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11/03/2024

5. O Empregador 5. 2. A empresa e o empregador

5. 1. A noção jurídica de empregador 5. 2. 1. Empresa, empresário, e o empregador

A designação “empregador” é “usada pelo legislador O empregador pode ser uma pessoa singular ou uma
para indicar a posição contratual daquela ou daquelas pessoa colectiva (i.e., uma sociedade comercial). A
pessoas que recebem a prestação de trabalho, e estão tendência vai neste último sentido.
obrigadas a pagar uma retribuição ao trabalhador”
(Fernandes, 2022, p. 454). Para AMF o CT “contém, no fundo, o regime jurídico do
trabalho na empresa”.
O estatuto do empregador pode definir-se como uma
posição de poder ou de autoridade – que é o reverso A empresa é “a organização ou complexo articulado de
da subordinação em que o trabalhador se coloca pelo meios produtivos”.
contrato de trabalho.

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Artigo 285.º
O empresário é o “promotor, titular e interessado directo Efeitos de transmissão de empresa ou estabelecimento
1 - Em caso de transmissão, por qualquer título, da titularidade de empresa, ou
da atividade a que aquele complexo se adequa estabelecimento ou ainda de parte de empresa ou estabelecimento que constitua
instrumentalmente”. uma unidade económica, transmitem-se para o adquirente a posição do
empregador nos contratos de trabalho dos respectivos trabalhadores, bem como
a responsabilidade pelo pagamento de coima aplicada pela prática de contra-
O empregador é o “adquirente da disponibilidade de ordenação laboral.
força de trabalho alheia, através do correspondente 2 - O disposto no número anterior é igualmente aplicável à transmissão, cessão
ou reversão da exploração de empresa, estabelecimento ou unidade económica,
contrato”. sendo solidariamente responsável, em caso de cessão ou reversão, quem
imediatamente antes tenha exercido a exploração.
5. 2. 2. A transmissão da empresa 3 - Com a transmissão constante dos n.os 1 ou 2, os trabalhadores transmitidos
ao adquirente mantêm todos os direitos contratuais e adquiridos,
nomeadamente retribuição, antiguidade, categoria profissional e conteúdo
No caso de haver transmissão de empresa – os contratos funcional e benefícios sociais adquiridos.
de trabalho também são “adquiridos” pelo novo titular – 4 - O disposto nos números anteriores não é aplicável em caso de trabalhador
que o transmitente, antes da transmissão, transfira para outro estabelecimento
artigo 285º/1 do CT. ou unidade económica, nos termos do disposto no artigo 194.º, mantendo-o ao
seu serviço, excepto no que respeita à responsabilidade do adquirente pelo
pagamento de coima aplicada pela prática de contra-ordenação laboral.

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5 - Considera-se unidade económica o conjunto de meios organizados que 10 - O disposto no presente artigo é aplicável a todas as situações de transmissão de
constitua uma unidade produtiva dotada de autonomia técnico-organizativa e empresa ou estabelecimento por adjudicação de contratação de serviços que se concretize
que mantenha identidade própria, com o objetivo de exercer uma atividade por concurso público ou por outro meio de seleção, no setor público e privado,
nomeadamente à adjudicação de fornecimento de serviços de vigilância, alimentação,
económica, principal ou acessória.
limpeza ou transportes, produzindo efeitos no momento da adjudicação.
6 - O transmitente responde solidariamente pelos créditos do trabalhador
11 - Constitui contraordenação muito grave:
emergentes do contrato de trabalho, da sua violação ou cessação, bem como a) A conduta do empregador com base em alegada transmissão da sua posição nos
pelos encargos sociais correspondentes, vencidos até à data da transmissão, contratos de trabalho com fundamento em transmissão da titularidade de empresa, ou
cessão ou reversão, durante os dois anos subsequentes a esta. estabelecimento ou de parte de empresa ou estabelecimento que constitua uma unidade
7 - A transmissão só pode ter lugar decorridos sete dias úteis após o termo do económica, ou em transmissão, cessão ou reversão da sua exploração, quando a mesma
prazo para a designação da comissão representativa, referido no n.º 6 do artigo não tenha ocorrido;
seguinte, se esta não tiver sido constituída, ou após o acordo ou o termo da b) A conduta do transmitente ou do adquirente que não reconheça ter havido transmissão
consulta a que se refere o n.º 4 do mesmo artigo. da posição daquele nos contratos de trabalho dos respetivos trabalhadores quando se
verifique a transmissão da titularidade de empresa, ou estabelecimento ou de parte de
8 - O transmitente deve informar o serviço com competência inspetiva do
empresa ou estabelecimento que constitua uma unidade económica, ou a transmissão,
ministério responsável pela área laboral:
cessão ou reversão da sua exploração.
a) Do conteúdo do contrato entre transmitente e adquirente, sem prejuízo do 12 - A decisão condenatória pela prática de contraordenação referida na alínea a) ou na
disposto nos artigos 412.º e 413.º, com as necessárias adaptações; alínea b) do número anterior deve declarar, respetivamente, que a posição do empregador
b) Havendo transmissão de uma unidade económica, de todos os elementos que nos contratos de trabalho dos trabalhadores não se transmitiu, ou que a mesma se
a constituam, nos termos do n.º 5. transmitiu.
9 - O disposto no número anterior aplica-se no caso de média ou grande empresa 13 - Constitui contraordenação grave a violação do disposto nos n.os 1, 2, 3, 7, 8 ou 9.
e, a pedido do serviço com competência inspetiva do ministério responsável pela 14 - Aos trabalhadores das empresas ou estabelecimentos transmitidos ao abrigo do
área laboral, no caso de micro ou pequena empresa. presente artigo aplica-se o disposto na alínea m) do n.º 1 do artigo 3.º e no artigo 498.º

