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17/04/13 Envio | Revista dos Tribunais

SÔBRE O PRINCÍPIO DA CONTINUIDADE DA


EMPRÊSA E DO CONTRATO DE TRABALHO

SÔBRE O PRINCÍPIO DA CONTINUIDADE DA EMPRÊSA E DO CONTRATO


DE TRABALHO
Doutrinas Essenciais de Direito do Trabalho e da Seguridade Social | vol. 1 | p. 961 | Set / 2012
Doutrinas Essenciais de Direito do Trabalho e da Seguridade Social | vol. 1 | p. 477 | Set /
2012DTR\2012\450803
Celio Goyatá
Advogado. Professor catedrático de Direito do Trabalho da Faculdade de Ciências Econômicas da
U.M.G.

Área do Direito: Geral

Sumário:

Revista dos Tribunais • RT 360/85 • out./1965


O Estado de Minas Gerais, em 23 de março de 1950, arrendou, sob contrato, à firma I. T. C. S. A.,
o P. H., P. C., L. e C. do Estado, pelo prazo de 10 anos, constando da cláusula 14.ª a seguinte
condição:
“A arrendatária se obrigará, nos termos dos arts. 10 e 448 da Consolidação das Leis do Trabalho,
a assumir os encargos dos contratos de trabalho existentes, no ato de entrar, em vigor o contrato
de arrendamento, e todas as obrigações das leis trabalhistas e de assistência social que dêle
resultarem. Ficará a cargo do Estado, entretanto, a satisfação de quaisquer débitos concernentes
a salários, férias ou contribuições de previdência social, vencidos até 31 do corrente mês de
março”.
Antes de vencer o prazo contratual, nôvo Edital de concorrência para Arrendamento dos referidos
bens foi publicado, mas, nêle, Edital, nada constou sôbre o ônus trabalhista previsto no contrato
anterior.
Feita a concorrência pública, a firma T. L. S.A. sagrou-se vencedora. I. T. C. S.A. ao recusar
entregar os bens arrendados apresentou denúncia contra irregularidades havidas na concorrência
realizada, e continuou na posse dos bens.
No entanto, I. T. C. S.A., mantendo contatos com a H. - A. M. de M. G. S. A. - acabou por firmar
um ajuste com esta, no qual consta a seguinte condição:
“5º. Como contraprestação da renúncia do direito de retenção e de prosseguir na aludida
concorrência, assim como da transmissão a que se refere a cláusula anterior, a Hidrominas assume
a responsabilidade plena e irrestrita dos ônus impostos pela legislação do trabalho, relativamente
aos atuais empregados do P. H., C. e C., tanto no caso de continuarem a seu serviço como no
caso de se afastarem dêle e também, de qualquer questão com T. L. S.A., de modo que nenhum
ônus venha a pesar, a qualquer título e sob qualquer forma, sôbre as I. T. C. S.A., em relação aos
referidos empregados ou a T. L. S.A.”.
Posteriormente, verificado que ao Estado incumbia receber os bens que entregara em
arrendamento, I. T. C. S.A. entregou ao Estado de Minas Gerais os bens que detinha em sua
posse. O Estado, por sua vez, entregou ditos bens à Hidrominas, para administrar até que
solucionasse o problema criado pela denúncia oferecida por I. T. C. S.A.
Em face da situação criada, pergunta-se:
1º. Há identidade, sob o ponto-de-vista legal, entre os contratos celebrados pelo Estado com I.
T. C. S.A. e, posteriormente, com T. L. S.A., no que se refere a encargos trabalhistas, embora, no
último, nenhuma referência expressa haja sido feita sobre tais encargos?
2º. Em caso afirmativo, tais encargos se transferem à T. L. S.A. ou à Hidrominas, caso uma ou
outra assumissem os referidos bens?
3º. Se nos têrmos do contrato, inclusive no da cláusula referida, há obrigação por parte das I. T.
C. S.A. de entregar os bens à T. L. S.A. e ao Estado de Minas Gerais, livres, isto é, dispensando e
indenizando todos os empregados, estáveis ou não?
4º. Se o Estado ou a Hidrominas tiver que entregar os referidos bens à T. L. S.A., poderá esta se
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recusar ao recebimento do pessoal, fundamentando-se na inexistência de condição contratual que


