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APOSTILA
Técnico em agronegócio
2011, Umuarama.
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DIREITO AGRÁRIO E AMBIENTAL
PROFESSOR – TARCISIO MIGUEL TEIXEIRA
EMENTA:
Noções de Direito Civil. Sociedades.
Direito ambiental e Política, instrumentos e sistema nacional do meio ambiente.
Direito Agrário brasileiro. Contratos e tributos agrários.
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DIREITO CIVIL
SOCIEDADES
O conceito de sociedade remonta ao Código de Manu (Índia, 1400 a..C ), o qual estabelecia que,
“Quando vários homens se reúnem para cooperar, cada um com seu trabalho, em uma mesma empresa, tal é a
maneira por que deve ser feita a distribuição das partes” (art. 204). A sociedade, assim, é um contrato bilateral
ou plurilateral em que as partes, ou seja, os sócios combinam a aplicação de seus recursos com a finalidade de
desempenhar certa atividade econômica, com a divisão dos frutos ou lucros por ela gerados. Três são os
elementos essenciais da sociedade definidos por este art. 981:
1) a reunião de recursos, sob a forma de capital ou de trabalho, com cada sócio colaborando na sua
formação;
2) o exercício em comum de atividade produtiva; e
3) aí partilha ou divisão dos resultados econômicos da exploração da empresa.
De acordo com o parágrafo único do art. 981 a sociedade pode constituir-se tanto para executar um
objeto delimitado como para desempenhar uma atividade econômica contínua. Esse preceito procura alcançar,
simultaneamente, ,a idéia de unidade e pluralidade no ato de constituição da sociedade. O elemento subjetivo da
norma indica que pode integrar uma sociedade qualquer pessoa, seja ela física ou jurídica.
A norma deste art. 982 vem a instituir uma nova divisão entre as formas societárias até então definidas
pelo direito privado brasileiro. Se adotarmos um paralelismo simétrico, a antiga sociedade comercial passou a
ser denominada sociedade empresária, enquanto a sociedade civil, regulada pelo Código de 1916, passou a ser
definida como sociedade simples.
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Os arts. 1.039 a 1.092 do novo Código Civil definem cinco tipos de sociedades:
Essas sociedades são consideradas como sendo personificadas, isto é, adquirem personalidade jurídica
após regularmente constituídas. Além destas, temos que podem ser constituídas outras três modalidades
societárias, não empresárias, subdivididas em sociedades não personificadas e sociedades personificadas. São
sociedades não personificadas a sociedade em comum (ais. 986 a 990) e a sociedade em conta de participação.
São sociedades personificadas a sociedade simples, a sociedade cooperativa (ais. 1.093 a 1.096) e a sociedade
coligada. Quando as sociedades simples adotarem uma das formas de sociedade empresária, subordinam-se às
normas especiais que regem o tipo societário adotado, devendo seus atos constitutivos ser levados para
arquivamento perante o Registro Público de Empresas Mercantis, com exceção da sociedade em conta de
participação e da sociedade cooperativa, que somente podem ser constituídas sob essa forma específica. A
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antiga sociedade comercial de capital e indústria foi extinta pelo novo Código Civil.
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Fiz mudanças neste texto. O original constava a sociedade em conta de participação como personificada.
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a) o Surgimento de uma nova pessoa, distinta de seus sócios, que exercita direitos e assume obrigações
em seu nome;
b) formação de um patrimônio próprio, separado do patrimônio pessoal dos sócios que a integram;
c) definição de sua nacionalidade, domicílio e sede;
d) aquisição de capacidade jurídica ativa e passiva.
A sociedade em comum é um tipo de sociedade não personificada, constituída de fato por sócios para o
exercício de atividade empresarial ou produtiva, com repartição de resultados, mas cujo ato constitutivo não foi
levado para inscrição ou arquivamento perante o registro competente. As disposições deste capítulo sobre a
sociedade em comum servem para regular as relações entre os sócios e destes com terceiros anteriormente à
àquisição de personalidade jurídica pela sociedade. A norma deste art. 986 excepciona da aplicação do regime
da sociedade em comum.
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A sociedade em conta de participação é uma espécie de sociedade não personificada, classificada como
sociedade empresária, mas que, diferentemente da sociedade em comum, em geral é constituída mediante
contrato social, apesar de esse contrato não ser levado a registro perante a Junta Comercial. Perante terceiros
que com ela contratam somente aparece o sócio ostensivo, que pode ser pessoa física ou jurídica, assumindo
em seu nome todas as obrigações contraídas em razão da execução do objeto mercantil a que se destina. Os
demais sócios, denominados sócios ocultos, não aparecem perante terceiros, mas exercem direitos perante o
sócio ostensivo, que deverá prestar contas de suas atividades e dividir com estes os resultados da exploração
empresarial.
A prova da existência da sociedade em conta de participação, não existindo contrato social escrito
celebrado entre o sócio ostensivo e os sócios ocultos, poderá ser demonstrada por todos os meios de prova
admitidos em direito, como, exemplo, prova testemunhal, documental ou pericial. Os documentos contábeis ,
fiscais ou instrumentos escritos, como conespondências por meio físico ou eletrônico, também servem para
demonstrar a comunhão de interesses entre pessoas na exploração de uma atividade empresarial sob a forma
de em conta de participação.
DA SOCIEDADE PERSONIFICADA
DA SOCIEDADE SIMPLES
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A sociedade simples deve ser constituída mediante contrato particular ou de escritura pública, que
deverá conter, necessariamente, as cláusulas essenciais elencadas nos incisos 1 a VIII do art. 997. Essas
cláusulas básicas definem os aspectos principais que caracterizam a sociedade, a partir da identificação e
qualificação dos sócios, que poderão ser pessoas naturais ou jurídicas. Particularizam a sociedade sua
denominação, seu objeto, sua sede e prazo de duração. É obrigatória também a quantificação do capital, sua
divisão em quotas e a respectiva distribuição entre os sócios. Na sociedade simples, como não tem natureza
empresarial, admite-se que um sócio contribua, apenas, com serviços ou trabalho, tal como acontecia,
anteriormente, com a sociedade civil e com a sociedade de capital e indústria, desaparecida esta última com o
advento do novo Código Civil. O contrato social deve prever, também, se os sócios respondem, ou não,
subsidiariamente pelas obrigações sociais, introduzindo, nas sociedades simples, o regime da responsabilidade
limitada dos sócios, o que não ocorria na sociedade civil, em que os sócios sempre tinham responsabilidade
subsidiária pelas dívidas e obrigações da sociedade. O parágrafo único deste dispositivo estatui que somente
produzirão efeitos com relação a terceiros as normas e cláusulas que constem, expressamente, do contrato
social, tomando ineficaz qualquer pacto em separado, que somente pode valer nas relações entre os sócios.
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A sociedade em comandita simples é um tipo de sociedade na qual existem sócios de duas categorias, a
saber, os sócios comanditados, que representam e administram a sociedade, com responsabilidade solidária e
ilimitada em face das obrigações sociais, e os sócios comanditários, que podem ser pessoas físicas ou jurídicas.
Mas que não participam da administração e gerencia da sociedade, ficando limitada a responsabilidade de cada
sócio comandatário ao valor das respectivas quotas do capital social.
A Sociedade em comandita simples, apesar da sua expressiva decadência como forma de exercício da
atividade mercantil, apresentado-se em franco desuso (Waldirio Bulgarelli, Sociedades comerciais, São Paulo,
Atlas, 1987, p. 150), teve sua espécie mantida pelo novo Código Civil, da mesma maneira como permanece
prevista na legislação de outros países. A sociedade em comandita simples, pela nova disciplina instituída no
Código Civil de 2002, pode ser empresária ou não. Será empresária quando desempenhar atividade organizada
destinada à produção ou circulação de bens ou serviços no mercado. Poderá, contudo, ter natureza estritamente
civil, ou seja, não mercantil, quando vinculada ao exercício de atividades científicas, literárias ou artísticas (art.
966).
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DA SOCIEDADE LIMITADA
A sociedade limitada é regulada pelas normas e disposições que lhe são próprias (arts. 1.052 a 1.087).
Ocorrendo omissão ou falta de regra expressa que regule a organização da sociedade limitada e as relações dos
sócios entre si ou diante de terceiros, devem ser aplicadas as normas das sociedades simples (arts. 997 a
1.038). No caso das sociedades empresárias, em particular daquelas com maior grau de complexidade
organizacional e societária, o parágrafo único deste dispositivo estipula que, por cláusula expressa constante do
contrato social, as lacunas e omissões das disposições que regem a sociedade limitada podem ser supridas,
diretamente, pelas normas aplicáveis às sociedades anônimas (Lei n. 6.404/76).
DAS QUOTAS
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O capital da sociedade limitada é representado por quotas quantificadas de acordo com o montante total
do capital dividido pelo número de quotas detidas por cada sócio. As quotas podem ser divididas de modo
igualitário, isto é, quando todos os sócios sejam titulares do mesmo número de quotas, ou de modo desigual,
quando algum sócio possua um número de quotas superior àquelas pertencentes aos demais, apresentando-se
este, assim, como sócio majoritário ou controlador. Se as quotas da sociedade limitada forem repartidas
igualmente entre os sócios, nessa situação, temos a divisão do capital em quotas iguais. Contudo, se uni sócio
detiver maior quantidade de quotas do que os demais, então, nesse caso, a divisão das quotas será desigual.
Quando o capital da sociedade limitada vier a ser integralizado em bens, móveis ou imóveis, todos os sócios
assumem a responsabilidade solidária pela avaliação desses bens, até o prazo de cinco anos da constituição da
sociedade ou do registro correspondente ao aumento do capital. Na sociedade limitada, a integralização do
capital somente pode ser realizada por meio de dinheiro ou bens, sendo vedada, nos termos do § 2o do art.
1.055, qualquer contribuição sob a forma de serviços, trabalho ou indústria.
Em relação à sociedade, as quotas são indivisíveis, porque inerentes ao próprio capital, não podendo ser
fracionadas. Cada quota corresponde à menor fração em que se divide o capital, devendo ser representada por
um número inteiro. A indivisibilidade das quotas não importa em sua intransferibilidade, porque as quotas, que
têm natureza de bem móvel, podem ser transferidas, mediante alienação ou doação a outros sócios ou a
terceiros. Quando uma quota ou quotas pertencer a mais de uma pessoa em co-propriedade, estaremos diante
de uma situação de condomínio de quotas, quando deverá ser designado, perante a sociedade, um
representante do condomínio, que será obrigatoriamente o inventariante do espólio no caso da atribuição comum
de quotas aos herdeiros de sócio falecido. A quota indivisa é aquela cujos direitos são exercidos em co-
propriedade, existindo solidariedade entre os condôminos pela respectiva integralização ao capital da sociedade.
