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Universidade Federal de Alagoas – UFAL

Faculdade de Direito de Alagoas – FDA


Curso de Graduação em Direito

PLANO DE AULA
Prof: Fernando Falcão

Direito Empresarial 2
Nota Explicativa: Esse material de estudo foi elaborado com a finalidade de auxiliar o aluno no acompanhamento das
aulas, não servindo, portanto, como substitutivo para a doutrina empresarial. Várias paráfrases utilizadas no desenvolvi-
mento do presente material têm como base as obras de GLADSTON MAMEDE, RUBENS REQUIÃO, RICARDO NEGRÃO,
FÁBIO ULHOA COELHO e AMADOR PAES DE ALMEIDA.

 SOCIEDADES CONTRATUAIS

Para facilitar o estudo dos tipos societários, a doutrina brasileira divide as sociedades em
contratuais e institucionais – dependendo da forma de seu ato constitutivo – e em menores e
maiores – dependendo da sua presença na economia brasileira.

São sociedades contratuais menores: a) Sociedade em nome coletivo; b) Sociedade em co-


mandita simples; e c) Sociedade em conta de participação.

1) AS SOCIEDADES DESPERSONIFICADAS:

a) Sociedade em Comum

Art. 986. Enquanto não inscritos os atos constitutivos, reger-se-á a sociedade, exce-
to por ações em organização, pelo disposto neste Capítulo, observadas, subsidiari-
amente e no que com ele forem compatíveis, as normas da sociedade simples.

Art. 987. Os sócios, nas relações entre si ou com terceiros, somente por escrito po-
dem provar a existência da sociedade, mas os terceiros podem prová-la de qual-
quer modo.

Art. 988. Os bens e dívidas sociais constituem patrimônio especial, do qual os só-
cios são titulares em comum.

Art. 989. Os bens sociais respondem pelos atos de gestão praticados por qualquer
dos sócios, salvo pacto expresso limitativo de poderes, que somente terá eficácia
contra o terceiro que o conheça ou deva conhecer.

Art. 990. Todos os sócios respondem solidária e ilimitadamente pelas obrigações


sociais, excluído do benefício de ordem, previsto no art. 1.024, aquele que contra-
tou pela sociedade.

b) Sociedade em Conta de Participação

Constituída por duas categorias de sócios – ocultos e ostensivos – girando os negócios sob a
firma individual destes últimos, únicos responsáveis perante terceiros. É espécie de socie-
dade oculta perante terceiros, pois conhecida somente entre os sócios.

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Sua origem remonta à Itália medieval, onde era comum a nobreza buscar o anonimato nas
relações comerciais, haja vista que o cidadão romano considerava indigno de seu povo o
exercício de comércio.

Características que a diferenciam das demais sociedades:

I – Não é pessoa jurídica, haja vista que os negócios sociais são feitos em nome dos sócios
ostensivos;

II – Seu contrato social (se existente) não se sujeita às formalidades legais, inclusive não
sendo levado a registro na Junta Comercial;

III – Não existe autonomia patrimonial, vez que os sócios ostensivos responsabilizam-se
perante terceiros de forma ilimitada;

IV – Não tem patrimônio próprio, sede, nem capital social;

V – Não tem firma ou razão social que induza à existência de sociedade, devendo ser utili-
zada, necessariamente, a firma dos sócios-gerentes (ostensivos).

VI – A gerência somente pode ser exercida pelo sócio ostensivo, vez que trata com terceiros
em seu próprio nome.

Art. 991. Na sociedade em conta de participação, a atividade constitutiva do objeto


social é exercida unicamente pelo sócio ostensivo, em seu nome individual e sob
sua própria e exclusiva responsabilidade, participando os demais dos resultados
correspondentes.
Parágrafo único. Obriga-se perante terceiro tão-somente o sócio ostensivo; e, ex-
clusivamente perante este, o sócio participante, nos termos do contrato social.

Art. 992. A constituição da sociedade em conta de participação independe de qual-


quer formalidade e pode provar-se por todos os meios de direito.

