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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ FEDERAL DA MM.

23ª VARA DO
TRABALHO DE SÃO PAULO - SP.

Processo n.º

EMPRESA, já devidamente qualificada, por seu advogado e procurador que esta


subscreve, nos autos da RECLAMAÇÃO TRABALHISTA que RECLAMANTE move em
face de EKT EMPRESA, ambos qualificados, vem respeitosamente à presença de Vossa
Excelência, apresentar sua IMPUGNAÇÃO E DEFESA quanto ao requerimento de sua
inclusão no feito / sucessão empresarial, expondo e requerendo o quanto segue:

Excelência, logo de início a Impugnante rechaça a sua inclusão no feito, pois, não
concorda em responder pelo crédito trabalhista exequendo, já que não possui qualquer relação
com a empresa Reclamada, além de nunca ter contratado e utilizado da força de trabalho do
Reclamante.

Compulsando os autos, a Impugnante percebeu que o Reclamante está tentando a


todo custo criar situações inexistentes.

A principal inverdade trazida nestes autos é a alegação de que a Reclamada estaria


usando o nome desta Impugnada para se esquivar de suas obrigações, porém, as empresas não
possuem qualquer relação, seja “grupo econômico” ou seja “sucessão” e foi nesse sentido que a
empresa Reclamada se manifestou nesse processo.

A Impugnante entende como absurda alegação de que possui vínculo com a empresa
Reclamada em razão de prestador de serviços seus ter tido relação com a Reclamada em 2014 e,
ainda que tivesse, essa empresa não se vincularia à Reclamada apenas por essa identidade.
Aliás, a Impugnante se quer era conhecedora de tal situação até o recebimento da
presente ação, sabendo apenas que o Sr. Yuji era uma pessoa conhecida no ramo de sua
atividade, unicamente por já ter trabalhado na área, pouco importando para a empresa a relação
dele com a empresa de seu pai.

Ora, como dito, a Impugnante nunca usou da força de trabalho do Reclamante e o


simples fato de atuar no mesmo ramo que a Reclamada assim como o fato de contratar, frise-se:
em períodos distintos, pessoa(s) que também tenham prestado serviços para ela, não é prova de
sucessão empresarial, grupo econômico, fraude, etc., aliás, não é prova de nada.

Não existe qualquer embasamento legal que proíba a Impugnante de atuar no mesmo
ramo de prestação de serviços, de contratar qualquer pessoa que queira para prestar serviços ou
até para trabalhar como empregado, o que se diz como argumento para rebater os fatos
mentirosos trazidos pelo Reclamante. Aliás, ninguém é obrigado a fazer ou deixar de fazer algo
senão em virtude de lei (princípio da legalidade).

Não há fraude à execução porque as empresas não possuem qualquer vinculação entre
si, sendo certo que qualquer informação fornecida por terceiro não deve ser levada em
consideração, vez que a lei traz requisitos necessários para a configuração de grupo econômico,
sucessão empresarial e / ou fraude à execução, não sendo requisito a mera informação prestada
por pessoas alheias ao presente feito.

Se a Reclamada vem enfrentando dificuldades financeiras e não tem condições de


quitar os valores devidos para o Reclamante, não é a Impugnante a pessoa culpada disso, não
havendo qualquer embasamento legal para atribuir tal responsabilidade, quiçá embasamento
“moral” para tanto.

De acordo com o art. 2º, § 2º, da CLT, “recém” modificado pela Lei nº 13.467/2017,
sempre que uma ou mais empresas, tendo, embora, cada uma delas, personalidade jurídica
própria, estiverem sob a direção, controle ou administração de outra, será considerada grupo
econômico e consequentemente responsabilizada solidariamente pelas obrigações trabalhistas
em eventual ação judicial.
Consta do citado artigo celetista, in verbis:

“Art. 2º - Considera-se empregador a empresa, individual ou coletiva, que, assumindo


os riscos da atividade econômica, admite, assalaria e dirige a prestação pessoal de
serviço. [...]
§ 2o. Sempre que uma ou mais empresas, tendo, embora, cada uma delas,
personalidade jurídica própria, estiverem sob a direção, controle ou administração de
outra, ou ainda quando, mesmo guardando cada uma sua autonomia, integrem grupo
econômico, serão responsáveis solidariamente pelas obrigações decorrentes da
relação de emprego”.

Por sua vez, o § 3o do citado artigo prevê:

“§3o. Não caracteriza grupo econômico a mera identidade de sócios, sendo


necessárias, para a configuração do grupo, a demonstração do interesse integrado, a
efetiva comunhão de interesses e a atuação conjunta das empresas dele integrantes”.

Note que os requisitos são cumulativos e não alternativos, não bastando provar, por
exemplo, apenas o interesse integrado. É preciso provar a direção, controle ou administração , a
efetiva comunhão de interesses integrado e, além disso, a atuação conjunta entre essas
empresas, o que no presente caso NÃO existe.

