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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS

Faculdade Mineira de Direito

TRABALHO DA DISCIPLINA DIREITO DO TRABALHO:

Tema: Trabalhadores “Pejotizados”.

Belo Horizonte

2022
SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO 3
2. CONCEITO DE PEJOTIZAÇÃO 3
3. DIFERENÇA DOS TRABALHADORES AUTÔNOMOS, TERCEIRIZADOS E
PEJOTIZADOS 4
4. DOS DIREITOS DOS TRABALHADORES PEJOTIZADOS 5
5. A PEJOTIZAÇÃO: PRECARIZAÇÃO E FRAUDE DA RELAÇÃO TRABALHISTA 7
6. ANÁLISE CRÍTICA QUANTO AOS BENEFÍCIOS DA CONTRATAÇÃO DE PJ
PARA O CONTRATADO 9
7. CONCLUSÃO 11
8. REFERÊNCIAS 12
1. INTRODUÇÃO

A “Pejotização”, muito usada e conhecida nos dias atuais, surgiu ainda em meados da
década de 1990 para burlar normas trabalhistas através da manutenção de “empregados” por
meio de contratos de prestação de serviço com “pessoas jurídicas”.
Com o intuito de aprofundar os conhecimentos sobre essa prática, o objetivo principal
do presente trabalho é apresentar e discutir criticamente essa transformação de pessoas físicas
em jurídicas no âmbito do Direito do Trabalho. Para tanto, será realizada uma análise crítica
da doutrina, da jurisprudência e da legislação vigente.
No que diz respeito à estruturação do trabalho, foi decidido dividi-lo em sete tópicos,
sendo o segundo deles responsável por apresentar o conceito de pejotização e o terceiro as
diferenças entre trabalhadores autônomos, terceirizados e pejotizados.
Em seguida, o quarto tópico irá apresentar os direitos dos “pejotas” e, ato contínuo, o
quinto e sexto tópicos serão responsáveis por realizar, respectivamente, críticas contra e a
favor da “Pejotização”.
Por derradeiro, o último tópico do trabalho traz as conclusões do grupo inferidas
durante a realização do estudo.

2. CONCEITO DE PEJOTIZAÇÃO

A palavra Pejotização refere-se ao termo “pessoa jurídica”, o que remete a uma


modificação no âmbito do empregado, o qual é representado por uma pessoa jurídica, e que
obtém serviços de outro polo que é constituído por uma pessoa física, mas que deve constituir
uma pessoa jurídica. Esse contexto advém, sobretudo, de uma prática que visa a fuga quanto
ao cumprimento dos padrões de regras trabalhistas do emprego convencional.
A Pejotização, a qual surgiu em meados da década de 90, decorre da flexibilização
quanto às relações trabalhistas e da abertura às normas e dos padrões anteriormente praticados
na sociedade. Aliado a isso, tem-se a busca incessante, por parte das empresas, no aumento
dos lucros através do suprimento aos pagamentos a serem realizados aos seus colaboradores –
seja no âmbito obrigatório quanto no âmbito voluntário.
Vale ressaltar que essa prática traduz uma relação aproveitadora por parte do
empregador, em relação ao empregado, uma vez que o primeiro se aproveita das condições de
necessidade e subordinação do segundo, de modo a submetê-lo a condições menos favoráveis
em prol do aumento dos seus lucros.

Essa prática é condenada por via do Código Penal brasileiro o qual estabelece em seu
artigo 203: “frustrar, mediante fraude ou violência, direito assegurado pela legislação do
trabalho: pena - detenção de um ano a dois anos, e multa, além da pena correspondente à
violência.”. Ademais, ela é considerada uma fraude por ocultar a relação de trabalho existente
entre os dois lados, vez que a esfera constituída por parte do empregador visa tirar proveitos
da outra a partir do momento que busca somente reduzir os seus gastos e, consequentemente,
aumentar os lucros obtidos com aquela força de trabalho.
Ter-se-á em consideração que a prática de trabalho por parte de pessoas jurídicas é
admitida partindo-se do pressuposto de que se estabeleceria com base em uma atividade
autônoma e independente em relação à empresa tomadora do determinado serviço, o que não
ocorre no caso da Pejotização.
Por fim, é possível estabelecer que, na Pejotização, a pessoa jurídica possui as
características determinadas para os trabalhadores em regime CLT, os quais compreendem-se:
a subordinação, a onerosidade, a pessoalidade e a habitualidade. Entretanto, no presente caso
é não somente possível como evidente a identificação da fraude a partir do momento em que o
empregado, constituído por uma pessoa jurídica, não presta serviços a demais empresas, não
possui uma sede específica, e possui um tempo de formação mínimo.

