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Estelionato: um crime do tipo patrimonial

Claudineia de Jesus Ribeiro


Dayanna Silva do Prado
João Victor Almeida
Laissa de Jesus das Chagas Quendere
Manoel Pacheco Neto
Matheus dos Santos da Fonseca
Rebeca de Souza Pereira
Rogério de Mesquita Teles
Thaís dos Santos Mendonça Ramos
Thiago Martins de Sousa
Victor Henrique Monteiro de Sousa
Resumo
O presente trabalho consiste em uma breve discussão acerca do estelionato que se configura como
um crime do tipo patrimonial. Dessa forma, são apresentados importantes aspectos do referido
crime para compreensão de sua ocorrência, como também sua tipificação no Código Penal
Brasileiro. Há também a análise de aspectos legais sobre o crime, bem como seu conceito e formas
de desdobramento. Além disso, o trabalho aborda um caso concreto de estelionato ocorrido no
Brasil de maneira analítica e critica, fazendo relação com a própria legislação
Palavras-chave: Estelionato. Código Penal. Crime. Legislação.

Abstract
This work consists of a brief discussion about embezzlement, which is configured as a property-
type crime. In this way, important aspects of the crime are presented to understand its occurrence,
as well as its classification in the Brazilian Penal Code. There is also an analysis of legal aspects
of the crime, as well as its concept and ways of unfolding. Furthermore, the work addresses a
specific case of embezzlement that occurred in Brazil in an analytical and critical manner, relating
it to the legislation itself.
Keywords: Fraud. Penal Code. Crime. Legislation.

1 INTRODUÇÃO
O presente trabalho tem como objeto de estudo o estelionato. Trata-se de uma questão
delicada, considerando os efeitos desastrosos causados por essa ação, afinal de contas é um crime
do tipo patrimonial, que lesa o patrimônio da vítima por meio de fraude e engano. Os sujeitos que
que praticam esse crime enganam as vítimas visando vantagens, que quase sempre são financeiras.
A escolha da temática se deu através de sorteio realizado em sala de aula na disciplina de
Direito Penal III, e logo agradou a todos do grupo por ser um tema bastante interessante para
análise e estudo, merecendo a devida atenção dada a sua importância.
Atualmente, o crime de estelionato é um dos crimes mais praticados no Brasil e o
crescimento dessa prática se dar em grande parte pelo uso da internet pelos criminosos. Uma
prova disso é que de acordo com o Site G1, “em 2021, foram 115 estelionatos a cada 100 mil
habitantes no país. No ano seguinte, foram 189,9, um aumento de 65,1%”.
É valido frisar que o estelionato está relacionado a arte de enganar, ludibriar e iludir, que se alimenta
da confiança alheia. Sobre isso, Baldan (2020) destaca: “a o invés da clandestinidade, ameaça ou violência
à pessoa, o autor se vale do engano ou o emprega para que a vítima, inadvertidamente, se deixa espoliar,
configurando, assim, forma "evoluída" de captação do alheio.”
Neste sentido, o objetivo central deste trabalho é discutir os aspectos do estelionato, trazendo a
discussão acerca da própria legislação que dispõe sobre o crime. Diante disso, discutiu-se sobre o assunto na
perspectiva de contribuir com a produção de conhecimento na área das Ciências Sociais, especialmente no
Direito.
A metodologia usada para a construção deste estudo caracteriza-se como qualitativa, visto que se
trata de uma pesquisa que aborda aspectos do fenômeno social e humano. Em relação aos procedimentos
técnicos, optou-se pela pesquisa bibliográfica e estudo de caso. A primeira constituiu na seleção e estudo de
livros, artigos e sites acerca da temática que se articularam à perspectiva do presente trabalho. A segunda diz
respeito ao estudo e breve análise do caso concreto escolhido.
Desse modo, os resultados da pesquisa foram assim sistematizados: Nesta introdução, delineou-se
o objeto de estudo, sua relevância social e os aspectos metodológicos da pesquisa. No primeiro capítulo,
tem-se a conceituação da prática de estelionato e a discussão sobre os requisitos de sua caracterização. Já no
capítulo 2 abordou-se sobre os diversos tipos e dinâmicas realizadas pelos autores deste tipo penal.
Logo em seguida, no capítulo três trata-se sobre a Lei do Pacote Anticrime (Lei nº 13.964, de 24
de dezembro de 2019), que apresenta aspectos relevantes de efetividade no combate ao crime
organizado.
No capítulo quatro, temos a discussão da relação existente entre crimes cibernéticos e o
estelionato, onde são abordados indicativos que demonstram tal relação. No quinto capítulo,
apresentamos um estudo de caso de estelionato previdenciário escolhido para o presente trabalho.
Para finalizar, apresentamos as considerações finais que se constitui em uma perspectiva
de motivar novas análises e discussões acerca do tema, entendendo que ele não se encerra neste
trabalho.

