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17/04/13 Envio | Revista dos Tribunais

RESPONSABILIDADE TRABALHISTA PERANTE A


EMPRESA SUCESSORA

RESPONSABILIDADE TRABALHISTA PERANTE A EMPRESA SUCESSORA


Revista de Direito do Trabalho | vol. 119 | p. 329 | Jul / 2005
Doutrinas Essenciais de Direito Empresarial | vol. 2 | p. 245 | Dez / 2010
Doutrinas Essenciais de Direito do Trabalho e da Seguridade Social | vol. 1 | p. 1017 | Set /
2012DTR\2005\867
Estêvão Mallet

Área do Direito: Geral

Sumário:

Consulta
XXXX, XXXX, XXXX e XXXX são empresas de transporte público que celebraram, sob o regime da
Lei 8.666, contrato para prestação de serviços no Município de XXXX, com vigência prevista até
31.01.2003. Em 07.09.2002, sob a alegação de descumprimento contratual, tiveram, em
decorrência de ato administrativo, seus bens, compreendidos imóveis, instalações, equipamentos e
veículos, assumidos pela empresa XXXX S.A., sociedade de economia mista, que passou a gerir e
administrar todo o empreendimento, inclusive dirigindo o trabalho dos empregados contratados e
recebendo pagamento pelos serviços prestados aos usuários. Mesmo depois de terminado o prazo
de vigência do contrato de prestação de serviço de transporte, cujo alegado descumprimento
justificara a assunção realizada, permaneceu a administração do empreendimento a cargo da
empresa XXXX S.A., o que perdurou até 04.04.2003, quando, por meio de novo ato normativo do
Secretário Municipal de Transportes, as empresas consulentes foram informadas de seu
descredenciamento para a prestação de serviço e tiveram seus bens abandonados pela empresa
que até então os geria, de que resultou greve dos empregados e posterior rescisão dos contratos
de trabalho. Tendo em vista tais fatos, relatados pelo ilustre advogado dos consulentes, Dr. José
Luiz de Souza Filho, indaga-se:
1.ª) A assunção, pela XXXX S.A., dos ativos e da atividade antes desenvolvida pelas consulentes,
caracteriza, diante da forma como se deu, sucessão trabalhista?
2.ª) É relevante, para a determinação da ocorrência ou não de sucessão, a legalidade do ato
administrativo de assunção dos ativos e da atividade das consulentes?
3.ª) Verificada a sucessão, a responsabilidade pelo pagamento de todas as obrigações trabalhistas
é da sucessora?
Parecer
Para responder às indagações apresentadas na consulta é preciso considerar os seguintes pontos:
I - Empresa como empregador típico; II - Sucessão trabalhista; III - Sucessão decorrente de ato
administrativo ou de mero fato jurídico; IV - Sucessão por empresa pública ou sociedade de
economia mista; V - Transferência provisória e sucessão; VI - Sucessão sem mudança na
propriedade da empresa e VII - Responsabilidade do sucessor.
I - Empresa como empregador típico
Empregador típico, nos termos do art. 2.º, caput, da CLT (LGL\1943\5), é "a empresa, individual
ou coletiva, que, assumindo os riscos da atividade econômica, admite, assalaria e dirige a
prestação pessoal de serviço". Essa definição, embora bastante criticável do ponto de vista
teórico, na medida em que a empresa constitui muito mais atividade 1 ou objeto de direito 2 do que
propriamente sujeito de direito, 3 não podendo, em conseqüência, figurar como parte em contrato
de trabalho, 4 não resulta de mera impropriedade legislativa nem é fruto de acaso. Trata-se de
previsão que tem em mira pelo menos duas importantes conseqüências, sempre sublinhadas pela
doutrina. 5
A primeira - que não será necessário, ante os termos da consulta, analisar mais detalhadamente -
consiste na fixação, para efeitos trabalhistas, da unidade do grupo econômico integrado por
diferentes pessoas jurídicas, como explicitado, aliás, pelo § 2.º, do mesmo art. 2.º, da CLT
(LGL\1943\5). 6

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A segunda conseqüência - que mais de perto aqui interessa considerar - relaciona-se com a
irrelevância das alterações na estrutura da pessoa jurídica tomadora de serviço sempre que se
mantenha em funcionamento a empresa. Com efeito, se o contrato de trabalho vincula a empresa
e não apenas a pessoa jurídica com quem é formalmente celebrado, as modificações incidentes
sobre a última, desde que não afetem a primeira, não repercutem na relação de emprego. Em
sendo assim, a alteração da estrutura jurídica da empresa, seja pela modificação da forma
societária, seja pela subordinação a novo regime jurídico, seja ainda pela transferência de seu
controle, não afeta os contratos de trabalho em curso, que permanecem em vigor. É o que
enuncia, com toda clareza, o art. 448, da CLT (LGL\1943\5), o qual, ampliando a regra mais
restrita do art. 10 da CLT (LGL\1943\5), cuja referência é apenas a "direitos adquiridos",
preceitua: "A mudança na propriedade ou na estrutura jurídica da empresa não afetará os
contratos de trabalho dos respectivos empregados".
II - Sucessão trabalhista
Diante do preceito antes mencionado, e tendo presente a já assinalada vinculação do empregado
não à pessoa física ou jurídica que o admite, mas à empresa, alude a doutrina à figura da
sucessão trabalhista sempre que permanece a atividade, conquanto sob diverso controle ou sob
nova forma societária, ou, em outros termos, quando "uma firma assume o ativo e o passivo de
outra, prosseguindo na negociação da firma anterior". 7
Para que se dê essa sucessão, anota Délio Maranhão, é preciso que o estabelecimento, como
unidade jurídica, passe de um para outro titular e, ainda, que a "prestação de serviço não sofra
solução de continuidade". 8 Dizendo de outro modo, configura-se a sucessão na medida em que "a
empresa, como unidade econômico-jurídica, passa de um para outro titular, sem que haja solução
de continuidade na prestação de serviço". 9 O que importa é, pois, a assunção do negócio e a
continuidade da atividade, como reiteradamente sublinhado em jurisprudência:
"Sucessão trabalhista. Ocorre a sucessão trabalhista, quando há transferência de bens de uma
entidade jurídica para outra (ainda que por convênio) e os empregados continuam a prestar
serviço no mesmo local, desempenhando as mesmas funções para os novos empregadores, que
exploram a mesma atividade econômica." (TRT - 3.ª Reg., 3.ª T., RO 15.245/96 Rel. Juiz Antônio
Balbino Santos Oliveira) 1 0
"A sucessão trabalhista caracteriza-se quando a sucessora assume ativo e passivo da sucedida,
no mesmo local, nas mesmas atividades, com os mesmos móveis e utensílios, sem solução de
continuidade, e com os mesmos empregados." (TRT - 1.ª Reg., 7.ª T., AgPet 368/96, Rel. Juiz
Ricardo A. Oberlaender) 1 1
Merece especial referência, tendo em vista a matéria trazida na consulta, julgado em que se
reconheceu a possibilidade de ocorrência de sucessão pela assunção de linhas de transporte
público de ônibus antes explorados por outrem:
"É sucessora a empresa que assume a exploração de linhas de ônibus operadas pela antiga
concessionária... Inteligência dos arts. 10 e 448 da CLT (LGL\1943\5). Agravo de petição
desprovido." (TRT - 3.ª Reg., 3.ª T., AgPet 187/96 Rel. Juiz Abel N. da Cunha) 1 2
Não tem nenhuma relevância para determinar-se se houve ou não sucessão, registre-se logo, o
título pelo qual se dá a assunção do negócio, não importando sua causa ou motivo. 1 3 Nas
palavras de Renato Corrado, "il punto decisivo è se sia o meno transferito una organizzazione
funzionale di beni a fini produttivi, non è invece importante il motivo del transferimento". 1 4 A
legislação argentina é, no particular, expressa e categórica, vinculando a sucessão à transferência
do estabelecimento "por cualquier título". 1 5 A despeito de não haver previsão semelhante, não se
passa de modo diverso no direito brasileiro, consoante se infere do seguinte julgado:
"Sucessão de empresas. A sucessão se consubstancia quando a nova pessoa jurídica ocupa o
mesmo lugar, explora o mesmo ramo e se utiliza dos mesmos utensílios. Portanto, é caracterizada
pelos elementos fáticos que conduziram a alteração na propriedade sucedida, independentemente
da forma legal adotada, sendo que o patrimônio que guarnece o estabelecimento se constitui na
garantia para os créditos trabalhistas." (TRT - 12.ª Reg., 1.ª T., Ac. 2.550/2000 - Rel. Juiz Idemar
Antônio Martini). 1 6
A mesma conclusão encontra-se em diversos acórdãos do Tribunal Superior do Trabalho, bastando
a referência aos mais expressivos:
"Sucessão trabalhista - Arrendamento. 1. Na hipótese de sucessão de empresas, a
responsabilidade quanto a débitos e obrigações trabalhistas recai sobre o sucessor, nos termos

