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MAGISTRATURA E MINISTÉRIO PÚBLICO ESTADUAIS

Alexandre Gialluca
Direito Empresarial
Aula 04

ROTEIRO DE AULA

11.2) Sociedade em conta de participação

- É sociedade despersonificada, sendo muito famosa pela abreviatura SCP. Ela é muito utilizada em
especial no Direito Imobiliário.

Art. 991. Na sociedade em conta de participação, a atividade constitutiva


do objeto social é exercida unicamente pelo sócio ostensivo, em seu nome
individual e sob sua própria e exclusiva responsabilidade, participando os
demais dos resultados correspondentes.

Parágrafo único. Obriga-se perante terceiro tão-somente o sócio


ostensivo; e, exclusivamente perante este, o sócio participante, nos
termos do contrato social.

a) Estrutura

- Há duas categorias de sócio:

i) Ostensivo

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- O sócio ostensivo possui três características fundamentais:

✓ Exerce o objeto social

✓ Tem responsabilidade exclusiva

✓ Age em seu nome individual

ii) Participante (oculto): o sócio participante apenas participa dos resultados empresariais.

Exemplo¹: imagine que a construtora Alfa LTDA monte uma sociedade em conta de participação,
figurando como sócia ostensiva da SCP. Uma pessoa se interessa pelas unidades de um flat que está
sendo comercializado pela construtora e entra como sócia oculta do empreendimento. Neste caso,
é a construtora que exerce o objeto social levantando o prédio, além de ser responsável por tudo o
que acontece na obra (ex.: acidente de trabalho que origina ação de indenização). Todavia, a
sociedade em conta de participação é despersonificada. Logo, ela não tem nome empresarial (Art.
1162, CC). Assim, ainda que o edifício/obra empreendida tenha nome, a SCP não tem nome. Por
isso, as compras de materiais necessárias ao empreendimento estarão em nome do sócio ostensivo,
já que este age em nome próprio, mas no interesse na SCP. É o sócio ostensivo que aparece nas
relações comerciais. É ele também que deve figurar no polo passivo caso alguém deseje propor ação
em face da SCP.

b) Prova

- Para comprovar a existência e/ou a relação societária para com a SCP, é admissível qualquer tipo
de prova. A prova pode ser produzida tanto pelo sócio quanto pelo terceiro.
Art. 992, CC. A constituição da sociedade em conta de participação
independe de qualquer formalidade e pode provar-se por todos os meios
de direito.

c) Responsabilidade

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- A responsabilidade é exclusiva do sócio ostensivo.

d) Se levada a Registro

- Na sociedade em comum, o registro pode conferir personalidade jurídica a sociedade.


Diferentemente, a sociedade em conta de participação sempre será uma sociedade
despersonificada, independentemente de haver registro ou não. Desta forma, pouca gente acaba
sabendo quem são os sócios participantes (POR ISSO TAMBÉM CHAMADOS DE OCULTOS), já que o
registro deste tipo de sociedade quase não é feito; nem no Cartório, nem na Junta Comercial.

Art. 993. O contrato social produz efeito somente entre os sócios, e a


eventual inscrição de seu instrumento em qualquer registro não confere
personalidade jurídica à sociedade.

12. Quadro Geral das Sociedades Personificadas

• Quanto a natureza, a sociedade pode ser:

a) Sociedade empresária (Art. 966, CC): tem como objeto a exploração de atividade típica de
empresário. A sociedade empresária DEVE se constituir de acordo com um dos tipos societários
previstos no Código Civil, quais sejam:

(i) Sociedade em nome coletivo


(ii) Sociedade em comandita simples
(iii) Sociedade em comandita por ações
(iv) Sociedade anônima
(v) Sociedade limitada

b) Sociedade Simples: a sociedade simples PODE adotar os mesmos tipos societários das sociedades
empresárias, com exceção da sociedade por ações que só podem ser empresariais. Além disso, as
sociedades simples também podem ser do tipo cooperativas. O termo “pode” é utilizado porque a

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sociedade simples pode ser também um tipo societário. Logo, os tipos societários adequados a
sociedade simples são:

(i) Sociedade cooperativa


(ii) Sociedade em nome coletivo
(iii) Sociedade em comandita simples
(iv) Sociedade Limitada
(v) Sociedade Simples (= sociedade simples pura)

- A sociedade simples pura é aquela que tem natureza simples e não sofreu interferência de nenhum
outro tipo societário.

