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Casos Práticos

A atropelou B (ação que causou danos físicos)— responsabilidade civil.


Devemos:

1. falar do direito.

2. ligar o direito ao caso concreto.

3. base legal.

Caso prático 1: O Município de Patra, sem qualquer deliberação ou notificação,


ocupou uma parte dum terreno de que António é proprietário e recusa-se a restituir-
lhe a posse daquele. António, inconformado, propõe uma ação judicial e o Município,
na sua contestação, invoca a falta de jurisdição do Tribunal Judicial da Comarca de
Patra, visto entender que o tribunal competente é o Tribunal Administrativo. Quid
iuris?
M. Patra ocupa o terreno de António (propriedade privada, artigos 1302º e 1305º)
— tribunal judicial.
António propôs a ação no tribunal judicial da comarca de Patra.

se estamos a falar de normas do CC, então estamos a falar de direito


privado.

o direito privado regula as RJ entre os particulares, o princípio da


igualdade dos sujeitos, o princípio da autonomia privada e tem estrutura
horizontal.

se falarmos em tribunal é necessário saber qual o adequado.

Casos Práticos 1
Norma de direito privado:

tribunal judicial.

responsabilidade civil.

Norma de direito público:

tribunal administrativo e fiscal.

responsabilidade civil do estado e entidades públicas.

No caso concreto, temos uma questão de analisar qual o direito a ocupar. Sabe-se
que o D. Objetivo é o conjunto de normas pertencentes a um ordenamento jurídico,
posteriormente dividido em direito privado e direito público. Na sociedade podemos
ter três tipos de relações: entre particulares, entre entidades públicas e entre
particular e entidade pública. O último tipo encontra mais controvérsia: quanto a qual
direito aplicar. Neste sentido, criam-se três teorias:

1. teoria dos interesses: se for do interesse público, então é direito público; se for
do interesse privado, então é direito privado. Na sociedade atual, é impossível
efetuar uma distinção de interesses, visto que existe instrumentalização do
direito privado pelas entidades públicas, assim como uma justaposição dos
direitos individuais e públicos.

2. teoria da sujeição: aspeto estrutural da relação jurídica. As entidades públicas


agem com supremacia, isto é, ius imperium, com uma estrutura vertical— d.
público. E os particulares agem em paridade— d. privado— estrutura horizontal.
Esta teoria não dá resposta, pois mesmo em situações de direito privado podem
existir relações de superioridade, tal como no direito público podem haver
situações de paridade.

3. teoria dos sujeitos: domina a doutrina. Aqui, não é o interesse, nem a estrutura
que interessam, mas sim a qualidade da norma jurídica aplicar.

Distingue-se D. público de D. privado, devido à via jurídica a adotar e o tipo de


responsabilidade civil varia consoante. Assim, numa norma de direito privado, tendo
em mente o princípio da autonomia privada e o da igualdade, é aplicada a todos os
sujeitos, possuindo validade para todos. Ao invés, uma norma de direito público
refere-se apenas aos titulares do ius imperium, a quem são conferidos direitos,
poderes e obrigações — princípio da legalidade.
No caso concreto, o munícipio de Patra ocupou-se de um terreno de António e,
portanto, este propõe a ação no tribunal judicial, com o intuito de lhe ser restituído o
seu direito de propriedade. Nos termos do artigo 1302º do CC, as coisas corpóreas,

Casos Práticos 2
móveis ou imóveis, podem ser objeto de direitos de propriedade regulados neste
código. No artigo 1305º, diz-se que o proprietário goza exclusivamente destes seus
objetos, dentro dos limites e restrições da lei. Uma vez que, de acordo com a teoria
dos sujeitos, a norma invocada e aplicada neste caso é uma norma de direito
privado. Logo, a via judicial é o caminho certo a adotar. O António propõe a ação no
tribunal correto. Neste caso, apesar do munícipio ter ius imperium, irá ser julgado
como ente privado.

Em hora de ponta, com um intenso movimento de trânsito, Alberto pisa, sem querer,
o pé de Bernardo que sofre de graves problemas arteriais e circulatórios. Em
consequência da lesão contraída e das graves complicações, é amputada uma
perna a Bernardo.
a) Bernardo pede uma indemnização a Alberto. Quid iuris?

Responsabilidade Civil: é necessário haver liberdade e responsabilidade, que


pode ser contratual ou extracontratual.

Princípio casum sensit dominus: quem comete o dano arca com ele.
Princípio pacta sunt servanda: os contratos devem ser respeitados,
necessário para a responsabilidade civil contratual.

Responsabilidade Contratual: pacta sunt servanda, relação jurídica prévia e


direitos relativos— art 798º.
Responsabilidade Contratual, que pode ser por factos lícitos, ilícitos ou por risco:
lei (art. 483º), não é necessário haver relação jurídica prévia e direitos absolutos.
Direito de propriedade: artigo 1302º e 1305º.

5 pressupostos:

1. dano.

2. ilicitude.

3. culpa.

a. imputabilidade + modalidades de culpa — onús da prova.

4. dano — patrimoniais e não patrimoniais.

5. nexo de causalidade.

a. Podem levar à reconstituição natural ou à indemnização.

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A RC extracontratual pode ser por factos ilícitos, pelo risco ou por factos
lícitos.
Neste caso: RC extracontratual por facto ilícito (artigo 70º e 483º do CC) —
violação de direitos absolutos.

Estamos perante um caso de responsabilidade civil, onde existe o binómio de


liberdade e responsabilidade, visto que agimos de livre vontade e podemos ser
responsabilizados por tal. O princípio casum sensit dominus diz que quem comete o
dano deve ser responsável por ele mesmo (este princípio pode ser afastado pelo
intuito da responsabilidade civil). No caso concreto, há responsabilidade civil por
factos ilícitos, visto que não havia relação jurídica prévia entre A e B, e foram
violados os direitos absolutos de B, nomeadamente o direito geral de personalidade
(art. 70º do CC). Logo, segundo o artigo 483º do CC, pode haver lugar a
indemnização. Todavia, para que se transfira o dano de quem o cometeu para quem
o causou são necessários 5 pressupostos:

1. Facto voluntário: a ação/conduta humana, que pode ser positiva (ação) ou


negativa (omissão); Neste caso, A pisou B, tornando-se, assim, uma ação
positiva.

2. ilicitude: juízo do ponto de vista objetivo, que viola direitos relativos (RC
contratual) ou direitos absolutos (RC extracontratual); No caso, violam-se
direitos absolutos, em concreto o direito de personalidade, estipulado no artigo
70º do CC.

3. Culpa: juízo de censura do ponto de vista subjetivo, visto que o infrator deve e
pode agir de outra forma (artigo 787º do CC). A culpa será aferida com a
diligência de um bom “pater familias”. É ao lesado que incumbe provar que o
lesante é culpado — ónus da prova. No caso concreto, B deve requerer ónus da
prova, e deve-se descobrir se houve dolo (intenção) ou negligência (violou um
mero dever de cuidado). Assim, A pisou “sem querer” em B. Resta aferir se A é
imputável ou não (artigo 488º e 483º), sendo este termo definido como “aquele
capaz de entender ou crer” de praticar um ato, ou seja, de acordo com o
enunciado, nada nos leva a crer que a A seja imputável.

4. dano: juízos que o lesado sofreu na sua esfera jurídica em consequência do


comportamento do lesante. Podem ser danos patrimoniais (avaliados
pecuniariamente) ou não patrimoniais (aqueles que apesar de não serem
suscetíveis de avaliação pecuniária são suficientemente graves para merecer a
tutela), que por sua vez podem ser danos emergentes (danos que emergem
diretamente da ação do lesante) e lucros cessantes (lucros que o lesado deixa

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de obter devido ao comportamento do lesante), no caso de danos patrimoniais.
Neste caso, B teve danos não patrimoniais, no entanto, eventualmente, pode ter
incorrido em danos patrimoniais, com lucros cessantes, devido aos cuidados
hospitalares e aos salários perdidos em torno da recuperação da perda da
perna, por exemplo.

5. nexo de causalidade: o facto deve ser idóneo e adequado a produzir aquele


dano e deve sê-lo em abstrato e concretamente. A teoria do nexo de
causalidade adequada (artigo 563º) diz que a indemnização só existe se não
houver probabilidade de o lesado ter sofrido esse dano sem o lesante, exigindo
um facto prévio que seja idóneo e adequado tanto em abstrato, como em
concreto, para produzir esse efeito. O pressuposto do nexo de causalidade não
está preenchido, portanto não há indemnização, A não tem obrigação de
indemnizar o B, logo não se verifica uma exceção ao princípio casum sensit
dominus, ou seja, não há transferência de dano, neste caso de B para A.

b) A solução seria a mesma se Alberto tivesse pisado propositadamente o pé de


Bernardo, sabendo dos problemas de saúde deste?

Nesta situação, estando preenchidos todos os pressupostos haveria a obrigação de


indemnizar, à luz da teoria da diferença (artigo 562º), que diz que o dano deve ser
reconstituído com base no que existiria se não houvesse dano. O 566º diz que a lei
dá primazia à reconstituição natural, e só não sendo possível dá equivalente
pecuniário, que é o caso desta situação. Essa indemnização será calculada nos
termos do artigo 564º. De acordo com a norma 498º, 468º há apenas um prazo de 3
anos, em que A tinha de repor a indemnização sem prejuízo de incorrer em crime,
levando a uma maior indemnização.

Numa festa de casamento, Ana dirigiu-se a uma mesa onde Vasco, dono do hotel,
servia aos convidados chouriços assados numa assadeira que Vasco tentou
reabastecer, tendo apontado para a mesma um frasco contendo álcool que
começou, de imediato, a arder. Vasco, apercebendo-se disso, reagiu e puxou a
garrafa, o que fez com o que álcool tivesse sido projetado para a frente, acabando
por cair sobre Ana que foi atingida pelo fogo na face, no pescoço, no tórax e no
braço direito. O álcool inflamado ardeu no corpo de Ana durante cerca de 10
segundos até ser apagado por outros convidados, tendo Ana sofrido queimaduras
de 1.º e 2.º grau, numa área de 20 % da superfície cutânea total. Além disso, o
vestido de Ana ficou destruído e Ana teve de ser hospitalizada, ficando sem

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trabalhar durante 30 dias. Quid iuris? (Adaptado do Acórdão do Supremo Tribunal de
Justiça, com o número convencional JSTJ000, de 07/07/2009, in www.dgsi.pt).

Vasco queimou a Ana — ação.

Artigos 70º, 1302º e 1305º, 483º.

Binómio liberdade-responsabilidade: se somos livres devemos ter liberdade


sobre as nossas ações — casum sentit dominus, diz que quem sofre um dano
deve arcar com as próprias consequências, a não ser que o instituto da RC
consiga transferir o dano para quem o causou.

No caso, estamos perante Responsabilidade civil extracontratual por factos


ilícitos, visto que não havia uma relação jurídica prévia, há a violação de direitos
absolutos e há a violação do artigo 483º.

Facto voluntário: conduta humana, de carácter positivo ou negativo, isto é, ação


ou omissão. No caso concreto, têm-se a ação de Vasco queimar a Ana.

ilicitude: juízo de censura do ponto de vista objetivo, que violam direitos,


absolutos ou relativos. No caso concreto, é um juízo absoluto, com efeito erga
omnes — artigo 70º, 1302º e 1305º.

culpa: juízo de censura do ponto de vista subjetivo, onde o infrator pode e deve
agir de outra forma. A culpa afere-se com o critério “bonus pater familias” (artigo
487º). No caso concreto, o Vasco agiu com negligência, pois violou um mero
dever de cuidado, e agiu sem intenção, caso contrário, teria agido com dolo. De
acordo com o artigo 488º, Vasco mostra-se imputável. Cabe ao lesado provar a
culpa do lesante — ónus da prova (artigo 487º).

dano: juízos que o lesado sofreu na sua esfera jurídica em consequência do


comportamento do lesante. Podem ser danos patrimoniais (avaliados
pecuniariamente) ou não patrimoniais (aqueles que apesar de não serem
suscetíveis de avaliação pecuniária são suficientemente graves para merecer a
tutela), que por sua vez podem ser danos emergentes (danos que emergem
diretamente da ação do lesante) e lucros cessantes (lucros que o lesado deixa
de obter devido ao comportamento do lesante), no caso de danos patrimoniais.
No caso concreto há danos patrimoniais emergentes: vestido, despesas
hospitalares. Incorrem lucros cessantes, visto que deixou de trabalhar durante
dias. Eventualmente, pode ter sofrido danos não patrimoniais, neste caso de
danos psicológicos.

nexo de causalidade: o facto deve ser idóneo e adequado a produzir aquele


dano e deve sê-lo em abstrato e concretamente. A teoria do nexo de

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causalidade adequada (artigo 563º) diz que a indemnização só existe se não
houver probabilidade de o lesado ter sofrido esse dano sem o lesante, exigindo
um facto prévio que seja idóneo e adequado tanto em abstrato, como em
concreto, para produzir esse efeito. Em abstrato, é natural que alguém que se
encontre próximo de uma assadeira onde se utiliza álcool possa ser alvo de
danos. O facto é idóneo e adequado.

