Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
I - INTRODUÇÃO
1
Fragoso, Heleno Cláudio, Lições de direito penal, parte geral. São Paulo: Bushatsky, 1978, p. 198.
1
Já o erro de proibição não se volta aos fatos mas se refere à
proibição jurídica. O agente tem plena compreensão dos fatos, em seus aspectos
descritivos e normativos, percebe-os de forma clara e precisa, não sendo desvirtuada sua
inteligência dos sucessos exteriores. O que se acha prejudicada é a avaliação axiológica
dos fatos, havendo descompasso entre a real incidência jurídico-normativa sobre os fatos e
a projeção axiológica que deles faz o agente. Este erra quanto ao estar proibido,
conhecendo os fatos que embasam sua conduta e conhecendo ou podendo conhecer muito
bem a lei, a norma jurídica ou eventual norma cultural subjacente ou orientadora da
conduta. O erro, aqui, está no plano da relação entre o fato e a proibição.
1. O erro de tipo
O erro de tipo incide sobre todos os elementos nele presentes,
sejam de caráter descritivo, sejam de caráter normativo, cultural ou jurídico ou ligados à
ilicitude. O erro, contudo, para ser escusável deve ser relevante, isto é, incidir sobre
elemento essencial do tipo penal. Assim, para ser escusável, o erro do agente deve alcançar
a ação descrita pelo verbo típico, em seu núcleo, ou incidir sobre o bem objeto de tutela (o
agente crê ser um animal o que é pessoa humana; pensa ser próprio o bem que é alheio;
pensa estar excluída do rol de substâncias estupefacientes aquela nele incluída); ou a
qualidade essencial da pessoa (está certo de oferecer dinheiro a um particular quando se
verifica, posteriormente, tratar-se de funcionário público no exercício da função).
2
É certo aqui que se poderá levantar a questão do término da vida e sua disciplina normativa. Assim, o art. 3º. da Lei n. 9.434/97,
regulamentada pelo Decreto n. 2.268/97, definiu o que seja morte pelo conceito de morte encefálica. Assim, o conceito de morte,
ínsito ao verbo típico “matar” envolveria o apelo a elemento normativo de caráter jurídico.
3
O crime de rapto sofreu a abolitio criminis, sendo revogado o art. 219 do CP por intermédio da Lei n.
11.106/2005.
2
cultural – obrigava o operador a entrar no mundo dos valores para determinação do conteúdo desse
conceito eminentemente ético-cultural. E esse arcabouço valorativo encontrava o magistrado no
meio social, nas pautas valorativas sociais. Somente uma atividade valorativa permitia ao
magistrado dizer da honestidade ou não da pessoa vítima do rapto. Outro tanto sucede no crime de
ato obsceno (art. 233 do CP), cujo conceito (obscenidade) demanda a incursão nas pautas ético-
sociais. Outro tanto ocorre com o crime de entrega de filho a pessoa inidônea, cujo tipo penal exige
que a vítima fique moralmente em perigo (art. 245, do CP)
Os elementos normativos culturais, quanto ao juízo axiológico, não se ligam a uma qualquer
concepção ética ou moral do magistrado, mas a ela transcendem porque se conectam com a
constelação axiológica social, imperante no meio da comunidade.
3
para a tipificação qualificada, ou seja, poderá significar um erro relevante e invencível, a afastar
configuração típica subjetiva do tipo qualificado, a remanescer o delito previsto no tipo básico.
4
ver fls.
4
Nestes exemplos não se configura objetivamente a
excludente, completando-se contudo subjetivamente a causa de exclusão: intenção de
defender-se, na legítima defesa, ou preservar o bem jurídico superior, no estado de
necessidade, ou de exercer regularmente um direito. O agente ao errar quanto ao elemento
fático expõe o “dolo” de defender-se ou de preservar o bem superior, pelo que ipso juris e
ipso facto estará demonstrada a ausência do dolo do tipo incriminador. Ou seja, a ausência
ou a falsa percepção do agente quanto à presença dos elementos fáticos de uma causa de
exclusão da ilicitude, leva a um erro de tipo permissivo, isto é, o agente pensa
equivocadamente que todos os elementos fáticos da causa de justificação estão presentes, o
que não se dá no plano da realidade.
2. O erro de proibição
11
"Programma", parte generale I e II, passim.
12
Ver "Esquema de derecho penal - La doctrina del delito-tipo", trad. Sebastián Soler, Buenos Aires:
Depalma, 1944, passim.
13
ZAFFARONI, "Teoria del delito", p. 72 e, também, "Manual", p. 261.
14
Conforme afirmava MAGGIORE, "Azione é una condotta volontaria consistente in un fare o in un non fare,
che produce un mutamento nel mondo esteriore" (p. 233), enquanto "volontá è la libera determinazione dello
spirito (auto-determinazione) che provoca l'innervazione e il moto, opure l'arresto di un muscolo" (p. 239).
("Diritto penale", tomo primo).
15
JUAREZ TAVARES, "Teorias do delito", pp. 18-20.
16
"Über den Aufbau des Schuldbegriffs", cit. por JUAREZ TAVARES, op. cit., p. 40.