3. DIFERENÇA DOS TRABALHADORES AUTÔNOMOS, TERCEIRIZADOS E


PEJOTIZADOS

Inicialmente, para que possa ser explicado as distinções entre trabalhadores


“pejotizados”, autônomos e terceirizados, conceitos que são facilmente confundidos, é
necessário primeiro discorrer sobre a disposição de dois elementos fáticos jurídico que
compõem a relação de emprego: a pessoa física e a subordinação.
No artigo terceiro da CLT é disposto que “Considera-se empregado toda pessoa física
que prestar serviços de natureza não eventual a empregador, sob a dependência deste e
mediante salário.”. Dessa forma, não há o que se falar nessas relações de trabalho sobre o
formato empregatício, ou seja, é inexistente a relação de emprego.
Apesar da contratação de autônomos (pessoa física ou jurídica) ser exercida por uma
empresa (pessoa jurídica), não é aplicável o estado jurídico da subordinação, portanto, não há
vínculo de emprego. Diz ainda Carlos Henrique Bezerra Leite em seu livro Curso do Direito
do Trabalho: “O trabalhador autônomo, como o próprio nome está a dizer, não é subordinado.
Logo, ainda que preste o serviço de forma pessoal, onerosa e não eventual, não estará sob a
tutela direito do trabalho.” (LEITE, 2022, p. 101)
O trabalho autônomo pode ser exercido como propriamente dito ou via empreitadas. O
trabalhador autônomo propriamente dito, trabalha por si mesmo e possui autogestão,
assumindo também os riscos. Nesse caso o diferencial é a importância da pessoalidade. Já no
contrato de empreitada diz respeito sobre o serviço a ser executado, apesar do empreiteiro ser
uma das partes do contrato, trabalhando também por conta própria e assumindo os riscos do
negócio.
Na relação contratual de terceirizados, uma empresa tomadora (pessoa jurídica)
contrata outra empresa prestadora de serviços – também pessoa jurídica – que fornece mão de
obra para a realização de atividades-meio ou atividades-fim.

Terceirização, para nós, é um procedimento adotado por uma empresa que,


no intuito de reduzir os seus custos, aumentar a sua lucratividade e, em
consequência, sua competitividade no mercado, contrata outra empresa que,
possuindo pessoal próprio, passará a prestar aqueles serviços que seriam
realizados normalmente pelos seus empregados. (LEITE, 2022, p.189).

Por último, a pejotização já explicada neste trabalho, se difere das demais


classificações por se tratar de uma pessoa jurídica contratando outra pessoa jurídica, a fim de
se esquivar das obrigações trabalhistas. No entanto, há de ser ressaltado que a relação de
trabalho pode ser reconhecida caso seja comprovado a existência de todos os requisitos fáticos
da relação.

4. DOS DIREITOS DOS TRABALHADORES PEJOTIZADOS

Uma das principais discussões em relação à “Pejotização” é a respeito dos direitos


desses trabalhadores. Isso porque, uma Pessoa Jurídica não tem os mesmos direitos que uma
Pessoa Física. A classe empregadora ressalta ainda que a pejotização pode gerar benefícios
aos empregados pejotizados.

Essa modalidade de trabalho, à primeira vista, chama a atenção do empregado, pois a


pecúnia oferecida pelo empregador é maior, alegando que com a redução com o pagamento de
impostos possibilitará o aumento do valor do “salário”, mas como consequência o trabalhador
não será assegurado pela lei. A contratação pejotizada é uma forma de se esquivar à
contratação tradicional do empregado ao eventualmente “mascarar” os resultados desse
pacto laboral mediante um ganho salarial maior que, a priori, pode parecer mais
vantajoso.

O trabalhador ao ser pejotizado não tem direitos básicos garantidos, como


recolhimento de FGTS, 13º salário, licença maternidade, tampouco ao pagamento de
indenização sobre os seus 40% no caso de dispensa sem justa causa, além da ausência de
recebimento do seguro-desemprego, entre outras vantagens. O trabalhar Pejotizado pode ter
inúmeras “vantagens”, mas não possui muitos direitos.