Vasco deve indemnizar Ana, de acordo com a teoria da diferença prevista no artigo
562º. Caso não seja possível a restituição natural, deve ocorrer o equivalente
pecuniário. No caso concreto, pode existir a restituição natural do vestido, caso este
ainda esteja à venda, caso não esteja pode ocorrer o equivalente pecuniário. Os
restantes danos devem ser recompensados através de equivalente pecuniário.

1. Em virtude de, súbita e inesperadamente, ter surgido uma avaria mecânica no


seu automóvel, A atropela B, causando-lhe ferimentos. Por tal facto, A é
condenado a pagar à vítima a quantia de € 5.000,00. Quid iuris?

a. binómio liberdade responsabilidade.

b. rc extracontratual — pelo risco— princípio Ubi comoda, ibi incomoda (onde


estão as comodidades, hão-de estar incomodidades), isto é, quem retira o
proveito de atividade deve arcar com as suas consequências.

i. tratam-se de situações socialmente úteis porém perigosas.

ii. são subjetivas previstas na lei, em que o legislador prescinde dos


pressupostos da ilicitude e da culpa — 487º e 488º.

c. artigo 503º do cc prevê esta atividade perigosa.

d. Analisando os pressupostos — definição.

e. Ocorre uma ação, Falar de ilicitude e culpa, apenas as definições.

f. danos: emergentes e lucros cessantes. Possíveis danos psicológicos.

g. nexo: há nexo, de acordo com a teoria da causalidade.

h. Os pressupostos estão cumpridos, logo há a obrigação de indemnizar.

i. artigos 566º, 564º, 568º, 498º.

j. o legislador dispensa a culpa. Há situações que são lícitas e socialmente


úteis, mas que são atividades perigosas, que podem dar o surgimento de

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danos, pelo que as pessoas que delas usufrutam, hão de ter de indemnizar
— artigo 503º.

2. C embate intencionalmente contra o automóvel de D. Por tal facto, é condenado


em Tribunal a uma pena suspensa de prisão de três meses e a pagar a D o
montante de € 2.500,00 pelos prejuízos que este sofreu. Quid iuris?

a. RC extracontratual, pelo risco— falar dos pressupostos.

b. violação dos direitos de propriedade.

c. artigo 488º, 487º.

d. Dano: dano patrimonial — lucros cessantes e danos emergentes; princípio


da privação do uso. Eventuais danos não patrimoniais.

e. obrigação de indemnizar — teoria da diferença.

f. prazo artigo 498º.

g. crime de dano— artigo 118º do Código Penal.

h. C provocou danos intencionalmente a D, o que constitui crime —


Responsabilidade penal, e pode dar aso a que, caso estejam cumpridos os
pressupostos de que depende a aplicação do instituto da responsabilidade
civil extracontratual por factos ilícitos (fora do campo negocial), o que
sucede, nos termos do artigo 483º e ss.

3. Vanessa comprou a Miguel 100 rosas para enfeitar a igreja do Bom Jesus no dia
do seu casamento, tendo ficado acordado que as flores seriam entregues
algumas horas antes da cerimónia. Como Miguel não compareceu na hora
combinada, Vanessa telefonou-lhe, acabando aquele por lhe confessar que se
tinha esquecido da sua encomenda. Vanessa contactou a florista Bé que lhe
vende e entrega as flores a tempo de enfeitar a igreja, cobrando-lhe, contudo, o
dobro do valor que Vanessa tinha combinado com Miguel, justificando o preço
com a urgência do pedido. Vanessa quer recuperar o prejuízo que sofreu em
virtude do esquecimento de Miguel. Quid iuris?

Vanessa — Miguel (omissão — não entregou)

a florista levou mais caro.

Artigo 879º:

1. efeito real: transmissão de algo.

2. efeitos obrigacionais: obrigação de pagar e obrigação de entregar.

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Caso de responsabilidade civil contratual:

1. relação jurídica prévia.

2. violação dos direitos relativos interpartes.

3. violação do contrato — princípio pacta sunt servanda.

Tópicos:

Binómio liberdade-responsabilidade: se somos livres devemos ter liberdade


sobre as nossas ações — casum sentit dominus, diz que quem sofre um dano
deve arcar com as próprias consequências, a não ser que o instituto da RC
consiga transferir o dano para quem o causou.

pode haver exceções, neste caso de RC contratual (artigo 798º).

Estamos perante rc contratual, visto que há uma relação jurídica prévia, onde foi
celebrado um contrato de compra e venda (artigo 874º), transmite-se uma
propriedade — coisa ou direito—, mediante o pagamento de um preço. Os seus
efeitos estão previstos no artigo 879º, sendo que existe um efeito — transmissão
de algo — e dois efeitos obrigacionais — obrigação de entrega e obrigação de
pagamento—. Tal sucedeu-se no caso concreto, isto é, a Vanessa e o Miguel
fizeram essa transação.

Foram violados os direitos relativos com uma eficácia interpartes. O fundamento


da RC contratual é o princípio pacta sunt servanda, pois os contratos devem ser
cumpridos com boa-fé contratual (artigo 762º). Todavia, para que esta obrigação
do devedor, o Miguel, indemnizar, Vanessa precisa de verificar certos
pressupostos:

1. facto voluntário: conduta humana, de carácter positivo ou negativo, isto é, ação


ou omissão. Miguel esqueceu-se de entregar algo — omissão.

2. ilicitude: juízo de censura, do ponto de vista objetivo, onde se violam direitos


relativos, ou seja, faltou a entrega das flores, violando o artigo 879º/b e o 762º/2
— exige que os contratos sejam cumpridos com boa-fé.

3. culpa: juízo de censura do ponto de vista subjetivo sobre o próprio sujeito, pois
ele podia ter agido de outra forma. A avaliação é realizada com base no critério
bonus pater familias (artigo 799º/2 e 487º/2).

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a. uma das diferenças: não se fala da imputabilidade, mas sim das
capacidades de realizar o contrato — se as partes tem capacidade de
realizar o contrato, também o devem cumprir.

b. ónus da prova: incumbe ao devedor provar que não agiu com culpa (artigo
789º/1) — há uma inversão do ónus da prova. Assim, cabe ao Miguel provar
que agiu sem culpa.

4. dano: prejuízo que o lesado sofreu na sua esfera jurídica, como consequência
da ação do lesante. Danos patrimoniais emergentes: pagou o dobro do preço
acordado com Miguel. Eventualmente, ocorrem danos não patrimoniais: stress e
ansiedade.

5. nexo de causalidade: o ato que provocou o dano tem que ser adequado e
idóneo, e tem de o ser em concreto e em abstrato. Teoria da causalidade
adequada — artigo 563º. No caso concreto, é adequado e idóneo.

preenchem-se todos os pressupostos, logo há obrigação de indemnizar. O juiz


procura repor a situação através da reposição natural, quando tal não é
possível, poderá haver o equivalente pecuniário — artigo 564º

poderá haver limitação da indemnização, nos termos do artigo 494º, visto que o
Miguel agiu com negligência. Prazos — prescrição de 20 anos (artigo 309º) do
CC.

estamos, no presente caso, perante uma situação típica de RC contratual, a


qual tem o seu fundamento na vontade das partes, não constituindo a conduta
adotada por Miguel, um comportamento desconforme à lei.

a rc contratual encontra o seu fundamento nos artigos 798º e ss, e no artigo


762º/2 prevê-se o princípio da bia fé, no cumprimento das obrigações assumidas
pelas partes. Nesta rc, existe uma relação jurídico prévia entre lesante e lesado,
sendo que neste caso, ambas as partes haviam celebrado um CCV (artigo 874º
e ss).

Ora, ao abrigo do CCV, Miguel assumiu um dever de entrega das rosas


adquiridas nos termos contratados, o que se justifica ao abrigo do artigo 762º/2
— o cumprimento da obrigação, assim como no exercício do direito
correspondente, devem as partes proceder de boa fé.

No ano de 2010, no exercício da sua atividade, um médico dentista procedeu à


extração de um dente do siso da boca de Augusto. Durante a intervenção foram

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administradas três anestesias. Por causa desta ação, Augusto ficou com dores
permanentes, edema facial, alterações da sensibilidade, dificuldade de mastigação e
incontinência salivar. Após, foi efetuada uma radiografia à boca de Augusto e foi
diagnosticada a formação de um quisto e uma fratura no maxilar inferior que foi
resultado do processo de extração do dente. Augusto sofreu dores fortes e outros
danos psicológicos e sociais, chegando a babar-se e a morder o lábio inferior sem
que disso se apercebesse. Quid iuris? (Adaptado do processo n.º 674/2001.P L.S1
decidido pelo STJ em 22-09-2011, in www.dgsi.pt)

pode-se encontrar dois tipo de RC — contratual no artigo 1154º e


extracontratual no artigo 70º.

teoria da consunção: “uma teoria consome a outra”, escolhendo a opção mais


favorável ao lesado.

No caso concreto, parece-nos estar em causa dois tipos de Rc — a Rc


contratual e a Rc extracontratual. Rc contratual visto que existia uma relação
jurídica prévia, ou seja, havia um contrato de prestação de serviços (artigo
1154º), portanto forma incumprimento de Direitos relativos, com eficácia
interpartes, com violação da boa-fé contratual. O fundamento é o pacto sunt
servanda — os contratos são para cumprir, o que no caso concreto não ocorreu.

Por outro lado, verificamos a RC extracontratual, por factos ilícitos, pois há a


ofensa à integridade física de A, violando o seu direito de personalidade (artigo
70º), ou seja, um direito absoluto com eficácia erga omnes. Embora, no caso
concreto, exista uma relação jurídica prévia — fundamento da responsabilidade
civil extracontratual (artigo 483º).

Neste caso, a RC contratual é a mais favorável ao lesado, uma vez que o prazo
de prescrição é de 20 anos.

Pressupostos:

1. facto voluntário: ação.

2. ilicitude: violado o contrato de prestação de serviços, como a boa-fé contratual


— artigo 762º.

3. culpa: há negligência, ou seja, é um mero dever de cuidado.

a. ónus da prova: cabe ao devedor — o dentista.

b. atitude de acordo com o princípio bonus pater familias.

4. danos: patrimoniais e não patrimoniais.

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5. nexo de causalidade: há nexo.

obrigação de indemnizar — reposição natural ou equivalente pecuniário (artigo


576º). No caso concreto é equivalente pecuniário — artigo 564º.

pode haver limitação — artigo 494º, comprazo de prescrição de 20 anos (artigo


309º).

António vendeu a Bernardo um televisor e encarrega um seu empregado, César, de


entregar o televisor a Bernardo. César, na carrinha de António, leva o televisor a
casa de Bernardo. Irritado com uma mosca dentro da carrinha, César procurou
sacudi-la, distraiu-se, e atropelou um cão que, em virtude disso, vai precisar de
tratamento veterinário. O dono do cão, Daniel, quer ser indemnizados pelas
despesas que teve de suportar.