2 O QUE É ESTELIONATO
Estelionato é uma palavra originário do latim stellionatu, que significa uma prática
criminosa, ocorre quando alguém vende, hipoteca ou cede alguma coisa para mais de uma pessoa
e as enganando, há a obtenção de vantagens da através da utilização de uma fraude. Neste tipo de
crime temos dois sujeitos, ativo e passivo. O sujeito ativo, pode ser qualquer pessoa, autor do
crime de estelionato pode ser tanto aquele que emprega a fraude como aquele que recebe a
vantagem ilícita. O sujeito passivo sendo aquele que sofre o prejuízo patrimonial, é a vítima tem
que ser pessoa certa e determinada. Objetos do delito, bem jurídico é o patrimônio e o objeto
material é a vantagem indevida obtida (qualquer bem móvel ou imóvel)
Para que exista o crime de estelionato deve ser cumprida quatro premissas: 1) o praticante
deve obter vantagem ilícita; 2) causar prejuízo a outra pessoa; 3) uso de meio ardil ou artimanha;
4) instigar alguém ao erro ou engano. A ausência de um dos quatro elementos, não caracteriza o
estelionato, sendo assim não há como haver crime. O crime só aceita a forma dolosa, aquela onde
há intensão de lesar, não havendo previsão apara forma culposa, sem a intensão de lesão.
O crime de estiolando está exposto no Código Penal Brasileiro no Título II - Dos Crimes
Contra O Patrimônio, Capítulo VI - Do Estelionato E Outras Fraudes e Artigo 171, como crime
econômico, é descrito como um ato de “Obter, para si ou para outrem, vantagem ilícita, em
prejuízo alheio, induzindo ou mantendo alguém em erro, mediante artifício, ardil, ou qualquer
outro meio fraudulento”, a pena para essa prática é a reclusão, podendo ir de um a cinco anos e
multa.
2.1 Requisitos obrigatórios para a caracterização
O caput do artigo 171 do Código Penal Brasileiro, prevê diversas maneiras em que o
estelionato pode ser cometido. O cerne dessa questão é o verbo "obter". Trata-se de um
comportamento composto pois há na definição legal do tipo penal presente na expressão: "obter,
para si ou para outrem, vantagem ilícita, em prejuízo alheio, induzindo ou mantendo alguém em
erro, mediante artifício, ardil ou qualquer outro meio fraudulento".
A característica essencial do estelionato reside na utilização da fraude pelo agente,
destacando o elemento intencional o “dolo”, com o propósito de induzir ou manter a vítima em
erro, visando obter vantagem financeira de maneira ilícita. Por tanto, “obter” corresponde a
alcançar um lucro indevido mediante à manipulação enganosa da vítima, que coopera com o
intento do delinquente de forma desprevenida e acaba sofrendo danos ao seu patrimônio.
“Induzir,” refere-se a persuadir quando se cria para a vítima uma situação falsa, enquanto
“manter” implica em permanecer ou conservar o prejudicado na condição, uma vez que já estava
na posição de equívoco. Desta forma, não se deve conseguir vantagem através de meios ilegais,
acontece por causa do sujeito que induz a vítima ao engano ou então a deixa no erro que sozinha
se envolveu.
O autor do estelionato pode criar a situação enganosa ou simplesmente se aproveitar dela.
Em qualquer caso, estará configurado o crime conforme o artigo 171 do Código Penal. O “erro”,
conforme mencionado na lei, é a falsa percepção da realidade que pode resultar em uma
manifestação de vontade viciada. É importante notar que essa noção de erro pode ser interpretada
de maneira abrangente, incluindo a ignorância, ou seja, o completo desconhecimento da realidade.
