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FACULDADE DE DIREITO DE IPATINGA – CURSO DE DIREITO NOTURNO

ROTEIRO DO CURSO DE DIREITO EMPRESARIAL I – 2023/1


PROFESSORA: DANIELLE MOREIRA MEHLINGER

I - TEORIA GERAL DO DIREITO SOCIETÁRIO

1. CONCEITO E QUADRO GERAL DAS SOCIEDADES


SOCIEDADES são pessoas jurídicas de direito privado, decorrentes da união de pessoas,
que possuem fins econômicos, ou seja, são constituídas com a finalidade de exploração de uma
atividade econômica e repartição dos lucros entre seus membros.
Uma sociedade pode ser:
 não personificada – aquela que não possui personalidade jurídica.
 personificada – É aquela que possui personalidade jurídica.

1.1 SOCIEDADES NÃO PERSONIFICADAS


As sociedades não personificadas podem ser sociedades simples ou empresárias. E
vale lembrar que a personalidade jurídica se inicia com o registro.

Lembrar!!! Para as sociedades empresárias, o registro é mera condição de regularidade. Tem


caráter declaratório e não constitutivo (como no caso de quem exerce atividade rural).

1.1.1 Sociedade em comum (ART. 986)


Quando uma sociedade NÃO TEM REGISTRO, ela se chama SOCIEDADE EM COMUM. Se
tem contrato, se não tem, não importa. Pelo fato de não ter sido levada a registro, vai ser chamada de
sociedade em comum.
Na sociedade em comum, a responsabilidade do sócio será ilimitada.

IMPORTANTE!!! Sociedade em comum e sociedade de fato são categorias distintas. Sociedade de


fato é a sociedade sem contrato escrito que já está exercendo suas atividades sem indícios de que
seus sócios irão regularizá-la. Sociedade em comum é a sociedade contratual em formação, aquela
que tem contrato escrito e que está realizando os atos preparatórios para seu registro.

 Prova da existência da SOCIEDADE EM COMUM


Atenção!!! Os terceiros, nas demandas judiciais que eventualmente necessitarem propor contra essa
sociedade, podem prová-la por qualquer meio de prova. Mas se quem precisa provar são os sócios,
só se admite a prova por escrito.

IMPORTANTE!!! Não importa o tipo societário, pode ser limitada, sociedade anônima, em nome
coletivo, em comandita simples, não importa! A responsabilidade que UM SÓCIO TEM PERANTE A
SOCIEDADE, perante a pessoa jurídica, SEMPRE será SUBSIDIÁRIA (regra geral). O sócio tem o
chamado benefício de ordem. O benefício de ordem traz uma ordem que deve ser seguida: primeiro
devem ser perseguidos os bens da sociedade e só depois os dos sócios. Então, se uma sociedade
tem uma dívida, primeiro responderá por essas dívidas, os bens sociais, os bens da sociedade. Se
esses bens não são suficientes para saldar o passivo é que, então, devem ser perseguidos os bens
dos sócios. É a regra de responsabilidade subsidiária. Isso está no art. 1.024, do Código Civil.

Na sociedade em comum, também vale essa regra de primeiro virem os bens da sociedade e
depois os bens dos sócios.

Lembrar!!! O empresário individual (que não é sociedade) responde direta e ilimitadamente perante
os credores. Empresário individual não é sociedade.
IMPORTANTE!!! Lembre-se que a regra da responsabilidade subsidiária é entre sócio e sociedade. A
responsabilidade que o sócio tem perante os demais sócios é uma responsabilidade solidária. Isso
significa que se uma pessoa jurídica (sociedade em comum) tem três sócios, se os bens da
sociedade não são suficientes para saldar a dívida, não será preciso respeitar a proporcionalidade
das cotas dos sócios (se um tem 20, outro 30 e o outro 50). Eu posso cobrar a totalidade da dívida de
apenas um deles porque, entre eles a responsabilidade vai ser solidária.
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IMPORTANTE!!! Aquele sócio que contratou pela sociedade não pode alegar benefício de ordem. Só
podem alegar benefício de ordem, os demais sócios.

Art. 990. Todos os sócios respondem SOLIDÁRIA e ILIMITADAMENTE pelas


obrigações sociais, excluído do benefício de ordem, previsto no art. 1.024,
aquele que contratou pela sociedade.

Lembrando, só não terá esse benefício, o sócio que contratou pela sociedade.
O art. 988, do Código Civil, trata do patrimônio da sociedade em comum, chamando esse
patrimônio de patrimônio especial, e diz que quem vai ser o titular desse patrimônio são os sócios
da sociedade. Portanto, os sócios serão co-titulares do patrimônio especial. De fato, pode-se dizer
que o patrimônio social da sociedade em comum é formado por todos os bens que estão
diretamente afetados ao exercício da atividade constitutiva do objeto social.

Art. 988. Os bens e dívidas sociais constituem patrimônio especial, do qual


os sócios são titulares em comum.

ENUNCIADO 210 III – Art. 988: O patrimônio especial a que se refere o art.
988 é aquele afetado ao exercício da atividade, garantidor de terceiro, e de
titularidade dos sócios em comum, em face da ausência de personalidade
jurídica.

1.1.2 Sociedade em conta de participação (IMPORTANTÍSSIMO!!!)


A sociedade em conta de participação está regrada a partir do art. 991, do Código Civil:

Art. 991. Na SOCIEDADE EM CONTA DE PARTICIPAÇÃO, a atividade


constitutiva do objeto social é exercida unicamente pelo sócio ostensivo, em
seu nome individual e sob sua própria e exclusiva responsabilidade,
participando os demais dos resultados correspondentes.
Parágrafo único. Obriga-se perante terceiro tão-somente o sócio ostensivo; e,
exclusivamente perante este, o sócio participante, nos termos do contrato
social.