Nesse tipo de relação, quem contrata paga menos impostos e se isenta de


inúmeras responsabilidades. Quem é contratado abre mão de seus direitos
trabalhistas – como FGTS + 40%, férias, 13º salário, horas extras, verbas
rescisórias – e assume gastos para manter a pessoa jurídica, como emissão de
nota fiscal e administração contábil. (ANAMATRA1, 2008).

Ao contratar o trabalhador como pessoa jurídica, o empregador burla a legislação


trabalhista evitando o pagamento aos trabalhadores das verbas que são conferidas por direito.
Segundo Jennifer de Sales e Sousa Lima, “essa prática se mostra prejudicial no que concerne
aos seus direitos trabalhistas, conferidos pela Consolidação das Leis do Trabalho, pois o
Direito do Trabalho tutela somente a pessoa física do trabalhador”( SOUSA, 2014, p.44).

A pessoa contratada como “pejota” vende sua força de trabalho como empresário,
transparecendo “suposta” autonomia na execução das atividades. O trabalhador pejotizado
abre mão dos direitos trabalhistas, arcando com os custos de manutenção da pessoa
jurídica como, por exemplo, com a emissão de notas fiscais, a administração contábil,
o pagamento de impostos, o planejamento de reservas, assumindo todos os riscos da
atividade econômica. Ademais, salienta os professores Attila Barbosa e Juliani Orbem que:

A pejotização também contribui para o processo de dualização salarial


praticado no interior das empresas e de dualização do mercado de
trabalho com trabalhadores dentro da empresa executando as mesmas

1
Associação dos Magistrados da Justiça do Trabalho
funções, porém com valores remuneratórios diferenciados. O trabalhador
pejotizado também não dispõe da possibilidade de ascensão funcional na
empresa que presta serviço (BARBOSA, ORBEM, 2015, p. 14)

Fica evidente, portanto, que essa modalidade de trabalho não garante nenhum direito
ao trabalhador, há na verdade uma supressão das garantias trabalhistas, deixando-o
extremamente vulnerável, além de burlar os princípios aplicados às leis trabalhistas.

A vulnerabilidade do trabalhador se verifica pela falta de igualdade


econômica e, algumas vezes, intelectual para pactuar e estabelecer
acordos com o empregador. Mesmo que o trabalhador seja
“esclarecido”, diante da sua vulnerabilidade financeira e da
necessidade de empregar-se pode acabar aceitando situações
desvantajosas a si próprio (ASENSI, GONÇALVES, p. 10, 2019)

Além disso, a ideia de que a pejotização passou a ser uma prática estimulada pela CLT, com a
Reforma Trabalhista (especificamente com a nova redação do artigo 442-B e a inclusão do parágrafo
2º) é totalmente equivocada. Essa mudança abriu espaço e estimulou a contratação de trabalhadores
autônomos em substituição à contratação por meio da CTPS. (VIEGAS, 2021).

Art. 442-B. A contratação do autônomo, cumpridas por este todas as


formalidades legais, de forma contínua ou não, afasta a qualidade de
empregado prevista no art. 3º desta Consolidação. § 2º Não
caracteriza a qualidade de empregado prevista no art. 3º o fato de o
autônomo prestar serviços a apenas um tomador de serviços.
(BRASIL, 2017)

Desta forma, a pejotização configura-se como uma prática criminosa, como sera
exposto a seguir, sendo constatada fraude na ocorrência de contratação de um empregado que
preenche todas as condições de uma relação de emprego de uma Pessoa Física e mesmo assim
é contratada como Pessoa Jurídica.

5. A PEJOTIZAÇÃO: PRECARIZAÇÃO E FRAUDE DA RELAÇÃO TRABALHISTA

É inegável que a pejotização tem se tornado, ao longo dos anos, cada vez mais comum
e vem acompanhada de um período de relações de trabalho crescentemente multiformes. No
entanto, apesar de ser uma relação de trabalho lícita, importa-se referir que, para grande parte
da doutrina trabalhista tal relação é considerada como uma ofensa aos direitos já
regulamentados na legislação, uma vez que possibilita a ocorrência de fraude previdenciária,
fiscal e trabalhista quando possibilita que através desta prática uma relação de emprego seja
acaçapada.