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DA SOCIEDADE ANÔNIMA
O novo Código Civil veio respeitar a legislação especial que regula a sociedade anônima. O art. 1.088
limita-se a formular a definição legal dessa sociedade, que será sempre regida pelas “leis e usos do comercio”
(Lei n. 6.404/76, Art. 2~, § 19. Segundo a definição própria da sociedade anônima, esta tem seu capital social
dividido em ações, e a responsabilidade dos sócios ou acionistas é limitada pelo preço de emissão das ações
que subscrever ou adquirir. Essa responsabilidade é pessoal, não havendo solidariedade entre os acionistas por
eventuais obrigações assumidas pela sociedade. Cada acionista somente responde pelas ações que se obrigar
a adquirir e que venha efetivamente a realizar para a formação do capital.
A sociedade anônima, típica sociedade empresária (art. 982, parágrafo único), rege-se por lei especial. O
novo Código Civil limitou-se a reconhecer e ordenar essa remissão necessária para a legislação de direito
comercia]. A vigente Lei das Sociedades Anônimas (Lei n. 6.404/76) é o diploma legal que deve reger e regular a
constituição e funcionamento dessa espécie societária de natureza eminentemente mercantil. Somente em caso
de omissão da Lei das Sociedades Anônimas, ou seja, na hipótese de lacuna da lei especial, é que poderão ser
aplicadas as normas gerais do Código Civil que regem as sociedades empresárias.
A sociedade em comandita por ações é um tipo societário pouco usual ou considerado menor pela
doutrina. Porque, mesmo sendo organizada à semelhança da sociedade anônima, com seu capital dividido em
ações, os acionistas diretores da sociedade respondem em caráter subsidiário e ilimitado pelas obrigações
sociais. Seu nome empresarial pode ser formado pela firma social, que identificará os acionistas
administradores, ou por denominação, do modo como adotado pela sociedade anônima (Lei n. 6.404/76, Art. 49,
sempre acompanhado da expressão “comandita por ações”, por extenso ou abreviadamente (Lei n. 6.404/76,
Art. 281, parágrafo único).
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O cargo de administrador da sociedade em comandita por ações é privativo dos sócios, não podendo
haver delegação a terceiros estranhos à sociedade. A responsabilidade do administrador é ilimitada, podendo
seus bens particulares ser alcançados na execução de dívidas da sociedade, mas somente após esgotado todo
o patrimônio social (responsabilidade subsidiária). Se a diretoria da sociedade for integrada por dois ou mais
acionistas, existirá também entre estes responsabilidade solidária pelas obrigações sociais. Os membros da
diretoria serão designados pelo estatuto da sociedade no momento de sua constituição, para exercício da
administração por tempo indeterminado. A destituição de acionista diretor somente poderá ocorrer com a
aprovação de acionistas titulares de dois terços do capital social. O administrador que se afastar, voluntária ou
involuntariamente, da diretoria da sociedade em comandita permanece responsável, pelo prazo de dois anos,
pelas obrigações sociais existentes na data de sua retirada ou destituição.
DA SOCIEDADE COOPERATIVA
A sociedade cooperativa encontra-se definida pelo art. 32 da Lei n. 5.764/71. do seguinte modo:
“Celebram contrato de sociedade cooperativa as pessoas que reciprocamente se obrigam a contribuir com bens
ou serviços para o exercício de uma atividade econ8mica, de proveito comum, sem objetivo de lucro”. É a
cooperativa, pois, um tipo peculiar de sociedade, que poderá ser constituída mesmo sem capital, mas apenas
com serviços, não tendo finalidade lucrativa. Por isso que o art . 4º da Lei n. 5.764/71 afirma que as cooperativas
são “sociedades de pessoas, com forma e natureza jurídica próprias, de natureza civil, não sujeitas à falência”,
destacando que estas não possuem natureza mercantil. Os arts. 1.093 a 1.096 do Código Civil estabelecem as
regras gerais de regulação da sociedade cooperativa, sendo complementadas pelas normas da legislação
especial.
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O estatuto da sociedade cooperativa deverá definir se a responsabilidade dos sócios pelas obrigações
sociais será limitada ou ilimitada. A Lei n.5.764/71 restringia a definição da responsabilidade à própria sociedade.
Esta disposição do art. 1.095 é mais ampla, e permite que, em uma mesma sociedade cooperativa, existam
sócios com responsabilidade limitada e sócios com responsabilidade limitada, tal como ocorre nas sociedades
em comandita. Sendo limitada, o limite da responsabilidade do sócio compreende, apenas, o valor de suas
quotas e o prejuízo decorrente de operações das quais o sócio participe diretamente. Se a responsabilidade do
sócio for ilimitada, ele poderá responder com seu patrimônio pessoal pela execução de dívidas sociais, em
caráter solidário com os demais sócios de responsabilidade ilimitada.
As relações de coligação genérica são relações de participação de uma sociedade em outra, detendo ou
não seu controle.
Sociedades coligadas são aquelas vinculadas a uma ou mais empresas sujeitas à mesma relação de
controle, integrantes do mesmo grupo econômico. As sociedades podem ligar-se por relações de controle ou
coligação, como subsidiária integral, participação em grupos ou por consórcio. No caso do enunciado deste art.
1.097, a vinculação decorre de relações de capital, quando uma sociedade detém participação no capital de
outra sociedade, exercendo ou não seu controle.
A relação de controle de uma sociedade por outra depende da ocorrência simultânea de dois fatores:
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Na hipótese do inciso 1, ocorre a relação de controle direto de uma sociedade por outro. Já no caso do
inciso II, a relação de controle é indireta, existindo entre a sociedade controlada e a controladora superior,
denominada holding, outras sociedades que também participam do capital da controlada, O § 2º do art. 243 da
Lei n. 6.404/76, de modo mais preciso, define essas relações de controle direto e indireto, por meio de
sociedades interpostas.
A sociedade coligada, em sua acepção estrita , corresponde ao que a redação original do Código Civil
denominava sociedade filiada. O conceito de sociedade coligada prevalente no direito societário é o constante
dos lo do art. 243 da Lei n. 6.404/76, reproduzido por este art. 1.099. Haverá relação de coligação entre duas
sociedades quando uma participe de mais de dez por cento do capital da outra, porém sem exercer seu controle.
Quando houver pequena participação de uma sociedade no capital de outra, sendo essa participação
inferior a dez por cento do capital com direito a voto, define-se tal relação como de simples participação. Não
existirá, assim, coligação em sentido estrito, ainda que as sociedades integrem um mesmo grupo econômico e
estejam vinculadas, indiretamente, a uma mesma sociedade holding.
Antonio S. Poloni
1. Comentários Iniciais
O novo Código Civil, instituído pela Lei n° 10.406/02, entrou em vigor em 11 de janeiro de 2003, tendo revogado
a Lei n° 3.017/1916 (Código Civil de 1916) e a Parte Primeira da Lei n° 556/1850 (Código Comercial de 1850),
trazendo diversas inovações que regram a vida e os negócios desenvolvidos por pessoas e empresas.
De acordo com o artigo 981, considera-se contrato de sociedade aquele mediante o qual as pessoas
reciprocamente se obrigam a contribuir, com bens ou serviços, para o exercício de atividade econômica e a
partilha, entre si, os resultados.
A sociedade pode ser empresária, se tiver por objeto a atividade econômica organizada para a produção ou
circulação de bens e serviços ou simples, nos demais casos.
O Novo Código Civil introduziu importante alteração no que diz respeito à sociedade entre marido e mulher. O
art. 977 do Novo Código Civil faculta aos cônjuges contratar sociedade, entre si ou com terceiros, desde que não
sejam casados no regime da comunhão universal de bens ou no da separação obrigatória. Os cônjuges casados
pelo regime de comunhão universal de bens não podem constituir sociedade porque não existe pluralidade de
patrimônio. Em se tratando de cônjuges casados pelo regime de separação obrigatória de bens, a vedação à
constituição de sociedade decorre do efeito patrimonial deste, que é a união de patrimônios destacados,
previamente vedados pela lei, no caso deste regime de casamento.
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Sob o Novo Código o empresário casado pode, qualquer que seja o regime de bens, sem necessidade de obter
outorga conjugal, alienar ou gravar de ônus real imóveis que pertençam ao patrimônio da empresa (art. 978).
As associações, sociedades e fundações, constituídas na forma das leis anteriores, terão o prazo de um ano, a
partir de 11.01.2003, para se adaptarem às disposições do Novo Código. Igual prazo é concedido aos
empresários (art. 2.031 do Novo Código Civil). Salvo o disposto em lei especial, as modificações dos atos
constitutivos das pessoas jurídicas, bem como a sua transformação, incorporação, cisão ou fusão, regem-se
desde logo por este Código (art. 2.033).
Este trabalho aborda o Novo Código Cível, notadamente aos novos conceitos relativos às sociedades.
Embora estabeleça o Novo Código Civil que a personalidade jurídica da sociedade começa com o registro de
seus atos constitutivos, possui dispositivos que regem o que denomina de sociedade não personificada,
denominação sob a qual acolheu a sociedade em comum (antiga sociedade de fato) e sociedade por conta de
participação.
Portanto, considera-se sociedade não personificada aquela cujo ato constitutivo ainda não foi registrado no
órgão competente, ou seja, aquela que não possui personalidade jurídica.
Excetuam-se deste conceito, as sociedades anônimas e as sociedades em comandita por ações, uma vez que,
de acordo com a legislação de regência, não podem funcionar sem que sejam arquivados e publicados os seus
atos constitutivos (art. 982).
A sociedade em comum, embora não tenha, ainda, seus atos constitutivos registrados, é uma sociedade de fato,
cuja existência é comprovada, independente de ter ou não contrato escrito.Os sócios, nas relações entre si ou
com terceiros, somente por escrito podem provar a existência da sociedade em comum, mas os terceiros podem
prová-la de qualquer forma (artigos 986 e 990).
O novo Código Civil, em seus artigos 986 a 990, regula a relação entre os sócios da sociedade em comum e
entre estes e terceiros,definindo que a responsabilidade dos sócios é solidária e ilimitada.
A constituição da sociedade em conta de participação independe de qualquer formalidade e pode provar-se por
todos os meios em direito admitidos. O contrato social produz efeitos somente entre os sócios, e a eventual
inscrição de seu instrumento em qualquer registro não confere personalidade jurídica à sociedade (artigos 991 a
996).
3. SOCIEDADE PERSONIFICADA
Considera-se sociedade personificada aquela que possui personalidade jurídica, obtida mediante registro de
seus atos constitutivos no órgão competente.
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É definida como sociedade empresária àquela que tem por objeto o exercício de atividade econômica organizada
para a produção ou a circulação de bens ou de serviços, ou seja, considera-se sociedade empresária a antiga
sociedade comercial.
