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1.

INTRODUÇÃO

A ação anulatória no processo do trabalho é uma ação judicial utilizada


para anular um ato ou decisão proferida anteriormente no âmbito trabalhista.
Geralmente, é usado quando uma das partes envolvidas discorda de uma
decisão que foi proferida em um processo trabalhista, seja por entender que
houve erro, ilegalidade ou outro motivo que justifique sua anulação.

Por exemplo, se uma empresa ou um trabalhador discorda de uma


decisão proferida por um juiz do trabalho em um processo, seja por entender
que houve um equívoco na aplicação da lei ou por falta de fundamentação
adequada, essa parte pode ingressar com uma ação anulatória buscando a
anulação ou revisão dessa decisão.

É importante ressaltar que a ação anulatória não é uma via para reverter
uma decisão judicial desfavorável, mas sim um instrumento utilizado para
contestar a validade da decisão, sob alegação de vícios que a tornem passível
de anulação.

As ações anulatórias deverão ser fundamentadas em argumentos


jurídicos sólidos e embasados na legislação pertinente, demonstrando os
motivos pelos quais a decisão deve ser anulada.
2. AÇÃO ANULATÓRIA

A ação anulatória de atos processuais é uma modalidade de ação


autônoma de impugnação prevista no Código de Processo Civil (CPC) que visa
à anulação de atos jurídicos ou processuais que sejam passíveis de anulação
por diversos motivos, tais como vícios de consentimento (como erro, dolo,
coação etc.) ou pela incapacidade de um dos participantes.

CPC-artigo 966 §4º Cabe ação anulatória em relação aos:

● atos de disposição de direitos, praticados pelas partes ou por outros


participantes do processo e homologados pelo juízo;
● atos homologatórios praticados no curso da execução;

Dentro do contexto processual, a ação anulatória pode ser utilizada para


contestar atos de disposição de direitos celebrados pelas partes ou por outros
envolvidos no processo, desde que tais atos estejam sujeitos à homologação
judicial. Isso inclui situações como o reconhecimento do pedido, a renúncia a
uma pretensão material, a transação, entre outros atos passíveis de
homologação pelo juiz.

É importante ressaltar que, se a ação anulatória for procedente, seus


efeitos retroagem até a origem do ato, ou seja, possuem efeito ex tunc. Isso
significa que a anulação atingiu o ato desde o início, pois se ele nunca tivesse
produzido efeitos jurídicos válidos.

Portanto, a ação anulatória de atos processuais é um meio legalmente


previsto para questionar a validade de atos jurídicos ou processuais dentro do
contexto processual, quando estas são afetadas por vícios ou irregularidades
que justifiquem sua anulação.

2.1 AÇÃO ANULATÓRIA NO PROCESSO DO TRABALHO

Segundo ensinamentos de Renato Saraiva ação anulatória no Direito do


Trabalho é uma ação de conhecimento de natureza constitutivo-negativa,
buscando a declaração de nulidade de cláusulas cláusulas em convenções
coletivas, acordos coletivos de trabalho ou até mesmo em contratos individuais
de trabalho, quando essas cláusulas violarem as liberdades individuais ou
coletivas ou os direitos individuais indisponíveis dos trabalhadores.

É importante mencionar que, de acordo com a Lei Complementar 75/93,


em seu artigo 83, inciso IV, a ação anulatória de cláusula de convenção ou
acordo coletivo de trabalho será, em regra, proposta pelo Ministério Público do
Trabalho (MPT). Isso significa que, normalmente, cabe ao Ministério Público do
Trabalho buscar a declaração de nulidade das cláusulas que firmam os direitos
trabalhistas, não sendo comum que os próprios signatários do instrumento
normativo solicitem a anulação da cláusula, a menos que demonstrem algum
vício de vontade, como erro, dolo, coação ou fraude na formação do acordo.

No contexto do Direito do Trabalho, a ação anulatória pode ser


empregada para impugnar decisões ou atos que ferem direitos das partes
envolvidas no processo trabalhista.

Essa ação tem alguns fundamentos no Processo do Trabalho:

A ação anulatória é interposta quando há alegação de ilegalidade,


irregularidade ou vício em uma decisão, acordo ou ato processual que afetem
direitos ou gere prejuízos às partes envolvidas.

