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Realização do ativo na recuperação judicial ou na

falência: conseqüências relativas aos contratos de


trabalho

REALIZAÇÃO DO ATIVO NA RECUPERAÇÃO JUDICIAL OU NA FALÊNCIA:


CONSEQÜÊNCIAS RELATIVAS AOS CONTRATOS DE TRABALHO
Revista de Direito do Trabalho | vol. 131 | p. 147 | Jul / 2008
DTR\2008\458

Murillo César Buck Muniz


Especialista e bacharel com especialidade em Direito do Trabalho e da Seguridade Social pela
Faculdade de Direito da USP. Advogado.

Área do Direito: Trabalho


Resumo: Este estudo tem por finalidade analisar as conseqüências da Lei 11.101/2005 relativas aos
contratos de trabalho e à questão da sucessão trabalhista. A norma dá ensejo a divergências
interpretativas nos âmbitos doutrinário e jurisprudencial. Pretende-se buscar a conceituação de
realização do ativo, de sucessão para fins trabalhistas e perquirir se estão mantidas ou não a
transmissão das obrigações trabalhistas ao arrematante e a incolumidade dos contratos de trabalho
nas hipóteses de alienação de ativos na recuperação judicial e na falência.

Palavras-chave: Sucessão trabalhista Realização do ativo Recuperação judicial Falência Extinção


do contrato de trabalho
Abstract: This is to analyze the consequences of Law 11.101/2005 for employment contracts and
labor succession issues. The regulation entails interpretation divergences within the scope of legal
writings and case law. The objective hereof is to seek to define the realization of assets, the
succession for labor purposes and to inquiry whether the transfer of labor liabilities to the purchaser is
maintained, as well as the unchangeability of the employment contracts in the event of disposal of
assets in judicial restructuring and bankruptcy proceedings.

Keywords: Labor succession - Realization of assets - Judicial restructuring Bankruptcy - Termination


of the employment contract
Sumário:

1.Introdução - 2.Conceito de realização do ativo e hipóteses de sua ocorrência no âmbito da Lei


11.101/2005 - 3.A sucessão trabalhista - 4.A realização do ativo e a sucessão trabalhista -
5.Conclusões - 6.Bibliografia

1. Introdução

A lei de falência, recuperação judicial e extrajudicial do empresário individual ou da sociedade


empresária dá ensejo a muitas divergências. Vivencia-se o momento de verificação da eficácia da
norma e os contornos que lhe serão conferidos pela interpretação jurisprudencial.

Nesse contexto, a exegese legal e a análise das conseqüências da realização do ativo, seja na
recuperação judicial, seja na falência, relativas aos contratos de trabalho é de grande relevância, já
que há o envolvimento de relações jurídicas muito conflituosas e um feixe de interesses díspares a
serem compostos.

Propõe-se, pois, alguns comentários sobre o assunto, mais especificamente sobre os efeitos sofridos
pelos contratos de trabalho quando da alienação de estabelecimento ou de parte dele durante o
processo de recuperação judicial ou de falência e a questão da sucessão.

A título de esclarecimento inicial, releva notar que os fatos jurídicos da falência ou da recuperação
judicial não implicam, necessariamente, a extinção dos contratos de trabalho. 1

Importa destacar que no processo de recuperação judicial especial, faculdade atribuída às micro e
pequenas empresas, os direitos e créditos trabalhistas não são afetados. 2 Também não se enquadra
no tema proposto a recuperação extrajudicial que, a exemplo da recuperação judicial especial, não
submete direitos trabalhistas 3 ao concurso de credores.
2. Conceito de realização do ativo e hipóteses de sua ocorrência no âmbito da Lei 11.101/2005

O termo realização do ativo não é unívoco: pode significar tanto a apuração dos valores do ativo,
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falência: conseqüências relativas aos contratos de
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quanto a apuração seguida de alienação. Ora a lei se refere à expressão para significar a avaliação
do patrimônio ativo do empresário ou da sociedade empresária em recuperação judicial ou da massa
falida, ora para denotar a essa avaliação do ativo seguida de sua alienação.

Necessariamente, verifica-se a realização em caso de falência, nos termos dos arts. 142 a 148 da
Lei 11.101/2005, pois diante do destino certo de fim do empreendimento econômico, impõe-se a
liquidação e a alienação de ativos, com a finalidade de satisfação de créditos.

No processo de recuperação judicial, a alienação de filiais ou unidades produtivas isoladas, que deve
ser precedida da respectiva realização (aqui a lei utiliza a expressão de acordo com o significado de
apuração dos valores do ativo), pode ser prevista no plano de recuperação como meio de preservar
a viabilidade da empresa (art. 60) e também satisfazer os credores.

Como se verá, não é toda e qualquer alienação de ativos que importará para fins de caracterização
da sucessão trabalhista, mas nas situações em que a venda não é de bens isoladamente
considerados, mas de uma universalidade jurídica, ou seja, de um conjunto bens cuja organização
lhe confira uma unidade orgânica.
3. A sucessão trabalhista

Entenda-se por sucessão, para fins trabalhistas, na acepção ampla que lhe foi conferida pelos arts.
10 e 448 da CLT (LGL\1943\5), a modificação da titularidade de uma organização produtiva, que
constitui uma universalidade jurídica, em virtude da qual quem passa ser seu titular responde por
obrigações trabalhistas oriundas de contrato de trabalho que integre ou tenha integrado essa
universalidade. 4

Organização produtiva, aqui, significa o complexo de bens 5 reunidos de forma organizada para o
desenvolvimento de uma atividade de produção ou de circulação de bens ou serviços. 6

A palavra titularidade não significa apenas propriedade, pode denotar a ocupação de um cargo ou de
uma função: 7 o titular de um cargo público, por exemplo, não é seu proprietário, apenas o ocupa a
título precário. Por isso, a mudança de titularidade de um complexo organizado de bens não significa
somente a transmissão de propriedade, mas alcança também a transferência a outro sujeito de
direitos de controle sobre essa organização produtiva e de gozo de seus frutos.

