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CASO nº 14: A desloca-se ao Porto e como tem aí que fazer durante umas horas deixa o
carro numa estação de lavagens e recolhas, perto da Baixa. Depois voltará para pagar e levar o
carro, lavadinho e a reluzir como nos primeiros dias em que andou com ele. A meio da tarde,
recolhas, onde é atendido pelo empregado C. Fingindo ser o dono do carro, paga e recebe de
C as chaves da viatura, ausentando-se nela, feliz por ter conseguido dar um golpe bem urdido
e melhor executado.
Responsabilidade de B e C.
direito penal vigente (Título II), desde o furto e o roubo, ao abuso de confiança,
tipos de ilícito que não foram incluídos no título apontado mas que reflectem,
falsificações (artigos 255º e ss.) e alguns dos crimes de perigo comum (artigos
económico, pondo-se por vezes em confronto o direito penal económico com as categorias
e os princípios do direito penal patrimonial. Na parte geral do Código estão abertas vias
às pessoas colectivas (artigos 11º e 12º). O regime legal das infracções antieconómicas
revela-se do maior interesse, entre outros, a consulta dos seguintes trabalhos: Jorge de
Rev. de Direito e Economia (1976), p. 153; Eduardo Correia, Introdução ao direito penal
Costa Andrade, Problemática geral das infracções contra a economia, BMJ-262; Carlos
1986; A. Henriques Gaspar, Relevância criminal de práticas contrárias aos interesses dos
dissertação de mestrado, 1966. Numa publicação do CEJ, com o título “Direito Penal
exclusão da ilicitude, e de Manuel da Costa Andrade, A nova lei dos crimes contra a
por último, Germano Marques da Silva, Notas sobre o regime geral das infracções
distribuição ilícita de bens da sociedade, Direito e Justiça, 2001, tomo 2. Ultimamente têm-
São crimes contra a propriedade, entre outros, o roubo (210º), o furto (203º), o
abuso de confiança (205º), mas também o dano (212º). O bem jurídico protegido
333).
tutelado, entre aquelas duas qualidades. Daí que em termos de lógica material, e
não na base de uma pura e estéril relação jurídica formal, custe a admitir-se que,
se entre o que tem a coisa e a própria coisa existe tão-só uma relação de mera
posse, se diga que o bem jurídico violado tenha sido a propriedade. Quem é
relevante seja a relação de gozo". Cf. José de Faria Costa, Conimbricense, II, p. 31.
Faria Costa).
agente, a quem a coisa alheia foi entregue por título não translativo da
propriedade, passa a dispor dela animo domini, de tal forma que o crime é,
ainda, por um lado, o furto de uso, mas unicamente de veículo (artigo 208º). A
dos crimes contra direitos patrimoniais. Pode estar em causa uma coisa
técnica), pela sua amplitude, poderia estar incluído no capítulo dos crimes
contra direitos patrimoniais, mas, por uma questão de atracção material (razões
sessão). O preceito tem uma grande amplitude, que porém se pode resumir pela
que faria reverter a actuação para o âmbito dos crimes patrimoniais. É neste
que pode haver subtracção de documento que integre o crime de furto (ou de
A, tendo-se aproveitado do facto de, por engano, ter sido colocado, na sua caixa do correio
um vale postal dos CTT, destinado a outra pessoa, fica na posse do mesmo, e depois de ter
forjado um falso endosso, apondo no verso do título, pelo seu punho, uma assinatura com o
nome do beneficiário, depositou-o numa sua conta bancária, onde lhe foi creditado. Acórdão
do STJ de 11 de Outubro de 2001, CJ, 2001, ano IX, tomo III, p. 192.