Existem prazos específicos para propor a ação anulatória, geralmente


contados a partir do momento em que a parte teve ciência do ato ou da decisão
a ser anulada.

As partes envolvidas no processo trabalhista, sejam empregados,


empregados ou seus representantes legais, têm legitimidade para interpor a
ação anulatória.

As normas que regem a ação anulatória no processo do trabalho estão


previstas principalmente na Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) e no
Código de Processo Civil (CPC), com adequações específicas ao campo
trabalhista.

Procedimentos e Desenvolvimento da Ação Anulatória:

A parte interessada deve aderir a uma petição inicial, apresentando os


motivos que justificam a anulação do ato ou da decisão, acompanhados das
devidas provas.

Após a apresentação da petição inicial, o juiz citou a parte convidada


para apresentar suas contrarrazões, defendendo a validade do ato
questionado.

Durante o processo, são admitidas a produção de provas e o


contraditório para garantir o amplo direito de defesa das partes.

O juiz examina as argumentações e provas apresentadas por ambas as


partes e profere sua decisão, determinando se o ato ou decisão contestados
serão anulados ou excluídos.

2.2 A LEI 13.467/2017

A Lei 13.467/2017, conhecida como a Reforma Trabalhista no Brasil,


trouxe diversas alterações significativas na legislação trabalhista do país. Entre
as mudanças, a reforma dinâmica, novas disposições e regras que impactaram
diretamente as ações judiciais, incluindo as ações anulatórias no contexto do
Direito do Trabalho.

No processo trabalhista, antes das alterações promovidas pela Lei


13.467/ 2017, era cabível ação anulatória:

● de penalidades administrativas impostas pelos órgãos de fiscalização


trabalhistas;
● de atos homologatórios praticados pelo Juízo, inclusive no curso da
execução;
● de cláusula constante de acordo coletivo/ convenção coletiva
estabelecidas em desconformidade com a Constituição Federal e a lei;

Alterações pela Lei 13.467/ 2017, quanto a competência das varas do


trabalho:

● ação anulatória de cláusula compromissória de arbitragem, constante de


contrato individual, quando há vício de consentimento.
● Ação anulatória ajuizada por empregado “hipersuficiente” alegando vício
do negócio jurídico e pleiteando a declaração judicial de nulidade de
cláusula constante de seu contrato individual, inclusive a que tem
preponderância sobre instrumentos coletivos.

A partir da vigência da Lei 13.467/2017, o empregado e o empregador


passam a ter legitimidade ativa para pleitear que seja declarada a ineficácia de
cláusulas convencionadas, quando houver vício de vontade ou defeito do
negócio jurídico nos termos dos arts. 138 a 157 do Código Civil.

Com a Lei 13.467/2017 houve uma ampliação da legitimidade passiva,


estabelecendo a obrigatoriedade dos sindicatos integrarem o polo passivo
como litisconsortes necessários nas ações individuais e coletivas.
CLT- art. 611-A -§ 5º
Os sindicatos subscritores de convenção coletiva ou de acordo
coletivo de trabalho deverão participar, como litisconsortes
necessários, em ação individual ou coletiva, que tenha como objeto a
anulação de cláusulas desses instrumentos.

Após a Lei 13.467/2017 é cabível ação anulatória quando se tratar de:

● autos de infração lavrados pela fiscalização trabalhista;


● atos homologatórios praticados pelo Juízo, inclusive na fase de
execução;
● cláusula constante de contrato individual de trabalho de empregado
hipersuficiente, que disponha em desconformidade com a lei e com as
normas convencionadas;
● cláusulas constantes de acordos/convenções coletivas;

A interpretação das alterações promovidas pela Lei 13.467/2017, tendo


por norte a natureza substantiva do acesso à Justiça e a segurança jurídica,
vem demonstrar que houve uma ampliação da eficácia e do alcance das ações
anulatórias, apresentando novos desafios à doutrina e à jurisprudência.