Vale dizer, não importa a que título a pessoa, física ou jurídica, passa a ser titular desse conjunto de
bens, isso pode advir de alienação, de arrendamento, de substituição de concessionária de
determinado serviço público, fusões, aquisições, cisões, dentre outros exemplos. Como já advertiu
Délio Maranhão, apoiado na lição de Ferrara: "É irrelevante o título em virtude do qual o titular do
estabelecimento utiliza as coisas empregadas no exercício da atividade econômica. [...] Daí por que
a sucessão se verifica, também, no caso de arrendamento. Pelo mesmo motivo, o novo
concessionário de um serviço público sucede o anterior." 8

O novo titular desse conjunto de bens organizado é responsável pelas obrigações trabalhistas que
eventualmente integrem essa universalidade, que são tanto as oriundas de contratos de trabalho
vigentes quanto as decorrentes de contratos de trabalho findos, por força dos arts. 10 e 448 da CLT
(LGL\1943\5).

Na hipótese do contrato de trabalho estar vigente no momento de transferência de titularidade da


organização produtiva, ele não sofre qualquer modificação objetiva, 9 ocorre uma substituição de
empregadores, uma alteração subjetiva no pólo da relação jurídica em que figura o empregador, é a
sucessão de empregadores propriamente dita, que implica a transferência de direitos advindos dessa
relação empregatícia ao novo titular e a sua responsabilidade pelas respectivas obrigações
trabalhistas.

O conceito de sucessão de empregadores, conseqüentemente, é mais restrito do que o conceito de


sucessão trabalhista, que inclui também a responsabilidade por obrigações oriundas de contrato de
trabalho já extinto por ocasião da modificação da titularidade do conjunto organizado de bens.

Na definição de sucessão trabalhista, foi utilizada a palavra responsabilidade de quem passa a ser
titular da organização produtiva e não a expressão transmissão de direitos e obrigações a esse novo
titular, pois isso reduziria a amplitude dos arts. 10 e 448 da CLT (LGL\1943\5), por dois motivos: i)
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Em relação a contrato de trabalho já extinto, não se transmitem direitos trabalhistas ao novo titular,
mas ele passa a ser responsável por eventuais obrigações decorrentes dessa relação jurídica e ii) a
responsabilidade trabalhista do novo titular não exclui, necessariamente, a do antigo, já que a
jurisprudência vem reconhecendo e ampliando a possibilidade de responsabilizá-lo subsidiariamente,
razão pela qual a responsabilidade pelas obrigações não é simplesmente transmitida, mas, muitas
vezes, compartilhada.

Note-se que a finalidade lucrativa de determinada atividade organizada para a produção ou


circulação de bens e serviços não é requisito para a sucessão, por isso, ela verifica-se ainda que
ocorra a mudança na titularidade de um conjunto de bens organizado para a prestação de serviços
públicos ou para o desenvolvimento atividades não lucrativas.

Se o desiderato de quem exerce atividade econômica organizada, habitualmente, é o lucro, está-se


diante do conceito de empresa (art. 966 do CC/2002 (LGL\2002\400)) 10 e o complexo de bens
organizado para o desenvolvimento dessa atividade é o estabelecimento. 11 Parte do
estabelecimento pode possuir valor econômico independente, desde que mantenha uma unidade
jurídica, uma característica de universalidade, isto é, desde que os bens se mantenham reunidos e
organizados para o desenvolvimento de empresa, 12 pois, em caso contrário, não se trata de parte do
estabelecimento com valor econômico independente, mas sim de bens isoladamente considerados.

Por força dos arts. 10 e 448 da CLT (LGL\1943\5), do qual se extraiu o conceito de sucessão
trabalhista sugerido, a conseqüência da modificação de titularidade de estabelecimento ou de parte
de dele, é a responsabilidade do seu novo titular pelas obrigações trabalhistas advindas de contrato
de trabalho integrante ou que tenha integrado essa organização produtiva.

Adiante, analisa-se se a Lei 11.101/2005, ao tratar da realização do ativo, que pode envolver a
alienação de estabelecimento ou de parte dele, revogou os arts. 10 e 448 da CLT (LGL\1943\5) e, se
a resposta for afirmativa, em qual extensão.
4. A realização do ativo e a sucessão trabalhista

Nas duas hipóteses de ocorrência da realização do ativo tratadas pela Lei 11.101/2005: na
recuperação judicial ou na falência, está prevista a exclusão da sucessão do arrematante: art. 60,
parágrafo único e art. 141, II, respectivamente, diferentemente da antiga lei de falências (Dec.-lei
7.661/45), que não excluía a transmissão de obrigações.

Tais disposições legais não se aplicam às hipóteses que podem ensejar fraude a credores, quais
sejam, se o adquirente de bens da sociedade empresária for sócio da falida, ou de sociedade
controlada pelo falido; se o adquirente de bens da sociedade empresária ou do empresário individual
for parente, em linha reta ou colateral até o 4.º (quarto) grau, consangüíneo ou afim, do falido ou de
sócio da sociedade falida; ou se o adquirente for identificado como agente do falido com o objetivo
de fraudar a sucessão (art. 60, parágrafo único, e art. 141, § 1.º, I, II e III, da Lei 11.101/2005) .

A finalidade legal é minorar a desvalorização do ativo e, por conseguinte, diminuir as perdas dos
credores no caso de falência e, no caso de recuperação judicial, o objetivo é a recuperação da
empresa, o que também envolve a necessidade de satisfação de credores (art. 47 da Lei
11.101/2005).

De início, verifica-se que é clara a diferença de redação entre o art. 60, parágrafo único e o art. 141,
II, da lei em referência.

O primeiro dispositivo legal, referente à recuperação judicial, embora preveja que o objeto da
alienação está livre de ônus, não determina, expressamente, a exclusão da sucessão trabalhista: "O
objeto da alienação estará livre de qualquer ônus e não haverá sucessão do arrematante nas
obrigações do devedor, inclusive as de natureza tributária, observado o disposto no § 1.º do art. 141
desta Lei".