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Assim, os contratos de trabalham não cessam nem sofrem Artigo 286.º-A


Direito de oposição do trabalhador
qualquer tipo de descontinuidade. Logo, os contratos de 1 - O trabalhador pode exercer o direito de oposição à transmissão da posição do
trabalho são transmitidos para o novo adquirente/titular empregador no seu contrato de trabalho em caso de transmissão, cessão ou
da empresa. reversão de empresa ou estabelecimento, ou de parte de empresa ou
estabelecimento que constitua uma unidade económica, nos termos dos n.os 1, 2
ou 10 do artigo 285.º, quando aquela possa causar-lhe prejuízo sério,
Se o transmitente tiver despedido algum trabalhador nomeadamente por manifesta falta de solvabilidade ou situação financeira difícil
do adquirente ou, ainda, se a política de organização do trabalho deste não lhe
ilegalmente, este tem direito à reintegração nos termos do merecer confiança.
artigo 389º/1/b do CT, independentemente da empresa ter 2 - A oposição do trabalhador prevista no número anterior obsta à transmissão da
um novo titular. A razão de ser desta solução funda-se no posição do empregador no seu contrato de trabalho, nos termos dos n.os 1, 2 ou
10 do artigo 285.º, mantendo-se o vínculo ao transmitente.
facto desse despedimento ser ilegal. Logo, o contrato de 3 - O trabalhador que exerça o direito de oposição deve informar o respetivo
trabalho considera-se em vigor no momento da empregador, por escrito, no prazo de cinco dias úteis após o termo do prazo para
a designação da comissão representativa, se esta não tiver sido constituída, ou
transmissão. após o acordo ou o termo da consulta a que se refere o n.º 4 do artigo 286.º,
mencionando a sua identificação, a atividade contratada e o fundamento da
Contudo, a doutrina alerta para a seguinte questão: Será oposição, de acordo com o n.º 1.
4 - Constitui contraordenação grave a violação do disposto no n.º 2.
possível falar de um direito de oposição do trabalhador?

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A resposta na lei portuguesa encontra- se no artigo 286-A


5. 2. 3. A dimensão da empresa
do CT.
O CT distingue vários tipos de empresas no seu artigo
Para AMF o artigo 286º-A do CT exprime, assim certa
100º. Assim, o legislador distingue entre
desvalorização do caracter coletivo do fenómeno da
microempresas que empregam menos de 10
transmissão do estabelecimento, ao admitir uma
trabalhadores; pequenas empresas que empregam de
verdadeira oposição individual a sub-rogação. No entanto,
10 a menos de 50 trabalhadores; médias empresas que
o facto do trabalhador só poder exprimir-se em casos
empregam de 50 a menos de 250 trabalhadores; e
extremos mostra que, mais do que uma orientação de
grandes empresas que empregam 250 ou mais
respeito pela liberdade de trabalho (…), o regime do
trabalhadores. Esta distinção é relevante porque há
direito de oposição se destina a atuar sobretudo na
preceitos específicos para as microempresas, que
prevenção da fraude à lei ou de quebras excessivas do
representam mais de 80% do tecido empresarial
originário equilíbrio contratual” (2022, p. 466).
português e empregam quase 30% da mão de obra
assalariada em Portugal.