Antes de iniciar a atividade econômica, o empresário individual ou a sociedade empresária, que a ela for se
dedicar, deverá inscrever-se no Registro Público de Empresas Mercantis, a cargo das Juntas Comerciais (artigos
967, 968 e 1.150 do Código Civil), tendo como elemento essencial o nome empresarial.
c) sociedade limitada;
d) sociedade anônima;
Exceto pelo fato de poder exercer atividade empresária, este tipo de sociedade é praticamente idêntico ao da
sociedade simples. Nesta sociedade somente podem participar pessoas físicas, respondendo todos os sócios,
solidária e ilimitadamente, pelas obrigações sociais.
Sem prejuízo da responsabilidade perante terceiros, podem os sócios, no ato constitutivo, ou por unânime
convenção posterior, limitar entre si a responsabilidade de cada um.
As sociedades por comandita simples são regidas supletivamente pelas normas da sociedade em nome coletivo,
cabendo ao sócios comanditados os mesmos direitos e obrigações dos sócios em nome coletivo. Sem prejuízo
da faculdade de participar das deliberações da sociedade e de fiscalizar suas operações, não pode o
comanditário praticar nenhum ato de gestão nem ter o nome da firma social, sob pena de ficar sujeito às
responsabilidade de sócio comanditado.
Na sociedade limitada, a responsabilidade de cada sócio é restrita ao valor de suas quotas, mas todos
respondem solidariamente pela integralização do capital social.
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Este tipo de sociedade passa a ter um regime consolidado em apenas um diploma legal, pois, a sociedade ente
denominada de sociedade por quotas de responsabilidade limitada, tinha seu regime jurídico determinado pelo
Decreto n° 3.708/19, revogado, e subsidiariamente pela Lei das Sociedades Anônimas (Lei n° 6.404/76).
A aplicação subsidiária da lei da sociedades anônimas continua sendo possível, desde que haja previsão
expressa no contrato social.
Na sociedade anônima ou companhia, o capital divide-se em ações, obrigando-se cada sócio ou acionista
somente pelo preço de emissão das ações que subscrever ou adquirir. A sociedade anônima rege-se por lei
especial (Lei n° 6.404/76 e disposições posteriores), aplicando-se-lhe, nos casos omissos, as disposições do
Novo Código Civil (artigos 1.088 e 1.089).
Esta sociedade tem o capital dividido em ações, regendo-se pelas normas relativas à sociedade anônima.
Todavia, neste tipo societário, somente o acionista tem qualidade para administrar a sociedade e, como diretor,
responde subsidiária e ilimitadamente pelas obrigações da sociedade (artigos 1.090 a 1.092).
É considerada sociedade simples aquela cujo objeto social seja decorrente de profissão intelectual, de natureza
científica, literária ou artística, ainda com concurso de auxiliares ou colaboradores, ou seja, considera-se
sociedade simples a antiga sociedade civil.
A sociedade simples (exceto no caso das cooperativas e de determinadas atividades reguladas por leis especiais
que imponham a doação de tipo societário específico, poderão ser constituídas de conformidade com um dos
tipos examinados nos subitens anteriores (exceto como sociedade por ações), ou não o fazendo, subordinam-se
às normas que lhes são próprias (arts. 997 a 1.000).
Neste tipo de sociedade, os bens particulares dos sócios (inclusive àqueles que ingressem em uma sociedade já
constituídas) poderão ser executados por dívidas da sociedade, mas apenas depois de executados os bens
sociais, se estes forem insuficientes para saldar as dívidas. Neste caso, os sócios responderam com o seu
patrimônio social na proporção que participem das perdas sociais, salvo se houver no contrato social cláusula
estipulando a responsabilidade solidária.
4. Quadro Resumo
ATIVIDADES
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DIREITO AGRÁRIO
a) EXPLORAÇÃO RURAL – são as operações tendentes à obtenção dos produtos primários, ou seja, de
conseguimento dos frutos do solo e acessórios deste, esta é atividade agrária típica, por excelência, que se
retrata nos exercícios da lavoura, da pecuária, do extrativismo vegetal e animal e hortigranjearia (aves, abelhas,
hortaliças, flores, frutas, peixes, etc.).
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Na analise destas funções genéricas das atividades agrárias, podemos concluir que o objeto do direito
agrário são todos os fatos jurídicos que emergem do campo:
a) Atividade agrária;
b) Estrutura agrária;
c) Empresa agrária;
d) Política agrária;
ATIVIDADES
15) Quais os fatos jurídicos que são objetos genéricos do direito ambiental?
16) Quais os aspectos das atividades agroindustriais são englobados no estudo do direito agrário?
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PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS
1) Princípio do monopólio legislativo da União (CF/88, art. 22, § 1º) - Somente a União, sob
pena de inconstitucionalidade pode legislar sobre matéria agrária; pois o objetivo é gerar
uniformidade em todo o território nacional;
2) Princípio da sobreposição do uso ao título - o simples título não legitima nem mantém
regular a situação do titular da terra na medida em que a política agrícola e fundiária exige
produtividade. O uso prepondera sobre o título. (art. 185, II; 186, III e 196, CF/88; art. 5º caput,
c/c art. 184 CF/88);
5) Princípio das Normas de Ordem Pública – as normas do direito agrário são normas
cogentes, impositivas, objetivando dar efetividade à função social da propriedade (art. 5º, XXIII,
CF/88), ou seja, o interesse coletivo se sobrepõe ao individual.
8) Principio do Combate – tem por objetivo combater ao latifúndio, ao minifúndio, ao êxodo rural,
à exploração predatória e aos mercenários da terra;
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11) Princípio do fortalecimento da Empresa Agrária – de acordo com o art. 4º, VI do ET,
“Empresa Rural é o empreendimento de pessoa física ou jurídica, pública ou privada, que
explore econômica e racionalmente imóvel rural, dentro de condição de rendimento econômico
da região em que se situe e que explore área mínima agricultável do imóvel segundo padrões
fixados, pública e previamente pelo Poder Executivo. Para esse fim, equiparam às áreas
cultivadas, as pastagens, as matas naturais e artificiais e as áreas ocupadas com benfeitoria”.
Devem ser garantidos insumos ao amplo desenvolvimento da empresa agrária, tais como
mecanização agrícola (art. 78), assistência financeira e creditícia (art. 81 a 83), industrialização
e beneficiamento dos produtos agrícolas (art. 87 e 88), eletrificação rural e obras de
infraestrutura (art. 84), entre outras.
13) Principio do Dimensionamento Eficaz das áreas exploráveis - é necessário uma dimensão
mínima de propriedade rural que assegure ao trabalhador e à sua família subsistência digna e
progresso econômico. Observe-se que, para fins de usucapião houve uma duplicação da área
de 25 a 50 hectares (art. 191, CF/88);
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15) Princípio da Proteção ao Meio Ambiente – de todos os princípios, talvez o mais importante
para a atualidade seja o do meio ambiente ecologicamente equilibrado (art. 225, CF/88). Só
haverá o cumprimento da função social do imóvel rural quando ocorre a “utilização adequada
dos recursos naturais disponíveis e preservação do meio ambiente (art. 186, II, CF/88)
ATIVIDADE
01) Os vereadores de um município do Paraná aprovam nova lei orgânica sobre a reforma
agrária neste município. Dê sua opinião sobre esta frase.
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Está prevista no art. 5º e 186 da cf/88, o estatuto da terra também traz algumas ponderações sobre a
reforma agrária, estabelecendo que a função social da propriedade é de suma importância para que o particular
mantenha em sua posse, a sua propriedade e que, não atendida ela essa função, o poder público estará
extinguindo o direito a essa propriedade, pelo seu possuidor original :
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ATIVIDADE
01) Quais as finalidades da desapropriação por interesse social?
A REFORMA AGRÁRIA
CONCEITO
Reformar é a junção do vocábulo re + formare que significa dar nova forma, refazer, restaurar. Desta
forma, o direito agrário tem um compromisso com a transformação, devendo preocupar-se com a reforma
agrária, que se traduz na reformulação da estrutura fundiária. O estatuto da terra, no § 1º do artigo 1º, traz a
seguinte definição de reforma agrária:
O Estatuto da Terra nos trás uma definição jurídica, as diretrizes e os objetivos da reforma agrária.
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As benfeitorias são obras e despesas que se fazem em um bem imóvel ou móvel para conservá-lo,
melhorá-lo ou embelezá-lo. Estas benfeitorias podem ser:
BENFEITORIAS ÚTEIS – são as que visam aumentar ou facilitar o uso do bem, apesar de não serem
necessárias (ex: instalação de aparelhos sanitários modernos, construção de uma garagem);
BENFEITORIAS NECESSÁRIAS – são as que são indispensáveis à conservação do bem, para impedir
a deterioração (ex: serviços realizados no alicerce da casa que cedeu);
BENFEITORIAS VOLUPTUÁRIAS – são as de mero deleite ou recreio, têm escopo tão somente dar
comodidade àquele que as fez, não tendo qualquer utilidade por serem obras para embelezar a coisa (ex:
construção de piscina numa casa particular, decoração luxuosa num aposento).
Além das Leis Complementares, 76/93 e 88/96, que tratam do processo de desapropriação, também são
publicadas as Instruções Normativas do INCRA, que estabelecem os critérios para reforma agrária (IN/INCRA
36/2006).
ATIVIDADE
02) A quem compete realizar a desapropriação de imóveis rurais para fins sociais?
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O estatuto da terra (lei 4.504/64) artigo 9º, destacou, em linha de prioridade as terras públicas destinadas
à reforma agrária como as de propriedade da união que não tenham destinação específica, as terras reservadas
ao poder público para serviços ou obras de qualquer natureza, ressalvadas as pertinentes à segurança nacional,
desde que o órgão competente considere sua utilização econômica compatível com a atividade principal, sob
forma de exploração agrícola, bem como as terras devolutas da união, estados e municípios.
Já no seu artigo 12, o estatuto da terra estabelece que, no tocante “à propriedade privada da terra cabe
intrinsecamente uma função social e seu uso é condicionado ao bem-estar coletivo previsto na constituição
federal e nesta lei”.
O art. 15 prevê a necessidade de resolver com urgência a reforma em locais que estejam sob tensão
social.
Art. 15. a implantação da reforma agrária em terras particulares será
feita em caráter prioritário, quando se tratar de zonas críticas ou de
tensão social”.
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Analisemos os principais aspectos do Decreto Lei 74.965/74 que normatiza a aquisição de terras por
estrangeiros.
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USUCAPIÃO
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Respeitando os princípios constitucionais de uso social da terra e da soberania do uso sobre o título de
propriedade, foi criado o instituto do usucapião. O art. 191 da CF/88 resguarda a importância do trabalho do
homem, pois é este que gera alimentos, riqueza e justiça social. Portanto, o trabalho do homem deve superar o
título de posse na questão dos imóveis.
ATIVIDADE
01) O que significa usucapião e quais as condições para sua realização em meio rural?
02) Em que situação pode ocorrer a cessão de terras do estado para estrangeiros?
04) Qual limite de área do imóvel rural que pode ser adquirido por pessoa física estrangeira?