Já o art. 141, II, aplicável na hipótese de falência, exclui, explicitamente, a responsabilidade do


adquirente por dívidas trabalhistas e oriundas de acidente de trabalho: "o objeto da alienação estará
livre de qualquer ônus e não haverá sucessão do arrematante nas obrigações do devedor, inclusive
as de natureza tributária, as derivadas da legislação do trabalho e as decorrentes de acidentes de
trabalho". Página 3
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Além disso, o art. 141, § 2.º, também aplicável à falência, dispõe: "Empregados do devedor
contratados pelo arrematante serão admitidos mediante novos contratos de trabalho e o arrematante
não responde por obrigações decorrentes do contrato anterior". A norma refere-se também à falência
e não há previsão semelhante nas normas que regem a realização do ativo na recuperação judicial.

A distinção de tratamento jurídico não é desprezível. Dela exsurgem conseqüências diametralmente


opostas no que tange à incolumidade dos contratos de trabalho e à responsabilidade por obrigações
trabalhistas.
4.1 A realização do ativo na recuperação judicial e a sucessão trabalhista

Impõe-se, quanto ao aspecto enfocado, a perquirição acerca do fundamento para a inexistência de


previsão expressa de exclusão da transmissão de obrigações trabalhistas, inclusive as decorrentes
de acidente de trabalho, na realização do ativo no processo de recuperação judicial. Faz-se mister
analisar se a omissão consubstancia um "silêncio eloqüente" do legislador, no sentido de preservar a
sucessão trabalhista.

Entende-se que disso se trata, o tratamento jurídico diferenciado é proposital.

Um dos argumentos que conduz a essa interpretação é de cunho histórico: durante o trâmite do
projeto legislativo que deu origem à Lei 11.101/2005, a matéria foi objeto de debate no Senado
Federal. O Senador Arthur Virgílio formulou uma proposta de emenda (n. 12) ao projeto de lei
referido (que é uma reiteração de emenda anterior do Senador Rodolpho Tourinho), com vistas à
alteração do respectivo art. 60, parágrafo único, para fins de exclusão explícita da sucessão
trabalhista, na hipótese de realização do ativo na recuperação judicial.

O parecer do relator do projeto de lei no Senado, o Senador Ramez Tebet, foi pela rejeição da
emenda, sob o principal fundamento de que, na recuperação judicial, o produto da alienação do ativo
não possui vinculação específica ao adimplemento de créditos, como ocorre na hipótese de falência,
o que viabilizaria fraudes e comportamentos oportunistas por parte de empresários. 13 Submetida a
votação em plenário, a emenda não foi aprovada. 14

De fato, o produto da alienação de ativos na falência está vinculado à satisfação dos credores,
observada a ordem de privilégios creditícios, 15 mas não há disposição na lei que estabeleça tal
destinação na recuperação judicial, em que não há arrecadação de bens, razão pela qual, nessa
hipótese, torna-se impossível a observância da ordem de privilégios creditícios e é possível e até
provável que os valores obtidos pela alienação dissipem-se na tentativa de recuperar a empresa, em
detrimento dos credores, dentre os quais os mais frágeis são os trabalhadores.

Embora a lei, a partir da sua vigência, adquira autonomia em relação à vontade do legislador, as
relevantes razões da rejeição da Emenda 12 permanecem, pelo que o tema deve ser abordado sob
esse enfoque.

É prudente lembrar que há credores não submetidos à recuperação judicial, conforme previsões do
art. 49, § 3.º, da Lei 11.101/2005, são eles: "credor titular da posição de proprietário fiduciário de
bens móveis ou imóveis, de arrendador mercantil, de proprietário ou promitente vendedor de imóvel
cujos respectivos contratos tenham cláusula de irrevogabilidade ou irretratabilidade, inclusive em
incorporações imobiliárias, ou de proprietário em contrato de venda com reserva de domínio, seu
crédito não se submeterá à recuperação judicial e prevalecerão os direitos de propriedade sobre a
coisa e as condições contratuais, [...]". Conseqüentemente, esses créditos, na recuperação judicial,
podem ser exigidos antecipadamente em relação aos créditos trabalhistas, alimentares.

Além disso, o art. 6.º da Lei 11.101/200516 prevê que a decretação da falência ou da recuperação
judicial induz à suspensão das ações e execuções em face do devedor, e no § 1.º do mesmo artigo,
está disposto que "terá prosseguimento no juízo no qual estiver se processando a ação que
demandar quantia ilíquida". Infere-se da leitura conjunta dos dispositivos legais mencionados,
esclarecidos pelo art. 6.º, § 2.º, da Lei 11.101/2005, 17 que as ações trabalhistas prosseguem na
Justiça do Trabalho até a liquidação dos respectivos créditos. Definida a quantificação do crédito
trabalhista, na hipótese de recuperação judicial, a sua execução fica suspensa por cento e oitenta
dias, nos termos do art. 6.º, caput e § 4.º, da Lei 11.101/2005. 18

Ao revés, embora a lei estabeleça a submissão do crédito tributário à recuperação judicial,Página


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execução não é submetida a qualquer suspensão, por determinação do art. 6.º, § 7.º, da mesma lei.
19
Assim, na prática, todos os créditos tributários podem ser cobrados do empresário em
recuperação, sem nenhuma suspensão de exigibilidade e sem necessidade de um processo de
conhecimento prévio, pois a Fazenda Pública exige seus créditos por meio de execução de título
extrajudicial por ela produzido.

A desigualdade de regulação, decorrente do benefício da não suspensão da exigibilidade do crédito


tributário, menos privilegiado que o trabalhista, somente pode ter outra desigualdade como
justificativa legítima: na realização de ativos verificada na recuperação judicial, o adquirente não é
responsável por dívidas tributárias (art. 60, parágrafo único), mas sim pelas trabalhistas.