- Muitos autores afirmam que o Capítulo que disciplina a sociedade simples traz as regras gerais do
direito societário, uma vez que vários tipos societários colocam as regras da sociedade simples como
aplicação subsidiária.

Sociedade Empresária → registro feito na Junta Comercial

Sociedade Simples → registro feito no Cartório de Pessoas Jurídicas

EXCEÇÕES:

✓ Cooperativa: em que pese ter natureza simples, ela deve ser registrada na Junta Comercial.

✓ Sociedade de Advogados: em que pese ter natureza simples, esse tipo de sociedade só
adquire personalidade jurídica quando ela é registrada na OAB.

Art. 982. Salvo as exceções expressas, considera-se empresária a


sociedade que tem por objeto o exercício de atividade própria de
empresário sujeito a registro (art. 967); e, simples, as demais.

Parágrafo único. Independentemente de seu objeto, considera-se


empresária a sociedade por ações; e, simples, a cooperativa.

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Art. 983. A sociedade empresária deve constituir-se segundo um dos tipos
regulados nos arts. 1.039 a 1.092; a sociedade simples pode constituir-se
de conformidade com um desses tipos, e, não o fazendo, subordina-se às
normas que lhe são próprias.

Art. 1.150. O empresário e a sociedade empresária vinculam-se ao


Registro Público de Empresas Mercantis a cargo das Juntas Comerciais, e
a sociedade simples ao Registro Civil das Pessoas Jurídicas, o qual deverá
obedecer às normas fixadas para aquele registro, se a sociedade simples
adotar um dos tipos de sociedade empresária.

13. Sociedade simples

13.1. Contrato Social

- O Art. 997 do CC traz as cláusulas essenciais do Contrato Social da Sociedade Simples.

Art. 997 do CC/02: A sociedade constitui-se mediante contrato escrito,


particular ou público, que, além de cláusulas estipuladas pelas partes,
mencionará:

I - nome, nacionalidade, estado civil, profissão e residência dos sócios, se


pessoas naturais, e a firma ou a denominação, nacionalidade e sede dos
sócios, se jurídicas;

II - denominação, objeto, sede e prazo da sociedade;

III - capital da sociedade, expresso em moeda corrente, podendo


compreender qualquer espécie de bens, suscetíveis de avaliação
pecuniária;

IV - a quota de cada sócio no capital social, e o modo de realizá-la;

V - as prestações a que se obriga o sócio, cuja contribuição consista em


serviços;

VI - as pessoas naturais incumbidas da administração da sociedade, e seus


poderes e atribuições;

VII - a participação de cada sócio nos lucros e nas perdas;

VIII - se os sócios respondem, ou não, subsidiariamente, pelas obrigações


sociais.

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Parágrafo único. É ineficaz em relação a terceiros qualquer pacto
separado, contrário ao disposto no instrumento do contrato.

14.2 Pluripessoalidade

- O tipo societário da sociedade simples tem como regra geral ser pluripessoal. Ou seja, a sociedade
sempre deve ser constituída por dois ou mais sócios.

EXCEÇÃO: o advogado que não quiser constituir uma sociedade de advogados pode constituir uma
sociedade unipessoal de advocacia, cuja natureza é de sociedade simples (Estatuto da OAB - Lei
8906/94).

Art. 15. Os advogados podem reunir-se em sociedade simples de


prestação de serviços de advocacia ou constituir sociedade unipessoal de
advocacia, na forma disciplinada nesta Lei e no regulamento geral.
(Redação dada pela Lei nº 13.247, de 2016)

Art. 16. Não são admitidas a registro nem podem funcionar todas as
espécies de sociedades de advogados que apresentem forma ou
características de sociedade empresária, que adotem denominação de
fantasia, que realizem atividades estranhas à advocacia, que incluam
como sócio ou titular de sociedade unipessoal de advocacia pessoa não
inscrita como advogado ou totalmente proibida de advogar. (Redação
dada pela Lei nº 13.247, de 2016)

14.3. Quotas sociais

A) Conceito: são frações do capital social, que conferem ao seu titular direito de sócio de uma
sociedade contratual.

