade, pois consiste


essencialmente no ato de apropriação de coisa alheia, havendo afronta ao drt de propriedade
alheia. Mas diferentemente do furto, q alem da propriedade, a incriminação tb poderá proteger
de forma mediata a posse, aqui só se protege a propriedade, pois a posse está com o agente do
AC.

E estamos perante um crime de AB, pq há uma relação de confiança, o agente foi


incumbido de receber os pagamentos e os entregar à empresa que o emprega e ñ o fez. Assim,
este é um crime especifico, pode ser autor quem se encontra na posse da coisa, havendo uma
espécie de relação de fidúcia, pq a coisa é entregue àquele indivíduo com uma certa confiança.
Só aquele q detenha a coisa de forma legítima poderá ser autor deste crime.

Qnt ao obj da ação, já vimos q ele só abrange coisas, na msm aceção do crime de furto,
mas ñ tem necessariamente de ser coisas tangíveis, pode ser tb coisas incorpóreas, desde q
mensuráveis e sobre os quais incida um drt de propriedade

Já ñ há AC sobre drts de crédito pex, há de ser uma coisa. Assim, uma cessão de uma
posição contratual através do qual alguém consegue tornar-se titular de um certo drt, ñ
constitui AC, pq o drt de crédito não é uma coisa, ñ constituindo objeto próprio do crime de
AC.

Há de tratar-se de coisa alheia. Qnd alguém tem disponibilidade de uma coisa q


pertence a outras pessoas, em compropriedade ou comunhão, os bens do casal ñ são suscetíveis
de AC entre ambos, pq a coisa ñ é alheia, mas claro q relativamente a 3 já releva).

Infidelidade patrimonial:

A doutrina PT tem entendido q, pq aqui está em causa um poder fático de controlo sobre bens
q são postos sobre o domínio ou guarda ou administração do agente, entram aqui tb aqueles
casos em q certa pessoa é investida num poder de administração de um certo património ou
de uma certa empresa e usa os seus poderes em benefício próprio, usando dinheiros ou bens
desse património ou dessa empresa em proveito próprio (pex, um administrador põe a empresa
a pagar o casamento da filha; ou faz-se pagar de valores superiores àqueles de q deveria ser
remunerado, inventando prémios ou bónus q ñ foram aprovados por mais ninguém).

A doutrina e jurisprudência nacional, pq tem um conceito de coisa, para efeito do AC, q pode
ser intangível, incorpóreo, abrangendo situações patrimoniais q podem ser só €, e pq ñ exige
a entrega fática, tem entendido q esses tipos de atos consubstanciam crimes AC.

NB discorda da doutrina. Noutros ordenamentos (Alemanha, Suíça) há uma propensão para


enquadrar casos desse tipo ñ no âmbito do AC, mas no âmbito de infidelidade patrimonial
(224), crime q consiste em administrar ruinosamente um património q ao agente foi confiado
para gerir de forma sã e prudente. Mts vezes a administração do património (como ocorre mts
vezes nas sociedades comerciais) essa administração ruinosa é feita ñ com a intenção direta de
prejudicar a sociedade, mas de ter um benefício próprio. O nosso tecido empresarial é um tecido
de pequenas empresas e com um cunho mt familiar, ñ tendo grande parte dos nossos
empresários mt instrução, ñ conseguindo distinguir o seu património pessoal do património
social. Há aqui uma gestão danosa dos interesses patrimoniais.

No nosso ordenamento, ñ por acaso, este foi qualificado como um crime semipúblico com uma
pena pequena, pq se fosse público tínhamos grande parte dos nossos empresários a receber
uma pena de prisão. Esse tipo de coisas, q são mt frequentes, cabe 224, mas ñ são perseguidos
criminalmente pq é um crime cujo procedimento depende de queixa.
Uma leitura + restritiva do AC levaria a q estes factos fossem encaminhados para a infidelidade
patrimonial. Tem havido relutância na jurisprudência em ir por esta via, pq o procedimento
depende de queixa e é de pena mt reduzida, até 3 anos (Caso Ricardo Salgado), tendo os tribs
enquadrado estes casos no AC, pq levam ao conceito de entrega de coisa alheia o ato de
administração de um património social, para fugir à infidelidade patrimonial.

Esta tendência PT de tratar esses casos no quadro do AC tem mt a ver com isso. NB entende q,
independentemente dos interesses em procs judiciais, ñ se pode reconduzir o ato de investir
alguém na administração de uma certa sociedade, de um certo património, com o ato de lhe
entregar a si uma certa coisa. O AB está feito para sits + simples. O património abrange mt + do
q simples coisas, e ñ se pode prever o património social como uma coisa no sent previsto no AC.
A 2 objeção prende-se com o facto de ñ haver propriamente uma entrega.