Art. 993. O contrato social produz efeito somente entre os sócios, e a eventual ins-
crição de seu instrumento em qualquer registro não confere personalidade jurídica à
sociedade.
Parágrafo único. Sem prejuízo do direito de fiscalizar a gestão dos negócios sociais,
o sócio participante não pode tomar parte nas relações do sócio ostensivo com ter-
ceiros, sob pena de responder solidariamente com este pelas obrigações em que
intervier.

Art. 994. A contribuição do sócio participante constitui, com a do sócio ostensivo,


patrimônio especial, objeto da conta de participação relativa aos negócios sociais.
§ 1º. A especialização patrimonial somente produz efeitos em relação aos sócios.
§ 2º. A falência do sócio ostensivo acarreta a dissolução da sociedade e a liquida-
ção da respectiva conta, cujo saldo constituirá crédito quirografário.
§ 3º. Falindo o sócio participante, o contrato social fica sujeito às normas que regu-
lam os efeitos da falência nos contratos bilaterais do falido.

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Art. 995. Salvo estipulação em contrário, o sócio ostensivo não pode admitir novo
sócio sem o consentimento expresso dos demais.

Art. 996. Aplica-se à sociedade em conta de participação, subsidiariamente e no


que com ela for compatível, o disposto para a sociedade simples, e a sua liquidação
rege-se pelas normas relativas à prestação de contas, na forma da lei processual.
Parágrafo único. Havendo mais de um sócio ostensivo, as respectivas contas serão
prestadas e julgadas no mesmo processo.

Sociedade em Conta de Participação

Possui duas categorias


Os negócios sociais são A sociedade só existe perante
Não é pessoa jurídica de sócios:
a) ocultos; e exercidos em nome do os sócios, não existindo como
b) ostensivos sócio ostensivo tal para os terceiros

2) AS SOCIEDADES PERSONIFICADAS

Uma vez que as sociedades despersonificadas já foram objeto de análise em tópico distinto,
haja vista as suas peculiaridades, tem-se que o presente estudo cuidará, daqui por diante,
da sociedade em nome coletivo e da sociedade em comandita simples. Assim, é possível
identificar pontos comuns entre estes dois tipos societários:

I – São sociedades de pessoas, o que implica dizer que a alienação das quotas societárias
está condicionada à concordância dos demais sócios; as quotas sociais são impenhoráveis
em caso de obrigação individual de sócio;

II – Seu nome empresarial será da espécie firma, servindo, também, como assinatura da
pessoa jurídica;

III – Somente o sócio de responsabilidade ilimitada poderá administrar a sociedade; caso


contrário, o sócio de responsabilidade limitada que gerir a sociedade responderá ilimita-
damente pelas obrigações sociais;

IV – Somente a pessoa física pode ser sócia com responsabilidade ilimitada.

a) Sociedade em Nome Coletivo:

Tipo societário em que todos os sócios – que devem necessariamente ser pessoas naturais –
respondem solidária e ilimitadamente pelas obrigações sociais.

Teve sua origem na Itália medieval com o nome de sociedade geral.

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Sociedade intuitu personae, haja vista que pessoas jurídicas e outras sociedades não podem
participar de sua formação, o que acaba por restringir-lhe a atividade a negócios familiares
e de pequeno porte.

Art. 1.039. Somente pessoas físicas podem tomar parte na sociedade em nome co-
letivo, respondendo todos os sócios, solidária e ilimitadamente, pelas obrigações
sociais.
Parágrafo único. Sem prejuízo da responsabilidade perante terceiros, podem os só-
cios, no ato constitutivo, ou por unânime convenção posterior, limitar entre si a res-
ponsabilidade de cada um.

Art. 1.040. A sociedade em nome coletivo se rege pelas normas deste Capítulo e,
no que seja omisso, pelas do Capítulo antecedente.

Art. 1.041. O contrato deve mencionar, além das indicações referidas no art. 997, a
firma social.

Art. 1.042. A administração da sociedade compete exclusivamente a sócios, sendo


o uso da firma, nos limites do contrato, privativo dos que tenham os necessários
poderes.

Art. 1.043. O credor particular de sócio não pode, antes de dissolver-se a socieda-
de, pretender a liquidação da quota do devedor.
Parágrafo único. Poderá fazê-lo quando:
I - a sociedade houver sido prorrogada tacitamente;
II - tendo ocorrido prorrogação contratual, for acolhida judicialmente oposição do
credor, levantada no prazo de noventa dias, contado da publicação do ato dilatório.