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dos arts. 10 e 448 da CLT (LGL\1943\5), em face do princípio da despersonalização do


empregador. 2. Apresenta-se irrelevante o vínculo estabelecido entre sucedido e sucessor, bem
como a natureza do título que possibilitou ao titular do estabelecimento a utilização dos meios de
produção nele organizados..." (TST - 1.ª T - RR 462.647/98-7 - Rel. Min. João Oreste Dalazen). 1 7
"É irrelevante o vínculo existente entre as empresas sucessora e sucedida, bem como a natureza
do título que possibilitava ao titular do estabelecimento a utilização dos meios de produção nele
organizados para análise da responsabilidade quanto aos débitos trabalhistas, em face da
sucessão de empresas."(TST - 5.ª T., RR 525.549/99, Rel. Min. Ríder Nogueira de Brito). 1 8
Em síntese, não importa, para a configuração da sucessão, o título pelo qual se dá a transferência
da empresa. Tanto pode decorrer de negócio jurídico oneroso (compra e venda de ações,
aquisição de ativos etc.) ou gratuito (doação de cotas sociais, p. ex.), como, ainda, de sucessão
mortis causa do titular do negócio. 1 9 Significativo é que a transferência da atividade se dê sem
prejuízo da continuidade das operações, mantido o empreendimento.
III - Sucessão decorrente de ato administrativo ou de mero fato jurídico
Como visto no item anterior, não fica a sucessão de nenhuma forma limitada aos atos negociais de
caráter oneroso, concebendo-se que resulte de outras circunstâncias. Aliás, é constante a alusão
à circunstância de que a aplicação do art. 448, da CLT (LGL\1943\5), prescinde mesmo da
existência de algum "vínculo jurídico de qualquer natureza entre o sucessor e o sucedido". 2 0 O que
importa - repita-se, ainda uma vez - é o fato objetivo da continuidade do negócio pelo novo
gestor. Daí escreverem Orlando Gomes e Elson Gottschalk: "mesmo que inexista qualquer vínculo
jurídico entre os empregadores que se substituem, se as condições objetivas consubstanciadas na
identidade de fins se manifestam e se verifica, dá-se a sucessão". 2 1
Não há nisso, cumpre dizer, nenhuma originalidade do direito brasileiro. Pelo contrário. A solução é
sempre a mesma nos mais diferentes sistemas jurídicos. Em Portugal, por exemplo, admitiu-se a
ocorrência de sucessão em caso de "uma simples transmissão de facto de estabelecimento
industrial em laboração, sem que tenha havido qualquer solução de continuidade". 2 2 Na França, a
seu turno, a Assembléia Plenária da Corte de Cassação, em decisões de 16.03.1990, sob ns. 311 e
312, perfilhou a mesma diretriz, 2 3 reconhecendo a doutrina, a seguir, o acerto dessa solução,
24
igualmente válida para o direito norte-americano. 2 5 A Corte de Justiça das Comunidades
Européias, por sua vez, resolveu, em pelo menos duas diferentes ocasiões, que a aplicação da
Diretiva 77/187, de 14.02.1977, voltada a disciplinar a manutenção dos direitos de empregados em
caso de transferência da empresa, não reclama necessariamente "lŽexistence dŽun lien de droit
entre les employeurs successifs". 2 6 Na primeira das decisões, tomada em caso envolvendo
Foreningen Af Arbejdsledere I Danmark e Daddy's Dance Hall A/S, reconheceu a Corte a sucessão
em face de pessoas jurídicas sem vinculação jurídica direta, nos seguintes termos:
"...upon the expiry of the lease, the lessee ceases to be the employer and a third party becomes
the employer under a new lease concluded with the owner the resulting operation can fall within
the scope of the Directive as defined in article 1 ( 1 ). The fact that in such a case the transfer is
effected in two stages, in that the undertaking is first retransferred from the original lessee to the
owner and the latter then transfers it to the new lessee, does not prevent the directive from
applying, provided that the economic unit in question retains its identity; that is so in particular
when, as in this case, the business is carried on without interruption by the new lessee with the
same staff as were employed in the business before the transfer." 2 7
A irrelevância do título que produz a sucessão - que prescinde de qualquer relação jurídica entre
sucessor e sucedido, como se procurou mostrar até aqui - faz com que se torne impossível excluir
sua ocorrência somente por haver a transferência derivado de ato de direito público, como nos
casos de desapropriação, intervenção, encampação ou concessão de serviço público. É pacífica a
doutrina, inclusive a estrangeira. Na Itália, por exemplo, menciona-se a sucessão resultante de
"revoca di una concessione, poichè nel passagio da uno ad altro concessionario l'organizzazione
non si dissolve". 2 8 Em Portugal já se chegou a falar, com o apoio da doutrina, 2 9 em sucessão em
caso de arrematação judicial de estabelecimento. O acórdão, prolatado pela Relação de Évora,
tem, no tópico pertinente ao tema em análise, a seguinte ementa:
"A aquisição, em arrematação em hasta pública, de uma unidade industrial em funcionamento,
implica para o arrematante a transmissão da posição contratual dos trabalhadores que ali prestam
a sua actividade profissional". 3 0
Já na França entende-se que a sucessão pode ocorrer também em casos de "mise en gérance,
nomination d'un administrateur judiciaire, substitution de concessionnaire, reprise en régie après
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expiration d'un contrat de concession" 3 1 e não fica em nada prejudicada por se verificar a
suspensão das atividades da empresa durante "quelques jours ou quelques mois". 3 2
33
Também nesse particular a solução que prevalece no direito brasileiro é idêntica, como mostram
os julgados adiante citados:
"Programa governamental de privatização - Contrato de concessão com arrendamento de bens -
Sucessão de empresas. O arrendamento de bens e serviços decorrentes de contrato de
concessão de atividade econômica constitui sucessão de empresas, pois empregador é aquele que
assume os riscos da atividade econômica, admite, assalaria e dirige a prestação pessoal de
serviços (art. 2.º, CLT (LGL\1943\5)) o que não é afetado por qualquer alteração jurídica (arts. 10
e 448)." (TRT - 3.ª Reg., 2.ª T., RO 7.993/98 - Rel. Juiz Sebastião G. Oliveira) 3 4
"Liquidação extrajudicial. Permanência da mesma atividade empresarial. Sucessão. A continuidade
da mesma atividade empresarial, inclusive nos mesmos estabelecimentos e com o mesmo quadro
de empregados, configura sucessão trabalhista, não obstante ter a modificação na estrutura da
empresa decorrido de liquidação extrajudicial. Recurso desprovido."(TRT - 13.ª Reg., RO 3.342/99,
Rel. Juiz Ubiratan Moreira Delgado, Ac. 57.991, j. em 15.02.2000). 3 5
IV - Sucessão por empresa pública ou sociedade de economia mista
Se o caráter público ou administrativo do ato de que decorre a transferência não inibe a
configuração da sucessão prevista no art. 448, da CLT (LGL\1943\5), tampouco o faz a eventual
natureza publicista do sucessor. Como assinala a doutrina francesa, a sucessão trabalhista não
fica prejudicada pelo fato de o sucessor estar investido "d'une mission de service public". 3 6 E na
Espanha o Tribunal Supremo teve oportunidade de decidir que, terminada a concessão
administrativa outorgada a particular, torna-se a Administração sucessora se prosseguir na
exploração do serviço. 3 7 No direito brasileiro não é diferente. Bem o registrou Eduardo Gabriel
Saad ao escrever: "se o Poder Público encampa empresa concessionária de serviço público e
prossegue normalmente na exploração do serviço, fica ele sub-rogado em todos os direitos e
obrigações como empregador". 3 8 Já havia Pontes de Miranda firmado o mesmo entendimento,
anotando: "a instituição autárquica, que faz suas as atividades antes desempenhadas por
empresa privada, com os mesmos elementos materiais e profissionais, submete-se à regra jurídica
do art. 448, 1.ª parte, do Dec.-lei 5.452". 3 9 Vale mencionar, a propósito, precedente do Tribunal
Superior do Trabalho em que se reconheceu a sucessão pelo Estado em caso de desapropriação:
"Sucessão trabalhista. Com a desapropriação do hospital, operou-se a sucessão, tomando posse a
Fazenda Pública do Estado de São Paulo dos recursos materiais e humanos de que esta dispunha e
passando a Fazenda Pública a gerir integralmente o hospital, sendo responsável, inclusive, pelas
verbas oriundas dos contratos de trabalho." (TST - 5.ª T., RR 325.940, Rel. Min. Antonio Maria
Thaumaturgo, Ac. 3.117, j. em 14.05.1997) 4 0
Na verdade, em se tratando de empresa pública ou de sociedade de economia mista que exploram
atividade econômica de prestação de serviços, nem mesmo se conceberia outro resultado. Ficam
ambas imperativamente sujeitas, sob o aspecto trabalhista, ao regime jurídico próprio das
empresas privadas, consoante art. 173, § 1.º, II, da CF/88 (LGL\1988\3), ressalvadas, tão
somente, as exceções previstas na própria Constituição (art. 37, II, por exemplo). Assim, a
aplicação do disposto nos arts. 10 e 448, da CLT (LGL\1943\5), não excepcionados pela
Constituição, é mesmo indeclinável. 4 1
V - Transferência provisória e sucessão
Cumpre ainda notar que a natureza transitória da transferência não é suficiente para
descaracterizar, por si só, a sucessão. Verificada a passagem do negócio a terceiro, ainda que por
apenas certo lapso de tempo, pré-determinado ou não, pouco importa, tem-se por configurada a
sucessão. Confira-se novamente a jurisprudência:
"Sucessão de empresas. Opera-se a sucessão de empregadores (arts. 10 e 448 da CLT
(LGL\1943\5)), com a conseqüente sub-rogação do sucessor na relação de emprego, sempre que
a pessoa do empregador é substituída na exploração do negócio, com transferência de bens,
mesmo que temporária e parcial, e sem ruptura na continuidade da atividade empresarial."(TST -
5.ª T., RR 636.019, Rel. Juiz Convocado João Ghisleni Filho, j. em 07.08.2002). 4 2
"Verifica-se a ocorrência de sucessão de empregadores, nos termos dos arts. 10 e 448 da CLT
(LGL\1943\5), com a transferência, ainda que temporária, em virtude do Contrato de
Arrendamento, de parte da atividade desenvolvida pela primeira reclamada para a segunda" (TRT -
3.ª Reg., 4.ª T., RO 21.784/96, Rel Juiz Carlos Alberto de Paula). 4 3
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"Empresa concessionária - Sucessão trabalhista. Na concessão a empresa concessionária adquire,


