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4. O trabalhador
Para AMF “a posição do trabalhador na
organização em que se integra pelo contrato
4. 1. A noção jurídica de “trabalhador”
define-se a partir daquilo que lhe cabe fazer, isto é,
pelo “conjunto de serviços e tarefas que formam o
A pessoa que, nos termos do artigo 11º do CT “se
objecto da prestação de trabalho” e que se
obriga, mediante retribuição, a prestar a sua
determina a partir da actividade contratada com o
actividade a outra ou outras pessoas, no âmbito de
empregador” (artigo 115º do CT).
organização e sob autoridade destas” é a
personagem central na regulamentação das
Esta estipulação (oral ou escrita) pode fazer-se de
relações laborais (i.e., o trabalhador).
várias maneiras: pela detalhada caracterização das
funções; por uma fórmula genérica (por exemplo:
4. 2. A posição funcional
funções administrativas); pela remissão para uma
“categoria cuja descrição se encontra numa CCT
4. 2. 1. A actividade contratada e a categoria do
aplicável ou no regulamento da empresa (artigo
trabalhador
115º/2 do CT).
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De acordo com AMF a determinação do estatuto jurídico do A categoria exprime o género de actividades contratadas.
trabalhador depende de saber qual é a atividade contratada, Há de caber neste género a função principal que ao
que constitui o cerne do seu compromisso perante o trabalhador está atribuída na organização – ver o artigo
empregador. Quando não existe um contrato escrito a 118º do CT. Por outras palavras, a categoria profissional
determinação da atividade contratada tem que deduzir-se traduz ou exprime o objeto do contrato de trabalho.
da prática das relações de trabalho.
A categoria “constitui um meio fundamental de
O género de trabalho que melhor corresponde aquilo que determinação de direitos e garantias do trabalhador” ou
realmente é feito pode traduzir-se numa designação do seu estatuto profissional na empresa. “É ela que define
sintética ou abreviada. A posição assim estabelecida é a o posicionamento do trabalhador na hierarquia salarial, é
categoria do trabalhador. Ela resulta de dois factores pré- ela que o situa no sistema de carreiras profissionais, é
contratuais: pelo lado do empregador, a vaga existente na também ela que funciona como referencial para se saber
organização, e que se define pela função, e pelo lado do o que pode e o que não pode a entidade empregadora
trabalhador, a sua profissão ou qualificações profissionais. exigir ao trabalhador”.

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Em geral, “o empregador deve escolher, de entre as tarefas


Assim, a nossa lei consagra o princípio da
compreendidas na atividade contratada, aquelas que
irreversibilidade da carreira no âmbito da empresa. A
melhor correspondem às aptidões e qualificação
despromoção ou baixa de categoria não pode constituir
profissional do trabalhador – artigo 118º, nº 1, do CT.
uma sanção disciplinar nem ser o resultado de uma
decisão unilateral do empregador. É um meio de
A categoria é ainda objeto de certa protecção legal e
protecção da profissionalidade como valor inerente a
convencional.
pessoa do trabalhador.
Assim, por via de regra, o dador do trabalho (i.e., o
4. 2. 2. A categoria e a função
empregador) não pode baixar a categoria do trabalhador –
artigo 129º/1/e do CT - a não ser que este aceite e haja
Neste ponto iremos abordar a problemática de o direito à
autorização da inspeção/autoridade das condições do
categoria e tentar saber se é obrigatória a atribuição de
trabalho e, mesmo assim, só quando a baixa seja imposta
uma categoria ao trabalhador mesmo que a atividade
por necessidades prementes da empresa ou por estrita
contratada não corresponde diretamente a nenhuma das
necessidade do trabalhador – artigo 119º do CT.
possíveis.
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Este problema é, em geral, resolvido pelas convenções A segunda questão é de saber se podem ser atribuídas
coletivas: a entidade empregadora está obrigada a ao trabalhador funções diferentes das que definem ou
atribuir ao trabalhador uma das categorias que que estão incluídas na sua categoria?
convencionalmente fixadas.
A resposta é afirmativa. A “atividade contratada”, que é
Se não for possível o encaixe pleno deve ser o núcleo central do objecto do contrato, pode
reconhecida a categoria cujo descritivo mais se transcender os limites da categoria atribuída ao
aproxime do trabalho concretamente prestado e se há trabalhador pois pode constituir uma combinação de
duas categorias parecidas tem que se atribuir a mais tarefas ou funções susceptíveis de caberem em varias
elevada. categorias.