a obrigasse a recebê-lo? Ou tal obrigação está implícita em contratos desta natureza, de
conformidade com os arts. 10 e 448 da Consolidação das Leis do Trabalho?
1. A matéria proposta na consulta versa tôda ela sobre a sucessão de emprêsa ou sucessão de
empregadores, para usarmos de uma terminologia lançada por Délio Maranhão nas suas excelentes
“Instituições de Direito do Trabalho”1 .
Em tema de sucessão de empresa, no campo de direito do trabalho, dois princípios dominam o
instituto e têm aceitação universal: o adágio da continuidade da emprêsa e do contrato de
trabalho - (“Per il suo carattere ed il suo valore organico e continuativo, l’azienda supera, por
esistenza e durata, la vita delle persona, che le constituiscono” - na magnífica fórmula de Guido
Bortolotto)2 - e a afirmativa de que o econômico supera o jurídico, o patrimonial sobreleva o
individual.
Em verdade o grande mestre brasileiro Orlando Gomes também o diz claramente: “Os têrmos
estritos em que é configurada a noção clássica de sucessão não permitem se extraiam do texto
legal tôdas as conseqüências que sua finalidade indica. A aceitação do conceito tradicional de
sucessão favorecia a fraude à lei. Os empregadores utilizariam fàcilmente de meios de evitar os
encargos que a lei lhes quer atribuir. Ineficaz seria, dêste modo, o preceito legal.
Daí a necessidade de encontrar-se critério mais amplo e menos formalista. Alguns autores foram
buscá-lo nas próprias condições sociais que determinaram a adoção da inovação jurídica de
respeito aos contratos de trabalho. Para tanto imprimiram ao conceito de sucessão um conteúdo
econômico que, não raro, o desfigura, mas, assim, o direito do empregado está melhor
assegurado. De acôrdo com o novo critério, haverá sucessão tôda vez que a emprêsa não sofra
alteração nos fins para os quais se constituiu, trabalhando os empregados nos mesmos postos,
prestando ou podendo continuar a prestar os mesmos serviços. A identidade de fins consolida,
pois, o contrato de trabalho. Mesmo que inexista qualquer vínculo de ligação jurídica entre os
empregadores que se substituem, se as condições objetivas consubstanciadas na identidade de
fins da emprêsa manifestam-se e se verificam, o direito do trabalhador ao emprêgo deve ser
assegurado, porque houve, por dizê-lo, sucessão econômica.
Jean Vincent cita um exemplo altamente esclarecedor. É o caso de um serviço público cujo
concessionário deixou de explorá-lo. O Estado concede a nova emprêsa a exploração dêsse
serviço. Ora, entre o primitivo concessionário e o nôvo não há qualquer laço jurídico de sucessão,
no sentido tradicional desta expressão. Adotando-se o critério clássico, o nôvo concessionário
está isento de quaisquer obrigações para com os empregados do primitivo. Esta concepção
perfeitamente amparada pela lógica, é modernamente repelida, como o fêz a Côrte Suprema de
França sob o fundamento de que o texto legal destinado a garantir aos assalariados empregos
mais estáveis deve ter aplicação em todos os casos em que a mesma empresa continue a
funcionar sob nova direção”3 .
É pontualmente aplicável ao caso desta consulta, como qualquer um verá, o ensinamento de
Souza Netto: “Assumindo a responsabilidade da exploração de uma emprêsa, o empregador está
obrigado a suportar todos os riscos a ela inerentes, e, entre êles, se incluem os direitos do
pessoal, quer os empregados tenham sido admitidos por êle, quer pelo seu antecessor.
Há, no sistema de nossa lei, um verdadeiro direito ao emprêgo, e, quando o empregado procura
trabalho, não leva em consideração a personalidade do empregador, mas, apenas, a atividade e o
estabelecimento em que a vai exercer. Assim, enquanto êle subsistir, deve permanecer inalterado
o contrato de trabalho, porquanto a situação do ponto-de-vista do empregado, continua a
mesma. E a razão de prevalecer, neste caso, o interêsse do empregado, é que êle coincide
perfeitamente com o da coletividade”4 .
Cesarino Júnior, com a sua reconhecida autoridade de tratadista emérito e opinado Doutor, é
incisivo, quando ensina: “Pensamos que êste conceito de continuidade ou de sucessão de
emprêsa está perfeitamente de acôrdo com o nosso direito positivo. Com efeito, a Constituição de
1937, dispunha no art. 137, “g”: “Nas emprêsas de trabalho contínuo - a mudança de proprietário
não rescinde o contrato de trabalho, conservando os empregados, para com o nôvo empregador,
os direitos que tinham em relação ao antigo”. Depreende-se daí que, efetivamente, é requisito
para verificar-se a sucessão de empresa a conservação dos seus demais elementos, excluído o
seu proprietário, vale dizer, a sucessão implica numa modificação apenas subjetiva na emprêsa
(real, no caso de transferência de proprietário ou mesmo da posse - no caso de arrendamento,
por exemplo; ou apenas nominal no caso de simples alteração da firma; secundária, na hipótese de
mudança somente na direção da empresa), e numa permanência dos elementos objetivos.
A continuidade do contrato individual de trabalho opera-se “ex vi legis”, pelo simples fato da
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emprêsa sucessora continuar a dar trabalho aos empregados da sucedida, fato com o qual assume
automaticamente tôdas as obrigações desta última para com aquêles. Não há, portanto,
necessidade de qualquer notificação, carta ou anotação na carteira profissional, tanto assim que
nada dispõem a respeito dos arts. 29 e 35 da Consolidação das Leis do Trabalho”5 . E, ainda, o
Mestre conspícuo, salientando: “Insistimos em que o princípio da continuidade do contrato de
trabalho, próprio dos casos de sucessão de emprêsa, consiste, justamente, em transferir para a
sucessora tôdas as obrigações resultantes dos contratos de trabalho celebrados pela sucedida e
não rescindidos antes de completar-se a transferência do acervo material e pessoal de uma e
outra empresa. Daí, que a emprêsa sucessora seja responsável por todo o tempo de serviço dos
referidos empregados”6 .
Délio Maranhão, com grande nome no Fôro e na Faculdade, na esteira da boa doutrina, distingue e
demonstra: “Como é sabido, uma das fontes das obrigações é a lei. Por que o nôvo empregador
responde pelos contratos de trabalho concluídos pelo antigo, no caso de transferência do
estabelecimento? Porque a lei assim determina. E o faz, ainda, por meio de um “desvio dos
princípios”, atendendo à natureza mesma do estabelecimento, que ela visa a conservar como um
todo unitário e atendendo a que, não sendo o contrato de trabalho, normalmente, “intuitu
personae” em relação ao empregador, diz respeito quanto ao empregado, mais ao próprio serviço
do que a pessoa do empregador. Como escreve Oscar Saraiva, “a lei protege o trabalhador em seu
emprego, enquanto êsse emprêgo existir, independente de quem seja o empregador”. Exatamente
à mesma conclusão - coincidência que muito nos honra - chegou Evaristo de Morais Filho, em sua
extraordinária obra sôbre a “Sucessão nas obrigações e a teoria da empresa”, escrita antes, mas
publicada posteriormente à 1ª. edição dêste livro: “podem ser abandonadas as teorias
institucionalistas, as de direito real, já que a explicação da natureza jurídica da sucessão se
encontra no campo mesmo da teoria geral do direito. Basta que se reconheça que “ope legis”,
passou o contrato de trabalho, obrigatòriamente, a fazer parte do estabelecimento industrial ou
comercial” (op. cit, II-1960, pág. 261). O estabelecimento é um valor econômico, que como
acentua Ferrara, “não está indissolùvelmente ligado a quem se encontre à sua testa”. O direito
visa a tutelar êsse valor, conservando, tanto quanto possível, intactos os elementos produtivos
que o integram”.7
O ensinamento de Pietro Gasparri, que escreveu excelente monografia sôbre a emprêsa no direito
do trabalho, considerada, aliás, a melhor dissertação sôbre o assunto, é também elucidador e
definitivo: “Che la considerazione dell’azienda, como complesso organizzato, assuma nel contratto
di lavoro una rilevanza giuridica causale è cosa che nessuno può mettere in dubbio. Le
caratteristiche di essa, e della posizione che il prestatore d’opera deve occupare nella sua
struttura técnica, sitrasfondono in caratteristiche della prestazione stasse; e come tali non
possono non avere una efficacia determinante rispetto alla volontà delle parti. Il riconoscimento di
ciò è insito in quel concetto di “c ollaborazione” che si à accampato anche nella definizione
legislativa del contratto di lavoro: di modo che questo implica ora non solo una volontà di prestare
del lavoro contro mercede, ma anche una volontà di prestarlo in qualità di elemento facente parte
di un complesso di persone operante per un unico scopo produttivo. La intensità di questa
rilevanza dell’azienda nel contratto di lavoro à misurata obiettivamente dal princípio, secondo cui il
cambiamento dell’imprenditore non risolve il contratto di lavoro, ma questo continua con tutti il
suou effetti nei riguardi dell’imprenditore subentrante”8 .
E aduz, ainda, o abalizado monografista peninsular: “Il principio più rilevante per il diritto del lavoro
in materia di azienda è quello per cui la continuità del rapporto di lavoro è normalmente una
funzione della continuità dell’organismo aziendale. Il quale principio si concreta nella regola che i
mutamenti relativi alla persona dell’imprenditore non toccano Il contratto di lavoro, e nell’altra,
corrispondente, che il contratto di lavoro vien meno col dissolversi dell’azienda”9 .
Gasparri renite, ao demais, em que: “Il altri termini si ha qui una applicazione del principio che il
lavoratore, accettando l’assunzione nell’azienda, si è evvinto non a quel determinato imprenditore,
come persona, ma a chiunque venisse a succedergli nella sua posizione giuridica, senza
considerazione delle garantie personali di ciascuno: il semplice fatto del cambiamento
dell’imprenditore, ove non concorrano circostanza speciali, non modifica in nulla i presupposti del
consenso originario, e quindi non importa nessuna responsabilità por il cedente all’infueri di quelle
sopra esposte”1 0 .
Deve, também, ser lembrada aqui a observação de Jean Vicent, ao estudar o direito francês frente
ao problema da sucessão de empregadores: “Mais ce qu’il importe de préciser, c’est si les titulaires
sucessifs de l’entreprise doivent être unis par un lien juridique, c’est-à-dire avoir conclu l’un avec
l’autre une convention relative à la cession ou à la transformation de l’exploitation. Cette thèse
logique avait été acceptée au lendemain de la loi par la júrisprudence qui estimait que, dans le cas
où ce lien juridique faissat défaut, on était en présence d’une cessation suivie d’une rècurverture
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de l’entreprise, ce que si produit fréquemment, en particulier pour les concessions de services


