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DIREITO AGRÁRIO E AMBIENTAL

PROFESSOR – TARCISIO MIGUEL TEIXEIRA

APOSTILA

# NOÇÕES DE DIREITO CIVIL – SOCIEDADES (empresas)

# NOÇÕES DE DIREITO AGRÁRIO – PROPRIEDADES,


TRIBUTOS E CONTRATOS AGRÁRIOS

# NOÇÕES DE DIREITO AMBIENTAL – CÓDIGO FLORESTAL E


LICENCIAMENTO AMBIENTAL

Técnico em agronegócio

2011, Umuarama.

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DIREITO AGRÁRIO E AMBIENTAL
PROFESSOR – TARCISIO MIGUEL TEIXEIRA

EMENTA:
Noções de Direito Civil. Sociedades.
Direito ambiental e Política, instrumentos e sistema nacional do meio ambiente.
Direito Agrário brasileiro. Contratos e tributos agrários.

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DIREITO CIVIL

SOCIEDADES

Art. 981. Celebram contrato de sociedade as pessoas que


reciprocamente se obrigam a contribuir, com bens ou serviços, para
o exercício de atividade econômica e a partilha, entre si, dos
resultados.

O conceito de sociedade remonta ao Código de Manu (Índia, 1400 a..C ), o qual estabelecia que,
“Quando vários homens se reúnem para cooperar, cada um com seu trabalho, em uma mesma empresa, tal é a
maneira por que deve ser feita a distribuição das partes” (art. 204). A sociedade, assim, é um contrato bilateral
ou plurilateral em que as partes, ou seja, os sócios combinam a aplicação de seus recursos com a finalidade de
desempenhar certa atividade econômica, com a divisão dos frutos ou lucros por ela gerados. Três são os
elementos essenciais da sociedade definidos por este art. 981:

1) a reunião de recursos, sob a forma de capital ou de trabalho, com cada sócio colaborando na sua
formação;
2) o exercício em comum de atividade produtiva; e
3) aí partilha ou divisão dos resultados econômicos da exploração da empresa.

De acordo com o parágrafo único do art. 981 a sociedade pode constituir-se tanto para executar um
objeto delimitado como para desempenhar uma atividade econômica contínua. Esse preceito procura alcançar,
simultaneamente, ,a idéia de unidade e pluralidade no ato de constituição da sociedade. O elemento subjetivo da
norma indica que pode integrar uma sociedade qualquer pessoa, seja ela física ou jurídica.

Art. 982. Salvo as exceções expressas, considera-se empresária a


sociedade que tem por objeto o exercício de atividade própria de
empresário sujeito a registro (art. 967); e, simples, as demais.

Parágrafo único. Independentemente de seu objeto, considera-se


empresária a sociedade por ações; e, simples, a cooperativa.

A norma deste art. 982 vem a instituir uma nova divisão entre as formas societárias até então definidas
pelo direito privado brasileiro. Se adotarmos um paralelismo simétrico, a antiga sociedade comercial passou a
ser denominada sociedade empresária, enquanto a sociedade civil, regulada pelo Código de 1916, passou a ser
definida como sociedade simples.

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Art. 983. A sociedade empresaria deve constituir-se segundo um


dos tipos regulados nos arts. 1.039 a 1.092,- a sociedade simples
pode constituir-se de conformidade com um desses tipos, e não o
fazendo, subordina-se ás normas que lhe são próprias.

Parágrafo único. Ressalvam-se as disposições concernentes á


sociedade em conta de participação e à cooperativa, bem como as
constantes de leis especiais que, para o exercício de certas
atividades, imponham a constituição da sociedade segundo
determinado tipo.

Os arts. 1.039 a 1.092 do novo Código Civil definem cinco tipos de sociedades:

1) sociedade em nome coletivo (arts. 1.039 a 1.044);


2) sociedade em comandita simples (arts. 1.045 a 1.051);
3) sociedade limitada (arts. 1.052 a 1.087);
4) sociedade anônima (arts. 1.088 a 1.089) e
5) sociedade em comandita por ações (arts. 1.090 a 1.092).

Essas sociedades são consideradas como sendo personificadas, isto é, adquirem personalidade jurídica
após regularmente constituídas. Além destas, temos que podem ser constituídas outras três modalidades
societárias, não empresárias, subdivididas em sociedades não personificadas e sociedades personificadas. São
sociedades não personificadas a sociedade em comum (ais. 986 a 990) e a sociedade em conta de participação.
São sociedades personificadas a sociedade simples, a sociedade cooperativa (ais. 1.093 a 1.096) e a sociedade
coligada. Quando as sociedades simples adotarem uma das formas de sociedade empresária, subordinam-se às
normas especiais que regem o tipo societário adotado, devendo seus atos constitutivos ser levados para
arquivamento perante o Registro Público de Empresas Mercantis, com exceção da sociedade em conta de
participação e da sociedade cooperativa, que somente podem ser constituídas sob essa forma específica. A
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antiga sociedade comercial de capital e indústria foi extinta pelo novo Código Civil.

Art. 984. A sociedade que tenha por objeto o exercício de atividade


própria de empresário rural e seja constituída, ou transformada, de
acordo com um dos tipos de sociedade empresária, pode, com as
formalidades do art. 968, requerer inscrição no Registro Público de
Empresas Mercantis da sua sede, caso em que, depois de inscrita,
ficará equiparada, para todos os efeitos, à sociedade empresária.

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Fiz mudanças neste texto. O original constava a sociedade em conta de participação como personificada.

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Parágrafo único. Embora já constituída a sociedade segundo um


daqueles tipos, o pedido de inscrição se subordinará, no que for
aplicável, às normas que regem a transformação.

Art, 985. A sociedade adquire personalidade jurídica com a


inscrição, no registro próprio e na forma da lei, dos seus atos
constituitivos ( arts. 45 e 1.150).

A aquisição de personalidade jurídica pela sociedade, simples ou empresária, depende da inscrição de


seu ato constitutivo no registro próprio. No caso da sociedade simples, no Registro Civil das Pessoas Jurídicas.
No caso das sociedades empresárias, no Registro Público de Empresas.

São efeitos da aquisição da personalidade jurídica:

a) o Surgimento de uma nova pessoa, distinta de seus sócios, que exercita direitos e assume obrigações
em seu nome;
b) formação de um patrimônio próprio, separado do patrimônio pessoal dos sócios que a integram;
c) definição de sua nacionalidade, domicílio e sede;
d) aquisição de capacidade jurídica ativa e passiva.

A personalidade jurídica da sociedade mantém-se durante toda a existência da sociedade, podendo,


todavia, em hipóteses excepcionais, ser desconsiderada, para alcançar o patrimônio particular dos sócios,
quando estes vierem a praticar atos contrários à lei ou às normas do estatuto ou do respectivo contrato social.

DA SOCIEDADE NÃO PERSONIFICADA


DA SOCIEDADE EM COMUM

Art. 986. Enquanto não inscritos os atos constitutivos, reger-se-a a


sociedade, exceto por ações em organização, pelo disposto neste
Capitulo, observadas, subsidiariamente e no que com ele forem
compatíveis, as normas da sociedade simples.

A sociedade em comum é um tipo de sociedade não personificada, constituída de fato por sócios para o
exercício de atividade empresarial ou produtiva, com repartição de resultados, mas cujo ato constitutivo não foi
levado para inscrição ou arquivamento perante o registro competente. As disposições deste capítulo sobre a
sociedade em comum servem para regular as relações entre os sócios e destes com terceiros anteriormente à
àquisição de personalidade jurídica pela sociedade. A norma deste art. 986 excepciona da aplicação do regime
da sociedade em comum.

DA SOCIEDADE EM CONTA DE PARTICIPAÇÃO

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Art. 991. Na sociedade em conta de participação, a atividade


constitutiva do objeto social é exercida unicamente pelo sócio
ostensivo, em seu nome individual e sob sua própria e exclusiva
responsabilidade, participando os demais dos resultados
correspondentes.

Parágrafo único. Obriga-se perante terceiro tão-somente o sócio


ostensivo; e, exclusivamente perante este, o sócio participante, nos
termos do contrato social.

A sociedade em conta de participação é uma espécie de sociedade não personificada, classificada como
sociedade empresária, mas que, diferentemente da sociedade em comum, em geral é constituída mediante
contrato social, apesar de esse contrato não ser levado a registro perante a Junta Comercial. Perante terceiros
que com ela contratam somente aparece o sócio ostensivo, que pode ser pessoa física ou jurídica, assumindo
em seu nome todas as obrigações contraídas em razão da execução do objeto mercantil a que se destina. Os
demais sócios, denominados sócios ocultos, não aparecem perante terceiros, mas exercem direitos perante o
sócio ostensivo, que deverá prestar contas de suas atividades e dividir com estes os resultados da exploração
empresarial.

Art. 992. A constituição da sociedade em conta de participação


independe de qualquer formalidade e pode provar-se por todos os
meios de direito.

A prova da existência da sociedade em conta de participação, não existindo contrato social escrito
celebrado entre o sócio ostensivo e os sócios ocultos, poderá ser demonstrada por todos os meios de prova
admitidos em direito, como, exemplo, prova testemunhal, documental ou pericial. Os documentos contábeis ,
fiscais ou instrumentos escritos, como conespondências por meio físico ou eletrônico, também servem para
demonstrar a comunhão de interesses entre pessoas na exploração de uma atividade empresarial sob a forma
de em conta de participação.

DA SOCIEDADE PERSONIFICADA

DA SOCIEDADE SIMPLES

Art. 997. A sociedade constitui-se mediante contrato escrito,


particular ou público, que, além de cláusulas estipuladas pelas
partes, mencionará:

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I— nome, nacionalidade, estado civil, profissão e residência dos


sócios, se pessoas naturais, e a firma ou a denominação,
nacionalidade e sede dos sócios, se jurídicas;
II — denominação, objeto, sede e prazo da sociedade
III— capital da sociedade, expresso em moeda corrente, podendo
compreender qualquer espécie de bens, suscetíveis de avaliação
pecuniária
IV — a quota de cada sócio no capital social, e o modo de realizá-la
V — as prestações a que se obriga o sócio, cuja contribuição
consista em serviços;
VI— as pessoas naturais incumbidas da administração da
sociedade, e seus poderes e atribuições;
VIl — a participação de cada sócio nos lucros e nas perdas;
VIlI — se os sócios respondem, ou não, subsidiariamente, pelas
obrigações sociais.

Parágrafo único. É ineficaz em relação a terceiros qualquer pacto


separado, contrário ao disposto no instrumento do contrato.

A sociedade simples deve ser constituída mediante contrato particular ou de escritura pública, que
deverá conter, necessariamente, as cláusulas essenciais elencadas nos incisos 1 a VIII do art. 997. Essas
cláusulas básicas definem os aspectos principais que caracterizam a sociedade, a partir da identificação e
qualificação dos sócios, que poderão ser pessoas naturais ou jurídicas. Particularizam a sociedade sua
denominação, seu objeto, sua sede e prazo de duração. É obrigatória também a quantificação do capital, sua
divisão em quotas e a respectiva distribuição entre os sócios. Na sociedade simples, como não tem natureza
empresarial, admite-se que um sócio contribua, apenas, com serviços ou trabalho, tal como acontecia,
anteriormente, com a sociedade civil e com a sociedade de capital e indústria, desaparecida esta última com o
advento do novo Código Civil. O contrato social deve prever, também, se os sócios respondem, ou não,
subsidiariamente pelas obrigações sociais, introduzindo, nas sociedades simples, o regime da responsabilidade
limitada dos sócios, o que não ocorria na sociedade civil, em que os sócios sempre tinham responsabilidade
subsidiária pelas dívidas e obrigações da sociedade. O parágrafo único deste dispositivo estatui que somente
produzirão efeitos com relação a terceiros as normas e cláusulas que constem, expressamente, do contrato
social, tomando ineficaz qualquer pacto em separado, que somente pode valer nas relações entre os sócios.

DA SOCIEDADE EM NOME COLETIVO

Art. 1.039. Somente pessoas físicas poda tornar parte na sociedade


em nome coletivo, respondendo todos os sócios, solidária e
ilimitadamente, pelas obrigações sociais.

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Parágrafo único. Sem prejuízo da responsabilidade perante


terceiros, podem os sócios, no ato constituitivo , ou por unânime
convenção posterior, limitar entre si a responsabilidade de cada
um.

A sociedade em nome do coletivo é uma típica sociedade de pessoas, destinada á consecução de


atividade econômica, com objeto comercial ou civil na qual a responsabilidade dos sócios perante terceiros é
solidária e ilimitada, competente, ou pelos próprios administradores, que têm a obrigação de instaurar o processo
judicial de liquidação no prazo de trinta dias após a ciência da perda da autorização. Como, nesta hipótese, trata-
se de dissolução da sociedade de pleno direito, por perda da autorização para funcionar, qualquer dos sócios
também pode requerer ao juiz competente o início do processo de liquidação. A obrigação principal de requerer
a instauração do processo de liquidação é do Ministério Público, que para tanto deve ser cientificado pela
autoridade responsável pela concessão da autorização. Se o Ministério Público não vier a promover a liquidação
judicial no prazo de quinze dias após receber a devida comunicação, a autoridade pública fiscalizadora
competente deverá nomear um interventor com poderes para requerer o início do processo de liquidação judicial
da sociedade, até que seja ele, o interventor, substituído por um liquidante designado pelo doutrina

DA SOCIEDADE EM C0MANDITA SIMPLES

Art. 1.045. Na sociedade em comandita simples tomam parte sócios


de duas categorias: os comanditados, pessoas fisicas,
responsáveis solidária e ilimitadamente pelas obrigações sociais; e
os comanditarios, obrigados somente pelo valor de sua quota.

Parágrafo único. O contrato deve discriminar os comanditados e os


comanditários.

A sociedade em comandita simples é um tipo de sociedade na qual existem sócios de duas categorias, a
saber, os sócios comanditados, que representam e administram a sociedade, com responsabilidade solidária e
ilimitada em face das obrigações sociais, e os sócios comanditários, que podem ser pessoas físicas ou jurídicas.
Mas que não participam da administração e gerencia da sociedade, ficando limitada a responsabilidade de cada
sócio comandatário ao valor das respectivas quotas do capital social.
A Sociedade em comandita simples, apesar da sua expressiva decadência como forma de exercício da
atividade mercantil, apresentado-se em franco desuso (Waldirio Bulgarelli, Sociedades comerciais, São Paulo,
Atlas, 1987, p. 150), teve sua espécie mantida pelo novo Código Civil, da mesma maneira como permanece
prevista na legislação de outros países. A sociedade em comandita simples, pela nova disciplina instituída no
Código Civil de 2002, pode ser empresária ou não. Será empresária quando desempenhar atividade organizada
destinada à produção ou circulação de bens ou serviços no mercado. Poderá, contudo, ter natureza estritamente
civil, ou seja, não mercantil, quando vinculada ao exercício de atividades científicas, literárias ou artísticas (art.
966).

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DA SOCIEDADE LIMITADA

Art. 1.052. Na sociedade limitada, a responsabilidade de cada sócio


é restrita ao valor de suas quotas, mas todos respondem
solidariamente pela integralização do capital social.

A sociedade limitada é na atualidade, o tipo mais comum e usual de organização e estruturação da


empresa coletiva. Representa a espécie societária adequada á constituição das pequenas e médias empresas.
O Decreto n. 3.708/19 não conceituava, objetivamente, a sociedade limitada, tal como agora vem ela a ser
definida pelo art. 1.052 do novo Código Civil. A norma dessa disposição define a sociedade limitada como aquela
em que a responsabilidade de cada sócio é restrita ou limitada ao valor de suas quotas, que se encontram
representadas no capital social. Assim, diferentemente das demais espécies de sociedades referidas nos artigos
antecedentes, a sociedade limitada prevê, relativamente a seus sócios, a garantia da limitação da
responsabilidade, estabelecendo nítida separação entre o patrimônio da sociedade, representado a partir de seu
capital, e o patrimônio pessoal dos sócios, que não pode ser alcançado nem executado em razão de dívidas e
obrigações sociais. A responsabilidade dos sócios é limitada e não solidária, ou seja, cada sócio somente
responde pela parcela do capital que integralizar, tal como ocorre na sociedade anônima. Mas, enquanto o
capital não for totalmente integralizado, os sócios assumem responsabilidade solidária entre si pelo montante
que faltar para a complementação, em dinheiro ou bens, do capital subscrito.

Art. 1.053. A sociedade limitada rege-se, nas omissões deste


Capítulo, pelas normas da sociedade simples.

Parágrafo único. O contrato social poderá prever a regência


supletiva da sociedade limitada pelas normas da sociedade
anonima.

A sociedade limitada é regulada pelas normas e disposições que lhe são próprias (arts. 1.052 a 1.087).
Ocorrendo omissão ou falta de regra expressa que regule a organização da sociedade limitada e as relações dos
sócios entre si ou diante de terceiros, devem ser aplicadas as normas das sociedades simples (arts. 997 a
1.038). No caso das sociedades empresárias, em particular daquelas com maior grau de complexidade
organizacional e societária, o parágrafo único deste dispositivo estipula que, por cláusula expressa constante do
contrato social, as lacunas e omissões das disposições que regem a sociedade limitada podem ser supridas,
diretamente, pelas normas aplicáveis às sociedades anônimas (Lei n. 6.404/76).

DAS QUOTAS

Art. 1.055. O capital social divide-se em quotas, iguais ou desiguais,


cabendo uma ou diversas a cada sócio.

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§ 1o Pela exata estimação de bens conferidos ao capital social


respondem solidariamente todos os sócios, até o prazo de cinco
anos da data do registro da sociedade.
§ 2o É vedada contribuição que consista em prestação de serviços.

O capital da sociedade limitada é representado por quotas quantificadas de acordo com o montante total
do capital dividido pelo número de quotas detidas por cada sócio. As quotas podem ser divididas de modo
igualitário, isto é, quando todos os sócios sejam titulares do mesmo número de quotas, ou de modo desigual,
quando algum sócio possua um número de quotas superior àquelas pertencentes aos demais, apresentando-se
este, assim, como sócio majoritário ou controlador. Se as quotas da sociedade limitada forem repartidas
igualmente entre os sócios, nessa situação, temos a divisão do capital em quotas iguais. Contudo, se uni sócio
detiver maior quantidade de quotas do que os demais, então, nesse caso, a divisão das quotas será desigual.
Quando o capital da sociedade limitada vier a ser integralizado em bens, móveis ou imóveis, todos os sócios
assumem a responsabilidade solidária pela avaliação desses bens, até o prazo de cinco anos da constituição da
sociedade ou do registro correspondente ao aumento do capital. Na sociedade limitada, a integralização do
capital somente pode ser realizada por meio de dinheiro ou bens, sendo vedada, nos termos do § 2o do art.
1.055, qualquer contribuição sob a forma de serviços, trabalho ou indústria.

Art. 1.056. A quota é indivisível em relação à sociedade, salvo para


efeito de transferência, caso em que se observará o disposto no
artigo seguinte.

§ 1o No caso de condomínio de quota, os direitos a ela inerentes


somente podem ser exercidos pelo condômino representante, ou
pelo inventariante do espólio de sócio falecido.
§ 2o Sem prejuízo do disposto no art. 1.052, os condôminos de
quota indivisa respondem solidariamente pelas prestações
necessárias à sua integralização.