1. Quem responde e em que termos?

a. A vendeu a B. quem é o lesado? O cão foi atropelado, o cão não é um


sujeito, mas Daniel tem um direito de propriedade com regime especial
sobre o cão. D é então o lesado.) Para o A (o comitente, aquele que
encarrega outro) responder (responsabilidade civil por atos de outrem) tem
de estar preenchidos 3 pressupostos Art 500º/1 e 2 (parte final)
(aplicamos o 500º por se violarem direitos absolutos, se não aplicávamos o
800º):

i. Existência de uma relação de comissão.

ii. Nexo instrumental com o exercício das funções.

iii. Obrigação de indemnizar por parte do verdadeiro lesado.

b. Se tiverem preenchidos temos uma responsabilidade solidária entre o


comitente e o comissário. O C é detentor da responsabilidade civil
extracontratual por factos ilícitos (mas provocou o dano enquanto exercia
uma função lhe encarregada por A). O A é responsabilidade por RC por atos
de outrem (Art. 500º) e existe responsabilidade solidaria entre eles (Art.
500º/3, remissão para 497º/2, direito de regresso). Ambos são
responsáveis através de institutos de responsabilidade diferentes (há
responsabilidade solidária) e ambos tem direito de regresso um do outro em
medida da culpa, cabe ao lesado escolher a quem pedir o pagamento. Se o
D pedisse o pagamento a A e o A pode pedir uma ação contra C a pedir o
direto de regresso. Se o D escolhesse o C, o direito de regresso é na
medida das culpas e a culpa é de C então não adianta pedir ao A.

Casos Práticos 12
Existência de uma relação de comissão: é necessário existir um ato praticado
por conta de outrem e sob a direção deste – ora, no caso em concreto, temos
uma relação de comissão entre António e César, na medida em que António
(comitente), incube César (comissário), seu funcionário, com quem,
pressupomos, ter celebrado um contrato de trabalho;
A produção do dano tenha ocorrido no exercício da função: Isto é, há um nexo
instrumental que liga os atos provocadores dos danos à função exercida pelo
comissário – o dano causado pelo comissário tem que ter sido
causado/realizado no decorrer de qualquer ato compreendido no quadro geral
de competência e poderes conferidos ao comissário por parte do comitente –
ora, como vimos, César encontrava-se no decorrer do exercício das suas
funções, no âmbito de uma normal competência que lhe havia sido conferida,
quando provocou um dano.
Obrigação de indemnizar por parte do comissário – conforme já verificamos com
a análise dos pressupostos, o comissário, César, tem obrigação de indemnizar
Daniel por forma do preenchimento dos pressupostos do artigo 483º do CC.
Podemos concluir que estão igualmente reunidos os requisitos de que depende
a aplicação do artigo 500.º do CC e por isso, o comitente, António, assume,
independentemente da sua culpa, o risco derivado de ter incumbido o
comissário (César) do exercício de certa função, ficando obrigado a indemnizar
o lesado pelos danos causados (caso de responsabilidade objetiva do
comitente).

2. E se César tivesse ganho um prémio na lotaria, o facto influencia o pedido de


indemnização de Daniel?

RC extracontratual — por factos ilícitos.

1. facto voluntário: ação de atropelamento.

2. ilicitude: violou a norma 1302º e 1305º.

3. culpa: negligência.

4. dano: patrimoniais (consultas de veterinário) e não patrimoniais (medo,


ansiedade, sofrimento).

5. nexo de causalidade: há nexo.

Há indemnização, com prazo de prescrição de 3 anos.

Casos Práticos 13
António também é responsável — responsabilidade solidária, Daniel pode pedir
a indemnização a António ou a César.

Artigo 500º:

RC extracontratual.

direitos absolutos.

1. comitente e comissário.

2. nexo instrumental.

3. obrigação de indemnizar.

Artigo 800º:

rc contratual.

direitos relativos.

C é obrigado a indemnizar, mas C só provocou o dano por estar a cumprir um


contrato de trabalho. Se o A tem a faculdade de nomear uma pessoa para realizar
uma tarefa que é dele, deve responder pelos danos. Art. 500º— responsabilidade
pelo risco.
Podemos transferir a responsabilidade para a pessoa que dirigiu a ordem pelo Artigo
500º. Se ao cumprir a ordem violasse o contrato com A, violação de direitos relativos
(Artigo 800º). C respondia.

Importa começar por reiterar que, regra geral, a indemnização é exigida pelo lesado
ao comitente porque normalmente, e em abstrato, é este que apresenta um
património maior (é a entidade empregadora, é quem contrata os serviços, parece
ter maior poder económico).
No entanto, se estivermos perante uma situação concreta em que o comissário
tenha uma melhor situação económica que o comitente, o lesado pode escolher
pedir indemnização ao comissário – art. 500.º n.º 3 do CC.
Se tivesse ganho a lotaria não haveria lugar à limitação da indemnização por mera
culpa, nos termos do artigo 494.º CC.
Caso o Daniel exigisse a indemnização a César, este não teria direito de regresso
sobre António porque este não teve culpa na produção do dano, logo César pagaria
a totalidade da indemnização.

Casos Práticos 14
António trabalha como pintor na empresa, “Tinta Fresca, S.A.”. Um dia, esta
incumbe-o de pintar as divisões da casa de Bernardo, um cliente, que contratara os
seus serviços. Contudo, ao executar estes trabalhos, aproveitando o facto de
Bernardo não estar em casa, apropria-se duma boneca de porcelana que pretende
oferecer à filha. Quando Bernardo chega a casa ao fim do dia descobre, além da
falta da boneca, que a casa fora pintada de verde em vez do azul que tinha
encomendado, visto António ter trocado as latas das tintas. Quem é responsável e
em que termos?

Que tipo de diretos é que foram violados? Temos a violação de direitos relativos
(trocado as tintas) e absolutos (furto da boneca).

Aqui não é o mesmo facto que dá origem aos dois tipos de responsabilidade
(apenas se fosse o mesmo facto a dar origem ao mesmo tempo a violação
de diretos relativos e absolutos é que aplicamos a teoria da consunção,
como no caso do dentista). Não aplicamos a teoria da conjunção e analisamos
os dois tipos da responsabilidade individualmente.

Analisamos as duas RC — contratual e extracontratual. Podemos optar por


começar por qualquer uma.

A introdução e conclusão é sempre a mesma (binómio, princípio casuum sentit


dominus, caracterizar ambos os tipos de RC, dizer que direitos são violados e, neste
caso, tínhamos de afastar a teoria de consunção).
RC extracontratual por factos ilícitos

Facto voluntario: furta da boneca.

Ilicitude: violação do direito de propriedade (1302º e 1305º).

Culpa: modalidade da culpa é o dolo, porque havia intenção. Imputabilidade do


agente (Art. 488º), ónus da prova (sobre o lesado, Art. 487º/1) e culpa é aferida
segundo o critério do Art. 487º/2.

Danos: patrimoniais, dano emergente. Danos não patrimoniais suficientemente


graves que merecem a titela do direito (Art. 496º/1).

Nexo de causalidade: é idóneo e adequado, teoria da causalidade adequada


(Art. 563º).

Estando preenchidos todos os pressupostos há obrigação de indemnizar de acordo


com a teoria da diferença (Art. 562º), que diz que devemos reconstituir a situação
ade antes, com primazia à reconstituição natural, caso não possível recorremos à

Casos Práticos 15
indemnização por equivalente pecuniário. Cálculo da indemnização (Art. 564º),
prazo (Art. 498º/1 e 3) pode constituir o crime de furto.
Podemos ter RC por atos de outrem. Violados direitos absolutos, Art. 500º
pressupostos: o pressuposto do exercício das funções não está preenchido. Isto
porque, A não foi contratado para furtar bonecas, há penas um nexo temporal e
local. Na existência de um dano que tenha sido produzido no exercício da função,
neste caso concreto, havia apenas um nexo temporal e local, não existia um
nexo instrumental com o exercício das funções, ou seja, dentro do quadro de
competências a que cabia ao A.
Quanto ao primeiro, existe uma relação de comissão, e quanto ao terceiro vimos que
nos termos da RC extracontratual por atos ilícitos A tem de indemnizar.
Todavia, como falta um dos pressupostos a tinta fresca não será responsável nos
termos do Art. 500º.

RC contratual
Todavia, o A também trocou a cor da tinta que havia sido contratualizado para pintar
a casa, portanto termos o domínio da RC civil contratual. Fundamento: pacta sunt
servanda.
É necessário que estejam preenchidos 5 pressupostos

Facto voluntario: ação, trocou as tintas.

Ilicitude: violação de direitos relativos do contrato de prestação de serviços (Art.


1154º) e o artigo da boa-fé contratual (Art. 762º/2, remissão do Art. 1154º e
874º, porque sempre que falamos destes contratos temos de mencionar a
violação do princípio da boa-fé contratual).

Culpa: negligência. Não existe imputabilidade. Inversão do ónus da prova (cabe


ao lesante afastar a culpa, Art. 799º/1). Aferir a culpa através do bonus pater
familis, por meio da remissão expressa do 799º/2 para o 487º/2.

Dano: patrimoniais, danos emergentes e não há danos não patrimoniais, Art.


496º (apesar de poderem ser equacionados).

Nexo de causalidade: trocar a s tintas é sempre condição para violar o contrato.

Estando preenchidos temos de indemnizar de acordo com a teoria da diferença (Art.


562º). Cálculo (Art. 564º), no caso concreto é possível a reconstituição natural a
voltar a pintar a parede da cor correta. Exceção do princípio cassum sentit dominus.
Prazo 20 anos (Art. 309º).
Há obrigação do António repor a situação que se verificava antes.

Casos Práticos 16
Mas o A estava ali por instrução de alguém, há violação de direitos relativos (RC
contratual), aplicamos o Art. 800º. Pressupostos:

Existência de um ato danoso.

Praticado por um auxiliar (no caso concreto A parece ter um contrato de


trabalho, mas tal não era sequer necessário. Basta um pedido de auxílio, não
é necessário uma relação de comissão ou um contrato de trabalho).

No cumprimento da obrigação.

Com culpa (há culpa a título de negligencia).

Havendo violação de deveres contratuais (neste caso há violação de um


contrato de prestação de serviços).

O devedor é sempre responsável desde que estes pressupostos estejam


verificados. O 500º permite chegar a responsabilidade solidaria, o Art. 800º é
categórico, ou é um ou é outro. O devedor é a Tinta Fresca, afasta a
responsabilidade do funcionário, desde que preenchidos os pressupostos.
A tinta fresca responderá perante o credor, pelos danos que forma causados pelo
seu auxiliar António, como se tivesse sido a própria “Tinta Fresca” a causá-los, não
existindo direito de regresso da “Tinta Fresca” perante António.

Anacleto é trabalhador do restaurante, Bom Comer, Lda., com as funções de


distribuir as refeições ao domicílio. Em outubro de 2007, Anacleto, no percurso do
restaurante à casa duma pessoa que havia encomendado uma refeição, devido ao
seu descuido, atropelou Berto que atravessava a estrada na passadeira, tendo este
ficado hospitalizado durante o período de 7 dias. Com o deflagrar do acidente,
Anacleto não mais se lembrou das refeições que tinha para entregar ao cliente que,
alegando estar à espera daquelas para uma festa de aniversário, pretende ser
indemnizado pelos prejuízos sofridos, designadamente pela necessidade que teve
de contratar um outro restaurante que, pela urgência invocada, se cobrou do dobro
do devido. Quid iuris?
Binómio, princípio casuum sentit dominus (o instituto da RC permite transferir os
danos de quem o sofreu para quem os causou).

RC extracontratual: Há uma violação de direitos absolutos (Art. 70º). Fundamento lei


(Art. 483º). Não existia RJ prévia.
RC contratual: direitos relativos, violado um contrato de prestação de serviços.
Fundamento: princípio pacta sunt servanda. Existia uma RJ prévia.

Casos Práticos 17
Não aplicamos a teoria da consunção.
RC contratual:
Indemnização por equivalente pecuniário.
Art. 500º, porque a empresa teve a possibilidade de eleger a pessoa e portanto deve
arcar com o risco (ubi comoda, ibi comoda, ver nos slides).
Pressupostos:

Facto cometido no exercício das funções dentro do quadro de competências


deste

RC extracontratual:

Obrigação de indemnizar.
A estava a cumprir uma ordem da empresa e portanto, cumpriria, aferir os
pressupostos do Art. 800º.
Estando preenchido o devedor (a empresa) responderá pelos atos praticado pelo
sue auxiliar, como se fosse ele mesmo a praticar aquele facto, não havendo direito
de regresso.