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Assim, é aplicável às microempresas o seguinte


quadro normativo: Há ainda a dispensa de determinados procedimentos
no âmbito do despedimento coletivo. Ver o nº 4 do
i) Normas que reforçam os poderes patronais de artigo 346º do CT.
gestão da força de trabalho, visando salvaguardar
a operacionalidade da microempresa. Por iii) Normas que atendem ao fator relacional, isto é, à
exemplo: a entidade patronal não está sujeita aos particular intensidade do laço pessoal estabelecido
limites constantes do nº 3 do artigo 241º do CT em entre os sujeitos do contrato de trabalho nas
termos de marcação de férias, e pode opor-se a microempresas.
licença sem retribuição nos termos da alínea d) do
nº 3 do artigo 317º do CT. Aqui estamos perante a hipótese do empregador
exercer a sua faculdade de opor-se à reintegração do
ii) Normas que simplificam ou dispensam certo tipo trabalhador que foi ilegalmente despedido. Ver o nº 1
de procedimentos, quando se trate de do artigo 392º do CT.
microempresas. Por exemplo: o aligeiramento do
processo disciplinar. Ver o artigo 358º do CT.
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5. 3. Os poderes do empregador
Dentro do género de actividades comprometidos
5. 3. 1. O problema pelo trabalhador e tendo em conta a organização da
empresa, o empregador pode definir a concreta
A posição jurídica do empregador encerra os função ou o conjunto de tarefas que caracterizam o
seguintes poderes: posto de trabalho a ocupar. Está-se no domínio da
determinação do objecto do contrato.
- Um poder determinativo da função;
- Um poder conformativo da prestação; Segundo o nº 1 do artigo 118º do CT o empregador
- Um poder regulamentar; deve atribuir a cada trabalhador no âmbito da
- Um poder disciplinar. referida actividade, as funções mais adequadas as
suas aptidões e qualificação profissional. É uma
5. 3. 2. O poder determinativo da função norma que tem uma natureza recomendativa.

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O regulamento interno.
5. 3. 3. O poder conformativo da prestação
O poder regulamentar reconhecido pelo artigo 99º
O poder de definir as modalidades concretas que a do CT refere a organização e disciplina do trabalho.
actividade do trabalhador deve assumir para que a
execução do contrato se ajuste as finalidades com Para além dos regulamentos internos, a doutrina
que foi celebrado. Ver os artigos 97º e 116º do CT. alude às ordens de serviço, comunicações ou
instruções de serviço.
5. 3. 4. O poder regulamentar
5. 3. 5. O poder disciplinar
As regras que são estabelecidas por meio de um
instrumento único, dotado de aplicabilidade genérica O poder em questão consiste na faculdade atribuída
aos elementos que constituem a organização. ao empregador, de aplicar internamente, sanções aos
trabalhadores cuja conduta conflitue com os padrões

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O Prof. João Leal Amado utiliza a expressão “poder


de comportamento definidos pela empresa ou se punitivo privado”, através do qual um dos sujeitos do
mostre inadequado à correcta efectivação do contrato de trabalho pode castigar o outro contraente,
contrato. caso entenda que este cometeu uma infração disciplinar.

Diz-se então que ocorreu uma infracção disciplinar. O A sanção disciplinar tem um objeto conservatório e
CT oferece tipos avulsos de infracções – ver o intimidatório, i.e., o de manter o comportamento do
exemplo constante do artigo 256º/2 do CT. trabalhador no sentido adequado ao interesse da
empresa.
O dador de trabalho dispõe da singular faculdade de
reagir, por via punitiva e não meramente reparatória
ou compensatória, à conduta censurável do
trabalhador, no âmbito da empresa e na
permanência do contrato.

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Há um elenco legal de sanções ou «arsenal


sancionatório» à disposição do empregador que vai A aplicação das sanções está sujeito ao principio da
desde a repreensão ao despedimento imediato sem proporcionalidade (nº 1 do artigo 330º do CT) e o
qualquer indemnização – ver o nº 1 do artigo 328º do princípio do contraditório (nº 6 do artigo 329º do CT).
CT.
O direito de exercer o poder disciplinar prescreve um
O nº 2 do artigo 328º do CT refere que os ano após a prática da infração (ver o nº 1 do artigo
instrumentos de regulamentação coletiva de trabalho 329º do CT).
(por exemplo: os CCT) podem prever outras sanções
disciplinares. O exercício do poder disciplinar está sujeito a
controlo jurisdicional a posteriori – ver o artigo
As sanções são aplicadas no final de um procedimento 329º/7 do CT. Por outras palavras, o poder disciplinar
disciplinar – ver o artigo 329º do CT. patronal é judicialmente sindicável.