O nº 1 do artigo 118º do CT dispõe que o trabalhador


deve, em princípio, exercer funções correspondentes a
actividade para que foi contratado.

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A categoria não é um elemento delimitador do 4. 2. 3. Flexibilidade funcional – a reconfiguração legal do


círculo de tarefas exigíveis ao trabalhador. objecto do contrato de trabalho

De resto o artigo 120º do CT confere ao Para AMF uma “compreensão demasiado rígida do objeto
empregador um direito de variação temporário da do contrato de trabalho e da categoria como elemento
actividade do trabalhador. Assim, podem ser delimitador absoluto da situação jurídica do trabalhador,
exigidas funções não compreendidas na actividade entraria em conflito com os interesses de qualquer uma das
contratada. partes” (i.e., o empregador e o trabalhador).

Em suma, a categoria deve ser atribuída com base A realidade das relações de trabalho e os próprios interesses
na correspondência entre a descrição funcional e a das partes apontam para uma certa flexibilidade funcional,
atividade contratada, mas esta pode não se conter, i.e., “para a possibilidade de se conceber a atividade
isto é, não se limitar – na primeira. contratada como “núcleo central” da posição contratual do
trabalhador, sem que fiquem excluídas outras aplicações da
sua força de trabalho, dentro de certos limites e mediante
determinadas condições.”
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O CT contem dois instrumentos de flexibilidade funcional: a


Para além da polivalência funcional, a lei reconhece ao
polivalência e o direito de variação da atividade
empregador uma faculdade anormal de exigir ao
trabalhador, temporariamente, a realização de serviços
A polivalência funcional assenta na declaração contida no
não abrangidos pelo objecto do contrato. Por outras
artigo 118º/2 do CT de que a “actividade contratada (…)
palavras, é uma alteração transitória de funções
compreende as funções que lhe sejam afins ou
correspondentes à atividade para que se foi contratado.
funcionalmente ligadas, para as quais o trabalhador tenha
qualificação adequada e que não impliquem desvalorização
Este poder modificativo do contrato de trabalho surge
profissional”.
como uma exceção ao princípio de que os contratos não
podem ser alterados unilateralmente.
Assim, o exercício dessa faculdade de ordenar a execução
dessas tarefas pelo trabalhador está limitado. Por exemplo: a
Contudo, a lei estabelece vários requisitos para o
lei admite que sejam exigidas ao trabalhador outras tarefas,
exercício deste ius variandi (i.e., direito de variação) da
fora da categoria, mas como atividades acessórias, o que
actividade - ver o artigo 120º do CT. Estes são:
implica que elas ocupem, no horário do trabalho, menos
tempo do que a principal – ver o artigo 118º/2 a 4 do CT,
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a) O interesse da empresa assim o exigir;


4. 2. 4. flexibilidade funcional: o exercício de
funções em comissão de serviço.
b) Ser uma variação transitória;
O Artigo 161º do CT contempla a atribuição ao
c) Não implicar a diminuição da retribuição nem
trabalhador de certas funções (por exemplo: de
uma modificação substancial da posição do
chefia) – que impliquem uma especial relação de
trabalhador;
confiança – a título reversível.
d) Ser dado ao trabalhador o tratamento mais
O que caracteriza a comissão de serviço é a
favorável;
transitoriedade da função e a reversibilidade do
respectivo título profissional.
e) Haver ordem expressa do empregador, com
indicação do motivo e da duração da variação.

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4. 3. A antiguidade Ver os artigos 147º/3 e 112º/8 do CT.