temporariamente, um bem da empresa concedente, ocorrendo, assim, mesmo que provisoriamente,
a substituição do antigo titular passivo da relação empregatícia por outra pessoa física ou jurídica.
Desse modo, a concessão é, sem dúvida nenhuma, um caso de sucessão trabalhista, conforme
especificado pelos arts. 10 e 448 da CLT (LGL\1943\5)." (TRT - 3.ª Reg., 4.ª T., RO 9.986/2001,
Rel. Juiz Émerson José A. Lage). 4 4
Do exposto até aqui se pode inferir que a sucessão trabalhista pode a) resultar de ato
administrativo ou de mero fato; b) abranger, como sucessora, empresa pública ou sociedade de
economia mista, c) não ficando descaracterizada pela natureza transitória da transferência do
negócio. Resta ainda apurar, no entanto, se é possível falar em sucessão ainda quando a gestão
da empresa passa a terceiros sem que se dê, ao mesmo tempo, alteração em sua propriedade.
VI - Sucessão sem mudança na propriedade da empresa
A indagação formulada na última oração do item anterior justifica-se ante os termos do art. 448,
da CLT (LGL\1943\5), porque se referiu o legislador apenas à mudança "na propriedade...da
empresa". Não é nada difícil demonstrar, contudo, que essa previsão não deve, nem pode, ser
interpretada de forma literal ou restritiva, como se a disciplina legal não abrangesse outras
alterações de controle não relacionadas necessariamente com a transferência de propriedade.
É de comum sabença que muitas vezes as expressões utilizadas pelo legislador, reconhecidas as
deficiências e as limitações da interpretação gramatical, não constituem argumento decisivo no
campo da hermenêutica jurídica, ainda quando aparentemente claras e induvidosas. 4 5 Como
adverte Henry Black: "the grammatical construction of a statute is one mode of interpretation. But
it is not the only mode, and it is not always the true mode". 4 6 Poder-se-ia dizer ainda, repetindo
Celso: "conhecer as leis não é ater-se a suas palavras, mas compreender sua força e efeitos".
47
Mais tarde Emilio Betti afirmaria ser a superação da interpretação "alla lettera della legge" a
principal exigência imposta ao verdadeiro intérprete do direito, 4 8 até porque o correto sentido de
qualquer declaração, não apenas das declarações jurídicas, depende sempre "de pressupostos
mais complexos que o puro sentido literal". 4 9 Não custa repetir o que teve a Suprema Corte norte-
americana ocasião de assentar em United States v. American Trucking Ass'ns, de 1940, ao expor
as limitações da interpretação meramente literal, que por ela nunca foi considerada decisiva e
determinante: "There is, of course, no more persuasive evidence of the purpose of a statute than
the words by which the legislature undertook to give expression to its wishes. Often these words
are sufficient in and of themselves to determine the purpose of the legislation. In such cases we
have followed their plain meaning. When that meaning has led to absurd or futile results, however,
this Court has looked beyond the words to the purpose of the act. Frequently, however, even
when the plain meaning did not produce absurd results but merely an unreasonable one 'plainly at
variance with the policy of the legislation as a whole' this Court has followed that purpose, rather
than the literal words". 5 0 A própria Consolidação das Leis do Trabalho fornece excelente exemplo
de situação em que, a despeito da clareza da norma, o seu sentido literal não pode de nenhuma
forma ser adotado. Trata-se da regra do art. 476-A, § 5.º, que prevê o pagamento de multa em
qualquer caso de dispensa durante ou logo após a suspensão contratual por motivo econômico,
sem excluir a hipótese de justa causa cometida pelo empregado, solução que nada justifica.
Na verdade, o desapego à literalidade ou à palavra somente evidencia avanço científico do direito.
De fato, prender-se sempre ao texto literal, lembra Jhering, "est un de ces phénomènes qui, dans
le droit comme partout ailleurs, caractérisent le défaut de maturité du développement intellectuel".
51
Daí a tranqüilidade com que, evoluindo o direito, passa o intérprete a admitir a superação do que
literalmente se contém na norma. Já no Digesto, por exemplo, observa-se: "nem tudo o que está
escrito prevalece como direito; nem o que não está escrito deixa de constituir matéria jurídica". 5 2
Diante disso, torna-se de inegável acerto afirmar, como aliás faz Francesco Ferrara, ao criticar o
brocardo ubi lex voluit dixit, ubi noluit tacuit, que a omissão no texto legal "non sempre significa
deliberata esclusione, ma può essere silenzio involuntario per imprecisione linguistica". 5 3 E sendo
esse o caso, "il ne faut pas hésiter à faire rentrer sous (la formule légale)- pondera Geny - tout ce
que le texte comporte". 5 4
É exatamente o que se dá na hipótese específica do art. 448, da CLT (LGL\1943\5). Bem se
concebe - e já foi isso sublinhado pela doutrina 5 5 - que as necessidades da atividade econômica
produzam situações de transferência da organização empresarial sem nenhuma mudança na
propriedade do negócio. Ora, o que teve em vista o legislador, sem sombra de dúvida, não foi a
simples e mera propriedade do negócio, mas sim "la titolarità dell'esercizio dell'impresa", conforme