Em relação à sociedade, as quotas são indivisíveis, porque inerentes ao próprio capital, não podendo ser
fracionadas. Cada quota corresponde à menor fração em que se divide o capital, devendo ser representada por
um número inteiro. A indivisibilidade das quotas não importa em sua intransferibilidade, porque as quotas, que
têm natureza de bem móvel, podem ser transferidas, mediante alienação ou doação a outros sócios ou a
terceiros. Quando uma quota ou quotas pertencer a mais de uma pessoa em co-propriedade, estaremos diante
de uma situação de condomínio de quotas, quando deverá ser designado, perante a sociedade, um
representante do condomínio, que será obrigatoriamente o inventariante do espólio no caso da atribuição comum
de quotas aos herdeiros de sócio falecido. A quota indivisa é aquela cujos direitos são exercidos em co-
propriedade, existindo solidariedade entre os condôminos pela respectiva integralização ao capital da sociedade.

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DA SOCIEDADE ANÔNIMA

Art. 1.088. Na sociedade anônima ou companhia, o capital divide-se


em ações, obrigando-se cada sócio ou acionista somente pelo
preço de emissão das ações que subscrever ou adquirir.

O novo Código Civil veio respeitar a legislação especial que regula a sociedade anônima. O art. 1.088
limita-se a formular a definição legal dessa sociedade, que será sempre regida pelas “leis e usos do comercio”
(Lei n. 6.404/76, Art. 2~, § 19. Segundo a definição própria da sociedade anônima, esta tem seu capital social
dividido em ações, e a responsabilidade dos sócios ou acionistas é limitada pelo preço de emissão das ações
que subscrever ou adquirir. Essa responsabilidade é pessoal, não havendo solidariedade entre os acionistas por
eventuais obrigações assumidas pela sociedade. Cada acionista somente responde pelas ações que se obrigar
a adquirir e que venha efetivamente a realizar para a formação do capital.

Art. 1.089. A sociedade anônima rege-se por lei especial, aplicando-


se-lhe, nos casos omissos, as disposições deste Código.

A sociedade anônima, típica sociedade empresária (art. 982, parágrafo único), rege-se por lei especial. O
novo Código Civil limitou-se a reconhecer e ordenar essa remissão necessária para a legislação de direito
comercia]. A vigente Lei das Sociedades Anônimas (Lei n. 6.404/76) é o diploma legal que deve reger e regular a
constituição e funcionamento dessa espécie societária de natureza eminentemente mercantil. Somente em caso
de omissão da Lei das Sociedades Anônimas, ou seja, na hipótese de lacuna da lei especial, é que poderão ser
aplicadas as normas gerais do Código Civil que regem as sociedades empresárias.

DA SOCIEDADE EM COMANDITA POR AÇÕES

Art. 1.090. A sociedade em comandita por ações tem o capital


dividido em ações, regendo-se pelas normas relativas à sociedade
anônima, sem prejuízo das modificações constantes deste Capítulo,
e opera sob firma ou denominação.

A sociedade em comandita por ações é um tipo societário pouco usual ou considerado menor pela
doutrina. Porque, mesmo sendo organizada à semelhança da sociedade anônima, com seu capital dividido em
ações, os acionistas diretores da sociedade respondem em caráter subsidiário e ilimitado pelas obrigações
sociais. Seu nome empresarial pode ser formado pela firma social, que identificará os acionistas
administradores, ou por denominação, do modo como adotado pela sociedade anônima (Lei n. 6.404/76, Art. 49,
sempre acompanhado da expressão “comandita por ações”, por extenso ou abreviadamente (Lei n. 6.404/76,
Art. 281, parágrafo único).

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Art. 1.091. Somente o acionista tem qualidade para administrar a


sociedade e, como diretor, responde subsidiária e Ilimitadamente
pelas obrigações da sociedade.

§ 1o Se houver mais de um diretor, serão solidariamente


responsáveis, depois de esgotados os bens sociais.
§ 2o Os diretores serão nomeados no ato constitutivo da sociedade,
sem limitação de tempo, e somente poderão ser destituídos por
deliberação de acionistas que representem no mínimo dois terços
do capital social.
§ 3o O diretor destituído ou exonerado continua, durante dois anos,
responsável pelas obrigações sociais contraídas sob sua
administração.

O cargo de administrador da sociedade em comandita por ações é privativo dos sócios, não podendo
haver delegação a terceiros estranhos à sociedade. A responsabilidade do administrador é ilimitada, podendo
seus bens particulares ser alcançados na execução de dívidas da sociedade, mas somente após esgotado todo
o patrimônio social (responsabilidade subsidiária). Se a diretoria da sociedade for integrada por dois ou mais
acionistas, existirá também entre estes responsabilidade solidária pelas obrigações sociais. Os membros da
diretoria serão designados pelo estatuto da sociedade no momento de sua constituição, para exercício da
administração por tempo indeterminado. A destituição de acionista diretor somente poderá ocorrer com a
aprovação de acionistas titulares de dois terços do capital social. O administrador que se afastar, voluntária ou
involuntariamente, da diretoria da sociedade em comandita permanece responsável, pelo prazo de dois anos,
pelas obrigações sociais existentes na data de sua retirada ou destituição.

DA SOCIEDADE COOPERATIVA

Art. 1.093 A Sociedade cooperativa reger-se-a pelo disposto no


presente capitulo, ressalvada a legislação especial.

A sociedade cooperativa encontra-se definida pelo art. 32 da Lei n. 5.764/71. do seguinte modo:
“Celebram contrato de sociedade cooperativa as pessoas que reciprocamente se obrigam a contribuir com bens
ou serviços para o exercício de uma atividade econ8mica, de proveito comum, sem objetivo de lucro”. É a
cooperativa, pois, um tipo peculiar de sociedade, que poderá ser constituída mesmo sem capital, mas apenas
com serviços, não tendo finalidade lucrativa. Por isso que o art . 4º da Lei n. 5.764/71 afirma que as cooperativas
são “sociedades de pessoas, com forma e natureza jurídica próprias, de natureza civil, não sujeitas à falência”,
destacando que estas não possuem natureza mercantil. Os arts. 1.093 a 1.096 do Código Civil estabelecem as
regras gerais de regulação da sociedade cooperativa, sendo complementadas pelas normas da legislação
especial.

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Art. 1.094. São características da sociedade cooperativa:


I— variabilidade, ou dispensa do capital social
II — concurso de sócios em número mínimo necessário a compor a
administração da sociedade, sem limitação de número Maximo
III— Limitação do valor da soma de quotas do capital social que
cada sócio poderá tornar;
IV — intransbilidade das quotas do capital a terceiros estranhos à
sociedade, ainda que por herança;
V — quorum, para a assembléia geral funcionar e deliberar, fim-
dado no número de sócios presentes à reunião, e não no capital
social representado;
VI — direito de cada sócio a um sé voto nas deliberações, tenha ou
não capital a sociedade, e qualquer que seja o valor de sua
participação;
VII — distribuição dos resultados, proporcionalmente ao valor das
operações efetuadas pelo sócio com a sociedade, podendo ser
atribuído juro fixo ao capital realizado;
VIII— indivisibilidade do fundo de reserva entre os sócios, ainda
que em caso de dissolução da sociedade.

A cooperativa é uma espécie de sociedade não comercial de caráter eminentemente democrático, em


que todos os sócios participam igualitariamente da sociedade, seja como prestador de capital, seja como
prestador de serviços. Em princípio, deve interessar a um número relativamente amplo de sócios. O art. 6o da
Lei n. 5.764/71 exigia, para a constituição de cooperativas singulares, o mínimo de vinte sócios. O inciso II deste
art. 1.094 flexibilizou tal exigência, podendo a sociedade cooperativa ser constituída com o número de sócios
necessário, apenas, para compor a administração da sociedade. O contrato de sociedade cooperativa tem
caráter personalíssimo, ou seja, é intransferível a terceiros, inclusive por motivo de herança. Esse caráter de
intransferibilidade, todavia, não impede que novos sócios ingressem na sociedade mediante a criação e emissão
de novas quotas. O direito de voto na cooperativa é individual, por cabeça, e não segundo a participação de
cada sócio no capital. O estatuto da sociedade cooperativa também deverá limitar o número de quotas que cada
sócio, isoladamente, poderá deter. Todavia , a distribuição de resultados não será igualitária mas sim
proporcional às operações e negócios que o sócio realizar junto à sociedade.

Art. 1.095. Na sociedade cooperativa, a responsabilidade dos sócios


pode ser limitada ou ilimitada.
§ 1o É limitada a responsabilidade na cooperativa em que o sócio
responde semente pelo valor de suas quotas e pelo prejuízo
verificado nas operações sociais guardada a proporção de sua
participação nas mesmas operações.

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§ 2o É ilimitada a responsabilidade na cooperativa em que o sócio


responde solidária e ilimitadamente pelas obrigações sociais.

O estatuto da sociedade cooperativa deverá definir se a responsabilidade dos sócios pelas obrigações
sociais será limitada ou ilimitada. A Lei n.5.764/71 restringia a definição da responsabilidade à própria sociedade.
Esta disposição do art. 1.095 é mais ampla, e permite que, em uma mesma sociedade cooperativa, existam
sócios com responsabilidade limitada e sócios com responsabilidade limitada, tal como ocorre nas sociedades
em comandita. Sendo limitada, o limite da responsabilidade do sócio compreende, apenas, o valor de suas
quotas e o prejuízo decorrente de operações das quais o sócio participe diretamente. Se a responsabilidade do
sócio for ilimitada, ele poderá responder com seu patrimônio pessoal pela execução de dívidas sociais, em
caráter solidário com os demais sócios de responsabilidade ilimitada.

DAS SOCIEDADES COLIGADAS

As relações de coligação genérica são relações de participação de uma sociedade em outra, detendo ou
não seu controle.

Art. 1.097. Consideram-se coligadas as sociedades que, em suas


relações de capital, são controladas, filiadas, ou de simples
participacão, na forma dos artigos seguintes.

Sociedades coligadas são aquelas vinculadas a uma ou mais empresas sujeitas à mesma relação de
controle, integrantes do mesmo grupo econômico. As sociedades podem ligar-se por relações de controle ou
coligação, como subsidiária integral, participação em grupos ou por consórcio. No caso do enunciado deste art.
1.097, a vinculação decorre de relações de capital, quando uma sociedade detém participação no capital de
outra sociedade, exercendo ou não seu controle.

Art. 1.098. É controlada:


I— a sociedade de cujo capital outra sociedade possua a maioria
dos votos nas deliberações dos quotista ou da assembléia geral e o
poder de eleger a maioria dos administradores;
II — a sociedade cujo controle, referido no inciso antecedente,
esteja em poder de outra, mediante ações ou quotas possuidas por
sociedades ou sociedades por esta já controladas.

A relação de controle de uma sociedade por outra depende da ocorrência simultânea de dois fatores:

a) a titularidade da maioria do capital com direito a voto; e


b) o poder de eleger a maioria dos administradores da sociedade controlada.

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Na hipótese do inciso 1, ocorre a relação de controle direto de uma sociedade por outro. Já no caso do
inciso II, a relação de controle é indireta, existindo entre a sociedade controlada e a controladora superior,
denominada holding, outras sociedades que também participam do capital da controlada, O § 2º do art. 243 da
Lei n. 6.404/76, de modo mais preciso, define essas relações de controle direto e indireto, por meio de
sociedades interpostas.

Art. 1.099. Diz-se coligada ou filiada a sociedade de cujo capital


outra sociedade participa com dez por cento ou mais, do capital da
outra, sem controlá-la.

A sociedade coligada, em sua acepção estrita , corresponde ao que a redação original do Código Civil
denominava sociedade filiada. O conceito de sociedade coligada prevalente no direito societário é o constante
dos lo do art. 243 da Lei n. 6.404/76, reproduzido por este art. 1.099. Haverá relação de coligação entre duas
sociedades quando uma participe de mais de dez por cento do capital da outra, porém sem exercer seu controle.

Art. 1.100. É de simples participação a sociedade de cujo capital


outra sociedade possua menos de dez por cento do capital com
direito de voto.

Quando houver pequena participação de uma sociedade no capital de outra, sendo essa participação
inferior a dez por cento do capital com direito a voto, define-se tal relação como de simples participação. Não
existirá, assim, coligação em sentido estrito, ainda que as sociedades integrem um mesmo grupo econômico e
estejam vinculadas, indiretamente, a uma mesma sociedade holding.

Antonio S. Poloni

1. Comentários Iniciais

O novo Código Civil, instituído pela Lei n° 10.406/02, entrou em vigor em 11 de janeiro de 2003, tendo revogado
a Lei n° 3.017/1916 (Código Civil de 1916) e a Parte Primeira da Lei n° 556/1850 (Código Comercial de 1850),
trazendo diversas inovações que regram a vida e os negócios desenvolvidos por pessoas e empresas.

De acordo com o artigo 981, considera-se contrato de sociedade aquele mediante o qual as pessoas
reciprocamente se obrigam a contribuir, com bens ou serviços, para o exercício de atividade econômica e a
partilha, entre si, os resultados.

A sociedade pode ser empresária, se tiver por objeto a atividade econômica organizada para a produção ou
circulação de bens e serviços ou simples, nos demais casos.

O Novo Código Civil introduziu importante alteração no que diz respeito à sociedade entre marido e mulher. O
art. 977 do Novo Código Civil faculta aos cônjuges contratar sociedade, entre si ou com terceiros, desde que não
sejam casados no regime da comunhão universal de bens ou no da separação obrigatória. Os cônjuges casados
pelo regime de comunhão universal de bens não podem constituir sociedade porque não existe pluralidade de
patrimônio. Em se tratando de cônjuges casados pelo regime de separação obrigatória de bens, a vedação à
constituição de sociedade decorre do efeito patrimonial deste, que é a união de patrimônios destacados,
previamente vedados pela lei, no caso deste regime de casamento.

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Sob o Novo Código o empresário casado pode, qualquer que seja o regime de bens, sem necessidade de obter
outorga conjugal, alienar ou gravar de ônus real imóveis que pertençam ao patrimônio da empresa (art. 978).

As associações, sociedades e fundações, constituídas na forma das leis anteriores, terão o prazo de um ano, a
partir de 11.01.2003, para se adaptarem às disposições do Novo Código. Igual prazo é concedido aos
empresários (art. 2.031 do Novo Código Civil). Salvo o disposto em lei especial, as modificações dos atos
constitutivos das pessoas jurídicas, bem como a sua transformação, incorporação, cisão ou fusão, regem-se
desde logo por este Código (art. 2.033).

Este trabalho aborda o Novo Código Cível, notadamente aos novos conceitos relativos às sociedades.

2. Sociedade Não Personificada

Embora estabeleça o Novo Código Civil que a personalidade jurídica da sociedade começa com o registro de
seus atos constitutivos, possui dispositivos que regem o que denomina de sociedade não personificada,
denominação sob a qual acolheu a sociedade em comum (antiga sociedade de fato) e sociedade por conta de
participação.

Portanto, considera-se sociedade não personificada aquela cujo ato constitutivo ainda não foi registrado no
órgão competente, ou seja, aquela que não possui personalidade jurídica.

Excetuam-se deste conceito, as sociedades anônimas e as sociedades em comandita por ações, uma vez que,
de acordo com a legislação de regência, não podem funcionar sem que sejam arquivados e publicados os seus
atos constitutivos (art. 982).

As sociedades não personificadas se subdividem em sociedade em comum e sociedade em conta de


participação.

2.1. Sociedade em Comum

A sociedade em comum, embora não tenha, ainda, seus atos constitutivos registrados, é uma sociedade de fato,
cuja existência é comprovada, independente de ter ou não contrato escrito.Os sócios, nas relações entre si ou
com terceiros, somente por escrito podem provar a existência da sociedade em comum, mas os terceiros podem
prová-la de qualquer forma (artigos 986 e 990).

O novo Código Civil, em seus artigos 986 a 990, regula a relação entre os sócios da sociedade em comum e
entre estes e terceiros,definindo que a responsabilidade dos sócios é solidária e ilimitada.

2.2. Sociedade em Conta de Participação

A sociedade em conta de participação é um outro tipo de sociedade não personificada, diferenciando-se da


sociedade em comum, uma vez que está dispensada do arquivamento de seus atos constitutivos no registro
competente. Esta sociedade não possui patrimônio próprio e nem personalidade jurídica, sendo formada para
realizar negócios de curta duração, extinguindo-se após sua concretização.

A constituição da sociedade em conta de participação independe de qualquer formalidade e pode provar-se por
todos os meios em direito admitidos. O contrato social produz efeitos somente entre os sócios, e a eventual
inscrição de seu instrumento em qualquer registro não confere personalidade jurídica à sociedade (artigos 991 a
996).

3. SOCIEDADE PERSONIFICADA

Considera-se sociedade personificada aquela que possui personalidade jurídica, obtida mediante registro de
seus atos constitutivos no órgão competente.

As sociedades personificadas se subdividem em sociedade empresária e sociedade simples.

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3.1. Sociedade Empresária

É definida como sociedade empresária àquela que tem por objeto o exercício de atividade econômica organizada
para a produção ou a circulação de bens ou de serviços, ou seja, considera-se sociedade empresária a antiga
sociedade comercial.

Antes de iniciar a atividade econômica, o empresário individual ou a sociedade empresária, que a ela for se
dedicar, deverá inscrever-se no Registro Público de Empresas Mercantis, a cargo das Juntas Comerciais (artigos
967, 968 e 1.150 do Código Civil), tendo como elemento essencial o nome empresarial.

3.1.1. Tipos Jurídicos

A sociedade empresária deve constituir-se segundo um dos seguintes tipos jurídicos:

a) sociedade em nome coletivo;

b) sociedade em comandita simples;

c) sociedade limitada;

d) sociedade anônima;

e) sociedade em comandita por ações.

3.1.1.1. Sociedade em Nome Coletivo

Exceto pelo fato de poder exercer atividade empresária, este tipo de sociedade é praticamente idêntico ao da
sociedade simples. Nesta sociedade somente podem participar pessoas físicas, respondendo todos os sócios,
solidária e ilimitadamente, pelas obrigações sociais.

Sem prejuízo da responsabilidade perante terceiros, podem os sócios, no ato constitutivo, ou por unânime
convenção posterior, limitar entre si a responsabilidade de cada um.

3.1.1.2. Sociedade em Comandita Simples

Na sociedade em comandita simples tomam parte sócios de duas categorias, a saber:

a) os comanditados, pessoas físicas, responsáveis solidária e ilimitadamente pelas obrigações sociais; e

b) os comanditários, obrigados somente pelo valor de sua quota.

As sociedades por comandita simples são regidas supletivamente pelas normas da sociedade em nome coletivo,
cabendo ao sócios comanditados os mesmos direitos e obrigações dos sócios em nome coletivo. Sem prejuízo
da faculdade de participar das deliberações da sociedade e de fiscalizar suas operações, não pode o
comanditário praticar nenhum ato de gestão nem ter o nome da firma social, sob pena de ficar sujeito às
responsabilidade de sócio comanditado.

Neste caso, o contrato deve discriminar os comanditados e os comanditários.

3.1.1.3. Sociedade Limitada

Na sociedade limitada, a responsabilidade de cada sócio é restrita ao valor de suas quotas, mas todos
respondem solidariamente pela integralização do capital social.

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Este tipo de sociedade passa a ter um regime consolidado em apenas um diploma legal, pois, a sociedade ente
denominada de sociedade por quotas de responsabilidade limitada, tinha seu regime jurídico determinado pelo
Decreto n° 3.708/19, revogado, e subsidiariamente pela Lei das Sociedades Anônimas (Lei n° 6.404/76).

A aplicação subsidiária da lei da sociedades anônimas continua sendo possível, desde que haja previsão
expressa no contrato social.

3.1.1.4. Sociedade Anônima

Na sociedade anônima ou companhia, o capital divide-se em ações, obrigando-se cada sócio ou acionista
somente pelo preço de emissão das ações que subscrever ou adquirir. A sociedade anônima rege-se por lei
especial (Lei n° 6.404/76 e disposições posteriores), aplicando-se-lhe, nos casos omissos, as disposições do
Novo Código Civil (artigos 1.088 e 1.089).