Sabe-se que em uma relação de trabalho um empregado, precisa necessariamente ser


uma pessoa física, prestar serviços de forma habitual, haver um conteúdo econômico
agregado a relação (onerosidade), a pessoalidade e uma subordinação do empregado para com
o empregador. Já na pejotização o trabalhador tem a parassubordinação, sendo uma pessoa
contratada através de um contrato de prestação de serviços, dotada de autonomia e que
colabora de forma pontual para uma determinada empresa.

Sobre o tema, é notório que a pejotização não se trata de uma flexibilização de uma
relação de trabalho, como muito tem se tentando fazer entender, e sim de uma
desregulamentação dos direitos trabalhistas conquistados e regulamentados por anos. Leone
Pereira da Silva Júnior nos explica a distinção entre ambos os termos:

A “flexibilização” pode ser conceituada como forma de amenizar o rigor e a rigidez


de algumas normas jurídicas trabalhistas. Quanto à “desregulamentação”, o
fenômeno implica a supressão de certas normas jurídicas trabalhistas estatais,
retirando a proteção cogente, na medida em que os próprios atores sociais passam a
estabelecer as regras aplicáveis às relações de trabalho. (PEREIRA, 2013, p.31).

Logo, entendendo o contexto, também salientamos que não são raros os casos em que
profissionais preferem trabalhar nesta sistemática, por acreditar que os valores percebidos são
mais atrativos do que quando trabalhado por meio de contrato celetista. Quando analisamos o
porquê dessa possibilidade de discrepância de forma tributária, temos pelo lado celetista uma
obrigatoriedade do empregador de proporcionar benefícios trabalhistas, tais como, FGTS,
multa rescisória, pagamento de horas extras, vale alimentação e transporte, 13º salário entre
outros benefícios. Neste mesmo caso, a tributação de imposto de renda sobre o salário pode
chegar a 27,5%.

Por outro lado, quando nós falamos dos contratos de prestação de serviços advindos da
pejotização, não há imposto de renda retido na fonte, nem qualquer tipo de benefício, sejam
eles legais ou normativos. Também, o INSS patronal é o dobro do percentual se comparado ao
valor da pejotização. Ainda, no momento em que o trabalhador pejotizado emite uma nota
fiscal para o recebimento de um serviço realizado, ele pode optar por recolher o INSS com
intuito de garantir meios de aposentadoria futuramente.
Atualmente a Justiça do Trabalho, nas suas mais diversas decisões sobre o tema, vem
fazendo um papel importante para que seja reconhecida a relação de trabalho em contratações
abordadas como contrato de prestação de serviço através da pejotização. Essas decisões, em
sua maioria, reconhecem o vínculo empregatício amparado no princípio da primazia da
realidade, que versa sobre sobrepujar a realidade dos fatos ao invés do que foi formalizado
entre as partes, bem como, através do princípio da indisponibilidade dos direitos trabalhistas,
que retrata que o empregado não pode optar por não receber as vantagens e proteções já
estabelecidas juridicamente.

No momento em que pensamos no objetivo do direito do trabalho, entendemos que


traçar limite para manutenção da ordem social é o cerne da questão. O direito do trabalho,
bem como todos os princípios existentes, busca proporcionar um equilíbrio entre o
empregador e o empregado que é a parte mais acometida da relação. A CLT também fornece
amparo legal para a descaracterização de falsa relação civil quando dispõe o seu art. 9º o
seguinte: “serão nulos de pleno direito os atos praticados com o objetivo de desvirtuar,
impedir ou fraudar a aplicação dos preceitos contidos na presente Consolidação.”

Logo, entende-se que, até então, pela forma em que a pejotização foi inserida no
mercado de trabalho e tem sido utilizada de forma aberta entre as pessoas, não se apresenta
em defesa a ordem jurídica e sim como forma de precarizar as conquistas conseguidas em
troca de uma aparente vantagem. Deste modo, acreditamos que apesar da grande adesão, os
efeitos negativos ao longo dos anos serão notados e será necessário que se repense esse
modelo que hoje vemos como insuficiente e prejudicial em longo prazo.