Não há entre a Impugnante e a Reclamada qualquer tipo de direção, controle ou


administração, nem mesmo a efetiva comunhão de interesses integrado e a atuação conjunta.

Nesse sentido, é imprescindível reiterar que a Impugnante é pessoa jurídica diversa da


Reclamada que consta do polo passivo do processo de cognição e da execução, com endereços
diversos, cadastros sob números distintos junto ao CNPJ, divergência de sócios e muito mais
que isso, não há direção, controle ou administração entre as empresas.

Ademais, na doutrina pátria o conceito de grupo econômico vincula-se ao conjunto de


empresas que, embora tenham personalidade jurídica distinta, estão ligadas por uma direção,
controle ou administração comum, gerando responsabilidade solidária para as empresas que o
integrarem – como dito.

O mesmo objeto social não caracteriza grupo econômico.

Há ainda o conceito do art. 256 da Lei da Sociedade por Ações que estabelece que, in
verbis:

“Art. 265. A sociedade controladora e suas controladas podem constituir, nos termos
deste Capítulo, grupo de sociedades, mediante convenção pela qual se obriguem a
combinar recursos ou esforços para a realização dos respectivos objetos, ou a
participar de atividades ou empreendimentos comuns”.

Basta uma simples consulta na Junta Comercial do Estado de São Paulo para verificar
que esta empresa e a Reclamada não possuem os mesmos sócios, não possuem uma mesma
direção, nem controle, nem administração comum. Tampouco verificamos uma convenção para
aplicação de recursos de forma conjunta, muito pelo contrário, a cessão onerosa foi prova disso.

Apesar do Direito Trabalhista praticar um conceito bastante amplo de grupo


econômico, não há como justificá-lo na presente ação, sob pena de gerar prejuízo e insegurança
a toda e qualquer negociação entre empresários.

Na prática, a configuração do grupo econômico só fica caracterizada quando


atendidos os todos os requisitos, concomitantemente, e não houve qualquer tipo de transação
empresarial entre as empresas (compra, venda, fusão, incorporação, etc.).

Até compreende-se o objetivo de garantir aos trabalhadores a quitação de seus


respectivos débitos, mas essa garantia individual não pode ultrapassar os limites do direito
envolvendo empresas que não possuem esta obrigação com o passivo trabalhista como está
ocorrendo na presente execução trabalhista.

Note que o prosseguimento da execução em face desta Impugnante que nada tem a
ver com a Reclamada e o Reclamante pode trazer consequências gravosas a todo um grupo de
pessoas: fornecedores, empregados, prestadores de serviços; além de penalizar ainda mais esta
empresa que já atravessa uma realidade muito dura em razão da crise interna do país, que
recentemente foi agravada pela pandemia de COVID-19 e pelos bloqueios ilegais realizados em
suas contas.

Quanto a hipótese de sucessão, a lição de Délio Maranhão, para a caracterização


da sucessão de empregadores, é necessário que: a) um estabelecimento, como unidade
econômico-jurídica, passe de um para outro titular; b) a prestação de serviços pelos
empregadores não sofra solução de continuidade.

E prossegue:

“A sucessão de empregadores pela transferência do estabelecimento supõe, como


ficou exposto, que o negócio, como um todo unitário, passe das mãos de um para
outro titular. Nas palavras de Ferrara "quando se fala na alienação do
estabelecimento, quer-se aludir à transmissão da organização produtiva. Não se
produz alienação do estabelecimento quando a transferência afete elementos
isolados, nem tampouco quando compreenda toda a atividade considerada como um
conjunto desarticulado e inorgânico. É preciso que a vontade das partes vise à
transferência do que vulgarmente se denomina de aviamento, porque este é um
índice seguro de que o conjunto foi considerado como res productiva, vale dizer, em
função de sua capacidade para produzir um rendimento". Não é possível, portanto,
falar-se em sucessão quando tenha havido a alienação de, apenas, parte de um
negócio, que não possa ser considerada uma unidade econômico-produtiva, ou de
máquinas e coisas vendidas como bens singulares. Nessa hipótese, não havendo
transferência do estabelecimento, não há sucessão, no sentido de ficarem os
empregados obrigados a aceitar o novo empregador. (in Instituições de Direito do
Trabalho, 20ª Ed. LTr, Vol. I, p. 302/303)”.

Excelência, a única identidade entre as empresas é o exercício de atividade


econômica similar, o que é insuficiente para se reconhecer eventual sucessão empresarial.

Nesse sentido, a doutrina especializada sobre o tema disciplina:


“Para a doutrina clássica, são requisitos da sucessão trabalhistas: a) transferência de
uma unidade empresarial económica de produção de um titular para outro; b)
inexistência de solução de continuidade do contrato de trabalho, vale dizer: o
empregado da empresa sucedida deve trabalhar para a empresa sucessora.
(SCHIAVI, Mauro. A Reforma Trabalhista e o Processo do Trabalho: aspectos
processuais da Lei n. 13.467/17. LTr Editora, 2017. pg. 135)”.