05) Qual limite da área de um município podem ser adquiridas por pessoas estrangeiras?
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Para a maioria dos doutrinadores, se o imóvel for destinado para moradia, comércio ou à industria, ele é
urbano; se for destinado à agricultura ou pecuária, ele é rural e também é chamado de “rústico”. Neste sentido o
art. 4º, inciso I, da lei nº 8.629/93 estabelece o seguinte critério :
Assim, segundo a jurisprudência dominante, os sítios ou chácaras de recreio são considerados imóveis
urbanos e são tributados pelo IPTU.
PROPRIEDADE FAMILIAR
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(...)
II. “Propriedade Familiar o imóvel que, direta e pessoalmente for
explorado pelo agricultor e sua família, lhes absorvendo toda a
força do trabalho, garantindo-lhes a subsistência e o progresso
social e econômico, com área máxima fixada para cada região e tipo
de exploração, e eventualmente trabalhado por terceiros.”
Paulo Tormin o define como “a área de terra que, trabalhada direta e pessoalmente por uma família de
composição média, com auxílio apenas eventual de terceiro, se revela necessária para a subsistência e ao
mesmo tempo suficiente como sustentáculo social e econômico da referida família.”
Conforme o art. 4º, inciso III do ET, a área do módulo rural é a mesma fixada para a propriedade familiar
:
Art. 4o. Para efeitos desta Lei, definem-se:
(...)
III – “Módulo Rural”, a área fixada nos termos do inciso anterior.
Desta forma, tem-se que modulo rural é a medida adotada para o imóvel rural classificado como
“propriedade familiar”. Para aclarar um pouco mais, o Decreto nº 55.891/65, trouxe-nos a seguinte informação:
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Diante da definição legal, pode-se dizer que o módulo rural apresenta 6 (seis) características que o
identificam :
1) É uma medida de área;
2) Suficiente para absorver a mão-de-obra do agricultor e sua família’
3) Varia de acordo com a região do país;
4) Varia de acordo com o tipo de exploração da terra;
5) Deve possibilitar uma renda mínima ao homem que nele trabalha – salário mínimo;
6) Deve permitir o progresso social ao homem que o habita.
O art. 5º do ET determina que a dimensão da área dos módulos de propriedades rurais será fixada na
conformidade com as características econômicas e ecológicas homogêneas, de cada zona, de acordo com os
tipos de exploração rural que nela possam ocorrer.
Quem estabelece a área em hectare de módulo rural de cada região do país é o INCRA, que já mapeou
a área e concluiu que no país existem 242 regiões e sub-regiões, considerando sua homogeneidade e
características econômicas e ecológicas, e que a exploração da terra pode ser agrupada em 5 tipos diferentes.
Dessa forma, o cálculo para a fixação do módulo rural, que é de competência do INCRA, se faz através
dos dados cadastrais fornecidos pelo proprietário ou possuidor do imóvel. Existem 1.210 tipos diferentes de
módulo rural, sendo o menor deles de 2 (dois) hectares, e o maior, de 120 (cento e vinte) hectares.
MÓDULO FISCAL
Tal modalidade não consta no rol de propriedades rurais contidas no artigo 4º do Estatuto da Terra. Lei
nº 4.504/64. É uma espécie de módulo rural criado pela Lei nº 6.476/79. Surgiu para estabelecer regras para o
lançamento e a tributação do ITR. No entanto o legislador, através da Lei nº 8.847/94, abandonou o parâmetro
do módulo fiscal como base de cálculo para tributar o ITR, retornando ao parâmetro do “hectare”. Assim, o
módulo fiscal ganhou outra função importante: estabelecer o conceito de pequena, média e grande propriedade
para efeito de desapropriação por interesse social, para fins de reforma agrária.
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A diferença entre módulo rural e módulo fiscal é que o primeiro é calculado para cada imóvel rural em
separado, e sua área reflete o tipo de exploração predominante no imóvel rural, segundo sua região de
localização; enquanto que o segundo é estabelecido para cada município, e procura refletir a área mediana dos
Módulos rurais dos imóveis rurais do município.
O Estatuto da Terra, no capitulo I – Da Tributação da Terra, nos artigos 48 e 49 fala sobre o ITR e no
artigo 50 assim se pronuncia:
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Para determinar o número de módulos fiscais (MF) de um determinado imóvel rural, deve-se dividir a sua
área aproveitável total pelo módulo fiscal fixado para o município de sua localização.
A área aproveitável nem sempre coincide com a dimensão total do imóvel, pois deve-se descontar as
áreas consideradas não aproveitáveis (não passíveis de exploração agrícola, pecuária ou florestal), relacionadas
no §4º do artigo 50 do Estatuto da Terra:
O módulo fiscal (MF) é medido em hectares e é definido por Município, cuja tabela está anexa à
Instrução Especial Incra nº 20, de 1980. Os municípios que foram criados após 1980 tiveram o valor de seu
módulo fiscal fixado por outros atos normativos daquela autarquia federal.
São dois pontos relevantes para o proprietário rural envolvendo o módulo fiscal:
a) a previsão da gratuidade dos trabalhos técnicos georreferenciados aos proprietários de imóveis rurais com
área total não excedente a 4 módulos fiscais (Lei dos Registros Públicos, artigo 176, §3º, e artigo 225, §3º); e
b) a isenção da obrigatoriedade da reserva legal para os imóveis com área não superior a 4 módulos fiscais no
projeto do novo Código Florestal (substitutivo ao PL nº 1876/99 e apensos).
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MINIFÚNDIO
Também denominado de parvifúndio em alguns países estrangeiros, ele se caracteriza por uma porção de terra
tão pequena que dificulta o seu próprio desenvolvimento. O minifúndio está definido no inciso IV, do art. 4º do
ET: que o define como o imóvel rural de área e possibilidades inferiores às da propriedade familiar.
Segundo Paulo Tormim, minifúndio :
“é a gleba de terra que, embora bem trabalhada pelo proprietário com sua família, e,
eventualmente com a ajuda de terceiro, se revela insuficiente para o sustento e o progresso social e
econômico do mesmo conjunto familiar”.
Desta forma, busca-se a extinção dos minifúndios já existentes, posto que essa forma de organização
não oferece condição bastante de exploração suficiente para o sustento do proprietário e de sua família. O ideal
é substituição gradativa dos minifúndios pela propriedade familiar; eis que esse não gerará a criação de
empregos.
LATIFÚNDIO
É o imóvel rural que, tendo área igual ou superior ao módulo, é mantido inexplorado, explorado
incorretamente, ou que tem dimensão incompatível com a justa distribuição da terra.
No Brasil há dois tipos de latifúndio: Latifúndio por extensão (territorial) e, Latifúndio por exploração (não
explorado ou explorado de forma incorreta).
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O Decreto nº 84.685, de 06.05.80, que regulamentou a Lei nº 6.746/79, em seu artigo 22 estabeleceu
nova conceituação ao latifúndio, dispondo o seguinte:
Art. 22. Para efeito do art. 4º, inc. IV e V, e no art. 46, § 1º, alínea b,
da Lei 4.504/64, considera-se :
I – (...)
II – Latifúndio, o imóvel rural que:
a) exceda a seiscentas vezes o módulo fiscal calculado na forma do
art. 5º;
b) não excedendo o limite referido no inciso anterior e tendo
dimensão igual ou superior um módulo a um módulo fiscal, seja
mantido inexplorado em relação às possibilidades físicas,
econômicas e sociais do meio, com fins especulativos, ou seja,
deficiente e inadequadamente explorado, de modo a vedar-lhe a
inclusão no conceito de empresa rural.
Nos termos do Decreto nº 74.965, de 1971, o valor do módulo de exploração indefinida é determinado
por ato administrativo do Incra:
A Instrução Especial/Incra nº 5-A, de 1973, traz todas as espécies de módulos rurais classificados
quanto ao tipo de exploração existente no imóvel, inclusive o módulo de exploração indefinida (MEI).
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A fração mínima de parcelamento é a menor dimensão que um imóvel rural poderá ter, salvo situações
especialíssimas previstas em lei.
A regra foi inicialmente estampada no artigo 65 do Estatuto da Terra:
Nesse dispositivo legal, onde se lê “módulo de propriedade rural” leia-se “fração mínima de
parcelamento”, denominação atual segundo a legislação posterior (Lei nº 5.868/1972 – Sistema Nacional de
Cadastro Rural):
A lei, no entanto, prevê algumas exceções à vedação de parcelamento abaixo da FMP, sendo a hipótese
mais comum a seguinte:
O Decreto nº 62.504/68 traz outras hipóteses mais específicas de mitigação da regra da fração mínima
de parcelamento, como, por exemplo, na criação, por desmembramento, de imóvel de pequena dimensão para a
instalação de posto de combustível na beira de estrada (artigo 2º, inciso II, letra a, nº 1).
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A doutrina e a Lei 8.629/93 ainda faz menção sobre à seguinte classificação da propriedade :
a) Pequena Propriedade – “imóvel rural de área compreendida entre 1 a 4 módulos fiscais”. Art. 4º, II, da
Lei 8.629/93, que só definiu o tamanho da área, deixando de lado o componente familiar ínsito na regra
constitucional de sua impenhorabilidade ditada no inc. XXVI do art. 5º CF/88;
b) Média Propriedade - “imóvel rural de área superior a 4 até 15 módulos fiscais”. Art. 4º, III, da Lei
8.629/93, que também só definiu o tamanho da área, deixando de lado o componente familiar ínsito na regra
constitucional de sua impenhorabilidade ditada no inc. XXVI do art. 5º CF/88;
ATIVIDADE
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O cadastro rural foi implantado no Brasil através do art. 46 do ET e regulamentado pelo art. 26 e segs.
do Decreto nº 55.891/65. A Lei 5.868 de 12/12/1972 criou o sistema de Cadastro rural. Diz o ET:
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Em 1.965, foram criados diversos mecanismos para executar a Reforma Agrária e o Estatuto da Terra
criou o IBRA (Instituto Brasileiro De Reforma Agrária) para esse fim específico. Entretanto, em 1.969 o governo
militar detectou vários problemas de corrupção civil junto a esse órgão, e ele foi substituído, em 1.971, pelo
INCRA, que ficou vinculado ao Ministério da Agricultura e não mais à Presidência da República.
O cadastro rural foi criado com a finalidade de desvendar a natureza específica e global dos imóveis
rurais do País.
Os objetivos do cadastramento do Imóvel rural era o de obter informações econômicas e sociais para
poder gerar informações fiscais. Assim, os objetivos se agrupam da seguinte forma:
2) Descobrir a natureza e condições das vias de acesso e respectivas distâncias dos centros
demográficos mais próximos com populações entre 5.000 a 100.000 habitantes;
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4) Reestruturar o cálculo do Imposto Territorial Rural, cuja informação tem conexão direta com a Receita
Federal.