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anota Luisa Riva Sanseverino, 5 6 em assertiva igualmente válida para o direito brasileiro. Não faria
sentido, portanto, excluir a aplicação do regime jurídico da sucessão trabalhista com fundamento,
tão somente, no teor literal da lei. Por isso mesmo se afirma, sem oposição, que a alusão a
transferência da propriedade, no art. 448, não afasta a sucessão em casos outros, quando,
embora sem alteração do domínio, a gestão do negócio de fato passa a terceiros. Pontes de
Miranda, por exemplo, ressaltou enfaticamente que na interpretação do art. 448 "não só à
mudança de titularidade do direito de propriedade se há de aludir: há outras mudanças de
titularidade de direitos, como em caso de usufruto, ou de locação", pelo que - prossegue o mesmo
autor - a citada norma legal não pode dispensar interpretação extensiva, que inclua a constituição
ou a transferência de usufruto, anticrese, locação ou qualquer outro direito de uso e fruição,
concluindo com a afirmação de que até nos casos de simples requisição (Constituição de 1946,
art. 141, § 16, parte final) incide o preceito. 5 7
Em conseqüência, para que se dê a sucessão trabalhista não é impostergável que se transfira a
propriedade da empresa, como ressaltado na seguinte decisão:
"Sucessão de empregadores. Arrendamento. Rede Ferroviária Federal e Companhia Ferroviária do
Nordeste. Responsabilidade da sucessora. No Direito do Trabalho, a ocorrência da sucessão de
empregadores é visualizada sob a ótica da continuidade do negócio, não se exigindo,
necessariamente, a transferência da propriedade e nem mesmo a existência de vínculo expresso
entre o sucessor e o sucedido, bastando que persistam as finalidades econômicas do empregador
original."(TRT - 13.ª Reg., RO 82/2000, Rel. Juiz Francisco de Assis Carvalho e Silva, Ac. 58.291, j.
em 29.02.2000). 5 8
Basta à ocorrência da sucessão, pois, que a administração do negócio passe a outrem, pouco
importando que a propriedade do empreendimento permaneça inalterada. 5 9 Também aqui cabe
invocar a jurisprudência da Corte de Justiça das Comunidades Européias, a qual, ao interpretar
novamente a Diretiva 77/187, assinalou:
"...the purpose of the Directive is to ensure, so far as possible, that the rights of employees are
safeguarded in the event of a change of employer by enabling them to remain in employment with
the new employer on the terms and conditions agreed with the transferor. The Directive is
therefore applicable where, following a legal transfer or merger, there is a change in the legal or
natural person who is responsible for carrying on the business and who by virtue of that fact
incurs the obligations of an employer vis-a-vis employees of the undertaking, regardless of
whether or not ownership of the undertaking is transferred. Employees of an undertaking whose
employer changes without any change in ownership are in a situation comparable to that of
employees of an undertaking which is sold, and require equivalent protection." 6 0
VII - Responsabilidade do sucessor
Ainda um ponto precisa ser enfrentado antes de responder às indagações apresentadas na
consulta. Configurada a sucessão, a responsabilidade pelas obrigações trabalhistas é apenas do
sucessor ou, diversamente, envolve ainda o sucedido? Não o diz claramente a CLT (LGL\1943\5).
Todavia, firmado que o vínculo trabalhista envolve a empresa e não o seu proprietário ou titular,
como deflui do disposto no caput, do art. 2.º, da CLT (LGL\1943\5), resulta caber a quem estiver
em sua gestão todos os ônus decorrentes do contrato de trabalho. Se empregador é a empresa,
obrigada é também a empresa. Pouco importa quem haja sido o seu titular ao tempo do surgimento
da obrigação. Terá de honrá-la o seu atual proprietário. Nem mesmo as obrigações surgidas antes
da sucessão permanecem vinculadas ao antigo proprietário. Transferem-se ope legis ao sucessor,
como simples conseqüência da sucessão, 6 1 desaparecendo, pois, "a responsabilidade do primitivo
empregador", segundo advertem Orlando Gomes e Élson Gottschalk. 6 2 Assim decidiu o Tribunal
Superior do Trabalho:
"Sucessão trabalhista. Uma vez reconhecida a sucessão trabalhista na forma prevista nos artigos
10 e 448 da CLT (LGL\1943\5), a responsabilidade integral é do sucessor. Ao recorrente resta o
direito regressivo conforme previsto na lei civil."(TST - 3.ª T., RR 13.936, Rel. Min. Francisco
Fausto, Ac. 281 j. em 09.03.1992) 6 3
Veja-se, outrossim, o seguinte julgado:
"Sucessão trabalhista. Configurada a hipótese da sucessão trabalhista (artigo 10 e 448/CLT
(LGL\1943\5)), a responsabilidade pelos encargos trabalhistas do empregado constitui ônus do
sucessor." (TRT - 7.ª Reg., Rel. Juiz Moreira Salles, Ac. 3.402/96). 6 4
Não cabe falar, portanto, em responsabilidade solidária envolvendo sucessor e sucedido nem
mesmo em relação às obrigações anteriores à sucessão. "Operada a sucessão - sublinha Délio