publics; le nouveau concessionnaire n’entretient, en effet, de rapport de droit qu’avec la personne
morale quie l’grée.
Mais la Cour Suprême a rejeté dans des arrêts récents cette conception. Dans une décision du 27
février 1934, la Chambre Civile interprétant le § 7 de l’art. 29 declare: “que se texte destiné a
assurer aux salariés des emplois plus stables doit recevoir son application dans tous les cas où de
même entreprise continue à fonctionner sous une direction nouvelle”; elle à consideré que le
nouveau concessionnaire d’un service public, charté par l’autorité compétente de reprendre ce
service à l’expiration du précédent contrat de concession, était le successeur au sens de la loi
d’ancien entrepeuer”1 1 .
Lodovico Barassi, vetusto, conspícuo e tratadista da maior suposição, não hesita em afirmar: “E
perciò se il prestatore di lavoro si rifuitasse di passare al concessionario dell’azienda, deve
dimettersi observando le cautele stabilit in tal caso. Per quanto grave possa sembrare il principio
che fa del personale un elemento dell’azienda (ma non era questa l’aspirazione costante dei
lavoratori?) niente costringere il lavoratore a rimanere per forza col nuovo titolare: ma non perciò il
suo recesso perde il carattere divere a proprie dimissioni. Insomma: la regola è che al lavoratore è
indifferente che sia il datore. La azienda hanno spesso um’importanza oggettiva che giustifica
questa conclusione”1 2 .
Arnaldo Susseking, um dos mais abalizados escoliastas da nossa legislação social, em seus
valiosíssimos “Comentários à Consolidação das Leis do Trabalho e à Legislação Complementar”,
discorre sôbre a matéria em exame, assim: “… são igualmente valiosos os pronunciamentos
afirmados de que, nas relações de trabalho, o empregador é a emprêsa, baseados, sobretudo, na
teoria de instituição, que tem como corolário a personificação da empresa. (Cesarino Júnior,
“Natureza Jurídica do Contrato Individual de Trabalho”, pág. 72, e “Direito Social Brasileiro”, 4ª.
ed., vol. II, págs. 57 e 76), Dorval Lacerda, “Contrato Individual de Trabalho”, págs. 46 e 47 e
“Direito Brasileiro do Trabalho”, vol. II, págs. 21 e 22), Nélio Reis (“Alteração do Contrato de
Trabalho”, 2ª. ed., págs. 38 e 39) e Luiz José de Mesquita (“Direito Disciplinar do Trabalho”, págs.
15 e 16); sendo que o I Congresso Brasileiro de Direito Social realizado na cidade de São Paulo,
em 1941, definiu a emprêsa como “uma entidade autônoma de fins econômicos e de caráter
institucional, na qual se estabelecem relações de colaboração e subordinação entre o empresário
e o pessoal da emprêsa”.
Atendendo a êsses postulados é que a Justiça do Trabalho proclamou: “O empregador não é a
pessoa do capitalista, do dono do negócio ou de seu empreendedor, mas a emprêsa, isto é, o
conjunto de bens materiais, imateriais e pessoais, para a consecução de determinado fim. A
propriedade dos acionistas é das ações; é justamente, por isso, que não pode haver co-
propriedade de emprêsa, ensina Georges Ripert. E acrescentou: “O acionista tem um direito contra
a sociedade e não um direito na sociedade” (acórdão do Tribunal Superior do Trabalho no
processo n. 5.385-47, Astolfo Serra, relator, “Diário da Justiça”, de 2 de setembro de 1948)”1 3 .
Evaristo de Morais Filho, em sua substanciosa “Introdução ao Direito do Trabalho”, também
enfrenta o tema aqui delineado em têrmos que encontram superfície e base na melhor doutrina:
“Embora sem a precisão de Rocco, autores há na nossa disciplina, como Prosperetti, Mazzoni e
Santoro-Passarelli, que destacam também êsse aspecto coletivo organizacional do trabalho,
através da emprêsa, hoje em dia o verdadeiro sujeito do direito do trabalho e não mais a simples
pessoa física ou natural do empregador”1 4 .
A melhor doutrina sôbre a despersonalização da emprêsa - (e que é de cardial importância para o
desate desta consulta) - e que tem recolhido os sufrágios da jurisprudência a mais copiosa -
Alfredo Ruprecht atendeu em têrmos magistrais: “El contrato de trabajo tiene el carácter de
“intuitu personae”. Quando em empleador toma a su servicio a un trabajador, tiene en cuenta
todos sus antecedentes: capacidad, experiencia, edad, conducta etc., de la parte obrera, en la
actualidad, las circunstancias personales del empleador pesan mucho menos y, en algunas
ocasiones, nada, como por ejemplo, en una sociedad naónima, en la que no hay un patrono
concreto, visible, ya lo son los acionistas e en las grandes industrias, de muchos obreros, en que
jamás conecen a su empleador.
En evidente, como dice Colombo que se ha producido una modi-ficación muy profunda en los
grandes establecimientos, sobre todo en los centros industriales y comerciales desarrollados, que
obligó a sus dirigentes montarlos en base a un régimen especial, en un todo concorda con sus
finalidades y con el beneficio que se desea obtener. Ello trae como consecuencia una separación
cada vez mayor entre el trabajador y el empresario. Dice gráficamente el autor citado: “Desde el
taller hasta la sala de los directores suele existir ahora cientos de metros de distancia, cuando no
kilómetros”.
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Este fenómeno se conoce con el nombre de Despersorialización de la empresa. Sin embargo, no se