B) Quem pode ser sócio: pode ser tanto Pessoa Natural quanto a Pessoa Jurídica (Art. 997, CC).

• E o incapaz?

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O incapaz pode ser sócio de uma sociedade natureza simples, desde que se observe a regra do Art.
974, §3 do CC que impõe requisitos para tanto. Trata-se de 03 requisitos cumulativos: (i) o incapaz
deve estar devidamente assistido ou representado; (ii) não pode exercer a administração e (iii) o
capital social deve estar totalmente integralizado. Ou seja, deve estar totalmente pago.

Art. 974, §3° do CC/02: O Registro Público de Empresas Mercantis a cargo


das Juntas Comerciais deverá registrar contratos ou alterações contratuais
de sociedade que envolva sócio incapaz, desde que atendidos, de forma
conjunta, os seguintes pressupostos: (Incluído pela Lei nº 12.399, de 2011)

I – o sócio incapaz não pode exercer a administração da sociedade;


(Incluído pela Lei nº 12.399, de 2011)

II – o capital social deve ser totalmente integralizado; (Incluído pela Lei nº


12.399, de 2011)

III – o sócio relativamente incapaz deve ser assistido e o absolutamente


incapaz deve ser representado por seus representantes legais. (Incluído
pela Lei nº 12.399, de 2011)

• É possível sociedade entre cônjuges?

Nos termos do Art. 977 do CC, a sociedade entre os cônjuges é possível, desde que não tenham
casado no regime da comunhão universal ou no da separação obrigatória. Em se tratando do regime
da comunhão universal, objetivo da regra é evitar a chamada confusão patrimonial. Por outro lado,
a razão da regra no regime da separação total é evitar fraude ao regime de bens, realizada por meio
da integralização dos bens incomunicáveis.

Art. 977. Faculta-se aos cônjuges contratar sociedade, entre si ou com


terceiros, desde que não tenham casado no regime da comunhão
universal de bens, ou no da separação obrigatória.

C) Formas de integralização das cotas sociais

- As quotas podem ser pagas em dinheiro, bens ou prestação de serviços. Todavia, neste último
caso, o sócio deve prestar seu serviço exclusivamente a sociedade, não tendo atividade estranha ou
sendo sócio de outra sociedade. Isso é o que dispõe o Art. 1006 do CC, que se constitui em regra de

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proteção da sociedade. Se a regra do Art. 1006 do CC não for observada o sócio pode vir a não ter
direito a lucro ou até mesmo ser excluído.

- A regra do Art. 1006, contudo, tem natureza dispositiva, admitindo convenção em contrário.

Art. 1.006. O sócio, cuja contribuição consista em serviços, não pode, salvo
convenção em contrário, empregar-se em atividade estranha à sociedade,
sob pena de ser privado de seus lucros e dela excluído.

D) Sócio remisso

- É o sócio que não integralizou, total ou parcialmente, as suas quotas sociais. O sócio remisso está
sujeito a três tipos de providência:

(a) Indenização: cobra-se o sócio por meio de uma ação de execução, já que o contrato social
é título executivo extrajudicial.
(b) Exclusão do sócio remisso
(c) Redução de quotas sociais

Art. 1.004 do CC/02 - Os sócios são obrigados, na forma e prazo previstos,


às contribuições estabelecidas no contrato social, e aquele que deixar de
fazê-lo, nos trinta dias seguintes ao da notificação pela sociedade,
responderá perante esta pelo dano emergente da mora.

Parágrafo único. Verificada a mora, poderá a maioria dos demais sócios


preferir, à indenização, a exclusão do sócio remisso, ou reduzir-lhe a quota
ao montante já realizado, aplicando-se, em ambos os casos, o disposto no
§ 1o do art. 1.031.

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14.4. Cessão de quotas sociais

• Para que a cessão seja possível é necessário:

(i) Consentimento dos sócios


(ii) Modificação do contrato social

ATENÇÃO: a responsabilidade do cedente com as obrigações da sociedade persiste durante os dois


anos que se seguirem a averbação da modificação do contrato social em regime solidário.