Art. 1.044. A sociedade se dissolve de pleno direito por qualquer das causas enu-
meradas no art. 1.033 e, se empresária, também pela declaração da falência.

Sociedade em Nome Coletivo

Firma composta dos no-


Sócios solidários e Na ausência de espe- mes, por extenso ou abre-
ilimitadamente cificação, todos podem viados, dos sócios, ou ape-
responsáveis gerenciar nas de um, acrescida do
aditivo "Cia.".

b) Sociedade em Comandita Simples:

Tipo societário em que um ou alguns sócios, denominados “comanditados”, têm responsa-


bilidade ilimitada pelas obrigações sociais, enquanto outros, denominados “comanditários”
respondem limitadamente por estas obrigações.

Teve sua origem histórica também na Itália medieval; originou-se do contrato de commen-
da; foi largamente utilizada na época das grandes navegações.

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Art. 1.045. Na sociedade em comandita simples tomam parte sócios de duas cate-
gorias: os comanditados, pessoas físicas, responsáveis solidária e ilimitadamente
pelas obrigações sociais; e os comanditários, obrigados somente pelo valor de sua
quota.
Parágrafo único. O contrato deve discriminar os comanditados e os comanditários.

Art. 1.046. Aplicam-se à sociedade em comandita simples as normas da sociedade


em nome coletivo, no que forem compatíveis com as deste Capítulo.
Parágrafo único. Aos comanditados cabem os mesmos direitos e obrigações dos
sócios da sociedade em nome coletivo.

Art. 1.047. Sem prejuízo da faculdade de participar das deliberações da sociedade


e de lhe fiscalizar as operações, não pode o comanditário praticar qualquer ato de
gestão, nem ter o nome na firma social, sob pena de ficar sujeito às responsabilida-
des de sócio comanditado.
Parágrafo único. Pode o comanditário ser constituído procurador da sociedade, pa-
ra negócio determinado e com poderes especiais.

Art. 1.048. Somente após averbada a modificação do contrato, produz efeito, quan-
to a terceiros, a diminuição da quota do comanditário, em conseqüência de ter sido
reduzido o capital social, sempre sem prejuízo dos credores preexistentes.

Art. 1.049. O sócio comanditário não é obrigado à reposição de lucros recebidos de


boa-fé e de acordo com o balanço.
Parágrafo único. Diminuído o capital social por perdas supervenientes, não pode o
comanditário receber quaisquer lucros, antes de reintegrado aquele.

Art. 1.050. No caso de morte de sócio comanditário, a sociedade, salvo disposição


do contrato, continuará com os seus sucessores, que designarão quem os repre-
sente.

Art. 1.051. Dissolve-se de pleno direito a sociedade:


I - por qualquer das causas previstas no art. 1.044;
II - quando por mais de cento e oitenta dias perdurar a falta de uma das categorias
de sócio.
Parágrafo único. Na falta de sócio comanditado, os comanditários nomearão admi-
nistrador provisório para praticar, durante o período referido no inciso II e sem as-
sumir a condição de sócio, os atos de administração.

Sociedade em Comandita Simples

Categorias de Sócios: Responsabilidade dos sócios: Firma: nome do sócio coman-


Gerência da sociedade:
a) comanditados; - comanditado = solidária ditado, abreviado ou por ex-
- comanditário = limitada sócio comanditado
b) comanditários. tenso, com o aditivo "& Cia.".

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 DA SOCIEDADE LIMITADA

Após o estudo das sociedades menores previstas no Código Civil brasileiro, imprescindível
se faz a análise percuciente do tipo societário mais frequente na economia brasileira: a so-
ciedade limitada.

Escorço Histórico:

Há muito, os países desenvolvidos discutiam a criação de um tipo societário destinado às


empresas de pequeno e médio porte. As sociedades em nome coletivo não traziam garanti-
as e proteção aos seus sócios, haja vista a solidariedade da responsabilidade destes quanto
às obrigações assumidas pela sociedade. Já as sociedades anônimas – que desde a sua cria-
ção sempre se destinaram às grandes corporações – tinham sua constituição demorada e
trabalhosa.