 Primeira informação: É o sócio ostensivo que exerce o objeto social.


 A segunda informação diz que é o sócio ostensivo que vai agir em seu nome
individual.
 A terceira informação diz que ele, sócio ostensivo, vai agir sob sua própria e
exclusiva responsabilidade. Só o sócio ostensivo responde. O outro sócio, o
participante, não responde perante terceiros.

Obs. A sociedade em conta de participação é uma sociedade que só existe internamente, ou seja,
entre os sócios. Perante terceiros, só aparece o sócio ostensivo.
Então, na sociedade em conta de participação, há duas categorias de sócios;

I) Sócio ostensivo – Tem três características fundamentais.


 É ele quem vai exercer o objeto social – Ou seja, é ele quem explora a atividade. É ele
quem vai administrar.
 Ele terá responsabilidade exclusiva – É ele que vai responder perante terceiros. Sócio
participante não responde. Só responde o ostensivo.
 Ele vai agir em seu nome individual – Como a sociedade em conta de participação NÃO
TEM PERSONALIDADE JURÍDICA, então, NÃO TEM NOME EMPRESARIAL. Então, tudo o
que o sócio ostensivo faz, faz em favor da sociedade, mas em seu nome individual.

II) Sócio participante – Quando vai falar do sócio participante, também chamado de sócio oculto,
diz o Código Civil que ele só participa dos resultados.

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Obs. Art. 993 CC. Se os sócios participantes aparecerem perante terceiros em determinadas
negociações, ou seja, se atuarem junto com o sócio ostensivo, responderão solidariamente com o
sócio ostensivo por essa negociação.

IMPORTANTE!!! A regra do art. 985, do Código Civil: uma sociedade só vai adquirir personalidade
jurídica, se faz o registro no órgão competente.
EXCEÇÃO!!! Sociedade em conta de participação.
IMPORTANTÍSSIMO!!! Ainda que eu leve para registrar o contrato de uma sociedade em conta de
participação, ela continua sendo uma não personificada.

Dispõe o art. 995 CC que salvo estipulação em contrário, o sócio ostensivo não pode admitir
novo sócio sem o consentimento expresso dos demais.

1.2 SOCIEDADES PERSONIFICADAS

 Quanto ao OBJETO, a sociedade personificada pode ser:


 Sociedade empresária (art. 982, do Código Civil)
 Sociedade simples

O que define uma sociedade como empresária ou simples é o seu OBJETO SOCIAL: se
este for explorado com empresarialidade a sociedade será empresária; ausente a empresarialidade,
ter-se-á uma sociedade simples.
Lembrar!!! Sociedade em comum é aquela que não foi levada a registro (não personificada).
EXCEÇÃO!!! Art. 982 Parágrafo único. Independentemente de seu objeto, considera-se empresária a
sociedade por ações; e, simples, a cooperativa.

a) Sociedade Empresária (art. 982, do Código Civil)


É aquela que tem por objeto o exercício de atividade própria de empresário sujeita a registro.
Quando a sociedade (pessoa jurídica) explora, exerce uma atividade, considerada
empresarial e com organização empresarial, então, ela é uma sociedade empresária.
Sociedade empresária é aquela que tem organização empresarial e produção ou circulação
de bens ou de serviços.

b) Sociedade simples (art. 982, do Código Civil)

Art. 982. Salvo as exceções expressas, considera-se empresária a sociedade


que tem por objeto o exercício de atividade própria de empresário sujeito a
registro (art. 967); E, SIMPLES, AS DEMAIS.

O método trazido pelo legislador foi o método de exclusão. Ou a sociedade é empresária ou


ela será simples.
“Sociedade simples é a sociedade tida por não empresária.” Ex. Atividade intelectual,
literária ou artística, será uma sociedade simples.
Para ser empresária precisa de organização empresarial. Não adianta eu produzir ou
circular um bem ou serviço se não possuo organização, não posso ser empresário.

 Quanto à FORMA, a sociedade personificada pode ser:

Lembrar!!! A sociedade personificada pode ser simples ou empresária.

 Sociedade em Nome Coletivo


 Sociedade em Comandita Simples
 Sociedade em Comandita Por Ações – Só pode ser empresária
 Sociedade Anônima (S.A.) – Só pode ser empresária
 Sociedade Limitada
 Cooperativa – Só pode ser simples
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Art. 983. A SOCIEDADE EMPRESÁRIA deve constituir-se segundo um dos


tipos regulados nos arts. 1.039 a 1.092; a SOCIEDADE SIMPLES pode
constituir-se de conformidade com um desses tipos, e, não o fazendo,
subordina-se às normas que lhe são próprias.

A sociedade empresária DEVE ser constituída em um desses tipos societários (em nome
coletivo, comandita, anônima e limitada).
Já a sociedade simples, PODE constituir-se conforme um desses tipos de sociedade. Caso
contrário, obedecerá às normas que lhe são próprias.

IMPORTANTE!!! Art. 982. Parágrafo único. Independentemente de seu objeto, considera-se


empresária a sociedade por ações; e, simples, a cooperativa.