certo que na burla o objecto da intenção do agente pode bem ser uma coisa
isso a distingue do roubo, onde é uma coisa móvel alheia. Na usura (artigo 224º)
crime de dano em coisas — ainda que não deixe de se acentuar que a norma que
prevê e pune o dano visa proteger quem é ofendido na fruição das utilidades
que das coisas pode ser retirada, ou seja, o mero possuidor (acórdão da Relação
Nestes não se pode dizer que a intenção do agente se dirige a uma coisa
de ver que entronca na história deste crime, pois a burla já foi vista como um
certa altura de uma específica actuação (por ex., a falsificação de um documento) e fixou-se
num resultado — o prejuízo patrimonial. Reconheceu-se que era essencial agir “con altrui
dano” (cf., por ex., o artigo 640 do Código Penal italiano de 1930). Quando, a seguir, se chegou
à conclusão de que “il danno deve avere indole economica”, o ilícito passou a situar-se
consequência, a disputa doutrinal centrou-se no crime de burla” (Pedro Caeiro, p. 63). Ainda
assim, o conceito é válido também para a extorsão e a infidelidade. Ora, “quando o BGH
subtraídas as dívidas” não fez mais do que comprimir numa fórmula um dos possíveis
valor económico. Prejuízo patrimonial identifica-se com a perda de direitos, conforme a noção
corrente no direito civil. Existem, todavia, situações em que a coisa, ainda que desprovida de
valor económico objectivo, tem um valor de ordem subjectiva para quem a possui. A perda de
um direito, por exemplo, o direito de propriedade sobre uma coisa que não é suceptível de
apreciação pecuniária, justifica a intervenção do direito penal desde que o objecto seja dotado
do dano moral respectivo. Tal objecto não pode, portanto, considerar-se estranho ao
património do lesado (Manso-Preto, p. 547). Além disso, como tratar certas “posições” ou
comerciais, o “know how”, ou uma ideia revolucionária do ponto de vista técnico que não
passou ainda da cabeça do seu inventor? (cf. Blei, p. 216). Por isso, no outro extremo, há quem
sustente que a ideia de património é em primeira linha uma noção da vida económica:
património é poder económico, é tudo aquilo que tem valor do ponto de vista das relações
económicas de uma pessoa, o complexo dos seus bens empiricamente avaliáveis em dinheiro,
ou o conjunto dos bens que estão no seu poder de disposição. Os direitos serão patrimoniais
etc., isto é, à margem da sua tutela por um direito subjectivo “(expectativas, chances,
corrente, se alguém se apropria de coisa alheia e no lugar dela deixa o valor correspondente
em dinheiro, não haveria furto, por falta da correspondente diminuição patrimonial. Por
outro lado, qualquer diminuição de utilidades teria como equivalente necessário um dano
como ilícitas por outros ramos de direito” (Figueiredo Dias, Crime de emissão de cheque sem
provisão, parecer, in CJ, ano XVII (1992), p. 71). Ninguém dirá que faz parte do património um
quantidade apreciável de dinheiro falso, já que não há maneira de o converter por processos
conjunto unitário de posições com valor económico (concepção económica), mas cobre-se
com o manto da protecção da ordem jurídica. O património abrange assim o conjunto das
“situações” e “posições” com valor ou utilidade económica, de que é titular uma pessoa,
“protegidas pela ordem jurídica” (Welzel) ou “pelo menos sem serem por ela desaprovadas”
(Gallas). É a soma dos bens economicamente valiosos que uma pessoa detém com a aprovação
apud Harro Otto, p. 207; ainda, Figueiredo Dias, parecer, cit.). Ou, na lição de Blei, “devem
incluir-se no património todas aquelas “posições” com valor económico que pelo menos
possam ser realizadas por vias que não sejam proibidas pelo direito.” Reconhece-se assim a
inclusão no conceito de património, além dos direitos subjectivos patrimoniais (v. g., a
propriedade ou a posse), a que se restringe a tese jurídica, dos "lucros cessantes e demais
Dreher/Tröndle, p. 1298). Como tal, são objecto de protecção no âmbito dos crimes
patrimoniais.
promessa com o comprador (B); fez constar nesse documento como valor de venda o de 2900
contos e que recebera “a título de sinal e princípio de pagamento”, a quantia de 150 contos.
Todavia, i) o preço para a venda fixado pelo dono (C) fora de 3000 contos e o que A veio a
acordar com o adquirente foi o de 3050 contos; ii) este entregou àquele a quantia de 300 contos
negócios do queixoso, bem sabendo que não dispunha de poderes para esse efeito (acórdão
* Cometem o crime de burla dois indivíduos (A e B) que determinam terceiro (C) a entregar-
lhes dinheiro, mediante persuasão de que um deles tinha o poder suposto de fabricar notas e
* "O crime de burla apresenta-se como a forma evoluída de captação do alheio em que o
agente se serve do erro e do engano para que incauteladamente a vítima se deixe espoliar. O
burlado, nas hipóteses de erro, como de engano, só age contra o seu património ou de
terceiros por que tem um falso conhecimento da realidade. Simplesmente esse seu falso
convencimento nasce, no caso do mero engano, da mentira que lhe é dada a conhecer pelo
burlão. A vítima, ao ser induzida em erro toma uma coisa pela outra, pertencendo ao agente a
perante o erro já existente, causa a sua persistência, prolongando-o, ao impedir, com a sua
conduta astuciosa ou omissiva do dever de informar, que a vítima se liberte dele. O segundo
momento do crime de burla é a prática de actos que causem prejuízos patrimoniais. Tem de
existir uma relação entre os meios empregues e o erro e o engano, e entre estes e os actos que
abstractamente. Da mesma forma não importa apurar se esse meio era suficiente para enganar
ou fazer cair em erro o homem médio suposto pela ordem jurídica, uma vez que uma
eventual culpa da vítima não pode constituir uma desculpa para o agente. O ofendido
entregou ao arguido a quantia de 4.000.000$00, sabendo que este, na altura, aceitava depósitos
— e este aceitou esse depósito comprometendo-se a pagar os juros mensais de 10% sobre ele.