Para induzir ou manter a vítima em erro, o sujeito utiliza um dos seguintes meios de
emprego de execução, como o artifício, o ardil ou qualquer outro meio fraudulento. O legislador,
se fez do uso da interpretação analógica, incorporando uma fórmula casuística ("artifício" e
"ardil"), além de uma fórmula genérica ("qualquer outro meio fraudulento"). Isso implica que, na
prática, tanto o artifício quanto o ardil são métodos capazes de enganar, mas não são os únicos,
uma vez que podem surgir outras maneiras fraudulentas.
Assim, torna-se evidente que o "artifício" é essencialmente um meio destinado a criar
uma representação externa enganosa, gerando uma ilusão material que induz ou mantém alguém
em erro, de modo que a pessoa não percebe imediatamente a falsidade, seja ela positiva ou
negativa, que leva ao erro. Essa falsa percepção da realidade resulta de um aparato material que
cria a impressão de veracidade ou realidade.
Por outro lado, o "ardil" age de maneira diferente, atingindo diretamente o pensamento
da vítima. Consiste essencialmente em uma mentira acompanhada de argumentos discursos que
parecem genuínos. No uso comum da língua, "artifício" é sinônimo de astúcia, manha, artimanha
e sutileza. O ardil, portanto, não tem um aspecto material, mas sim um caráter intelectual,
influenciando o pensamento ou o sentimento da pessoa, criando uma percepção equivocada da
realidade.
É importante destacar que a distinção entre "artifício" e "ardil" assume uma interpretação
relativa perante a nossa legislação, visto que, após mencioná-los, a lei penal utiliza uma fórmula
genérica, a mais abrangente possível: "qualquer outro meio fraudulento". Com essa expressão,
nossa lei se refere a qualquer ação ou comportamento que induza ou mantenha alguém em erro,
resultando em vantagem ilícita e dano patrimonial.
Como lembra José Henrique Pierangeli (2007, p.301) “com o emprego de meio
fraudulento, na oração, podia até a lei deixar de reportar-se ao artifício e ao ardil, pois estes, sem
dúvida, estão nele incluídos, tal o sentido compreensivo que tem”. É fundamental ressaltar que a
fraude deve ser anterior e diretamente responsável pelo dano ao patrimônio, conforme a
jurisprudência do Supremo Tribunal Federal (2000 apud MASSON, 2018, p. 750):
“Estelionato: para a configuração do estelionato, a fraude empregada pelo agente há de
ser antecedente e causal do erro ou persistência no erro do lesado e da consequente disposição
patrimonial em favor do sujeito ativo ou de terceiros”.
O autor utiliza o meio fraudulento para induzir ou manter alguém em erro, obtendo assim
uma vantagem ilícita em detrimento de terceiros. Essa vantagem ilícita deve ter natureza
econômica, uma vez que o estelionato é um crime contra o patrimônio. A vantagem é considerada
ilícita, uma vez que não está respaldada por nenhum direito. De fato, se a vantagem fosse lícita,
o estelionato seria substituído pelo crime de exercício arbitrário das próprias razões (artigo 345
do Código Penal).
Por fim, é crucial destacar que não basta apenas o agente obter uma vantagem ilícita, mas,
é necessário que o prejuízo alheio, o dano patrimonial da vítima sofra um prejuízo. Assim, o
estelionato envolve quatro momentos distintos, a utilização da fraude, a criação ou manutenção
de uma situação de erro na vítima, a obtenção de uma vantagem ilícita e o prejuízo suportado pela
vítima.