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Maranhão - responsável é, apenas, o sucessor". 6 5 Pouco importa, no particular, a concordância


ou não do empregado. Não se está diante de assunção voluntária de dívida, que supõe a
aprovação da transferência pelo credor (Código Civil (LGL\2002\400), art. 299, caput). Como
notado por Evaristo de Moraes Filho, trata-se de "dupla cessão de crédito e de débito, por força
de lei, que assume as características jurídicas de uma autêntica sucessão: o sucessor subentra,
para os efeitos do direito do trabalho, na universalidade que constitui a empresa ou
estabelecimento, substituindo a pessoa do antecessor, como se fosse ele próprio, continuando-o.
A relação jurídica - arremata - permanece a mesma, com inteira liberação do antecessor, que se
faz substituir pelo seu sucessor". 6 6 A jurisprudência é bastante firme no particular. Considerem-se,
a título ilustrativo, os acórdãos abaixo reproduzidos, cada um deles oriundo de Tribunal Regional
diferente:
"A sucessão trabalhista ocorre quando terceiro assume as atividades do empregador, não havendo
interrupção no vínculo empregatício. A empresa sucessora responderá pelas obrigações
trabalhistas. Impossível a condenação solidária do sucedido"(TRT - 10.ª Reg., 2.ª T., RO 8.558/94,
Rel. Juiz Jaime Zveiter). 6 7
"Sucessão trabalhista. De modo diverso do que ocorre no Direito Civil, nesta Especializada o
sucessor responde por todos os débitos trabalhistas dos empregados ou ex-empregados da
empresa sucedida. O Direito do Trabalho a desobriga desta responsabilidade, que fica a cargo
exclusivo do sucessor." (TRT - 1.ª Reg., 3.ª T., RO 21.185/1999, Rel. Juíza Nídia de Assunção
Aguiar). 6 8
"Sucessão de empregadores. Evidenciada a sucessão de empregadores, o sucessor passa a
responder pelos efeitos passados, presentes e futuros dos contratos de trabalho que lhe foram
transferidos. Não se cogita, portanto, de responsabilidade solidária ou subsidiária do sucedido, de
vez que apenas o sucessor se torna responsável pelas verbas trabalhistas. Recurso provido."(TRT
- 4.ª Reg., 6.ª T., RO 8.922/96-9, Rel. Juiz Gilberto Porcello Petry, j. em 14.09.2000). 6 9
"Sucessão de empregadores. Responsabilidade do sucessor. Caracterizada a sucessão, o novo
titular da empresa responde não só pelas obrigações trabalhistas decorrentes dos contratos
vigentes, mas também pelas relativas aos contratos já findados, ainda pendentes, como garantia
que a lei dá ao empregado, a despeito de alterações de titularidade sobre as quais ele não tem
nenhum controle. Ao assumir todos os direitos e responsabilidades trabalhistas do sucedido, o o
substitui na relação de emprego, de modo que não há se falar em responsabilidade solidária de
pessoas, porque incompatível com o fenômeno da sucessão."(TRT - 19.ª Reg., j. 19.05.2000, RO
01474.1998.002.19.00-0, Rel. Juiz Pedro Inácio). 7 0
A jurisprudência do Tribunal Superior do Trabalho, que aponta no mesmo sentido, encontra-se
cristalizada na Orientação Jurisprudencial 261, da SDI-I, a qual, ainda que editada em atenção a
caso específico, formula regra válida para qualquer hipótese de sucessão:
"As obrigações trabalhistas, inclusive as contraídas à época em que os empregados trabalhavam
para o banco sucedido, são de responsabilidade do sucessor, uma vez que a este foram
transferidos os ativos, as agências, os direitos e deveres contratuais, caracterizando típica
sucessão trabalhista."
Nem mesmo há espaço para fixação, por meio de ato negocial envolvendo sucessor e sucedido, de
regime jurídico diverso. A disciplina legal da sucessão trabalhista é inderrogável por convenção
entre particulares, 7 1 aplicando-se imperativamente, tanto que verificados os seus pressupostos.
Somente em uma única hipótese o apontado critério deixa de prevalecer. Trata-se de situação
envolvendo fraude à lei, quando, apenas para liberar indevidamente a responsabilidade do
empregador, a sucessão implica inserção, na empresa, de empresário insolvente. 7 2 Fica a
exoneração do sucedido obstada, em tal caso, pela regra do art. 9.º, da CLT (LGL\1943\5). 7 3 Fora
daí, porém, a sucessão tem como conseqüência inevitável, não suscetível de diversa regulação
por ato envolvendo sucessor e sucedido, a liberação do último de todas as obrigações decorrentes
do contrato de trabalho dos empregados da empresa, inclusive daquelas constituídas antes da
sucessão.
Em conseqüência, a responsabilidade do sucedido por obrigações decorrentes do contrato de
trabalho de empregados da empresa, tanto as constituídas após a sucessão como, igualmente, as
constituídas antes, deve ser peremptoriamente afastada, o que já levou a jurisprudência até
mesmo a aludir à carência de ação, como se vê em aresto do Tribunal da 2.ª Região:
"Havendo sucessão de empregador, sem nenhuma restrição quanto ao tempo anterior de serviço,
não tem o empregado ação contra o seu antigo empregador. A sucessão, além de transferir

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responsabilidade (CC/2002 (LGL\2002\400), art. 999, II), transfere também a legitimação ad