2.3 JURISPRUDÊNCIA

Processo:ED-ROT - 10050-13.2022.5.03.0000
Orgão Judicante: Seção Especializada em Dissídios Coletivos
Relator:Ives Gandra da Silva Martins Filho
Julgamento: 20/11/2023
Publicação: 27/11/2023

EMBARGOS DE DECLARAÇÃO DO SINDICATO PATRONAL EM


AÇÃO ANULATÓRIA - LIMITAÇÃO DA BASE DE CÁLCULO DAS
COTAS DE APRENDIZES E DE PORTADORES DE DEFICIÊNCIA
FÍSICA - AUSÊNCIA DE LEGITIMIDADE DOS SINDICATOS
PATRONAL E OBREIRO PARA DISPOREM SOBRE MATÉRIA QUE
ENVOLVE PESSOAS QUE NÃO REPRESENTAM - INEXISTÊNCIA
DE OMISSÃO E OBSCURIDADE - PRETENSÃO DE
REJULGAMENTO DA CAUSA - REJEIÇÃO .
1. Os embargos declaratórios prestam-se exclusivamente a sanar
omissão, contradição ou obscuridade da decisão embargada e,
excepcionalmente, a corrigir erro na apreciação de pressuposto
extrínseco do recurso (CLT, art. 897-A; CPC, art. 1.022).
2. In casu , o acórdão embargado explicitou de forma minuciosa que a
SDC desta Corte firmou o entendimento de que os Sindicatos obreiro
e patronal não detêm legitimidade para dispor sobre matéria alusiva
aos interesses difusos dos trabalhadores, tal como ocorre na hipótese
da limitação da base de cálculo da cota de deficientes e aprendizes,
por se tratar de matéria que afeta os trabalhadores empregáveis
(pessoas indeterminadas) e não os já empregados, sob pena de, ao
regulamentar a matéria em norma coletiva, incorrer em manifesta
afronta ao art. 611 da CLT.
3. Desse modo, não há de se falar em omissão e obscuridade
havidas no acórdão embargado, sendo certo que a Parte almeja a
reforma do decisum , o que é incompatível com a via eleita dos
declaratórios.
Embargos de declaração rejeitados .

A fundamentação da exclusão dos embargos baseou-se na ideia de que


os embargos de declaração têm como finalidade corrigir omissões,
contradições ou obscuridades na decisão embargada. No caso em questão, o
acórdão já teria sido explícito ao afirmar que os sindicatos (patronal e obreiro)
não possuem legitimidade para deliberar sobre questões que envolvem
interesses difusos dos trabalhadores, especialmente no que diz respeito à
restrição da base de cálculo das cotas para deficientes e aprendizes.

O acórdão teria destacado que essa matéria diz respeito aos


trabalhadores empregáveis, ou seja, pessoas indeterminadas que podem vir a
ser empregadas no futuro, e não aquelas que já estão empregadas.
Regulamentar essa questão por meio de norma coletiva seria uma frente do
artigo 611 da CLT (Consolidação das Leis do Trabalho).

Por fim, a decisão rejeitou os embargos de declaração por entender que


não houve omissão ou obscuridade no acórdão embargado, ressaltando que a
intenção da parte era promover uma reforma na decisão, o que não seria
compatível com a via dos embargos declaratórios.

Portanto, a solicitação dos embargos de declaração foi negada,


mantendo-se a decisão anterior que negou a legitimidade dos sindicatos para
deliberar sobre a limitação da base de cálculo das cotas de aprendizes e
portadores de deficiência física.

Processo:ED-ROT - 22018-18.2019.5.04.0000
Orgão Judicante: Seção Especializada em Dissídios Coletivos
Relatora:Maria Cristina Irigoyen Peduzzi
Julgamento: 20/11/2023
Publicação: 27/11/2023
EMBARGOS DE DECLARAÇÃO - RECURSO ORDINÁRIO EM
AÇÃO ANULATÓRIA - CLÁUSULA TERCEIRA DO TERMO ADITIVO
À CCT 2018/2020 - CONTRATO DE TRABALHO - EXECUÇÃO DA
CARGA HORÁRIA CONTRATADA - OFENSA AOS PRINCÍPIOS DA
ISONOMIA E DA NÃO DISCRIMINAÇÃO
Embargos de Declaração acolhidos para corrigir vício e, imprimindo-
lhes efeito modificativo, manter o início da vigência do benefício
previsto na cláusula para " a partir de primeiro de julho ", nos limites
do pedido constante na petição inicial.