3 FORMAS DE ESTELIONATO/GOLPES
Da expressão Latina stteliu, nome de uma espécie de lagarto, semelhante ao popular
camaleão, que tem como característica mudar de coloração para passar despercebido em
determinado ambiente, deriva sttelionatus, prefixo que deu origem a palavra estelionato, figura
típica descrita no Código Penal Brasileiro em seu artigo 171.
Art. 171 - Obter, para si ou para outrem, vantagem ilícita, em prejuízo alheio, induzindo
ou mantendo alguém em erro, mediante artifício, ardil, ou qualquer outro meio fraudulento.
Há sete modalidades de estelionato previsto no artigo 171, do código penal, mas o tipo
aberto do caput abre um imenso leque para as mais variadas modalidades de modus operandi, a
depender do nível intelectual do autor do crime que, geralmente, é destacável. O crime de
estelionato é um dos mais comum no Brasil, a prática de enganar alguém para obter vantagem
indevida é antiga, mas essa prática vem ganhando novas formas, principalmente com a vida online
que tem se expandido cada vez mais.
Dentro do estelionato temos várias maneiras de golpes mais destacamos aqui os mais
comuns:
a) Carro quebrado ou “bença tia”: Este tipo de golpe é cometido principalmente de dentro
dos presídios do Brasil, onde o criminoso liga para um número aleatório a fim de encontrar uma
vítima, quando esta atende, ele se passa por um parente, sempre se dizendo ser um sobrinho que
diz estar com o carro quebrado no meio da estrada e que precisa de ajuda em dinheiro para pagar
o guincho ou mecânico. O que leva as pessoas a caírem nesse tipo de golpe é a vontade de ajudar
o parente.
b) Compra e venda de produtos pela internet: Através desses sites, os usuários podem
comprar e vender produtos novos ou usados, por meio de uma negociação direta. Os golpes podem
ser aplicados tanto pelo vendedor como pelo comprador funcionando da seguinte maneira. O
golpista faz a compra do produto anunciado pela vítima no site e não efetua o pagamento, mas
envia um comprovante falso em nome do gerenciador do site, confirmando que o produto foi
pago, logo em seguida o falso comprador envia um e-mail pedido que o produto seja enviado com
urgência, no caso do golpe sendo aplicado pelo vendedor não é diferente, a vítima compra o
produto pelo site efetua o pagamento, porém não recebe o produto.
c) Pacote de dinheiro: Os estelionatários observam a futura vítima sacando elevada
quantia em um banco e a seguem. Um deles deixa propositadamente cair uma folha de cheque de
alto valor ou um pacote de dinheiro falso, visando chamar a atenção da vítima. Um segundo
estelionatário, aproxima e diz que também viu o acontecido e convence a vítima que os dois
devem juntos devolver o dinheiro.
d) Bilhete premiado: O golpe do bilhete premiado é uma tática usada pelos criminosos
que visa tirar proveito da boa-fé das pessoas, em especial das mais vulneráveis, como os idosos.
e) Estelionato sentimental: Geralmente essa prática se dá através de relacionamentos a
distância, pelos meios de comunicação como: WhatsApp, Instagram, facebook e aplicativos de
relacionamentos, com os avanços nos meios de comunicação esse tipo de golpe se tornou uma
prática comum, os golpistas utilizam desses meios para enganar e manter em erro as vítimas, com
promessas de casamento, namoro, a constituição de uma família. Essa forma de golpe gera danos
financeiros das vítimas, danos morais e principalmente danos psicológicos.
Nota-se que o crime de estelionato só pode ser praticado com dolo; ou seja, deve haver
na conduta do agente, vontade consciente de induzir alguém a erro mediante artificial fraudulenta
a fim de garantir para si ou para outrem uma vantagem ilícita.
Sendo assim, pode se concluir que “[..] configura-se o crime de estelionato quando for
possível identificar na conduta do golpista o binômio vantagem ilícita e prejuízo alheio.”
(GRECO, 2017, p.1248).