Por sua vez, o réu comprometeu-se perante o ofendido a pagar-lhe juros mensais de 10%
sobre a quantia depositada. Nesta parte do processo causal reside o engano em que o réu fez
cair o ofendido que lhe entregou a aludida importância tão-só por estar convencido de que o
réu detinha tal quantia e estava em condições de pagar juros mensais de 10 por cento. O
engano utilizado pelo réu, para se apropriar de bens do ofendido, consistiu precisamente no
facto de lhe prometer pagar juros de 10 por cento ao mês, sabendo de antemão que tal lhe era
impossível, estando numa situação económica difícil e tendo vendido muitos dos seus bens de
raiz. A inverosímil ingenuidade do ofendido não pode constituir desculpa para o agente. O
certo é que o arguido pagou ao ofendido tão só 100 contos respeitante a juros, tendo-se
ausentado para fora do país, sabendo o réu que estava a provocar uma diminuição
enriquecimento ilegítimo, o modo pelo qual se realiza essa intenção se revele engenhoso,
quaisquer ónus ou encargos, fazendo-se a prova de que o credor não lhe concederia tal
empréstimo se soubesse que, afinal, ele já tinha, não apenas comprado o armazém, como até
arrendado, comete um crime de burla. Este crime tem como requisitos que o agente: - tenha a
intenção de obter para si, ou para terceiro, um enriquecimento ilegítimo; - com tal objectivo,
astuciosamente, induza em erro ou engano o ofendido sobre factos; - e dessa forma determine
o mesmo ofendido à prática de actos que causem a este, ou a outra pessoa, prejuízos
acordo em que se trata de uma exigência que se vem juntar limitativamente ao dolo específico
(v. Actas da Comissão Revisora do Cód. Penal, 1979, pág. 138, e Cód. Penal Anotado, Maia
Gonçalves, 3ª ed., 464), de tal forma que, “mesmo havendo a intenção de enriquecimento
ilegítimo, o modo pelo qual se realiza essa intenção tem de se revelar engenhoso, enganoso,
criando a aparência de realidades que não existem (dizendo ou fazendo crer que existe o que
mentira)” (ac. da Relação de Coimbra, de 1 de Junho de 1983, Col. Jur., Ano VIII, t. 3, pág. 98).
* Pratica o crime de burla prevista no artigo 313º, nº 1, do CP-82, aquele que atribui ao veículo
qualidades que este não tem e que ele bem sabia não ter, ao mesmo tempo que oculta defeitos
graves que conhecia e não revelou, sendo que sem tais falsidades e sem as omissões cometidas
não teria obtido a adesão do comprador (acórdão do STJ de 13 de Janeiro de 1993, BMJ-423-
214) (nota: em sentido contrário, o ac. do STJ de 4.11.87, cit. em Maia Gonçalves, Cód. Penal,
através de erro ou engano sobre factos, que astuciosamente determinem outrem à prática de
actos que lhe causem, ou causem a outra pessoa, prejuízos patrimoniais. Integra o elemento
crer que eram pessoas sérias e de boa capacidade económica, prontificando-se a emitir
cheques e letras, tendo com base nisso obtido a entrega do veículo por parte do ofendido
* Comete o crime de burla o arguido que induz o ofendido em erro tendo-lhe referido que
mediante a entrega de uma quantia monetária podia falar com o examinando para que este
lhe facilitasse a feitura do exame de condução (ac. do STJ de 14 de Fevereiro de 1996, processo
* Comete o crime de burla o arguido que faz publicar um anúncio num jornal para venda de
um terreno, dizendo que este era óptimo para construção, disso convencendo o ofendido, que
lho comprou, quando bem sabia que a construção era ali proibida (acórdão do STJ de 5 de
passivo, iludindo a sua boa fé e levando-o a uma falsa representação da realidade de que
resultou (e aqui está a chamada relação causa-efeito) agir ela contra o seu património. Nessa
realidade não existente e se o ministério pagou no convencimento dessa realidade (e, portanto,
devido a esse convencimento em que foi induzido por tais manobras), é inegável que existe
uma relação de adequação de meio para fim. Se (primeiro momento), com a intenção de
agente convence o sujeito passivo de uma falsa representação da realidade (e o erro ou engano
nisso consistem), mediante manobras (e estas podem ser as mais variadas, desde a simples
mentira que as circunstâncias envolventes são de molde a tornar credível perante o homem
médio até aos mais elaborados artifícios) adrede realizadas, e com isso consegue (segundo
momento) que esse sujeito pratique actos que lhe causem, ou a terceiro, prejuízos
patrimoniais, está perfeito o crime de burla, sendo que o enriquecimento ilegítimo é em regra
concomitante (como duas faces da mesma moeda) com o prejuízo patrimonial causado pelo
acto e que deve existir uma relação de causa-efeito entre o primeiro e o segundo momentos
RPCC 6 (1996).