--

Em termos de conduta típica, há 2 momentos fundamentais: relativo à entrega e


relativo à apropriação. O crime leva como pressuposto uma entrega com certas características
e só se consuma dps com a apropriação.

Em 1º lugar, este crime tem subjacente uma sit em q o agente se encontra na posse da
coisa por esta lhe ter sido entregue através de um título ñ translativo da propriedade. Para q
se possa dizer q há AC, é então necessário em 1º lugar verificar se antes houve uma entrega e
se o destinatário dessa entrega ñ se tornou proprietário do bem q lhe foi entregue. Via de
regra temos a tradição da coisa, mas só haverá + tarde o crime de AC se antes o agente ñ
adquiriu, com a entrega, a propriedade.

É preciso ver qnd estamos perante uma entrega. Portanto, é em 1º lugar necessário q
aquela coisa tenha passado para a posse do agente. Mas tb vem-se entendendo, e a doutrina PT
tem um conceito mt amplo de entrega, naqueles casos em q, ainda q ñ haja a tradição material,
o agente passou a ficar colocado numa posição de facto q lhe permite ter um controlo sobre a
coisa (ex do cartão multibanco).

Ñ há uma entrega qnd a pessoa já está, por algum motivo, na posse do bem, ou qnd a
pessoa subtraiu a coisa antes de passar a ter o controlo sobre ela.

A entrega consiste na atribuição ao agente de um poder de facto sobre a coisa. Assim,


podemos dizer q há uma entrega qnd a coisa é transmitida ao agent de forma q ele passe a ter
um domínio de facto sobre a coisa. Isso pode acontecer quer por via material (pela tradição da
coisa), mas tb pode ser por uma via puramente legal (no testamento, qnd alguém morre, passa
a haver, o cabeça-decasal, q passa a ter um poder de disposição q lhe é conferido pela própria
lei).

O q importa é saber se aquela pessoa, antes da apropriação, passou a ter um controlo


sobre a coisa.

Aqui, temo uma sit parecida com as sit de mediação de seguro. Aqui, os clientes vem
este agente como uma pessoa que está atuar no beneficio da seguradora, portanto, qnd lhe
entregam o dinheiro, cumpre a sua obrigação contratual. Isto é bastante importante, para
sabermos quem é o ofendido. No caso, o dinheiro pertence à empresa pq o cliente já cumpriu
a sua obrigação ao entregar ao agente.
Assim, como podemos ver a entrega ñ tem de ser feita necessariamente pelo
proprietário pode ser feita por um 3, sendo q o destinatário da entrega está a atuar no interesse
do beneficiário final. É o que acontece aqui, os clientes qnd entregam o dinheiro, entregam o
dinheiro à empresa na pessoa deste trabalhador.

Esta entrega deve anteceder a apropriação. De acordo com a lei, diz-se “quem se
apropriar de coisa móvel q lhe tenha sido entregue”, portanto há aqui uma décalage temporal.
Naturalmente, só se pode dizer q há uma entrega qnd o destinatário da entrega tenha passado
a adquirir o controlo sobre aquela coisa, tenha efetivamente recebido a coisa. Se ele ñ chega a
receber a coisa, se pelo meio há uma interseção q se interpõe no caminho da coisa para ele, ñ
chega a haver realização da entrega, ñ há crime de AC. Assim, como podemos ver houve
entrega.

Há aqui uma divergência acerca de saber se a entrega deve ser licita ou se pode ser
ilícita, mas esta questão ñ se coloca aqui pq a entrega é licita.

Vamos ver agr o 2 momento: apropriação

Há apropriação qnd o agente q tem poder de facto sobre a coisa, pratica atos
reveladores de q ele passou a agir sobre a coisa como se esta fosse sua e ñ de outrem. Este
ponto “pratica atos” é absolutamente fundamental, pq as coisas ñ se podem passar só na cabeça
do possuidor, sob pena de termos um drt penal de intenções e representações. Esta apropriação
só poderá ser afirmada se o agente exteriorizar essa sua atitude de dominus sobre a coisa. ñ
basta que a pessoa ache q é dono da coisa.