Verificou-se nas duas situações verificou-se uma exceção ao princípio cassum sentit
dominus.

1 – Existência de uma relação de comissão: é necessário existir um ato praticado


por conta de outrem e sob a direção deste – ora, no caso em concreto, temos uma
relação de comissão entre António e César, na medida em que (comitente), incube
(comissário), seu funcionário, com quem, pressupomos, ter celebrado um contrato
de trabalho;
2 – A produção do dano tenha ocorrido no exercício da função: Isto é, há um nexo
instrumental que liga os atos provocadores dos danos à função exercida pelo
comissário – o dano causado pelo comissário tem que ter sido causado/realizado no
decorrer de qualquer ato compreendido no quadro geral de competência e poderes
conferidos ao comissário por parte do comitente – ora, como vimos, César
encontrava-se no decorrer do exercício das suas funções, no âmbito de uma normal
competência que lhe havia sido conferida, quando provocou um dano.
3 – Obrigação de indemnizar por parte do comissário –conforme já verificamos com
a análise dos pressupostos, o comissário, tem obrigação de indemnizar B por forma
do preenchimento dos pressupostos do artigo 483º do CC.

Casos Práticos 18
Podemos concluir que estão igualmente reunidos os requisitos de que depende a
aplicação do artigo 500.º do CC e por isso, o comitente, Bom Comer, Lda, assume,
independentemente da sua culpa, o risco derivado de ter incumbido o comissário
(Anacleto) do exercício de certa função, ficando obrigado a indemnizar o lesado
pelos danos causados (caso de responsabilidade objetiva do comitente).
Acontece, porém, que da análise ao enunciado é possível concluir que ANACLETO
estava a realizar uma obrigação / a prestar um serviço contratado pela empresa
BOM COMER, LDA. Ora, segundo o disposto no artigo 800.º do CC – O DEVEDOR
RESPONDE SEMPRE PERANTE O CREDOR PELOS ATOS DO SEU AUXILIAR.
Assim, temos de verificar se estão preenchidos os pressupostos do artigo 800.º do
CC – de modo a que a BOM COMER, LDA. possa ser responsável pelos atos
praticados pelo seu auxiliar.
Artigo 800º:

Pressupostos: (1) ato, (2) danoso, (3) praticado pelo auxiliar, (4) no
cumprimento da obrigação contratual do devedor, (5) com culpa, (6) que viole
direitos relativos do credor.
Os serviços da Câmara Municipal de Vila Esburacada colocaram em plena via
pública uma barra de cimento junto a um buraco. A barra e o buraco foram
originadas por obras na via, não tendo a Câmara sinalizado tais obstáculos,
constituindo estes um perigo para a circulação dos utentes naquela via. Sucedeu
que, o veículo, propriedade de Américo, colidiu com a barra de cimento e acabou
por cair no referido buraco. Américo pede uma indemnização à Câmara pelos danos
sofridos. Terá razão?

Américo: privado.

omissão: não estavam sinalizados os obstáculos.

responsabilidade civil do estado e demais entidades públicas: a médica sofre de


violação de direitos absolutos (artigo 1302º e 1305º).

3 teorias:

1. teoria dos interesses: se for do interesse público, então é direito público; se for
do interesse privado, então é direito privado. Na sociedade atual, é impossível
efetuar uma distinção de interesses, visto que existe instrumentalização do
direito privado pelas entidades públicas, assim como uma justaposição dos
direitos individuais e públicos.

2. teoria da sujeição: aspeto estrutural da relação jurídica. As entidades públicas


agem com supremacia, isto é, ius imperium, com uma estrutura vertical— d.

Casos Práticos 19
público. E os particulares agem em paridade— d. privado— estrutura horizontal.
Esta teoria não dá resposta, pois mesmo em situações de direito privado podem
existir relações de superioridade, tal como no direito público podem haver
situações de paridade.

3. teoria dos sujeitos: domina a doutrina. Aqui, não é o interesse, nem a estrutura
que interessam, mas sim a qualidade da norma jurídica aplicar.

Se a norma estiver no CC é direito privado, ou seja, regulada pelo tribunal


judicial.

Se a norma for de direito público, é regulado pelo tribunal administrativo.

Quem comete um facto involuntário?

a CM, pois tem o poder de adjudicar e mandar analisar dada obra pública, e no
caso concreto não cumpriu, pois não realizou devidamente a realização daquela
obra.

TAF: ente público

Pressupostos:

1. Facto voluntário: a ação/conduta humana, que pode ser positiva (ação) ou


negativa (omissão); no caso concreto, a CM incorrer numa omissão, pois esta
não sinalizou a estrada.

2. ilicitude: juízo do ponto de vista objetivo, que viola direitos relativos (RC
contratual) ou direitos absolutos (RC extracontratual); caso concreto: violação de
direitos absolutos (artigos 1302º e 1305º) — esfera privada afetada por um ente
público. No entanto, há violação da norma pública do DR que ordena a
realização da obra e que dispõe, quanto à obrigatoriedade da sua sinalização
que não se cumpre efetivamente.

3. Culpa: juízo de censura do ponto de vista subjetivo, visto que o infrator deve e
pode agir de outra forma (artigo 787º do CC). A culpa será aferida com a
diligência de um bom “pater familias”. É ao lesado que incumbe provar que o
lesante é culpado — ónus da prova. Resta aferir a imputabilidade. Caso
concreto: Há negligência, viola-se um mero dever de cuidado. Há prova da culpa
pela parte do lesado (artigo 4º do Regulamento de responsabilidade civil
extracontratual do estado e demais entidades públicas) e afere-se de acordo
com o critério do bon pater familis (artigo 478º/2). Há presunção de culpa, nos
termos do artigo 493º do CC, a execução de uma obra pode ser considerada
uma atividade perigosa.

Casos Práticos 20
4. dano: juízos que o lesado sofreu na sua esfera jurídica em consequência do
comportamento do lesante. Podem ser danos patrimoniais (avaliados
pecuniariamente) ou não patrimoniais (aqueles que apesar de não serem
suscetíveis de avaliação pecuniária são suficientemente graves para merecer a
tutela), que por sua vez podem ser danos emergentes (danos que emergem
diretamente da ação do lesante) e lucros cessantes (lucros que o lesado deixa
de obter devido ao comportamento do lesante), no caso de danos patrimoniais.
No caso concreto: danos emergentes (reparação da viatura) e lucros cessantes
(privação do uso da viatura) e, eventualmente, não patrimoniais — artigo 2º do
regulamento da responsabilidade civil extracontratual do estado e das demais
entidades públicas; deve voltar a reparar a situação e voltar a considerar a
situação antes daquele facto. O prazo de prescrição são 3 anos (artigo 498º).
Por norma, será a CM a responder por virtude do princípio de responsabilidade
do agente/funcionário público — artigo 7º/1 do regulamento, sem prejuízo da
responsabilidade solidária, em caso de dolo ou culpa grave (artigo 6º e 8º deste
regulamento)

5. nexo de causalidade: o facto deve ser idóneo e adequado a produzir aquele


dano e deve sê-lo em abstrato e concretamente. A teoria do nexo de
causalidade adequada (artigo 563º) diz que a indemnização só existe se não
houver probabilidade de o lesado ter sofrido esse dano sem o lesante, exigindo
um facto prévio que seja idóneo e adequado tanto em abstrato, como em
concreto, para produzir esse efeito.

Nota: a CRP só se aplica de forma especial, quando tiver ingerência do estado e for
necessário o ius imperium ou quando um privado com força semelhante a uma
entidade pública. Uma norma do CC está em conformidade com a CRP —
característica conformadora. Só aplicamos a CRP, quando o CC não tiver lá a
norma.

Entre A e a empresa B, S.A., foi celebrado um contrato de trabalho. A era um


trabalhador zeloso e regular. Contudo, ainda no decurso do período experimental, a
entidade patronal descobriu que A era homossexual. Assim que o soube, A foi
despedido imediatamente. Quid iuris?

artigo 1152º: contrato de trabalho.

Código do trabalho: artigos 23º a 28º.

artigo 24º: igualdade do trabalhador — proibição legal/geral da


discriminação do trabalhador.

Casos Práticos 21
artigo 28º: indemnização por ato discriminatório.

A CRP, apresenta-se como uma ordem normativa superior e, portanto, tem força
conformadora do direito privado, o que significa que as normas devem estar em
imediata sintonia com a CRP. Assim, as normas de direito privado devem
concretizar os princípios e normas previstos nos preceitos da CRP, de forma
mediata. Diz o artigo 18º da CRP, que os DLGs são historicamente direitos que
intervêm na defesa do cidadão contra o estado, daí a possibilidade da sua
aplicação direta nas suas relações estabelecidas entre o estado e os
particulares. Porém, existem também situações em que, mesmo entre
particulares, existe uma situação de desigualdade. Portanto, o artigo 18º da
CRP assume uma função protetora:

1. vincula de forma geral as autoridades públicas, protegendo o indivíduo das


ingerências do estado e mais entidades públicas.

2. vincula de forma especial as entidades privadas, que assumem uma posição


superior face ao indivíduo.

Por outro lado, isto significa que a aplicabilidade imediata do artigo 18º da CRP
apenas se justifica quando:

1. for compatível com o carácter de defesa contra o estado, quando exista um


ente privado com uma força superior, dentro das relações entre privados

2. quando as normas de direito privado não são suficientes para a tutela dos
direitos em causa.

A aplicação direta só se dá se for compatível com o caráter dos DLG – direitos


de defesa do cidadão contra o Estado (função conservadora) ou entidades com
força equiparável (função renovadora). A aplicação direta só se dá se a lei
privada não for suficiente para encontrar uma solução adequada, dentro dos
seus princípios e normas imbuídos pelos valores da CRP: Regime subsidiário
(ou seja, se não for possível uma aplicação mediata. Ex.: a lei civil é lacunosa
ou claramente inconstitucional).

A função protetora do artigo 18.º da CRP:


1- Vincula de forma geral as autoridades públicas estaduais: a função primacial
do artigo 18.º da CRP é a da proteção do individuo contra as ingerências do
Estado e do poder público.
2- Vincula as entidades privadas apenas de forma especial (existem outras

Casos Práticos 22
entidades que não o Estado, estruturadas com base no direito privado e que
atendendo à sua posição superior face ao individuo podem pôr em causa a
liberdade individual).

A aplicabilidade imediata do artigo 18.º da CRP apenas se justifica:


a) Se for compatível com o caráter defensivo contra o Estado – orientação
CONSESRVADORA do artigo 18º/1, ou contra os poderes de supremacia de
particulares com força comparável sobre outros particulares orientação
RENOVADORA do artigo 18º/1. Tal sucede, na medida em que os DLG vinculam
o Estado de forma geral, e as autoridades de forma especial (quando elas
atuam numa situação de poder, ameaçando a liberdade e a igualdade).
b) Quando as normas do direito privado não sejam suficientes para a tutela dos
interesses em causa, não seja suficiente para encontrar a solução adequada
não estiver imbuída dos princípios constitucionais, nomeadamente através de
cláusulas gerais e conceitos indeterminados – nestes casos, há uma aplicação
IMEDIATA dos DLG, pelo artigo 18.º da CRP, mas só como mecanismo e regime
de recurso (SE ASSIM NÃO FOSSE COLOCARIA EM CAUSA O PRINCÍPIO DA
AUTONOMIA PRIVADA).

No Código do Trabalho encontramos disposições sobre a igualdade e não


discriminação do trabalhador ou do candidato a emprego que concretizam o
princípio da igualdade constitucional – artigo 23.º a 28.º do Código do Trabalho.
O artigo 24.º do CT estabelece uma proibição geral de discriminação do
trabalhador ou candidato a emprego, prevendo que estes têm direito à igualdade
de oportunidades ou de tratamento no que se refere no acesso ao emprego, não
podendo ser prejudicados em função de qualquer característica ali citadas
(designadamente, orientação sexual).
Por seu turno, o artigo 28º do CTrab. confere ao trabalhador ou ao candidato ao
emprego, o direito de obter uma indemnização por danos patrimoniais ou não
patrimoniais, caso seja objeto de um ato discriminatório lesivo, levado a cabo
pela entidade empregadora. Neste sentido, estamos perante uma situação em
que as normas de direito privado são suficientes para regular as relações entre
particulares (estamos a aplicar indiretamente ou mediatamente, os princípio
constitucionais da igualdade, através da sua concretização no CTrab.) = não é
necessário recorrer ao artigo 18º da CRp.