3.1 O que diz a lei sobre o estelionato


O crime de estelionato, como já mencionado, está disposto no artigo 171 do Código Penal.
Este crime ocorre sempre de forma dolosa, pois para ser considerado estelionato, o agente tem
que agir com a intenção de provocar o dano.
Ressaltamos ainda, a modalidade de estelionato na tecnologia, principalmente do uso
dos “smartphones”, que funcionam como verdadeiros computadores móveis, os golpes também
evoluíram na mesma proporção. Para tentar coibir esse tipo de prática, a Lei nº 14.155, de 2021
alterou o Código Penal, criando a figura da Fraude Eletrônica, § 2º-A, § 2º-B e § 3º do artigo 171,
também conhecida por Estelionato Digital, e redefine esse crime como uma forma de crime de
roubo, resultando em pena severa.
Este crime ocorre quando um criminoso utiliza redes sociais, contatos telefónicos,
falsificação de correio eletrônico ou outros meios fraudulentos para obter dados confidenciais. A
pena pode ser aumentada em até 2/3 se o crime for cometido por meio de serviço fora do Brasil
ou contra entidades públicas, instituições econômicas populares ou de assistência social. O
Código Penal também inclui penalidades para roubo, incluindo multa de até ¥ 1 milhão para o
primeiro infrator e multa de até ¥ 2 milhões para o segundo infrator.
3.2 Estelionato Sentimental: caracterização da prática
Uma das modalidades mais comuns do crime de estelionato é do tipo sentimental, por
isso destacamos nesta sessão. Geralmente essa prática se dá através de relacionamentos a
distância, pelos meios de comunicação como: WhatsApp, Instagram, facebook e aplicativos de
relacionamentos. É perceptível que com os avanços nos meios de comunicação esse tipo de golpe
se tornou uma prática comum, os golpistas utilizam desses meios para enganar e manter em erro
as vítimas, com promessas de casamento, namoro, a constituição de uma família. Essa forma de
golpe gera danos financeiros das vítimas, danos morais e principalmente danos psicológicos.
Vale frisar que ocorre quando a vítima é levada ao erro quando é exposta a uma falsa
percepção da realidade, acreditando que seu relacionamento é verdadeiro e tem correspondência
mútua. Sendo assim, o criminoso obtém dessa vantagem emocional o poder de manipular a vítima
para ter benefícios financeiros e causando-lhe prejuízos.

4 LEI ANTICRIME: o que mudou?


A Lei 13.964, de 24 de dezembro de 2019, denominada Pacote Anticrime, entrou em
vigor em 23 de janeiro de 2020 com exceção do Juiz de Garantias que ficou suspenso por tempo
indeterminado. À época, foram vetados vinte e quatro dispositivos pelo Presidente da República.
Porém, em abril de 2021, ocorreram profundas alterações no pacote anticrime após a derrubada
de dezesseis vetos pelo Congresso Nacional.
O objetivo do pacote anticrime é tornar mais efetivo o combate ao crime organizado, à
criminalidade violenta e à corrupção. Para isso, promoveu mudança de diversos artigos do Código
Penal, do Código de Processo Penal e de várias leis especiais, tais como: Lei 7.210/1984 (Lei de
Execução Penal); Lei 8.702/1990 (Lei dos Crimes Hediondos), Lei 8.429/1992 (Lei de
Improbidade Administrativa), Lei 10.826/2003 (Estatuto do Desarmamento), dentre outras.
A Lei Anticrime, sancionada em 2019, trouxe diversas alterações significativas no
ordenamento jurídico brasileiro. Algumas das mudanças mais importantes incluem a ampliação
do instituto do Plea Bargain, permitindo acordos entre acusação e defesa para casos específicos;
a alteração nas regras de prisão preventiva, dificultando sua aplicação automática; a
criminalização do caixa 2 eleitoral e a introdução de medidas para combater a corrupção, como a
tipificação do crime de "lawfare".
Além disso, a legislação trouxe modificações no instituto do "confisco alargado",
permitindo a perda de bens relacionados a atividades ilícitas; redefiniu regras para progressão de
regime, limitando a concessão para determinados crimes violentos; introduziu a figura do "juiz
de garantias", responsável pela fase de investigação, separando as funções do juiz que profere a
sentença.
A Lei Anticrime também trouxe mudanças no processo penal, como o reforço das regras
de prescrição e aprimoramento do sistema de colaboração premiada. Essas alterações visam
aprimorar a eficiência do sistema jurídico, fortalecendo o combate à criminalidade, protegendo
direitos e promovendo uma justiça mais célere e eficaz no Brasil.

