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Belo Horizonte
2022
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO 3
2. CONCEITO DE PEJOTIZAÇÃO 3
3. DIFERENÇA DOS TRABALHADORES AUTÔNOMOS, TERCEIRIZADOS E
PEJOTIZADOS 4
4. DOS DIREITOS DOS TRABALHADORES PEJOTIZADOS 5
5. A PEJOTIZAÇÃO: PRECARIZAÇÃO E FRAUDE DA RELAÇÃO TRABALHISTA 7
6. ANÁLISE CRÍTICA QUANTO AOS BENEFÍCIOS DA CONTRATAÇÃO DE PJ
PARA O CONTRATADO 9
7. CONCLUSÃO 11
8. REFERÊNCIAS 12
1. INTRODUÇÃO
A “Pejotização”, muito usada e conhecida nos dias atuais, surgiu ainda em meados da
década de 1990 para burlar normas trabalhistas através da manutenção de “empregados” por
meio de contratos de prestação de serviço com “pessoas jurídicas”.
Com o intuito de aprofundar os conhecimentos sobre essa prática, o objetivo principal
do presente trabalho é apresentar e discutir criticamente essa transformação de pessoas físicas
em jurídicas no âmbito do Direito do Trabalho. Para tanto, será realizada uma análise crítica
da doutrina, da jurisprudência e da legislação vigente.
No que diz respeito à estruturação do trabalho, foi decidido dividi-lo em sete tópicos,
sendo o segundo deles responsável por apresentar o conceito de pejotização e o terceiro as
diferenças entre trabalhadores autônomos, terceirizados e pejotizados.
Em seguida, o quarto tópico irá apresentar os direitos dos “pejotas” e, ato contínuo, o
quinto e sexto tópicos serão responsáveis por realizar, respectivamente, críticas contra e a
favor da “Pejotização”.
Por derradeiro, o último tópico do trabalho traz as conclusões do grupo inferidas
durante a realização do estudo.
2. CONCEITO DE PEJOTIZAÇÃO
Essa prática é condenada por via do Código Penal brasileiro o qual estabelece em seu
artigo 203: “frustrar, mediante fraude ou violência, direito assegurado pela legislação do
trabalho: pena - detenção de um ano a dois anos, e multa, além da pena correspondente à
violência.”. Ademais, ela é considerada uma fraude por ocultar a relação de trabalho existente
entre os dois lados, vez que a esfera constituída por parte do empregador visa tirar proveitos
da outra a partir do momento que busca somente reduzir os seus gastos e, consequentemente,
aumentar os lucros obtidos com aquela força de trabalho.
Ter-se-á em consideração que a prática de trabalho por parte de pessoas jurídicas é
admitida partindo-se do pressuposto de que se estabeleceria com base em uma atividade
autônoma e independente em relação à empresa tomadora do determinado serviço, o que não
ocorre no caso da Pejotização.
Por fim, é possível estabelecer que, na Pejotização, a pessoa jurídica possui as
características determinadas para os trabalhadores em regime CLT, os quais compreendem-se:
a subordinação, a onerosidade, a pessoalidade e a habitualidade. Entretanto, no presente caso
é não somente possível como evidente a identificação da fraude a partir do momento em que o
empregado, constituído por uma pessoa jurídica, não presta serviços a demais empresas, não
possui uma sede específica, e possui um tempo de formação mínimo.
A pessoa contratada como “pejota” vende sua força de trabalho como empresário,
transparecendo “suposta” autonomia na execução das atividades. O trabalhador pejotizado
abre mão dos direitos trabalhistas, arcando com os custos de manutenção da pessoa
jurídica como, por exemplo, com a emissão de notas fiscais, a administração contábil,
o pagamento de impostos, o planejamento de reservas, assumindo todos os riscos da
atividade econômica. Ademais, salienta os professores Attila Barbosa e Juliani Orbem que:
1
Associação dos Magistrados da Justiça do Trabalho
funções, porém com valores remuneratórios diferenciados. O trabalhador
pejotizado também não dispõe da possibilidade de ascensão funcional na
empresa que presta serviço (BARBOSA, ORBEM, 2015, p. 14)
Fica evidente, portanto, que essa modalidade de trabalho não garante nenhum direito
ao trabalhador, há na verdade uma supressão das garantias trabalhistas, deixando-o
extremamente vulnerável, além de burlar os princípios aplicados às leis trabalhistas.