Excelência, esta continuidade alegada não ficou demonstrada. Afinal, a empresa em


que se pretende responsabilizar pelos débitos, ora Impugnante, apesar de exercer a mesma atividade
econômica, não deu nenhuma continuidade na empresa Reclamada, e ela (Reclamada), ao que se sabe
pelas manifestações neste processo, segue ativa em funcionamento, em nada se confundindo com
essa empresa.
Repisa-se: não há identidade de sócios entre as empresas, tampouco prova de que
uma tenha adquirido da outra equipamentos ou aproveitado a força de labor dos empregados,
circunstâncias que teriam o condão de corroborar a tese de sucessão.

Ao contrário do informado no requerimento do Reclamante, esta Impugnante se quer


usou ou usa o nome da Reclamada, sendo que a manifestação do Condomínio se revela estranha,
tendenciosa, vez que se tratam de empresas completamente distintas e nos autos permanece a
informação de que a Reclamada está em funcionamento, inclusive, devidamente representada nestes
autos.

Nesse sentido corrobora a jurisprudência pátria:

“RECURSO ORDINÁRIO. REVELIA. SUCESSÃO EMPRESARIAL NÃO


CARACTERIZADA - A sucessão empresarial encontra fundamento nos art. 10 e
448, da CLT. A teor de tais dispositivos, a sucessão de empresas, para fins de
responsabilidade trabalhista, pressupõe alteração na estrutura jurídica da empresa ou
transferência, ainda que parcial, da universalidade de bens que a compõe, bem
assim a continuidade do empreendimento econômico. No caso, contudo, não restou
caracterizada a hipótese legal nas alegações da autora na peça de ingresso. Recurso
improvido, no aspecto. (Processo: RO - 0001251-23.2017.5.06.0145, Redator:
Fabio Andre de Farias, Data de julgamento: 26/09/2018, Segunda Turma, Data da
assinatura: 26/09/2018)”.

“EMENTA AGRAVO DE PETIÇÃO. SUCESSÃO EMPRESARIAL. NÃO


CARACTERIZADA. NECESSIDADE DE PROVA ROBUSTA. A SUCESSÃO
EMPRESARIAL ENCONTRA FUNDAMENTO NOS ARTS. 10, 448 E 448-A,
DA CLT. A TEOR DE TAIS DISPOSITIVOS, A SUCESSÃO DE EMPRESAS,
PARA FINS DE RESPONSABILIDADE TRABALHISTA, PRESSUPÕE
ALTERAÇÃO NA ESTRUTURA JURÍDICA DA EMPRESA OU
TRANSFERÊNCIA, AINDA QUE PARCIAL, DA UNIVERSALIDADE DE
BENS QUE A COMPÕE, BEM ASSIM A CONTINUIDADE DO
EMPREENDIMENTO ECONÔMICO. NÃO BASTA O FATO DE UM NOVO
EMPREENDIMENTO QUE EXPLORA A MESMA ATIVIDADE E NO MESMO
ENDEREÇO INICIAR SUAS ATIVIDADES. HÁ QUE SE TER UM LIAME QUE
APONTE A TRANSFERÊNCIA DA UNIDADE PRODUTIVA. AGRAVO DE
PETIÇÃO PROVIDO. (TRT-19 - AP: 00016139620145190006 0001613-
96.2014.5.19.0006, Relator: Laerte Neves De Souza, Data de Publicação:
14/08/2020)”.

“SUCESSÃO EMPRESARIAL NÃO COMPROVADA. Para a caracterização da


sucessão empresarial é necessário comprovar a aquisição do estabelecimento ou do
fundo de comércio, bem como a continuidade da exploração da atividade
econômica da empresa sucedida. Não havendo prova da transferência do
empreendimento à empresa que funciona no mesmo local, não se reconhece a
sucessão empresarial. Agravo do exequente a que se nega provimento. (TRT-2
00003683220145020068 SP, Relator: CARLOS ROBERTO HUSEK, 17ª Turma -
Cadeira 3, Data de Publicação: 22/07/2021)”.

Portanto, o requerimento de inclusão dessa empresa no polo passivo se revela


tendencioso e abusivo, eis que não possui qualquer relação com a Reclamada ou o Reclamante, sendo
pessoa totalmente alheia ao feito e aos direitos aqui reivindicados.
Importante dizer que cabe ao Reclamante a busca pela satisfação de seu crédito,
porém, ele não pode sair “atirando para todo lado” tentando responsabilizar quem nunca teve
qualquer responsabilidade pelo crédito exequendo. Afinal, como dito, ninguém está obrigado a fazer
ou deixar de fazer senão em virtude de lei e, no presente caso, não há o preenchimento dos requisitos
legais para que se caracterize qualquer situação aviada pelo Obreiro.

Roga-se pela imediata exclusão desta empresa do polo passivo da ação.

Termos em que,
Pede e espera o deferimento.

São Paulo, 20 de outubro de 2021.

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