Então, as sociedades por ações serão sempre empresárias e as cooperativas, sempre


simples. Vale lembrar que, a LIMITADA pode ser tanto simples quanto empresária.
Rol das sociedades que podem ser tanto simples quanto empresárias:
 Sociedade Em Nome Coletivo
 Sociedade em Comandita Simples
 Sociedade Limitada

SOCIEDADE EMPRESÁRIA SOCIEDADE SIMPLES


Pode ter as formas: Pode ter as formas:
 Sociedade Em Nome Coletivo  Sociedade Em Nome Coletivo
 Sociedade Em Comandita Simples  Sociedade Em Comandita Simples
 Sociedade Limitada  Sociedade Limitada
 Sociedade Em Comandita Por
Ações – Só pode ser empresária
 Sociedade Anônima (S.A.) – Só
pode ser empresária
 Cooperativa – Só pode ser simples
 Sociedade Simples Simples ou
Simples Pura

1.3 O REGISTRO DA SOCIEDADE PERSONIFICADA


De acordo com o art. 985 do Código Civil, uma sociedade SÓ VAI ADQUIRIR
PERSONALIDADE JURÍDICA DEPOIS QUE FIZER O SEU REGISTRO e o registro tem que ser feito
no órgão competente. Só depois que ela faz o registro é que pode ser uma sociedade personificada
(exceção a essa regra é a SOCIEDADE EM CONTA DE PARTICIPAÇÃO, que, mesmo com o
registro, não será personificada).

Art. 1.150. O EMPRESÁRIO E A SOCIEDADE EMPRESÁRIA vinculam-se ao


Registro Público de Empresas Mercantis a cargo das Juntas Comerciais, e a
SOCIEDADE SIMPLES ao Registro Civil das Pessoas Jurídicas, o qual
deverá obedecer às normas fixadas para aquele registro, se a sociedade
simples adotar um dos tipos de sociedade empresária.

 Se for sociedade empresária – O registro tem que ser feito na Junta Comercial
 Se for sociedade simples – O registro tem que ser feito no Registro Civil de Pessoa
Jurídica, que é o famoso Cartório.

Duas EXCEÇÕES a essa regra:


1ª Exceção: Sociedade de advogados. A sociedade de advogados é SIMPLES. E o
registro não é no cartório. O registro tem que ser feito na OAB. Lá é que você faz o registro
da sociedade de advogados. Só com o registro na OAB que a sociedade de advogados
adquire personalidade jurídica.

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2ª Exceção: Cooperativa. Em que pese ser sociedade simples, tem que ser registrada na
junta comercial. A Lei 8.934/94, no seu art. 32, diz que a cooperativa tem que ter registro na
junta comercial.

2. CLASSIFICAÇÃO DAS SOCIEDADES PERSONIFICADAS EMPRESARIAIS

2.1 SOCIEDADE DE PESSOA ou SOCIEDADE DE CAPITAL


A sociedade pode ser uma sociedade de pessoa ou uma sociedade de capital.
Critério: Leva em conta o grau de dependência da sociedade em relação às qualidades
subjetivas dos sócios.
Sociedade de pessoa é aquela que os atributos, as características subjetivas dos sócios, as
suas qualificações, são indispensáveis para o desenvolvimento da sociedade. Então, uma sociedade
que tem por objeto a prestação de serviços de informática, se o sócio é um sócio que é o responsável
técnico por aquilo, o conhecimento da atividade depende do sócio, trata-se de uma sociedade de
pessoa.
Quando as características subjetivas do sócio não são relevantes para o desenvolvimento da
atividade, o que importa é o capital que o sócio está investindo na sociedade, pouco importa suas
qualificações. O mais relevante é o capital investido pelo sócio na sociedade. Nesse caso, temos uma
sociedade de capital.

2.2 SOCIEDADE CONTRATUAL ou SOCIEDADE INSTITUCIONAL


Ou a sociedade é contratual ou é institucional.
Critério: Regime de Constituição e dissolução do vínculo societário.
Quando o ato constitutivo, que vai constituir a pessoa jurídica, é o contrato social, essa
sociedade é contratual. Se o ato constitutivo for um estatuto social, então não é mais contratual. É
uma sociedade institucional.
Na sociedade contratual, que é aquela que tem contrato social, sobre esse contrato,
incidirão os princípios contratuais (porque é um contrato social). A autonomia da vontade dos
sócios para a constituição do vínculo societário é máxima, podendo eles disciplinar a suas
relações sociais como bem entenderem, desde que não desnaturem o tipo societário.
Sobre o estatuto social, como não é contrato, não incidirão princípios contratuais. O estatuto
tem que observar uma lei, que é a Lei 6.404/76, Lei de S.A. A autonomia da vontade dos sócios nas
sociedades institucionais é mínima, pois elas são reguladas por leis e não contratos.

2.3 SOCIEDADE DE RESPONSABILIDADE LIMITADA, ILIMITADA ou MISTA


A responsabilidade pode ser limitada, ilimitada ou pode ser mista.
Critério: Responsabilidade do sócio pelas obrigações sociais.
ILimitada significa que o sócio responderá com o seu patrimônio pessoal pelas dívidas da
sociedade.
Responsabilidade Limitada significa que o patrimônio pessoal do sócio não responde pelas
dívidas da sociedade.
Responsabilidade mista ocorre quando tem sócio de responsabilidade limitada e sócio com
responsabilidade ilimitada. Ex. sociedade em comandita simples.

IMPORTANTE!!! A responsabilidade dos sócios é que será limitada ou ilimitada. A responsabilidade


da sociedade por sua vez será sempre ILimitada.

2.5 SOCIEDADE ENTRE CÔNJUGES

Art. 977. Faculta-se aos cônjuges contratar sociedade, entre si ou com


terceiros, desde que NÃO TENHAM CASADO no regime da comunhão
universal de bens, ou no da separação obrigatória.

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A intenção da norma é proibir apenas a participação dos cônjuges casados sob tais
regimes numa mesma sociedade, nada impedindo, pois, que alguém casado sob o regime de
comunhão universal ou separação total obrigatória contrate, sozinho, sociedade com terceiro.
ENTÃO, o que se impede é a participação dos dois cônjuges quando casados num dos dois
regimes em questão, numa mesma sociedade.

IMPORTANTE!!! ENUNCIADO III 204 – Art. 977: A proibição de sociedade entre pessoas casadas
sob o regime da comunhão universal ou da separação obrigatória só atinge as sociedades
constituídas APÓS a vigência do Código Civil de 2002.