Além disso, a ideia de que a pejotização passou a ser uma prática estimulada pela CLT, com a
Reforma Trabalhista (especificamente com a nova redação do artigo 442-B e a inclusão do parágrafo
2º) é totalmente equivocada. Essa mudança abriu espaço e estimulou a contratação de trabalhadores
autônomos em substituição à contratação por meio da CTPS. (VIEGAS, 2021).
Desta forma, a pejotização configura-se como uma prática criminosa, como sera
exposto a seguir, sendo constatada fraude na ocorrência de contratação de um empregado que
preenche todas as condições de uma relação de emprego de uma Pessoa Física e mesmo assim
é contratada como Pessoa Jurídica.
É inegável que a pejotização tem se tornado, ao longo dos anos, cada vez mais comum
e vem acompanhada de um período de relações de trabalho crescentemente multiformes. No
entanto, apesar de ser uma relação de trabalho lícita, importa-se referir que, para grande parte
da doutrina trabalhista tal relação é considerada como uma ofensa aos direitos já
regulamentados na legislação, uma vez que possibilita a ocorrência de fraude previdenciária,
fiscal e trabalhista quando possibilita que através desta prática uma relação de emprego seja
acaçapada.
Sobre o tema, é notório que a pejotização não se trata de uma flexibilização de uma
relação de trabalho, como muito tem se tentando fazer entender, e sim de uma
desregulamentação dos direitos trabalhistas conquistados e regulamentados por anos. Leone
Pereira da Silva Júnior nos explica a distinção entre ambos os termos:
Logo, entendendo o contexto, também salientamos que não são raros os casos em que
profissionais preferem trabalhar nesta sistemática, por acreditar que os valores percebidos são
mais atrativos do que quando trabalhado por meio de contrato celetista. Quando analisamos o
porquê dessa possibilidade de discrepância de forma tributária, temos pelo lado celetista uma
obrigatoriedade do empregador de proporcionar benefícios trabalhistas, tais como, FGTS,
multa rescisória, pagamento de horas extras, vale alimentação e transporte, 13º salário entre
outros benefícios. Neste mesmo caso, a tributação de imposto de renda sobre o salário pode
chegar a 27,5%.
Por outro lado, quando nós falamos dos contratos de prestação de serviços advindos da
pejotização, não há imposto de renda retido na fonte, nem qualquer tipo de benefício, sejam
eles legais ou normativos. Também, o INSS patronal é o dobro do percentual se comparado ao
valor da pejotização. Ainda, no momento em que o trabalhador pejotizado emite uma nota
fiscal para o recebimento de um serviço realizado, ele pode optar por recolher o INSS com
intuito de garantir meios de aposentadoria futuramente.
Atualmente a Justiça do Trabalho, nas suas mais diversas decisões sobre o tema, vem
fazendo um papel importante para que seja reconhecida a relação de trabalho em contratações
abordadas como contrato de prestação de serviço através da pejotização. Essas decisões, em
sua maioria, reconhecem o vínculo empregatício amparado no princípio da primazia da
realidade, que versa sobre sobrepujar a realidade dos fatos ao invés do que foi formalizado
entre as partes, bem como, através do princípio da indisponibilidade dos direitos trabalhistas,
que retrata que o empregado não pode optar por não receber as vantagens e proteções já
estabelecidas juridicamente.
Logo, entende-se que, até então, pela forma em que a pejotização foi inserida no
mercado de trabalho e tem sido utilizada de forma aberta entre as pessoas, não se apresenta
em defesa a ordem jurídica e sim como forma de precarizar as conquistas conseguidas em
troca de uma aparente vantagem. Deste modo, acreditamos que apesar da grande adesão, os
efeitos negativos ao longo dos anos serão notados e será necessário que se repense esse
modelo que hoje vemos como insuficiente e prejudicial em longo prazo.