causam (CPC (LGL\1973\5), arts. 3.º e 267, VI)". (TRT - 2.ª Reg., 4.ª T., Rel. Juiz Ferraz de
Oliveira, Ac. 02.950.509.775). 7 4
Vejam-se ainda, no mesmo sentido, os seguintes precedentes:
"Havendo alienação a terceiros de todo o acervo do estabelecimento, caracterizou-se a sucessão
e, destarte, cabem ao sucessor as obrigações trabalhistas consequentes, o que torna impossível o
arrolamento do sucedido no pólo passivo da demanda. Recurso conhecido e não provido." (TRT -
10.ª Reg., 1.ª T., Rel. Juiz Pena Júnior, Ac. 78/96) 7 5
"Sucessão trabalhista. A sucessão trabalhista, como é cediço, não afeta os contratos de trabalho
em curso, de modo que o laço que prende empregador e empregado resiste, segundo Orlando
Gomes, ao desaparecimento da figura do empregador-celebrante, porque se ata imediatamente ao
terceiro que o sucedeu, independentemente de nova estipulação. É nula, por isso, cláusula do
contrato de aquisição da empresa visando a desonerar o sucessor das obrigações decorrentes dos
contratos de trabalho vigentes à época da sucessão. E, porque não há falar em solidariedade
entre sucessor e sucedido, impõe-se a extinção do processo, quanto a este último, sem
julgamento do mérito." (TRT - 24.ª Reg., RO 1.109/97, Rel. Juiz Márcio Eurico Vitral Amaro, Ac.
2.936, j. em 03.12.1997). 7 6
VIII - Conclusão
Depois de todo o exposto, é possível responder às questões formuladas, as quais são, para maior
clareza, reproduzidas abaixo.
1.ª) A assunção, XXXX S.A., dos ativos e da atividade antes desenvolvida pelas consulentes,
caracteriza, diante da forma como se deu, sucessão trabalhista?
Resposta: Sim, porque passou o empreendimento a ser gerido por novo titular, mantida a sua
unidade econômica, o que basta para configurar a sucessão trabalhista (item II, acima), a qual
não supõe necessariamente transferência da propriedade da empresa (item VI) e nem se
descaracteriza pelo posterior encerramento das atividades (item V) ou pelo caráter publicista do
sucessor (item IV).
2.ª) É relevante, para a determinação da ocorrência ou não de sucessão, a legalidade do ato
administrativo de assunção dos ativos e da atividade das consulentes?
Resposta: Não. A sucessão trabalhista prescinde de liame jurídico válido e regular entre sucessor e
sucedido, apoiando-se no mero fato da transferência do empreendimento (item III).
3.ª) Verificada a sucessão, a responsabilidade pelo pagamento de todas as obrigações trabalhistas
é da sucessora?
Resposta: A responsabilidade pelo adimplemento das obrigações trabalhistas, em caso de
sucessão, é do sucessor, tanto em relação às que se formaram após a sucessão como,
igualmente, em relação às que se constituíram antes (item VII). Apenas na hipótese de fraude,
caracterizada pela sucessão por empresário insolvente, permanece o sucedido vinculado a essas
obrigações (ainda item VII). Mas essa situação não tem pertinência no caso objeto da presente
consulta, na medida em que decorreu a sucessão de ato administrativo e envolveu, como
sucessora, empresa pública. Aliás, nem mesmo se admitiria que o sucessor invocasse a fraude à
lei, apenas para elidir sua responsabilidade. Nemo auditur propriam turpitudinem allegans.

1 " ...la definizione di impresa come attività è quella che meglio risponde all'essenza del fenomeno
...", escreve Vicenzo Panuccio ( Impresa [dir. priv]) em Enciclopedia del Diritto, Varese, Giuffrè,
1970, XX, p. 594). No mesmo sentido, ainda, Giorgio Ferrari, "Azienda" (dir. priv.) em Enciclopedia
del Diritto, Varese, Giuffrè, 1959, IV, p. 684.

2 Evaristo de Moraes Filho e Antonio Carlos Flores de Moraes, Introdução ao Direito do Trabalho,
São Paulo, LTr, 1993, p. 234.

3 Consoante anota José de Oliveira Ascensão, só a sociedade "que dá origem à estruturação de


uma empresa...é personalizada". (Direito civil - Teoria geral, Coimbra, Coimbra Editora, 2000, vol.
I. n. 177, p. 313). A pertinência da conclusão em face do direito brasileiro pode ser apurada pela
leitura do art. 44, do vigente Código Civil (LGL\2002\400), que não inclui, entre as pessoas
jurídicas de direito privado, a empresa, aludindo, tão somente, a associações, sociedades e
fundações.
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4 Como anota com razão Christovão Piragibe Tostes Malta, "a lei...não confere personalidade
jurídica à empresa, o que a impede de ser empregador"( Consolidação das Leis do Trabalho
comentada, Rio de Janeiro, Edições Trabalhistas, 1980, p. 17). No mesmo sentido, cf., ainda, José
Augusto Rodrigues Pinto, Curso de direito individual do trabalho, São Paulo, LTr, 2000, n. 42, p.
124.

5 Cf., a propósito, Mozart Victor Russomano, tanto em Comentários à Consolidação das Leis do
Trabalho, Rio de Janeiro, Forense, 1985, p. 6, como em Curso de Direito do Trabalho, Curitiba,
Juruá, 2000, p. 75, e Valentin Carrion, Comentários à Consolidação das Leis do Trabalho, São
Paulo, Revista dos Tribunais, 1999, p. 26.

6 Para maior desenvolvimento do ponto, cf. Octavio Bueno Magano, Os grupos de empresas no
direito do trabalho, São Paulo, Revista dos Tribunais, 1979, passim.

7 Mozart Victor Russomano, Comentários à Consolidação das Leis do Trabalho, cit., p. 50.

8 Instituições de direito do trabalho, São Paulo, LTr, 1997, vol. I, p. 311.

9 Eduardo Gabriel Saad, CLT (LGL\1943\5) comentada, São Paulo, LTr, 1999, p. 54.

10 DJMG de 15.04.1997, p. 4.

11 DJRJ de 04.07.1996, p. 1995.

12 DJMG de 04.06.1996, p. 34.

13 Juan M. Ramírez Martinez e outros, Curso de derecho del trabajo, Valencia, Tirant lo Blanch,
1998, p. 324.

14 Trattato di diritto del lavoro, Torino, UTET, 1969, volume terzo - Il rapporto di lavoro e le sue
vicende, n. 291, p. 662.

15 Art. 225, da Ley de Contrato de Trabajo.

16 DJSC de 21.03.2000, p. 137.

17 DJU de 13.10.2000, p. 384 in RDT 11/2000.

18 DJU de 25.08.2000, p. 581.

19 José Ignacio García Ninet, El Estatuto de los Trabajadores - Comentarios a la Ley 8/1980, de
10 de marzo, Madrid, Editoriales de Derecho Reunidas, 1981, p. 311, e, ainda, Julio J. Martinez
Vivot, Elementos del derecho del trabajo y de la seguridad social, Buenos Aires, Editorial Astrea,
1996, § 58, 353.

20 Mozart Victor Russomano, Comentários à Consolidação das Leis do Trabalho cit., p. 51.

21 Curso de direito do trabalho, Rio de Janeiro, Forense, 2003, n. 151, p. 323. No mesmo sentido,
entre tantos, Evaristo de Moraes Filho e Antonio Carlos Flores de Moraes, Introdução ao direito do
trabalho cit., p. 243.

22 Acórdão da Relação do Porto no recurso 20.830, de 12.05.1986 apud Abílio Neto, Contrato de
trabalho - notas práticas, Lisboa, Petrony, 1990, p. 150. Veja-se ainda o acórdão da Relação de
Lisboa, de 11.05.1988 in Abílio Neto, "Contrato de trabalho - notas práticas" cit., p. 151.

23 Cf. Mémento Pratique Francis Lefebvre - Social, Levallois, Éditions Francis Lefebvre, 1995, n.
2.607, p. 255.

24 François Gaudu e Raymonde Vatinet, Traité des Contrats - Les contrats du travail, Paris, LGDJ,
2001, n. 401, p. 364.

25 A propósito, Robert J. Gelhaus e James C. Oldham, Labor law, Chicago, Gilbert, 1989, § 428, p.
79.

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26 Roger Blanpain e Jean-Claude Javillier, Droit du travail communautaire, Paris, LGDJ, 1995, n.
420, p. 290.