3. SOCIEDADE SIMPLES PURA (“SIMPLES SIMPLES”)

SOCIEDADE SIMPLES é a sociedade que tem por objeto o exercício de ATIVIDADE


ECONÔMICA NÃO EMPRESARIAL (tem que ser registrada no cartório).
IMPORTANTE!!! Desde que seus sócios optem pelo registro no cartório (e não na junta comercial), a
sociedade cujo objeto social constitui exercício de atividade econômica rural é uma sociedade
simples.
A sociedade simples tem um modelo de organização básico, mas pode também se organizar
segundo alguns tipos societários típicos da sociedade empresária.

3.1 CONTRATO SOCIAL

A sociedade simples pura é uma sociedade contratual. Ela é constituída por meio de um
contrato social e tem seu regime de dissolução previsto no CC.
Esse contrato social deve ser escrito porque os sócios deverão levá-lo a registro no órgão
competente, que, no caso da sociedade simples pura, é o cartório de registro civil das pessoas
jurídicas.
A sociedade simples pura pode ter como sócios tanto pessoas físicas quanto pessoas
jurídicas.
Obs. A sociedade simples pura pode usar denominação social ou firma social.
IMPORTANTE!!! Quanto ao objeto social, a sociedade simples pura, embora exerça atividade
econômica e possua finalidade lucrativa, NÃO poderá explorar atividade empresarial, já que nesse
caso a sociedade seria empresária, devendo registrar-se na junta comercial.
O capital social deve ser sempre expresso em moeda corrente nacional, e pode compreender
dinheiro ou bens suscetíveis de avaliação pecuniária. Capital social é o montante de contribuições
dos sócios para a sociedade, a fim de que ela possa cumprir seu objeto social.

3.1.1 Subscrição e integralização das cotas

Numa sociedade simples pura o capital é dividido em quotas, e todos os sócios tem o dever
se subscrever parcela do capital social e de integralizar essa parcela subscrita, contribuindo
efetivamente nas quotas adquiridas. Todos os sócios tem o dever de adquirir quotas da sociedade e
de pagar pelas respectivas quotas.
IMPORTANTE!!! O modo de integralizar as quotas pode ser feito de várias formas: com bens,
dinheiro e etc. ADMITE-SE ATÉ MESMO CONTRIBUIÇÃO EM SERVIÇOS.
De acordo com o art. 1.005 do CC, o sócio que, a título de quota social, transmitir domínio,
posse ou uso, responde pela evicção; e pela solvência do devedor, aquele que transferir crédito.
Atenção!!! Dispõe o art. 1.006 CC, o sócio, cuja contribuição consista em serviços, não pode, salvo
convenção em contrário, empregar-se em atividade estranha à sociedade, sob pena de ser privado
de seus lucros e dela excluído.
Prescreve o art. 1.004 CC que, os sócios são obrigados, na forma e prazo previstos, às
contribuições estabelecidas no contrato social, e aquele que deixar de fazê-lo, nos trinta dias
seguintes ao da notificação pela sociedade, responderá perante esta pelo dano emergente da mora.
Ao sócio que está em mora quanto a integralização de sua quota dá-se o nome de remisso. E
nos termos do parágrafo único do art. 1.004, “verificada a mora, poderá a maioria dos demais sócios
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preferir, à indenização, a exclusão do sócio remisso, ou reduzir-lhe a quota ao montante já realizado,


aplicando-se, em ambos os casos, o disposto no § 1o do art. 1.031.”

CC Art. 1031
§ 1o O capital social sofrerá a correspondente redução, salvo se os demais
sócios suprirem o valor da quota.

3.1.2 Administração da Sociedade

As sociedades atuam por intermédio de seus respectivos administradores, que são seus
legítimos representantes legais (teoria da representação); ou, como preferem alguns, seus
representantes legais (teoria orgânica).
Lembrar!!! SOCIEDADE SIMPLES PURA não pode ser administrada por pessoa jurídica (mas pode
ter PJ como sócia) e o capital pode ser integralizado por serviços.
A atividade do administrador é personalíssima. O máximo que se permite é a delegação de
certas atividades a mandatário.
O contrato social deve designar os administradores e estabelecer seus poderes e
atribuições. Caso o contrato social não designe expressamente seus administradores, aplica-se o art.
1013 CC.

Art. 1.013. A administração da sociedade, nada dispondo o contrato social,


compete separadamente a cada um dos sócios.

Prevê ainda o art. 1.014 CC:

Art. 1.014. Nos atos de competência conjunta de vários administradores,


torna-se necessário o concurso de todos, salvo nos casos urgentes, em que a
omissão ou retardo das providências possa ocasionar dano irreparável ou
grave.

Os sócios podem designar o administrador em ato separado, não sendo obrigatória a


designação no contrato social. Mas é imprescindível a averbação do ato no órgão de registro da
sociedade.
A diferença entre administrador nomeado no contrato social e o administrador nomeado em
ato separado está no art. 1.019 CC (revogabilidade ou não dos poderes).

Art. 1.019. São IRREVOGÁVEIS os poderes do sócio investido na


administração por cláusula expressa do contrato social, salvo justa causa,
reconhecida judicialmente, a pedido de qualquer dos sócios.
Parágrafo único. São REVOGÁVEIS, A QUALQUER TEMPO, os poderes
conferidos a sócio por ato separado, ou a quem não seja sócio.