Art. 1.003 do CC/02: A cessão total ou parcial de quota, sem a


correspondente modificação do contrato social com o consentimento dos
demais sócios, não terá eficácia quanto a estes e à sociedade.

Parágrafo único. Até dois anos depois de averbada a modificação do


contrato, responde o cedente solidariamente com o cessionário, perante
a sociedade e terceiros, pelas obrigações que tinha como sócio.

Art. 1.025. O sócio, admitido em sociedade já constituída, não se exime


das dívidas sociais anteriores à admissão.

13.5 - É possível penhora de quotas sociais ?

STJ: Sim. Uma vez que as quotas sociais são classificadas como bens móveis, elas integram o
patrimônio do sócio-devedor, sendo passíveis de penhora. As quotas sociais são, inclusive, citadas
no Art. 835, IX do CPC que trata da ordem de preferência da penhora.

- O problema da penhora de quotas é que muitas vezes a sua alienação judicial é difícil. Por isso, é
melhor pedir a penhora dos lucros decorrentes da quota.

Art. 789. O devedor responde com todos os seus bens presentes e futuros
para o cumprimento de suas obrigações, salvo as restrições estabelecidas
em lei.

Art. 833. São impenhoráveis:

Art. 835. A penhora observará, preferencialmente, a seguinte ordem:

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I - dinheiro, em espécie ou em depósito ou aplicação em instituição
financeira;

II - títulos da dívida pública da União, dos Estados e do Distrito Federal com


cotação em mercado;

III - títulos e valores mobiliários com cotação em mercado;

IV - veículos de via terrestre;

V - bens imóveis;

VI - bens móveis em geral;

VII - semoventes;

VIII - navios e aeronaves;

IX - ações e quotas de sociedades simples e empresárias;

Art. 861. Penhoradas as quotas ou as ações de sócio em sociedade simples


ou empresária, o juiz assinará prazo razoável, não superior a 3 (três)
meses, para que a sociedade:

I - apresente balanço especial, na forma da lei;

II - ofereça as quotas ou as ações aos demais sócios, observado o direito


de preferência legal ou contratual;

III - não havendo interesse dos sócios na aquisição das ações, proceda à
liquidação das quotas ou das ações, depositando em juízo o valor apurado,
em dinheiro.

§ 1o Para evitar a liquidação das quotas ou das ações, a sociedade poderá


adquiri-las sem redução do capital social e com utilização de reservas, para
manutenção em tesouraria.

§ 5o Caso não haja interesse dos demais sócios no exercício de direito de


preferência, não ocorra a aquisição das quotas ou das ações pela
sociedade e a liquidação do inciso III do caput seja excessivamente
onerosa para a sociedade, o juiz poderá determinar o leilão judicial das
quotas ou das ações.

Art. 1.026. O credor particular de sócio pode, na insuficiência de outros


bens do devedor, fazer recair a execução sobre o que a este couber nos
lucros da sociedade, ou na parte que lhe tocar em liquidação.

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Parágrafo único. Se a sociedade não estiver dissolvida, pode o credor
requerer a liquidação da quota do devedor, cujo valor, apurado na forma
do art. 1.031, será depositado em dinheiro, no juízo da execução, até
noventa dias após aquela liquidação.

13.6. Responsabilidade do Sócio

Art. 997 do CC/02: A sociedade constitui-se mediante contrato escrito,


particular ou público, que, além de cláusulas estipuladas pelas partes,
mencionará:

VIII - se os sócios respondem, ou não, subsidiariamente, pelas obrigações


sociais.

a) Limitada: o sócio não responde com seus bens particulares por dívidas da sociedade.

b) Ilimitada: o sócio responde com seus bens particulares por dívidas da sociedade. Muitas vezes, o
seguimento profissional exige a responsabilidade ilimitada, como acontece com os advogados em
relação as causas que eles assumem.

• Subsidiária:

• Solidária

• E na omissão do contrato?

O sócio responde pelo saldo, isto é a diferença. Logo, trata de responsabilidade subsidiária e
ilimitada.

Art. 1.023 do CC/02 - Se os bens da sociedade não lhe cobrirem as dívidas,


respondem (ilimitada) os sócios pelo saldo (subsidiária), na proporção em
que participem das perdas sociais, salvo cláusula de responsabilidade
solidária.