A jurispru PT segue o pensamento de Eduardo Correia, q fala numa teoria do ato


manifesto de apropriação, tem de haver ações para o exterior reveladoras de q o agente, o
possuidor atua sobre aquela coisa, ñ como se esta fosse de outra pessoa (como efetivamente
é), mas como se fosse sua. Na prática, isto é, mtas vezes difícil de demonstrar. Mas
essencialmente ñ é necessário q o indivíduo diga q é dono, normalmente, basta q sejam
realizados atos concludentes, atos q, de forma clara, para a generalidade das pessoas, sejam
encarados como atos próprios de um proprietário.

Atos concludentes são aqueles q para o comum dos cidadãos, de acordo com as regras
da experiência comum, são aquele tipo de atos q um proprietário faz (pôr à venda, emprestar,
destruir, dar um destino diferente). Isso será suficiente para q se possa dizer q há uma
apropriação. Nesses casos ocorre a inversão do título de posse, mas ñ no sent estrito de drt
civil (ñ sendo preciso q haja transmissão do drt de propriedade) basta q a pessoa (possuidor) se
passe a comportar sobre aquilo como se fosse seu.

Há vários atos q, de acordo com as regras da experiência comum, são tidos como atos
normais de disposição patrimonial próprios de um proprietário e q, se o detentor fizer,
evidencia a existência dessa ação de apropriação.

Assim, no presente caso prático temos uma inversão do título de posse que se
materializa com os levantamentos e com o dispêndio dessas quantias. E aqui tb temos um desvio
da coisa para fim diferente do previsto.

Como estamos perante dinheiro e é fungível, coloca-se a questão de saber se uma


mistura ou uso para fim diferente é suficiente para dizer q houve apropriação (sit do caso
prático).
A posição dominante diz q a simples confusão de um bem fungível ou a atribuição
pontual para fim diferente, nomeadamente se isto for acompanhado com intenção de
restituição, ñ haverá, à partida, AC. Só o será ñ sendo feita entrega qnd é devido e havendo
interpelação para a entrega, este ñ o fizer - só aqui releva como ato concludente de
apropriação.

A apropriação há de ser para o próprio. Claro q pode acontecer q o agente disponha do


bem a favor de 3, mas qnd assim é, há ali pelo menos um significado de apropriação para si msm,
ao dispor da coisa fê-lo já como proprietário, pex, alguém é contratado para transportar joias
e este fica com elas com intuito de o entregar a outrem (namorada), há aqui um momento q
procedeu a doação q este se comporta como dono, logo é uma apropriação para si.

O 205 estabelece q o pressuposto típico é a ilegitimidade da apropriação, ñ é qlqr forma


de apropriação q envolverá a prática do crime de AC. É importante saber q razão esteve por trás
dessa tomada de poder sobre a coisa, o possuidor passa a comportar-se como se a coisa fosse
sua, mas importa saber se esse comportamento é ou ñ ilegítimo, se há alguma circunstância de
q alguma forma justifica a sua atuação, tudo está em saber se esse ato de apropriação é ou ñ
desconforme com o OJ geral da propriedade (termos em que a OJ determina a afetação da
propriedade sobre aquele bem). Pode haver casos em q o agente o faça pq há algum título
jurídico q he dá essa faculdade, e aqui ñ é apropriação ilegítima.

Se aquela desapropriação q ele realiza é contrária à OJ (ñ tem nenhuma cobertura


jurídica/está em contradição com OJ da propriedade), então aqui temos uma apropriação
ilegítima. Mas pode haver circunstâncias q ‘’justifiquem’’ esta apropriação, q exclui esta
ilegitimidade da apropriação, como ação direta, drt de retenção, drt de compensação, etc.

Porém, este ñ é o nosso caso, ñ há nenhuma ‘’causa de justificação’’, por isso há aqui
uma ilegitimidade da apropriação.

Ao nível do tipo subjetivo, trata-se de crime doloso, qlqr tipo de dolo poderá revelar.
O q importa é saber se o agente, ao apropriar-se, representa e tem a vontade de ficar com a
coisa q ñ é sua.

Como vimos até agr, o agente iria responder por um crime de AC, mas aqui, no plano
subjetivo releva a intenção de restituir, e é importante sobretudo nos casos de bens fungíveis,
como o dinheiro que é a sit do nosso caso prático.

Há uma clara propensão jurisprudencial e doutrinal de ñ imputar o crime de AC(falta de


dolo de apropriação) naqueles casos em q o agente atua sobre a coisa como se sua fosse, mas
com vontade de no futuro a restituir, pode haver um uso indevido da coisa, mas ñ apropriação.
Mas aqui, exige-se q seja algo q seja plausível - tem de ser uma vontade q realmente seja
exequível, q o agente esteja em condições de cumprir - tem de ser uma vontade exequível,
tangível.