debe valorizar en demasia esa circunstancia, en el punto que estudiamos, puesto que la
responsabilidad de un cesionario es igual ya se trate de un gran establecimiento o de un pequeño
negocio; las raices hay que buscarlas en un origen econômico-jurídico. Ello, porque ya hace
tiempo se consideró que los establecimientos dejaron de ser simple suma de mercadorias y
máquinas, para transformarse en entidades distintas, compuestas de los bienes materiales e
immateriales (nombre, clientela etc.) no pudiendo desaparecer por el simple traspaso a tercero”1 5 .
2. A Consolidação das Leis do Trabalho, não sem alguma redundância, inscreveu o princípio da
continuidade da emprêsa e do contrato de trabalho nos seus arts. 10 e 448. Mas, o adágio, de
profundo e acentuado alcance econômico, já havia sido declinado, anteriormente, no período pré-
consolidado: primeiro, na cláusula 3.ª da lei n. 62, de 5 de junho de 1955, e, ao depois, na alínea
“g” do art. 137 da Epístola de 10 de novembro de 1937, que, tradução quase literal, reproduziu o
disposto na Declaração XVIII da “Carta del Lavoro” do Fascismo italiano.
O preceito contido nos arts. 10 e 448 do Estatuto de 1º de maio de 1943, imperativo, de ordem
pública, cogente, e de aplicação intensa, faz com que o contrato individual de trabalho, o tempo
de serviço do empregado se vincula, como um verdadeiro “ius in re” à emprêsa (“universitas
rerum”), ao negócio explorado.
Do mesmo modo, é canon assente na “novel disciplina” que as execuções dos julgados trabalhistas
se fazem contra a emprêsa e não contra a pessoa física do seu eventual empreendedor; executa-
se a emprêsa e não a pessoa que detém a fonte de trabalho.