Art. 1.023 do CC/02 - Se os bens da sociedade não lhe cobrirem as dívidas,


respondem (ilimitada) os sócios pelo saldo (subsidiária), na proporção em
que participem das perdas sociais, salvo cláusula de responsabilidade
solidária.

Art. 1.024. Os bens particulares dos sócios não podem ser executados por

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dívidas da sociedade, senão depois de executados os bens sociais
(BENEFÍCIO DE ORDEM).

ENUNCIADO 479 da 5ª Jornada de Direito Civil: Art. 997, VII. Na sociedade simples pura (art. 983,
parte final, do CC/2002), a responsabilidade dos sócios depende de previsão contratual. Em caso de
omissão, será ilimitada e subsidiária, conforme o disposto nos arts. 1.023 e 1.024 do CC/2002.

13.7. Direitos Dos Sócios

a) Direito de participação nos lucros sociais

- O sócio que contribuiu com a sociedade tem o direito de participar dos lucros, sendo nula a cláusula
que pretenda ceifar do sócio tal direito.

LUCRO x PRÓ-LABORE: o lucro é a remuneração decorrente do investimento que o sócio fez na


sociedade. Por outro lado, pró-labore é a remuneração decorrente do trabalho (administração,
gestão e trabalho do sócio para a sociedade).

Art. 1.008. É nula a estipulação contratual que exclua qualquer sócio de


participar dos lucros e das perdas.

- Nos termos do Art. 1007 do CC, é possível a distribuição desproporcional de lucros.

Art. 1.007 do CC/02 - Salvo estipulação em contrário, o sócio participa dos


lucros e das perdas, na proporção das respectivas quotas, mas aquele, cuja
contribuição consiste em serviços, somente participa dos lucros na
proporção da média do valor das quotas.

b) Direito de retirada (recesso)

- A retirada é a possibilidade que o sócio tem de retirar-se da sociedade. O direito de retirada só é


exercido quando um sócio quer sair e os demais não querem que isso aconteça. Neste caso, deve-
se analisar qual é o prazo da sociedade; se determinado ou indeterminado. Sendo de prazo
determinado, o sócio só poderá sair mediante a comprovação de justa causa em juízo. Em
contrapartida, sendo de prazo indeterminado, não é lícito exigir que o sócio permaneça sócio
indefinidamente. Neste último caso, o único requisito para a retirada é a realização de notificação
aos demais sócios com antecedência de 60 dias.

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Art. 1.029 do CC/02 - Além dos casos previstos na lei ou no contrato,
qualquer sócio pode retirar-se da sociedade; se de prazo indeterminado,
mediante notificação aos demais sócios, com antecedência mínima de
sessenta dias; se de prazo determinado, provando judicialmente justa
causa.

c) Direito de exclusão de sócio

I - Sócio Remisso

- O sócio remisso é aquele que está inadimplente no tocante a integralização do capital social

Art. 1.004 do CC/02 - Os sócios são obrigados, na forma e prazo previstos,


às contribuições estabelecidas no contrato social, e aquele que deixar de
fazê-lo, nos trinta dias seguintes ao da notificação pela sociedade,
responderá perante esta pelo dano emergente da mora.

Parágrafo único. Verificada a mora, poderá a maioria dos demais sócios


preferir, à indenização, a exclusão do sócio remisso, ou reduzir-lhe a quota
ao montante já realizado, aplicando-se, em ambos os casos, o disposto no
§ 1o do art. 1.031.

II - Art. 1.030 do CC/02

Art. 1.030 do CC/02 - Ressalvado o disposto no art. 1.004 e seu parágrafo


único, pode o sócio ser excluído judicialmente, mediante iniciativa da
maioria dos demais sócios, por falta grave no cumprimento de suas
obrigações, ou, ainda, por incapacidade superveniente.

Parágrafo único. Será de pleno direito excluído da sociedade o sócio


declarado falido, ou aquele cuja quota tenha sido liquidada nos termos do
parágrafo único do art. 1.026.

Exemplo (falta grave): sócio que desvia dinheiro; sócio que sai da sociedade e monta outra
sociedade com objeto semelhante e desvia a clientela da sociedade, etc...

d) Direito de participar das deliberações sociais

- As deliberações que a lei ou o contrato coloca como atribuição dos sócios serão tomadas pela
maioria do capital social.