5 CRIMES CIBERNÉTICOS X ESTELIONATO


Com o surgimento da pandemia de Covid-19, houve um aumento significativo na prática
de crimes virtuais. Isso se deve, em grande parte, ao fato de que muitas pessoas passaram a dedicar
mais tempo em casa, o que, por sua vez, resultou em um aumento no número de pessoas utilizando
a internet. Como resultado, criminosos têm agido de maneira mais agressiva, fazendo várias
vítimas no mundo virtual.
Conforme ensinou Nelson Hungria (1958), "a vantagem pretendida pelo agente não pode
ter natureza econômica, caso contrário, tal conduta seria tipificada como estelionato, crime
previsto no artigo 171 do Código Penal".
No entanto, enfrentamos um desafio significativo quando se trata de lidar com esses
criminosos. A natureza anônima da internet torna difícil rastrear sua identidade, e a legislação
existente muitas vezes não é suficientemente rigorosa para enfrentar esses delitos. Para combater
esses crimes virtuais, entrou em vigor a Lei 14.155/21, que introduziu alterações no Código Penal
e regras sobre a competência para julgar esses delitos.
Em resumo, existem quatro requisitos exigidos para a configuração do crime de
estelionato, a saber: que haja a obtenção de vantagem ilícita; que seja causado prejuízo a outra
pessoa; que o agente utilize meios ardilosos ou artimanhas; e que a intenção do agente em enganar
alguém ou induzi-lo ao erro seja demonstrada, de forma a fazer com que a vítima tenha uma
percepção equivocada dos fatos.
O estelionato é um crime no qual o agente manipula, ilude e engana a vítima, levando-a
a entregar bens ou objetos voluntariamente, acreditando que o estelionatário está agindo de boa-
fé. Em relação à expressão "vantagem ilícita", Fernando Capez (2020) ensina que esta se refere
ao objeto material do crime, e, se o agente estiver agindo em busca de uma vantagem devida, a
conduta é tipificada como exercício arbitrário das próprias razões, um delito previsto no art. 345
do Código Penal.
Os criminosos aproveitam a internet para coletar informações e dados sobre potenciais
vítimas. A cada momento, em todo o mundo, as pessoas compartilham e armazenam suas
informações digitalmente, seja comprando e vendendo, cadastrando senhas, fornecendo dados,
trocando mensagens ou participando de redes sociais. Embora essas atividades possam parecer
inofensivas, frequentemente expõem os usuários a riscos quando se deparam com indivíduos mal-
intencionados.
É importante observar que o crime de estelionato pode ser absorvido por delitos mais
graves, dependendo das ações do agente. Para ser considerado estelionato, o agente deve obter
uma vantagem ilícita, causar prejuízo a outra pessoa, usar algum tipo de artimanha e ter a intenção
de enganar a vítima, levando-a a uma percepção equivocada dos fatos. A Lei 14.155/21 introduziu
mudanças importantes no Código Penal, tornando o estelionato virtual uma infração qualificada
em certas situações, como quando as informações da vítima são usadas, ou quando o crime é
praticado através de servidores fora do território nacional.
No entanto, a identificação dos criminosos continua sendo um desafio significativo,
destacando a necessidade de leis mais rigorosas e métodos de investigação aprimorados para
combater eficazmente os crimes virtuais no Brasil. Embora tenha havido progresso na legislação
relacionada aos crimes cibernéticos, as sanções ainda são consideradas leves, e é importante que
o Estado implemente medidas para melhorar a identificação e punição dos criminosos nesse
ambiente digital em constante evolução.