Já na falência, tanto as execuções fiscais quanto as trabalhistas ficam suspensas e o adquirente do


estabelecimento ou de parte dele não tem responsabilidade por dívidas tributárias nem pelas
trabalhistas (art. 141, II e § 2.º).

Sendo assim, não se justifica a exclusão da sucessão trabalhista na alienação de ativos verificada na
recuperação judicial, já que produto da venda pode dissipar-se pela satisfação dos credores retro
mencionados.

Ademais, o art. 60, parágrafo único, da Lei 11.101/2005, situado no capítulo que dispõe sobre a
recuperação judicial, é norma que implica a restrição de direitos de credores, motivo pelo qual a sua
interpretação deve ser estrita, deve ater-se aos termos explícitos da lei, quanto mais no que se refere
a direitos trabalhistas, fundamentais. 20

O referido dispositivo legal reporta-se ao art. 141, § 1.º, da lei, situado no capítulo que versa sobre a
falência, mas não faz qualquer referência a dois artigos do mesmo capítulo: o 141, II, que exclui
expressamente a sucessão trabalhista e o art. 141, § 2.º, que também exclui a sucessão e dispõe
que a continuidade da prestação de serviços ao arrematante dar-se-á mediante novo contrato de
trabalho.

Acresce que o Capítulo II da Lei 11.101/2005 traz as disposições comuns à recuperação judicial e à
falência e dentre elas não há norma que exclua a sucessão trabalhista.

O tratamento jurídico da questão em cada situação é bastante distinto.

É preciso que as disposições normativas sejam interpretadas em seu conjunto para que a lei não
perca a sua unidade sistemática.

Por conseguinte, fica evidente que, na hipótese de alienação de estabelecimento ou de parte dele
verificada na falência, a lei exclui a sucessão trabalhista.

Já, na mudança de titularidade de estabelecimento ou de parte dele na recuperação judicial, ocorre a


sucessão trabalhista em toda a sua amplitude e os contratos de trabalho vigentes, intangíveis
objetivamente. Entendimento diverso teria por conseqüência o desamparo dos créditos trabalhistas.

Ressalte-se que o princípio da proteção do trabalhador deve nortear a atuação do intérprete, 21 pois
se afigura como fundamental no ordenamento jurídico pátrio, é diretriz sistêmica da Constituição
Federal (LGL\1988\3) e corolário da dignidade humana, princípio maior do Estado Democrático de
Direito. 22 Desse princípio decorrem algumas conseqüências: a impossibilidade de alteração
contratual em prejuízo do trabalhador, a particularidade da intangibilidade contratual objetiva 23 e o
princípio da continuidade da relação empregatícia.

A não exclusão da transmissão de obrigações trabalhistas de forma expressa, na hipótese de


alienação do estabelecimento ou de parte dele na recuperação judicial, pois, significa que
permanecem integralmente aplicáveis os arts. 10 e 448 da CLT (LGL\1943\5), ou seja, os contratos
de emprego permanecem vigentes, o adquirente passa a ser responsável pelas obrigações
derivadas dessas relações jurídicas.

Mesmo que tenha ocorrido a extinção contratual anteriormente à alienação de ativo na recuperação
judicial (por dispensa sem justa causa ou por resolução autorizada pela justa causa do empregador,
por exemplo), o arrematante responde pelas obrigações trabalhistas do contrato de trabalho findo,
como já explicitado no item que definiu a sucessão trabalhista.
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Essa é a interpretação oriunda de uma análise sistemática da Lei 11.101/2005, em conformidade


com a Constituição Federal (LGL\1988\3), pois ela atende ao princípio da proteção do trabalhador.

Ainda que a lei previsse expressamente a exclusão da sucessão trabalhista na recuperação judicial e
pretendesse deixar ao relento o crédito alimentar do trabalhador, isso seria inconstitucional, pois o
princípio da dignidade humana seria ofendido, em razão da situação de desespero e degradação
social em que fica o trabalhador e sua família em decorrência do não recebimento de créditos
alimentares.

A interpretação pela exclusão da sucessão leva à ausência de proteção e contraria a lógica de


implementação e aumento progressivo dos direitos humanos sociais, especificamente, no que tange
ao Direito do Trabalho, acolhida pela Constituição Federal (LGL\1988\3) em seu art. 7.º, caput, ao
estabelecer "São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria
de sua condição social".

Ressalte-se que o caput do art. 7.º da Constituição Federal (LGL\1988\3) insere-se no contexto do
que a doutrina de Canotilho identifica como o princípio da proibição do retrocesso social. 24 Flávia
Piovesam chama à atenção para a necessidade de, progressivamente, implementar-se um núcleo
cada vez mais abrangente de direitos sociais, por força do art. 2.º, § 1.º, do Pacto Internacional dos
Direitos Econômicos Sociais e Culturais e também do Protocolo de San Salvador, ambos ratificados
pelo Brasil. 25

Conclui-se que o art. 60, parágrafo único, da Lei 11.101/2005 não excluiu a sucessão trabalhista e,
caso se entenda o contrário, ele padece do vício de inconstitucionalidade, pois isso representaria um
nítido retrocesso social.

Esse posicionamento não reduz os objetivos do legislador: de recuperação da empresa, de minorar a


desvalorização do ativo e de maior satisfação dos credores, pois, como visto, há obrigações que não
se transmitem ao adquirente, 26 v.g., as tributárias, e a lei traz diversos benefícios incentivadores da
recuperação, tais como a concessão prazos para pagamento das dívidas, a suspensão de
execuções, dentre outros.

Finalmente, diga-se que essa interpretação induz a uma peculiaridade de natureza processual: em
geral, a hasta pública garante que o bem adquirido esteja livre de quaisquer ônus, mas, na
recuperação judicial, a alienação judicial de estabelecimento ou de parte dele, excepcionalmente,
não impedirá a responsabilidade do arrematante por obrigações trabalhistas.
4.2 A realização do ativo na falência e a sucessão trabalhista

Já foi dito que a alienação de estabelecimento ou de parte dele na falência tem conseqüências
diversas: exclui-se, explicitamente, a responsabilidade trabalhista do adquirente. 27

Fosse o arrematante responsável por dívidas da massa falida, cujo dimensionamento preciso não é
tarefa simples, inevitavelmente, ocorreria uma grande desvalorização do patrimônio ativo, como
sempre ocorreu na vigência da lei falimentar revogada.

