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Unidade curricular: Teoria Geral do Direito Civil I

Curso: Solicitadoria
Área/Subárea: Direito
Docente da unidade curricular: Ana Paula Sequeira
Semestre: 1º

Teste de Avaliação Contínua


(02/12/2021)
***

Grupo I
Resolva os seguintes casos práticos:
1. Em hora de ponta, com um intenso movimento de trânsito, António, sem querer, pisa o pé de
Bernardo que sofre de graves problemas arteriais e circulatórios. Em consequência da lesão e das
subsequentes complicações, é amputada a Bernardo uma perna. Bernardo pede uma indemnização
a António pelos danos causados. Quid Iuris?
(6,5 valores)

Critérios de correção:
- responsabilidade civil extra-contratual - pressupostos cumulativos - art. 483º CC:
. existência de um facto jurídico voluntário que consiste num comportamento (ação ou omissão) ou
conduta humana controlável pela vontade;
. existência de ilicitude, um juízo de censura sobre o facto jurídico voluntário e ilícito, por consistir na
infração de um dever jurídico, seja na violação de um direito subjetivo de outrem, seja de uma
norma destinada a proteger interesses alheios;
. a culpa, que também é um juízo de censura mas sob o ponto de vista subjetivo, que pode assumir a
forma de dolo (quando houve a intenção de provocar o facto danoso) ou negligência (quando não
existiu intenção);
. nexo de causalidade entre o facto ilícito e o dano, na medida em que aquele deve ser causa
adequada do dano, ou seja, a conduta deve ser, de acordo com circunstâncias normais, a adequada;

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- no caso prático em concreto: de facto, a pisadela violou ilicitamente o direito de Bernardo. O facto
é ilícito porque violou o direito à integridade física de Bernardo, que é um direito absoluto e de
personalidade, de acordo com o art. 70º, n.º 1 do CC;
- relativamente há culpa, apenas podemos classificar como negligência, uma vez que não houve
intenção da prática do facto ilícito;
- no que diz respeito ao dano, trata-se de um dano não patrimonial (amputação da perna de
Bernardo;
- quanto ao nexo de causalidade, entendemos que o facto ilícito (pisadela) e o dano (amputação da
perna) não estão ligados por um nexo de causalidade adequada, uma vez que em circunstâncias
normais, aquele facto não produzia aquele dano;
- como os pressupostos relativos á responsabilidade civil extra-contratual são cumulativos, António
não pode ser responsabilizado uma vez que não existe nexo de causalidade.

2. Tiago, com 17 anos de idade, comprou uma mota Harley Davidson por 30 mil Euros, gastando todo o
dinheiro que a sua avó lhe tinha deixado em testamento e escondeu-o na garagem de um amigo até
ao dia em que completou 18 anos de idade, por saber que os seus pais jamais concordariam com a
compra. No dia 29 de dezembro de 2017, dia do seu aniversário, Tiago apareceu em casa com a sua
mota nova, informando os pais tratar-se de uma prenda que decidiu oferecer antecipadamente a si
próprio. Tendo os pais ameaçado retirar-lhe a mesada se este não devolvesse a mota, Tiago
pretende reagir. Poderá a sua pretensão ser atendida?
(6,5 valores)

Critérios de correção:
- falta de capacidade de exercício dos menores (art. 123º CC);
- não enquadramento do negócio jurídico em nenhuma do art. 127º CC (considerando o tipo de bem
e o valor em causa não será admissível o sei enquadramento em «negócios jurídicos próprios da vida
corrente do menor»);
- anulabilidade do negócio jurídico por incapacidade de exercício de Tiago;
- legitimidade de Tiago para intentar ação de anulação da compra e venda até ao dia 29 de
dezembro de 2018 (art. 125º, n. º 1 b) CC);
- considerar a hipótese de Tiago ter usado de dolo com o fim de se passar por maior para a
celebração do contrato de compra e venda, e neste caso, não poderá invocar a anulabilidade (art.
126º CC).

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Grupo II

1. Analise a seguinte hipótese prática:

António e Benedita celebram um contrato de compra e venda de um imóvel, sito em Oeiras.

O negócio jurídico deverá ser regulado pelo Direito Público ou pelo Direito Privado? Fundamente.
(3,5 valores)

Critérios de correção:
- o negócio jurídico deverá ser regulado pelo Direito Privado, designadamente pelo Direito Civil (Direito
das Obrigações);
- breve referência ao objeto do Direito das Obrigações.

2. Comente criticamente o seguinte excerto:

1- «Constituir o núcleo fundamental do direito privado não significa ser todo o direito privado, mas
apenas o direito privado comum ou geral.
Historicamente o direito privado confunde-se com o direito civil, regendo este, sem restrições, todas as
relações jurídicas entre sujeitos privados. O desenvolvimento da sociedade. no decurso dos séculos, fez
surgir ou acentuou necessidades especificas de determinados sectores da vida dos homens. Daí que
fossem surgindo regras especiais para esses sectores particulares, estatuindo, para os domínios
respectivos, regimes diversos dos que se aplicam à generalidade das relações jurídico-privadas do
mesmo tipo.
Carlos Alberto da Mota Pinto, Teoria Geral do Direito Civil, 4ª Edição.
(3,5 valores)

Critérios de correção:
- abordagem à temática da relação de simbiose entre Direito Civil e Direito Privado;
- breve referência aos ramos do Direito Privado Comum e Especial.

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