6 ESTUDO DE CASO: Estelionato previdenciário


Crime tipificado no Art., 171, § 3º do Código Penal
AÇÃO PENAL Nº 5003357-94.2019.4.04.7110/RS
AUTOR: MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL
RÉU: SÉRGIO RAIMUNDO MOREIRA DA SILVA
A denúncia atribui ao réu a prática do delito tipificado no artigo 171, parágrafo 3º, do
Código Penal.
Estelionato Art. 171 - Obter, para si ou para outrem, vantagem ilícita, em prejuízo alheio,
induzindo ou mantendo alguém em erro, mediante artifício, ardil, ou qualquer outro meio
fraudulento: Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa, de quinhentos mil réis a dez contos de
réis. § 3º - A pena aumenta-se de um terço, se o crime é cometido em detrimento de entidade de
direito público ou de instituto de economia popular, assistência social ou beneficência.
Conforme aponta a denúncia, Sérgio Raimundo Moreira da Silva, requereu e obteve, entre
24/07/2007 (DER/DIB) e 01/05/2016 (DCB), vantagem ilícita em prejuízo ao INSS, mantendo a
autarquia em erro, mediante fraude, resultante da inserção de dados falsos na CTPS do réu e no
sistema informatizado do INSS, o que possibilitou a percepção indevida do benefício
previdenciário de aposentadoria por tempo de contribuição, o qual perdurou até 01/05/2016,
quando cessado o seu pagamento.
A materialidade delitiva foi comprovada pelos autos do processo administrativo e o dolo
do réu foi evidenciado diante da circunstância de ter sido beneficiado com a fraude que manteve
em erro a autarquia previdenciária recebendo mensalmente de forma indevida benefício
previdenciário. O réu agiu de forma livre e consciente para a prática da infração descrita na
denúncia pois sabia da documentação falsa.
Aplicação da pena: No conjunto das circunstâncias judiciais, não houve nenhuma
desfavorável, chegou a um grau de reprovabilidade mínimo para fixar a pena-base em 1 (um) ano
de reclusão.
Ausentes agravantes. Embora presente a atenuante da confissão, uma vez que a pena-base
foi fixada no mínimo legal, não havendo a possibilidade da redução da pena provisória para
aquém do cominado e diante da ausência de causas agravantes, coincide a pena provisória com a
pena-base (Súmula nº 231 do Superior Tribunal de Justiça).
Incide a majorante prevista no § 3º do artigo 171 do Código Penal por se tratar de
estelionato praticado em detrimento de entidade de direito público. Em razão disso, exaspera-se
a pena em 4 (quatro) meses de reclusão. Não havendo qualquer causa de diminuição a incidir na
espécie, fica a pena privativa de liberdade definitivamente fixada em 1 (um) ano e 4 (quatro)
meses de reclusão.
Foi fixada ainda a multa de 20 (vinte) dias, sendo o valor aplicado à razão de 1/30 (um
trigésimo) do valor do salário mínimo nacional vigente em maio de 2016, data do recebimento do
último benefício indevido.
O regime inicial: aberto. O juiz, por estar presente os requisitos do artigo 44 do CP,
substituiu a pena privativa de liberdade por prestação de serviços à comunidade pelo período
equivalente ao da pena privativa de liberdade substituída, 01 (um) ano e 4 (quatro) meses, bem
como por pena de prestação pecuniária no valor de R$ 2.000,00 (dois mil reais), em favor entidade
que preste serviços sociais
A pena de multa permaneceu, pois, a substituição alcança somente a pena privativa de
liberdade. Além disso, o juiz fixou como valor mínimo para reparação dos danos causados pela
infração o montante indevidamente apropriado pelo réu de R$ 84.748,66 (oitenta e quatro mil,
setecentos e quarenta e oito reais e sessenta e seis centavos), valor atualizado até 05/2016, nos
termos do art. 387, IV, do Código de Processo Penal, com a redação conferida pela Lei nº
11.719/2008, descontados eventuais pagamentos administrativos ou em processo civil.
O réu pôde apelar em liberdade, já que não estavam presentes os requisitos para
decretação da prisão preventiva.
O caso trata-se de estelionato previdenciário na modalidade permanente. Aplicou-se a
pena base acrescida do aumento de pena em 1/3 por se tratar de um crime cometido em detrimento
de entidade de assistência social ou beneficência, o juiz substituiu a pena restritiva de liberdade
por penas restritivas de direito e ficou mantida a pena de multa e ainda fixou a reparação dos
danos causados descontados eventuais pagamentos administrativos ou em processo civil para
evitar bis in idem.