Casos Práticos 23
no caso concreto, tanto o CC como o código do trabalho, ambos normativos do
direito privado tutelam devidamente a situação em crise, ou seja, a existência de
discriminação no trabalho. O artigo 24º do Código do Trabalho diz-nos que não é
admissível que nenhuma situação de discriminação na relação laboral, e o artigo
28º do mesmo código diz-nos que no caso, não existia pode haver lugar à
obrigação de indemnizar.

nessa medida, não seria necessário recorrer de imediato à proteção dos DLGs
do artigo 28º da CRP, porque as normas de direito privado eram capazes de
tutelar devidamente esta situação.

A é senhorio de B. Na altura da campanha eleitoral, B coloca cartazes do seu


partido político na fachada principal do prédio. O senhorio pede-lhe que retire a
propaganda. B invoca a liberdade de expressão, dizendo-lhe que está
constitucionalmente garantido. Quid iuris?

o direito à liberdade de expressão está expresso na CRP (artigo 37º), e não


existe no CC — logo, aplica-se o artigo 18º + 37º + 62º da CRP.

O direito de liberdade de expressão e o direito de propriedade colidem —


devemos limitar sem ofender o núcleo essencial de cada direito.

Na prática, B pode colocar cartazes em outro local. Assim, o núcleo essencial de


cada um destes direitos pode ser preservado.

Estamos perante um caso em que há um direito de propriedade de A sobre o imóvel


arrendado por B, cuja previsão se encontra prevista no artigo 62..º da CRP e nos
artigos I302º. do CC. Importa por isso perceber se será que A tem que tolerar que B
use as partes comuns do prédio, que não estão exclusivamente afetadas,
prejudicando a parte estética da fachada, eventualmente sujeitando a estrago dos
materiais e, logicamente, utilizando a fachada do prédio para algo que não foi
concebido?
A liberdade de expressão é um DLG (artigo 37º CRP), que estabelece o seu núcleo
essencial — todos têm o direito de se exprimir quanto às suas ideologias políticas. O
mesmo já não se sucede em relação ao direito de propriedade de A, previsto no
artigo 62º da CRP. Estamos perante uma relação de particulares em pé de
igualdade = não é necessário recorrer ao artigo 18º da CRP.

António, pretendendo oferecer um ramo de rosas vermelhas à sua namorada, dirige-

Casos Práticos 24
se a uma florista, Beatriz. No entanto, como esta não gosta de António, recusa-se a
vender-lhe o ramo. António, estudante do curso de Direito, diz a Beatriz que está a
violar o princípio da igualdade. Beatriz insiste na recusa. Quid iuris?

liberdade contratual: artigo 405º do CC — princípio da autonomia privada,


princípio da igualdade e princípio da liberdade contratual.

no caso concreto, não devemos necessariamente recorrer à CRP, pois existe o


artigo 405º do CC.

Contudo, existem atividades setoriais que não podemos recusar: setor


farmacêutico, onde reina a liberdade contratual.

No presente caso, A invoca a aplicação direta e imediata do princípio da igualdade,


consagrado no artigo 13º da CRP. No caso concreto, estamos perante dois
particulares, em pé de igualdade, sendo que nestes casos, normalmente, basta a
aplicação da lei civil, não sendo necessário recorrer ao artigo 18º da CRP.
Princípio da liberdade contratual (artigo 405º do CC), que confere aos particulares a
liberdade de celebrar contratos ou não e de modelar e conformar o conteúdo desses
contratos. Pelo que B, poderá recusar-se a contratar A.
Nota: se fosse em função de raça, religião, etc., a sua conduta violava o princípio
constitucional da igualdade — artigo 13º CRP.

Contratos:

artigo 202º:

1. Diz-se coisa tudo aquilo que pode ser objeto de relações jurídicas.
2. Consideram-se, porém, fora do comércio todas as coisas que não podem ser
objeto de direitos privados, tais como as que se encontram no domínio público e as
que são, por sua natureza, insusceptíveis de apropriação individual.

artigo 203º + 204º + 205º e ss.

identificar o que é a coisa; identificar a coisa propriamente dita— artigo 204º e


ss.

artigo 875º — as coisas imóveis precisam de escritura pública para serem


vendidas.

partes integrantes, coisas acessórias e partes componentes.

Casos Práticos 25
parte integrante (artigo 204º/3): são partes integrantes todas as coisas
móveis ligadas materialmente ligada ao prédio com carácter de
permanência.

parte componente: dizem respeito à estrutura do prédio, e são necessárias


ao bom funcionamento do prédio.

coisas acessórias: estão funcionalmente ligadas a uma coisa (não há


conexão material).

fruto:

1. Diz-se fruto de uma coisa tudo o que ela produz periodicamente, sem prejuízo
da sua substância.

2. Os frutos são naturais ou civis; dizem-se naturais os que provêm diretamente da


coisa, e civis as rendas ou interesses que a coisa produz em consequência de
uma relação jurídica.

3. Consideram-se frutos das universalidades de animais as crias não destinadas à


substituição das cabeças que por qualquer causa vierem a faltar, os despojos, e
todos os proventos auferidos, ainda que a título eventual.

artigo 408º: transferência real dá-se pelos meios do contrato.

princípio do

o fruto natural, parte componente ou parte integrante só se dá no momento


da colheita ou separação.

forma especial: artigo 875º.

liberdade da forma: artigo 219º.

Lucrécia vendeu a Marta, em Fevereiro, o aquecimento central da sua casa. Um


mês após, Lucrécia vendeu a casa a Natália, sem que o aquecimento central tivesse
sido retirado. Marta, em Abril, pede a Lucrécia que lhe entregue o aquecimento
central. Terá razão?

dois contratos de compra e venda.

compra e venda do aquecimento central:

Lucrécia e Marta celebram um contrato de compra e venda que, nos termos do


artigo 874º, se transmite algum direito ou propriedade, por meio de um preço. Os
efeitos estão compreendidos no artigo 879º. Na alínea A prevê-se a transmissão da

Casos Práticos 26
coisa ou da titularidade do direito. E prevê-se obrigações, a de pagar o preço e a de
entregar a coisa (alínea B e C). Para existir um contrato deve haver convergência de
vontades, tal como nos diz o artigo 232º do CC. Ou seja, têm de haver uma proposta
seguida de uma aceitação; o contrato não fica concluído caso as partes não
acordem em todas as disposições.
No caso concreto, cumpre ainda identificar o objeto mediático desta relação jurídica,
ou seja, a coisa nos termos do artigo 202º/1, ou seja, tudo aquilo que se pode
estabelecer e transmitir direitos privados. O aquecimento central é uma parte
integrante, visto que o artigo 204º/3 nos diz que é parte integrante toda a coisa
móvel ligada materialmente ao prédio com carácter de permanência, não é,
portanto, um elemento de estrutura do prédio, mas aumenta os níveis de segurança
e bem-estar. Nos termos do artigo 408º, em via de regra e de acordo com o princípio
da consensualidade ou da transferência consensual do domínio, a constituição ou
transferência de direitos reais sobre coisas reais dá se sobre meio de contrato.
Todavia, como a lei indica à exceções a este princípio. No nosso caso concreto, a
coisa é parte integrante e, nos termos do artigo 408º/2, só se verifica no meio da
separação. Nos termos do artigo 880º, o vendedor fica obrigado a efetuar as
diligências necessárias para que o comprador obtenha os bens vendidos. Assim, o
aquecimento central é, nos termos da alínea E, do artigo 204º/1/3, uma parte
integrante. Isto significa que, neste preciso momento, enquanto não existir a
transferência da coisa, o contrato produz apenas os seus efeitos obrigacionais e o
direito real de propriedade continua a pertencer a Lucrécia.

compra e venda da casa:

Lucrécia e Natália celebram um contrato de compra e venda que, nos termos do


artigo 874º, se transmite algum direito ou propriedade, por meio de um preço. Os
efeitos estão compreendidos no artigo 879º. Na alínea A prevê-se a transmissão da
coisa ou da titularidade do direito. E prevê-se obrigações, a de pagar o preço e a de
entregar a coisa (alínea B e C). Para existir um contrato deve haver convergência de
vontades, tal como nos diz o artigo 232º do CC. Ou seja, têm de haver uma proposta
seguida de uma aceitação; o contrato não fica concluído caso as partes não
acordem em todas as disposições. No caso concreto, cumpre ainda identificar o
objeto mediático desta relação jurídica, ou seja, a coisa nos termos do artigo 202º/1,
ou seja, tudo aquilo que se pode estabelecer e transmitir direitos privados. Aqui,
trata-se de uma coisa imóvel, porque não é possível a sua transferência para outro
lugar sem que exista a sua deterioração, ou seja, é uma coisa que está incorporada
no solo, sendo que, na alínea A do artigo 204º/1, são imóveis os prédios urbanos,
que é a coisa concreta neste negócio. A regra é que há liberdade de forma, artigo

Casos Práticos 27
219º do cc, porém, há situações em que a lei exige forma especial, como é o caso
de compra e venda de imóveis, onde é exigido escritura pública ou documento
particular autenticado, sob forma de nulidade. No que respeita à transferência da
propriedade, cumpre-se dizer que, de acordo com o princípio da consensualidade,
dá-se por meio do contrato, que é o que sucede nesta situação, pois não cabe em
nenhuma das exceções, pois não é parte componente, integrante nem fruto. Assim,
Natália passa a ser proprietária no imóvel, o mesmo se diga face ao aquecimento
central visto que nada nos diz que foi retirado materialmente do prédio e, portanto,
acompanhará, a transferência do imóvel. Em suma, Natália é proprietária do imóvel
e do aquecimento central. Marta não terá direito a exigir o aquecimento central, mas
a Lucrécia poderá responder nos termos da responsabilidade civil contratual no
artigo 798º, visto que existiu um incumprimento do contrato.

António vende a mobília da sua cozinha a Bernardo; a antena parabólica (colocada


no telhado) a Cristina; e o elevador da sua casa, importante peça histórica, ao
museu local. Pouco tempo depois, antes de ter desmontado ou entregue qualquer
coisa, António vende a sua casa, com todo o recheio e sem qualquer ressalva, a
Humberto. Para quem se transferiu a propriedade dos diversos objetos em causa?

quatro contratos de compra e venda:

1. venda da mobília da cozinha a Bernardo.

a. artigo 874º.

b. duas obrigações e um efeito real — artigo 879º.

c. artigo 232º.

d. definição de coisa e a sua classificação — artigo 202º e 203º.

e. objeto mediato: coisa móvel ou parte integrante (depende do tipo de móvel).

f. artigo 205º (coisa móvel), há liberdade de forma, nos termos do artigo 219º.

g. a transferência do direito real dá se por mero efeito do contrato, artigo


408º/1 — princípio da consensualidade ou transferência consensual do
contrato.

h. sendo uma coisa móvel, nos termos do artigo 205º, visto que pode ser
transportada de um lado para o outro sem se deteriorar, a mobília pertence
a Bernardo.

2. antena parabólica a Cristina.

Casos Práticos 28
a. artigo 874º.

b. efeitos: artigo 879º.

c. artigo 232º — manifestação da vontade.

d. definição de coisa e a sua classificação — artigo 202º e 203º.

e. objeto mediato: considerando-se que não está materialmente ligada ao


prédio, trata-se de um elemento acessório e móvel nos termos do artigo
205º e 210º. As coisas acessórias, que não constituindo partes integrantes
estão afetadas de forma duradoura ao serviço ou ornamentação de uma ou
outra, ou seja, não estão ligadas materialmente, estando apenas ligadas
monetariamente.

f. a transferência do direito real dá se por mero efeito do contrato, artigo


408º/1 — princípio da consensualidade ou transferência consensual do
contrato.

g. sendo uma coisa móvel, nos termos do artigo 205º e 210º, visto que pode
ser transportada de um lado para o outro sem se deteriorar, a antena
pertence a Cristina (caso fosse considerada parte integrante, a solução era
diferente).