Peretti Griva, ilustre magistrado e escritor italiano, também referido por Orlando Gomes1 6 , sustenta
que o princípio da continuidade do contrato individual do trabalho, pôsto que vise a proteger o
trabalhador, encerra, no fundo, um conceito pejorativo para a dignidade pessoal do obreiro, já que
transmiti-lo ao nôvo cessionário, importa em equipará-lo aos bens e utensílios do próprio
estabelecimento, que foi objeto da cessão.
Barassi - já citado neste Parecer - porém, não deixa de observar que esta garantia de
continuidade do contrato individual do trabalho foi sempre uma aspiração constante da massa
trabalhadora.1 7
A mim me parece, todavia, que o moderno conceito de sucessão de empregadores, ou da
continuidade da emprêsa e do contrato de trabalho, longe de diminuir a pessoa do salariado,
respeita a sua dignidade e enaltece o seu trabalho. Em verdade, no capital de uma emprêsa, é
induvidoso nos dias de hoje - também se inclui o esfôrço de seus operários, os quais com o seu
labor diário e continuado, aumentam o valor, a qualidade, e a reputação de seus produtos ou
serviços - sabido que a organização empresária tem uma destinação social e é obra comum do
esfôrço conjugado de empresário e subordinados, isto é, do capital financeiro e do capital
laborativo. Ninguém, entre nós, melhor o disse do que o escritor e economista mineiro João Camillo
de Oliveira Tôrres: “Devemos antes de mais nada acentuar duas coisas: produzir não é fazer
coisas: é criar valores econômicos, é colocar uma utilidade à disposição de uma necessidade (ou
vice-versa, criar uma necessidade para uma utilidade); capital não é apenas “o dinheiro”,
empregado da emprêsa, e sim, o estoque, a freguesia, o crédito, os contratos de trabalho, o
conjunto de empregados treinados e engrenados uns aos outros etc.
É necessário, portanto, criar-se um processo de solução prática do problema, dividindo-se o
capital “bruto” de uma emprêsa em duas partes diferentes: o “capital-dinheiro” e o “capital-
trabalho”, o primeiro individual e o segundo coletivo.1 8
Observo, nesta oportunidade, que muito antes do princípio da continuidade da emprêsa ser
enunciado no direito comum, juristas e escritores de alto coturno, vinham pregoando que o
estabelecimento goza de uma espécie de personalidade jurídica, sendo um sujeito de direitos
distintos do comerciante, com o seu patrimônio, os seus direitos e as suas obrigações próprias.1 9
3. A jurisprudência trabalhista, dando exata interpretação aos textos legais, que disciplinam a
matéria trazida a meu consulto, e atendendo à lição dos sumos doutôres do “direito de
vanguarda”, indiscrepantemente, resolve: “As mudanças operadas na constituição da emprêsa ou
na sua direção não exercem influência nas relações de direito entre ela e seus empregados” -
acórdão do Supremo Tribunal Federal, recurso extraordinário n. 15.368, relator: Exmo. Sr. Min.
Edgard Costa, “Diário da Justiça”, da União Federal, de 27 de agôsto de 1951, pág. 2.413.
“Tratando-se de sucessão, e tendo os empregados continuado a trabalhar nas mesmas condições,
o contrato continua em vigor. Não é f acultado ao empregado, havendo sucessão, escolher entre a
indenização e a permanência no emprêgo”, acórdão do Supremo Tribunal Federal - Segunda
Turma, recurso extraordinário n. 18.993, relator: O Exmo. Sr. Min. Rocha Lagoa, “apud” “Ementário

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Trabalhista” de B. Calheiros Bomfim, Rio de Janeiro, 1965.


“A mudança na propriedade ou a que se operar na estrutura da emprêsa não atingirá os contratos
de trabalho de seus empregados” - acórdão do Supremo Tribunal Federal, recurso extraordinário n.
16.459, Segunda Turma, relator: Exmo. Sr. Min. Afrânio Antônio da Costa, “Diário da Justiça”, da
União Federal, de 11 de fevereiro de 1957, pág. 517.
“No direito do trabalho, o conceito de sucessão é eminentemente econômico, repousando em
motivos de ordem prática. A sucessão econômica bastará à aquisição da estabilidade, pouco
importando as substituições de proprietários da emprêsa, uma vez que haja continuidade de
serviços por parte dos empregados” - acórdão do Supremo Tribunal Federal, agravo de
instrumento n. 15.478, Primeira Turma, relator: O Exmo. Sr. Min. Orosimbo Nonato, “apud”, B,
Calheiros Bomfim - “A Consolidação Trabalhista” vista pelo Supremo Tribunal Federal, 1959, José
Konfino, editor, Rio de Janeiro, pág. 198.
“Qualquer o modo porque se processe a mudança, alteração ou transformação, da emprêsa não
produz a rescisão dos contratos de trabalho que mantém com os seus empregados. Ao acervo,
total ou parcialmente adquirido, quando mantida a unidade orgânica, ou seja, a capacidade do
acervo em permitir a exploração do mesmo negócio ou de outro similar, vincularam-se como “jus in
re” os direitos dos empregados, oriundos dos contratos de trabalho”, acórdão do Supremo Tribunal
Federal, recurso extraordinário n. 24.484, Primeira Turma, relator: Exmo. Sr. Min. Ribeiro da Costa,
“apud” B. Calheiros Bomfim, op. cit., pág. 198.
“Admitiu o aresto recorrido que há sucessão de relações trabalhistas, se a emprêsa estatal passa
a constituir sociedade de economia mista. Decisão que assim entende está de acôrdo com a
jurisprudência desta Turma - acórdão dc Supremo Tribunal Federal, Primeira Turma, relator: O
Exmo. Sr. Min. Luiz Gallotti, recurso extraordinário n. 42.911, publicado em audiência de 7 de
outubro de 1959, “apud” B. Calheiros Bomfim, “A Consolidação Trabalhista” vista pelo Supremo
Tribunal Federal, 2º vol. - Edições Trabalhistas S.A. - Rio de Janeiro - 1961 - pág. 22.
“Não cabe recurso extraordinário da decisão da Justiça do Trabalho que, aplicando as leis próprias,
considerou que a mudança de empregador com a sucessão legal, não afeta os contratos de
trabalho dos mesmos empregados”, acórdão do Supremo Tribunal Federal - Segunda Turma,
agravo de instrumento n. 12.691, relator: O Exmo, Sr. Min. Lafayette de Andrada, “Diário da
Justiça”, da União Federal, de 10 de novembro de 1948, pág. 3.043.
“O conceito de sucessão trabalhista é extremamente amplo no direito do trabalho como
decorrência da crescente tendência social das atividades econômicas que caracteriza a época
contemporânea, de sorte que o conceito individualista da responsabilidade pessoal pela relação de
emprêgo tende cada vez mais a ser substituído pelo conceito social, segundo o qual a relação de
emprêgo se estabelece entre o empregado e a emprêsa”. Acórdão unânime do Tribunal Superior do
Trabalho, em Pleno, no Processo n. TST-4.776/48, “apud”; Hélio de Miranda Guimarães.
“Repertório de Jurisprudência Trabalhista”, São Paulo, 1953, vol. II, pág. 902, n. 2.716.
“No direito do trabalho, e hoje em dia, tudo isso já constitui; afirmação cediça - o conceito de
sucessão de emprêsa assume características bem mais amplas e plásticas que no direito
comercial. Importa, naquela, a noção de serviço. Desde que haja prestação de serviço,
continuidade nesta prestação, pouco importa o nome de quem seja, em cada momento, o
empregador real do prestador de trabalho. Dá-se um verdadeiro “jus in re” - no qual o empregado
vai aderido à própria coisa, indefinidamente. Há sempre sucessão de emprêsa, desde que ocorra
por igual identidade de atividades econômicas entre o antigo e o nôvo empregador, sem solução
de continuidade na execução do trabalho”, acórdão do Tribunal Superior do Trabalho, em Pleno,
no processo n. TST-833/51, relator: O Exmo. Sr. Min. Godoy Ilha, “Diário da Justiça”, da União
Federal, de 7 de novembro de 1952, pág. 5.052.
“Ocorrendo continuidade na exploração econômica do negócio, ainda que com empregadores que
se substituam, permanece íntegro o contrato de trabalho do empregado, vinculado à entidade
econômica e não à pessoa física do empregador”. Acórdão do Tribunal Superior do Trabalho, em
Pleno, relator: O Exmo. Sr. Min. Bezerra de Menezes, no processo n. TST-3.127/52, “in” “Rev. do
Trabalho”, Rio de Janeiro, maio e junho de 1963, pág. 177.
“A hipótese dos autos já é bem conhecida dos Tribunais Trabalhistas. A Estrada de Ferro Central
do Brasil, por meio de concorrência, concedeu a exploração dos serviços de restaurantes em seus
trens. Os concessionários se substituem na exploração do mesmo negócio, embora na
intercorrência dos contratos definitivos, outros tenham sido incumbidos de executar o mesmo
negócio, a título precário.
Os empregados reclamantes, todavia, continuaram a trabalhar sem a menor solução de
continuidade. Evidente, pois, a sucessão, que, como todos nós sabemos, é substituição de uma