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O estelionato, crime que engloba artifícios e ardis para obtenção de vantagens ilícitas, foi
abordado neste trabalho com o intuito de compreender suas formas, golpes associados, e a
influência da legislação, especialmente após a implementação do Pacote Anticrime. Destacou-se
a crescente incidência desse delito no cenário nacional, notadamente potencializado pelo uso da
internet.
A metodologia qualitativa empregada, através de pesquisa bibliográfica e estudo de caso,
permitiu uma análise aprofundada do tema. Nos capítulos subsequentes, explorou-se desde a
definição do estelionato até suas diferentes formas, incluindo o estelionato sentimental,
ressaltando as nuances entre artifício e ardil.
O trabalho destacou as alterações promovidas pelo Pacote Anticrime, enfocando a
legislação como ferramenta crucial no combate a crimes como o estelionato. Além disso, foram
exploradas as particularidades do estelionato sentimental, revelando uma faceta do crime que se
aproveita das emoções das vítimas, causando danos não apenas financeiros, mas também morais
e psicológicos.
Ao abordar o estelionato cibernético, o texto sublinhou a relevância do ambiente digital
no aumento da prática desse crime, especialmente durante a pandemia. A legislação, por meio da
Lei nº 14.155/21, foi apontada como um avanço significativo para lidar com essas situações,
demonstrando a necessidade de adaptar as leis aos desafios impostos pelo mundo digital.
Convém pontuar também, que foi possível observar o quanto esse crime tem um impacto
negativo na sociedade, tanto em termos financeiros quanto emocionais. O estelionato não apenas
causa prejuízos financeiros às vítimas, mas também abala a confiança e a sensação de segurança
no ambiente digital e offline.
Para a discussão do caso concreto escolheu-se um processo de estelionato previdenciário
no qual plicou-se a pena base acrescida do aumento de pena em 1/3 por se tratar de um crime
cometido em detrimento de entidade de assistência social ou beneficência, o juiz substituiu a pena
restritiva de liberdade por penas restritivas de direito e ficou mantida a pena de multa e ainda
fixou a reparação dos danos causados descontados eventuais pagamentos administrativos ou em
processo civil para evitar bis in idem.
Por fim, conclui-se que a pesquisa possibilitou maior compreensão acerca da temática
abordada no estudo e das categorias inerentes a ela, como a legislação, seus tipos e caracterização.
Ressalta-se, que este estudo não teve como objetivo esgotar a discussão sobre o tema, mas sim,
proporcionar contribuições ao debate do crime de estelionato.
REFERÊNCIAS
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BALDAN, Edison Luís. ESTELIONATO. Enciclopédia Jurídica- PUCSP, 2020. Disponível em:
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