IMPORTANTÍSSIMO!!! Em princípio a sociedade responde por todos os atos de seus


administradores. E em razão da TEORIA DA APARÊNCIA, a sociedade, em regra, responde,
inclusive, pelos atos com excesso de poderes praticados pelo administrador. Somente em situações
excepcionais o excesso do administrador afastará a responsabilidade da sociedade pelos seus atos
(art. 1.015 incisos I, II e III).
Por outro lado, prescreve o art. 1.016 CC:

Art. 1.016. Os administradores respondem solidariamente perante a


sociedade e os terceiros prejudicados, por culpa no desempenho de suas
funções.

3.1.3 Distribuição dos Resultados

Da mesma forma que os sócios devem contribuir para a formação do capital, é também
requisito especial de validade do contrato a garantia de que todos eles participem dos resultados

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sociais. Vale lembrar também, que os sócios devem dividir não apenas os lucros, mas também
eventuais prejuízos.
IMPORTANTE!!! É vedada a chamada cláusula leonina, a qual, se existente, será nula de pleno
direito.

Art. 1.008. É NULA a estipulação contratual que EXCLUA QUALQUER


SÓCIO DE PARTICIPAR DOS LUCROS E DAS PERDAS.

Os sócios podem estipular a forma de como será feita a distribuição dos lucros da sociedade.
Todavia, se o contrato social for omisso, aplica-se o art. 1.007 CC.

Art. 1.007. Salvo estipulação em contrário, o sócio participa dos lucros e das
perdas, na proporção das respectivas quotas, mas aquele, cuja contribuição
consiste em serviços, somente participa dos lucros na proporção da média do
valor das quotas.

3.1.4 Responsabilidade dos Sócios

A sociedade simples pura é uma pessoa jurídica, possuindo assim personalidade jurídica.
Dessa forma, ela responde pelas suas obrigações com seus bens sociais (princípio da autonomia
patrimonial).

Art. 1.024. Os bens particulares dos sócios não podem ser executados por
dívidas da sociedade, senão depois de executados os bens sociais.

Lembrar!!! Empresário individual não é pessoa jurídica e responde direta e ilimitadamente com seus
bens.
IMPORTANTE!!! Mas por se tratar de uma sociedade contratual, a responsabilidade dos sócios,
quanto às obrigações sociais, é ILIMITADA, ou seja, caso os bens sociais não sejam suficientes para
saldar o passivo da sociedade, os credores poderão executar o restante da dívida no patrimônio dos
sócios.

Art. 1.023. Se os bens da sociedade não lhe cobrirem as dívidas, respondem


os sócios pelo saldo, na proporção em que participem das perdas sociais,
salvo cláusula de responsabilidade solidária.

Por fim dispõe o art. 1.025 CC:

Art. 1.025. O sócio, admitido em sociedade já constituída, NÃO se exime das


dívidas sociais anteriores à admissão.

3.1.5 Alteração do Contrato Social

O contrato social não é imutável, podendo ser alterado conforme a vontade do sócio.
Caso a alteração do contrato social seja referente a alguma matéria relacionada no art. 997
CC, esta dependerá de aprovação unânime.

Art. 997. A sociedade constitui-se mediante contrato escrito, particular ou


público, que, além de cláusulas estipuladas pelas partes, mencionará:
I - nome, nacionalidade, estado civil, profissão e residência dos sócios, se
pessoas naturais, e a firma ou a denominação, nacionalidade e sede dos
sócios, se jurídicas;
II - denominação, objeto, sede e prazo da sociedade;
III - capital da sociedade, expresso em moeda corrente, podendo
compreender qualquer espécie de bens, suscetíveis de avaliação pecuniária;
IV - a quota de cada sócio no capital social, e o modo de realizá-la;
V - as prestações a que se obriga o sócio, cuja contribuição consista em
serviços;

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VI - as pessoas naturais incumbidas da administração da sociedade, e seus


poderes e atribuições;
VII - a participação de cada sócio nos lucros e nas perdas;
VIII - se os sócios respondem, ou não, subsidiariamente, pelas obrigações
sociais.
Parágrafo único. É ineficaz em relação a terceiros qualquer pacto separado,
contrário ao disposto no instrumento do contrato.

Por outro lado, segundo o art. 999 CC:

Art. 999. As modificações do contrato social, que tenham por objeto matéria
indicada no art. 997, dependem do consentimento de todos os sócios; as
demais podem ser decididas por maioria absoluta de votos, se o contrato não
determinar a necessidade de deliberação unânime.

3.1.6 Direitos e Deveres dos Sócios

Dispõe o art. 1001 CC:

Art. 1.001. As obrigações dos sócios começam imediatamente com o


contrato, se este não fixar outra data, e terminam quando, liquidada a
sociedade, se extinguirem as responsabilidades sociais.

Dentre as principais obrigações dos sócios, podemos destacar a de contribuir para a


formação do capital social, subscrevendo e integralizando suas respectivas quotas, e a de participar
nos resultados sociais.
De acordo com o art. 1.003 CC:

Art. 1.003. A cessão total ou parcial de quota, sem a correspondente


modificação do contrato social com o consentimento dos demais sócios, não
terá eficácia quanto a estes e à sociedade.

IMPORTANTE!!! Art. 1003 Parágrafo único. Até DOIS ANOS depois de averbada a modificação do
contrato, RESPONDE O CEDENTE SOLIDARIAMENTE COM O CESSIONÁRIO, perante a
sociedade e terceiros, PELAS OBRIGAÇÕES QUE TINHA COMO SÓCIO (diferente do TRESPASSE
que prevê responsabilidade de UM ANO).
Resumindo!!! Prazo para responsabilidade:
 Trespasse: 1 ano
 Cessão de quotas: 2 anos
Atenção!!! Lembrar aspectos da sucessão empresarial.