É realizado através do formulário CAFIR – Cadastro Fiscal de Imóveis Rurais, do Ministério da Fazenda
– Secretaria da Receita Federal, que deve ser preenchido e declarado pelo possuidor da terra e que contém
todos os dados necessários para o cadastramento e atualização do imóvel.
ATIVIDADE
01) Como é realizado o cadastro rural?
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04) Quais os dados são citados no cadastro rural para caracterizar a propriedade rural?
O tributo básico que incide sobre os imóveis rurais, atualmente é o ITR – Imposto Territorial rural,
previsto no art. 29 do CTN e art. 153, VI da CF/88, cuja competência é da União Federal.
Os critérios adotados para o cálculo do ITR é o da progressividade e regressividade, levando-se em
conta os seguintes fatores:
Assim, conforme artigo 49, ET, quanto menos produtiva for a propriedade, ela paga mais impostos; e
quanto mais produtiva for, pagará menos impostos.
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A Lei nº 11.205/2005 que regulamenta o inciso III do § 4º do art. 153 da CF, possibilitou que a Secretária
da Receita Federal firmar convênio com os municípios e o Distrito Federal, delegando-lhes atribuições de
fiscalização, lançamento de crédito tributário e cobrança do ITR. A IN nº 642 de 12.04.2006 delineia o modelo de
convênio.
IMUNIDADES DO ITR:
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ISENÇÕES DO ITR
É a forma de cobrança judicial do tributo. O procedimento está descrito na Lei Federal nº 11.250/05 e na
IN SRF nº 643 de 12 abril de 2006. O Título executivo é a certidão de dívida ativa, que tem força de liquidez e
certeza.
DEFESA DO CONTRIBUINTE
ATIVIDADE
01) Quais as normas gerais para fixação do valor do imposto territorial rural?
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As normas e enquadramento para a Contribuição Sindical Rural, foram instituídos pelo Decreto-Lei
1.166/71, com a redação dada pelo art. 5º da Lei 9.701/1998.
A cobrança é efetuada pela Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), representante do
Sistema Sindical Rural.
TRABALHADOR RURAL
• A pessoa física que presta serviço a empregador rural mediante remuneração de qualquer espécie;
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EMPREGADOR RURAL
• A pessoa física ou jurídica que tendo empregado empreende, a qualquer título, atividade econômica
rural;
• Quem, proprietário ou não e mesmo sem empregado, em regime de economia familiar, explore imóvel
rural que lhe absorva toda a força de trabalho e lhe garanta a subsistência e progresso social e
econômico em área igual ou superior à dimensão do módulo rural da respectiva região;
• Os proprietários de mais de um imóvel rural, desde que a soma de suas áreas seja superior a dois
módulos rurais da respectiva região.
CÁLCULO DA CONTRIBUIÇÃO
O cálculo da contribuição sindical rural é efetuado com base nas informações prestadas pelo proprietário
rural ao Cadastro Fiscal de Imóveis Rurais (CAFIR), administrado pela Secretaria da Receita Federal.
Para o cálculo da Contribuição Sindical Rural devem-se observar as distinções de base de cálculo para
os contribuintes pessoas físicas e jurídicas.
Pessoa Física
A Contribuição é calculada com base no Valor da Terra Nua Tributável (VTNt) da propriedade, constante
no cadastro da Secretaria da Receita Federal, utilizado para lançamento do Imposto Territorial Rural (ITR).
Pessoa Jurídica
A Contribuição é calculada com base na Parcela do Capital Social - PCS atribuída ao imóvel.
VALOR DO PAGAMENTO
A partir do exercício de 1998 lançou-se uma única guia por contribuinte, contemplando todos os imóveis
de sua propriedade declarados à Receita Federal.
Para a pessoa jurídica, o valor base para o cálculo corresponde à soma das parcelas do capital social.
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Para pessoa física, o valor base para o cálculo corresponde à soma das parcelas do VTN tributável de
todos os seus imóveis rurais no País, conforme declaração feita pelo próprio produtor à Secretaria da Receita
Federal.
A tabela abaixo explica como calcular o valor que o produtor irá pagar de Contribuição Sindical Rural,
conforme o inciso III do artigo 580 da CLT, com redação dada pela Lei nº 7.047/82:
Considerando a variação do INPC (Índice Nacional de Preços ao Consumidor), no período de outubro / 2006 a outubro / 2007, a tabela foi
corrigida em 5,08%.
Tabela para cálculo da Contribuição Sindical Rural vigente a partir de 1º de janeiro de 2008.
1- Valor da Capital Social ou da terra nua tributável dos imóveis do contribuinte: R$ 50.000,00.
2- Como a tabela é progressiva, o valor da contribuição corresponde à soma da aplicação das alíquotas
sobre a parcela do capital social/VTN tributável distribuído em cada classe.
A parcela adicional constante da tabela visa apenas simplificar o cálculo da contribuição.
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COMO PAGAR
Uma guia bancária, já preenchida, com o valor da contribuição sindical rural, é enviada ao produtor rural
pela CNA, que poderá pagá-la em qualquer agência bancária, até a data do vencimento.
Após essa data, deverá procurar uma das agências do Banco do Brasil para fazer o pagamento da sua
contribuição, no prazo máximo de até seis meses após o vencimento.
PENALIDADES
ATIVIDADE
01) Qual a importância da contribuição sindical rural?
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CONTRATOS AGRÁRIOS
CONCEITO
Contrato é toda fonte de obrigação; é o acordo de vontades que tem por fim criar, modificar ou extinguir
direitos. Consoante à sua natureza jurídica, os contratos agrários são bilaterais (sinaligmáticos), onerosos (com
acréscimo ou diminuiçao do patrimônio), consensuais (acordo de vontades), não solenes (não exige-se forma,
podendo, inclusive, ser verbal), principais (tem existência própria e não dependem da celebração de outro
contrato), individuais (as vontades são individualmente consideradas), impessoais (prestação pode ser cumprida
pelo obrigado ou por terceiro), definitivos e de trato sucessivo (seu objeto não á apenas o cumprimento de um
contrato e as prestações se prolongam no tempo por atos reiterados ; eis que a execução do mesmo só se
cumprirá em evento futuro).
Os contratos agrários estão sujeitos aos requisitos comuns dos contratos : acordo de vontades, objeto
lícito e capacidade das partes.
Além disso estão sujeitos aos Princípios da : Autonomia da Vontade, Supremacia da Ordem Pública; do
Consensualismo; da obrigatoriedade e revisão dos Contratos; da proteção de quem trabalha na terra; da
conservação dos recursos naturais e proteção do meio ambiente.
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Assim, um dos instrumentos que o Estado utiliza para atingir a função social da propriedade é a
utilização dos contratos agrários de forma correta; ou seja, os contratos agrários constituem meios indiretos de
intervenção do Estado na busca da função social da propriedade.
Os contratos rurais estão tipificados na lei nº 4.947 de 05/04/1966, art. 13 e no art. 92 do ET.
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A doutrina os classifica como Contratos Agrários Nominados ou Típicos e Contratos Agrários Inominados
ou Atípicos.
Contratos nominados são os que tem designação própria. Contratos típicos são os que estão tipificados
e/ou regulados em lei, ou seja, os que têm o seu perfil traçados pela lei. Os contratos típicos não requerem
muitas cláusulas; eis que todas as normas regulamentadoras estabelecidas pelo legislador passam a integrá-lo.
Diferente dos atípicos que, deverão ter as cláusulas minuciosamente estipuladas no contrato.
Assim, os contratos agrários típicos conceituados pelos artigos 3º e 4º do Decreto nº 59.566/66, são o
arrendamento e a parceria rural.
ARRENDAMENTO RURAL
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PARCERIA RURAL
Diferentemente do arrendamento, no contrato de parceria, há uma partilha dos riscos (prejuízos) e das
vantagens entre ambos os parceiros : tanto o parceiro-outorgante como o parceiro outorgado só terão as
vantagens após a partilha dos frutos, produtos ou lucros, se os houver.
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a) 20% (vinte por cento), quando concorrer apenas com a terra nua;
b) 25% (vinte e cinco por cento), quando concorrer com a terra
preparada;
c) 30% (trinta por cento), quando concorrer com a terra preparada e
moradia;
d) 40% (quarenta por cento), caso concorra com o conjunto básico
de benfeitorias, constituído especialmente de casa de moradia,
galpões, banheiro para gado, cercas, valas ou currais, conforme o
caso
e) 50% (cinqüenta por cento), caso concorra com a terra preparada
e o conjunto básico de benfeitorias enumeradas na alínea d deste
inciso e mais o fornecimento de máquinas e implementos agrícolas,
para atender aos tratos culturais, bem como as sementes e animais
de tração, e, no caso de parceria pecuária, com animais de cria em
proporção superior a 50% (cinqüenta por cento) do número total de
cabeças objeto de parceria;
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São aqueles que resultam de um acordo de vontades entre as partes, não tendo suas características e
requisitos definidos e, para que sejam válidos, basta: consenso, que as partes sejam livres e capazes, que seu
objeto seja lícito, possível, determinável e suscetível de valoração econômica. Além disso, exige-se que este
contrato especifique minuciosamente os direitos e obrigações de cada parte.
Acerca dos contratos atípicos, o art. 39 do Decreto 59.566/66 assim dispõe:
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DIREITO AGRÁRIO E AMBIENTAL
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Art. 39. Quando o uso ou posse temporário da terra for exercido por
qualquer outra modalidade contratual, diversa dos contratos de
arrendamento e parceria, serão observadas pelo proprietário do
imóvel as mesmas regras aplicáveis a arrendatários e parceiros, e,
em especial a condição estabelecida no art. 38, supra.
A doutrina entende que são exemplos de contratos agrários atípicos os contratos de comodato e de
empreitada.
COMODATO
EMPREITADA
Empreitada é o contrato mediante o qual uma das partes (o empreiteiro) se obriga a realizar uma obra
específica, pessoalmente ou por intermédio de terceiros, cobrando uma remuneração a ser paga pela outra parte
(proprietário da obra), sem vínculo de subordinação. A direção do trabalho é do próprio empreiteiro, assumindo
este os riscos da obra.
Na empreitada não importa o rigor do tempo de duração da obra, o objeto não é a simples prestação de
serviços, mas a obra em si. Assim, neste tipo de contrato a remuneração não está vinculada ao tempo, mas à
conclusão da obra. São exemplos de empreitada agrícola o desmatamento de determinada área, a construção
de um açude, a gramagem ou revitalização de um pasto, etc.
ATIVIDADE
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DIREITO AMBIENTAL
A Constituição determina que o meio ambiente é essencial para todos e, portanto, seu uso deve
respeitar os limites impostos em defesa dos interesses da sociedade. O que não estiver expressamente proibido
por lei pode ser feito, desde que, respeitados os limites da boa convivência. Existem ainda outras leis federais,
estaduais e municipais, cada uma atuando dentro de sua competência, e regulando a relação entre o homem e o
ambiente nas esferas nacional, regional e local, respectivamente.