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5. 4. Os deveres acessórios do empregador


5. 4. 2. Deveres de cuidado e de prevenção
5. 4. 1. Dever de respeito, urbanidade e probidade
Cabe ao empregador assegurar as condições de higiene,
À semelhança do trabalhador, o empregador deve, nas saúde e de segurança do local de trabalho. “Ao criar,
palavras de AMF, “comportar-se, no seu relacionamento organizar e dirigir a empresa, o empregador cria riscos.
pessoal com o trabalhador de modo adequado à Não apenas o risco económico do negócio, mas também
manutenção de um bom ambiente de trabalho”. Deve riscos para a segurança das pessoas que vão estar
“respeitar e tratar o trabalhador com urbanidade e integradas no processo produtivo”. Perante este facto, a
probidade” - artigo 127º/nº 1, alínea a) do CT. O lei atribui ao empregador a obrigação de organizar e por
empregador é responsável pela criação de “boas condições em prática as medidas adequadas à prevenção dos riscos
de trabalho, do ponto vista físico e moral” (alínea c). Por profissionais. Estes abrangem os riscos que podem
último, nos termos do artigo 127º, nº 1, alínea a) do CT, o originar acidentes de trabalho ou doenças físicas e
assédio é incluído entre as possíveis violações do dever de incluem os chamados riscos psicossociais. Ver os artigo
respeito por parte do empregador. 127º/1/c, d, g, h e i do CT.

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5. 4. 2. A cooperação creditória e o dever de ocupação Para além destas, o trabalhador tem o direito de ser
efetiva efectivamente ocupado e não ser deixado inativo.

A execução do contrato implica, da parte do A inatividade constitui um fator de desvalorização pessoal e


empregador, o fornecimento das condições materiais profissional para o trabalhador. O empregador está proibido
indispensáveis ao exercício da atividade prometida pelo de “obstar, injustificadamente, à prestação efetiva de
trabalhador. Incluem-se aqui a definição da categoria e trabalho”. Ver o artigo 129º/1/b do CT.
da função a exercer, do local e do tempo de trabalho; e
ainda o fornecimento das matérias primas, 5. 4. 3. O dever de formação contínua
instrumentos e máquinas necessárias à laboração.
O artigo 127º/1/d do CT atribui ao empregador o dever de
A cooperação do empregador traduz-se na oferta das “contribuir para a elevação do nível de produtividade e
condições materiais e organizatórias. empregabilidade do trabalhador, nomeadamente
proporcionando-lhe formação profissional adequada a
desenvolver a sua qualificação”.
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Esta obrigação é retomada nos artigos 131º e seguintes do Para além disso, cabe ao empregador elaborar um plano
CT onde se desenvolvem as responsabilidades do de formação anual ou plurianual dos seus trabalhadores
empregador em matéria de formação continua dos atenta às necessidades de qualificação dos mesmos e
trabalhadores ao seu serviço. mediante informação e consulta a cada um dos
trabalhadores envolvidos, sem prejuízo da comissão de
O empregador é nas palavras do Prof. António Monteiro trabalhadores. Ver os artigos 13º e 14º do DL nº 105/2009,
Fernandes “incorporado no “sistema de formação de 14/9.
profissional”, em que o Estado ocupa uma posição de relevo,
como agente de formação contínua, destinada ao Por ultimo, AMF chama a atenção para o facto de que do
desenvolvimento das qualificações dos trabalhadores. Nesse tempo de formação exigidos pela lei podem ser deduzidos
papel, cabem-lhe obrigações recortadas com certo vigor, os períodos de dispensa para frequência de aulas e de
como a de assegurar formação, anualmente, a um mínimo faltas para os exames por parte de trabalhadores-
de 10% dos trabalhadores da empresa e a de garantir a cada estudantes, assim como o tempo gasto em processos de
um deles um mínimo de 40 horas anuais de formação reconhecimento, validação e certificação de competências
certificada” (artigo 131º/ 2 a 5 do CT). – ver o artigo 131º/4 do CT.

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