Porém, o comportamento do agente ñ revela esta intenção de restituir, por isso essa
intenção de restituir é irrelevante e ele vai ser punido.

III – este caso é igual exame de 05/06/2019

Durante vários meses, três agentes de uma brigada de fiscalização do trânsito montaram
diversas operações stop nas imediações de um restaurante especialmente frequentado por
camionistas, no âmbito das quais levantaram numerosos autos de contra-ordenação.
Tendo tomado conhecimento do sucedido, o dono do restaurante, Duarte, vendo a sua
clientela diminuir progressivamente, deixou de cobrar ao chefe da brigada, Eduardo, as
refeições que ele habitualmente fazia no seu estabelecimento, o que por ele foi aceite.

Assim, durante três meses, ofereceu-lhe, pelo menos, 60 almoços, num valor total
aproximado de € 450.

Pronuncie-se sobre a responsabilidade penal de Duarte e de Eduardo. (6 valores)

Os factos integram-se no âmbito dos crimes de corrupção, em sentido amplo (arts.


372.º-374.º do CP). Referência ao bem jurídico.

Caracterização sumária das vertentes activa e passiva da corrupção, com menção dos
actos típicos em apreço: do lado activo, o oferecimento de uma vantagem não devida; do lado
passivo, a aceitação de recebimento de uma vantagem não devida.

Problematização da qualificação dos factos como recebimento/concessão indevidos de


vantagem (art. 372.º do CP) ou antes como corrupção passiva / corrupção activa para acto ilícito
(arts. 373.º/1 e 374.º/1 do CP).

Não sendo explicitada uma concreta e individualizada contrapartida funcional do


suborno, será um caso de recebimento indevido de vantagem (menção à justificação político-
criminal).

Possibilidade de valorização de respostas que enquadrem os factos nos crimes de


corrupção (arts. 373.º e 374.º do CP), desde que devidamente fundamentadas.

Aqui estamos perante um crime de corrupção. mat esta essencialmente prevista no CP


a partir do 372 e tb está prevista na Lei 34 de 87 – lei q prevê crimes na resp de titulares de
cargos políticos. E esta lei tb prevê vários crimes de corrupção, nomeadamente, nos 16, 17 e 18.
Este é o núcleo duro da matéria da corrupção, mas há tb outros crimes de corrupção no
fenómeno desportivo (lei 20/2008). tb há crime de corrupção no setor privado.

Aqui ñ estamos perante titulares de cargos políticos por isso aplicamos o CP. Nós no Cp
temos: corrupção ativa, passiva e recebimento indevido de vantagem e a oferta indevida de
vantagem.

Na corrupção, o q está essencialmente em causa é atribuição de uma vantagem


indevida a um agente público, (à qual vai associada no âmbito da sua atividade funcional uma
vantagem indevida/um benefício a q ele ñ tem drt).

Falamos em agente público pq no dt penal PT temos os funcionários q se prevê 386 CP


(recentemente reformulada), q é um conceito + amplo do q o simples funcionário público. Há
outras pessoas q embora ñ sejam funcionários administrativos são funcionários para efeitos da
lei penal, juízes, magistrados, notários, por isso, o conceito de funcionário para efeitos da lei
penal é bastante + amplo do q o conceito de funcionário público, mas ñ abrange os titulares de
cargos políticos.

Entende-se q as pessoas q desempenham funções publicas de nat política (autarcas, PR,


deputados, PM, membros do governo) ñ são qualificados como funcionários para efeitos da lei
penal. E pelo facto de o legisl PT ter demarcado destes agentes políticos do conceito de
funcionário os crimes do CP relativos aos funcionários (são crimes específicos) ñ são passiveis
de serem cometidos pelos titulares de cargos políticos. Por isso q a lei de 34/87 é um espelho,
os crimes aqui contemplados são em larga medida uma réplica dos crimes do CP previstos para
os funcionários, há aqui uma grande convergência formal e material. Assim, usamos o conceito
agente publico pois abrange tanto funcionários como políticos.

Assim, o GNR é agente publico para efeitos do direito penal.

A corrupção gravita em torno dos agentes públicos, por isso é q se distingue a corrupção
no setor privado e no fenómeno desportivo.

E dentro da corrupção, a questão está em saber qual a relação da vantagem com as


pessoas envolvidas e a troco de q é q a vantagem aparece. De grosso modo, temos o polo do
agente público e temos o polo do particular, daquele q pretende alguma coisa do agente público
(comprar o agente público), daí q se fala em corrupção passiva e ativa.