7
4. aspecto subjetivo: culpabilidade: imputabilidade como pressuposto, dolo integrado pela
consciência atual ou potencial da ilicitude e inexigibilidade de conduta diversa a redundar
na reprovabilidade.
23
Edmund Mezger. Derecho Penal, parte general, México: Cardenas Editor, 1985, pp.250 e segs. Ver também Diritto
penale, tradução de Filippo Mandalari, Padova: Cedam, 1935, pp. 345 e segs..
1
tência ou os limites de uma causa de justificação – erro sobre a ilicitude – e aquele que
recai sobre os pressupostos fáticos de uma causa de justificação, compreendido como erro
de tipo, a excluir o dolo e, consequentemente, a tipicidade da conduta, permitindo a
punição a título de culpa, se prevista em lei.
24
Welzel, ********, Maurach *********.
1
exclusão ou isenção da culpa em caso de inevitabilidade do erro ou de diminuição dela em
caso de evitabilidade.
1
conhecimento do caráter ilícito da ação e de autodeterminação conforme esse entendimento, o erro é
irrelevante no que toca à aplicação da medida de segurança.
Esta disciplina do erro quanto a pessoa poderá violar um direito penal da culpa,
tanto porque se poderia introduzir no sistema a responsabilidade objetiva, quanto porque se poderia adotar um
direito penal da vontade ou do ânimo. Dentre essas duas possibilidades de violação do direito penal da culpa, a
primeira foi afastada em nosso sistema. Pense-se primeiramente na hipótese de o filho querer matar o vizinho
(Tício) e vir a matar o pai (Semprônio). Nesta hipótese, se nossa legislação fosse levar em consideração as
condições pessoais não da vítima visada mas a da vítima efetivamente atingida (o pai), mas que não correspondeu
a vontade do agente (queria matar o vizinho mas matou o pai), instaurar-se-ia abertamente um direito penal
voltado à responsabilidade objetiva, à responsabilidade meramente pelo resultado.
25
Ver a teoria da Gessinung
26
Na versão radical, ver Filippo Grammatica, Principios de defensa social, trad. Jesus Muñoz y Nuñes de
Prado e outro, Madrid, Editorial Montecorvo S/A, 1974; moderadamente, Marc Ancel, A nova defesa social. Um
movimento de política criminal humanista, trad. Osvaldo Melo, Forense, 1979.
1
quando deveria ser muito mais reprovável sua ação: estando compenetrados dos valores ético-sociais
imperantes, tendo plena consciência da ilicitude de sua conduta, podendo escolher outros caminhos
que não o ilícito, ainda assim escolheu a senda criminosa, a merecer um maior reprovabilidade.
2. error in objeto
Como visto quando tratado do error in persona, o erro sobre o objeto do
crime diz respeito ao objeto material e jurídico sobre que recai a ação humana. A diferença entre o
error in objeto e o error in persone é que o primeiro envolve a alteração do objeto material e e do
objeto jurídico na generalidade dos bens objeto de tutela penal, enquanto no segundo não existe
mudança do objeto jurídico (vida humana), mas tão apenas do objeto material sobre que incidente a
ação delituosa (vida de A ao invés de vida de B).
3. aberratio ictus
Aberratio ictus significa o desvio no curso causal. O agente dá causa a
um resultado de lesão ou perigo a bem jurídico, que vai além ou é diverso do pretendido em
decorrência de erro na utilização dos meios de execução ou em razão de um desvio causal acidental.
Não existe verdadeiramente erro quanto aos elementos do tipo penal, nem um erro que alcance a
proibição da conduta. Há, tão-só, um desvio causal motivado por erro ou por acidente em uma ação
realizada com plena consciência de todos os elementos do tipo e informada pela vontade de sua
realização, compenetrado o agente do universo axiológico em que inserida a conduta.
27
Nesse sentido, Zaffaroni, Teoria Del delito, Buenos Aires: Ediar, 1973, p. 279.
1
homicídio culposo com relação a Caio, aplicando-se a regra do concurso formal: pena de tentativa de
homicídio com aumento de 1/6 a 1/3. Se provoca lesões em ambos, tentativa de homicídio e lesão
corporal culposa consumada, de novo aplicando-se o concurso formal de infrações. Se mata Tício,
vítima efetivamente visada e por erro de execução lesiona Caio, responderá o agente por homicídio
consumado relativamente a Tício em concurso formal com a lesão corporal culposa consumada em
Caio.
1
RESUMO
O erro é a ignorância ou a falsa percepção da realidade.
O erro pode incidir sobre os elementos do tipo penal, sejam elementos de caráter
descritivo ou normativo, estes últimos de natureza cultural ou jurídico. Trata-se de
erro de tipo. O erro também poderá incidir sobre a proibição jurídica, ascendendo ao
plano do direito. Trata-se de erro de proibição.
****Obs.: Falar sobre a aberratio ictus e descriminantes, isto é, sobre o erro de exe
cução no exercício de uma discriminante, entendendo a jurisprudência não haver delito
pelo desvio da execução defensiva.