3. elevador ao museu.

a. artigo 874º.

b. efeitos: 879º.

c. artigo 232º — manifestação da vontade.

d. definição de coisa e a sua classificação — artigo 202º e 203º.

e. artigo 204/3º (parte integrante), há liberdade de forma, nos termos do artigo


219º.

f. não vale a regra do princípio da consensualidade e aplica-se o artigo 408º/2,


em que só há transferência no momento de separação.

g. Nos termos do artigo 880º, o vendedor fica obrigado a efetuar as diligências


necessárias para que o comprador obtenha os bens vendidos.

4. a casa (com recheio) a Humberto.

a. artigo 874º.

b. efeitos: 879º.

Casos Práticos 29
c. artigo 232º — manifestação da vontade.

d. definição de coisa e a sua classificação — artigo 202º e 203º.

e. artigo 204º/1 (coisa imóvel).

f. A regra é que há liberdade de forma, artigo 219º do cc, porém, há situações


em que a lei exige forma especial, como é o caso de compra e venda de
imóveis, onde é exigido escritura pública ou documento particular
autenticado, sob forma de nulidade.

g. o que respeita à transferência da propriedade, cumpre-se dizer que, de


acordo com o princípio da consensualidade, dá-se por meio do contrato, que
é o que sucede nesta situação, pois não cabe em nenhuma das exceções,
pois não é parte componente, integrante nem fruto.

António incorre em responsabilidade contratual por incumprimento do contrato


com Bernardo, Cristina e o museu.

Em Maio, Amândio vendeu a Belmiro as laranjas do seu pomar que iria colher no
mês de Dezembro. Dois meses depois, Amândio celebra um novo contrato, através
do qual troca as laranjas – ainda não colhidas – por um automóvel de Constantino.
Em Novembro, o mesmo Amândio decide vender todo o pomar a Dimas. Quer
Belmiro quer Constantino exigem de Dimas que lhes entregue as laranjas entretanto
colhidas. Quid iuris?

dois contratos de compra e venda e um atípico (troca ou permuta).

1. Amândio a Belmiro (laranjas futuras).

a. artigo 874º.

b. efeitos: 879º — 2 efeitos obrigacionais e 1 real.

c. artigo 232º — manifestação da vontade.

d. definição de coisa e a sua classificação — artigo 202º e 203º.

e. objeto mediato: fruto (artigo 212º) e coisa futura (ainda não foi possível a
sua colheita).

f. enquanto não forem colhidos, os frutos fazem parte das coisas imóveis
(artigo 204º/1/c e remissão para o artigo 408º/2 — pode acontecer em certos
casos).

g. forma: artigo 219º.

Casos Práticos 30
2. Amândio troca as laranjas (futuras) por um automóvel de Constantino.

a. contrato atípico (troca ou permuta)— artigo 939º (aplicam-se as normas de


compra e venda).

b. artigo 874º.

c. efeitos: 879º — 2 efeitos obrigacionais e 1 real.

d. artigo 232º — manifestação da vontade.

e. definição de coisa e a sua classificação — artigo 202º e 203º.

f. objetos: laranjas (acima identificadas) e automóvel (coisa móvel— artigo


205º).

g. artigo 219º — forma.

h. só se fazia a troca no momento de colheita.

3. Amândio vende o pomar a Dimas.

a. artigo 874º.

b. efeitos: 879º — 2 efeitos obrigacionais e 1 real.

c. artigo 232º — manifestação da vontade.

d. definição de coisa e a sua classificação — artigo 202º e 203º.

e. classifica-se como coisa imóvel (pomar) — artigo 204º/1/c.

f. transferência do direito real dá se por mero efeito do contrato, artigo 408º/1


— princípio da consensualidade ou transferência consensual do contrato.

g. no que respeita às laranjas e ao pomar, tendo-se acima referido as laranjas


como um fruto natural que ainda não havia sido colhido, e portanto a
transferência desta só se dava no momento da colheita, nos termos do
artigo 408º/1 e, uma vez que a alínea c do artigo 404º/1, diz que são coisas
imóveis os frutos naturais que ainda se encontram ligados ao solo. Significa
que, no momento em que A vende o pomar a D, os frutos acompanharão o
pomar, caso não forem previamente colhidos. Caso assim seja, o
proprietário do pomar e das laranjas será o Dimas; Amândio responderá por
responsabilidade contratual por incumprimento do contrato com Belmiro e
Constantino.

Casos Práticos 31
Princípio nemo plus iuris: ninguém pode transmitir um direito que não tem ou
mais forte do que tem.
Exceção:

artigo 291º do CC em casos de anulabilidade.

leis do registo, quando o negócio é nulo.

Serve para proteger os 3ºs de boa fé.

sempre que temos um negócio jurídico sequencial é sempre o artigo 291º (A


—B—C).

Quando temos o mesmo transmitente a fazer os dois negócios usamos as


leis de registro, quando temos um “triângulo”.

Pressupostos do 291º:

1. O objeto da RJ é uma coisa imóvel, ou móvel sujeito a registro (como um


carro).

2. não prejudicar direitos adquiridos sobre o mesmo bem.

3. a título oneroso.

4. terceiro de boa-fé, aquele que desconhecia no momento da aquisição, sem


culpa, do vício do negócio jurídico anterior.

Em 07/11/2000, Amâncio vendeu a Berto um terreno de cultivo, pelo preço de


EUR: 150.000,00, que Berto pagou na totalidade.

1. Por acordo entre ambos, o contrato de compra e venda foi celebrado por
documento particular. Quid iuris?

a. A — B (contrato de compra e venda).

b. classificação das coisas: artigo 202º + 203º + 204º/1/a.

c. contrato de compra e venda (artigo 874º) + efeitos (artigo 879º) +


vontades (232º).

d. transferência do direito real dá se por mero efeito do contrato, artigo


408º/1 — princípio da consensualidade ou transferência consensual do
contrato — não é regulado por este artigo, ou seja, rege-se pelo artigo
875º (dispõe de forma específica).

Casos Práticos 32
e. A forma não é específica, fazendo com que este contrato seja nulo — a
nulidade não produz efeitos jurídicos e não produz a transferência de
direito de propriedade — Artigo 220º (inobservância da forma legal) +
219º.

f. no caso concreto trata-se de um ccv de coisa imóvel; O artigo 875º diz


que deve ser celebrado através de escritura pública ou documento
particular autenticado, o que não se sucedeu, visto que o enunciado diz-
nos que o A e o B celebram por meio de documento particular. Assim,
não sendo cumprida a forma legalmente exigida, o negócio é nulo —
nos termos do artigo 220º. Sendo o negócio nulo, tal como diz o artigo
286º não se produzem efeitos jurídicos volitivos-finais do contrato (não
se verifica o artigo 879º e 408º), ou seja, nem ocorre a transferência de
direito de propriedade. A nulidade é invocável a todo o tempo, por
qualquer interessado, ou oficiosamente pelo tribunal, sendo insanável. A
ação de nulidade terá uma sentença declarativa com efeitos restitutivos
das eventuais prestações de facto ocorridas.

2. Em 10/12/2000, Berto consegue vender o terreno a Carlos que o regista,


sem se ter apercebido do que havia sucedido. Em Janeiro de 2004, Amâncio
exige a restituição do terreno. Quid iuris?

a. B — C (ccv).

b. classificação das coisas: artigo 202º + 203º + 204º/1/a.

c. contrato de compra e venda (artigo 874º) + efeitos (artigo 879º) +


vontades (232º).

d. como não diz nada, pressupõem-se que a forma está devidamente


cumprida (875º).

e. o negócio não é válido — trata-se de venda de coisa alheia (892º).

f. sendo um negócio nulo (de A e B), princípio nemo plus iuris, B não podia
vender algo que não era seu, assim, o negócio entre B e C é também
nulo, este não produz efeitos jurídicos (efeitos do artigo 879º/a/b/c), C
nada adquire exceto o direito de oponibilidade relativo (291º) — se os
pressupostos se verificarem.

i. (é coisa imóvel + a título oneroso + terceiro de boa-fé + o registo de


aquisição for antes do registo de ação de nulidade).

Casos Práticos 33
g. a ação de nulidade pode ser proposta a todo o tempo, tal como diz o
artigo 286º. A sentença de nulidade será declarativa e produzirá apenas
efeitos restitutivos. Todavia, o C estará protegido da ação de nulidade de
A, designadamente se for terceiro de boa-fé (291º), desde que estejam
protegidos os seus pressupostos.

i. Temos que estar perante bens imóveis ou móveis sujeitos a registo


— o pressuposto está preenchido, visto que é uma coisa imóvel.

ii. Devem existir incompatíveis sobre o mesmo bem: no caso concreto,


há o direito de propriedade de A (1302º + 1305º) e o direito de
oponibilidade relativa de C (892º — parte final).

iii. o terceiro de boa fé tem de ter adquirido o direito a título oneroso: é


feito a ccv, em que há a obrigação de pagar o preço (879º).

iv. o terceiro tem de estar a boa fé— tem de estar de boa fé, para
efeitos do 291º/3, aquele que desconhece sem culpa o vício do
negócio nulo.

v. o registo da aquisição do terceiro tem de ser anterior ao registo da


ação de nulidade: o C assim que adquiriu o imóvel o registou —
pressuposto cumprido.

vi. tem que ter decorrido 3 anos, sobre a data do 1º negócio sem que a
ação de nulidade tenha sido proposta: 1º negócio em 2000 e 1ª
ação proposta em 2004º, ou seja, passaram 3 anos.

O C encontra-se protegido pelo artigo 291º, o que significa que o seu


direito de oponibilidade relativa se transformou por força de aplicação do
291º, num direito de propriedade absoluto com eficácia erga omnes.
Trata-se de uma exceção ao princípio nemo plus iuris e uma aquisição
originária a non dominus por força da lei.

3. Considere, agora, que, tendo sido celebrada escritura pública, Amâncio só


vendeu o terreno a Berto porque este exerceu sobre aquele cocção moral,
situação que cessou no mês de Maio de 2005. Em 9/12/2005, Amâncio
pretende reaver o terreno vendido. Quid iuris?

a. artigos 255º + 256º — é anulável. B é proprietário a título provisório.

b. Todavia, este negócio é anulável, visto que A exerceu coação moral


sobre B (255º), sendo que a coação tem como consequência a
anulabilidade — o contrato produz efeitos provisórios, ou seja, todos os

Casos Práticos 34
efeitos previstos no artigo 879º/a/b/c + 408º vão produzir os seus efeitos
provisoriamente.

c. Isto significa, que a coação pode ser invocável pelo A no prazo de 1 ano
a contar desde a cessação do vício (287º). A anulabilidade é sanável
mediante validação subjetiva e mediante confirmação expressa ou tácita
do sujeito.

d. Convalidação objetiva, pelo mero decurso do prazo da prepositura ação.

e. A sentença para a ação da anulabilidade é constitutiva porque vem


alterar a ordem jurídica (289º) e produz efeitos restitutivos e retroativos,
porque o direito de propriedade regressa à esfera de A e há uma
restituição de todas as prestações que foram feitas.

4. A solução seria a mesma se, em Maio de 2001, Berto tivesse vendido o


aludido terreno a Carlos que o registou de imediato, desconhecendo as
irregularidades anteriores?

a. 291º — nemo plus iuris. Acontece que o A, porventura, poderá propor a


ação de nulidade, sendo que C poderá ser um terceiro de boa fé — para
efeitos do 291º, se estiverem preenchidos os pressupostos.

b. direito de propriedade definitivo (A) + direito de propriedade provisória


(C) — conflito de direitos.

c. negócio a título oneroso (cumprido) + terceiro de boa fé + registo da


aquisição + decorridos 3 anos — pressupostos cumpridos.

d. C está protegido pelo 291º e o pelo direito de propriedade a título


provisório, que se torna o direito de propriedade a título definitivo. Houve
uma aquisição derivada do ad dominus, ou seja, verifica-se uma
exceção do princípio nemo plus iuris.

5. A solução de b) seria a mesma se Berto tivesse doado o terreno a Carlos?

a. não, os pressupostos do 291º não se cumpriam — o negócio era de


coisa alheia.

b. C não ficava protegido — a ação teria efeitos restitutivos e retroativos.

Características da nulidade:

sem dependência de tempo.