6. ANÁLISE CRÍTICA QUANTO AOS BENEFÍCIOS DA CONTRATAÇÃO DE PJ


PARA O CONTRATADO

Quando o tema relação trabalhista é abordado, na maioria das vezes imaginamos dois
polos, empregador e empregado, o primeiro obviamente mais forte e o segundo em sua
hipossuficiência na relação. A tentativa de fraude e de burlar os direitos trabalhistas
conquistados por parte do mais forte é sem dúvida muito vista nessa seara, não apenas em
contratações de Pessoa Jurídica, chamado pejorativamente de trabalhadores pejotizados
quando esta conduta é praticada de maneira ilícita, mas em outros âmbitos como
trabalhadores terceirizados e autônomos. Não obstante exista sim margem para fraudes, que
deveriam ser devidamente punidas, a aplicação do uso correto da lei para trabalhadores
contratados como Pessoa Jurídica permite vantagens para ambas as partes dessa relação
empregatícia.

Como dito anteriormente, a relação numa contratação de trabalhador pejota dá-se


através de um contrato, este deve ser discutido entre as partes, abrindo margem para discussão
e acordos que sejam benéficos tanto para quem presta o serviço quanto para quem contrata.
Na formulação do contrato as partes devem ter poder de decisão, isso permite que o
trabalhador discuta valores de seu serviço, tempo e dias trabalhados, local de trabalho (remoto
ou presencial) quando possível, entre outros detalhes do modus operandi do serviço prestado,
de acordo com suas vontades e preferências. Diferente do trabalhador celetista, que está
sujeito a um contrato pré-determinado pelo empregador, sem oportunidade de revisão ou
mudança.

A contratação de um trabalhador Pessoa Jurídica por uma empresa não impede que
esse primeiro seja contratado por outras, ou seja, não há exclusividade. Tampouco há,
necessariamente, exclusividade em um contrato celetista, terceirizado ou autônomo. Mas
junto à vantagem citada anteriormente de ter em contrato a autonomia de horários, é possível
que o trabalhador pejota tenha relação contratual com outras empresas, e desenhar seus
horários como bem desejar. Projetado no futuro, caso haja crescimento de demanda de
trabalho para o trabalhador que possui a empresa contratada, este por sua vez pode contratar
funcionários para ajudá-lo, através de sua própria empresa e assim aumentar seus ganhos.

Podemos citar também benefícios no âmbito financeiro, salários de trabalhadores


pejotas são significantemente maiores que os celetistas. Não há, porém, férias, décimo
terceiro salário, entre outros benefícios trabalhistas, entretanto o valor recebido pode igualar
ou superar esses valores que seriam de recebíveis futuros, dando a oportunidade para que o
trabalhador escolha o fim desse recurso, seja pagando taxas mais altas ao INSS ou optando
por uma previdência privada, ou simplesmente a aplicação desse dinheiro. Existe autonomia
na escolha do que será feito com o valor recebido.

Ainda na questão financeira, há vantagens de pagamento no imposto de renda, que


seria para a pessoa física 27,5%, e pode cair para até 6% para um trabalhador que tenha a sua
própria empresa. Assim, além de maiores ganhos no tempo presente, o imposto de pessoa
física pago ao governo sob esses ganhos é menor, portanto valores que seriam pagos em
imposto ficariam com o trabalhador, o que é trazido como vantajoso do trabalhador que seja
Pessoa Jurídica em relação ao autônomo, o qual arcará com tributos de uma Pessoa Física. É
válido lembrar que como empresa o trabalhador também paga seus impostos, taxas e recolhe o
INSS, ou seja, há gastos para o trabalhador pejota após receber o valor da empresa que o
contratou, a vantagem que se nota é a possibilidade de exigência de valores a serem recebidos
num contrato inicial, e a autonomia de escolha do destino desses valores no tempo presente.

Posto isto, concluímos que existem benefícios ao trabalhador contratado como Pessoa
Jurídica, desde que as normas referentes a essa relação de trabalho sejam cumpridas. O bom
uso das leis deve ser feito por todas as partes da relação. A sociedade e as relações sociais
mudam constantemente, haja vista dessa mudança, conquistas passadas não refletem
necessariamente conquistas futuras, e condutas relacionais, incluídas aqui as trabalhistas,
devem ser revistas a todo o momento, a fim de melhor se adequarem à cada área de atuação
profissional, e às peculiaridades de novas épocas e gerações.

7. CONCLUSÃO

Como apresentado no decorrer do trabalho, a “Pejotização” é uma prática utilizada na


sociedade brasileira que consiste na transformação de pessoas “físicas” em “jurídicas” para
descaracterizar a relação de emprego existente entre o empregado e o empregador, com o
objetivo precípuo de burlar normas trabalhistas. Com essa manobra, o vínculo que deveria
existir entre uma pessoa física e o empregador se modifica de modo a instituir uma relação
entre duas pessoas jurídicas, fazendo com que o vínculo existente passe a ser regulado não
mais pelas normas da CLT, mas pelas regras do Direito Civil.