3.1.1.5. Sociedade em Comandita por Ações

Esta sociedade tem o capital dividido em ações, regendo-se pelas normas relativas à sociedade anônima.
Todavia, neste tipo societário, somente o acionista tem qualidade para administrar a sociedade e, como diretor,
responde subsidiária e ilimitadamente pelas obrigações da sociedade (artigos 1.090 a 1.092).

3.2. Sociedade Simples

É considerada sociedade simples aquela cujo objeto social seja decorrente de profissão intelectual, de natureza
científica, literária ou artística, ainda com concurso de auxiliares ou colaboradores, ou seja, considera-se
sociedade simples a antiga sociedade civil.

A sociedade simples (exceto no caso das cooperativas e de determinadas atividades reguladas por leis especiais
que imponham a doação de tipo societário específico, poderão ser constituídas de conformidade com um dos
tipos examinados nos subitens anteriores (exceto como sociedade por ações), ou não o fazendo, subordinam-se
às normas que lhes são próprias (arts. 997 a 1.000).

Neste tipo de sociedade, os bens particulares dos sócios (inclusive àqueles que ingressem em uma sociedade já
constituídas) poderão ser executados por dívidas da sociedade, mas apenas depois de executados os bens
sociais, se estes forem insuficientes para saldar as dívidas. Neste caso, os sócios responderam com o seu
patrimônio social na proporção que participem das perdas sociais, salvo se houver no contrato social cláusula
estipulando a responsabilidade solidária.

As cooperativas são consideradas sociedades simples, independentemente de seu objeto de funcionamento.

4. Quadro Resumo

A seguir apresentamos quadro resumo com a classificação das sociedades.

Sociedade Não Personificada Sociedade em Comum


Sociedade em Conta de Participação
Sociedade Simples
Sociedade em Nome Coletivo
Sociedade Personificada Sociedade em Comandita Simples
Sociedade Sociedade Limitada
Empresária Sociedade Anônima
Sociedade em Comandita por Ações

ATIVIDADES

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01) Quais são os elementos essenciais de uma sociedade?

02) Quando uma sociedade adquire personalidade jurídica?

03) Quais são os efeitos da aquisição de personalidade jurídica?

04) Defina uma sociedade em comum.

05) Defina uma sociedade em conta de participação.

06) Defina uma sociedade simples.

07) Defina sociedade em nome coletivo.

08) Defina uma sociedade em comandita simples.

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09) Defina sociedade limitada.

10) Defina o que é um condomínio de cotas.

11) Defina sociedade anônima.

12) Defina sociedade comandita por ações.

13) O que são sociedades coligadas?

DIREITO AGRÁRIO

OBJETO DO DIREITO AGRÁRIO

As principais atividades agrícolas são:

a) EXPLORAÇÃO RURAL – são as operações tendentes à obtenção dos produtos primários, ou seja, de
conseguimento dos frutos do solo e acessórios deste, esta é atividade agrária típica, por excelência, que se
retrata nos exercícios da lavoura, da pecuária, do extrativismo vegetal e animal e hortigranjearia (aves, abelhas,
hortaliças, flores, frutas, peixes, etc.).

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b) CONSERVAÇÃO DOS RECURSOS NATURAIS – métodos de conservação do solo : fechamento de


vassorocas, evitar a lixiviazaçao, provocar a fertilidade de terrenos (drenagem, ondulações), assegurar a
dessendentaçao dos rebanhos (feitura de tanques, barragens e abertura de cacimbas) ; atacar as pragas do
plantio e as doenças dos animais (dedetização e vacinação), resguardar os produtos colhidos e coletados e os
subprodutos (armazenamento, ensilagem, frigorificação) ou salvaguardar as espécies valiosas da fauna e flora
existentes no seu prédio rústico.

c) ORGANIZAÇÃO DO SISTEMA FUNDIÁRIO – sistema de colonização, com divisão equitativa da terra


para que se possa viabilizar a dinamização da produção de gêneros alimentícios, permitindo aos brasileiros, a
ocupação permanente de espaços vazios ou de redistribuição terreal ao menos favorecidos.

Na analise destas funções genéricas das atividades agrárias, podemos concluir que o objeto do direito
agrário são todos os fatos jurídicos que emergem do campo:

a) Atividade agrária;
b) Estrutura agrária;
c) Empresa agrária;
d) Política agrária;

O estudo do objeto do direito agrário engloba três aspectos:


a) ATIVIDADE IMEDIATA – o homem no uso dos recursos naturais;
b) OBJETIVOS E INSTRUMENTOS – extrativismo, caça, pesca, agricultura e pecuária;
c) ATIVIDADES CONEXAS – processos industriais e atividade de transporte de produtos agrícolas.

ATIVIDADES

14) Qual é a importância do direito agrário?

15) Quais os fatos jurídicos que são objetos genéricos do direito ambiental?

16) Quais os aspectos das atividades agroindustriais são englobados no estudo do direito agrário?

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PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS

A doutrina apresenta como princípios do direito agrário:

1) Princípio do monopólio legislativo da União (CF/88, art. 22, § 1º) - Somente a União, sob
pena de inconstitucionalidade pode legislar sobre matéria agrária; pois o objetivo é gerar
uniformidade em todo o território nacional;

2) Princípio da sobreposição do uso ao título - o simples título não legitima nem mantém
regular a situação do titular da terra na medida em que a política agrícola e fundiária exige
produtividade. O uso prepondera sobre o título. (art. 185, II; 186, III e 196, CF/88; art. 5º caput,
c/c art. 184 CF/88);

3) Princípio da Função Social da propriedade – quando a propriedade rural atende,


simultaneamente, segundo critérios e graus de exigência estabelecidos em lei, os requisitos
estabelecidos no artigo 186, CF/88 e artigo 2º e 12 do ET.

4) Princípio da Dicotomia - compreende política de reforma (agrária) e política de


desenvolvimento (política agrícola);

5) Princípio das Normas de Ordem Pública – as normas do direito agrário são normas
cogentes, impositivas, objetivando dar efetividade à função social da propriedade (art. 5º, XXIII,
CF/88), ou seja, o interesse coletivo se sobrepõe ao individual.

6) Principio da Reformulação da Estrutura Fundiária – a reformulação da estrutura fundiária é


uma necessidade constante. § 1º do art.1º da Lei 4.504/64 : “considera-se reforma agrária o
conjunto de medidas que visem a promover melhor distribuição da terra, mediante
modificações no regime de sua posse e uso, a fim de atender aos princípios de justiça e ao
aumento da produtividade”.

7) Princípio do Comunitarismo – visa o fortalecimento do espírito comunitário, através de


cooperativas e associações (art. 187, vI, CF/88);

8) Principio do Combate – tem por objetivo combater ao latifúndio, ao minifúndio, ao êxodo rural,
à exploração predatória e aos mercenários da terra;

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9) Princípio da Privatização – trata-se de principio constitucional que visa a privatização


(alienação e concessão) dos imóveis rurais públicos para pessoa físicas e jurídica, a fim de que
produzam e desenvolvam atividades agropastoris e empresas agrícolas (arts. 188 e 190,
CF/88);

10) Princípio da proteção à Propriedade Familiar - à pequena e à media propriedade; proibi-se a


desapropriação para fins de reforma agrária, da pequena e media propriedade rural, bem como
a pequena propriedade rural, desde que trabalhada pela família (art. 185, CF/88), e também
insuscetível de penhora (art. 5º, XXVII);

11) Princípio do fortalecimento da Empresa Agrária – de acordo com o art. 4º, VI do ET,
“Empresa Rural é o empreendimento de pessoa física ou jurídica, pública ou privada, que
explore econômica e racionalmente imóvel rural, dentro de condição de rendimento econômico
da região em que se situe e que explore área mínima agricultável do imóvel segundo padrões
fixados, pública e previamente pelo Poder Executivo. Para esse fim, equiparam às áreas
cultivadas, as pastagens, as matas naturais e artificiais e as áreas ocupadas com benfeitoria”.
Devem ser garantidos insumos ao amplo desenvolvimento da empresa agrária, tais como
mecanização agrícola (art. 78), assistência financeira e creditícia (art. 81 a 83), industrialização
e beneficiamento dos produtos agrícolas (art. 87 e 88), eletrificação rural e obras de
infraestrutura (art. 84), entre outras.

12) Princípio da proteção da propriedade Indígena - é o principio constitucional da proteção das


terras indígenas (art. 231, § 1º, CF/88: “são terras tradicionalmente ocupadas pelos índios as
por eles habitadas em caráter permanente, as utilizadas para suas atividades produtivas, as
imprescindíveis à preservação dos recursos ambientais necessários ao seu bem-estar e as
necessárias a sua reprodução física e cultural, segundo seus usos, costumes e tradições”. A
remoção dos índios das referidas terras só pode ser feita quando necessária à soberania
nacional ou em caso de catástrofe ou epidemia, e desde que autorizado ad referundum pelo
Congresso Nacional (art. 231, § 5º, CF/88);

13) Principio do Dimensionamento Eficaz das áreas exploráveis - é necessário uma dimensão
mínima de propriedade rural que assegure ao trabalhador e à sua família subsistência digna e
progresso econômico. Observe-se que, para fins de usucapião houve uma duplicação da área
de 25 a 50 hectares (art. 191, CF/88);

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14) Princípio da proteção do trabalhador rural – trata-se de principio constitucional na medida


em que a função social é cumprida quando a exploração no imóvel rural favoreça o bem-estar
dos trabalhadores (art. 186, § 4º);

15) Princípio da Proteção ao Meio Ambiente – de todos os princípios, talvez o mais importante
para a atualidade seja o do meio ambiente ecologicamente equilibrado (art. 225, CF/88). Só
haverá o cumprimento da função social do imóvel rural quando ocorre a “utilização adequada
dos recursos naturais disponíveis e preservação do meio ambiente (art. 186, II, CF/88)

ATIVIDADE
01) Os vereadores de um município do Paraná aprovam nova lei orgânica sobre a reforma
agrária neste município. Dê sua opinião sobre esta frase.

02) Explique o Principio do Dimensionamento Eficaz das áreas exploráveis.

03) Qual a importância do Princípio da proteção à Propriedade Familiar?

04) Qual o objetivo do Princípio da Privatização?

05) Por que são combatidos latifúndios minifúndios?

06) O Princípio da sobreposição do uso ao título promove justiça social? Explique.

07) Qual a diferença entre política agrícola e agrária?

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FUNÇÃO SOCIAL DA PROPRIEDADE

Está prevista no art. 5º e 186 da cf/88, o estatuto da terra também traz algumas ponderações sobre a
reforma agrária, estabelecendo que a função social da propriedade é de suma importância para que o particular
mantenha em sua posse, a sua propriedade e que, não atendida ela essa função, o poder público estará
extinguindo o direito a essa propriedade, pelo seu possuidor original :

Art. 12. À propriedade privada cabe intrinsecamente uma função


social e seu uso é condicionado ao bem-estar coletivo previsto na
constituição federal e caracterizado em lei.

Art. 13. O poder público promoverá a gradativa extinção das formas


de ocupação e de exploração da terra que contrariem sua função
social.

Art.18. A desapropriação por interesse social tem por fim:


a) condicionar o uso da terra à sua função social;
b) promover a justa e adequada distribuição da propriedade;
c) obrigar a exploração racional da terra;
d) permitir a recuperação social e econômica da região;
e) estimular pesquisas pioneiras, experimentação, demonstração e
assistência técnica;
f) efetuar obras de renovação, melhoria e valorização dos recursos
naturais;
g) incrementar a eletrificação e a industrialização no meio rural;
h) facultar a criação de áreas de proteção à fauna, à flora ou outros
recursos naturais, a fim de preservá-los de atividades predatórias.

Art. 186 – a função social é cumprida quando a propriedade rural


atende, simultaneamente, segundo critério e graus de exigência
estabelecidos em lei, aos seguintes requisitos :
i – aproveitamento racional e adequado;
ii – utilização adequada dos recursos naturais disponíveis e
preservação do meio ambiente;
iii – observância das disposições que regulam as relações de
trabalho;

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iv – exploração que favoreça o bem-estar dos proprietários e dos


trabalhadores.

ATIVIDADE
01) Quais as finalidades da desapropriação por interesse social?

02) Quando uma propriedade rural cumpre sua função social?

A REFORMA AGRÁRIA

CONCEITO

Reformar é a junção do vocábulo re + formare que significa dar nova forma, refazer, restaurar. Desta
forma, o direito agrário tem um compromisso com a transformação, devendo preocupar-se com a reforma
agrária, que se traduz na reformulação da estrutura fundiária. O estatuto da terra, no § 1º do artigo 1º, traz a
seguinte definição de reforma agrária:

§ 1º - Considera-se reforma agrária o conjunto de medidas que


visem a promover melhor distribuição da terra, mediante
modificações no regime de sua posse e uso, a fim de atender aos
princípios da justiça social e ao aumento de produtividade.

AS DIRETRIZES PARA A REFORMA AGRÁRIA E OS OBJETIVOS

O Estatuto da Terra nos trás uma definição jurídica, as diretrizes e os objetivos da reforma agrária.

Art. 16. A reforma agrária visa estabelecer um sistema de relações


entre o homem, a propriedade rural e o uso da terra, capaz de
promover a justiça social, o progresso e o bem estar do trabalhador
rural e o desenvolvimento econômico do país, com a gradual
extinção do minifúndio e do latifúndio.

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Parágrafo único. O instituto brasileiro de reforma agrária será o


órgão competente para promover e coordenar a execução dessa
reforma, observadas as normas gerais da presente lei e do seu
regulamento.

Art. 17. O acesso à propriedade rural será promovido mediante a


distribuição ou redistribuição de terras, pela execução de qualquer
das seguintes medidas :
a) desapropriação por interesse social;
b) doação;
c) compra e venda;
d) arrecadação dos bens vagos;
e) reversão à posse do poder público de terras de sua propriedade,
indevidamente ocupadas e exploradas, a qualquer título, por
terceiros;
f) herança ou legado

Os objetivos da reforma agrária estão contidos no artigo 16 do Estatuto da Terra.


A CF/88 definiu quem dentro da aparato estatal tem a autonomia para realizar a reforma agrária, como
será a indenização e a ritualística do processo de desapropriação será estabelecida por lei complementar (LC
76/93 e 88/96).
Art. 184 – compete à união desapropriar por interesse social, para
fins de reforma agrária, o imóvel rural que não esteja cumprindo
sua função social, mediante prévia e justa indenização em títulos da
dívida agrária, com cláusula de preservação do valor real,
resgatáveis no prazo de até vinte anos, a partir do segundo ano de
sua emissão, e cuja utilização será definida em lei.(lei nº 8.629/93).

§ 1º - as benfeitorias úteis serão indenizadas em dinheiro.


§ 2º - o decreto que declarar o imóvel como de interesse social, para
fins de reforma agrária, autoriza a união a propor ação de
desapropriação.
§ 3º - cabe à lei complementar estabelecer procedimento
contraditório especial, de rito sumário, para o processo judicial de
desapropriação.(lc 76/93 e 88/96).
§ 4º - o orçamento fixará anualmente o volume total de títulos da
dívida agrária, assim como o montante de recursos para atender ao
programa de reforma agrária no exercício;

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§ 5º - são isentas de impostos federais, estaduais e municipais as


operações de transferências de imóveis desapropriados para fins
de reforma agrária.

As benfeitorias são obras e despesas que se fazem em um bem imóvel ou móvel para conservá-lo,
melhorá-lo ou embelezá-lo. Estas benfeitorias podem ser:
BENFEITORIAS ÚTEIS – são as que visam aumentar ou facilitar o uso do bem, apesar de não serem
necessárias (ex: instalação de aparelhos sanitários modernos, construção de uma garagem);
BENFEITORIAS NECESSÁRIAS – são as que são indispensáveis à conservação do bem, para impedir
a deterioração (ex: serviços realizados no alicerce da casa que cedeu);
BENFEITORIAS VOLUPTUÁRIAS – são as de mero deleite ou recreio, têm escopo tão somente dar
comodidade àquele que as fez, não tendo qualquer utilidade por serem obras para embelezar a coisa (ex:
construção de piscina numa casa particular, decoração luxuosa num aposento).

Além das Leis Complementares, 76/93 e 88/96, que tratam do processo de desapropriação, também são
publicadas as Instruções Normativas do INCRA, que estabelecem os critérios para reforma agrária (IN/INCRA
36/2006).

ATIVIDADE

01) Defina reforma agrária e qual a sua função?

02) A quem compete realizar a desapropriação de imóveis rurais para fins sociais?

03) Quem sofre a desapropriação, recebe algum tipo de indenização? Como?

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TERRAS PASSÍVEIS DE REFORMA AGRÁRIA

O estatuto da terra (lei 4.504/64) artigo 9º, destacou, em linha de prioridade as terras públicas destinadas
à reforma agrária como as de propriedade da união que não tenham destinação específica, as terras reservadas
ao poder público para serviços ou obras de qualquer natureza, ressalvadas as pertinentes à segurança nacional,
desde que o órgão competente considere sua utilização econômica compatível com a atividade principal, sob
forma de exploração agrícola, bem como as terras devolutas da união, estados e municípios.
Já no seu artigo 12, o estatuto da terra estabelece que, no tocante “à propriedade privada da terra cabe
intrinsecamente uma função social e seu uso é condicionado ao bem-estar coletivo previsto na constituição
federal e nesta lei”.
O art. 15 prevê a necessidade de resolver com urgência a reforma em locais que estejam sob tensão
social.
Art. 15. a implantação da reforma agrária em terras particulares será
feita em caráter prioritário, quando se tratar de zonas críticas ou de
tensão social”.

TERRAS NÃO SUSCETÍVEIS DE DESAPROPRIAÇÃO

Art. 185 – são insuscetíveis de desapropriação para fins de reforma


agrária:
i – a pequena e média propriedade rural, assim definida em lei,
desde que seu proprietário não possua outra;
ii – a propriedade produtiva;
Parágrafo único - a lei garantirá tratamento especial à propriedade
produtiva e fixará normas para o cumprimento dos requisitos
relativos à sua função social.

CONDIÇOES DE USO DAS TERRAS CEDIDAS NA DE REFORMA AGRÁRIA

Art. 189 – os beneficiários da distribuição de imóveis rurais pela


reforma agrária receberão títulos de domínio ou de concessão de
uso, inegociáveis pelo prazo de dez anos.
Parágrafo único – o título de domínio e a concessão de uso serão
conferidos ao homem ou à mulher, ou a ambos, independentemente
do estado civil, nos termos e condições previstos em lei.

AQUISIÇÃO DE TERRAS POR ESTRANGEIROS

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Art. 190 – a lei regulará e limitará a aquisição ou arrendamento de


propriedade rural por pessoa física ou jurídica estrangeira e
estabelecerá os casos que dependerão de autorização do
congresso nacional (lei 5.709/71 e dl 74.965/74).

Analisemos os principais aspectos do Decreto Lei 74.965/74 que normatiza a aquisição de terras por
estrangeiros.

Art. 2º A pessoa estrangeira, física ou jurídica, só poderá adquirir


imóvel situado em área considerada indisponível à segurança
nacional mediante assentimento prévio da Secretaria Geral do
Conselho de Segurança Nacional.

Art. 5º A soma das áreas rurais pertencentes a pessoas


estrangeiras, físicas ou jurídicas, não poderá ultrapassar 1/4 (um
quarto) da superfície dos Municípios onde se situem comprovada
por certidão do Registro de Imóveis, com base no livro auxiliar de
que trata o artigo 15.