I) Responsabilidade do adquirente
O art. 1.146, do Código Civil trata da sucessão empresarial. Esse artigo diz que o adquirente
responde, sim, pelas dívidas anteriores, só que faz uma ressalva. Diz assim: RESPONDE DESDE
QUE A DÍVIDA ESTEJA REGULARMENTE CONTABILIZADA. E se não estiver contabilizada? O
adquirente não responde. Se estiver contabilizada, ele pode, inclusive, diminuir o valor do que ele iria
pagar diante da dívida contabilizada que terá que assumir.

Art. 1.146. O adquirente do estabelecimento responde pelo pagamento dos


débitos anteriores à transferência, DESDE QUE REGULARMENTE
CONTABILIZADOS, continuando o devedor primitivo SOLIDARIAMENTE
obrigado pelo prazo de UM ANO, a partir, quanto aos créditos vencidos, da
publicação, e, quanto aos outros, da data do vencimento.

EXCEÇÃO!!! Essa regra do art. 1.146 não se aplica nos seguintes casos:
 Dívida trabalhista – Neste caso, quem assume as obrigações, mesmo que não
contabilizadas, é o adquirente.
 Dívida tributária – Cai na regra do art. 133, do CTN.
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CTN Art. 133. A pessoa natural ou jurídica de direito privado que adquirir de
outra, por qualquer título, fundo de comércio ou estabelecimento comercial,
industrial ou profissional, e continuar a respectiva exploração, sob a mesma
ou outra razão social ou sob firma ou nome individual, RESPONDE (a regra é
sempre responder) PELOS TRIBUTOS, relativos ao fundo ou
estabelecimento adquirido, devidos até à data do ato:
I - INTEGRALMENTE, se o alienante cessar a exploração do comércio,
indústria ou atividade;
II - SUBSIDIARIAMENTE com o alienante, se este prosseguir na exploração
ou iniciar dentro de seis meses a contar da data da alienação, nova atividade
no mesmo ou em outro ramo de comércio, indústria ou profissão.

Então, para toda dívida que não seja tributária ou trabalhista aplica-se a regra do art. 1.146,
do Código Civil. Essa é a responsabilidade de quem comprou.
Atenção!!! A responsabilidade do art. 1.146 do CC é solidária; a responsabilidade do art. 133 do CTN
é integral ou subsidiária.

II) Responsabilidade do alienante


O alienante, nos termos do art. 1.146, responde de forma SOLIDÁRIA. A lei traz um prazo:
UM ANO. O alienante responde de forma solidária pelo prazo de um ano.
Importante saber como é que se conta esse prazo. Depende da dívida:
 Dívida VENCIDA – Neste caso, diz a lei, conta-se um ano da data da publicação.
Averbado o contrato de trespasse na junta comercial, vai ter uma publicação na
imprensa oficial. Então, é da data da publicação.
 Dívida VINCENDA – se a dívida ainda não venceu, conta-se um ano da data do
vencimento.
IMPORTANTÍSSIMO!!! Muita gente acha que esse prazo é de dois anos. Trespasse é diferente de
transferir as cotas de uma sociedade. Se sou sócio numa sociedade e transfiro as minhas cotas, eu
ainda respondo pelo prazo de 2 anos. Mas esse prazo é para a sociedade, não é para trespasse. O
prazo, no caso de TRESPASSE, é de UM ANO!

Art. 1.003.
Parágrafo único. Até 2 (dois) anos depois de averbada a modificação do
contrato, responde o cedente solidariamente com o cessionário, perante a
sociedade e terceiros, pelas obrigações que tinha como sócio.

3.1.7 Deliberação dos Sócios


Quando a lei ou o contrato estabelecerem que a deliberação seja feita pelos sócios, essas
deliberações serão tomadas por maioria absoluta.

Art. 1.010. Quando, por lei ou pelo contrato social, competir aos sócios decidir
sobre os negócios da sociedade, as deliberações serão tomadas por
MAIORIA (ABSOLUTA) de votos, CONTADOS SEGUNDO O VALOR DAS
QUOTAS DE CADA UM.
§ 1o Para formação da maioria absoluta são necessários votos
correspondentes a mais de metade do capital (não se refere ao número de
sócios votantes, mas tão somente ao valor das quotas).
§ 2o Prevalece a decisão sufragada por maior número de sócios no caso de
empate, e, se este persistir, decidirá o juiz.
§ 3o Responde por perdas e danos o sócio que, tendo em alguma operação
interesse contrário ao da sociedade, participar da deliberação que a aprove
graças a seu voto.

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4. SOCIEDADE EM NOME COLETIVO

A principal característica dessa sociedade é a RESPONSABILIDADE ILIMITADA dos sócios


que a compõem, ou seja, esgotado o patrimônio da sociedade em nome coletivo, seus credores
podem executar o restante das dívidas sociais no patrimônio pessoal dos sócios.
Somente pessoas físicas podem ser sócias da sociedade em nome coletivo.

Art. 1.039. Somente pessoas físicas podem tomar parte na sociedade em


nome coletivo, respondendo todos os sócios, solidária e ilimitadamente, pelas
obrigações sociais.
Parágrafo único. Sem prejuízo da responsabilidade perante terceiros, podem
os sócios, no ato constitutivo, ou por unânime convenção posterior, limitar
ENTRE SI a responsabilidade de cada um.
De acordo com o parágrafo único acima citado, a limitação de responsabilidade que os sócios
podem estabelecer produz efeitos somente entre eles, e não a terceiros. Perante os credores da
sociedade, a responsabilidade dos sócios de uma sociedade em nome coletivo é sempre ilimitada.
Ela é regida subsidiariamente pelas normas da sociedade simples (também é uma sociedade
contratual).
Observações acerca da sociedade em nome coletivo:
a) Deve sempre adotar firma empresarial
b) Não se admite a participação de incapazes
c) Os sócios têm ampla liberdade para disciplinar suas relações sociais, desde que não desnaturem o
tipo societário.
d) É uma sociedade de pessoas, depende do consentimento dos demais sócios para a entrada de
estranhos ao quadro social.
f) A sua administração compete aos próprios sócios, não se admitindo a designação de não sócios
para o desempenho de tal mister.