A continuidade da relação laboral determina na Outra questão é a contagem de antiguidade. A lei


esfera jurídica do trabalhador, a antiguidade. Esta determina que determinados períodos sejam
antiguidade é particularmente relevante no adicionados a antiguidade (artigo 245º/2 do CT) e outras
momento da cessação do contrato de trabalho. situações não devem prejudicar a mesma (ver os artigos
317º/4, 255º, 295º/2 do CT).
No quadro das CCT distingue-se entre a
antiguidade na empresa e a antiguidade na A antiguidade beneficia de uma certa proteção legal. O
categoria (aqui conta-se apenas o tempo numa artigo 129º/1/j do CT proíbe a cessação do contrato
determinada categoria ou função). seguida de readmissão com o propósito de prejudicar a
antiguidade.
A antiguidade na empresa conta-se a partir da
efectiva admissão do trabalhador.

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4. 4. Os deveres acessórios do trabalhador quais pode interagir no desenvolvimento da relação de


trabalho, segundo certo padrão de correção: o do
4. 4. 1. O problema relacionamento respeitoso e urbano.

Para além da obrigação de trabalhar, recaem sobre o O texto legal acrescenta ainda a nota de “probidade” que
trabalhador outros deveres: de natureza legal (por remete para uma ideia de boa fé na execução do contrato
exemplo: o dever de lealdade) e de natureza convencional (artigo 102º do CT).
(por exemplo: o dever de não fumar).
4. 4. 3. O dever de lealdade
4. 4. 2. O dever de respeito, urbanidade e probidade
O dever de lealdade para com o empregador decorre do
O artigo 128º/1/a do CT atribui ao trabalhador o dever de artigo 128º/1/f do CT. São manifestações desse dever: a
se comportar, perante as pessoas com as interdição de concor-

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rência e a obrigação de sigilo ou reserva quanto à


O dever de lealdade assenta também na confiança e
organização, métodos de produção ou negócios do
na boa-fé – ver o artigo 126º/1 do CT.
empregador.
4. 4. 4. O dever de assiduidade e de pontualidade
O trabalhador deve, em princípio, abster-se de
qualquer acção contrária aos interesses do
O artigo 128º/1/b do CT dispõe que o trabalhador
empregador, mas o dever de lealdade tem
deve comparecer ao serviço com assiduidade e
igualmente um conteúdo positivo. Assim, deve o
pontualidade.
trabalhador tomar todas as providências
necessárias quando constata uma ameaça de
Significa que o trabalhador deve estar disponível nas
prejuízo ou qualquer perturbação da exploração
horas e no local previamente definidos. Os
ou quando vê terceiros em particular outros
parâmetros da assiduidade são o horário de trabalho
trabalhadores a ocasionar danos.
e o local de trabalho.

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A assiduidade associa-se a pontualidade, i.e., ao 4. 4. 6. O dever de obediência


cumprimento preciso das horas de entrada e de
saída em cada jornada de trabalho. A subordinação jurídica implica um dever de
obediência para o trabalhador. Este dever
4. 4. 5. O dever de custódia encontra-se na alínea e) do nº 1 do artigo 128º do
CT.
Este dever resulta do artigo 128º/1/g do CT. O
trabalhador está obrigado a velar pela conservação O dever de obediência abarca as regras de
e boa utilização dos bens relacionados com o “disciplina do trabalho” que podem abranger os
trabalho que lhe foram confiados pelo tipos de vestuário, linhas de circulação nas
empregador. Este dever é uma consequência do instalações, proibições de fumar ou de tomar
facto da aplicação da força do trabalho requerer o alimentos em certos locais, as relações
uso de meios de produção que não pertencem ao hierárquicas e funcionais bem como as “ordens e
trabalhador, mas que lhe foram adstritos. as instruções” respeitantes à segurança e saúde no
trabalho.
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4. 4. 7. Dever de prevenção

As alíneas i) e j) do artigo 128º/1 do CT contemplam o


dever de prevenção dos trabalhadores. Este encerra
uma dimensão colectiva referente à concepção e
controlo do sistema de prevenção e uma dimensão
individual inerente à execução do contrato de
trabalho. A prevenção está associada aos riscos
conexos com a segurança, higiene e saúde no
trabalho.

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