A atividade rural está sujeita a estas normas citadas. Alguns diplomas influenciam mais diretamente
estas atividades, os quais serão abordados a seguir.
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LEGISLAÇÃO FLORESTAL
O Código Florestal Brasileiro determina que as florestas existentes no território nacional e as demais
formas de vegetação, úteis às terras que revestem, são bem de interesse comum a todos os habitantes do País,
exercendo-se os direitos de propriedade, com as limitações que a legislação em geral e, especialmente esta lei,
estabelecem. Deste modo, é importante lembrar que o direito de propriedade não é absoluto, cabendo ao
proprietário zelar pela preservação das florestas. Esta regra vale para o agricultor e também para aqueles que
desenvolvem atividades ligadas à indústria, ao comércio e ao transporte de madeira. Além disso, esta lei cria
dois instrumentos importantes para a conservação do ambiente, que são as áreas de preservação permanente,
que alguns conhecem como mata ciliar, e as áreas de reserva legal.
É considerada de preservação permanente, uma área coberta ou não por vegetação nativa, com a
função de conservar os recursos hídricos, a paisagem, os solos, as plantas e os animais e assegurar o bem-
estar das populações humanas.
O art. 2º descreve as florestas e demais formas de áreas de preservação permanente, dentre as quais
aquelas situadas ao longo dos rios e cursos d’água, ao redor das lagoas, lagos ou reservatórios de águas
naturais ou artificiais, em locais com topografia acidentada. O art.30, por sua vez, protege áreas que dependem
de um ato do Poder Público para declará-las de preservação permanente, considerando o interesse da
administração para a proteção do meio ambiente.
O art. 2º do Código descreve detalhadamente as áreas que têm a função de proteção dos mananciais e
das águas em geral, e determina que, consideram-se de preservação permanente, as florestas e demais formas
de vegetação natural situadas:
a) ao longo dos rios ou de qualquer curso d’água, desde o seu nível mais alto em faixa marginal,
cuja largura mínima seja:
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c) nas nascentes, ainda que não permanentes e nos olhos d’água, qualquer que seja a sua situação
topográfica, num raio mínimo de 50 m (cinquenta metros) de largura, independente da topografia;
Ao tratar da proteção do solo, a lei dispõe que também são áreas de preservação permanente aquelas
situadas no topo de morros, montes, montanhas e serras. Ainda aquelas áreas acidentadas, nas encostas ou
partes destas, com declividade superior a 450, equivalente a 100% na linha de maior declividade e em altitude
superior a 1.800 m (mil e oitocentos metros), qualquer que seja a vegetação.
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De forma resumida, devemos lembrar que as áreas de preservação permanente têm três finalidades
principais, que são: a proteção dos recursos hídricos e mananciais; a proteção física dos solos e uma ênfase à
proteção da vegetação e da biodiversidade.
O art. 3º da lei permite que o Poder Público (prefeituras, governos estaduais ou federal) declare de
preservação permanente as florestas e demais formas de vegetação natural, destinadas a fins específicos como:
Nestes casos, o ato deve ser justificado tecnicamente, e poderá dar direito de indenização ao
proprietário que for diretamente afetado. Quanto ao uso das florestas de preservação permanente, o art. 22 do
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Código Florestal determina que É PROIBIDO, mesmo aos proprietários, cortar árvores em florestas protetoras ou
remanescentes, ainda que a floresta esteja se regenerando, sem licença prévia da autoridade florestal
competente.
O Código Florestal determina que, nas terras de propriedade privada, onde seja necessário o
reflorestamento de preservação permanente, o Governo Federal poderá fazer o plantio sem a obrigação de
desapropriar.
A retirada da vegetação em área de preservação permanente, somente poderá ser autorizada em caso
de utilidade pública, como a construção de uma ponte para uma estrada pública municipal, por exemplo. Este
corte depende de autorização do órgão ambiental competente que, em caso positivo, indicará quais as medidas
que devem ser adotadas pelo produtor, a fim de diminuir os impactos ou compensar pelos danos.
O ideal é que essas áreas fiquem isoladas, com a menor interferência humana ou animal possível. No
caso em que houver pasto ao lado das áreas de preservação permanente, estes locais devem ser cercados para
evitar o ingresso dos animais nestas florestas e o pisoteio da vegetação. Porém, a própria lei, alterada pela MP
2.166- 67/2001 assegura que é permitido o acesso de pessoas e animais às áreas de preservação permanente
para obtenção de água, desde que não exija a retirada da vegetação nativa e não comprometa seu crescimento,
nem sua manutenção a longo prazo.
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SOU OBRIGADO A DEIXAR UMA FAIXA DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE NAS MARGENS DO LAGO
ARTIFICIAL OU DE UM TANQUE DE PISCICULTURA, EM MINHA PROPRIEDADE?
A lei diz que sim, pois são consideradas áreas de preservação permanente, as áreas das margens dos
reservatórios artificiais. Estas áreas variam de acordo com o destino e o tamanho dos reservatórios, e devem ser
de no mínimo:
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• 15 metros, no mínimo, para os reservatórios artificiais de geração de energia elétrica com até 10
hectares;
• 15 metros, no mínimo, para reservatórios artificiais localizados em área rural, não utilizados em
abastecimento público ou geração de energia elétrica, com até 20 hectares de superfície.
As áreas com tanques destinados à atividade de piscicultura odem ter uma área limpa, destinada às
atividades de tratamento e manejo dos animais.
Finalmente, devemos lembrar que a lei trata de áreas de preservação permanente e não de florestas de
preservação permanente. Isto porque, a norma cuida do ambiente como um todo, e não apenas de florestas.
Assim, mesmo aqueles locais que não são mais cobertos por vegetação, não perdem a obrigatoriedade de
preservação. Por exemplo, um terreno às margens de um rio que é desmatado pelo seu proprietário não deixa
de ser uma área de preservação permanente e, o proprietário, fica ainda obrigado a restaurar a vegetação. Da
mesma forma, uma área com declividade acentuada, que é alvo de um incêndio natural ou criminoso, não perde
seu caráter principal e sujeita ainda o proprietário a recuperar o local, dentro das condições mais adequadas
para o ambiente.
RESERVA LEGAL
A reserva legal é uma área coberta por vegetação nativa que deve ser mantida em cada propriedade
rural, fora as áreas de preservação permanente, necessárias para a manutenção da biodiversidade, conservação
dos recursos naturais e para o abrigo e proteção dos animais e plantas nativas da região.
Foi instituída no primeiro Código Florestal do Brasil em 1934, e o proprietário era obrigado a reservar
uma parte da área total da propriedade com cobertura florestal, não podendo ali realizar o corte raso.
A Lei 4.771 de 1965 determina que, no Estado do Paraná, toda propriedade rural deve manter uma área
mínima de 20% da área total como reserva legal, além das áreas deixadas como preservação permanente.
Na reserva legal, a vegetação deve ser mantida para a conservação da biodiversidade. É permitido o uso
dos recursos naturais, dentro dos limites estabelecidos em lei. Nestas áreas pode ser feita, por exemplo, a
retirada de plantas medicinais ou ornamentais, desde que, sua extração não provoque uma alteração muito
intensa na floresta. No entanto, É PROIBIDO o corte raso e o manejo florestal de alto impacto.
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É importante lembrar que a lei determina que a área de reserva legal deverá ser averbada à margem da
inscrição de matrícula do imóvel, no registro de imóveis competente, sendo proibida a mudança de seu uso,
mesmo nos casos de venda, desmembramento, herança ou doação da área. Assim, se alguém compra uma
área com reserva legal averbada, não pode mais cortar aquela floresta preservada, por mais que exceda 20% do
total da sua área.
O local será escolhido pelo proprietário, mas deve ser aprovado pelo IAP. Esta área deve estar
preferencialmente numa área que já tenha floresta, próxima a áreas de preservação permanente ou outras
florestas, com o objetivo de formar corredores de biodiversidade.
No processo de aprovação do local devem ser considerados, principalmente, o plano de bacia
hidrográfica e a proximidade com outra reserva legal, área de preservação permanente, unidade de conservação
ou outra área legalmente protegida.
A área escolhida e aprovada pelo órgão ambiental deve ser averbada e, após este ato, sua localização
só poderá ser alterada em casos de extrema necessidade, com uma melhora clara do ponto de vista ambiental.
COMO DEVO FAZER SE MINHA PROPRIEDADE NÃO TEM FLORESTA NATIVA PARA SER AVERBADA
COMO RESERVA LEGAL?
Naqueles casos em que a tipologia originária é de floresta, o Código Florestal Brasileiro permite que o
proprietário da terra adote algumas alternativas para a recomposição, que podem ser: o plantio de árvores
nativas, o abandono de uma área ou o plantio de espécies exóticas, para o pequeno produtor rural, consorciadas
com nativas. Poderão ser utilizadas espécies exóticas, consorciadas com nativas, no Sistema Multiestrata. Ou
seja, através do plantio de, no mínimo, 200 mudas por hectare e 5 espécies arbóreas nativas, com o plantio das
exóticas nas linhas.
O plantio de árvores nativas deve ser feito na propriedade em, no mínimo, 1/20 da área total necessária,
a cada três anos.
Caso sejam utilizadas espécies exóticas (pinus, eucaliptos, seringueira etc.), estas árvores deverão ser
retiradas após a conclusão de 1 ciclo econômico. Os proprietários deverão protocolar, junto ao IAP, um projeto
de recuperação da reserva legal, que deverá ser aprovado por uma câmara técnica, especialmente criada para
este fim.
A regeneração natural só pode ser adotada com autorização do órgão ambiental estadual competente,
quando sua viabilidade for comprovada por laudo técnico, podendo ser exigido o isolamento da área.
POSSO TER MINHA RESERVA LEGAL EM OUTRO LOCAL, QUE NÃO SEJA O INTERIOR DE MINHA
PROPRIEDADE RURAL?
O Código Florestal Brasileiro admite que o dono ou possuidor da terra possa, excepcionalmente, ao
invés de recompor reserva legal plantando, compensar a reserva legal por outra área equivalente em importância
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ecológica e extensão, desde que, pertença ao mesmo ecossistema e esteja localizada na mesma microbacia,
conforme critérios estabelecidos em regulamento.
Em se tratando de compensação por outra área, a regra é que esta deve se localizar na mesma
microbacia. Não sendo possível, o órgão ambiental estadual competente pode aplicar o critério de maior
proximidade possível, entre a propriedade desprovida de reserva legal e a área escolhida para compensação,
desde que seja na mesma bacia hidrográfica, mesmo bioma e mesmo agrupamento municipal. Imóveis
localizados, mesmo que parcialmente, nas áreas prioritárias (entorno de unidades de conservação, interior de
áreas de proteção ambiental – APA e uma faixa de 5 km, a partir de cada margem dos rios que compõe os
corredores de biodiversidade) não poderão receber reserva legal em compensação, mas poderão ceder em
qualquer estágio de regeneração.