Nessas circunstâncias, somente permaneceria o interesse de investidores pela aquisição de bens


individualizados, não unidos por liames jurídico-organizacionais, com a perda do valor econômico
que a organização agregava aos bens isolados. Isso reduziria, em muito, a probabilidade de
satisfação de credores.

No caso de falência, o fim certo do empreendimento econômico tornou possível a destinação


específica do produto da alienação do ativo à satisfação dos credores, observada a ordem de
preferência de créditos, 28 dentre os quais os decorrentes de acidente de trabalho gozam de
prioridade absoluta e assim também os trabalhistas (esses limitados a cento e cinqüenta salários
mínimos), 29 o que diminui substancialmente o risco de o valor recebido com a venda ser dissipado.

Observe-se que uma lei posterior, específica e de mesma hierarquia afasta a incidência dos arts. 10
e 448 da CLT (LGL\1943\5). 30 Destarte, esses dispositivos legais foram revogados parcialmente sem
redução de texto, isto é, permanecem válidos e eficazes para a mudança de titularidade de uma
organização produtiva fora do contexto da falência.
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Outra conseqüência relevante, à qual não se tem atribuído a merecida atenção e que não pode ser
analisada isoladamente, é que o art. 141, § 2.º, da Lei 11.101/2005, ao prever: "Empregados do
devedor contratados pelo arrematante serão admitidos mediante novos contratos de trabalho", criou
uma nova modalidade de extinção do contrato de trabalho.

Decorre da literalidade da lei uma exceção à intangibilidade objetiva dos contratos de trabalho na
sucessão de empregadores. Impõe-se a extinção do contrato, independentemente da vontade dos
envolvidos, 31 o que autoriza, após o evento da alienação do ativo, a inexecução contratual por
ambas as partes.

Se for vontade do adquirente e do trabalhador, um novo contrato de trabalho poderá ser celebrado.
Vale dizer que é necessária a formação de nova relação jurídica com o consentimento de ambas as
partes, que pode ser tácito, para que haja a continuidade na prestação de serviços mediante novo
contrato de trabalho.

A exclusão da sucessão trabalhista, no caso de alienação de ativos na falência, prestigia a menor


desvalorização do ativo, já que se garante segurança jurídica a interessados em investir no conjunto
de bens organizados e isso propicia a maior probabilidade de adimplemento das obrigações,
observada a ordem de preferência creditícia e, como já mencionado, os créditos trabalhistas (até
cento e cinqüenta salários mínimos) e decorrentes de acidente de trabalho gozam do máximo
privilégio. 32

A probabilidade de preservação de empregos também é aumentada, porque a chance de


continuidade da atividade econômica, a ser desenvolvida pelo adquirente, e da prestação de serviços
pelos mesmos trabalhadores, mediante novos contratos de trabalho, é evidentemente maior.

Por isso, defende-se a constitucionalidade da exclusão da sucessão trabalhista na falência, que,


embora excetue a intangibilidade objetiva contratual e o princípio da continuidade da relação de
emprego, potencializa o princípio da proteção do trabalhador e minimiza os impactos sociais
advindos de uma falência.

Mozart Victor Russomano já defendia esse entendimento bem antes da entrada em vigor da Lei
11.101/2005: "Mas se a falência for a seus extremos e os bens vendidos o forem em hasta pública,
quem adquirir esses bens não poderá ser responsabilizado pelos direitos do trabalhador contra a
massa falida. A sociedade comercial terá desaparecido com a falência e com a própria empresa -
unidade orgânica - se terá desfeito na hasta pública. O adquirente comprará um conjunto de bens
desvinculados de quaisquer obrigações anteriores. Não se terá dado alteração na estrutura jurídica
da empresa, não se terá dado sucessão, nem mesmo no lato sentido que o Direito do Trabalho
empresta à palavra - mas, apenas, extinção da empresa e venda do acervo. Se de outra forma se
entendesse (modernamente, de outra forma não se entende), criar-se-iam situações injustas para o
adquirente e dificultar-se-ia a venda dos bens arrolados na falência." 33

O ideal seria que além dos privilégios creditícios, houvesse uma regulamentação imperativa e a
implantação efetiva de mais uma garantia, tal como um fundo destinado ao adimplemento de créditos
não satisfeitos na falência, 34 o que poderia ser estendido também para outras hipóteses de
insolvabilidade do responsável ou dos responsáveis por obrigações trabalhistas.

Conclui-se que a Lei 11.101/2005 excluiu a sucessão trabalhista e, ao mesmo tempo, criou uma
nova modalidade de extinção do contrato de trabalho, na hipótese de alienação de estabelecimento
ou de parte dele no processo falimentar.

Impende, pois, a classificação dessa modalidade de extinção do vínculo empregatício para fins
didáticos e para a verificação dos direitos e deveres daí oriundos.
4.2.1 Classificação da nova hipótese de extinção do contrato de trabalho

Trata-se de uma nova hipótese de desfazimento (ou extinção anormal) do vínculo empregatício, que
se contrapõe à idéia de extinção normal dos contratos, a qual ocorre com a sua execução e/ou com
a perda de sua finalidade.

Em conformidade com a doutrina de Sílvio Venosa, 35 acerca da teoria geral dos contratos, de
inegável utilidade para as proposições desse estudo, a extinção anormal (também chamada por
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alguns de dissolução 36), é gênero do qual são espécies a resilição e a resolução. 37

A resilição pode ser bilateral ou unilateral. A primeira é o desfazimento contratual por iniciativa de
ambas as partes (distrato); a segunda, no que tange ao contrato de trabalho, dá-se pela dispensa
sem justa causa, que é a extinção anormal por iniciativa do empregador, ou pela demissão, que é a
dissolução por iniciativa do empregado.