A passiva é a corrupção cometida pelo agente público, pelo funcionário, pelo titular do
cargo político, e a ativa é cometida pelo particular (aquele q pretende corromper o agente
público).

Aqui, poderá haver casos em q a vantagem se encontra associada a um específico ato


funcional (ou seja, tem de estar ligada ao exercício da função do agente publico) para q o
funcionário faça qlqr coisa ou ñ faça qlqr coisa. Há aqui um sinalagma (toma lá, dá cá). Estamos
nos crimes de corrupção propriamente dita, q pode por seu turno, ser para ato ilícito, ou para
ato lícito.

Se a vantagem ñ esta associada a nenhum ato funcional específico, mas nos aparece
ligada ao exercício da função é uma vantagem q só é conseguida no contexto da função. Ou seja,
há de ser uma vantagem q se liga ao exercício da função para influenciar o exercício da função
(ou tendo em conta o exercício da função), sem, todavia, se tenha conseguido deslindar um
específico ato funcional associado à vantagem. E aqui estarmos perante recebimento indevido
de vantagem.

Os crimes de recebimento e oferta indevido de vantagem que se preveem no artigo 372,


são crimes de corrupção (fazem parte do universo da corrupção), só q neles aquela vantagem ñ
aparece associada ou ñ se conseguiu demonstrar um nexo entre a vantagem e um específico
ato funcional. Há gestos de cortesia q são + do q gestos de cortesia. Há ofertas q se fazem que
já tem um carater dúbio, pex, pq e q um dono de um hotel do algarve ofereceu 15 dias de férias
ao presidente do instituo de turismo? ‘pq ñ há almoços grátis’’. Estes tipos de cortesia são + do
q uma cortesia, aqui visa-se criar um ambiente de permeabilidade, um ambiente de favor, de
simpática, pq eventualmente, esse favor vai ser cobrado. Só q nestas situações ñ há uma
ligação a um ato funcional específico, tal como já referi. O legisl alargou o âmbito da corrupção,
q tradicionalmente estava pensada para as situações de sinalagma (toma lá, dá cá) e pq isto é
mt difícil de demonstrar, então o legisl PT, na linha do alemão, criou este crime do recebimento
indevido de vantagem q vale para aquelas sits em q embora ñ sendo possível identificar o
especifico ato funcional ligado aquela vantagem, é porem claro q aquela benesse é feita com o
intuito de beneficio futuro ou para recompensar benefício passado.

Claro q neste tipo de ofertas q ñ são devidas, temos q ter alguma cautela. O q se
pretende punir é o ambiente de permeabilidade de simpática, de favor, só q nos usos sociais
frequentemente e sem maldade/má intenção as pessoas dão gratificações. Na cultura latina há
estes gestos de simpatia, onde ninguém se vai sentir condicionado por uma coisa daquelas. Há
aqui uma clausula de adequação social, ñ tem relevância penal, eticamente ñ são censurados
pela sociedade.

Nos crimes de corrupção propriamente dito, se distingue entre a corrupção passiva (c


específico, cujo autor é um agente público) e a corrupção ativa (crime comum, praticada por
qlqr pessoa, q corresponde à oferta da vantagem ou à promessa dela). Dentro da corrupção,
quer ativa, quer passiva, 373 e 374, por seu turno, distinguem-se consoante a nat do ato
funcional associada à vantagem.

Na corrupção passiva: para o 1, o ato funcional q corresponde ao sinalagma (o ato q


aparece em contrapartida da vantagem) é um ato contrário aos deveres do cargo, um ato q o
agente público ñ devia fazer, pex, o juiz q devia condenar foi pago para absolver e absolveu.

No 2, a vantagem aparece associada a um certo específico ato funcional, mas esse ato
corresponde aquilo q se esperava do funcionário, ele é gratificado por algo q ele devia fazer, é
um ato conforme aos deveres do cargo. É algo menos grave.

Os crimes de corrupção ativa e passiva são autónomos entre si. Claro q mts vezes, na
maior parte dos casos, aparece uma relação de reciprocidade, temos o corruptor ativo e o
passivo, é a msm realidade, só q aquela msm realidade gera responsabilidades penais distintas,
ñ há aqui uma comparticipação.

Assim, no presente caso, poderíamos estar perante um crime do 372 ou um crime de


corrupção passiva/ativa para ato ilícito.