As áreas de preservação permanente, tanto do imóvel cedente como o recebedor da reserva legal,
devem estar preservadas ou em processos de recomposição, e a área de reserva legal a ser cedida deve,
obrigatoriamente, ser constituída de vegetação nativa primária ou secundária, em estágio médio ou avançado de
regeneração.
O projeto de compensação deverá ser submetido à aprovação pelo órgão ambiental estadual
competente, e pode ser implementado mediante o arrendamento de área sob regime de servidão florestal ou
reserva legal, ou aquisição de cotas de reserva florestal.
Finalmente, cabe lembrar que o proprietário rural poderá ser desonerado da obrigação de reflorestar,
mediante a doação ao órgão ambiental competente, de área localizada no interior de Parque Nacional ou
Estadual, Floresta Nacional, Reserva Extrativista, Reserva Biológica ou Estação Ecológica, pendente de
regularização fundiária.
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DIREITO AGRÁRIO E AMBIENTAL
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Em geral, não. A lei é bem clara quando define reserva legal como as áreas florestais excetuadas (não
consideradas), as áreas de preservação permanente. Porém, a Medida Provisória 2.166-67/2001 que altera o
Código Florestal permite, como exceção, o uso da vegetação nativa existente em áreas de preservação
permanente no cálculo da reserva legal. Este procedimento deverá ser feito mediante uma consulta ao órgão
ambiental, que somente poderá autorizar quando forem atendidos alguns requisitos, que para as propriedades
aqui no Paraná, são:
a) Não implicar em conversão de novas áreas para o uso alternativo do solo como, por exemplo, a
substituição de floresta nativa: por pastagem, agricultura ou reflorestamento.
b) A propriedade rural deve ter a soma da vegetação nativa em área de preservação permanente e
reserva legal, excedendo a cinquenta por cento (50%) da média ou grande propriedade rural ou vinte e cinco por
cento (25%) da pequena propriedade.
Para definir corretamente, deve ser calculado o total das áreas com vegetação nativa preservada no
imóvel. Se a soma obtida for inferior a 50% da área total do imóvel rural, não se pode computar as áreas de
preservação permanente para compor a reserva legal. Quando a soma obtida for igual ou superior a 50% da
área total do imóvel, pode-se utilizar as áreas de preservação permanente para complementar a parte faltante da
reserva legal.
Neste caso, toma-se o total de vegetação nativa existente fora das áreas de preservação permanente e,
se necessário, complementa-se o mínimo legal com áreas de preservação permanente. Somente nestes casos,
a área de preservação permanente poderá existir no interior da reserva legal.
Uma questão que deve ser lembrada é que, se um rio passar pelo interior da reserva, sobre essa área
incidirão as regras, tanto de preservação permanente, quanto da reserva legal.
O imóvel que utilizar a área de preservação permanente para compor a reserva legal, não poderá ceder
reserva legal para outra propriedade rural.
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O uso sustentável dos recursos naturais é uma atividade em que se tem a utilização do recurso
ambiental, sem o uso de substâncias nocivas, sem a emissões de poluentes e com o consumo mínimo,
considerando o volume de resíduos durante o ciclo de vida do serviço ou do produto, com o objetivo de melhorar
a qualidade de vida e resguardar as gerações presentes e futuras.
É a aplicação de técnica silvicultural adequada, que visa o uso do recurso florestal assegurado à
conservação da diversidade biológica e dos ecossistemas. O manejo florestal é uma forma sustentável da
exploração de uma floresta, tirando dela apenas o incremento de um determinado período, deixando a floresta
se recuperando para uma nova intervenção. Ou seja, é o uso da floresta, respeitando-se os ciclos de
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É o corte de todas as árvores de uma área. Normalmente, este corte é feito para a mudança de floresta em
agricultura ou pastagem.
O corte de vegetação nativa no Estado do Paraná só deve ser feito naqueles casos em que houver muita
necessidade ou, quando o corte não implicar na destruição da floresta, como por exemplo, no corte de apenas
algumas árvores selecionadas. É SEMPRE necessário pedir uma autorização florestal no IAP ou no IBAMA,
quando a floresta estiver localizada no entorno de uma unidade de conservação federal, ou no interior de uma
área federal.
Este documento expedido pelo órgão ambiental, permite ao proprietário de um imóvel a condição de
efetuar o corte de vegetação florestal nativa, árvores isoladas na floresta, o aproveitamento do material lenhoso
seco ou aproveitamento de árvores caídas, pela ação de vento ou por vendavais. Para árvores nativas que
constem da lista de extinção, o máximo de lenha que pode ser aproveitada são 15 m³. Para árvores nativas, que
estiverem fora da lista de extinção, até 100 m³. Para aproveitar mais de 100 m³ de lenha, o proprietário deverá
assinar um termo de compromisso para reposição de 5 árvores para cada m³ autorizado e, para o caso de toras
acima de 50 m³, deve assinar um termo onde se compromete a plantar 10 árvores para cada m³ liberado.
O corte raso no Estado do Paraná está PROIBIDO. A exceção pode ser feita, mediante autorização do
Instituto Ambiental do Paraná (IAP), para o pequeno produtor rural que tem em sua propriedade uma capoeirinha
ou uma área de pousio, que não seja em área de preservação permanente ou de reserva legal, e que seja
absolutamente necessária para a subsistência do agricultor e de sua família.
Para aquelas florestas em estágio médio de regeneração, conhecidas popularmente como capoeira ou
capoeirão, só será autorizado o corte pelo IAP em situações de extrema necessidade comprovada, como
tratamento de saúde ou constituição de nova célula familiar.
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DIREITO AGRÁRIO E AMBIENTAL
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As áreas úmidas, popularmente conhecidas como várzeas, poderão compor a reserva legal do imóvel,
independentemente do tamanho da propriedade. Porém, quando o imóvel utilizar áreas úmidas consideradas de
preservação permanente na soma da reserva legal, não poderá ceder reserva legal para outros imóveis.
A servidão ocorre mediante um ato em que o proprietário rural, voluntariamente, renuncia, em caráter
permanente ou temporário, os direitos de supressão ou exploração da vegetação nativa, localizada fora da
reserva legal e da área com vegetação de preservação permanente.
Desta forma, o proprietário pode negociar esta área com um terceiro, para compensação da reserva
legal.
A servidão ambiental deve ser averbada à margem da inscrição de matrícula do imóvel no cartório de
registro de imóveis, após anuência do órgão estadual ambiental competente, sendo vedada, durante o prazo de
sua vigência, a alteração da destinação da área nos casos de transmissão, a qualquer título, de
desmembramento ou de retificação dos limites da propriedade.
UNIDADES DE CONSERVAÇÃO
As unidades de conservação são áreas naturais protegidas e sítios ecológicos com características
naturais diferenciadas, de domínio público ou privado, criadas pelo Poder Público para proteger a natureza, com
objetivos e limites definidos e com plano de manejo elaborado.
As unidades de conservação podem ser: parques, florestas, parques de caça, reservas biológicas,
estações ecológicas, áreas de proteção ambiental, reservas biológicas, estações ecológicas, áreas de proteção
ambiental, reservas ecológicas e de relevante interesse ecológico, nacionais, estaduais ou municipais,
monumentos naturais, jardins botânicos, jardins zoológicos e hortos florestais.
Para esta cartilha, vamos destacar duas categorias que têm influência direta sobre o setor agrícola
paranaense. A primeira é a de Áreas de Proteção Ambiental (APAs), que trazem uma limitação ao uso da
propriedade rural e, a segunda, é a de Reservas Particulares do Patrimônio Natural, que podem ser uma
alternativa interessante para a manutenção das florestas nas propriedades rurais.
São em geral áreas extensas, com um certo grau de ocupação humana, dotadas de atributos abióticos,
bióticos, estéticos ou culturais especialmente importantes para a qualidade de vida e o bem-estar das
populações humanas, que tem a finalidade de proteger a diversidade biológica, disciplinar o processo de
ocupação e assegurar a sustentabilidade do uso dos recursos naturais.
O Sistema Nacional de Unidades de Conservação prevê que as áreas de proteção ambiental deverão
dispor de um Conselho, presidido pelo órgão responsável por sua administração e constituído por representantes
dos órgãos públicos, de organizações da sociedade civil e da população residente.
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São áreas privadas, gravadas com perpetuidade, com o objetivo de conservar a diversidade biológica. O
gravame de que trata este artigo constará de termo de compromisso assinado perante o órgão ambiental, que
verificará a existência de interesse público, e será averbado à margem da inscrição no Registro Público de
Imóveis. Dentro da RPPN, será permitida a extração de recursos naturais, exceto madeira, que não coloque em
risco as espécies ou os ecossistemas que justificaram a criação da unidade.
Qualquer mudança que se pretenda realizar na quantidade ou na qualidade das águas de um rio, de um
reservatório, ou de outro curso de água, necessita de uma autorização do Poder Público, a qual chamamos de
“outorga”. Neste ato, o Poder Público autoriza o uso de recurso hídrico, por prazo certo, dentro de determinadas
condições. Os usos podem ser a captação de água para o abastecimento doméstico, para fins industriais ou
para irrigação; o lançamento de efluentes industriais ou urbanos, à construção de obras como barragens e
canalizações de rio, ou serviços de limpeza dos rios e de suas margens.
A outorga prévia tem como finalidade declarar a disponibilidade de água para os usos requeridos, não
conferindo o direito de uso de recursos hídricos, e se destinando a reservar a vazão passível de outorga. Deverá
ser requerida para novos empreendimentos, os quais necessitem de licenciamento ambiental, tais como:
barragens e pontes, e para perfuração de poço tubular. Os projetos, as obras de construção e a manutenção de
canais, barragens, açudes, rodovias e outras obras com intervenção no escoamento das águas, devem adotar
dispositivos conservacionistas adequados, a fim de impedir a erosão e suas consequências.
SERVIÇOS AMBIENTAIS
Os serviços ambientais são serviços úteis oferecidos pelos ecossistemas para o homem, como a
produção de oxigênio e sequestro de carbono, a conservação da biodiversidade, a proteção de solos e das
águas. São produtos ambientais, aqueles oferecidos pelos ecossistemas e utilizados pelos seres vivos, para seu
consumo direto ou para serem comercializados pelos seres humanos, tais como: madeira, frutos, peles, carnes,
sementes e medicinas, entre outros.
Constituem uma base de sustentação e fonte de renda importante para a sociedade. Este movimento
que teve início na Costa Rica, baseado no princípio do protetor beneficiário, busca recompensar aqueles que
preservam a natureza por meio do pagamento por serviços ambientais. Assim como aquele que polui deve
recuperar o meio ambiente e “pagar” a sociedade pelo mal praticado, deve também aquele que contribui para a
conservação dos recursos naturais, através dos serviços ambientais e da manutenção dos produtos ambientais,
ser compensando pela sociedade, a qual, como um todo, é beneficiada.