Já a resolução dá-se pela inexecução contratual. Nessa circunstância, a impossibilidade de


continuidade da relação jurídica deve ser definitiva (em oposição à temporária, que pode ter por
conseqüência a suspensão contratual) e total (pois, ainda que verificada a impossibilidade parcial, o
credor pode ter interesse nos demais efeitos do contrato).

A inexecução contratual ocorre, por exemplo, nas hipóteses de justa causa do empregado, justa
causa do empregador, culpa recíproca, força maior, factum principis, óbito do empregado ou do
empregador empresário individual, dentre outros exemplos.

A alienação de estabelecimento ou de parte dele verificada na falência implica a extinção anormal


(desfazimento) dos contratos de trabalho por força do disposto no art. 141, § 2.º, da Lei 11.101/2005:
é imperativo legal, independe de qualquer iniciativa do empregado ou do empregador, 38 não se lhes
faculta a possibilidade de manter vigente a mesma relação jurídica de emprego.

Não se trata, portanto, de resilição, está-se diante de uma hipótese de resolução do contrato de
trabalho.
4.2.2 Conseqüências da resolução do contrato de trabalho

A nova lei de falência não traz previsão das conseqüências dessa nova modalidade de extinção do
contrato de trabalho. A indagação é a seguinte: quais prestações são devidas em decorrência dessa
espécie de resolução dos contratos de trabalho? Passa-se a essa análise.

Importa observar que o empregador detém o risco da atividade econômica, 39 o empregado não pode
ser apenado com o não recebimento de seus direitos pela má gestão da empresa ou por
contingências de mercado que a levaram ao declínio.

Por esse raciocínio, é possível estabelecer-se uma analogia entre a situação da dissolução
contratual em decorrência da falência e a hipótese de resolução do contrato de trabalho autorizada
pela justa causa do empregador ("rescisão indireta"), especificamente, o descumprimento contratual
40
suficientemente grave, que confere ao empregado os mesmos direitos que lhe seriam devidos na
hipótese de dispensa sem justa causa.

Some-se a isso, o fato de que o art. 449 da CLT (LGL\1943\5)41 não foi revogado, de modo que os
direitos oriundos do contrato de trabalho subsistem, o que é a conseqüência natural no que tange a
contratos bilaterais sinalagmáticos e de trato sucessivo como o contrato de trabalho, em que a
execução obrigacional que incumbia ao empregado, a prestação do trabalho, já foi cumprida, sob
pena de enriquecimento sem causa do empregador ou, no caso de falência, potencialmente, de
outros credores, o que é vedado por um princípio geral de direito.

Ademais, a falência não é considerada pela lei motivo de força maior, ao menos para fins
trabalhistas, como se infere a partir da simples leitura do aludido art. 449 da CLT (LGL\1943\5), de
modo que não se justifica qualquer redução de direitos ou da indenização estabelecida pela lei, o
que, aliado à atribuição de risco do empreendimento ao empregador, tem por conseqüência a
preservação dos créditos trabalhistas, nessa nova hipótese de extinção anormal do contrato de
trabalho.

Os efeitos, portanto, são os mesmos da resilição unilateral por iniciativa do empregador (dispensa
sem justa causa) nos contratos sem prazo ou da extinção antecipada dos contratos a termo, sem
justo motivo, por iniciativa do empregador (art. 479 da CLT (LGL\1943\5)), todavia, os créditos são
exigíveis somente em face do empresário falido e não em face do adquirente, já que a sucessão foi
excluída.
5. Conclusões

A nova lei de falência, recuperação judicial e extrajudicial do empresário individual ou da sociedade


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Realização do ativo na recuperação judicial ou na
falência: conseqüências relativas aos contratos de
trabalho

empresária trouxe importantes conseqüências relativas ao Direito do Trabalho.

Questão tormentosa e que gera intensos debates na doutrina e na jurisprudência é de se saber se


permanece ou não a responsabilidade trabalhista do adquirente de estabelecimento ou de parte dele
nas hipóteses de recuperação judicial ou de falência.

O entendimento alcançado por meio deste estudo é: ocorrida a alienação de estabelecimento ou de


parte dele na recuperação judicial, esse fato não repercute na incolumidade dos contratos de
trabalho envolvidos e a sucessão trabalhista está mantida, seja porque a Lei 11.101/2005 não a
exclui expressamente nessa hipótese, seja por inconstitucionalidade do respectivo art. 60, parágrafo
único, caso se entenda o contrário.

As principais inovações legislativas são: a exclusão da sucessão trabalhista na realização de ativos


verificada após a falência e, nessa hipótese, o surgimento de uma nova modalidade de extinção do
liame empregatício, classificada como uma espécie de resolução do contrato de trabalho.

Não houve previsão legal das conseqüências dessa modalidade de dissolução do pacto laboral, mas
uma análise sistemática leva à conclusão de que os efeitos equivalem aos de uma dispensa sem
justa causa nos contratos sem prazo ou aos da extinção antecipada dos contratos a termo, sem justo
motivo, por iniciativa do empregador.
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1. Art. 117 da Lei 11.101/2005.

2. Art. 70 da Lei 11.101/2005 e seguintes.

3. Art. 161, § 1.º, da Lei 11.101/2005.

4. Os arts. 10 e 448 da CLT (LGL\1943\5) referem-se, impropriamente, a "alteração na estrutura


jurídica da empresa", entende-se que é uma forma de realçar um dos aspectos da
despersonalização do empregador (impessoalidade concernente a esse pólo da relação jurídica)
anunciada já no art. 2.º da CLT (LGL\1943\5).

5. Esses bens podem ser materiais e imateriais, ou seja, tanto bens móveis, imóveis, quanto os
direitos oriundos da propriedade intelectual, clientela, marca e direitos e obrigações decorrentes de
contratos, inclusive o de trabalho, enfim, todos os bens, na concepção jurídica do termo, que
compõem determinada organização produtiva.