27 Caso n. 324/86, decisão de 10.02.1988, item 10. No segundo caso, de n. 101/87, envolvendo
P. Bork International A/S e outros contra Foreningen Af Arbejdsledere I Danmark e Junckers
Industrier A/S, assinalou a Corte, em decisão de 15.06.1988, que a Diretiva 77/187 deve ser
interpretada de modo a aplicar-se " where, after giving notice bringing the lease to an end or
upon termination thereof, the owner of an undertaking retakes possession of it and thereafter
sells it to a third party who shortly afterwards brings it back into operation, which had ceased
upon termination of the lease, with just over half of the staff that was employed in the
undertaking by the former lessee, provided that the undertaking in question retains its identity ".

28 Trattato di diritto del lavoro cit ., n. 291, p. 662.

29 António Menezes Cordeiro, Manual de direito do trabalho, Coimbra, Almedina, 1999, § 59, p.
775.

30 Acórdão da Relação de Évora, de 18.04.1989 apud Abílio Neto, "Contrato de trabalho - notas
práticas" cit., p. 151. No mesmo sentido, reiterando a possibilidade de sucessão em caso de
arrematação judicial do estabelecimento, cf. acórdão do Supremo Tribunal de Justiça no recurso
n. 2.178, de 22.06.1989 in Abílio Neto, "Contrato de trabalho - notas práticas" cit., p. 152.

31 Jean-Claude Javillier, Droit du travail, Paris, LGDJ, 1999, n. 114, p. 186. No mesmo sentido,
ainda, Bernard Teyssié, Droit du travail - Relations individuelles de travail, Paris, Litec, 1992, 1, n.
1.083, p. 604, e Gerard Couturier, Droit du travail, Paris, LGDJ, 1996, 1, n. 229, p. 406.

32 Jean-Claude Javillier, Droit du travail, cit ., n. 114, p. 185.

33 Em doutrina, cf. Délio Maranhão, Instituições de direito do trabalho, cit., p. 311.

34 DJMG de 26.02.1999, p. 6 inRDT 3/99, p. 75.

35 DJ de 06.04.2000. No mesmo sentido, ainda: "Liquidação extrajudicial. Permanência da mesma


atividade empresarial. Sucessão. A continuidade da mesma atividade empresarial, inclusive nos
mesmos estabelecimentos e com o mesmo quadro de empregados configura, induvidosamente, a
sucessão trabalhista, inobstante a modificação na estrutura da empresa tenha decorrido de
liquidação extrajudicial. Recurso provido parcialmente."(TRT - 13.ª Reg., RO 2.441/99, Rel. Juíza
Ana Maria Ferreira Madruga, Ac. 56.389, j. em 19.10.1999 in DJ de 24.05.2000).

36 Jean-Claude Javillier, Droit du travail cit ., n. 114, p. 185. Já assim para Pietro Gaspari,
L'azienda nel diritto del lavoro, Padova, CEDAM, 1937, n. 25, p. 40.

37 Manuel Carlos Palomeque López e Manuel Alvarez de la Rosa, Derecho del Trabajo, Madrid,
Editorial Centro de Estúdios Ramón Areces, 2001, n. 376, p. 936.

38 CLT (LGL\1943\5) comentada cit., p. 54. Cf., em jurisprudência, afirmando a ocorrência de


sucessão em caso de encampação, TST - 2.ª T., RR 5.443, Rel. Min. Helio Regato, Ac. 222/
84inDJU de 23.03.1984.

39 Tratado de direito privado cit., 1964, tomo XLVII, § 5.076, n. 1, p. 345.

40 DJU de 27.06.1997, p. 30.765. No mesmo sentido, ainda, TST - 1.ª T., RR .35.633/91, Rel. Min.
Afonso Celso, Ac. 2.065, j. em 17.08.1992 in DJU de 18.09.1992, p. 15.505).

41 Assim, na jurisprudência: "Sucessão trabalhista - Fundação privada sucedida por empresa


pública - No caso específico destes autos, restou evidenciado que o Estado do Pará, num ato de
império desapropriou o antigo Instituto Fundação Ofir Loiola, que era de natureza privada,
incorporando os ativos além de bens do primeiro pela empresa Pública Ofir Loiola. Assim é que o
Instituto Fundação desapareceu de fato sendo todo seu patrimônio, ativos e empregados
absorvidos pela nova Empresa. Portanto, se operou uma típica sucessão trabalhista - Arts. 10 e
448, da CLT (LGL\1943\5), pouco importando que a empresa sucessora é do tipo pública, pois os
empregados não podem ficar ao desamparo na medida que a alteração da forma jurídica do
empregador é irrelevante no âmbito do Direito do Trabalho." (TRT 8.ª Reg., RO 5.648/99, Rel. Juiz
José Augusto Figueiredo Affonso, j. em 01.02.2001).

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42 DJU de 23.0820.02.

43 in João de Lima Teixeira Filho, Repertório de Jurisprudência Trabalhista, Rio de Janeiro,


Renovar, 1999, n. 1.896, p. 540/541.

44 DJMG 15.9.2001, p. 21 inRDT 10/2001, p. 64.

45 Cf., dispensando outras referências, Francesco Ferrara, Trattato di diritto civile italiano, Roma,
Athenaeum, 1921, vol. 1, parte I, p. 214. Na jurisprudência vale a alusão ao seguinte julgado do
Superior Tribunal de Justiça: "Muitas vezes a interpretação literal contraria profundamente o
espírito da lei"(STJ - 1.ª T., REsp. 231.313-RS, Rel. Min. Humberto Gomes de Barros, j. em
22.08.2000 inRevista do Superior Tribunal de Justiça, vol. 140, p. 143/144).

46 Handbook on the construction and interpretation of the laws, St. Paul, West Publishing, 1911,
§ 55, p. 149.

47 Digesto, I, III, 17.

48 Interpretazione della legge e degli atti giuridici, Milano, Giuffrè, 1949, 179/180.

49 Philipp Heck, Interpretação da lei e jurisprudência dos interesses, São Paulo, Saraiva, 1948, p.
53. Em Helvering v. New York Trust Co., de 1934, assinalou a Suprema Corte norte-americana: " a
thing which is within the intention of the makers of a statute is as much within the statute as if
it were within the letter, and a thing which is within the letter of a statute, is not within the
statute, unless it is within the intention of the makers" (292 U.S. 455).

50 U.S. 534. Também em Helvering v. Morgan's Inc., de 1934, a Corte sublinhou a mesma
proposição, aduzindo, em material tributária: "... the true meaning of a single section of a statute
in a setting as complex as that of the revenue acts, however precise its language, cannot be
ascertained if it be considered apart from related sections, or if the mind be isolated from the
history of the income tax legislation of which it is an integral part"(293 U.S. 121).

51 L'esprit du droit romain, Paris, Marescq, 1887, tome troisième, n. 49, p. 134.

52 Liv. 33, tít. 10, frag. 7, § 2o apud Carlos Maximiliano, Hermenêutica e aplicação do direito, Rio
de Janeiro, Forense, 1991, n. 219, p. 200.

53 Francesco Ferrara, Trattato di diritto civile italiano cit ., p. 221.

54 Méthode d'interprétation et sources en droit privé positif, Paris, LGDJ, 1932, tome premier, n.
101, p. 283.

55 Lodovico Barassi, Il diritto del lavoro, Milano, Giuffrè, 1949, III, p. 183.

56 Diritto del lavoro, Padova, CEDAM 1971, n. 312, p. 496.

57 Tratado de direito privado cit., 1964, tomo XLVII, § 5.076, n. 1, p. 343 e 344. No mesmo
sentido, cf. Evaristo de Moraes Filho e Antonio Carlos Flores de Moraes, "Introdução ao direito do
trabalho" cit., p. 242.