Casos Práticos 35
Características da anulabilidade:

tem um ano a contar da cessação do vício.

Em Janeiro de 2000, A doou a B um automóvel porque B o convenceu de que


era filho de um grande seu amigo, o que não era verdade. B, assim que se viu
na titularidade do automóvel vendeu-o a C, que suspeitava que B o tinha
adquirido de modo irregular. Contudo, não se importando com isso, comprou-o e
registou a sua aquisição. Passados quatro anos, A descobre que B não era filho
do seu amigo e quer recuperar o automóvel. Poderá fazê-lo?

artigo 940º + 954º + 947º.

se não cumprir o negócio, este é nulo — 220º.

957º + 408º.

negócio atípico: 939º — aplica-se as normas de compra e venda.

253º (dolo).

287º + 288º + 289º.

anulabilidade é sanável— o negócio pode tornar-se válido, por confirmação


subjetiva (expressa ou tácita) ou objetiva (mero decurso do prazo).

Se A doou a B por influência de Dolo, o negócio é anulável, mas B ainda é o


proprietário
(a nível provisório).

objeto: 202º + 203º + 205º — liberdade de forma (219º).

874º + 879º —> 408º.

princípio nemo plus iuris: não podemos transmitir mais do que temos —
apenas a nível provisório, neste caso concreto.

C não poderia adquirir um direito mais forte do que B tinha, assim é


proprietário a título provisório.

A deve propor uma ação de anulabilidade — tem 1 anos após a descoberta


do vício, ou seja, ate janeiro de 2005.

Todavia, C fica protegido, nos termos do artigo 291º, desde que estejam
preenchidos todos os pressupostos.

1 - bem móvel ou imóvel sujeito a registro — preenchido.

Casos Práticos 36
2 - direitos incompatíveis — direito de propriedade de A e direito de propriedade
a título provisório de C (preenchido).
3 - adquirido a título oneroso — CCV, com efeitos de pagamento de um preço
(879º).
4 - terceiro de boa-fé — é considerado terceiro de boa fé aquele que
desconhecia sem culpa. Este não está preenchido, pois C suspeitava que B
tinha adquirido a nível irregular.
5 - registo de aquisição anterior à proposição de anulabilidade— preenchido.
6 - corridos 3 anos após a data do primeiro negócio — preenchido.

o vício cessou em 2004 — tenho um ano para propor a ação (287º).

B, neste caso, não está protegido, pois não era terceiro de boa fé — com
efeitos restituitivos e retroativos.

Nota: ver registro predial — artigos 1º + 2º + 3º + 4º + 5º + 6º +7º.

A, dono de um pinhal frondoso, vende-o a B, emigrante em França, que não


regista a sua aquisição. Entretanto C negoceia com A a aquisição do terreno, o
que vem a fazer por contrato de compra e venda celebrado por escritura pública,
fazendo, de imediato, o respectivo registo predial e tomando posse do aludido
terreno. B, quando regressa de férias a Portugal, apercebe se que C está a
cortar algumas árvores e a arranjar a vedação do terreno.

1. B exige de C a restituição do terreno. Quid iuris?

Entre A e B há um CCV (874º), alguém dispõe de uma coisa e há a sua


transmissão dessa mediante o pagamento de um preço.

contrato de compra e venda (artigo 874º) + efeitos (artigo 879º) +


vontades (232º).

definição de coisa e a sua classificação — artigo 202º e 203º —


204º/1/a.

forma: 219º ou 875º — sob pena de nulidade (220º).

o negócio parece ser válido — o proprietário é B.

De acordo com a regra, a transferência do direito de propriedade dá-se


por mero efeito de contrato.

Casos Práticos 37
Sucede que B não regista, e A vende a C— outro CCV, com os critérios
já mencionados.

Todavia, o negócio entre A e C é venda de coisa alheia (892º), sendo


que o C poderá adquirir um direito à oponibilidade relativa, caso esteja
de Boa fé.

O B não tinha registado a sua aquisição, sendo que nos diz o artigo 1º
do CRegP, que o registo serve apenas para publicidade e não tem efeito
constitutivo, tendo em vista apenas a segurança jurídica.

Todavia, é verdade que esta transmissão de direito de propriedade


carecia de ser registrada, tal como nos diz o artigo 2º/1/a do mesmo
diploma. Enquanto não for registado, produz apenas efeitos inter partes
(artigo 4º), sendo que só produzirá efeitos erga omnes a partir do
momento em que ocorrer esse registo (5º/1). Isto significa que o
contrato entre A e B é válido, que o proprietário é B e este não o
registou (não produz efeitos erga omnes).

Parece então, que quando A vende a C passa a ser um terceiro — para


efeitos do registo, visto que adquiriram do mesmo alguém (direitos
incompatíveis). O B tem direito de propriedade e o C tem o direito de
oponibilidade relativa.

Todavia, para que C fique protegido, deve ser de boa fé (parece ser),
no artigo 7º diz que se presume que o titular do direito é aquele que
aparece inscrito no registo. No caso concreto, seria A a aparecer, visto
que B não havia registado. C seria, portanto, um terceiro de boa-fé para
efeitos de registo. Como C regista, o artigo 6º estabelece que o princípio
da prevalência do direito inscrito em 1º lugar.

Significa que C passa a ser protegido pelas leis do registo — trata-se de


uma aquisição tabular a non domino, através das leis do registo.

2. A solução seria a mesma se C soubesse que o terreno já havia sido vendido


a B?

não seria mesma, porque, embora o artigo 7º fale da presunção do


registo, a verdade é que o C já sabia que o registo não se encontrava
em conformidade com a realidade concreta. O A já não é o proprietário,
mas sim B.

3. Considere, agora, que A vende a B o terreno, por escritura pública, e que


este não regista. Dois meses após a aquisição, C, no âmbito de um

Casos Práticos 38
processo executivo proposto contra A, verifica no registo predial que o
terreno está ali inscrito na titularidade de A e penhora o referido terreno,
efetivando-se, de imediato, o respectivo registo predial. B considera-se o
legítimo dono do terreno e entende reagir contra a penhora. Quid iuris?

existem transmitentes diferentes.

negócio entre A e B é válido, mas apenas opera interpartes por falta de


registo.

António, coação moral, vende a Bernardo a sua vivenda de férias. Bernardo procede
de imediato ao respetivo registo. Meses mais tarde, Bernardo vende-a a Carlos que
desconhecia o ocorrido entre António e Bernardo, mas que não regista a sua
aquisição. Bernardo, verificando que continua a figurar no registo como o
proprietário da vivenda, volta a vendê-la a Daniel que conhecia a forma como
Bernardo a adquirira, mas ignorava a venda anterior. Daniel regista a sua aquisição.

1. Quem é, atualmente, o proprietário do bem?


A — CCV— B — C
—B—D

Antes da ação, o proprietário é Daniel.


Negócio entre A e B:

artigos 874º + 879º + 232º + 202º + 203º + 204º/7/a + 875º + 408º/1 + 255º +
256º+ 287º + 288º + 289º.

B é titular provisório — nemo plus iuris.


Negócio entre B e C:

C é titular provisório — C não regista, o registo é para a publicidade, não


tem componente constitutiva.

artigo 1º + 2º do CRegPred.

Negócio entre B e D:

venda de coisa alheia.

artigo 874º + 892º.

Todavia, é verdade que esta transmissão de direito de propriedade carecia


de ser registrada, tal como nos diz o artigo 2º/1/a do CRegPred. Enquanto
não for registado, produz apenas efeitos inter partes (artigo 4º), sendo que

Casos Práticos 39
só produzirá efeitos erga omnes a partir do momento em que ocorrer esse
registo (5º/1). Isto significa que o contrato entre B e D é válido.

Parece então, que quando B vende a D, este passa a ser um terceiro —


para efeitos do registo, visto que C e D adquiriram o mesmo bem (direitos
incompatíveis).

D está de boa fé, pelo que fica protegido — no artigo 7º diz que se presume
que o titular do direito é aquele que aparece inscrito no registo → trata-se de
uma aquisição tabular a non domino, através das leis do registo.

291º — desde que estejam preenchidos todos os pressupostos.

alínea a: cumprida.

alínea b: cumprida.

alínea c: cumprida.

879º — D sabia a forma como B adquiriu o imóvel.

O registo de aquisição tem de ser anterior, antes de o A propor a ação, e o deve


ter decorrido mais de três anos do ocorrido — O enunciado não diz nada.

2. Imagine que António, cessando a coação moral, tenta recuperar a vivenda. Quid
iuris?(Frequência de 20/01/2003).

A tem o prazo de um ano para a própria ação de anulabilidade, a contar da data


de cessação do vício, sendo que D poderá ser considerado um terceiro, para
termos do artigo 291º, desde que estejam preenchidos todos os pressupostos:

é um bem imóvel (204º/1/a).

direitos incompatíveis sobre o mesmo bem: direito de personalidade a título


pleno de A (1302º e 1305º) e o direito de propriedade a título provisório de
D.

o contrato é um contrato a título onerosos visto que um dos efeitos do


contrato é o pagamento de um preço, nos termos do 879º/c.

D terá de ser um terceiro de boa fé, para efeitos do 291º, isto é, tem de
desconhecer sem culpa o vício do primeiro negócio. Neste caso, não está
preenchido, pois o enunciado diz que Daniel conhece a forma como o B
tinha adquirido. D não é terceiro de boa fé.

o registro tinha de ser anterior à proposta de boa fé.

Casos Práticos 40
tem de ter decorrido mais de 3 anos desde a data do primeiro negócio. O
enunciado não diz nada, então presume-se que esteja verificado.

Como um dos pressupostos não está preenchido, D não é um terceiro de


boa fé nos termos do 291º, não se verifica uma exceção ao princípio nemo
plus iuris (mencionar sempre esta exceção nos casos, a RC é exceção ao
princípio casum sensit dominus). A tem procedência na ação, logo, a ação
de A terá efeitos restitutivos e retroativos, o direito de propriedade regressa
à esfera de A a título pleno, como se de lá nunca tivesse saído. A ação tem
efeitos constitutivos porque altera a ordem jurídica.

A vende a B um terreno para construção por mero documento particular. B vende o


terreno a C sob uma condição impossível. A propõe a ação de nulidade e C invoca,
em seu favor, o disposto no artigo 291.º. Quid iuris?
A—B—C

874º + 879º + 232º + 202º + 203º + 204º + 875º + 408º/1 + 255º + 256º+ 287º +
288º + 289º.

condição impossível: contrária à ordem pública → artigo 280º, torna o negócio


nulo.

a nulidade deste caso, vai para além da venda de coisa alheia, tem uma
“condição impossível” → nulidade autónoma.

Não se aplica o artigo 291º — B não está protegido.

1. A vende a B um terreno para construção que era de C. Poderá B invocar a seu


favor a proteção conferida pela norma do artigo 291.º?

A vende a B um terreno de C; é venda de coisa alheia (892º); C não fica


protegido e aqui não há terceiros.

Em Janeiro de 2007, António doou, sob coação moral, a sua moradia de férias a
Bento, o qual registou o seu ato aquisitivo. Em Abril de 2010, Bento arrendou a
moradia a Carlos para o período referente ao mês de Agosto. Contudo, como mais
tarde Dário lhe ofereceu o dobro da renda, Bento voltou a arrendar a moradia a
Dário, para o mesmo período. Todos os contratos foram celebrados sob a forma
legalmente prescrita.

1. Diga quem e em que termos é titular de direitos sobre o imóvel.

Casos Práticos 41
Artigo 1022º + 140º + 232º + 940º + 954º + 947º + 220º + 287º + 288º +289º+
408º/1.

B arrenda o imóvel a C: contrato de locação (1022º, que se diz


arrendamento nos termos de 1023º, visto que é a locação de um imóvel). O
contrato de arrendamento deve respeitar a forma (1069º — remissão para o
1023º). O contrato de arrendamento constitui direitos pessoais de gozo, não
tem efeitos reais (não se transfere o direito de proprietário, apenas se
transferem obrigações), constituem-se apenas direitos pessoais de gozo, ou
seja, apenas direitos relativos que conferem a posse de um imóvel através
de contrato meramente obrigacional (cabe a uma das partes ainda pagar o
preço do arrendamento).