§ 1º As pessoas de mesma nacionalidade não poderão ser


proprietárias, em cada Município, de mais de 40% (quarenta por
cento) do limite fixado neste artigo.

§ 2º Ficam excluídas das restrições deste artigo as aquisições de


áreas rurais:
I - Inferiores a 3 (três) módulos;
II - Que tiveram sido objeto de compra e venda, de promessa de
compra e venda, de cessão ou de promessa de cessão, constante
de escritura pública ou de documento particular devidamente
protocolado na circunscrição imobiliária competente, e cadastrada
no INCRA em nome do promitente-comprador, antes de 10 de março
de 1969;
III - Quando o adquirente tiver filho brasileiro ou for casado com
pessoa brasileira sob o regime de comunhão de bens.

Art. 6º Ao estrangeiro que pretende imigrar para o Brasil é facultado


celebrar, ainda em seu país de origem, compromisso de compra e
venda do imóvel rural desde que, dentro de 3 (três) anos, contados

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da data do contrato, venha fixar domicílio no Brasil e explorar o


imóvel.

Art. 7º A aquisição de imóvel rural por pessoa física estrangeira não


poderá exceder a 50 (cinqüenta) módulos de exploração indefinida,
em área contínua ou descontínua.

§ 5º O Presidente da República, ouvido o Conselho de Segurança


Nacional, poderá aumentar o limite fixado neste artigo.

Art. 8º Nos loteamentos rurais efetuados por empresas particulares


de colonização, a aquisição e ocupação de, no mínimo, 30% (trinta
por cento) da área total, serão feitas obrigatoriamente por
brasileiros.

Art. 11. A pessoa jurídica estrangeira, autorizada a funcionar no


Brasil, ou a pessoa jurídica brasileira, na hipótese do artigo 1º § 1º,
só poderão adquirir imóveis rurais quando estes se destinem à
implantação de projetos agrícolas pecuários, industriais, ou de
colonização vinculados aos seus objetivos estatuários.

Art. 15. Os Cartórios de Registro de Imóveis manterão cadastro


especial em livro auxiliar das aquisições de terras rurais por
pessoas estrangeiras, físicas e jurídicas, no qual se mencionará:
I - o documento de identidade das partes contratantes ou dos
respectivos atos de constituição, se pessoas jurídicas;
II - memorial descritivo do imóvel, com área, características, limites
e confrontações;
III - a autorização do órgão competente, quando for o caso;
IV - as circunstâncias mencionadas no § 2º, do artigo 5º.

Art. 18. Salvo nos casos previstos em legislação de núcleos


coloniais onde se estabeleçam em lotes rurais, como agricultores,
estrangeiros imigrantes, é vedada, a qualquer título a doação de
terras da União ou dos Estados a pessoas estrangeiras, físicas ou
jurídicas.

USUCAPIÃO

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Respeitando os princípios constitucionais de uso social da terra e da soberania do uso sobre o título de
propriedade, foi criado o instituto do usucapião. O art. 191 da CF/88 resguarda a importância do trabalho do
homem, pois é este que gera alimentos, riqueza e justiça social. Portanto, o trabalho do homem deve superar o
título de posse na questão dos imóveis.

Art. 191 – aquele que, não sendo proprietário de imóvel rural ou


urbano, possua como seu, por cinco anos ininterruptos, sem
oposição, área de terra, em zona rural, não superior a cinqüenta
hectares, tornando-a produtiva por seu trabalho ou de sua família,
tendo nela moradia, adquirir-lhe-á a propriedade. (lei 5.709/71-
usucapião pró-labore)
Parágrafo único – os imóveis públicos não serão adquiridos por
usucapião.

ATIVIDADE
01) O que significa usucapião e quais as condições para sua realização em meio rural?

02) Em que situação pode ocorrer a cessão de terras do estado para estrangeiros?

03) Em que situações as empresas estrangeiras podem adquirir imóveis rurais?

04) Qual limite de área do imóvel rural que pode ser adquirido por pessoa física estrangeira?

05) Qual limite da área de um município podem ser adquiridas por pessoas estrangeiras?

06) Quais as terras suscetíveis de reforma agrária?

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07) Quais as terras insuscetíveis de reforma agrária?

08) As terras cedidas em reforma agrária podem ser negociadas?

DEFINIÇÃO DE IMÓVEL RURAL

Para a maioria dos doutrinadores, se o imóvel for destinado para moradia, comércio ou à industria, ele é
urbano; se for destinado à agricultura ou pecuária, ele é rural e também é chamado de “rústico”. Neste sentido o
art. 4º, inciso I, da lei nº 8.629/93 estabelece o seguinte critério :

Art. 4º- Para efeitos desta Lei conceituam-se:


I –Imóvel Rural – o prédio rústico de área contínua, qualquer que
seja a sua localização, que se destine ou possa se destinar à
exploração agrícola, pecuária, extrativa vegetal, florestal ou
agroindustrial.

Assim, segundo a jurisprudência dominante, os sítios ou chácaras de recreio são considerados imóveis
urbanos e são tributados pelo IPTU.

O legislador pátrio classificou os imóveis rurais da seguinte forma :


1 – Propriedade familiar;
2 – Módulo Rural
3 - Módulo Fiscal
4 - Minifúndio;
5 – Latifúndio.

PROPRIEDADE FAMILIAR

Segundo o inciso II do artigo 4º do Estatuto da Terra considera-se:

Art. 4. Para efeitos desta Lei, definem-se:

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(...)
II. “Propriedade Familiar o imóvel que, direta e pessoalmente for
explorado pelo agricultor e sua família, lhes absorvendo toda a
força do trabalho, garantindo-lhes a subsistência e o progresso
social e econômico, com área máxima fixada para cada região e tipo
de exploração, e eventualmente trabalhado por terceiros.”

Assim, a propriedade familiar caracteriza-se pelos seguintes elementos :


1. exploração direta e pessoal por uma família, absorvendo-lhe toda a força de trabalho;
2. área de um módulo rural, vale dizer, compatível com o tipo de exploração, conforme a região;
3. possibilidade de eventual ajuda de terceiros.

MÓDULO RURAL (FRAÇÃO MÍNIMA DE PARCELAMENTO)

Paulo Tormin o define como “a área de terra que, trabalhada direta e pessoalmente por uma família de
composição média, com auxílio apenas eventual de terceiro, se revela necessária para a subsistência e ao
mesmo tempo suficiente como sustentáculo social e econômico da referida família.”

Conforme o art. 4º, inciso III do ET, a área do módulo rural é a mesma fixada para a propriedade familiar
:
Art. 4o. Para efeitos desta Lei, definem-se:
(...)
III – “Módulo Rural”, a área fixada nos termos do inciso anterior.

Desta forma, tem-se que modulo rural é a medida adotada para o imóvel rural classificado como
“propriedade familiar”. Para aclarar um pouco mais, o Decreto nº 55.891/65, trouxe-nos a seguinte informação:

“Art. 11. O módulo rural, definido no inciso III do art. 4º do Estatuto


da Terra, tem como finalidade primordial estabelecer uma unidade
de medida que exprima a interdependência entre a dimensão, a
situação geográfica dos imóveis rurais e a forma e condições de
seu aproveitamento econômico.

Parágrafo Único. A fixação do dimensionamento econômico do


imóvel que, para cada zona de características ecológicas e
econômicas homogêneas e para os diversos tipos de exploração,
representará o módulo, será feita em função:
a) da localização e dos meios de acesso do imóvel em relação aos
grandes mercados;
b) das características ecológicas das áreas em que se situam;

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c) dos tipos de exploração predominantes na respectiva zona.

Diante da definição legal, pode-se dizer que o módulo rural apresenta 6 (seis) características que o
identificam :
1) É uma medida de área;
2) Suficiente para absorver a mão-de-obra do agricultor e sua família’
3) Varia de acordo com a região do país;
4) Varia de acordo com o tipo de exploração da terra;
5) Deve possibilitar uma renda mínima ao homem que nele trabalha – salário mínimo;
6) Deve permitir o progresso social ao homem que o habita.

O art. 5º do ET determina que a dimensão da área dos módulos de propriedades rurais será fixada na
conformidade com as características econômicas e ecológicas homogêneas, de cada zona, de acordo com os
tipos de exploração rural que nela possam ocorrer.
Quem estabelece a área em hectare de módulo rural de cada região do país é o INCRA, que já mapeou
a área e concluiu que no país existem 242 regiões e sub-regiões, considerando sua homogeneidade e
características econômicas e ecológicas, e que a exploração da terra pode ser agrupada em 5 tipos diferentes.

Segundo o tipo de exploração ou atividade rural, o módulo será denominado de:


a) exploração hortigranjeira , inclusive a pecuária de pequeno porte (plantação de tomate, alface,
cenoura, etc.;
b) lavoura permanente (plantação de café, parreira e outros que produza durante vários anos);
c) lavoura temporária (plantação sazonal - de milho, arroz, feijão, etc);
d) exploração pecuária : de médio porte ou grande porte : boi , cavalo, etc.;
e) exploração floresta l (plantação de árvores para corte: eucalipto e acácia-negra).

Dessa forma, o cálculo para a fixação do módulo rural, que é de competência do INCRA, se faz através
dos dados cadastrais fornecidos pelo proprietário ou possuidor do imóvel. Existem 1.210 tipos diferentes de
módulo rural, sendo o menor deles de 2 (dois) hectares, e o maior, de 120 (cento e vinte) hectares.

MÓDULO FISCAL

Tal modalidade não consta no rol de propriedades rurais contidas no artigo 4º do Estatuto da Terra. Lei
nº 4.504/64. É uma espécie de módulo rural criado pela Lei nº 6.476/79. Surgiu para estabelecer regras para o
lançamento e a tributação do ITR. No entanto o legislador, através da Lei nº 8.847/94, abandonou o parâmetro
do módulo fiscal como base de cálculo para tributar o ITR, retornando ao parâmetro do “hectare”. Assim, o
módulo fiscal ganhou outra função importante: estabelecer o conceito de pequena, média e grande propriedade
para efeito de desapropriação por interesse social, para fins de reforma agrária.

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A diferença entre módulo rural e módulo fiscal é que o primeiro é calculado para cada imóvel rural em
separado, e sua área reflete o tipo de exploração predominante no imóvel rural, segundo sua região de
localização; enquanto que o segundo é estabelecido para cada município, e procura refletir a área mediana dos
Módulos rurais dos imóveis rurais do município.

O Estatuto da Terra, no capitulo I – Da Tributação da Terra, nos artigos 48 e 49 fala sobre o ITR e no
artigo 50 assim se pronuncia:

Art. 50. Para cálculo do imposto, aplicar-se-á sobre o valor da terra


nua, constante da declaração para cadastro, e não impugnado pelo
órgão competente, ou resultante de avaliação, a alíquota
correspondente ao número de módulos fiscais do imóvel, de acordo
com a tabela adiante: (Redação dada pela Lei nº 6.746, de 1979)

NÚMERO DE MÓDULOS FISCAIS Alíquotas

Até 2 .................................................................................................................... 0,2%

Acima de 2 até 3 ................................................................................................. 0,3%

Acima de 3 até 4 ................................................................................................. 0,4%

Acima de 4 até 5 ................................................................................................. 0,5%

Acima de 5 até 6 ................................................................................................. 0,6%

Acima de 6 até 7 ................................................................................................. 0,7%

Acima de 7 até 8 ................................................................................................. 0,8%

Acima de 8 até 9 ................................................................................................. 0,9%

Acima de 9 até 10 ............................................................................................... 1,0%

Acima de 10 até 15 ............................................................................................. 1,2%

Acima de 15 até 20 ............................................................................................. 1,4%

Acima de 20 até 25 ............................................................................................. 1,6%

Acima de 25 até 30 ............................................................................................. 1,8%

Acima de 30 até 35 ............................................................................................. 2,0%

Acima de 35 até 40 ............................................................................................. 2,2%

Acima de 40 até 50 ............................................................................................. 2,4%

Acima de 50 até 60 ............................................................................................. 2,6%

Acima de 60 até 70 ............................................................................................. 2,8%

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Acima de 70 até 80 ............................................................................................. 3,0%

Acima de 80 até 90 ........................................................................................... 3,2%

Acima de 90 até 100 ........................................................................................... 3,4%

Acima de 100 ...................................................................................................... 3,5%

§ 1º O imposto não incidirá sobre o imóvel rural, ou conjunto de


imóveis rurais, de área igual ou inferior a um módulo fiscal, desde
que seu proprietário, titular do domínio útil ou possuidor, a
qualquer título, o cultive só ou com sua família, admitida a ajuda
eventual de terceiros. (Redação dada pela Lei nº 6.746, de 1979)

Para determinar o número de módulos fiscais (MF) de um determinado imóvel rural, deve-se dividir a sua
área aproveitável total pelo módulo fiscal fixado para o município de sua localização.
A área aproveitável nem sempre coincide com a dimensão total do imóvel, pois deve-se descontar as
áreas consideradas não aproveitáveis (não passíveis de exploração agrícola, pecuária ou florestal), relacionadas
no §4º do artigo 50 do Estatuto da Terra:

§4º - Para os efeitos desta Lei, constitui área aproveitável do imóvel


rural a que for passível de exploração agrícola, pecuária ou
florestal. Não se considera aproveitável:
a) a área ocupada por benfeitoria;
b) a área ocupada por floresta ou mata de efetiva preservação
permanente ou reflorestada com essências nativas;
c) a área comprovadamente imprestável para qualquer exploração
agrícola, pecuária ou florestal.

O módulo fiscal (MF) é medido em hectares e é definido por Município, cuja tabela está anexa à
Instrução Especial Incra nº 20, de 1980. Os municípios que foram criados após 1980 tiveram o valor de seu
módulo fiscal fixado por outros atos normativos daquela autarquia federal.

São dois pontos relevantes para o proprietário rural envolvendo o módulo fiscal:

a) a previsão da gratuidade dos trabalhos técnicos georreferenciados aos proprietários de imóveis rurais com
área total não excedente a 4 módulos fiscais (Lei dos Registros Públicos, artigo 176, §3º, e artigo 225, §3º); e

b) a isenção da obrigatoriedade da reserva legal para os imóveis com área não superior a 4 módulos fiscais no
projeto do novo Código Florestal (substitutivo ao PL nº 1876/99 e apensos).

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MINIFÚNDIO

Também denominado de parvifúndio em alguns países estrangeiros, ele se caracteriza por uma porção de terra
tão pequena que dificulta o seu próprio desenvolvimento. O minifúndio está definido no inciso IV, do art. 4º do
ET: que o define como o imóvel rural de área e possibilidades inferiores às da propriedade familiar.
Segundo Paulo Tormim, minifúndio :

“é a gleba de terra que, embora bem trabalhada pelo proprietário com sua família, e,
eventualmente com a ajuda de terceiro, se revela insuficiente para o sustento e o progresso social e
econômico do mesmo conjunto familiar”.

Art. 4. Para efeitos desta Lei, definem-se:


(...)
IV. “minifúndio”, o imóvel rural de área e possibilidades inferiores
às da propriedade familiar.

Desta forma, busca-se a extinção dos minifúndios já existentes, posto que essa forma de organização
não oferece condição bastante de exploração suficiente para o sustento do proprietário e de sua família. O ideal
é substituição gradativa dos minifúndios pela propriedade familiar; eis que esse não gerará a criação de
empregos.

LATIFÚNDIO

É o imóvel rural que, tendo área igual ou superior ao módulo, é mantido inexplorado, explorado
incorretamente, ou que tem dimensão incompatível com a justa distribuição da terra.
No Brasil há dois tipos de latifúndio: Latifúndio por extensão (territorial) e, Latifúndio por exploração (não
explorado ou explorado de forma incorreta).

O artigo 4º do E T estabeleceu os seus limites:

Art. 4º. Para os efeitos desta Lei, definem-se


(...)
V – Latifúndio, o imóvel rural que :
a) exceda a dimensão máxima fixada na forma do art. 46, § 11º,
alínea b, desta Lei, tendo-se em vista as condições ecológicas,
sistemas agrícolas regionais e o fim a que se destine;
b) não excedendo o limite referido na alínea anterior, e tendo área
igual ou superior à dimensão do módulo de propriedade rural, seja
mantido inexplorado em relação às possibilidades físicas,
econômicas e sociais do meio, com fins especulativos, ou seja

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deficiente ou inadequadamente explorado, de modo a vedar-lhe a


inclusão no conceito de empresa rural (...)”.

O Decreto nº 84.685, de 06.05.80, que regulamentou a Lei nº 6.746/79, em seu artigo 22 estabeleceu
nova conceituação ao latifúndio, dispondo o seguinte:

Art. 22. Para efeito do art. 4º, inc. IV e V, e no art. 46, § 1º, alínea b,
da Lei 4.504/64, considera-se :
I – (...)
II – Latifúndio, o imóvel rural que:
a) exceda a seiscentas vezes o módulo fiscal calculado na forma do
art. 5º;
b) não excedendo o limite referido no inciso anterior e tendo
dimensão igual ou superior um módulo a um módulo fiscal, seja
mantido inexplorado em relação às possibilidades físicas,
econômicas e sociais do meio, com fins especulativos, ou seja,
deficiente e inadequadamente explorado, de modo a vedar-lhe a
inclusão no conceito de empresa rural.

Assim, o legislador classificou o latifúndio em duas espécies :


a) por extensão - tamanho do imóvel = 600 vezes o módulo fiscal e,
b) por exploração – pelo mau uso da terra, pela não-exploração.

MÓDULO DE EXPLORAÇÃO INDEFINIDA (MEI)

Nos termos do Decreto nº 74.965, de 1971, o valor do módulo de exploração indefinida é determinado
por ato administrativo do Incra:

Art. 4º. Compete ao Instituto Nacional de Colonização e Reforma


Agrária (INCRA) fixar, para cada região, o módulo de exploração
indefinida, podendo modificá-lo sempre que houver alteração das
condições econômicas e sociais da região.

A Instrução Especial/Incra nº 5-A, de 1973, traz todas as espécies de módulos rurais classificados
quanto ao tipo de exploração existente no imóvel, inclusive o módulo de exploração indefinida (MEI).

FRAÇÃO MÍNIMA DE PARCELAMENTO (FMP)

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A fração mínima de parcelamento é a menor dimensão que um imóvel rural poderá ter, salvo situações
especialíssimas previstas em lei.
A regra foi inicialmente estampada no artigo 65 do Estatuto da Terra:

Art. 65 - O imóvel rural não é divisível em áreas de dimensão inferior


à constitutiva do módulo de propriedade rural.

§1º - Em caso de sucessão "causa mortis" e nas partilhas judiciais


ou amigáveis, não se poderão dividir imóveis em áreas inferiores às
da dimensão do módulo de propriedade rural.

Nesse dispositivo legal, onde se lê “módulo de propriedade rural” leia-se “fração mínima de
parcelamento”, denominação atual segundo a legislação posterior (Lei nº 5.868/1972 – Sistema Nacional de
Cadastro Rural):

Art. 8º - Para fins de transmissão, a qualquer título, na forma do


artigo 65 da Lei nº 4.504, de 30 de novembro de 1964, nenhum
imóvel rural poderá ser desmembrado ou dividido em área de
tamanho inferior à do módulo calculado para o imóvel ou da fração
mínima de parcelamento fixado no parágrafo primeiro deste artigo,
prevalecendo a de menor área.

A lei, no entanto, prevê algumas exceções à vedação de parcelamento abaixo da FMP, sendo a hipótese
mais comum a seguinte:

§4º - O disposto neste artigo não se aplica aos casos em que a


alienação da área se destine comprovadamente a sua anexação ao
prédio rústico, confrontante, desde que o imóvel do qual se
desmembre permaneça com área igual ou superior à fração mínima
do parcelamento.

