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Grupo Econômico

Fábio de Azevedo Cabral

RESUMO: Neste presente artigo, elaborado como trabalho de conclusão do


curso de pós-graduação lato sensu em Direito do Trabalho e Direito Processual
do Trabalho, no UNIFLU, irá discutir as alterações causadas pelas modificações
elaboradas na CLT acerca do ônus da prova em processos jurídicos que
envolvam grupos econômicos. Para tal enfatizaremos o advento da Lei
13.467/17 e a nova redação que foi dada ao artigo 2º da Consolidação das Leis
de Trabalho e o acréscimo do §3º. Discorreremos sobre a viabilidade ou a
inviabilidade que estas mudanças trouxeram tendo como ponto de partida a
situação do trabalhador em relação as empresas, especialmente os grupos
econômicos.
Palavras-chave: Grupos Econômicos, Direito Trabalhista, Ônus da Prova

ABSTRACT: In this article, elaborated as a conclusion work for a Bachelor of


Law course at UNIFLU, it will discuss the changes caused by the changes
elaborated in the CLT regarding the burden of proof in legal processes involving
economic groups. To this end, we will emphasize the advent of Law 13,467 / 17
and the new wording that was given to article 2 of the Consolidation of Labor
Laws and the addition of § 3. We will discuss the viability or non-viability that
these changes brought taking as its starting point the worker's situation
regarding businesses, particularly economic groups.

Key-words: Economic Groups, Labor Law, Burden of Proof.

SUMÁRIO:
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1- INTRODUÇÃO

2- GRUPOS ECONÔMICOS

3- ÔNUS DA PROVA
4- PROVA DIABÓLICA
5- CONCLUSÃO

INTRODUÇÃO
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Para adentrarmos em nossa discussão iremos incialmente expor aqui o


conceito de grupos econômicos que: É formado por duas ou mais empresas,
cada um com sua própria personalidade jurídica. Para a configuração do grupo
são necessários os seguintes requisitos (artigo 2º, § 3º, da CLT): a demonstração
do interesse integrado; a efetiva comunhão de interesses; e, a atuação conjunta
das empresas integrantes; integradas administrativamente e/ou
economicamente.

GRUPO ECONÔMICO

A formação do grupo econômico, na seara trabalhista, é de grande


importância, principalmente para o recebimento dos direitos dos empregados,
quando estes, contratados por determinada empresa, ao se desligarem de tal,
não conseguem receber seus direitos trabalhistas.

Antes do advento da lei 13.467/17, somente com a comprovação de


identidade de sócios, estava caracterizada a existência de grupo econômico.
Neste caso, comprovada a existência do grupo econômico, o empregado podia
incluir, no polo passivo de uma reclamação trabalhista. Todas as empresas
integrantes deste grupo, eram solidariamente responsáveis com a empresa
contratante.

Assim, o empregado podia exigir e receber de qualquer uma das


empresas integrantes do grupo econômico do seu crédito. Com o advento da lei
13.467/17, nova redação foi dado ao artigo 2º da Consolidação das Leis do
Trabalho, sendo acrescido o §3.

Dispõem os §§ 2º e 3º do artigo 2º da CLT:


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Art. 2º, § 2º — “Sempre que uma ou mais empresas, tendo, embora,


cada uma delas, personalidade jurídica própria, estiverem sob a
direção, controle ou administração de outra, ou ainda quando, mesmo
guardando cada uma sua autonomia, integrem grupo
econômico, serão responsáveis solidariamente pelas obrigações
decorrentes da relação de emprego”.
§ 3º - Não caracteriza grupo econômico a mera identidade de sócios,
sendo necessárias, para a configuração do grupo, a demonstração
do interesse integrado, a efetiva comunhão de interesses e a atuação
conjunta das empresas dele integrantes.