5. SOCIEDADE EM COMANDITA SIMPLES

Art. 1.045. Na sociedade em comandita simples tomam parte sócios de duas


categorias: os comanditados, pessoas físicas, responsáveis solidária e
ilimitadamente pelas obrigações sociais; e os comanditários, obrigados
somente pelo valor de sua quota.
Parágrafo único. O contrato deve discriminar os comanditados e os
comanditários.

O regime jurídico do sócio comanditado é o mesmo do sócio da sociedade em nome


coletivo, ou seja: a) o comanditado tem que ser pessoa física; b) só o comanditado pode administrar
a sociedade; c) só o nome do comanditado pode constar na firma social; e d) a responsabilidade do
comanditado é ilimitada.
A obrigação precípua do sócio comanditário é tão somente contribuir para a formação do
capital do social, contribuição esta que pode ser feita em dinheiro ou bens – mas não em serviços,
como temos enfatizados nos estudos das sociedades empresarias. Uma vez efetivada a contribuição
prevista no contrato social, cumpriu sua obrigação social, não podendo os credores, em princípio,
nada mais exigir dele (sua responsabilidade é limitada a esse tanto).
Em contrapartida a essa limitação de responsabilidade, o art. 1.047 prescreve:

Art. 1.047. Sem prejuízo da faculdade de participar das deliberações da


sociedade e de lhe fiscalizar as operações, não pode o comanditário praticar
qualquer ato de gestão, nem ter o nome na firma social, sob pena de ficar
sujeito às responsabilidades de sócio comanditado.

Somente os nomes dos sócios comanditados podem constar na firma social, uma vez que
eles respondem ilimitadamente pelas obrigações da sociedade.
Além das hipóteses previstas no art. 1.033 CC, a sociedade em comandita simples se
dissolve nas hipóteses do art. 1.051 CC:
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Art. 1.051. Dissolve-se de pleno direito a sociedade:


I - por qualquer das causas previstas no art. 1.044;
II - quando por mais de cento e oitenta dias perdurar a falta de uma das
categorias de sócio.
Parágrafo único. Na falta de sócio comanditado, os comanditários nomearão
administrador provisório para praticar, durante o período referido no inciso II e
sem assumir a condição de sócio, os atos de administração.

Art. 1.033. Dissolve-se a sociedade quando ocorrer:


I - o vencimento do prazo de duração, salvo se, vencido este e sem oposição
de sócio, não entrar a sociedade em liquidação, caso em que se prorrogará
por tempo indeterminado;
II - o consenso unânime dos sócios;
III - a deliberação dos sócios, por maioria absoluta, na sociedade de prazo
indeterminado;
IV - a falta de pluralidade de sócios, não reconstituída no prazo de cento e
oitenta dias;
V - a extinção, na forma da lei, de autorização para funcionar.
Parágrafo único. Não se aplica o disposto no inciso IV caso o sócio
remanescente, inclusive na hipótese de concentração de todas as cotas da
sociedade sob sua titularidade, requeira, no Registro Público de Empresas
Mercantis, a transformação do registro da sociedade para empresário
individual ou para empresa individual de responsabilidade limitada,
observado, no que couber, o disposto nos arts. 1.113 a 1.115 deste
Código. (Redação dada pela Lei nº 12.441, de 2011)

6. SOCIEDADE EM COMANDITA POR AÇÕES

Segundo a doutrina, a sociedade em comandita por ações é uma sociedade empresária


híbrida: assim como as S/A, tem seu capital dividido por ações; e, assim como as sociedades em
comandita simples, possui duas categorias distintas de sócios, uma com responsabilidade
limitada e outra com responsabilidade ilimitada.

Art. 1.090. A sociedade em comandita por ações tem o capital dividido em


ações, regendo-se pelas normas relativas à sociedade anônima, sem prejuízo
das modificações constantes deste Capítulo, e opera sob firma ou
denominação.

Na sociedade em comandita por ações, o acionista diretor (que exerce função de


administração), responde ilimitadamente pelas obrigações da sociedade. Havendo mais de um
diretor, a lei estabelece responsabilidade solidária entre eles (diretores), depois de esgotados os
bens sociais.
A lei se preocupou em estabelecer a responsabilidade dos acionistas diretores após o término
dos seus respectivos mandatos.

1.091 § 3o O diretor destituído ou exonerado continua, durante dois anos,


responsável pelas obrigações sociais contraídas sob sua administração.

Na sociedade em comandita por ações os diretores são simplesmente nomeados no ato


constitutivo (não são eleitos em assembleia geral), em decorrência disso a legislação aplica regras
severas quanto a sua responsabilidade, a qual, conforme salientamos, é ilimitada. Por conta disso, o
poder da assembleia geral é limitado, não tendo poder para deliberar sobre matérias que possam
repercutir na responsabilidade dos acionistas diretores.