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pessoa por outra na mesma relação jurídica” (acórdão do Tribunal Superior do Trabalho, Segunda
Turma, no processo n. TST-2.412/56, relator: O Exmo. Sr. Min. Oscar Saraiva, “Diário da Justiça”,
da União Federal, de 5 de julho de 1957, págs. 1.712/13).
“O que importa no direito do trabalho é a continuidade da mesma finalidade econômica entre o
sucedido e o sucessor, pouco importando as formais relações jurídicas que porventura possam
existir entre êles. O operário, como verdadeira peça, autêntico “jus in re” passa de um para outro,
sem solução de continuidade”, acórdão do Tribunal Superior do Trabalho, Terceira Turma, relator:
Exmo. Sr. Min. Délio Maranhão, no processo n. TST-741/55, “Diário da Justiça”, da União Federal,
de 23 de setembro de 1955, pág. 3.416.
“Sucessão quer dizer substituição de uma pessoa por outra na mesma relação jurídica. Desde que
o negócio, como universalidade que é, portanto, subsiste, passa de um para outro empregador,
continuando inalterada a relação de trabalho, há substituição de um dos sujeitos dessa relação”,
acórdão do Tribunal Superior do Trabalho, Terceira Turma, relator: Exmo. Sr. Min. Délio Maranhão,
no processo n. TST-3.887/54, “Diário da Justiça”, da União Federal, de 20 de janeiro de 1956,
pág. 107.
“Não há fundamento jurídico para que sejam recusados os efeitos da sucessão trabalhista, quando
o Estado transfere para pessoa de direito privado atividade por êle antes exercida”, acórdão do
Tribunal Superior do Trabalho, Terceira Turma, processo n. TST-1.234/56, relator: O Exmo. Sr.
Min. Oscar Saraiva, “Diário da Justiça”, da União Federal, de 24 de maio de 1957, pág. 1.251.
“Sôbre o sucessor recai a responsabilidade pelo tempo de serviço prestado pelos empregados da
firma sucedida, ainda que durante a transmissão da emprêsa estejam afastados de suas funções,
se posteriormente, vierem a ser readmitidos”, acórdão do mesmo Tribunal em Pleno, relator: Exmo.
Sr. Min. Oliveira Lima, “Diário da Justiça”, da União Federal, de 3 de julho de 1957, processo n.
TST-4.124/51, págs. 2.906/7.
“Princípio da continuidade do contrato de trabalho. A relação de emprêgo se estabelece entre o
empregado e a emprêsa”, acórdão do Tribunal Regional do Trabalho da 3ª. Região, com sede em
Belo Horizonte, processo n. TRT-3.582/61, relator: Exmo. Sr. Juiz Fábio de Araújo Motta, “in”
“Diário da Justiça”, de Minas Gerais, de 13 de dezembro de 1962, pág. 7.
“Prevalência das normas de ordem pública sobre ajustes de índole particular. Não obstante o
ajuste de compra e venda do empreendimento dispor no sentido de que o adquirente não é
responsável pelas obrigações assumidas pelo vendedor, nenhuma eficácia tem essa cláusula na
esfera das relações jurídicas de trabalho, por isso que estas são regidas por normas de ordem
pública que atribuem a responsabilidade ao comprador ou sucessor”, acórdão do mesmo Tribunal
no processo n. TRT-1.869/61, relator: O Exmo. Sr. Juiz Prof. Vieira de Mello, “Diário da Justiça”,
de Minas Gerais, de 28 de setembro de 1961, pág. 7.
“Provado que a empregadora assumiu a execução da obra anteriormente a cargo de empresa
congênere, sem que houvesse solução de continuidade, é induvidoso que contraiu também os
encargos decorrentes dos contratos de trabalho que vinculavam a êsses obreiros, os quais não
podiam ser afetados por tais modificações”, acórdão do Tribunal Regional do Trabalho da 3ª.
Região, no processo n. TRT-1.540/60, relator: O Exmo. Sr. Juiz Prof. Vieira de Mello, “Diário da
Justiça”, de Minas Gerais, de 22 de outubro de 1960, pág. 9.
“Quando houver sucessão de emprêsas, responde a sucessora pelos direitos dos empregados
adquiridos a serviço da sucedida”, acórdão do mesmo Tribunal no processo n. TRT-Formiga,
relator: O Exmo. Sr. Juiz Fábio de Araújo Motta, “Diário da Justiça”, de Minas Gerais, de 29 de
setembro de 1960, pág. 10.
“A venda do estabelecimento não afeta os direitos dos empregados que permanecem em serviço
após a transação, máxime em relação aos estáveis, cujo afastamento depende de condições e
formalidades fixadas em lei”, acórdão do Tribunal Regional do Trabalho da 3ª. Região no processo
n. TRT-1.003/59, relator: O Exmo. Sr. Juiz Cândido Gomes de Freitas, “Diário da Justiça”, de
Minas. Gerais, de 18 de agôsto de 1959, pág. 30.
“Caracterizada a sucessão, é o sucessor quem responde pelas obrigações decorrentes do contrato
de trabalho, sendo o sucedido considerado parte ilegítima para cumprir aquelas obrigações”,
acórdão do mesmo Tribunal no processo n. TRT-2.892/56, relator: O Exmo. Sr. Juiz Newton
Lamounier, “Diário da Justiça”, de Minas Gerais, de 10 de janeiro de 1957, pág. 7.
“No direito do trabalho, a sucessão não se reveste do rigorismo do direito comum. É mais liberal,
tendo sentido prático e econômico. Havendo sucessão econômica e continuidade de prestação de
serviço, verifica-se a sucessão e como conseqüência a contagem de todo tempo de serviço para
fins de aquisição do direito de estabilidade”, acórdão do Tribunal Regional do Trabalho da 3ª.
Região no processo n. TRT-1.394/54, relator: O Exmo. Sr. Juiz Curado Fleury, “Diário da Justiça”,
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de Minas Gerais, de 10 de janeiro de 1955.