Assim, a mera identidade de sócios não configura existência de grupo


econômico, devendo o empregado demonstrar os requisitos, conforme
determina o §3º do dispositivo legal acima exposto. Nesse sentido a ementa
abaixo, in verbis:

AGRAVO. AGRAVO DE INSTRUMENTO EM RECURSO DE


REVISTA. RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA. RECONHECIMENTO
DE GRUPO ECONÔMICO PAUTADO EXCLUSIVAMENTE NA
EXISTÊNCIA DE SÓCIOS EM COMUM E NA PARTICIPAÇÃO
ACIONÁRIA DA EMPREGADORA. IMPOSSIBILIDADE. Ante as
razões apresentadas pela agravante, afasta-se o óbice oposto no
despacho agravado. Agravo conhecido e provido. RECURSO DE
REVISTA. RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA. RECONHECIMENTO
DE GRUPO ECONÔMICO PAUTADO EXCLUSIVAMENTE NA
EXISTÊNCIA DE SÓCIOS EM COMUM E NA PARTICIPAÇÃO
ACIONÁRIA DA EMPREGADORA. IMPOSSIBILIDADE. 1. Na
hipótese, o Tribunal de origem reconheceu a reclamada AMADEUS
BRASIL LTDA. como empresa integrante do grupo econômico da
empregadora "em razão da identidade de sócios e clara participação
acionária da devedora principal (Varig)". 2. Contudo, à luz da
jurisprudência desta Corte, não se admite o reconhecimento de grupo
econômico pela identidade de sócios ou pela participação societária
da empregadora, sendo necessária, para esse fim, a demonstração
da existência de comando hierárquico de uma empresa sobre as
demais. 3. Violação do art. 2º, § 2º, da CLT caracterizada. Recurso
de revista conhecido e provido.

(TST - RR: 1814002720085020020, Relator: Hugo Carlos


Scheuermann, Data de Julgamento: 15/05/2019, 1ª Turma, Data de
Publicação: DEJT 17/05/2019).

Gustavo Filipe Barbosa Garcia aduz que: De acordo com Gustavo Filipe
Barbosa Garcia, o grupo econômico poder ser configurado de duas formas
alternativas: “1) quando as empresas envolvidas estão sob a direção, controle
ou administração de outra; ou 2) quando, mesmo guardando cada uma das
empresas a sua autonomia, integrem grupo econômico”
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ÔNUS DA PROVA

Ônus é o encargo atribuído a quem alega ser detentor de determinado


direito, cuja inobservância pode colocar o empregado em situação de
desvantagem. Sendo o Novo Código de Processo Civil, norma subsidiaria e
supletiva ao Processo do Trabalho, artigo 373: “O ônus da prova incube: I- “Ao
autor, quanto ao fato constitutivo de seu direito”.

Diante do exposto no §3º do artigo 2º da CLT, o ônus de provar a


existência do grupo econômico recai sobre o empregado, obstaculizando
intensamente tal prática, e, consequentemente, a satisfação do seu crédito, visto
tratar-se de uma prova impossível de ser obtida pelo o empregado.

PROVA DIABÓLICA

Denomina-se diabólica aquela prova em que o empregado, nos casos em


que se tem que provar um fato negativo, algo que não ocorreu, enfrenta uma
dificuldade extrema em produzi-la, tornando-a impossível. A Ementa abaixo
ilustra de maneira adequada o tema:

EMENTA Agravo regimental em reclamação. Responsabilidade


subsidiária da Administração Pública. ADC nº 16/DF. Ausência de
comprovação do elemento subjetivo do ato ilícito imputável ao Poder
Público. Agravo regimental não provido. 1. A inversão do ônus da prova
a fim de se admitir a veracidade dos fatos alegados pelo trabalhador e
se responsabilizar a empregadora direta pelas verbas trabalhistas
pleiteadas são consequências processuais que não podem ser
transferidas, ainda que subsidiariamente, ao Poder Público, cuja
responsabilidade deve estar demonstrada e delimitada pelas
circunstâncias do caso concreto. 2. Ausência de comprovação do
elemento subjetivo do ato ilícito imputável ao Poder Público. 3. Agravo
regimental não provido. (STF-Rcl: 15003 PR, Relator: Min. DIAS
TOFFOLI, data de julgamento: 30/04/2014, Tribunal Pleno, data de
publicação: DJe-109 DIVULG 05-06-2014 PUBLIC 06-06-2014).
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Diverso do que acontece no Direito Civil, a relação jurídica no Direito do


Trabalho (empregado e empregador), não possui ampla igualdade jurídica, uma
vez que o trabalhador, na maioria das vezes, encontra-se em condição de
vulnerabilidade contratual, razão pela qual o princípio protetivo é a diretriz básica
desse ramo do Direito.