§5º - O disposto neste artigo aplica-se também às transações


celebradas até esta data e ainda não registradas em Cartório, desde
que se enquadrem nas condições e requisitos ora estabelecidos.

O Decreto nº 62.504/68 traz outras hipóteses mais específicas de mitigação da regra da fração mínima
de parcelamento, como, por exemplo, na criação, por desmembramento, de imóvel de pequena dimensão para a
instalação de posto de combustível na beira de estrada (artigo 2º, inciso II, letra a, nº 1).

CLASSIFICAÇAO DOUTRINÁRIA DE PROPRIEDADE RURAL

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A doutrina e a Lei 8.629/93 ainda faz menção sobre à seguinte classificação da propriedade :

a) Pequena Propriedade – “imóvel rural de área compreendida entre 1 a 4 módulos fiscais”. Art. 4º, II, da
Lei 8.629/93, que só definiu o tamanho da área, deixando de lado o componente familiar ínsito na regra
constitucional de sua impenhorabilidade ditada no inc. XXVI do art. 5º CF/88;
b) Média Propriedade - “imóvel rural de área superior a 4 até 15 módulos fiscais”. Art. 4º, III, da Lei
8.629/93, que também só definiu o tamanho da área, deixando de lado o componente familiar ínsito na regra
constitucional de sua impenhorabilidade ditada no inc. XXVI do art. 5º CF/88;

ATIVIDADE

01) Qual a diferença entre módulo rural e módulo fiscal?

02) Defina propriedade familiar e parcela de fracionamento mínimo.

03) Defina módulo de exploração indefinida.

04) Segundo a legislação brasileira atual, o que um minifúndio?

05) Segunda a legislação brasileira atual, o que é um latifúndio?

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06) Quais as aplicações da definição dos módulos fiscais de uma propriedade?

CADASTRO RURAL REGISTRO JUNTO AO INCRA

O cadastro rural foi implantado no Brasil através do art. 46 do ET e regulamentado pelo art. 26 e segs.
do Decreto nº 55.891/65. A Lei 5.868 de 12/12/1972 criou o sistema de Cadastro rural. Diz o ET:

Art. 46. O INCRA promoverá levantamentos, com utilização, nos


casos indicados, dos meios previstos no Capitulo II do Título I, para
elaboração do cadastro dos imóveis rurais em todo o país,
mencionando:

I – Dados para a caracterização dos imóveis rurais com indicação:


a) do proprietário e de sua família;
b) dos títulos de domínio, da natureza da posse e da forma de
administração;
c) da localização geográfica;
d) da área com descrição das linhas de divisas e nome dos
respectivos confrontantes;
e) das dimensões das testadas por vias públicas;
f) do valor das terras, das benfeitorias, dos equipamentos e das
instalações existentes discriminadamente;

II – natureza das vias de acesso e respectivas distancias dos


centros demográficos mais próximos com população:
a) até 5.000 habitantes;
b) de mais de 5.000 a 10.000 habitantes;
c) de mais de 10.000 a 20.000 habitantes;
d) de mais de 20.000 a 50.000 habitantes;
e) de mais de 50.000 a 100.000 habitantes;
f) de mais de 100.000 habitantes;

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III – condições de exploração e do uso da terra indicando:


a) as percentagens da superfície total em cerrados, matas,
pastagens, glebas de cultivo (especificadamente em exploração e
inexplorados) e em áreas inaproveitáveis;
b) os tipos de cultivo e de criação, as formas de proteção e
comercialização dos produtos;
c) os sistemas de contrato de trabalho, com discriminação de
arrendatários, parceiros e trabalhadores rurais;
d) as práticas conservacionistas empregadas e o grau de
mecanização;
e) os volumes e os índices médios relativos à produção obtida;
f) as condições para o beneficiamento dos produtos agropecuários.

Em 1.965, foram criados diversos mecanismos para executar a Reforma Agrária e o Estatuto da Terra
criou o IBRA (Instituto Brasileiro De Reforma Agrária) para esse fim específico. Entretanto, em 1.969 o governo
militar detectou vários problemas de corrupção civil junto a esse órgão, e ele foi substituído, em 1.971, pelo
INCRA, que ficou vinculado ao Ministério da Agricultura e não mais à Presidência da República.
O cadastro rural foi criado com a finalidade de desvendar a natureza específica e global dos imóveis
rurais do País.

OBJETIVOS DO CADASTRO RURAL (ART. 46, ET)

Os objetivos do cadastramento do Imóvel rural era o de obter informações econômicas e sociais para
poder gerar informações fiscais. Assim, os objetivos se agrupam da seguinte forma:

1) Levantar dados para caracterização dos imóveis rurais com a indicação:


a) do proprietário e de sua família;
b) dos títulos de domínio, da natureza da posse e da forma de administração;
c) da localização geográfica;
d) da área com descrição das linhas de divisae nome dos respectivos confrontantes;
e)das dimensões das testadaspara vias públicas;
f) do valor das terras, das benfeitorias, dos equipamentos e das instalações existentes
discriminadamente;

2) Descobrir a natureza e condições das vias de acesso e respectivas distâncias dos centros
demográficos mais próximos com populações entre 5.000 a 100.000 habitantes;

3) Descobrir condições de exploração e do uso, indicando :

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a) as percentagens de superfície total em cerrados, matas, pastagens, cultivo e áreas


inaproveitáveis;
b) os tipos de cultivo e de criação as formas de proteção e comercialização dos produtos;
c) os sistemas de contrato de trabalho, com discriminação de arrendatários, parceiros e
trabalhadores rurais;
d) as práticas conservacionistas empregadas e o grau de mecanização;
e) os volumes e os índices médios relativos à produção obtida;
f) as condições para o beneficiamento dos produtos agropecuários.

4) Reestruturar o cálculo do Imposto Territorial Rural, cuja informação tem conexão direta com a Receita
Federal.

ESPÉCIES DE CADASTRO RURAL

a) De imóveis rurais (conhecimento ao Estado dos imóveis existentes).


b) de proprietários rurais (conhecimento ao Estado da concentração de Terras nas mãos de nacionais e
estrangeiros).
c) De arrendatários e parceiros; (conhecimento ao Estado sobre a situação de terceiros nas
propriedades e possibilitar-lhes os benefícios do crédito agrícola).
d) De terras públicas; (conhecimento ao Estado das terras da União, estado, Distrito Federal e
Municípios).
e) Fiscal de imóvel rural (conhecimento ao Estado, para tributar).

INSCRIÇÃO NO CADASTRO RURAL

É realizado através do formulário CAFIR – Cadastro Fiscal de Imóveis Rurais, do Ministério da Fazenda
– Secretaria da Receita Federal, que deve ser preenchido e declarado pelo possuidor da terra e que contém
todos os dados necessários para o cadastramento e atualização do imóvel.

ATIVIDADE
01) Como é realizado o cadastro rural?

02) Quais as espécies de cadastro rural que existem no Brasil?

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03) Quais os objetivos do cadastro rural?

04) Quais os dados são citados no cadastro rural para caracterizar a propriedade rural?

POLÍTICA DE TRIBUTAÇÃO FUNDIÁRIA

O tributo básico que incide sobre os imóveis rurais, atualmente é o ITR – Imposto Territorial rural,
previsto no art. 29 do CTN e art. 153, VI da CF/88, cuja competência é da União Federal.
Os critérios adotados para o cálculo do ITR é o da progressividade e regressividade, levando-se em
conta os seguintes fatores:

a) o valor da terra nua,


b)a área do imóvel rural;
c) o grau de utilização da terra na exploração agrícola, pecuária e florestal; .
d) o grau de eficiência obtido nas diferentes explorações, e e) a área total no país, do conjunto de
imóveis rurais de um mesmo proprietário.

Assim, conforme artigo 49, ET, quanto menos produtiva for a propriedade, ela paga mais impostos; e
quanto mais produtiva for, pagará menos impostos.

Art. 49. As normas gerais para a fixação do imposto sobre a


propriedade territorial rural obedecerão a critérios de
progressividade e regressividade, levando-se em conta os
seguintes fatores:
I - o valor da terra nua; (Redação dada pela Lei nº 6.746, de 1979)

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II - a área do imóvel rural; (Redação dada pela Lei nº 6.746, de 1979)


III - o grau de utilização da terra na exploração agrícola, pecuária e
florestal;
IV - o grau de eficiência obtido nas diferentes explorações;
V - a área total, no País, do conjunto de imóveis rurais de um
mesmo proprietário.
§ 1º Os fatores mencionados neste artigo serão estabelecidos com
base nas informações apresentadas pelos proprietários, titulares do
domínio útil ou possuidores, a qualquer título, de imóveis rurais,
obrigados a prestar declaração para cadastro, nos prazos e
segundo normas fixadas na regulamentação desta Lei.
§ 2º O órgão responsável pelo lançamento do imposto poderá
efetuar o levantamento e a revisão das declarações prestadas pelos
proprietários, titulares do domínio útil ou possuidores, a qualquer
título, de imóveis rurais, procedendo-se a verificações "in loco" se
necessário.
§ 3º As declarações previstas no parágrafo primeiro serão
apresentadas sob inteira responsabilidade dos proprietários,
titulares do domínio útil ou possuidores, a qualquer título, de imóvel
rural, e, no caso de dolo ou má-fé, os obrigará ao pagamento em
dobro dos tributos devidos, além das multas decorrentes e das
despesas com as verificações necessárias.
§ 4º Fica facultado ao órgão responsável pelo lançamento, quando
houver omissão dos proprietários, titulares do domínio útil ou
possuidores, a qualquer título, de imóvel rural, na prestação da
declaração para cadastro, proceder ao lançamento do imposto com
a utilização de dados indiciários, além da cobrança de multas e
despesas necessárias à apuração dos referidos dados.

A Lei nº 11.205/2005 que regulamenta o inciso III do § 4º do art. 153 da CF, possibilitou que a Secretária
da Receita Federal firmar convênio com os municípios e o Distrito Federal, delegando-lhes atribuições de
fiscalização, lançamento de crédito tributário e cobrança do ITR. A IN nº 642 de 12.04.2006 delineia o modelo de
convênio.

IMUNIDADES DO ITR:

Art. 2º Nos termos do art. 153, § 4º, in fine, da Constituição, o


imposto não incide sobre pequenas glebas rurais, quando as
explore, só ou com sua família, o proprietário que não possua outro
imóvel.

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Parágrafo único. Para os efeitos deste artigo, pequenas glebas


rurais são os imóveis com área igual ou inferior a:
I - 100 ha, se localizado em município compreendido na Amazônia
Ocidental ou no Pantanal mato-grossense e sul-mato-grossense;
II - 50 ha, se localizado em município compreendido no Polígono
das Secas ou na Amazônia Oriental;
III - 30 ha, se localizado em qualquer outro município.

ISENÇÕES DO ITR

Art. 3º São isentos do imposto:


I - o imóvel rural compreendido em programa oficial de reforma
agrária, caracterizado pelas autoridades competentes como
assentamento, que, cumulativamente, atenda aos seguintes
requisitos:
a) seja explorado por associação ou cooperativa de produção;
b) a fração ideal por família assentada não ultrapasse os limites
estabelecidos no artigo anterior;
c) o assentado não possua outro imóvel.
II - o conjunto de imóveis rurais de um mesmo proprietário, cuja
área total observe os limites fixados no parágrafo único do artigo
anterior, desde que, cumulativamente, o proprietário:
a) o explore só ou com sua família, admitida ajuda eventual de
terceiros;
b) não possua imóvel urbano.

EXECUÇÃO FISCAL DO ITR

É a forma de cobrança judicial do tributo. O procedimento está descrito na Lei Federal nº 11.250/05 e na
IN SRF nº 643 de 12 abril de 2006. O Título executivo é a certidão de dívida ativa, que tem força de liquidez e
certeza.

DEFESA DO CONTRIBUINTE

Ocorre por duas vias: a administrativa e a judicial.

ATIVIDADE

01) Quais as normas gerais para fixação do valor do imposto territorial rural?

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02) Quais as fontes das informações para a fixação do valor do ITR?

03) Quais propriedades são isentas do ITR?

04) Quais propriedades são imunes do ITR?

CONTRIBUIÇÃO SINDICAL RURAL

As normas e enquadramento para a Contribuição Sindical Rural, foram instituídos pelo Decreto-Lei
1.166/71, com a redação dada pelo art. 5º da Lei 9.701/1998.
A cobrança é efetuada pela Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), representante do
Sistema Sindical Rural.

TRABALHADOR RURAL

Considera-se trabalhador rural para efeito de enquadramento sindical:

• A pessoa física que presta serviço a empregador rural mediante remuneração de qualquer espécie;

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DIREITO AGRÁRIO E AMBIENTAL
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• Quem, proprietário ou não, trabalhe individualmente ou em regime de economia familiar, assim


entendido o trabalho dos membros da mesma família, indispensável à própria subsistência e exercido
em condições de mútua dependência e colaboração, ainda que com ajuda eventual de terceiros.
• Os proprietários de mais de um imóvel rural, desde que a soma de suas áreas seja superior a dois
módulos rurais da respectiva região.

EMPREGADOR RURAL

Considera-se empresário ou trabalhador rural para efeito de enquadramento sindical:

• A pessoa física ou jurídica que tendo empregado empreende, a qualquer título, atividade econômica
rural;
• Quem, proprietário ou não e mesmo sem empregado, em regime de economia familiar, explore imóvel
rural que lhe absorva toda a força de trabalho e lhe garanta a subsistência e progresso social e
econômico em área igual ou superior à dimensão do módulo rural da respectiva região;
• Os proprietários de mais de um imóvel rural, desde que a soma de suas áreas seja superior a dois
módulos rurais da respectiva região.

CÁLCULO DA CONTRIBUIÇÃO

O cálculo da contribuição sindical rural é efetuado com base nas informações prestadas pelo proprietário
rural ao Cadastro Fiscal de Imóveis Rurais (CAFIR), administrado pela Secretaria da Receita Federal.

Para o cálculo da Contribuição Sindical Rural devem-se observar as distinções de base de cálculo para
os contribuintes pessoas físicas e jurídicas.

Pessoa Física

A Contribuição é calculada com base no Valor da Terra Nua Tributável (VTNt) da propriedade, constante
no cadastro da Secretaria da Receita Federal, utilizado para lançamento do Imposto Territorial Rural (ITR).

Pessoa Jurídica

A Contribuição é calculada com base na Parcela do Capital Social - PCS atribuída ao imóvel.

VALOR DO PAGAMENTO

A partir do exercício de 1998 lançou-se uma única guia por contribuinte, contemplando todos os imóveis
de sua propriedade declarados à Receita Federal.
Para a pessoa jurídica, o valor base para o cálculo corresponde à soma das parcelas do capital social.

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Para pessoa física, o valor base para o cálculo corresponde à soma das parcelas do VTN tributável de
todos os seus imóveis rurais no País, conforme declaração feita pelo próprio produtor à Secretaria da Receita
Federal.

A tabela abaixo explica como calcular o valor que o produtor irá pagar de Contribuição Sindical Rural,
conforme o inciso III do artigo 580 da CLT, com redação dada pela Lei nº 7.047/82:

Classes de Capital Social ou


Valor de Terra Nua Tributável Alíquota Parcela adicional
(em R$)

Até 2.483,25 Contribuição Mínima de R$ 19,87 -

2.483,26 a 4.966,50 0,80% -


4.966,51 a 49.665,00 0,20% 29,8
49.665,01 a 4.966.500,00 0,10% 79,46
4.966.500,01 a 26.488.000,00 0,02% 4.052,66
Contribuição Máxima de R$
Acima de 26.488.000,00 -
9.350,26

Considerando a variação do INPC (Índice Nacional de Preços ao Consumidor), no período de outubro / 2006 a outubro / 2007, a tabela foi
corrigida em 5,08%.
Tabela para cálculo da Contribuição Sindical Rural vigente a partir de 1º de janeiro de 2008.

MODO DE CALCULAR A CONTRIBUIÇÃO SINDICAL

1- Valor da Capital Social ou da terra nua tributável dos imóveis do contribuinte: R$ 50.000,00.
2- Como a tabela é progressiva, o valor da contribuição corresponde à soma da aplicação das alíquotas
sobre a parcela do capital social/VTN tributável distribuído em cada classe.
A parcela adicional constante da tabela visa apenas simplificar o cálculo da contribuição.

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COMO PAGAR

Uma guia bancária, já preenchida, com o valor da contribuição sindical rural, é enviada ao produtor rural
pela CNA, que poderá pagá-la em qualquer agência bancária, até a data do vencimento.

Após essa data, deverá procurar uma das agências do Banco do Brasil para fazer o pagamento da sua
contribuição, no prazo máximo de até seis meses após o vencimento.

PENALIDADES

Para o não pagamento da contribuição e pagamento em atraso, as penalidades aplicáveis estão


previstas na CLT, que são:

Não pagamento - artigo 608 da CLT


O sistema Sindical Rural promoverá a cobrança judicial.
Implicações:
Sem o comprovante de pagamento da Contribuição Sindical Rural o produtor rural (pessoa física ou
jurídica): I - não poderá participar de processo licitatório;
II – não obterá registro ou licença para funcionamento ou renovação de atividades para os
estabelecimentos agropecuários;
III – a não observância deste procedimento pode, inclusive, acarretar, de pleno direito, a nulidade dos
atos praticados, nos itens I e II, conforme artigo 608 da CLT.

Pagamento em atraso - artigo 600 da CLT


Se o pagamento for feito após a data de vencimento, sofrerá multa de 10% nos 30 (trinta) primeiros dias,
mais um adicional de 2% por mês subsequente de atraso; juros de mora de 1% ao mês e atualização monetária.

ATIVIDADE
01) Qual a importância da contribuição sindical rural?

02) Quais as penalidades para o não pagamento da contribuição sindical rural?

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03) Qual a fórmula de cálculo da contribuição sindical rural? Dê um exemplo.

CONTRATOS AGRÁRIOS

CONCEITO

Contrato é toda fonte de obrigação; é o acordo de vontades que tem por fim criar, modificar ou extinguir
direitos. Consoante à sua natureza jurídica, os contratos agrários são bilaterais (sinaligmáticos), onerosos (com
acréscimo ou diminuiçao do patrimônio), consensuais (acordo de vontades), não solenes (não exige-se forma,
podendo, inclusive, ser verbal), principais (tem existência própria e não dependem da celebração de outro
contrato), individuais (as vontades são individualmente consideradas), impessoais (prestação pode ser cumprida
pelo obrigado ou por terceiro), definitivos e de trato sucessivo (seu objeto não á apenas o cumprimento de um
contrato e as prestações se prolongam no tempo por atos reiterados ; eis que a execução do mesmo só se
cumprirá em evento futuro).

ASPECTOS GERAIS DOS CONTRATOS AGRÍCOLAS

Os contratos agrários estão sujeitos aos requisitos comuns dos contratos : acordo de vontades, objeto
lícito e capacidade das partes.
Além disso estão sujeitos aos Princípios da : Autonomia da Vontade, Supremacia da Ordem Pública; do
Consensualismo; da obrigatoriedade e revisão dos Contratos; da proteção de quem trabalha na terra; da
conservação dos recursos naturais e proteção do meio ambiente.

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Assim, um dos instrumentos que o Estado utiliza para atingir a função social da propriedade é a
utilização dos contratos agrários de forma correta; ou seja, os contratos agrários constituem meios indiretos de
intervenção do Estado na busca da função social da propriedade.

ESPÉCIES DE CONTRATOS RURAIS

Os contratos rurais estão tipificados na lei nº 4.947 de 05/04/1966, art. 13 e no art. 92 do ET.