58 DJ de 12.05.2000.

59 Délio Maranhão , Instituições de direito do trabalho cit., p. 311.

60 Decisão de 17.12.1987, tomada no caso n. 287/86, envolvendo Landsorganisationen i Danmark


for Tjenerforbundet e Danmark v Ny Mølle Kro., item n. 12.

61 Evaristo de Moraes Filho e Antonio Carlos Flores de Moraes, Introdução ao direito do trabalho
cit., p. 242.

62 Curso de direito do trabalho cit., n. 151, p. 323. No mesmo sentido, cf. Petraccone apud Mario
L. Deveali, Tratado de derecho del trabajo, Buenos Aires, La Ley, 1971, tomo I, p. 777.

63 DJU de 30.04.1992, p. 5.796.

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64 DJCE de 07.10.1996, p. 49.

65 Direito do trabalho, Rio de Janeiro, Editora Fundação Getúlio Vargas, 1993, p. 95.

66 Sucessão nas Obrigações e a Teoria da Empresa, Rio de Janeiro, Forense, 1960, vol. II, n.
259, p. 249.

67 in João de Lima Teixeira Filho, Repertório de Jurisprudência Trabalhista cit., n. 1.903, p. 542.

68 DJRJ de 09.07.2001, p. 161 in Revista do Direito Trabalhista, n. 8/2001, p. 65.

69 DJRS de 09.10.2000.

70 DOE/AL de 11.07.2000. Sempre no mesmo sentido, ainda: "A mudança na propriedade e


estrutura jurídica da empresa, com transferência do patrimônio e substituição dos sócios,
caracteriza a sucessão empresarial e firma a responsabilidade da sucessora, em relação aos
direitos adquiridos dos empregados (arts. 10 e 448 da CLT (LGL\1943\5)). O advento da sucessão
descaracteriza a responsabilidade subsidiária da sucedida ou solidária da anterior coligada.
Inaplicável à hipótese o art. 2.º, § 2.º da CLT (LGL\1943\5). Recurso desprovido" (TRT - 10.ª
Reg., 2.ª T - Ac. 2.610/95, Rel. Juíza Heloísa P. Marques inDJDF 15.12.1995, p. 19.160);
"Sucessão. Responsabilidade limitada aos períodos contratuais. Não há responsabilidade solidária
entre sucessor e sucedido, como se fossem ambos empregadores durante todo o tempo do
contrato." (TRT - 12.ª Reg., 3.ª T., RO 4.946/00, Rel. Juiz Luiz Fernando Vaz Cabeda, Ac. 3.679,
j. em 13.03.2001) DJSC de 24.04.2001, p. 102) e "Operada a sucessão trabalhista, a teor dos
artigos 10 e 448 da CLT (LGL\1943\5), a responsabilidade pelos débitos é exclusiva do sucessor,
não cabendo cogitar de solidariedade." (TRT - 4.ª Reg., 1.ª T., RO 956.922/96-1, Rel. Juíza Rosa
Maria Weber Candiota da Rosa, j. em 09.06.1999 inDJRS de 19.07.1999).

71 Arnaldo Sussekind, Comentários à Consolidação das Leis do Trabalho e à Legislação


Complementar, Rio de Janeiro, Freitas Bastos, 1964, vol. III, p. 265, e Evaristo de Moraes Filho e
Antonio Carlos Flores de Moraes, "Introdução ao direito do trabalho" cit., p. 242.

72 Em jurisprudência, reafirmando que somente nas hipóteses de fraude se admite a


responsabilização solidária do sucedido: "Sucessão de empregadores. Responsabilidade.
Inexistência de fraude. Elementos constantes dos autos que sugerem inexistência de fraude na
sucessão de empregadores havida. Responsabilidade exclusiva do sucessor, pelo débito
trabalhista, conforme interpretação dos arts. 10 e 448 da CLT (LGL\1943\5). Descabe a
responsabilidade solidária do sucedido, porque não prevista em lei ou contrato."(TRT - 4.ª Reg.,
1.ª T., RO 103.921/98-2, Rel. Juíza Maria Ines Cunha Dornelles, j. em 30.11.2000 in DJRS de
05.02.2001); "Solidariedade. No caso, tal hipótese não se concretiza, seja porque a legislação
pátria não prevê solidariedade na hipótese, seja porque, não se vislumbra hipótese de
responsabilidade da empresa "CORLAC" com eventuais dívidas da Associação dos Empregados, cuja
atividade em nada beneficia a empresa, não podendo, neste contexto, resultar encargos e
obrigações aos cofres públicos. De outra parte, só cabe cogitar da possibilidade (exclusiva ou
solidária) do sucedido se demonstrado que o sucessor é incapaz de responder, sozinho, pelas
obrigações do contrato de trabalho iniciado com o sucedido. A responsabilidade do sucedido é
exceção, só podendo ser constituída pela ocorrência de fraude em detrimento dos empregados
cujos contratos foram afetados pela sucessão. Neste sentido, aliás, nada foi alegado a respeito."
(TRT 4.ª Reg., 2.ª T., RO 95.035782-0, Rel. Juiz Carlos Affonso Carvalho de Fraga, j. em
11.03.1997 inDJRS de 14.04.1997) e "Sucessão de empregadores. Caracterização. Arts. 2.º, § 2.º,
10 e 448 da CLT (LGL\1943\5). O legislador trabalhista, pelos arts. 2.º, § 2.º, 10 e 448 da CLT
(LGL\1943\5), pretendeu proteger o empregado, tanto quando ocorre a sucessão de
empregadores (mudança na propriedade) como quando há modificação na estrutura jurídica da
empresa. No primeiro caso, há a típica sucessão de empregadores, ou seja, uma nova pessoa
jurídica assume o papel de empregador. No conceito trabalhista, há sucessão quando uma pessoa
adquire de outra empresa, estabelecimento ou seção no seu conjunto, ou seja, na sua unidade
orgânica, mesmo quando não exista vínculo jurídico de qualquer espécie entre o sucessor e o
sucedido. O princípio da continuidade do contrato de trabalho faz com que o sucessor se sub-
rogue nos direitos e obrigações do sucedido, passando a responder pelos encargos trabalhistas
dos empregados deste, que fica isento de qualquer responsabilidade, salvo nos casos de fraude ou
simulação." (TRT - 15.ª Reg., 2.ª T., AP 6241/00, rel. Juiz Luís Carlos Cândido Martins Sotero da
Silva, Ac. 33.533/2000, j. em 18.09.2000 in DOE de 18.09.2000).

73 Assim, expressamente, Arnaldo Sussekind, Comentários à Consolidação das Leis do Trabalho e


à Legislação Complementar cit., p. 267, Délio Maranhão, Direito do trabalho cit., p. 95, e Evaristo
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17/04/13 Envio | Revista dos Tribunais

de Moraes Filho, "Sucessão nas Obrigações e a Teoria da Empresa" cit., n. 259, p. 249.

74 DJSP de 21.11.1995, p. 39.

75 DJDF de 09.02.1996, p. 1.330.

76 DJ-MS de 19.01.1998, 4.694, p. 2.


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