6. Esse conjunto organizado de bens é o que Délio Maranhão denominou de unidade


econômico-jurídica ( Instituições de direito do trabalho. 19. ed. São Paulo: LTr, 2002, vol. 1, p. 312).
Trata-se de uma organização produtiva, uma universalidade jurídica, que pode ser objeto de direito
autônomo em relação aos bens considerados isoladamente.

7. BUARQUE DE HOLANDA, Aurélio. Novo dicionário da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Nova
Fronteira, 1975, p. 1383.

8. Instituições de direito do trabalho. 19. ed., São Paulo: LTr, 2002, vol. 1, p. 312.

9. Todos os direitos do trabalhador devem ser respeitados: o tempo de serviço anterior é contado
para todas as finalidades legais, há incidência do art. 468 da CLT (LGL\1943\5), por exemplo. Essa
inalterabilidade contratual objetiva é uma manifestação concreta do princípio da continuidade da
relação de emprego, sistematizado por Américo Plá Rodrigues ( Princípios de direito do trabalho.
Trad. Wagner D. Giglio. 34. ed. atual. São Paulo: LTr, 2004, p. 292-338) e também uma
particularidade da inalterabilidade contratual lesiva, que é identificada como princípio por Maurício
Godinho Delgado. Curso de direito do trabalho. 7. ed. São Paulo: LTr, 2008, p. 203-206.

10. Apesar de enquadrar-se no conceito de empresário do art. 966 do CC/2002 (LGL\2002\400), não
é considerado como tal pelo art. 966, parágrafo único, do mesmo código, quem desempenha
"profissão intelectual, de natureza científica, literária ou artística, ainda que com o concurso de
colaboradores, salvo se o exercício da profissão constituir elemento de empresa".

11. COELHO, Fábio Ulhoa. Manual de direito comercial. 14. ed. São Paulo: Saraiva, 2003, p. 57.
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Realização do ativo na recuperação judicial ou na
falência: conseqüências relativas aos contratos de
trabalho

12. Empresa significa a própria atividade econômica organizada com o intuito de lucro, passível de
ser praticada, realizada, desenvolvida pelo empresário, mas não é objeto de direito. Já o
estabelecimento ou a parte dele com valor econômico independente, que constituem instrumento
para a prática da atividade econômica, podem ser objetos de direito.

13. "Emenda 12 - A Emenda 12, do Senador Arthur Virgílio, que constitui reiteração de emenda
apresentada pelo Senador Rodolpho Tourinho à Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania, visa
modificar o parágrafo único do art. 60 do substitutivo, para estabelecer a não-responsabilização do
arrematante pelo passivo trabalhista nas vendas judiciais de empresas no âmbito da recuperação
judicial, ou seja, propõe o fim da sucessão trabalhista também na recuperação judicial. Nosso
parecer é pela rejeição da emenda, porque a exclusão da sucessão trabalhista na recuperação
judicial pode dar margem a fraudes aos direitos dos trabalhadores e a comportamentos oportunistas
por parte de empresários. Além disso, é preciso ressaltar que - diferentemente do crédito tributário,
protegido ao menos pela exigência de certidão negativa ou positiva com efeito de negativa para a
concessão da recuperação judicial - o crédito trabalhista fica desguarnecido caso a empresa seja
vendida e o valor apurado seja dissipado pela administração da empresa em recuperação judicial, já
que não há, na recuperação judicial, ao contrário da falência, vinculação ou destinação específica
desses valores." ( Diário do Senado Federal 07.07.2004, p. 21.079-21.115 e retificação publicada no
Diário do Senado Federal em 22.12.2004, p. 44.629).

14. Diário do Senado Federal 07.07.2004, p. 21.079-21.115 e retificação publicada no Diário do


Senado Federal em 22.12.2004, p. 44.629.

15. Art. 141, I, da Lei 11.101/2005.

16. "Art. 6.º A decretação da falência ou o deferimento da falência ou o deferimento do


processamento da recuperação judicial suspende o curso da prescrição e todas as ações e
execuções em face do devedor , inclusive aqueles particulares do credor do sócio solidário."

17. Art. 6.º, § 2.º: "É permitido pleitear, perante o administrador judicial , habilitação, exclusão ou
modificação de créditos derivados da relação de trabalho, mas as ações de natureza trabalhista,
inclusive as impugnações a que se refere o art. 8.º desta lei, serão processados perante a justiça
especializada até a apuração do respectivo crédito, que será inscrito no quadro-geral de credores
pelo valor determinado em sentença."

18. Art. 6.º, § 4.º: "Na recuperação judicial, a suspensão de que trata o caput deste artigo em
hipótese nenhuma excederá o prazo de 180 (cento e oitenta) dias contado do deferimento do
processamento da recuperação, restabelecendo-se, após o decurso de prazo, o direito dos credores
de iniciar ou continuar suas ações e execuções, independentemente de pronunciamento judicial."

19. Art. 6.º, § 7.º: "As execuções de natureza fiscal não são suspensas pelo deferimento da
recuperação judicial, ressalvada a concessão de parcelamento nos termos do Código Tributário
Nacional (LGL\1966\26) e da legislação ordinária específica."

20. Art. 6.º da CF/88 (LGL\1988\3).

21. Na acepção principiológica de Américo Plá Rodrigues ( Princípios de direito do trabalho. Trad.
Wagner D. Giglio. 34. ed. atual. São Paulo: LTr, 2004, p. 107-122) a dimensão interpretativa do
princípio da proteção consubstancia-se na regra do in dubio pro operário, pela qual, na hipótese de
haver duas interpretações juridicamente plausíveis de uma norma, deve-se optar pela que melhor
proteja o trabalhador. Já, na classificação principiológica proposta por Maurício Godinho Delgado (
Curso de direito do trabalho. 7. ed. São Paulo: LTr, 2008, p. 199-201), que questiona a existência da
regra (ou do princípio, para alguns) do in dubio pro operario, a solução de se optar pela interpretação
que melhor proteja os trabalhadores, considerados coletivamente, é uma das decorrências do
princípio (e não regra, no entendimento do eminente jurista) da norma mais favorável.