Art. 92. A posse ou uso temporário da terra serão exercidos em


virtude de contrato expresso ou tácito, estabelecido entre o
proprietário e os que nela exercem atividade agrícola ou pecuária,
sob forma de arrendamento rural, de parceria agrícola, pecuária,
agro-industrial e extrativa, nos termos desta Lei.

§ 1° O proprietário garantirá ao arrendatário ou parceiro o uso e


gozo do imóvel arrendado ou cedido em parceria.

§ 2º Os preços de arrendamento e de parceria fixados em contrato


...Vetado.. serão reajustados periodicamente, de acordo com os
índices aprovados pelo Conselho Nacional de Economia. Nos casos
em que ocorra exploração de produtos com preço oficialmente
fixado, a relação entre os preços reajustados e os iniciais não pode
ultrapassar a relação entre o novo preço fixado para os produtos e
o respectivo preço na época do contrato, obedecidas as normas do
Regulamento desta Lei.

§ 3º No caso de alienação do imóvel arrendado, o arrendatário terá


preferência para adquiri-lo em igualdade de condições, devendo o
proprietário dar-lhe conhecimento da venda, a fim de que possa
exercitar o direito de perempção dentro de trinta dias, a contar da
notificação judicial ou comprovadamente efetuada, mediante recibo.

§ 4° O arrendatário a quem não se notificar a venda poderá,


depositando o preço, haver para si o imóvel arrendado, se o
requerer no prazo de seis meses, a contar da transcrição do ato de
alienação no Registro de Imóveis.

§ 5º A alienação ou a imposição de ônus real ao imóvel não


interrompe a vigência dos contratos de arrendamento ou de

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parceria ficando o adquirente sub-rogado nos direitos e obrigações


do alienante.

§ 6º O inadimplemento das obrigações assumidas por qualquer das


partes dará lugar, facultativamente, à rescisão do contrato de
arrendamento ou de parceria. Observado o disposto em lei.

§ 7º Qualquer simulação ou fraude do proprietário nos contratos de


arrendamento ou de parceria, em que o preço seja satisfeito em
produtos agrícolas, dará ao arrendatário ou ao parceiro o direito de
pagar pelas taxas mínimas vigorantes na região para cada tipo de
contrato.

§ 8º Para prova dos contratos previstos neste artigo, será permitida


a produção de testemunhas. A ausência de contrato não poderá
elidir a aplicação dos princípios estabelecidos neste Capítulo e nas
normas regulamentares.

§ 9º Para solução dos casos omissos na presente Lei, prevalecerá o


disposto no Código Civil.

A doutrina os classifica como Contratos Agrários Nominados ou Típicos e Contratos Agrários Inominados
ou Atípicos.

CONTRATOS AGRÁRIOS NOMINADOS OU TÍPICOS

Contratos nominados são os que tem designação própria. Contratos típicos são os que estão tipificados
e/ou regulados em lei, ou seja, os que têm o seu perfil traçados pela lei. Os contratos típicos não requerem
muitas cláusulas; eis que todas as normas regulamentadoras estabelecidas pelo legislador passam a integrá-lo.
Diferente dos atípicos que, deverão ter as cláusulas minuciosamente estipuladas no contrato.
Assim, os contratos agrários típicos conceituados pelos artigos 3º e 4º do Decreto nº 59.566/66, são o
arrendamento e a parceria rural.

ARRENDAMENTO RURAL

Estabelece o Decreto nº 59.566/66

Art. 3º. Arrendamento rural é o contrato agrário pelo qual uma


pessoa se obriga a ceder à outra, por determinado tempo ou não, o
uso e o gozo do imóvel rural, parte ou partes do mesmo, incluindo,

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ou não, outros bens, benfeitorias e ou facilidades, com o objetivo


de nele ser exercida a atividade de exploração agrícola, pecuária,
agro-industrial, extrativa ou mista, mediante certa retribuição ou
aluguel, observados os limites percentuais da Lei.

§ 1º Subarrendamento é o contrato pelo qual o Arrendatário


transfere a outrem, no todo ou em parte, os direitos e obrigações do
contrato de arrendamento.

Ressalte-se que no contrato de arrendamento, todas as vantagens e riscos do empreendimento são do


arrendatário; enquanto que o arrendador colhe vantagem fixa, certa, não aleatória: o preço do arrendamento
expresso em dinheiro; por isso este tipo de contrato é chamado de contrato comutativo; eis que envolve
prestações certas e determinadas.

O art. 95 do ET também disciplina o Arrendamento rural.

Art. 95. Quanto ao arrendamento rural, observar-se-ão os seguintes


princípios:

I - os prazos de arrendamento terminarão sempre depois de


ultimada a colheita, inclusive a de plantas forrageiras temporárias
cultiváveis. No caso de retardamento da colheita por motivo de
força maior, considerar-se-ão esses prazos prorrogados nas
mesmas condições, até sua ultimação;

II - presume-se feito, no prazo mínimo de três anos, o arrendamento


por tempo indeterminado, observada a regra do item anterior;

III - o arrendatário, para iniciar qualquer cultura cujos frutos não


possam ser recolhidos antes de terminado o prazo de
arrendamento, deverá ajustar, previamente, com o arrendador a
forma de pagamento do uso da terra por esse prazo excedente;
(Redação dada pela Lei nº 11.443, de 2007).

IV - em igualdade de condições com estranhos, o arrendatário terá


preferência à renovação do arrendamento, devendo o proprietário,
até 6 (seis) meses antes do vencimento do contrato, fazer-lhe a
competente notificação extrajudicial das propostas existentes. Não
se verificando a notificação extrajudicial, o contrato considera-se
automaticamente renovado, desde que o arrendador, nos 30 (trinta)

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dias seguintes, não manifeste sua desistência ou formule nova


proposta, tudo mediante simples registro de suas declarações no
competente Registro de Títulos e Documentos; (Redação dada pela
Lei nº 11.443, de 2007).

V - os direitos assegurados no inciso IV do caput deste artigo não


prevalecerão se, no prazo de 6 (seis) meses antes do vencimento do
contrato, o proprietário, por via de notificação extrajudicial, declarar
sua intenção de retomar o imóvel para explorá-lo diretamente ou
por intermédio de descendente seu; (Redação dada pela Lei nº
11.443, de 2007).

VI - sem expresso consentimento do proprietário é vedado o


subarrendamento;

VII - poderá ser acertada, entre o proprietário e arrendatário,


cláusula que permita a substituição de área arrendada por outra
equivalente no mesmo imóvel rural, desde que respeitadas as
condições de arrendamento e os direitos do arrendatário;

VIII - o arrendatário, ao termo do contrato, tem direito à indenização


das benfeitorias necessárias e úteis; será indenizado das
benfeitorias voluptuárias quando autorizadas pelo proprietário do
solo; e, enquanto o arrendatário não for indenizado das benfeitorias
necessárias e úteis, poderá permanecer no imóvel, no uso e gozo
das vantagens por ele oferecidas, nos termos do contrato de
arrendamento e das disposições do inciso I deste artigo; (Redação
dada pela Lei nº 11.443, de 2007).

IX - constando do contrato de arrendamento animais de cria, de


corte ou de trabalho, cuja forma de restituição não tenha sido
expressamente regulada, o arrendatário é obrigado, findo ou
rescindido o contrato, a restituí-los em igual número, espécie e
valor;

X - o arrendatário não responderá por qualquer deterioração ou


prejuízo a que não tiver dado causa;

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XI - na regulamentação desta Lei, serão complementadas as


seguintes condições que, obrigatoriamente, constarão dos
contratos de arrendamento:
a) limites da remuneração e formas de pagamento em dinheiro ou
no seu equivalente em produtos; (Redação dada pela Lei nº 11.443,
de 2007).
b) prazos mínimos de arrendamento e limites de vigência para os
vários tipos de atividades agrícolas; (Redação dada pela Lei nº
11.443, de 2007).
c) bases para as renovações convencionadas;
d) formas de extinção ou rescisão;
e) direito e formas de indenização ajustadas quanto às benfeitorias
realizadas;

XII - a remuneração do arrendamento, sob qualquer forma de


pagamento, não poderá ser superior a 15% (quinze por cento) do
valor cadastral do imóvel, incluídas as benfeitorias que entrarem na
composição do contrato, salvo se o arrendamento for parcial e
recair apenas em glebas selecionadas para fins de exploração
intensiva de alta rentabilidade, caso em que a remuneração poderá
ir até o limite de 30% (trinta por cento) (Redação dada pela Lei nº
11.443, de 2007).

XIII - a todo aquele que ocupar, sob qualquer forma de


arrendamento, por mais de cinco anos, um imóvel rural
desapropriado, em área prioritária de Reforma Agrária, é
assegurado o direito preferencial de acesso à terra ..Vetado...

Art. 95-A. Fica instituído o Programa de Arrendamento Rural,


destinado ao atendimento complementar de acesso à terra por parte
dos trabalhadores rurais qualificados para participar do Programa
Nacional de Reforma Agrária, na forma estabelecida em
regulamento.(Incluído pela Medida Provisória nº 2.183-56, de 2001)
(Regulamento)

Parágrafo único. Os imóveis que integrarem o Programa de


Arrendamento Rural não serão objeto de desapropriação para fins
de reforma agrária enquanto se mantiverem arrendados, desde que
atendam aos requisitos estabelecidos em regulamento. (Incluído
pela Medida Provisória nº 2.183-56, de 2001).

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PARCERIA RURAL

Estabelece o Decreto nº 59.566/66.

Art. 4º Parceria rural é o contrato agrário pelo qual uma pessoa se


obriga a ceder à outra, por tempo determinado ou não, o uso
específico de imóvel rural, de parte ou partes do mesmo, incluindo,
ou não, benfeitorias, outros bens e ou facilidades, com o objetivo
de nele ser exercida atividade de exploração de exploração agrícola,
pecuária, agro-industrial, extrativa vegetal ou mista; e ou lhe
entrega animais para cria, recria, invernagem, engorda ou extração
de matérias-primas de origem animal, mediante partilha de riscos
do caso fortuito e da força maior do empreendimento rural, e dos
frutos, produtos ou lucros havidos nas proporções que estipularem,
observados os limites percentuais da lei (art. 96, VI do Estatuto da
Terra).

Diferentemente do arrendamento, no contrato de parceria, há uma partilha dos riscos (prejuízos) e das
vantagens entre ambos os parceiros : tanto o parceiro-outorgante como o parceiro outorgado só terão as
vantagens após a partilha dos frutos, produtos ou lucros, se os houver.

No tocante à quota de parceria, estabelece o art. 96, VI, ä” a “g” do ET:

Art. 96. Na parceria agrícola, pecuária, agro-industrial e extrativa,


observar-se-ão os seguintes princípios:
I - o prazo dos contratos de parceria, desde que não
convencionados pelas partes, será no mínimo de três anos,
assegurado ao parceiro o direito à conclusão da colheita, pendente,
observada a norma constante do inciso I, do artigo 95;
II - expirado o prazo, se o proprietário não quiser explorar
diretamente a terra por conta própria, o parceiro em igualdade de
condições com estranhos, terá preferência para firmar novo
contrato de parceria;
III - as despesas com o tratamento e criação dos animais, não
havendo acordo em contrário, correrão por conta do parceiro
tratador e criador;
IV - o proprietário assegurará ao parceiro que residir no imóvel
rural, e para atender ao uso exclusivo da família deste, casa de

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DIREITO AGRÁRIO E AMBIENTAL
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moradia higiênica e área suficiente para horta e criação de animais


de pequeno porte;
V - no Regulamento desta Lei, serão complementadas, conforme o
caso, as seguintes condições, que constarão, obrigatoriamente, dos
contratos de parceria agrícola, pecuária, agro-industrial ou
extrativa:

a) quota-limite do proprietário na participação dos frutos, segundo a


natureza de atividade agropecuária e facilidades oferecidas ao
parceiro; b) prazos mínimos de duração e os limites de vigência
segundo os vários tipos de atividade agrícola;
c) bases para as renovações convencionadas;
d) formas de extinção ou rescisão;
e) direitos e obrigações quanto às indenizações por benfeitorias
levantadas com consentimento do proprietário e aos danos
substanciais causados pelo parceiro, por práticas predatórias na
área de exploração ou nas benfeitorias, nos equipamentos,
ferramentas e implementos agrícolas a ele cedidos;
f) direito e oportunidade de dispor sobre os frutos repartidos;

VI - na participação dos frutos da parceria, a quota do proprietário


não poderá ser superior a:

a) 20% (vinte por cento), quando concorrer apenas com a terra nua;
b) 25% (vinte e cinco por cento), quando concorrer com a terra
preparada;
c) 30% (trinta por cento), quando concorrer com a terra preparada e
moradia;
d) 40% (quarenta por cento), caso concorra com o conjunto básico
de benfeitorias, constituído especialmente de casa de moradia,
galpões, banheiro para gado, cercas, valas ou currais, conforme o
caso
e) 50% (cinqüenta por cento), caso concorra com a terra preparada
e o conjunto básico de benfeitorias enumeradas na alínea d deste
inciso e mais o fornecimento de máquinas e implementos agrícolas,
para atender aos tratos culturais, bem como as sementes e animais
de tração, e, no caso de parceria pecuária, com animais de cria em
proporção superior a 50% (cinqüenta por cento) do número total de
cabeças objeto de parceria;

59
DIREITO AGRÁRIO E AMBIENTAL
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f) 75% (setenta e cinco por cento), nas zonas de pecuária ultra-


extensiva em que forem os animais de cria em proporção superior a
25% (vinte e cinco por cento) do rebanho e onde se adotarem a
meação do leite e a comissão mínima de 5% (cinco por cento) por
animal vendido;
g) nos casos não previstos nas alíneas anteriores, a quota adicional
do proprietário será fixada com base em percentagem máxima de
dez por cento do valor das benfeitorias ou dos bens postos à
disposição do parceiro;

VII - aplicam-se à parceria agrícola, pecuária, agropecuária, agro-


industrial ou extrativa as normas pertinentes ao arrendamento rural,
no que couber, bem como as regras do contrato de sociedade, no
que não estiver regulado pela presente Lei.

Parágrafo único. Os contratos que prevejam o pagamento do


trabalhador, parte em dinheiro e parte percentual na lavoura
cultivada, ou gado tratado, são considerados simples locação de
serviço, regulada pela legislação trabalhista, sempre que a direção
dos trabalhos seja de inteira e exclusiva responsabilidade do
proprietário, locatário do serviço a quem cabe todo o risco,
assegurando-se ao locador, pelo menos, a percepção do salário-
mínimo no cômputo das duas parcelas.

VIII - o proprietário poderá sempre cobrar do parceiro, pelo seu


preço de custo, o valor de fertilizantes e inseticidas fornecidos no
percentual que corresponder à participação deste, em qualquer das
modalidades previstas nas alíneas do inciso VI do caput deste
artigo

IX - nos casos não previstos nas alíneas do inciso VI do caput deste


artigo, a quota adicional do proprietário será fixada com base em
percentagem máxima de 10% (dez por cento) do valor das
benfeitorias ou dos bens postos à disposição do parceiro.

§ 1o Parceria rural é o contrato agrário pelo qual uma pessoa se


obriga a ceder à outra, por tempo determinado ou não, o uso
específico de imóvel rural, de parte ou partes dele, incluindo, ou
não, benfeitorias, outros bens e/ou facilidades, com o objetivo de
nele ser exercida atividade de exploração agrícola, pecuária,

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agroindustrial, extrativa vegetal ou mista; e/ou lhe entrega animais


para cria, recria, invernagem, engorda ou extração de matérias-
primas de origem animal, mediante partilha, isolada ou
cumulativamente, dos seguintes riscos:
I - caso fortuito e de força maior do empreendimento rural;
II - dos frutos, produtos ou lucros havidos nas proporções que
estipularem, observados os limites percentuais estabelecidos no
inciso VI do caput deste artigo;
III - variações de preço dos frutos obtidos na exploração do
empreendimento rural.

§ 2o As partes contratantes poderão estabelecer a prefixação, em


quantidade ou volume, do montante da participação do proprietário,
desde que, ao final do contrato, seja realizado o ajustamento do
percentual pertencente ao proprietário, de acordo com a produção.

§ 3o Eventual adiantamento do montante prefixado não


descaracteriza o contrato de parceria.

§ 4o Os contratos que prevejam o pagamento do trabalhador, parte


em dinheiro e parte em percentual na lavoura cultivada ou em gado
tratado, são considerados simples locação de serviço, regulada
pela legislação trabalhista, sempre que a direção dos trabalhos seja
de inteira e exclusiva responsabilidade do proprietário, locatário do
serviço a quem cabe todo o risco, assegurando-se ao locador, pelo
menos, a percepção do salário mínimo no cômputo das 2 (duas)
parcelas.

§ 5o O disposto neste artigo não se aplica aos contratos de parceria


agroindustrial, de aves e suínos, que serão regulados por lei
específica.

CONTRATOS AGRÁRIOS INOMINADOS OU ATÍPICOS

São aqueles que resultam de um acordo de vontades entre as partes, não tendo suas características e
requisitos definidos e, para que sejam válidos, basta: consenso, que as partes sejam livres e capazes, que seu
objeto seja lícito, possível, determinável e suscetível de valoração econômica. Além disso, exige-se que este
contrato especifique minuciosamente os direitos e obrigações de cada parte.
Acerca dos contratos atípicos, o art. 39 do Decreto 59.566/66 assim dispõe:

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Art. 39. Quando o uso ou posse temporário da terra for exercido por
qualquer outra modalidade contratual, diversa dos contratos de
arrendamento e parceria, serão observadas pelo proprietário do
imóvel as mesmas regras aplicáveis a arrendatários e parceiros, e,
em especial a condição estabelecida no art. 38, supra.

A doutrina entende que são exemplos de contratos agrários atípicos os contratos de comodato e de
empreitada.

COMODATO

A palavra Comodato tem origem no latim , “commodatum”, mpréstimo e do verbo “commodare”:


emprestar. Comodato é contrato unilateral , gratuito , pelo qual alguém entrega a outrem coisa infungível , para
ser usada temporariamente e depois restituída. Assim, é um contrato unilateral porque obriga tão-somente o
comodatário ; gratuito ( “Gratuitum debet esse commodatum” ) porque somente o comodatário é favorecido; real
porque se realiza pela tradição, ou seja, entrega da coisa; e não-solene, pois a lei não exige forma especial para
sua validade, podendo ser utilizada até a forma verbal .
Quem entrega a coisa infungível é o comodante, quem a usa é o comodatário. Assim, o comodatário
rural poderá ser um pequeno agricultor ou pecuarista, um agregado, ex-trabalhador rural, que embora
gratuitamente, exerce uma atividade laborativa, com o plantio de certas culturas, criação de gado, até mesmo
para o sustento próprio e de sua família, onde o prazo de restituição do bem imóvel rural deverá pelas
circunstâncias, obedecer prazos mínimos, ou até mesmo, quando for o caso, a ultimação e término da colheita.
Desta forma o comodato rural deve ser visto como uma alternativa de evitar a ociosidade da terra, em caso de
ausência de arrendamento ou parceria rural, evitando até mesmo invasões e a própria desapropriação por
interesse social para fins de reforma agrária, pois o comodatário, poderá em um campo degradado realizar o
plantio de milho, e após, devolve-lo semeado, ou até mesmo, receber um campo sujo para pecuária, e o restituir
roçado. Por derradeiro, é preciso frisar que o comodato rural é um contrato atípico.