Aqui, a lei PT segue o modelo francês e alemão de segmentação e de consideração


autónoma de cada um dos crimes, temos o crime do corrompido e o crime do corruptor, q vivem
numa relação de reciproca influência, mas q são autónomos entre si, isto significa q pode haver
uma corrupção ativa sem ter um corrupção passiva, ou vice versa; bem como podemos ter uma
corrupção ativa cometida num certo momento e lugar e uma corrupção passiva relativa à msm
vantagem cometida noutro momento e noutro lugar, ñ há necessidade de uma consumação
simultânea, pode haver consumação de um e ñ de outro, e msm q haja consumação de ambos,
pode essa consumação em ter lugar em momentos e lugares diferentes.

Tb se distingue entre q que se chama a corrupção antecedente e aquilo que se chama


a corrupção subsequente, + uma vez tendo em conta a relação entre o ato funcional e a
vantagem.

Na 1, o agente, a vantagem aparece antes do ato funcional, ou seja, a vantagem é


prometida ou entregue em função de um ato do funcionário q ainda vai ser praticado (paga-se
adiantado). Na 2, primeiro aparece o ato funcional e só dps é q aparece a vantagem, aqui a
vantagem aparece como uma compensação por um ato funcional já realizado.

No presente caso, teríamos uma corrupção antecedente, visto que a vantagem (ñ pagar
almoços) começou antes de existir um ato do funcionário.

Assim, como eu já disse podemos estar perante um crime de corrupção passiva/Ativa


ou recebimento, por isso, vamos analisar as condutas típicas para podermos melhor enquadrar,
visto que o q vale para corrupção vale para o recebimento.

O crime de corrupção passiva é um c específico próprio, só pode ser autor deste crime
quem for funcionário, tal como só pode ser autor do crime q se prevê no 17 da Lei 34/87 quem
for titular de cargo político.
Quais são as condutas típicas da corrupção passiva?

Solicitação de vantagem; Aceitação de promessa de vantagem; Aceitação de vantagem


já entregue.

Na corrupção esta em causa uma vantagem patrimonial ou ñ patrimonial q ñ é devida,


ñ há justificação juridicamente relevante para ela.

Assim, do lado activo, o oferecimento de uma vantagem não devida e do lado passivo,
a aceitação de recebimento de uma vantagem não devida. No lado ativo, o importante é que
chegue a promessa ao conhecimento do agente, e haverá consumação logo que isso aconteça,
mesmo que o agente publico recuse a promessa. Do lado passivo, temos a aceitação da
vantagem, e aqui estamos perante a consumação material deste crime.

Houve consumação do crime de ambos os lados.

Na jurisprudência PT há uma larga propensão para qualificar com BJ protegido pelo


crime de corrupção a chamada a autonomia intencional do Estado. Este conceito foi avançado
pelo ALMEIDA COSTA tem um importante estudo sobre a corrupção, e é neste estudo q avança
com esta ideia de autonomia intencional do Estado. Isto corresponde a uma ideia de legalidade,
ele concebe a autonomia intencional do Estado como um BJ supraindividual, de nat instrumental
e q significa a corrupção desvirtua o cumprimento da legalidade. Na corrupção o funcionário há
o chamado ‘’mercadejar do cargo’’ (usa-se muito no dt penal) é o agente publico usa o cargo em
seu próprio proveito, faz o comercio com o cargo, ‘’vende-se’’. O ambiente da corrupção é este,
aquele q desempenha uma função publica deve agir para prossecução do interesse publico, para
bem da causa comum, e ñ deve atuar para proveito próprio, ñ deve usar o cargo como forma de
enriquecimento pessoal ou de obtenção de uma posição social + favorável. Na corrupção o
agente publico instrumentaliza o seu cargo e as suas funções para benefício próprio e fá-lo a
troco de uma vantagem, sobretudo económica (vende-se ou alguém tenta comprá-lo). Esta
instrumentalização do cargo publico em benefício próprio é suscetível de desvirtuar a
prossecução do interesse público e o cumprimento da legalidade, portanto, ao agir, o
funcionário vai fazê-lo ñ para satisfazer o interesse publico, ñ para dar satisfação da vontade
efetiva do Estado, mas para satisfazer um interesse próprio. Visão maioritária.