Diante desta dificuldade o Direito Processual Civil, concedeu aos


magistrados atribuir o ônus da prova de modo diverso, ou seja, distribuir de forma
dinâmica o ônus da prova, sendo também aplicada as relações processuais
trabalhistas, conforme determina o artigo 3°, VII, da Instrução Normativa nº
39/2016: “Art. 2° Sem prejuízo de outros, não se aplicam ao Processo do
Trabalho, em razão de inexistência de omissão ou por incompatibilidade, os
seguintes preceitos do Código de Processo Civil que regulam os seguintes
temas”

[...]

VII – “art. 373, §§ 1º e 2º (distribuição dinâmica do ônus da prova)”;

De acordo com o artigo 373, §§ 1º e 2º, do CPC:

§ 1º Nos casos previstos em lei ou diante de peculiaridades da causa


relacionadas à impossibilidade ou à excessiva dificuldade de cumprir o
encargo nos termos do caput ou à maior facilidade de obtenção da
prova do fato contrário, poderá o juiz atribuir o ônus da prova de modo
diverso, desde que o faça por decisão fundamentada, caso em que
deverá dar à parte a oportunidade de se desincumbir do ônus que lhe
foi atribuído.
§ 2º A decisão prevista no § 1º deste artigo não pode gerar situação
em que a desincumbência do encargo pela parte seja impossível ou
excessivamente difícil.
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CONCLUSÃO

No contexto do Direito do Trabalho, grupo econômico é a situação em que


uma ou mais empresas, mesmo tendo cada uma delas responsabilidade jurídica
própria, estiverem sob a direção, controle ou administração da outra, ou, ainda,
se apesar de elas possuírem autonomia reconhecerem, espontaneamente, a
existência do mencionado grupo.

Sabe-se que, na seara trabalhista, haverá possibilidade solidaria de todas


as empresas que fizerem parte do mesmo grupo econômico em relação as
dívidas de natureza trabalhista. Isto quer dizer, que se duas ou mais empresas
forem reconhecidas como integrantes de grupo econômico, muito embora o
empregado tenha prestado o serviço apenas para uma delas, todas as demais
responderão solidariamente pelas verbas decorrentes da relação de emprego,
notadamente aquelas deferidas em processos judiciais.

Antes da reforma trabalhista, promovida em 2017, para que fosse


reconhecido um grupo econômico, era necessário apenas demonstrar a
identidade dos sócios e a relação de coordenação entre as empresas, não se
exigindo a comprovação de ingerência de uma empresa sobre as demais.

Com o advento da reforma e a mudança na redação do §2º, e a inserção


do §3º, no artigo 2º da CLT, não basta apenas a mera identificação dos sócios e
uma relação de coordenação. Assim sendo, diante de todo o exposto, verifica-
se que, com o advento da Lei 13.467/17, tornou-se impossível para o
trabalhador, no caso de inadimplência da empresa contratante, provar a
existência de um grupo econômico, haja vista que, para tanto não basta
comprovação de identidade de sócios.

REFERÊNCIAS
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BAPTISTA, Ailza Ribeiro. Grupo econômico e prova diabólica, In: ORG.


FAGUNDES, Christiano. “Direito e Justiça em Destaque”, Ed. Autografia.
2019.

CASSAR, Vólia Bomfim. Direito do Trabalho. São Paulo: Método. 2016.

GARCIA, Gustavo Filipe Barbosa. Reforma Trabalhista, 2º ed., Salvado: Ed.


JusPODIVM. 2017.

SARAIVA, Renato; LINHARES, Aryanna; SOUTO, Rafael Tonassi. CLT. Grupo


Gen-Editora Método Ltda., 2016.

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