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II - NOME EMPRESARIAL

1. PREVISÃO LEGAL:
A) art. 5º, XXIX, CF/88: a lei assegurará aos autores de inventos industriais privilégio temporário
para sua utilização, bem como proteção às criações industriais, à propriedade das marcas,
aos nomes de empresas e a outros signos distintivos, tendo em vista o interesse social e o
desenvolvimento tecnológico e econômico do País;
B) arts. 1.155 a 1.168, CC

2. CONCEITO:
elemento de identificação no cenário empresarial.

3. MODALIDADES:
A) Firma: individual ou social (razão social)
B) Denominação

4. APLICAÇÃO/COMPOSIÇÃO:

a) FIRMA INDIVIDUAL:
*aplicação: para empresário individual
*composição: (art. 1.156, CC)
OBRIGATÓRIO FACULTATIVO
Nome do empresário 1) Pessoa
(completo ou abreviado) 2) Ramo da atividade
Ex.: Frederico Roma
F. Roma
Frederico Roma Lava Rápido

b) FIRMA SOCIAL/RAZÃO SOCIAL:


*aplicação: sociedade composta por sócios com resp. ILIMITADA
*composição: (art. 1.157, CC)
OBRIGATÓRIO FACULTATIVO
Nome(s) do(s) empresário(s) Ramo da atividade
(completo(s) ou abreviado(s)
Ex.: Júlia Franco e Ricardo Costa
J. Franco e R. Costa
J. Franco e Cia (no final do nome: outros sócios na sociedade)
Obs.: a expressão Cia no início ou no meio do nome empresarial: S.A.

c) DENOMINAÇÃO:
*aplicação: sociedade composta por sócios com resp. LIMITADA
*composição:

OBRIGATÓRIO OBRIGATÓRIO
Elemento fantasia (expressão Ramo da atividade
lingüística que
não se confunde com nome fantasia)
Ex.: Gato Preto distribuidora de bebidas
Festa Fácil comércio de bolos e doces
Obs.: excepcionalmente poderá constar nome de fundados, acionista ou pessoa que haja
contribuído para o sucesso da atividade empresarial.

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5. ANÁLISE INDIVIDUALIZADA

Quanto à espécie legislativa, as sociedades podem ser classificadas em:


a) Em comum (arts. 986 a 990, CC): não tem registro, não tem personalidade jurídica nem
nome. SÃO AS SOCIEDADES IRREGULARES, SE REFERE AO ESTADO PROVISÓRIO
DE IRREGULARIDADE (ENQUANTO NÃO INSCRITO SEU ATO CONSTITUTIVO)
b) Em conta de participação (arts. 991 a 996, CC): não tem registro, não tem personalidade
jurídica nem nome. SÓCIO PARTICIPANTE/OCULTO E SÓCIO OSTENSIVO. NÃO TEM
PERSONALIDADE JURÍDICA AINDA QUE O ATO CONSTITUTIVO SEJA LEVADO A
REGISTRO.
c) Simples: DESENVOLVE ATIVIDADES NÃO EMPRESARIAIS. SÃO INSCRITAS NO RCPJ.
d) Em nome coletivo:
Todos os sócios têm responsabilidade ilimitada
FIRMA SOCIAL
e) Em comandita simples (art. 1047, CC)
Sócio comanditado: resp. ilimitada
Sócio comanditário: resp. limitada
FIRMA SOCIAL COM NOME DOS COMANDITADOS
f) Limitada (próximo tópico)
g) Anônima (art. 1160, CC)
DENOMINAÇÃO INTEGRADA PELAS EXPRESSÕES:
A) SOCIEDADE ANÔNIMA (INÍCIO/MEIO OU FIM) (EXTENSO OU ABREVIADO)
B) COMPANHIA (INÍCIO OU MEIO, POIS NO FINAL SERÁ FIRMA SOCIAL)
Obs.: excepcionalmente poderá constar nome de fundador, acionista ou pessoa que haja
contribuído para o sucesso da atividade empresarial.
h) Em comandita por ações (próximo tópico)
i) Cooperativas (art. 1159, CC)
DENOMINAÇÃO + VOCÁBULO COOPERATIVA

6. EXCEÇÕES
Casos em que se pode usar tanto firma como denominação.
1º sociedade limitada (art. 1158, CC)

FIRMA
Ex.: Renato Alves e Sandro Melo LIMITADA/LTDA
Sorveteria
R. Alves e Cia Sorveteria
DENOMINAÇÃO
Ex.: Sorvete Sensacional Sorveteria
Sabor de Verão Sorveteria
Obs.: se omitir a expressão LTDA na operação?
Art. 1158, §3º, CC: resp. solidária e ilimitada dos administradores que assim empregarem
firma/denominação.

2º Comandita por ações

7. PROTEÇÃO AO NOME EMPRESARIAL (art. 1166, CC)


Decorre automaticamente do registro na JC.
Âmbito geográfico de proteção: estadual

8. CARACTERÍSTICAS DO NOME EMPRESARIAL


a) Inalienável (art. 1164, CC)
Não posso vender o nome empresarial.

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Obs.: doutrina prevê possibilidade de alienação de denominação que não contenha nome dos
sócios.
b) Novo e verdadeiro (art. 1167, CC)
Lei 8934/94, art. 33, previsão de obediência aos princípios da novidade e da veracidade para
os nomes empresariais.
Se ocorrer coincidência: quem registrou primeiro é o titular do direito de uso do nome
empresarial dentro daquele Estado. Para tanto deve ajuizar ação para anulação da inscrição
do nome empresarial A QUALQUER TEMPO.

9. DIFERENÇA ENTRE NOME EMPRESARIAL E MARCA

NOME EMPRESARIAL MARCA


Identifica pessoa (física ou jurídica) Identifica produto ou serviço
Na loja Baby calçados Ltda Comprei um tênis adidas.
Proteção decorre do registro na JC. Proteção decorre do registro no INPI.
Proteção a nível estadual. Proteção a nível nacional.

10. DIFERENÇA ENTRE NOME EMPRESARIAL E TÍTULO DO ESTABELECIMENTO

NOME EMPRESARIAL TÍTULO DO ESTABELECIMENTO


(NOME FANTASIA)
Identifica pessoa (física ou jurídica) Identifica o estabelecimento comercial.
(apelido comercial)
Cia Brasileira de Distribuição. Pão de Açúcar.
Proteção decorre do registro na JC. Não tem proteção.
LPI: se usar de forma indevida configura
concorrência desleal.

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