“Em caso de sucessão de emprêsas, não se dá a rescisão do contrato de trabalho dos
empregados de sucedida, pois que o mesmo passa a vigorar frente à sucessora”, acórdão do
mesmo pretório trabalhista, relator: Exmo. Sr. Juiz Abner Faria, no “Diário da Justiça”, de Minas
Gerais, de 17 de novembro de 1953, no processo n. TRT-1.568/53.
“O promitente-vendedor que volta a ser proprietário da emprêsa, cujo acervo vendera sob reserva
de domínio, constitui-se sucessor do promitente-comprador, para o efeito de responder pelos
encargos relativos aos empregados contratados,por êste último” - acórdão do aludido Tribunal no
processo n. TRT-1.145/49, relator: O Exmo. Sr. Juiz Newton Lamounier, “apud” “Ementário da
Jurisprudência” de Jair Corrêa da Silva Loureiro, Belo Horizonte, 1949, n. 9.
“Há sucessão toda a vez que a emprêsa não sofre alteração nos fins para os quais se constituiu,
trabalhando os empregados nos mesmos postos, prestando ou podendo continuar a prestar os
mesmos serviços, qualquer que seja a modificação jurídica operada na sua organização”, acórdão
do Tribunal Regional do Trabalho, com sede na Guanabara, no processo n. TRT-906/55, “Diário da
Justiça”, da União Federal, de 7 de outubro de 1955, pág. 3.595, relator: O Exmo. Sr. Juiz Homero
Prates.
“O fato do empregador arrendar o seu estabelecimento não importa em rescisão dos contratos de
trabalho dos empregados” - acórdão do Tribunal Regional do Trabalho da 4ª. Região - sediado em
Pôrto Alegre, “apud” Russomano, “Comentários à Consolidação das Leis do Trabalho”, vol. II, 1952,
José Konfino Editor, Rio de Janeiro, Jurisprudência, págs. 585/586.
Na Itália, aresto da Cassação de Roma, deixou também elucidado: “La continuità del rapporto di
lavoro e il vincolo di solidarietà del sucessoro sono concepiti in funzione inscidibile della continuità
di una medesima azienda trasferita al altri nella sua entità obiettiva” “In” “Massimario di
Giurisprudenza del Lavoro”, Ano XXXV, Roma, n. 5, Settembre-Ottobre, 1962, pág. 389, n. 137.
A Quarta Câmara da Côrte Suprema da Justiça do México, em caso “sub judice”, decidiu: “Los
tratadistas en Derecho Industrial consideran que los trabajadores prestan sus servicios a las
industrias y no a los patronos en sí mismos, o en otras palabras, que los derechos que dimanan del
contrato del trabajo no constituyen una relación individual de personas sino una económica real
entre el obrero que desempeña un trabajo que forma parte del proceso de produccion y el patrono
impersonalmente considerado que constituye el Capital en sentido econômico; por lo tanto, aun
cuando exista un cambio de personas fisicas e morales en un negocio, los contratos de trabajo
surten sus effectos jurídicos en contra del adquirente, quién además adquiriere las
responsabilidades del anterior patrono derivadas de esos propios contratos”2 0 .