Na visão NB, diz q há uma conceção ultrapassada do conceito BJ coletivo como bens-
meios ou instrumentais. A explicação dos alemães, segundo o Dr. NB, tem + consistência.
Concebem o interesse protegido pelos crimes de corrupção como um BJ complexo, q agrega a
capacidade e eficiência funcionais da máquina estadual e a confiança comunitária na correção
e objetividade no exercício de funções pública

Há aqui um elemento de confiança q é decisivo e q a corrupção poe em check (em


causa), e tb a chamada capacidade funcional do estado, ou seja, os recursos q o Estado dispõe
devem organizar-se e devem ser postos em funcionamento de modo tal q permitam q o Estado
responda satisfatoriamente e de forma eficiente às necessidades de interesse público q lhe
incumbe proteger. A corrupção, esta ideia de mercantilizar o cargo, de usar o cargo para
benefício próprio em vez de proteção do interesse publico, poe em causa a confiança da
comunidade, na isenção e objetividade no desempenho das funções publicas, e a confiança é
um valor essencial para o funcionamento da sociedade.

É tb suscetível de pôr em causa uma afetação eficiente dos recursos do estado, pq se a


pessoa está a usar o cargo para proveito próprio em vez de usar o cargo para satisfação do
interesse público, está a desvirtuar o modo do funcionamento da coisa pública, pode ter prejuízo
para a eficiência do funcionamento da máquina do Estado. São estes os interesses, q ao dr,
parecem ameaçados pelos crimes de corrupção.

E daí, q parece ao NB q aqui se deva seguir uma corrente (sobretudo na Alemanha) q


vê os crimes de corrupção como crimes cumulativos, crimes q por si só ñ tem de produzir
aqueles efeitos danosos, ñ tem de destruir a confiança da comunidade na probidade, na isenção
e na objetividade dos agentes públicos, nem tem de por em causa por si a capacidade
funcionalidade do estado, mas se repetidos massivamente tudo isso vai por agua abaixo, há uma
derrocada da confiança e do bom funcionamento do estado.

Assim, tendo em conta o enunciado ñ parece possível destrinçar um especifico ato


funcional, por isso enquadramos estas condutas no recebimento indevido.

05/06/2019

i. No final da noite de um jantar organizado por amigos comuns, Alberto e Beatriz que
até aí se desconheciam, envolveram-se sexualmente, daí tendo resultado a gravides
de Beatriz.

Três meses depois, quando soube q se encontrava grávida, B foi ter com A, deu-lhe a
saber do sucedido e transmitiu-lhe a sua vontade de levar a gravidez até ao fim, negando-se
terminantemente a aceder aos pedidos insistentes de A para que pusesse termo à gravidez.

Nesse momento, face às sucessivas recusas de B, A começou a ficar cada vez + agressivo,
tendo-lhe gritado, já irado, que a bem ou a mal, a criança jamais veria a luz do dia.

Ato contínuo, esbofeteou e esmorrou B, atirou-a ao chão e, estando ela já inconsciente,


desferiu-lhe numerosos pontapés na cabeça e na barriga, com o propósito de pôr fim à gravidez,
o que conseguiu.

Como consequência da conduta de A, B sofreu lesões irreversíveis no seu útero, que a


impediram, de voltar a engravidar.

Pronuncie-se sobre a responsabilidade penal de A (10 valores).

15/06/2022

José e Maria, ambos com 80 anos de idade, são casados entre si há cerca de 50 anos.
Nos últimos 30 anos, José tem atormentado Maria. Com regularidade, agride-a fisicamente,
insulta-a, humilha-a diante de terceiros, ameaça q a mata, etc. Fruto deste comportamento do
seu marido, Maria desenvolveu aversão e odio em relação a ele. No inicio de 2022, foi
diagnosticada a José uma doença oncológica grave. José foi sujeito a uma terapia que o deixou
num estado de contraente prostração. Desde q ficou doente, José ñ mais maltratou Maria, q se
tornou a sua principal cuidadora. Maria ficou responsável pela sua alimentação e medicação de
José. Em ordem a vingar-se de décadas de maus-tratos q sofreu às mãos de José, Maria decidiu
matar José à fome e em sofrimento. Assim, deixou de o alimentar e de lhe administrar a
medicação paliativa de q aquele necessitava, apesar de José lhe implorar pela comida e pelos
remédios. José morreu em virtude da falta de alimentação e num estado de dor atroz.
Pronuncie-se sobre a responsabilidade penal de Maria. (8v)
• A omissão de Maria determinou a morte de António e foi dominada por uma intenção
de matar, motivos pelos quais nos encontramos no domínio normativo dos homicídios.
• Preenchimento do ilícito-típico do crime de homicídio simples (art. 131.º do CP) (breve
caracterização).
• Possibilidade de o facto ser integrado nas incriminações de homicídio qualificado (art.
132.º, n.ºs 1 e 2, als. b), c), d) e f) do CP) e de homicídio privilegiado (dado o historial
prévio de violência doméstica) – contraposição entre as duas incriminações e
caracterização de cada uma delas.
• Falta de verificação de qualquer uma das quatro circunstâncias susceptíveis de
privilegiar o homicídio – ponderação, em especial, da compreensível emoção violenta –
, bem como da cláusula geral de menor exigibilidade.
• Verificação do crime de homicídio qualificado (aplicação da técnica dos exemplos-
padrão).
• Seriam aceites outras conclusões, desde que devidamente justificadas.