22. Para uma análise sistemática do alcance da proteção despendida a esses direitos, é preciso que
sejam observados os seguintes mandamentos constitucionais: a República e o Estado Democrático
de Direito tem por fundamento valor social do trabalho (art. 1.º, IV); o princípio da proteção e o do
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falência: conseqüências relativas aos contratos de
trabalho

não retrocesso em matéria de direitos trabalhistas (art. 7.º, caput: "além de outros que visem à
melhoria de sua condição social"); relação de emprego protegido contra a dispensa arbitrária ou sem
justa causa (art. 7.º, I); a função social da propriedade (art. 5.º, XXIII); a ordem econômica fundada
na valorização do trabalho humano que tem por fim assegurar a todas uma existência digna,
conforme os ditames da justiça social (art. 170); a função social da propriedade (art. 170, III);
redução das desigualdades sociais (art. 170, VII); a busca do pleno emprego (art. 170, VIII).
Ademais, e a aplicação da lei pauta-se pelos seus fins sociais e pelas exigências do bem comum
(art. 5.º da LICC (LGL\1942\3)).

23. A respeito, vide a doutrina de Maurício Godinho Delgado. Curso de direito do trabalho. 7. ed. São
Paulo: LTr, 2008, p. 205-206.

24. CANOTILHO, José Joaquim Gomes. Direito constitucional e teoria da Constituição. Coimbra:
Almedina, 1998.

25. Direitos humanos e o trabalho: principiologia dos direitos humanos aplicada ao Direito do
Trabalho. Revista do Advogado 97/65-81, São Paulo: AASP, maio 2008.

26. Art. 60, parágrafo único, da Lei 11.101/2005.

27. Art. 141, II e § 2.º, da Lei 11.101/2005.

28. Art. 141, I, da Lei 11.101/2005: "Os credores, observada a ordem de preferência dos créditos,
sub-rogam-se no produto da alienação".

29. Art. 83, I, da Lei 11.101/2005. Não se discutirá, aqui, a constitucionalidade de tal limitação, pois o
debate foge aos limites do tema proposto.

30. Art. 2.º, § 2.º, da LICC (LGL\1942\3).

31. Isso, evidentemente, se, anteriormente à alienação, não se verificarem outras causas de extinção
do contrato de trabalho, tais como a cessação da atividade empresarial (Súm. 173 do TST); a
despedida sem justa causa; a demissão ou o descumprimento contratual pelo empregador, cujo
empreendimento econômico está em crise, na forma do art. 483, d, da CLT (LGL\1943\5), observada
a proporcionalidade (leia-se gravidade da conduta omissiva ou comissiva), que confere ao
trabalhador a faculdade de considerar resolvido o contrato de trabalho e pleitear em juízo a
indenização correspondente.

32. Art. 83, I, da Lei 11.101/2005.

33. RUSSOMANO, Mozart Victor. Comentários à CLT (LGL\1943\5). 11. ed. Rio de Janeiro: Forense,
1985, p. 421.

34. A Convenção 173 da OIT, aprovada na 79ª Conferência Internacional do Trabalho, realizada em
Genebra, em 1992, não ratificada pelo Brasil, faculta ao membro que ratificá-la a concessão de
privilégios aos créditos trabalhistas ou a instituição de garantia quando não possam ser adimplidos
pelo empregador devido à sua insolvência ou ambos conjuntamente.

35. VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito civil: teoria geral das obrigações e teoria geral dos contratos. 3.
ed. atual. São Paulo: Atlas, 2003, p. 497-509.

36. MARANHÃO, Délio et alii . Instituições de direito do trabalho. 19. ed. São Paulo: LTr, 2000, p.
560-568.

37. Aqui, para fins de classificação, conforme Venosa, não se leva em consideração os casos
nulidade ou de anulabilidade do contrato de trabalho, por vezes classificados por doutrinadores como
espécie de extinção anormal do contrato, apoiados no fundamento de que alguns efeitos gerados por
contratos anuláveis ou até mesmo os nulos não podem ser simplesmente desconsiderados como se
não tivessem existido ou jamais tivesse sido válida a relação. Nessa proposição, a distinção entre
essas suposições (anulabilidade e nulidade) e as demais (resilição e resolução) verifica-se quanto ao
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trabalho

momento de ocorrência das causas de extinção contratual, naquelas o motivo acontece


anteriormente ou contemporaneamente à formação do pacto e, nestas, supervenientemente. Vide, a
respeito, a classificação de Délio Maranhão (em Instituições de direito do trabalho, 22. ed. São
Paulo: LTr, 2005, p. 559-597) para quem rescisão significa a extinção contratual em casos de
nulidade, ou seja, em momento anterior ou contemporâneo à formação do liame jurídico; cf. também
a classificação de Orlando Gomes (em Contratos, 24. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2001, p.
170-197), para quem rescisão aproxima-se da anulabilidade.

38. Isso, evidentemente, se, anteriormente à alienação, não se verificarem outras causas de extinção
do contrato de trabalho, tais como a cessação da atividade empresarial (Súm. 173 do TST)
despedida sem justa causa, a demissão ou o descumprimento contratual pelo empregador, cujo
empreendimento econômico está em crise, na forma do art. 483, d, da CLT (LGL\1943\5), observada
a proporcionalidade (leia-se gravidade da conduta omissiva ou comissiva), que confere ao
trabalhador a faculdade de considerar resolvido o contrato de trabalho e pleitear em juízo a
indenização correspondente.

39. Art. 2.º da CLT (LGL\1943\5).

40. Art. 483, d, da CLT (LGL\1943\5).

41. Art. 449 da CLT (LGL\1943\5): "Os direitos oriundos da existência do contrato de trabalho
subsistirão em caso de falência, concordata ou dissolução da empresa."

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