4. Como salienta Orlando Gomes2 1 , a cláusula legal, que assegura ao empregado o direito ao
emprêgo, quando ocorre sucessão de emprêsa, é de ordem pública. E remata: “Assim, o acôrdo de
vontade dos particulares não pode modificá-la”2 2 .
Daí, ter escrito e discursado o emérito magistrado e Prof. Paulo Emílio Ribeiro de Vilhena: “A
legislação do trabalho, constituída de leis de ordem pública, imperativas, portanto, inderrogáveis,
sustenta-se sôbre o princípio da tutela do empregado. Através dêsse princípio estabelece tôda a
direção de um sistema de conteúdos mínimos, que não pode ser superado pela vontade das
partes”2 3 .
Não me impressiona, portanto, o fato de que, no último contrato mencionado na consulta, não
haja referência alguma aos ônus e encargos trabalhistas decorrentes da sucessão de
empregadores ou de emprêsas, porque tal dispositivo, de ordem pública, é de inserção automática
em tais avençamentos, não dependendo de que os contratantes tenham escrito ou não a
mencionada condição no respectivo instrumento, isto é, a obrigação de assumir a responsabilidade
emergente dos contratos individuais de trabalho que vieram da sucedida. E a razão é óbvia: os
preceitos de ordem pública consubstanciados nos arts. 10 e 448 da Consolidação das Leis do
Trabalho, constituem um dos direitos sociais mínimos outorgados pela legislação social aos
trabalhadores - abastecimento normativo e cogente de todo o ajuste de trabalho - não podem
ficar à mercê da vontade das partes: empregador e empregado, cedente e cessionário, vendedor
e comprador.
Trata-se, pelo visto, de cláusula de pré-redação ou clichê contratual da teoria de Josserand, tão
típica do dirigismo contratual do direito moderno, e que encontra natural e exata aplicação no
campo do direito do trabalho, onde a intervenção do Estado para “compensar com uma
superioridade jurídica a inferioridade econômica do obreiro” é muito mais intensa e enérgica do que
em qualquer outro departamento da atividade humana.
5. Ante todo o exposto, responde à consulta, pela forma seguinte:
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1º quesito: Sim, pelos motivos aduzidos neste Parecer, notadamente no n. 4, supra, existe
perfeita identidade, sob o ponto-de-vista legal, no que se refere a encargos trabalhistas.
2º quesito: Não há a menor dúvida de que, em virtude do princípio legal, e da ordem pública,
enunciado nos arts. 10 e 448 da Consolidação das Leis do Trabalho, tais encargos seriam
transferidos, automaticamente, à T. L. S.A. - ou à Hidrominas, caso uma ou outra, assumissem os
bens aludidos na consulta.
3º quesito: Não. Não existe nenhuma obrigação legal neste sentido. O sucessor assume “ipso
facto” e “ipso iure” a inteira responsabilidade pela continuidade dos contratos de trabalho do
pessoal engajado na emprêsa, conforme demonstrei em todo o Parecer.
4º quesito: Não poderá se recusar a recebê-lo. A obrigação é de ordem pública. Mesmo que a
condição obrigacional não tivesse sido acordada pelas partes no respectivo instrumento, a sua
inserção fêz-se, automàticamente, com cláusula de “pré-redação”, importa, coercitivamente, pela
legislação social e enunciada de modo imperativo e desenganado nos arts. 10 e 448 da
Consolidação das Leis do Trabalho.
É êste o meu Parecer sôbre tôdas as questões propostas na consulta, salvo melhor juízo.
Belo Horizonte - Minas Gerais, 20 de agôsto de 1965.

1 “Instituições de Direito do Trabalho”, com o concurso de Arnaldo Sussekind e José Segadas


Vianna, 2ª. ed., vol. I, Livraria Freitas Bastos S. A. 1981, pág. 330.

2 “Diritto del Lavoro”, 1935, pág. 368.

3 “Direito do Trabalho - Estudos”, Edições Fórum, Bahia, 1941, págs. 75/76.

4 “Da Rescisão do Contrato de Trabalho de Duração Indeterminada”, 1937, São Paulo, Livraria
Acadêmica, pág. 61.

5 “Direito Social Brasileiro”, 5ª. ed. 2º vol., 1963, Livraria Freitas Bastos S. A., pág. 263.

6 Op. cit., pág. 265.

7 Op. cit., págs. 319/320.

8 “L’azzienda nel Diritto del Lavoro”, Cedam, Casa Editrice Dott. Antonio Milani, Padova, 1937,
págs. 11 e 12.

9 Op. cit., págs. 24/25.

10 Op. cit., pág. 96.

11 “La Dissolution du Contrat de Travail”, Paris, Librairie Générale de Droit & de Jurisprudence,
1935, págs. 594/595.

12 “Il Diritto del Lavoro”, Milano, Dott. A. Giuffrè, Editore, 1949, III vol., págs. 187/188.

13 “Comentários à Consolidação das Leis do Trabalho e à Legislação Complementar”, vol. I, Livraria


Freitas Bastos S.A., 1960, pág. 66. Veja-se também José Martins Catharino, “Contrato de
Emprego”, Salvador, Bahia, 1963, págs. 31/36, supra.

14 “Introdução ao Direito do Trabalho” Edição da “Rev. Forense”, Rio de Janeiro, 1956, págs. 108/
9.

15 “Contrato de Trabajo”, Bibliográfica Omeba, Buenos Aires, 1960, págs. 392/3.

16 Op. cit., pág. 80.

17 Op. cit., pág. 188.

18 “A remuneração na produção”, artigo “in” Rev. Comercial de Minas Gerais”, outubro de 1944,
Belo Horizonte, n. 74, pág. 47.
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19 Vejam-se Alfredo Rocco, “Princípios de Direito Comercial”, tradução do Prof. Cabral de


Moncada, São Paulo, 1931. Endermann, “Das deutsche Handelsrecht”, págs. 54 e segs. Valery,
“Maison de commerce e fonds de commerce”, “in” “Analles de Droit Com.” 1907, págs. 216 e segs.

20 Apud” Mario de la Cueva, “in” “Derecho Mexicano del Trabajo”, segunda edição, 1º vol.,
México, 1943, pág. 644.

21 “Curso Elementar de Direito do Trabalho”, com o concurso de Elson Gottschalk, edição da “Rev.
Forense”, 1ª. ed., 1963, Rio-São Paulo, pág. 277.

22 Op. cit., ibidem, loc. cit.

23 Sentença no processo n. JCJ-4ª.-787/62, Belo Horizonte, Minas Gerais.


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