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• E se houver empate?

1º CRITÉRIO DE DESEMPATE: número de sócios. Prevalece o voto da maioria dos sócios.

2º CRITÉRIO DE DESEMPATE: decisão judicial.

Art. 1.010 do CC/02 - Quando, por lei ou pelo contrato social, competir aos
sócios decidir sobre os negócios da sociedade, as deliberações serão
tomadas por maioria de votos, contados segundo o valor das quotas de
cada um.

§ 1° Para formação da maioria absoluta são necessários votos


correspondentes a mais de metade do capital.

§ 2° Prevalece a decisão sufragada por maior número de sócios no caso de


empate, e, se este persistir, decidirá o juiz.

§ 3° Responde por perdas e danos o sócio que, tendo em alguma operação


interesse contrário ao da sociedade, participar da deliberação que a
aprove graças a seu voto.

• Exceções

a) Modificação do contrato social (art. 999 CC/02 por unanimidade): o contrato social só pode ser
modificado por unanimidade (ex.: alteração de sede, alteração de objeto, etc...)

b) Art. 1.015 “caput”, por maioria de sócios, venda de bens imóveis.

13.8. Administrador

a) Nomeação: o administrador pode ser nomeado (i) no contrato social ou em (ii) ato separado (ex.:
ata de assembleia).

b) Sócio / não sócio: o administrador pode ser sócio ou não sócio.

c) Pode ser pessoa jurídica?

- A Pessoa Jurídica não pode ser administradora, pois se assim quisesse o legislador ele a teria
inserido no inciso VI tal como acontece no inciso I quando a lei trata da qualificação dos sócios.

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Art. 997 do CC/02 - A sociedade constitui-se mediante contrato escrito,
particular ou público, que, além de cláusulas estipuladas pelas partes,
mencionará:

I - nome, nacionalidade, estado civil, profissão e residência dos sócios, se


pessoas naturais, e a firma ou a denominação, nacionalidade e sede dos
sócios, se jurídicas;

VI - as pessoas naturais incumbidas da administração da sociedade, e seus


poderes e atribuições;

d) Na omissão do contrato quem é o administrador?

- Na omissão, TODOS os sócios irão administrar a sociedade e não apenas o sócio majoritário.

Art. 1.013 do CC - A administração da sociedade, nada dispondo o contrato


social, compete separadamente a cada um dos sócios. (todos eles (sócios)
irão administrar a sociedade)

§ 1° Se a administração competir separadamente a vários administradores,


cada um pode impugnar operação pretendida por outro, cabendo a decisão
aos sócios, por maioria de votos.

§ 2° Responde por perdas e danos perante a sociedade o administrador que


realizar operações, sabendo ou devendo saber que estava agindo em
desacordo com a maioria.

13.9. Poderes do Administrador

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Contrato social Ato em separado
Art. 1.018 e
1019 do
Sócio Irrevogáveis (é Revogáveis (não é CC/02.
necessário decisão necessário decisão
judicial!) judicial!)
Art. 1.018 do
Não-Sócio Revogáveis Revogáveis CC/02 - Ao

administrador é vedado fazer-se substituir no exercício de suas funções,


sendo-lhe facultado, nos limites de seus poderes, constituir mandatários
da sociedade, especificados no instrumento os atos e operações que
poderão praticar.

Art. 1.019 do CC/02 - São irrevogáveis os poderes do sócio investido na


administração por cláusula expressa do contrato social, salvo justa causa,
reconhecida judicialmente, a pedido de qualquer dos sócios.

Parágrafo único. São revogáveis, a qualquer tempo, os poderes conferidos


a sócio por ato separado, ou a quem não seja sócio.