EMPREITADA

Empreitada é o contrato mediante o qual uma das partes (o empreiteiro) se obriga a realizar uma obra
específica, pessoalmente ou por intermédio de terceiros, cobrando uma remuneração a ser paga pela outra parte
(proprietário da obra), sem vínculo de subordinação. A direção do trabalho é do próprio empreiteiro, assumindo
este os riscos da obra.
Na empreitada não importa o rigor do tempo de duração da obra, o objeto não é a simples prestação de
serviços, mas a obra em si. Assim, neste tipo de contrato a remuneração não está vinculada ao tempo, mas à
conclusão da obra. São exemplos de empreitada agrícola o desmatamento de determinada área, a construção
de um açude, a gramagem ou revitalização de um pasto, etc.

ATIVIDADE

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01) O que são contratos típicos?

02) O que são contratos atípicos?

03) O que caracteriza um arrendamento rural?

04) Segundo a legislação brasileira, é possível um subarrendamento rural? Sendo possível,


qual a condição?

05) Qual a função do programa de arrendamento rural?

06) Caracterize o contrato de parceria rural?

07) O que é um comodato rural no Brasil?

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08) Defina empreitada e dê exemplos?

DIREITO AMBIENTAL

A Constituição determina que o meio ambiente é essencial para todos e, portanto, seu uso deve
respeitar os limites impostos em defesa dos interesses da sociedade. O que não estiver expressamente proibido
por lei pode ser feito, desde que, respeitados os limites da boa convivência. Existem ainda outras leis federais,
estaduais e municipais, cada uma atuando dentro de sua competência, e regulando a relação entre o homem e o
ambiente nas esferas nacional, regional e local, respectivamente.
A atividade rural está sujeita a estas normas citadas. Alguns diplomas influenciam mais diretamente
estas atividades, os quais serão abordados a seguir.

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LEGISLAÇÃO FLORESTAL

O Código Florestal Brasileiro determina que as florestas existentes no território nacional e as demais
formas de vegetação, úteis às terras que revestem, são bem de interesse comum a todos os habitantes do País,
exercendo-se os direitos de propriedade, com as limitações que a legislação em geral e, especialmente esta lei,
estabelecem. Deste modo, é importante lembrar que o direito de propriedade não é absoluto, cabendo ao
proprietário zelar pela preservação das florestas. Esta regra vale para o agricultor e também para aqueles que
desenvolvem atividades ligadas à indústria, ao comércio e ao transporte de madeira. Além disso, esta lei cria
dois instrumentos importantes para a conservação do ambiente, que são as áreas de preservação permanente,
que alguns conhecem como mata ciliar, e as áreas de reserva legal.

ÁREA DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE

É considerada de preservação permanente, uma área coberta ou não por vegetação nativa, com a
função de conservar os recursos hídricos, a paisagem, os solos, as plantas e os animais e assegurar o bem-
estar das populações humanas.
O art. 2º descreve as florestas e demais formas de áreas de preservação permanente, dentre as quais
aquelas situadas ao longo dos rios e cursos d’água, ao redor das lagoas, lagos ou reservatórios de águas
naturais ou artificiais, em locais com topografia acidentada. O art.30, por sua vez, protege áreas que dependem
de um ato do Poder Público para declará-las de preservação permanente, considerando o interesse da
administração para a proteção do meio ambiente.
O art. 2º do Código descreve detalhadamente as áreas que têm a função de proteção dos mananciais e
das águas em geral, e determina que, consideram-se de preservação permanente, as florestas e demais formas
de vegetação natural situadas:

a) ao longo dos rios ou de qualquer curso d’água, desde o seu nível mais alto em faixa marginal,
cuja largura mínima seja:

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I - de 30 m (trinta metros) para os rios de menos de 10 m (dez metros) de largura;


II - de 50 m (cinquenta metros) para os rios e córregos que tenham de 10 (dez) a 50 m (cinquenta
metros) de largura;
III - de 100 m (cem metros) para os rios que tenham de 50 (cinquenta) a 200 m (duzentos metros) de
largura;
IV - de 200 m (duzentos metros) para os rios que tenham de 200 (duzentos) a 600 m (seiscentos metros)
de largura;
V - de 500 m (quinhentos metros) para os cursos d’água que tenham largura superior a 600 m
(seiscentos metros);

b) ao redor das lagoas, lagos ou reservatórios d’água naturais ou artificiais;

c) nas nascentes, ainda que não permanentes e nos olhos d’água, qualquer que seja a sua situação
topográfica, num raio mínimo de 50 m (cinquenta metros) de largura, independente da topografia;

Ao tratar da proteção do solo, a lei dispõe que também são áreas de preservação permanente aquelas
situadas no topo de morros, montes, montanhas e serras. Ainda aquelas áreas acidentadas, nas encostas ou
partes destas, com declividade superior a 450, equivalente a 100% na linha de maior declividade e em altitude
superior a 1.800 m (mil e oitocentos metros), qualquer que seja a vegetação.

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De forma resumida, devemos lembrar que as áreas de preservação permanente têm três finalidades
principais, que são: a proteção dos recursos hídricos e mananciais; a proteção física dos solos e uma ênfase à
proteção da vegetação e da biodiversidade.

O art. 3º da lei permite que o Poder Público (prefeituras, governos estaduais ou federal) declare de
preservação permanente as florestas e demais formas de vegetação natural, destinadas a fins específicos como:

a) a atenuar a erosão das terras;


b) a fixar as dunas;
c) a formar faixas de proteção ao longo de rodovias e ferrovias;
d) a auxiliar a defesa do território nacional a critério das autoridades militares;
e) a proteger sítios de excepcional beleza ou de valor científico ou histórico;
f) a asilar exemplares da fauna ou flora ameaçados de extinção;
g) a manter o ambiente necessário à vida das populações silvícolas;
h) a assegurar condições de bem-estar público.

Nestes casos, o ato deve ser justificado tecnicamente, e poderá dar direito de indenização ao
proprietário que for diretamente afetado. Quanto ao uso das florestas de preservação permanente, o art. 22 do

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Código Florestal determina que É PROIBIDO, mesmo aos proprietários, cortar árvores em florestas protetoras ou
remanescentes, ainda que a floresta esteja se regenerando, sem licença prévia da autoridade florestal
competente.
O Código Florestal determina que, nas terras de propriedade privada, onde seja necessário o
reflorestamento de preservação permanente, o Governo Federal poderá fazer o plantio sem a obrigação de
desapropriar.
A retirada da vegetação em área de preservação permanente, somente poderá ser autorizada em caso
de utilidade pública, como a construção de uma ponte para uma estrada pública municipal, por exemplo. Este
corte depende de autorização do órgão ambiental competente que, em caso positivo, indicará quais as medidas
que devem ser adotadas pelo produtor, a fim de diminuir os impactos ou compensar pelos danos.

É PERMITIDA A ENTRADA DE PESSOAS E ANIMAIS NAS ÁREAS DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE?

O ideal é que essas áreas fiquem isoladas, com a menor interferência humana ou animal possível. No
caso em que houver pasto ao lado das áreas de preservação permanente, estes locais devem ser cercados para
evitar o ingresso dos animais nestas florestas e o pisoteio da vegetação. Porém, a própria lei, alterada pela MP
2.166- 67/2001 assegura que é permitido o acesso de pessoas e animais às áreas de preservação permanente
para obtenção de água, desde que não exija a retirada da vegetação nativa e não comprometa seu crescimento,
nem sua manutenção a longo prazo.

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SOU OBRIGADO A DEIXAR UMA FAIXA DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE NAS MARGENS DO LAGO
ARTIFICIAL OU DE UM TANQUE DE PISCICULTURA, EM MINHA PROPRIEDADE?

A lei diz que sim, pois são consideradas áreas de preservação permanente, as áreas das margens dos
reservatórios artificiais. Estas áreas variam de acordo com o destino e o tamanho dos reservatórios, e devem ser
de no mínimo:

• 100 metros para os reservatórios artificiais situados em áreas rurais;

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• 15 metros, no mínimo, para os reservatórios artificiais de geração de energia elétrica com até 10
hectares;
• 15 metros, no mínimo, para reservatórios artificiais localizados em área rural, não utilizados em
abastecimento público ou geração de energia elétrica, com até 20 hectares de superfície.

As áreas com tanques destinados à atividade de piscicultura odem ter uma área limpa, destinada às
atividades de tratamento e manejo dos animais.

Finalmente, devemos lembrar que a lei trata de áreas de preservação permanente e não de florestas de
preservação permanente. Isto porque, a norma cuida do ambiente como um todo, e não apenas de florestas.
Assim, mesmo aqueles locais que não são mais cobertos por vegetação, não perdem a obrigatoriedade de
preservação. Por exemplo, um terreno às margens de um rio que é desmatado pelo seu proprietário não deixa
de ser uma área de preservação permanente e, o proprietário, fica ainda obrigado a restaurar a vegetação. Da
mesma forma, uma área com declividade acentuada, que é alvo de um incêndio natural ou criminoso, não perde
seu caráter principal e sujeita ainda o proprietário a recuperar o local, dentro das condições mais adequadas
para o ambiente.

RESERVA LEGAL

A reserva legal é uma área coberta por vegetação nativa que deve ser mantida em cada propriedade
rural, fora as áreas de preservação permanente, necessárias para a manutenção da biodiversidade, conservação
dos recursos naturais e para o abrigo e proteção dos animais e plantas nativas da região.
Foi instituída no primeiro Código Florestal do Brasil em 1934, e o proprietário era obrigado a reservar
uma parte da área total da propriedade com cobertura florestal, não podendo ali realizar o corte raso.
A Lei 4.771 de 1965 determina que, no Estado do Paraná, toda propriedade rural deve manter uma área
mínima de 20% da área total como reserva legal, além das áreas deixadas como preservação permanente.
Na reserva legal, a vegetação deve ser mantida para a conservação da biodiversidade. É permitido o uso
dos recursos naturais, dentro dos limites estabelecidos em lei. Nestas áreas pode ser feita, por exemplo, a
retirada de plantas medicinais ou ornamentais, desde que, sua extração não provoque uma alteração muito
intensa na floresta. No entanto, É PROIBIDO o corte raso e o manejo florestal de alto impacto.

O simples abandono da área, pode implicar na regeneração natural e, consequentemente, na formação


de nova floresta. Nos casos em que houver necessidade, o proprietário é obrigado a reflorestar recompondo a
reserva legal de sua propriedade com o plantio, a cada três anos, de no mínimo 1/10 (um décimo) da área total
necessária.
Nas pequenas propriedades rurais, com áreas de até 50 ha (cinquenta hectares) no Paraná, poderão ser
contados como reserva legal, além das florestas naturais, os pomares com frutíferas, plantas ornamentais ou
plantios de pinus e eucaliptos.

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É importante lembrar que a lei determina que a área de reserva legal deverá ser averbada à margem da
inscrição de matrícula do imóvel, no registro de imóveis competente, sendo proibida a mudança de seu uso,
mesmo nos casos de venda, desmembramento, herança ou doação da área. Assim, se alguém compra uma
área com reserva legal averbada, não pode mais cortar aquela floresta preservada, por mais que exceda 20% do
total da sua área.

ONDE DEVE ESTAR A RESERVA LEGAL EM MINHA PROPRIEDADE?

O local será escolhido pelo proprietário, mas deve ser aprovado pelo IAP. Esta área deve estar
preferencialmente numa área que já tenha floresta, próxima a áreas de preservação permanente ou outras
florestas, com o objetivo de formar corredores de biodiversidade.
No processo de aprovação do local devem ser considerados, principalmente, o plano de bacia
hidrográfica e a proximidade com outra reserva legal, área de preservação permanente, unidade de conservação
ou outra área legalmente protegida.
A área escolhida e aprovada pelo órgão ambiental deve ser averbada e, após este ato, sua localização
só poderá ser alterada em casos de extrema necessidade, com uma melhora clara do ponto de vista ambiental.

COMO DEVO FAZER SE MINHA PROPRIEDADE NÃO TEM FLORESTA NATIVA PARA SER AVERBADA
COMO RESERVA LEGAL?

Naqueles casos em que a tipologia originária é de floresta, o Código Florestal Brasileiro permite que o
proprietário da terra adote algumas alternativas para a recomposição, que podem ser: o plantio de árvores
nativas, o abandono de uma área ou o plantio de espécies exóticas, para o pequeno produtor rural, consorciadas
com nativas. Poderão ser utilizadas espécies exóticas, consorciadas com nativas, no Sistema Multiestrata. Ou
seja, através do plantio de, no mínimo, 200 mudas por hectare e 5 espécies arbóreas nativas, com o plantio das
exóticas nas linhas.
O plantio de árvores nativas deve ser feito na propriedade em, no mínimo, 1/20 da área total necessária,
a cada três anos.
Caso sejam utilizadas espécies exóticas (pinus, eucaliptos, seringueira etc.), estas árvores deverão ser
retiradas após a conclusão de 1 ciclo econômico. Os proprietários deverão protocolar, junto ao IAP, um projeto
de recuperação da reserva legal, que deverá ser aprovado por uma câmara técnica, especialmente criada para
este fim.
A regeneração natural só pode ser adotada com autorização do órgão ambiental estadual competente,
quando sua viabilidade for comprovada por laudo técnico, podendo ser exigido o isolamento da área.

POSSO TER MINHA RESERVA LEGAL EM OUTRO LOCAL, QUE NÃO SEJA O INTERIOR DE MINHA
PROPRIEDADE RURAL?

O Código Florestal Brasileiro admite que o dono ou possuidor da terra possa, excepcionalmente, ao
invés de recompor reserva legal plantando, compensar a reserva legal por outra área equivalente em importância

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ecológica e extensão, desde que, pertença ao mesmo ecossistema e esteja localizada na mesma microbacia,
conforme critérios estabelecidos em regulamento.
Em se tratando de compensação por outra área, a regra é que esta deve se localizar na mesma
microbacia. Não sendo possível, o órgão ambiental estadual competente pode aplicar o critério de maior
proximidade possível, entre a propriedade desprovida de reserva legal e a área escolhida para compensação,
desde que seja na mesma bacia hidrográfica, mesmo bioma e mesmo agrupamento municipal. Imóveis
localizados, mesmo que parcialmente, nas áreas prioritárias (entorno de unidades de conservação, interior de
áreas de proteção ambiental – APA e uma faixa de 5 km, a partir de cada margem dos rios que compõe os
corredores de biodiversidade) não poderão receber reserva legal em compensação, mas poderão ceder em
qualquer estágio de regeneração.
As áreas de preservação permanente, tanto do imóvel cedente como o recebedor da reserva legal,
devem estar preservadas ou em processos de recomposição, e a área de reserva legal a ser cedida deve,
obrigatoriamente, ser constituída de vegetação nativa primária ou secundária, em estágio médio ou avançado de
regeneração.
O projeto de compensação deverá ser submetido à aprovação pelo órgão ambiental estadual
competente, e pode ser implementado mediante o arrendamento de área sob regime de servidão florestal ou
reserva legal, ou aquisição de cotas de reserva florestal.
Finalmente, cabe lembrar que o proprietário rural poderá ser desonerado da obrigação de reflorestar,
mediante a doação ao órgão ambiental competente, de área localizada no interior de Parque Nacional ou
Estadual, Floresta Nacional, Reserva Extrativista, Reserva Biológica ou Estação Ecológica, pendente de
regularização fundiária.

COMO FAÇO PARA AVERBAR E REGULARIZAR A ÁREA DE RESERVA LEGAL EM MINHA


PROPRIEDADE?

É necessário protocolar no escritório do IAP requerimento para cadastramento no SISLEG, que é um


sistema de gerenciamento de propriedades rurais do Paraná, para facilitar aos proprietários o cumprimento das
exigências legais e averbar às margens das matrículas, as áreas de reserva legal.

PARA O CADASTRO, SÃO NECESSÁRIOS OS SEGUINTES DOCUMENTOS:

1. Formulário SISLEG, devidamente preenchido em 2 vias.


2. Mapa de uso e ocupação do solo do imóvel, em 3 vias impressas e uma em formato digital,
identificadas a reserva legal e as áreas de preservação permanente.
3. Memorial descritivo do imóvel e da reserva legal, em 3 vias.
4. Anotação de Responsabilidade Técnica - ART/CREA do profissional habilitado (Engenheiro Florestal e
Engenheiro Agrônomo), 3ª via original.
5. Matrícula atualizada do imóvel com, no máximo, 90 dias de expedição.

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6. Documentos pessoais (cópia da Cédula de Identidade e CPF) se pessoa física e documentos da


empresa (atos constitutivos atualizados, CNPJ, procuração e documentos pessoais do responsável legal), no
caso de pessoas jurídicas.
7. Comprovante do pagamento da Taxa de Cadastro e, quando for o caso, da Taxa de Inspeção
Florestal.
8. Comprovante de regularidade junto ao INCRA.

AS ÁREAS DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE PODEM SER USADAS NO CÁLCULO DAS ÁREAS DE


RESERVA LEGAL?

Em geral, não. A lei é bem clara quando define reserva legal como as áreas florestais excetuadas (não
consideradas), as áreas de preservação permanente. Porém, a Medida Provisória 2.166-67/2001 que altera o
Código Florestal permite, como exceção, o uso da vegetação nativa existente em áreas de preservação
permanente no cálculo da reserva legal. Este procedimento deverá ser feito mediante uma consulta ao órgão
ambiental, que somente poderá autorizar quando forem atendidos alguns requisitos, que para as propriedades
aqui no Paraná, são:

a) Não implicar em conversão de novas áreas para o uso alternativo do solo como, por exemplo, a
substituição de floresta nativa: por pastagem, agricultura ou reflorestamento.
b) A propriedade rural deve ter a soma da vegetação nativa em área de preservação permanente e
reserva legal, excedendo a cinquenta por cento (50%) da média ou grande propriedade rural ou vinte e cinco por
cento (25%) da pequena propriedade.

Para definir corretamente, deve ser calculado o total das áreas com vegetação nativa preservada no
imóvel. Se a soma obtida for inferior a 50% da área total do imóvel rural, não se pode computar as áreas de
preservação permanente para compor a reserva legal. Quando a soma obtida for igual ou superior a 50% da
área total do imóvel, pode-se utilizar as áreas de preservação permanente para complementar a parte faltante da
reserva legal.
Neste caso, toma-se o total de vegetação nativa existente fora das áreas de preservação permanente e,
se necessário, complementa-se o mínimo legal com áreas de preservação permanente. Somente nestes casos,
a área de preservação permanente poderá existir no interior da reserva legal.
Uma questão que deve ser lembrada é que, se um rio passar pelo interior da reserva, sobre essa área
incidirão as regras, tanto de preservação permanente, quanto da reserva legal.
O imóvel que utilizar a área de preservação permanente para compor a reserva legal, não poderá ceder
reserva legal para outra propriedade rural.

TABELA COMPARATIVA ENTRE ÁREAS DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE E RESERVA LEGAL

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USO E MANEJO DOS RECURSOS FLORESTAIS

O uso sustentável dos recursos naturais é uma atividade em que se tem a utilização do recurso
ambiental, sem o uso de substâncias nocivas, sem a emissões de poluentes e com o consumo mínimo,
considerando o volume de resíduos durante o ciclo de vida do serviço ou do produto, com o objetivo de melhorar
a qualidade de vida e resguardar as gerações presentes e futuras.

O QUE É MANEJO FLORESTAL?

É a aplicação de técnica silvicultural adequada, que visa o uso do recurso florestal assegurado à
conservação da diversidade biológica e dos ecossistemas. O manejo florestal é uma forma sustentável da
exploração de uma floresta, tirando dela apenas o incremento de um determinado período, deixando a floresta
se recuperando para uma nova intervenção. Ou seja, é o uso da floresta, respeitando-se os ciclos de

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sustentação da vegetação, e considerando-se, cumulativa ou alternativamente, a utilização de múltiplas espécies


madeireiras, de múltiplos produtos e subprodutos não madeireiros, bem como a utilização de outros bens e
serviços.

O QUE É UM CORTE RASO?