Quando o tema relação trabalhista é abordado, na maioria das vezes imaginamos dois
polos, empregador e empregado, o primeiro obviamente mais forte e o segundo em sua
hipossuficiência na relação. A tentativa de fraude e de burlar os direitos trabalhistas
conquistados por parte do mais forte é sem dúvida muito vista nessa seara, não apenas em
contratações de Pessoa Jurídica, chamado pejorativamente de trabalhadores pejotizados
quando esta conduta é praticada de maneira ilícita, mas em outros âmbitos como
trabalhadores terceirizados e autônomos. Não obstante exista sim margem para fraudes, que
deveriam ser devidamente punidas, a aplicação do uso correto da lei para trabalhadores
contratados como Pessoa Jurídica permite vantagens para ambas as partes dessa relação
empregatícia.
A contratação de um trabalhador Pessoa Jurídica por uma empresa não impede que
esse primeiro seja contratado por outras, ou seja, não há exclusividade. Tampouco há,
necessariamente, exclusividade em um contrato celetista, terceirizado ou autônomo. Mas
junto à vantagem citada anteriormente de ter em contrato a autonomia de horários, é possível
que o trabalhador pejota tenha relação contratual com outras empresas, e desenhar seus
horários como bem desejar. Projetado no futuro, caso haja crescimento de demanda de
trabalho para o trabalhador que possui a empresa contratada, este por sua vez pode contratar
funcionários para ajudá-lo, através de sua própria empresa e assim aumentar seus ganhos.
Posto isto, concluímos que existem benefícios ao trabalhador contratado como Pessoa
Jurídica, desde que as normas referentes a essa relação de trabalho sejam cumpridas. O bom
uso das leis deve ser feito por todas as partes da relação. A sociedade e as relações sociais
mudam constantemente, haja vista dessa mudança, conquistas passadas não refletem
necessariamente conquistas futuras, e condutas relacionais, incluídas aqui as trabalhistas,
devem ser revistas a todo o momento, a fim de melhor se adequarem à cada área de atuação
profissional, e às peculiaridades de novas épocas e gerações.
7. CONCLUSÃO
Cabe ressaltar, contudo, que a “Pejotização” não consiste na mera formação de pessoas
jurídicas para compor uma das partes da relação de trabalho, mas tem como característica
básica a “fraude” ou a “simulação” da real relação de emprego.
De acordo com o artigo 3º da CLT o empregado é toda pessoa física que presta
serviços “de natureza não eventual a empregador, sob a dependência deste e mediante
salário”, ou seja, é aquele que realiza o trabalho através de pessoa física, com subordinação,
onerosidade, pessoalidade e habitualidade. Assim sendo, a criação de “pejotas” oculta a
relação emprego existente para privar o empregado de seus benefícios trabalhistas, o que vai
de encontro a princípios básicos do Direito do Trabalho, como o da boa-fé e o da
irrenunciabilidade (ou indisponibilidade) dos direitos trabalhistas.
Insta acentuar, contudo, que o trabalhador “pejota” não se confunde com o trabalhador
“autônomo”, vez que a este não se aplica a característica da subordinação. Não se confunde,
também, com o trabalhador “terceirizado”, haja vista que na terceirização o que ocorre é a
contratação de uma empresa que presta serviços através de seus funcionários.
8. REFERÊNCIAS
LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de Direito do Trabalho. São Paulo: Editora Saraiva,
2022. Acesso em: 17/09/2022.
PEREIRA, Leone. Pejotização: o trabalhador como pessoa jurídica . São Paulo: Editora
Saraiva, 2013. E-book. ISBN 9788502164819. Disponível em:
https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788502164819/. Acesso em: 17 set. 2022.
SOUZA, L. Direito Penal: Parte Especial: Arts. 155 a 234-B. São Paulo: Editora Revista
dos Tribunais, 2020. Acesso em: 18/09/2022.