Já no início da Segunda metade do século XIX, França e Inglaterra criaram modelos que en-
saiavam a limitação da responsabilidade dos sócios. No entanto, foi a Alemanha, em 1892,
que criou a sociedade de responsabilidade limitada que logo se difundiu pelo mundo, tor-
nando-se, de longe, a forma societária mais usada em todos os países, haja vista ser o mode-
lo protetivo do patrimônio do sócio em relação às dívidas sociais. Portugal seguiu o exem-
plo alemão já em 1901, enquanto no Brasil o surgimento desse modelo societário se deu em
1919, por meio do projeto de autoria do comercialista INGLEZ DE SOUZA, posteriormente
transformado no Decreto 3.708/19.

Alemanha e França recentemente avançaram ainda mais no estudo dessas sociedades,


permitindo, a primeira no ano de 1980 e a segunda em 1985, a instituição de sociedade li-
mitada composta de uma única pessoa – tendência moderna a ser seguida por outros paí-
ses.

Principais Características:

Algumas características peculiares desse tipo societário o diferenciam dos demais, desta-
cando-se as seguintes:

I - Desburocratização em sua gestão, vez que são dispensadas praticamente todas as forma-
lidades exigidas pelas sociedades por ações, a exemplo de publicação de balanços, existên-
cia de conselho de administração, gastos com publicação de editais etc;

II - Seu capital social é dividido em quotas que, por serem abstratas e não reais como as
ações, não são negociáveis em mercado de valores mobiliários;

III - Seu nome empresarial pode ser da espécie firma social ou denominação social, sempre
se fazendo acompanhar, ao final, da expressão “limitada”, sob pena de, não o fazendo, res-
ponderem os sócios ilimitadamente pelas obrigações sociais;

IV - Sem dúvida alguma, a principal característica deste modelo societário é a proteção pa-
trimonial conferida aos sócios quanto às dívidas sociais, o que fez as sociedades limitadas
passarem a representar o maior número de empresas de pequeno e médio porte do País;

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V - No tocante à responsabilidade dos sócios perante terceiros, esta não é subsidiária, ao
contrário do que muitos pensam, e sim solidária, na hipótese da falta de integralização do
capital social subscrito, podendo ser qualquer deles compelido a completar o que falta para
realizá-lo. Porém, interna corporis, a responsabilidade dos sócios, uns com os outros, se dá
na proporção de suas participações no capital social;

VI - Seu ato constitutivo será, sempre, da espécie contrato social;

VII - Possibilidade do menor como sócio de uma limitada, desde que (1) esteja devidamente
representado ou assistido, (2) não exerça a função de administrador e que (3) esteja o capi-
tal social integralizado, desde a constituição da sociedade e enquanto durar sua atividade.

Alterações Implementadas pelo Código Civil:

Profunda mudança se operou neste modelo societário com a disposição inserta no Código
Civil quanto à regência legal supletiva da matéria na hipótese de omissão. Antes da mudan-
ça, silente o Decreto n.º 3.708/19, aplicava-se a Lei das Sociedades Anônimas. Com o adven-
to do novo código, a regência supletiva, no silêncio do contrato social, dar-se-á pelas dispo-
sições atinentes às sociedades simples, também disciplinadas no Código.

Ao revés do que acontece com as Sociedades Anônimas, onde a lei geral (Código Civil) dei-
xou para a lei especial a regulamentação de sua atividade, nas sociedades limitadas parece
que o caminho se deu na forma inversa. Criada por força do Decreto n.° 3.708/19, onde em
sucintos 19 artigos o legislador praticamente deixou os sócios livres para pactuar suas
avenças, este tipo societário sofreu forte modificação com o advento do novo Código Civil,
pois, conforme se percebe, em extensa regulamentação de suas atividades, este muda com-
plemente o enfoque da matéria, inclusive dando-lhe denominação diversa da já existente,
criando permissivos legais que há muito se reclamavam no meio empresarial, a exemplo da
possibilidade de se contratar administrador estranho ao quadro societário.

Podem os sócios, no contrato social devidamente registrado no Registro de Empresas Mer-


cantis, acordar a regência supletiva da Lei das Sociedades Anônimas, como forma de dirimir
eventuais dúvidas não resolvidas pelas disposições atinentes a este modelo societário.

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