COMO E QUANDO PODE SER REALIZADO?

É o corte de todas as árvores de uma área. Normalmente, este corte é feito para a mudança de floresta em
agricultura ou pastagem.
O corte de vegetação nativa no Estado do Paraná só deve ser feito naqueles casos em que houver muita
necessidade ou, quando o corte não implicar na destruição da floresta, como por exemplo, no corte de apenas
algumas árvores selecionadas. É SEMPRE necessário pedir uma autorização florestal no IAP ou no IBAMA,
quando a floresta estiver localizada no entorno de uma unidade de conservação federal, ou no interior de uma
área federal.
Este documento expedido pelo órgão ambiental, permite ao proprietário de um imóvel a condição de
efetuar o corte de vegetação florestal nativa, árvores isoladas na floresta, o aproveitamento do material lenhoso
seco ou aproveitamento de árvores caídas, pela ação de vento ou por vendavais. Para árvores nativas que
constem da lista de extinção, o máximo de lenha que pode ser aproveitada são 15 m³. Para árvores nativas, que
estiverem fora da lista de extinção, até 100 m³. Para aproveitar mais de 100 m³ de lenha, o proprietário deverá
assinar um termo de compromisso para reposição de 5 árvores para cada m³ autorizado e, para o caso de toras
acima de 50 m³, deve assinar um termo onde se compromete a plantar 10 árvores para cada m³ liberado.
O corte raso no Estado do Paraná está PROIBIDO. A exceção pode ser feita, mediante autorização do
Instituto Ambiental do Paraná (IAP), para o pequeno produtor rural que tem em sua propriedade uma capoeirinha
ou uma área de pousio, que não seja em área de preservação permanente ou de reserva legal, e que seja
absolutamente necessária para a subsistência do agricultor e de sua família.
Para aquelas florestas em estágio médio de regeneração, conhecidas popularmente como capoeira ou
capoeirão, só será autorizado o corte pelo IAP em situações de extrema necessidade comprovada, como
tratamento de saúde ou constituição de nova célula familiar.

O QUE SÃO OS CAMPOS NATURAIS?


ELES PODEM SER CONVERTIDOS EM PASTO?

Os campos naturais formam um ecossistema que se caracteriza pela predominância de gramíneas e de


outras plantas rasteiras, presente nas regiões dos Campos Gerais de Ponta Grossa, Guarapuava e Palmas. É
um dos sistemas vegetais mais ameaçados no Brasil. A lei proíbe sua supressão e a conversão de vegetação
em pasto ou agricultura. O licenciamento de atividades de exploração nessas áreas, atualmente, é bastante
restrito.

AS ÁREAS DE VÁRZEA OU ÁREAS ÚMIDAS PODEM SER CONVERTIDAS EM PLANTIOS DE ARROZ OU


SÃO ÁREAS DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE?

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DIREITO AGRÁRIO E AMBIENTAL
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As áreas úmidas, popularmente conhecidas como várzeas, poderão compor a reserva legal do imóvel,
independentemente do tamanho da propriedade. Porém, quando o imóvel utilizar áreas úmidas consideradas de
preservação permanente na soma da reserva legal, não poderá ceder reserva legal para outros imóveis.

O QUE É UMA SERVIDÃO AMBIENTAL?

A servidão ocorre mediante um ato em que o proprietário rural, voluntariamente, renuncia, em caráter
permanente ou temporário, os direitos de supressão ou exploração da vegetação nativa, localizada fora da
reserva legal e da área com vegetação de preservação permanente.
Desta forma, o proprietário pode negociar esta área com um terceiro, para compensação da reserva
legal.
A servidão ambiental deve ser averbada à margem da inscrição de matrícula do imóvel no cartório de
registro de imóveis, após anuência do órgão estadual ambiental competente, sendo vedada, durante o prazo de
sua vigência, a alteração da destinação da área nos casos de transmissão, a qualquer título, de
desmembramento ou de retificação dos limites da propriedade.

UNIDADES DE CONSERVAÇÃO

As unidades de conservação são áreas naturais protegidas e sítios ecológicos com características
naturais diferenciadas, de domínio público ou privado, criadas pelo Poder Público para proteger a natureza, com
objetivos e limites definidos e com plano de manejo elaborado.
As unidades de conservação podem ser: parques, florestas, parques de caça, reservas biológicas,
estações ecológicas, áreas de proteção ambiental, reservas biológicas, estações ecológicas, áreas de proteção
ambiental, reservas ecológicas e de relevante interesse ecológico, nacionais, estaduais ou municipais,
monumentos naturais, jardins botânicos, jardins zoológicos e hortos florestais.
Para esta cartilha, vamos destacar duas categorias que têm influência direta sobre o setor agrícola
paranaense. A primeira é a de Áreas de Proteção Ambiental (APAs), que trazem uma limitação ao uso da
propriedade rural e, a segunda, é a de Reservas Particulares do Patrimônio Natural, que podem ser uma
alternativa interessante para a manutenção das florestas nas propriedades rurais.

ÁREAS DE PROTEÇÃO AMBIENTAL (APA)

São em geral áreas extensas, com um certo grau de ocupação humana, dotadas de atributos abióticos,
bióticos, estéticos ou culturais especialmente importantes para a qualidade de vida e o bem-estar das
populações humanas, que tem a finalidade de proteger a diversidade biológica, disciplinar o processo de
ocupação e assegurar a sustentabilidade do uso dos recursos naturais.
O Sistema Nacional de Unidades de Conservação prevê que as áreas de proteção ambiental deverão
dispor de um Conselho, presidido pelo órgão responsável por sua administração e constituído por representantes
dos órgãos públicos, de organizações da sociedade civil e da população residente.

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RESERVA PARTICULAR DO PATRIMÔNIO NATURAL (RPPN)

São áreas privadas, gravadas com perpetuidade, com o objetivo de conservar a diversidade biológica. O
gravame de que trata este artigo constará de termo de compromisso assinado perante o órgão ambiental, que
verificará a existência de interesse público, e será averbado à margem da inscrição no Registro Público de
Imóveis. Dentro da RPPN, será permitida a extração de recursos naturais, exceto madeira, que não coloque em
risco as espécies ou os ecossistemas que justificaram a criação da unidade.

OUTORGA DE USO DE RECURSOS HÍDRICOS

Qualquer mudança que se pretenda realizar na quantidade ou na qualidade das águas de um rio, de um
reservatório, ou de outro curso de água, necessita de uma autorização do Poder Público, a qual chamamos de
“outorga”. Neste ato, o Poder Público autoriza o uso de recurso hídrico, por prazo certo, dentro de determinadas
condições. Os usos podem ser a captação de água para o abastecimento doméstico, para fins industriais ou
para irrigação; o lançamento de efluentes industriais ou urbanos, à construção de obras como barragens e
canalizações de rio, ou serviços de limpeza dos rios e de suas margens.
A outorga prévia tem como finalidade declarar a disponibilidade de água para os usos requeridos, não
conferindo o direito de uso de recursos hídricos, e se destinando a reservar a vazão passível de outorga. Deverá
ser requerida para novos empreendimentos, os quais necessitem de licenciamento ambiental, tais como:
barragens e pontes, e para perfuração de poço tubular. Os projetos, as obras de construção e a manutenção de
canais, barragens, açudes, rodovias e outras obras com intervenção no escoamento das águas, devem adotar
dispositivos conservacionistas adequados, a fim de impedir a erosão e suas consequências.

SERVIÇOS AMBIENTAIS

Os serviços ambientais são serviços úteis oferecidos pelos ecossistemas para o homem, como a
produção de oxigênio e sequestro de carbono, a conservação da biodiversidade, a proteção de solos e das
águas. São produtos ambientais, aqueles oferecidos pelos ecossistemas e utilizados pelos seres vivos, para seu
consumo direto ou para serem comercializados pelos seres humanos, tais como: madeira, frutos, peles, carnes,
sementes e medicinas, entre outros.
Constituem uma base de sustentação e fonte de renda importante para a sociedade. Este movimento
que teve início na Costa Rica, baseado no princípio do protetor beneficiário, busca recompensar aqueles que
preservam a natureza por meio do pagamento por serviços ambientais. Assim como aquele que polui deve
recuperar o meio ambiente e “pagar” a sociedade pelo mal praticado, deve também aquele que contribui para a
conservação dos recursos naturais, através dos serviços ambientais e da manutenção dos produtos ambientais,
ser compensando pela sociedade, a qual, como um todo, é beneficiada.

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É fato notório que os instrumentos de repressão e coerção, como multas e prisões, têm se mostrado
insuficientes para a proteção do meio ambiente e para a alteração do quadro ambiental atual. Apesar da severa
legislação florestal, a pressão sobre os últimos remanescentes florestais ainda é elevada.
Uma eficiência maior pode ser conseguida mediante a agregação de novos instrumentos legais e de
política, como: incentivos fiscais e criação de linhas especiais de crédito. Os ecossistemas (florestas, cerrados,
manguezais, recifes etc.) oferecem à humanidade uma variedade de produtos e serviços no âmbito local,
nacional e mundial.

Os serviços ambientais são funções imprescindíveis, desempenhadas pelos ecossistemas naturais e


úteis ao homem, tais como: a proteção dos solos, regulação do regime das águas, controle do efeito estufa e
proteção da flora e fauna. É fundamental encontrar formas de proteção, manejo e uso das florestas nativas, que
assegurem geração de renda, aprimoramento da qualidade de vida dos moradores e a manutenção dos serviços
ambientais.

O QUE SÃO OS PRODUTOS E SERVIÇOS AMBIENTAIS?

Os produtos ambientais são prestados pelos ecossistemas e servem ao homem para sua sobrevivência
ou para atividades comerciais, como a indústria da madeira, da alimentação, das peles para roupa, das
sementes e de medicamentos. Os serviços ambientais são trabalhos úteis, prestados pela natureza para o
homem, como: a produção de oxigênio, sequestro e captação de carbono, conservação das plantas e dos
animais, biodiversidade, proteção de solos e proteção da água.

QUAL O SERVIÇO AMBIENTAL PRESTADO COM A CONTRIBUIÇÃO DO PRODUTOR RURAL PARA A


SOCIEDADE?

A propriedade rural quando tem suas florestas rurais bem preservadas, contribui para a manutenção da
qualidade das águas, para a proteção do solo e para fornecer abrigo para as plantas e animais. Isto contribui
diretamente para a manutenção da biodiversidade e a conservação de ambientes saudáveis, no campo e nas
cidades. Ao final, todos somos beneficiados com água limpa, ar com qualidade e ambientes mais equilibrados.
A impossibilidade física e institucional do Poder Público em controlar e fiscalizar o acesso e uso da floresta,
constata-se que as práticas de “manejo” têm custo adicional, que prejudica a comercialização dos “produtos
limpos”.
O conceito do pagamento por serviços ambientais, não está baseado na repressão, mas no incentivo e
na compensação para aquele que faz o esforço de manter os serviços ambientais, como o proprietário rural que
conserva os rios e florestas em sua propriedade.
Quem paga é aquele que recebe os benefícios dos serviços ambientais. Por exemplo: uma companhia
de energia elétrica ou uma cervejaria que utilizam a água como matéria-prima principal do seu negócio, pagam
àqueles proprietários que mantém preservadas as áreas de nascentes e cursos d´água. Os serviços ambientais
usufruídos por todos que moram nas cidades, como a estabilização do clima mediante seqüestro de carbono e a

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qualidade da água dos mananciais de abastecimento público, criam a obrigação de uma contribuição financeira,
para remunerar os que se esforçam para manter estes serviços.

ALTERNATIVAS DE PAGAMENTO POR SERVIÇOS AMBIENTAIS (OBJETOS DE PAGAMENTO)

• Desmatamento Evitado (REDD): indústrias que emitem grandes quantidades de poluentes no ar, compram
créditos de carbono, obtidos de produtores rurais, que abdicam de seus direitos de cortar suas florestas para
sequestrar e imobilizar o carbono em suas árvores.

• Sequestro de carbono: indústrias que não conseguem reduzir suas emissões de Carbono na atmosfera,
pagam para que produtores rurais possam plantar árvores e mantenham suas florestas.

• Proteção da fauna e flora: uma empresa farmacêutica paga a uma comunidade para a manutenção da
floresta, para ter à sua disposição matéria-prima para sua indústria.

• Proteção dos rios: usuários das águas de um rio a jusante, pagam para que os proprietários rurais
mantenham suas florestas as margens do rio, e adotem usos da terra que diminuam a erosão e a contaminação
do lençol freático.

• Ecoturismo: por exemplo, uma empresa de turismo paga para que uma comunidade local não realize caça
numa floresta, usada para turismo de observação da vida silvestre.

• Compensação ambiental e servidão florestal: um produtor rural que tem excedente de floresta em sua
propriedade, cede sua área a um vizinho, que não tem reserva florestal em sua propriedade. Ou ainda, uma
empresa que impacta o ambiente deve pagar uma compensação ao Estado, utilizada para criar e manter
unidades de conservação.

• Mecanismos de incentivo tributário: as áreas de preservação permanente, reserva legal e RPPN são isentas
do Imposto Territorial Rural (ITR).

• Créditos por redução certificada de emissões de gases de efeito estufa: esse mecanismo chamado de
“Desenvolvimento Limpo” (MDL), permite a uma empresa que emite mais do que a sua quota (estabelecida no
protocolo de Quioto) comprar, via mercado, “crédito de carbono” de outra empresa ou projeto que consiga emitir
menos do que a sua quota, ou que sequestra carbono (MDL). Este mecanismo não está destinado a atividades
“limpas” já estabelecidas.

• Créditos por redução voluntária de emissão de gases de efeito estufa: mecanismo que permite a uma
empresa valorizar, no mercado voluntário, a sua contribuição na redução de gases de efeito estufa.

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A aberração dos quatro módulos fiscais


Por Márcio Santilli

http://www.socioambiental.org/nsa/direto/direto_html?codigo=2011-05-09-093002

A figura jurídica do “módulo fiscal” foi instituída pelo Incra com o objetivo de estabelecer um parâmetro
mínimo de extensão das propriedades rurais que indique a sua viabilidade como unidade produtiva,
dependendo da sua localização. A extensão do módulo fiscal varia de 5 a 110 hectares, dependendo da
localização do município em que está situada a propriedade rural. Nas regiões metropolitanas, via de regra,
a extensão do módulo rural é tendencialmente bem menor do que nas regiões mais afastadas dos grandes
centros consumidores.
Caso a proposta de revisão do Código Florestal formulada pelo deputado Aldo Rebelo venha a ser aprovada
pelo Congresso Nacional, a instituição da figura do módulo fiscal como parâmetro para isentar propriedades
rurais (até quatro módulos) da responsabilidade de recuperar áreas de reserva legal geraria situações
absurdas pelo território nacional afora.
Uma propriedade rural com 100 hectares, que tenha desmatado a sua área de reserva legal, estará isenta de
recuperá-la se estiver situada no município de Tietê, mas não estará isenta e estará obrigada a recuperar ou
compensar 20 hectares se estiver situada no município de Piracicaba, ambos localizados numa mesma sub-
região do estado de São Paulo.
Uma propriedade rural com 500 hectares, que tenha desmatado a sua área de reserva legal, terá que
recuperar ou compensar uma extensão de 79,2 hectares se estiver situada em Tietê, mas terá que recuperar
ou compensar uma extensão de 92 hectares se estiver situada em Piracicaba.
Similarmente, uma propriedade com 100 hectares e que não dispõe de reserva legal não precisará recuperá-
la se estiver em Conchas, mas precisará recuperar ou compensar 20 hectares se estiver em São Manuel, na
mesma sub-região de SP. Se a propriedade tiver 500 hectares e não dispuser de reserva legal, terá que
recuperar ou compensar 76 hectares se estiver em Conchas, mas que seriam 86,5 hectares se ela estivesse
localizada em São Manuel.
No município paulista de Cunha, com perfil serrano, propriedades sem reserva legal com até 160 hectares
ficariam isentas de recuperá-la ou compensá-la, enquanto em Itapecerica da Serra, município com um perfil
topográfico similar e localizado no mesmo estado, embora em região diferente, propriedades sem reserva
legal com mais de 20 hectares estariam obrigadas a recuperá-la ou compensá-la. A extensão oito vezes
menor do módulo fiscal em Itapecerica, que se justifica por sua proximidade em relação à capital, lhe
imporia uma desvantagem comparativa em relação a Cunha para fins de obrigação de recuperação de reserva
legal, quando as terras em Itapecerica seriam, supostamente, mais valiosas e mais necessárias para a
produção de alimentos do que as situadas em Cunha, muito mais distantes dos principais mercados
consumidores.

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Ainda comparando esses dois municípios paulistas, uma propriedade com 500 hectares sem reserva legal em
Cunha estará obrigada a recuperar somente 72 hectares, enquanto outra com a mesma extensão e situação
localizada em Itapecerica estará obrigada a recuperar 96 hectares.
No Mato Grosso, onde já há diferenciação por bioma (floresta 80% e cerrado 35%) do percentual de reserva
legal, uma propriedade sem reserva legal e com 350 hectares não precisaria recuperá-la se estiver situada
em Cláudia ou em Sinop, mas teria que recuperá-la se estiver em Canarana, Querência ou Primavera do
Leste. Se a propriedade tivesse uma extensão de mil hectares e não dispusesse de reserva legal, teria que
recuperar 480 hectares se estivesse em Cláudia, 512 ha se estivesse em Sinop, 544 ha se estivesse em
Querência, 238 ha se estivesse em Canarana e 266 ha se estivesse em Primavera do Leste.
Anomalias do gênero ocorreriam Brasil afora. Uma propriedade de 300 ha em Crateús (CE), desprovida de
reserva legal, não teria nada a recuperar, mas propriedade com igual extensão e também sem reserva, em
Eusébio (CE), estaria obrigada a recuperar 52 ha (embora as terras em Eusébio, na grande Fortaleza, sejam
supostamente mais necessárias à ocupação). Em Goiás, uma propriedade com 500 ha e sem reserva teria que
recuperar 44 ha se estiver situada em Posse ou em Alvorada do Norte, mas teria que recuperar 84 ha se
estivesse em Ceres, mas que já seriam 60 ha no município vizinho de Pilar de Goiás.
Além disso, a utilização deste parâmetro projetará as distorções fundiárias e cartoriais sobre a obrigação
ambiental de cada propriedade ou proprietário. Por exemplo, uma propriedade com sete módulos de
extensão, se composta por mais de uma matrícula cartorial, poderá ver-se totalmente isenta dessa obrigação.
Por conseguinte, a instituição em lei deste parâmetro incentivará manipulações cartoriais e subdivisões de
propriedades com o objetivo de desmatar ou de não recuperar áreas florestadas nas propriedades rurais.
Significa dizer que a eventual aprovação da proposta do deputado Aldo Rebelo, nos termos em que se
encontra tornaria impossível o controle pelos órgãos ambientais sobre a situação de cada propriedade, assim
como inviabilizaria a implantação de qualquer tipo de cadastro ambiental rural (previsto na sua própria
proposta). Haveria uma situação fundiária de fato, relativa à condição objetiva das propriedades rurais, e
uma situação fictícia, decorrente da burla generalizada dos dados fundiários visando isenções de obrigações
ambientais.
Por essas e outras, caso o Congresso Nacional venha a acolher a referida proposta, estará instituindo uma
situação de absoluta ingovernabilidade florestal, seja qual for a instância do poder público responsável pela
gestão da política florestal. Por isso, reafirmo a minha opinião de que a proposta em discussão é
reacionária, predatória e impossível de ser remendada. Se o Congresso acatá-la como base para a reforma do
Código Florestal, estará produzindo a pior lei florestal da história do Brasil.

9/5/2011

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