* Pratica o crime de burla o causídico que, tendo sido nomeado patrono oficioso do ofendido
para propor uma acção de divórcio e tendo proposto uma acção de divórcio por mútuo
consentimento no âmbito do patrocínio, obteve do ofendido uma procuração em que este lhe
concedia "amplos poderes forenses", sem lhe dar qualquer explicação sobre a finalidade a que
a destinava e, depois, veio a conseguir que ele lhe entregasse a importância de 10 contos
Pratica o crime de burla, e não de abuso de confiança, o advogado que, após receber da
seguradora um cheque destinado ao seu cliente, o falsifica e obtém o seu pagamento junto do
Banco (apôs no verso do cheque uma assinatura como se fosse a do ofendido e como se este
* Comete um crime de burla agravada dos artigos 313º e 314º, c), do CP de 82, o arguido que,
convence a queixosa, sua tia, a transferir todo o seu dinheiro (4.509.050$00) que tinha
depositado, em duas contas a prazo no banco F..., para o balcão do Banco Z..., em Mangualde,
e a colocá-lo em nome dela, dele (arguido) e de sua esposa e dele se apodera depois, através
celebração da escritura do contrato prometido para o mês seguinte, sabendo, no entanto, que
a sociedade não tinha capacidade financeira para distratar a hipoteca e que, por conta de tal
contrato, dela vão recebendo diversas quantias em dinheiro. Acórdão do STJ de 24 de Abril de
1997, BMJ-466-257
promessas enganosas, de livrarem mancebos do serviço militar, conseguem que estes lhes
entreguem quantias em dinheiro, que gastam em seu proveito. Oscilando entre os 20.000$00 e
dos ofendidos, a esta última quantia (180.000$00) corresponde a "conduta mais grave" a ter em
conta na punição do crime continuado art.º 30, n.º 2 e 79, ambos do CP, revisto em 1995. Não
mediante a falsa alegação de possuir uma situação financeira desafogada. Acórdão da Rel.
Sendo o erro e o engano elementos do tipo da burla têm que estar em relação,
dum lado, com os meios empregues pelo burlão, do outro, com os actos que vão
dano; bem protegido; legitimidade do arrendatário. A norma que prevê e pune o crime de
dano visa proteger quem é ofendido na fruição das utilidades que das coisas pode ser
retirada.
7Actas das sessões da Comissão revisora do Código Penal, PE, ed. da AAFDL, 1979.
10Alfredo José de Sousa, Infracções fiscais (não aduaneiras), 3ª ed., Coimbra, 1997.
11Américo Marcelino, Furto por introdução em casa alheia, Rev. do Ministério Público, ano 10
(1989), nº 39.
12António Miguel Caeiro Júnior, Algumas considerações sobre o objecto jurídico no crime de
furto, BMJ-18-5.
13Bajo Fernández et al., Manual de Derecho Penal, Parte especial, delitos patrimoniales y
económicos, 1993.
14Bajo Fernández, A reforma dos delitos patrimoniais e económicos, RPCC 3 (1993), p. 499.
3 (1993).
21David Borges de Pinho, Dos Crimes contra o Património e contra o Estado no novo Código
Penal.
25Fernanda Palma e Rui Pereira, O crime de burla no Código Penal de 1982-95, Revista da
28Frederico Isasca, O projecto do novo Código Penal (Fevereiro de 1991) uma primeira leitura
31Germano Marques da Silva, Notas sobre o regime geral das infracções tributárias, Direito e
36J. Figueiredo Dias/M. Costa Andrade, O crime de fraude fiscal no novo direito penal
38Joaquim Malafaia, A insolvência, a falência e o crime do artigo 228º do Código Pena, RPCC
11 (2001).
funcionário em negócio ilícito, previsto pelo artigo 427º, nº 1, do Código Penal, RLJ, ano
49Maria Fernanda Palma, Aspectos penais da insolvência e da falência, Rev. da Fac. Dir. da
50Muñoz Conde, Derecho Penal, Parte especial, 11ª ed. revisada e puesta al día conforme al
52Pedro Caeiro, Sobre a natureza dos crimes falenciais (o património, a falência, a sua
54Silva Ferrão, Theoria do Direito Penal applicada ao Código Penal Portuguez, vol. VIII, 1857.
55T.S.Vives, Delitos contra la propiedad, in Cobo/Vives, Derecho Penal, PE, 3ª ed., 1990.