Cabe ressaltar, contudo, que a “Pejotização” não consiste na mera formação de pessoas
jurídicas para compor uma das partes da relação de trabalho, mas tem como característica
básica a “fraude” ou a “simulação” da real relação de emprego.

De acordo com o artigo 3º da CLT o empregado é toda pessoa física que presta
serviços “de natureza não eventual a empregador, sob a dependência deste e mediante
salário”, ou seja, é aquele que realiza o trabalho através de pessoa física, com subordinação,
onerosidade, pessoalidade e habitualidade. Assim sendo, a criação de “pejotas” oculta a
relação emprego existente para privar o empregado de seus benefícios trabalhistas, o que vai
de encontro a princípios básicos do Direito do Trabalho, como o da boa-fé e o da
irrenunciabilidade (ou indisponibilidade) dos direitos trabalhistas.

Além disso, a referida conduta é contrária, também, às normas previstas no Direito


Penal, sendo tipificada no artigo 203 do Código Penal Brasileiro.

Insta acentuar, contudo, que o trabalhador “pejota” não se confunde com o trabalhador
“autônomo”, vez que a este não se aplica a característica da subordinação. Não se confunde,
também, com o trabalhador “terceirizado”, haja vista que na terceirização o que ocorre é a
contratação de uma empresa que presta serviços através de seus funcionários.

O “pejotizado” é, na verdade, um empregado contratado por meio de pessoa jurídica,


mas que possui as características de empregado previstas pela legislação trabalhista. Muito
embora existam algumas vantagens, ou pseudo vantagens, para este tipo de contratação -
especialmente financeiras relacionadas a salários maiores em relação aos celetistas e ao
pagamento mais baixo do imposto de renda -, os pontos negativos são consideravelmente
mais relevantes.

A inexistência de vários benefícios como férias, licença maternidade, não previsão de


13º salário, não recolhimento do FGTS, não pagamento de indenização no caso de dispensa
sem justa causa e ausência de recebimento do seguro-desemprego faz com que a
“Pejotização” deva ser observada com cuidado para a parte hipossuficiente da relação de
trabalho seja devidamente protegida de acordo com a legislação vigente.

8. REFERÊNCIAS

ASENSI, Felipe Dutra. GONÇALVES, Isabela Pfister. Judicialização das Práticas


Trabalhistas: A questão da Pejotização na Jurisprudência do TRT-1. Disponível em:
<https://revistas.ufpr.br/direito/article/view/64979/38406> Acesso em: 20 set. 2022.

BARBOSA, Attila Magno e Silva. ORBEM, Juliani Veronezi. Pejotização: Precarização


das relações de trabalho, das relações sociais e das relações humanas. Revista Eletrônica
do Curso de Direito UFSM, v.10, n. 2, 2015. Disponível em:
https://periodicos.ufsm.br/revistadireito/article/view/20184 Acesso em: 17/09/2022
BRASIL. Consolidação das Leis do trabalho. Lei n° 5.452 de 1º de maio de 1943.
Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del5452.htm Acesso em: 18
set. 2022.

COSTA, Simone da. A pejotização e a precarização das relações de trabalho no Brasil e a


relação dos princípios da proteção da primazia da realidade no direito brasileiro.
Disponível em:
<https://periodicos.unoesc.edu.br/simposiointernacionaldedireito/article/view/2285> Acesso
em: 20 set. 2022.

LAGASSI, Veronica. A Pejotização na mídia: lesão do direito ao trabalho ou um


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<https://faculdade.facha.edu.br/pdf/ebook/DIREITO-MIDIA-E-SOCIEDADE-27.04.pdf#pag
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LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de Direito do Trabalho. São Paulo: Editora Saraiva,
2022. Acesso em: 17/09/2022.

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PINTO, Lucas B. F. PINTO, Valter da S. A Lei 13.467 de 2017: Mudança no Paradigma


intervencionista do Estado na Relação de Trabalho?. Disponível em:
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VIEGAS, Cláudia. Os impactos da pejotização fraudulenta e do trabalho intermitente na


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<https://claudiamaraviegas.jusbrasil.com.br/artigos/1228774551/os-impactos-dapejotizacao-fr
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