B arrenda o mesmo imóvel ao D: aqui trata-se de um direito de gozo,


apenas há direitos relativos que conferem a posse de um imóvel através de
contrato meramente obrigacional (cabe a uma das partes pagar o preço do
arrendamento).

B arrenda o mesmo imóvel ao D: aqui trata-se de um direito de gozo, por


isso não podemos arrendar o mesmo imóvel a duas pessoas. Aqui não
fazemos o triângulo por não haver transferência de direitos reais e, por isso,
não é obrigatório o registo (exceto o arrendamento à mais de 6 anos).
Todavia, há uma norma do CC que responde ao problema, o artigo 407º, e
prevalece aquele que celebrou o contrato em primeiro lugar.

Remissão de 1023º → 407º + 2º/1/m do Cregp.

2. Se os arrendamentos tivessem sido celebrados por um período de sete anos e


apenas Dário tivesse registado o seu contrato, diga fundamentadamente se a
resposta à alínea anterior seria a mesma.

a. Artigo 2º/1/m do Cregp, é obrigatório o registro. O artigo 1º apenas serve


para dar publicidade.

b. Artigo 4º + 5º/1/4.

c. C registra em primeiro lugar (artigo 6º) — é dele o direito pessoal de gozo


que prevalece.

3. Imagine, agora, que, em vez dos dois arrendamentos, Bento realizou duas
vendas. Considere, ainda, que apenas Dário registou a sua aquisição e que,
apesar de conhecer a venda celebrada entre Bento e Carlos ignorava o que se

Casos Práticos 42
passara entre António e Bento. Cessando a coação moral em Dezembro de
2010, António tenta recuperar a moradia. Quid iuris?

A vende a B: venda de coisa alheia.

D sabia a venda entre B e C. C sabia que B já não era proprietário, por isso não
é terceiro de boa fé, para efeitos do registro, porque embora as presunções do
registro, ele sabia que o registro não estava de acordo com a realidade jurídica.
O direito de C prevalece porque o registro não tem efeitos constitutivos. O direito
de D extingue-se. Temos uma sequência — 291º.

coisa imóvel: 2014º/1/a.

direitos incompatíveis: direito de propriedade e de direito de propriedade a título


provisório.

oneroso: compra e venda.

desconhecer sem culpa o vício do primeiro negócio: nada é dito, por isso
presume-se que desconhece.

C não registou, por isso o pressuposto do registro não está preenchido.

os três anos tinham passado.

Falha um dos pressupostos. A ação de A é procedente, e terá efeitos restitutivos


e retroativos — a sentença é constitutiva. A passa a ser proprietário pleno de
imóvel.

Nota: 1023º + 407º + 2º/1/m do CRegPred.

Direitos de personalidade (professor Capelo de Sousa):

especificar no artigo 70º e ss.

dupla proteção:

proteger de uma ofensa e proteger de uma ameaça de ofensa (ofensa


ilícita).

meios de reação:

responsabilidade civil.

providências cíveis adequadas: remédio (ameaça por ocorrer) ou


preventivas (ofensa já cometida).

limites: 81º CC.

Casos Práticos 43
legitimidade: quem pode pedir a tutela dos direitos de personalidade? — o
próprio e os herdeiros.

alguns casos: morte — alguns direitos de personalidade perduram após a


morte.

O bar ZIX situado numa zona residencial de Albufeira produz e/ou reproduz som
musical diariamente até às 4H00 da madrugada. Bernardo, que habita o 1.º andar
de um prédio que dista 100 metros do local onde o bar está instalado, alega que:
ouve o som emitido pelo aludido bar dentro de sua casa; mesmo de portas e janelas
fechadas, consegue ouvir o som produzido por um batuque; o som impede-o de
estar em casa sossegada e tranquilamente com familiares e amigos e de ver
televisão, ler e trabalhar, assim como o impediu de conciliar o sono; tal som tem-lhe
causado insónias, desgaste físico e intelectual e irritabilidade. A faturação anual do
bar é de € 1.000.000.
Considere que é contactado por Bernardo. Quid iuris? (Adaptado do ac. do STJ de
17.01.2002, Rev. 4140/01, in Cadernos de Direito Privado n.º 12, Outubro/Dezembro
2005,pp. 13 a 20).

estamos perante um caso de direitos de personalidade, que ,de acordo com a


definição de Capelo de Sousa, são direitos subjetivos, privados, absolutos,
gerais, extrapatrimoniais, inatos perpétuos, intransmissíveis, relativamente
indisponíveis, que tem por objeto os bens e as manifestações interiores da
pessoa humana, cuja proteção visa garantir a tutela da integridade e do
desenvolvimento físico e moral dos indivíduos. Nessa medida, estes direitos
obrigam todos os sujeitos, por um lado a absterem-se de praticar, e por outro a
deixar de praticar atos que ofendam ou possam ofender a personalidade alheia,
sob pena de incorrerem em responsabilidade civil ou em providências cíveis
adequadas, a evitar a ameaça ou a atenuar os efeitos da ofensa já cometida. No
caso concreto, parece existir a ofensa a um direito de personalidade, que não
cabe no domínio dos direitos sociais, previstos nos artigos 72º a 80 º do CC.
Como aferi se está em causa o direito geral de personalidade, previsto no artigo
70º/1, que nos diz que a lei protege os indivíduos contra qualquer ofensa ilícita
ou ameaça de ofensa à sua personalidade físicia e moral. Pode estar em causa
o direito ao repouso, que lesa diretamente a saúde física e moral das pessoas.

os direitos de personalidade tem uma dupla proteção, porque protegem o


indivíduo contra uma ofensa ilícita ou ameaça de ofensa. Para o efeito, prevê
meios de reação (artigo 70º/2). Independentemente da responsabilidade civil,

Casos Práticos 44
impõem a adoção de providências cíveis adequadas à circunstância do caso,
com o fim de evitar a consumação da ameaça (providências preventivas), ou
para atenuar os efeitos da ofensa já cometida (providências de remédio). No
caso concreto, podia pedir a providência cível de remédio. Independentemente
das providências cíveis serem ordenadas, poderia pedir a atribuição de um
instituto da responsabilidade civil extracontratual por factos ilícitos, nos termos
do artigo 483º do CC, por violação dos direitos de personalidade.

Para isto, é necessário identificar os pressupostos da responsabilidade civil.


(TRATAR COMO RC)

no caso, o ofendido não limitou voluntariamente os seus direitos de


personalidade, sendo que apesar de não poder dispor deles, pode limitá-los, nos
termos do artigo 81º do CC. A legitimidade para requerer as providências cíveis
adequadas por remédio e a responsabilidade civil, cabia ao ofendido, nos
termos do 70º/2 do CC. No caso concreto, trata-se de uma ofensa ilícita já
cometida; e que merece a tutela do direito.

O juiz podia ordenar o encerramento do espaço.

Nestor, especialista em informática, cria um sítio da Internet em que expôs a


fotografia do rosto de Manuela, uma sua colega de trabalho, com o corpo nu de uma
outra mulher, afirmando tratar-se do verdadeiro corpo daquela. Tal facto afetou a
tranquilidade de Manuela, que se sentiu exposta, apesar do corpo nu não ser seu e
incomodada pelos comentários que lhe foram feitos, sentindo-se profundamente
afetada na sua honra e reputação. Quid iuris? (Adaptado do ac. do STJ, de
21.11.2002, processo 02B2966, in
www.dgsi.pt).

Introdução do caso anterior.

no caso concreto, cabe aos domínios dos direitos de personalidade em especial,


especialmente, o direito à imagem, previsto nos artigos 79º do CC, onde nos diz
que o retrato de uma pessoa não pode ser exposto, reproduzido ou lançado no
comércio sem o consentimento dela (direito da imagem tutela-se após a morte).
Assim, não pode haver divulgação sem consentimento. No 79º/2, diz que não há
necessidade de consentimento, em certas situações. No artigo 79º/3, as
exceções caem em certos momentos.

no caso concreto, a divulgação da imagem, lesava ainda o direito especial sobre


a reserva da intimidade da vida privada, visto que, nos termos do artigo 80º CC,
é protegido que alguém invada, por qualquer meio, o espaço da privacidade

Casos Práticos 45
alheia, e por outro lado, proíbe-se que alguém divulgue factos ocorridos na
intimidade da vida privada, nomeadamente, de Manuela.

Por ultimo, podíamos ainda equacionar a violação do dever geral de


personalidade, em virtude da publicação afetar a sua integridade moral (artigo
70º). FALAR DA DUPLA PROTEÇÃO. No caso concreto, temos uma ofensa
ilícita já cometida. Logo, Manuela, nos termos do artigo 70º/2, poderá requerer a
adoção de providências cíveis de remédio, que venham a atenuar a ofensa já
cometida e os efeitos desta. Como, por exemplo, ordenar apagar as fotos ou
confiscar o computador. Pode-se ainda invocar o instituto de responsabilidade
civil extracontratual de factos ilícitos. No caso concreto, a ofendida não limitou
voluntariamente os seus direitos de personalidade, apesar de poder dispor
deles, não os limitou. A proposta de providências cíveis cabe ao lesado (artigo
70º) Trata-se de uma ofensa ilícita.

Paloma, modelo célebre, celebra um contrato com uma estação de televisão,


através do qual, mediante retribuição, aquela se obriga a viver dentro de uma casa
rodeada de câmaras de filmar que irão transmitir em direto todos os seus atos. Para
além de Paloma, o programa conta com a participação de mais seis pessoas.
Considere que:

1. Uma semana após o programa ter começado a ser exibido ao público, Paloma
decide sair da casa e pretende opor-se à exibição de qualquer imagem sua.
Quid iuris?

a. Definir o que são direitos de personalidade — introdução anterior. Direito à


imagem, à reserva da intimidade da vida privada — 79º/1/2/ e desenvolver.
Falar da esfera privada e divulgar algum facto que tenha lá ocorrido. Falar
da dupla proteção, que não existia, pois ela tinha consentido. A partir do
momento que deixa de consentir, pode haver ameaça à ofensa.

b. Paloma podia pedir ao juiz a adoção de providências cíveis preventivas,


para evitar a ameaça, ou seja, impedir a transmissão de qualquer imagem
dela associada àquele programa e eliminar o conteúdo existente de Paloma.
No caso, não há responsabilidade civil, sem prejuízo de que se a ameaça se
concretizar (dano) vier a acontecer. Cabia a Paloma recorrer ao artigo 70º/2
. Limitação da personalidade: 81º do CC, sendo que os direitos de
personalidade são indisponíveis e irrenunciáveis; não podemos dispor deles,
apenas podemos consentir em limitações quanto ao seu exercício; isto
porque, o consentimento do titular dos direitos vem afastar a ilicitude da

Casos Práticos 46
ofensa. O consentimento para essa limitação esta previsto no 81º/1, sendo
que este consentimento é em todo o caso nulo, se for contrário à ordem
pública. O consentimento para ser válido e legal tem que ser esclarecido,
consciente, informado, devidamente ponderado, concreto, legal e não pode
ser deduzido de um comportamento anterior. No caso concreto, parece-nos
que o consentimento dela para a limitação dos direitos de imagem e sobre a
integridade física da vida privada é válida à luz do artigo referido. Todavia,
no artigo 81º/2 do CC, esta limitação é revogada a todo o tempo; o que foi
exatamente que Paloma fez, sem prejuízo da mesma ter de indemnizar
pelas legítimas expetativas que criou à outra parta.

c. Mencionar o pacta sunt servanda.

2. Aproveitando-se de tal facto, uma casa de diversão noturna adota a


denominação de, “Noites da Paloma”. Quid iuris?

3. Numa revista foram publicadas fotografias de Paloma sem qualquer roupa


vestida que foram tiradas enquanto esta estava no discreto jardim da casa dos
seus pais. Quid iuris? E se esta já tivesse falecido?

4. Em tempos, Paloma correspondeu-se com um famoso cantor brasileiro, com


quem mantinha uma relação extra conjugal e a quem remeteu diversas cartas
de amor, relatando diversos acontecimentos da sua vida privada. Quando este
faleceu, Paloma viu anunciado na imprensa que iria ser feito um leilão de todo o
espólio do cantor. Paloma pretende opor-se à publicação das cartas. Pode? E
se Paloma já tivesse falecido?

Casos Práticos 47

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