II. A é socio-gerente da sociedade unipessoal por quotas ‘’Eventos Memoraveis’’ q se


dedica à organização de eventos empresariais. A sociedade de mediação imobiliária ‘’Já fostes’’
contratou a ‘’EM’’ para que organizasse e tratasse de tudo quanto fosse necessário à logística
do encontro anular dos sus quadros da área comercial, bem como do respetivo alojamento e
alimentação no âmbito dessa reunião. Para o efeito, a ‘’Já Foste’’ e a ‘’EM’’ convecionaram que
aquela entregaria a esta 2 quantias: uma de 25.000 + IVA, a título de remuneração pelos serviços
a prestar para a organização do evento; e outra de 150.000, destinada ao pagamento de todas
as despesas que a realização do evento implicaria, nomeadamente, no Hotel ‘’Vila Moura’’
(ocupação de salas de conferencia e de quartos e refeições para os convidados, etc). Mais ficou
combinado que seria a ‘’EM’’ a relacionar-se comercialmente com o hotel, contratando em seu
próprio nome tudo o que se relacionasse com o evento, sendo por isso à ‘’EM’’ que tudo seria
faturado pelo hotel. Algo que mereceu a concordância da empresa dona do hotel.

No inicio de maio de 2021, a ‘’JF’’ transferiu aquelas verbas para uma conta bancaria da
‘’EM’’.

Encontram-se a EM em sit falência técnica, Antonio decidiu sair do pais e estabelecer-se


no brasil, usando para o efeito os valores q a ‘’EM’’ transferiru para a conta da sua empresa.
Assim q os recebeu, A levantou-os ao balcão de um banco. No 4/06/2021, data do inicio do
evento da JF e em q os participantes deveriam fazer o check in no hotel ‘’vila moura’’ A, enviou
um emal para o diretor financeiro do hotel com o comprovativo bancário da transferência de
150.000, valor da remuneração do hotel por tudo o q dissesse respeito ao evento. Esse
comprovativo resultou de edição informática feita por Antonio de um anterior comprovativo
bancário emitido pelo Banco BPI, mediante alteração do nome e dados bancários do beneficiário
e do valor da transferência. Na posse do comprovativo o diretor deu luz verde ao evento.

Nesse mesmo dia, A fugiu para o Brasil com o dinheiro recebido da EV. No dia 7, já dps
de realizado o evento, o diretor do hotel conclui q antonio ñ havia efetuado o paamento. Tendo
tentado cobrar a ‘’JF’’ o valor, a empresa ñ conseguiu já q se comprovou q a responsabilidade
desse pagamento caberia a ‘’EM.

Qual a responsabilidade de antonio.

1ª parte, retirada do dinheiro da conta da “Eventos Memoráveis”:


• O valor havia sido entregue à Eventos pela “Já Foste” a título translativo da propriedade,
pelo que esta última não seria tida como ofendida pela conduta de António.
• A conduta visou o património da “Eventos Memoráveis”, sendo de ponderar a
verificação do crime de abuso de confiança (breve caracterização da infracção, art.
205.º, n.º 1 do CP), na forma qualificada (arts. 202.º, n.º 2, al. b), e 205.º, n.º 4, al. b), do
CP), nomeadamente quando está em causa a apropriação de bens pertencentes ao
património de uma sociedade por um seu administrador: entendendo-se que sim,
haveria abuso de confiança; entendendo-se que não, não.
• Seriam aceites outras conclusões, nomeadamente quanto à existência de entrega da
verba à sociedade sem transmissão da propriedade.

2.ª parte, realização do evento e envio do comprovativo de transferência:

• Verificação do crime de burla qualificada (art. 217.º, n.º 1; e arts. 202.º, n.º 2, al. b), e
218.º, n.º 2, al. b), do CP), tendo por ofendida a sociedade dona do hotel (caracterização
do crime de burla).
• Verificação do crime de falsificação de documento (art. 256.º, n.º 1, al. b), do CP):
conceito de documento; caracterização da falsificação material sob a forma de alteração
de documento.
• Questão do concurso entre os crimes de burla e de falsificação de documento.

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