Este trecho refere-se a um processo de embargos de declaração, mais


precisamente a um recurso ordinário em ação anulatória, relacionada à
execução da carga horária contratada e possíveis ofensas aos princípios de
isonomia e não discriminação no contrato de trabalho.

Os embargos de declaração foram acolhidos, ou seja, aceitos pelo


tribunal para corrigir alguma violação ou erro na decisão proferida
anteriormente.

Neste caso específico, os embargos foram acumulados com efeito


modificativo. Isso significa que, após a análise, decidiu-se manter o início da
vigência do benefício previsto na cláusula em questão para "a partir de primeiro
de julho", limitando-se ao pedido expresso na petição inicial do processo.

Em resumo, os embargos de declaração foram aceitos para corrigir um


erro ou declaração na decisão anterior, e houve uma alteração específica no
sentido de manter o início da vigência do benefício conforme solicitado na
petição inicial.
3. CONCLUSÃO

A ação anulatória no processo do trabalho é um recurso importante para


garantir que os direitos das partes respeitados sejam respeitados e para
contestar atos ou decisões consideradas ilegais ou prejudiciais. Sua utilização
exige embasamento jurídico sólido, comprovando a ilegalidade ou
irregularidade do ato em questão.

O desenvolvimento de um trabalho sobre a ação anulatória no processo


do trabalho deve abordar esses aspectos, além de considerar questões
relevantes e casos práticos que exemplificam a aplicação desse instituto no
campo jurídico trabalhista.
4. REFERÊNCIAS

Brasil. DECRETO-LEI Nº 5.452, DE 1º DE MAIO DE 1943. Disponível em:


<https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del5452.htm> Acesso em 20
de nov. 2023.
Brasil. LEI Nº 13.467, DE 13 DE JULHO DE 2017. Disponível em:
<https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2017/Lei/L13467.htm>
Acesso em 20 de nov. 2023.
Brasil. LEI Nº 13.105, DE 16 DE MARÇO DE 2015. Disponível em:
<https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm>
Acesso em 20 de nov. 2023.
DireitoNet. Ação anulatória e rescisória (Processo do Trabalho). Disponível
em: <https://www.direitonet.com.br/resumos/exibir/834/Acao-anulatoria-e-
rescisoria-Processo-do-Trabalho> Acesso em 20 de nov. 2023.
Jusbrasil. Admite-se ação anulatória perante a justiça do trabalho? Qual o
conceito e as hipóteses de cabimento? Disponivel em:
<https://www.jusbrasil.com.br/noticias/admite-se-acao-anulatoria-perante-a-
justica-do-trabalho-qual-o-conceito-e-as-hipoteses-de-cabimento-katy-
brianezi/120198#:~:text=Segundo%20ensinamentos%20de%20Renato
%20Saraiva%2C%20a%20a%C3%A7%C3%A3o%20anulat%C3%B3ria
%2C,coletivas%20ou%20os%20direitos%20individuais%20indispon
%C3%ADveis%20dos%20trabalhadores.> Acesso em 20 de nov. 2023.
JusLaboris. Aspectos atuais da ação anulatória de normas coletivas.
Disponível em:
<chrome-extension://efaidnbmnnnibpcajpcglclefindmkaj/https://juslaboris.tst.jus.
br/bitstream/handle/
20.500.12178/96205/2014_schiavi_mauro_aspectos_atuais.pdf> Acesso em 20
de nov. 2023.
JusLaboris. A efetividade da ação anulatória como instrumento de
invalidação de normas coletivas. Disponivel em:
<chrome-extension://efaidnbmnnnibpcajpcglclefindmkaj/https://juslaboris.tst.jus.
br/bitstream/handle/
20.500.12178/96207/2014_oliveira_glaucio_efetividade_acao.pdf> Acesso em
20 de nov. 2023.
TST. Jurisprudência. Disponível em: <https://jurisprudencia.tst.jus.br/>
Acesso em 20 de nov. 2023.

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