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É fato notório que os instrumentos de repressão e coerção, como multas e prisões, têm se mostrado
insuficientes para a proteção do meio ambiente e para a alteração do quadro ambiental atual. Apesar da severa
legislação florestal, a pressão sobre os últimos remanescentes florestais ainda é elevada.
Uma eficiência maior pode ser conseguida mediante a agregação de novos instrumentos legais e de
política, como: incentivos fiscais e criação de linhas especiais de crédito. Os ecossistemas (florestas, cerrados,
manguezais, recifes etc.) oferecem à humanidade uma variedade de produtos e serviços no âmbito local,
nacional e mundial.
Os produtos ambientais são prestados pelos ecossistemas e servem ao homem para sua sobrevivência
ou para atividades comerciais, como a indústria da madeira, da alimentação, das peles para roupa, das
sementes e de medicamentos. Os serviços ambientais são trabalhos úteis, prestados pela natureza para o
homem, como: a produção de oxigênio, sequestro e captação de carbono, conservação das plantas e dos
animais, biodiversidade, proteção de solos e proteção da água.
A propriedade rural quando tem suas florestas rurais bem preservadas, contribui para a manutenção da
qualidade das águas, para a proteção do solo e para fornecer abrigo para as plantas e animais. Isto contribui
diretamente para a manutenção da biodiversidade e a conservação de ambientes saudáveis, no campo e nas
cidades. Ao final, todos somos beneficiados com água limpa, ar com qualidade e ambientes mais equilibrados.
A impossibilidade física e institucional do Poder Público em controlar e fiscalizar o acesso e uso da floresta,
constata-se que as práticas de “manejo” têm custo adicional, que prejudica a comercialização dos “produtos
limpos”.
O conceito do pagamento por serviços ambientais, não está baseado na repressão, mas no incentivo e
na compensação para aquele que faz o esforço de manter os serviços ambientais, como o proprietário rural que
conserva os rios e florestas em sua propriedade.
Quem paga é aquele que recebe os benefícios dos serviços ambientais. Por exemplo: uma companhia
de energia elétrica ou uma cervejaria que utilizam a água como matéria-prima principal do seu negócio, pagam
àqueles proprietários que mantém preservadas as áreas de nascentes e cursos d´água. Os serviços ambientais
usufruídos por todos que moram nas cidades, como a estabilização do clima mediante seqüestro de carbono e a
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qualidade da água dos mananciais de abastecimento público, criam a obrigação de uma contribuição financeira,
para remunerar os que se esforçam para manter estes serviços.
• Desmatamento Evitado (REDD): indústrias que emitem grandes quantidades de poluentes no ar, compram
créditos de carbono, obtidos de produtores rurais, que abdicam de seus direitos de cortar suas florestas para
sequestrar e imobilizar o carbono em suas árvores.
• Sequestro de carbono: indústrias que não conseguem reduzir suas emissões de Carbono na atmosfera,
pagam para que produtores rurais possam plantar árvores e mantenham suas florestas.
• Proteção da fauna e flora: uma empresa farmacêutica paga a uma comunidade para a manutenção da
floresta, para ter à sua disposição matéria-prima para sua indústria.
• Proteção dos rios: usuários das águas de um rio a jusante, pagam para que os proprietários rurais
mantenham suas florestas as margens do rio, e adotem usos da terra que diminuam a erosão e a contaminação
do lençol freático.
• Ecoturismo: por exemplo, uma empresa de turismo paga para que uma comunidade local não realize caça
numa floresta, usada para turismo de observação da vida silvestre.
• Compensação ambiental e servidão florestal: um produtor rural que tem excedente de floresta em sua
propriedade, cede sua área a um vizinho, que não tem reserva florestal em sua propriedade. Ou ainda, uma
empresa que impacta o ambiente deve pagar uma compensação ao Estado, utilizada para criar e manter
unidades de conservação.
• Mecanismos de incentivo tributário: as áreas de preservação permanente, reserva legal e RPPN são isentas
do Imposto Territorial Rural (ITR).
• Créditos por redução certificada de emissões de gases de efeito estufa: esse mecanismo chamado de
“Desenvolvimento Limpo” (MDL), permite a uma empresa que emite mais do que a sua quota (estabelecida no
protocolo de Quioto) comprar, via mercado, “crédito de carbono” de outra empresa ou projeto que consiga emitir
menos do que a sua quota, ou que sequestra carbono (MDL). Este mecanismo não está destinado a atividades
“limpas” já estabelecidas.
• Créditos por redução voluntária de emissão de gases de efeito estufa: mecanismo que permite a uma
empresa valorizar, no mercado voluntário, a sua contribuição na redução de gases de efeito estufa.
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DIREITO AGRÁRIO E AMBIENTAL
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http://www.socioambiental.org/nsa/direto/direto_html?codigo=2011-05-09-093002
A figura jurídica do “módulo fiscal” foi instituída pelo Incra com o objetivo de estabelecer um parâmetro
mínimo de extensão das propriedades rurais que indique a sua viabilidade como unidade produtiva,
dependendo da sua localização. A extensão do módulo fiscal varia de 5 a 110 hectares, dependendo da
localização do município em que está situada a propriedade rural. Nas regiões metropolitanas, via de regra,
a extensão do módulo rural é tendencialmente bem menor do que nas regiões mais afastadas dos grandes
centros consumidores.
Caso a proposta de revisão do Código Florestal formulada pelo deputado Aldo Rebelo venha a ser aprovada
pelo Congresso Nacional, a instituição da figura do módulo fiscal como parâmetro para isentar propriedades
rurais (até quatro módulos) da responsabilidade de recuperar áreas de reserva legal geraria situações
absurdas pelo território nacional afora.
Uma propriedade rural com 100 hectares, que tenha desmatado a sua área de reserva legal, estará isenta de
recuperá-la se estiver situada no município de Tietê, mas não estará isenta e estará obrigada a recuperar ou
compensar 20 hectares se estiver situada no município de Piracicaba, ambos localizados numa mesma sub-
região do estado de São Paulo.
Uma propriedade rural com 500 hectares, que tenha desmatado a sua área de reserva legal, terá que
recuperar ou compensar uma extensão de 79,2 hectares se estiver situada em Tietê, mas terá que recuperar
ou compensar uma extensão de 92 hectares se estiver situada em Piracicaba.
Similarmente, uma propriedade com 100 hectares e que não dispõe de reserva legal não precisará recuperá-
la se estiver em Conchas, mas precisará recuperar ou compensar 20 hectares se estiver em São Manuel, na
mesma sub-região de SP. Se a propriedade tiver 500 hectares e não dispuser de reserva legal, terá que
recuperar ou compensar 76 hectares se estiver em Conchas, mas que seriam 86,5 hectares se ela estivesse
localizada em São Manuel.
No município paulista de Cunha, com perfil serrano, propriedades sem reserva legal com até 160 hectares
ficariam isentas de recuperá-la ou compensá-la, enquanto em Itapecerica da Serra, município com um perfil
topográfico similar e localizado no mesmo estado, embora em região diferente, propriedades sem reserva
legal com mais de 20 hectares estariam obrigadas a recuperá-la ou compensá-la. A extensão oito vezes
menor do módulo fiscal em Itapecerica, que se justifica por sua proximidade em relação à capital, lhe
imporia uma desvantagem comparativa em relação a Cunha para fins de obrigação de recuperação de reserva
legal, quando as terras em Itapecerica seriam, supostamente, mais valiosas e mais necessárias para a
produção de alimentos do que as situadas em Cunha, muito mais distantes dos principais mercados
consumidores.
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DIREITO AGRÁRIO E AMBIENTAL
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Ainda comparando esses dois municípios paulistas, uma propriedade com 500 hectares sem reserva legal em
Cunha estará obrigada a recuperar somente 72 hectares, enquanto outra com a mesma extensão e situação
localizada em Itapecerica estará obrigada a recuperar 96 hectares.
No Mato Grosso, onde já há diferenciação por bioma (floresta 80% e cerrado 35%) do percentual de reserva
legal, uma propriedade sem reserva legal e com 350 hectares não precisaria recuperá-la se estiver situada
em Cláudia ou em Sinop, mas teria que recuperá-la se estiver em Canarana, Querência ou Primavera do
Leste. Se a propriedade tivesse uma extensão de mil hectares e não dispusesse de reserva legal, teria que
recuperar 480 hectares se estivesse em Cláudia, 512 ha se estivesse em Sinop, 544 ha se estivesse em
Querência, 238 ha se estivesse em Canarana e 266 ha se estivesse em Primavera do Leste.
Anomalias do gênero ocorreriam Brasil afora. Uma propriedade de 300 ha em Crateús (CE), desprovida de
reserva legal, não teria nada a recuperar, mas propriedade com igual extensão e também sem reserva, em
Eusébio (CE), estaria obrigada a recuperar 52 ha (embora as terras em Eusébio, na grande Fortaleza, sejam
supostamente mais necessárias à ocupação). Em Goiás, uma propriedade com 500 ha e sem reserva teria que
recuperar 44 ha se estiver situada em Posse ou em Alvorada do Norte, mas teria que recuperar 84 ha se
estivesse em Ceres, mas que já seriam 60 ha no município vizinho de Pilar de Goiás.
Além disso, a utilização deste parâmetro projetará as distorções fundiárias e cartoriais sobre a obrigação
ambiental de cada propriedade ou proprietário. Por exemplo, uma propriedade com sete módulos de
extensão, se composta por mais de uma matrícula cartorial, poderá ver-se totalmente isenta dessa obrigação.
Por conseguinte, a instituição em lei deste parâmetro incentivará manipulações cartoriais e subdivisões de
propriedades com o objetivo de desmatar ou de não recuperar áreas florestadas nas propriedades rurais.
Significa dizer que a eventual aprovação da proposta do deputado Aldo Rebelo, nos termos em que se
encontra tornaria impossível o controle pelos órgãos ambientais sobre a situação de cada propriedade, assim
como inviabilizaria a implantação de qualquer tipo de cadastro ambiental rural (previsto na sua própria
proposta). Haveria uma situação fundiária de fato, relativa à condição objetiva das propriedades rurais, e
uma situação fictícia, decorrente da burla generalizada dos dados fundiários visando isenções de obrigações
ambientais.
Por essas e outras, caso o Congresso Nacional venha a acolher a referida proposta, estará instituindo uma
situação de absoluta ingovernabilidade florestal, seja qual for a instância do poder público responsável pela
gestão da política florestal. Por isso, reafirmo a minha opinião de que a proposta em discussão é
reacionária, predatória e impossível de ser remendada. Se o Congresso acatá-la como base para a reforma do
Código Florestal, estará produzindo a pior lei florestal da história do Brasil.
9/5/2011
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