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13.10. Responsabilidade do administrador

Regra geral: é de responsabilidade da sociedade (o administrador não responde)

Exceções?

a) (art. 1.016 CC/02) – quando o administrador agir com culpa no desempenho de suas funções ele
responderá solidariamente perante a sociedade e terceiros.

b) (art. 1.015 CC/02, parágrafo único) – somente o administrador responderá. Isso só ocorrerá
quando esse administrador agir com excesso:

I – Se a limitação de poderes estiver inscrita ou averbada no contrato social;

Exemplo: é muito comum ter-se um contrato social com uma cláusula dizendo que o administrador
está proibido de prestar fiança ou aval em nome da sociedade. Assim, se o administrador resolve
alugar um imóvel, coloca a sociedade como fiadora do seu imóvel e deixa de pagar os aluguéis,
eventual ação de cobrança ajuizada em face da sociedade não poderá obrigar a Pessoa Jurídica,
visto que o administrador agiu com excesso. Era obrigação da imobiliária verificar se não havia
limitação no contrato social.

II – Provando-se que a limitação era conhecida de terceiro quando esta não tiver expressa no
contrato social;

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Exemplo: imagine que o administrador de uma sociedade precise vender o produto em grande
quantidade com o objetivo de bater a meta do mês. Diante disso, o administrador da empresa de
espuma envia vários e-mails para o seu cunhado, administrador de outra sociedade que comprava
esse tipo de matéria prima, pedindo que ele efetuasse a compra. O cunhado, porém, afirma não
poder comprar já que sua empresa permite que ele compre apenas das empresas que já constam
do cadastro, além de não poder efetuar pedidos acima do patamar mínimo de R$ 225.000,00 sem
a autorização da diretoria. Depois de muito insistir, o cunhado administrador da empresa
compradora de espuma realizou um pedido no valor de R$ 200.000,00 sem a autorização da
diretoria. Chegando no departamento financeiro, determinou-se que a mercadoria deveria ser
devolvida. Embora a fornecedora tenha se mostrado insatisfeita, a empresa que tinha adquirido o
material demonstrou que, durante a troca de e-mails, o seu administrador fez questão de ressaltar
que ele não tinha poderes para realizar aquela compra; logo a limitação era conhecida pelo
administrador da vendedora.

III – Tratando-se de operação evidentemente estranha aos negócios da sociedade.

- É necessário examinar a compatibilidade da atividade com o objeto social da sociedade. Aqui situa-
se a aplicação da Teoria Ultra Vires.

• Teoria Ultra Vires (Inglaterra): por esta teoria, a pessoa jurídica só responde pelos atos
praticados em seu nome quando compatíveis com seu objeto. Se estranho as finalidades da pessoa
jurídica o ato deve ser imputado à pessoa física que agiu em nome da sociedade.

- A Teoria Ultra Vires foi adotada apenas com o Código Civil de 2002. Durante a vigência do Código
Civil de 1916, o Direito Brasileiro adotava a Teoria da Aparência.

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• Teoria da aparência: essa teoria afirma a validade dos atos praticados em nome da sociedade,
ainda que a possibilidade da prática desses atos não esteja prevista em contrato ou seja estranha
aos negócios da sociedade, desde que, perante terceiros que contratem com a sociedade, exista
uma aparência de que as pessoas que praticaram o ato em nome da sociedade detinham poderes
para tanto.

- Pela Teoria da Aparência, a sociedade era responsabilizada, tendo direito de regresso contra o
administrador.

- A regra do inciso III deve ser interpretada sob a ótica da boa-fé. Assim, se um restaurante deseja
comprar tintas para pintar o local após a reforma, a empresa de tintas não deve negar a venda por
achar que as tintas não tem relação com o objeto social do restaurante previsto no
contrato/estatuto.

- Ainda que se adote a Teoria Ultra Vires, o Art. 1015 do CC deve ser interpretado a luz da Teoria da
Aparência.

Enunciado 11 da 1 Jornada de Direito Comercial: “A regra do art. 1.015, parágrafo único, do Código
Civil deve ser aplicada à luz da teoria da aparência e do primado da boa-fé objetiva, de modo a
prestigiar a segurança do tráfego negocial. As sociedades se obrigam perante terceiros de boa-fé.”

(CESPE - 2012 - TJ-BA) - Acerca da sociedade limitada, assinale a opção correta:

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E) Segundo a teoria ultra vires, vigente no ordenamento jurídico brasileiro mesmo antes do advento
do atual Código Civil, a sociedade somente se vincula aos atos praticados por seus administradores
caso tenham pertinência com o seu objeto social, ou seja, se o ato praticado extrapolar os limites
contratuais, a sociedade não será obrigada a observá-lo

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